Velô #6

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EDIÇÃO #6 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FMB O que Medellín tem a ensinar aos participantes do fórum mundial da bicicleta

COPACABANA Por que o bairro carioca virou modelo e conquistou os ciclistas

ARTE URBANA Artista usa pompons de tricô para transformar os espaços públicos 1


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ANO NOVO

NOVAS OPORTUNIDADES

Na virada de um ano para o outro é comum escutarmos algo como “vêm aí 365 novas oportunidades”. E faz todo o sentido. Por isso, na primeira Velô deste ano, escolhemos falar de oportunidades, sejam elas de mobilidade, de viagem, de arte ou de transformação. Escolhemos histórias para inspirar um ano de atitudes positivas, dedicadas a levar adiante nossa busca por cidades mais humanas e melhores para se viver e conviver. Contamos a história de uma artista que realiza intervenções pelas cidades para tornar as paisagens mais aconchegantes e perceptíveis. Adiantamos um pouco do que vem por aí com a quarta edição do Fórum Mundial da Bicicleta e mostramos alguns bons exemplo de Medellín, que será sede do evento. Conversamos com o urbanista e ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, sobre sua experiência na cidade. Passeamos pelo bairro de Copacabana para descobrir porque ele é um dos preferidos pelos ciclistas, viajamos a Cambridge e vamos de Barcelona a Amsterdã de bike, com nossos colaboradores. Esperamos que essa edição inspire você a aproveitar cada oportunidade para realizar seus sonhos. Boa leitura e bom 2015 a todos. redação

CAPA Andreas Scheiger

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CONTATO redacao@revistavelo.com.br

JORNALISTAS RESPONSÁVEIS Lina Colnaghi MTB: 15204 Sabrina Silveira MTB: 13629

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PRODUÇÃO CS PRESS

PERIODICIDADE Trimestral

IMPRESSÃO Impressos Portão

Edição #6 Porto Alegre | 2015

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Todos os artigos assinados e as fotografias são de responsabilidade única de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.


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NESTA VELÔ

08 tricô urbano

12 fórum em Medellín

18 Enrique Peñalosa

40 conexão Cambridge

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22 o bairro das bikes


colaboradores

ALINE SOUZA

DEB DORNELES

Jornalista e ciclista no Rio de Janeiro. É produtora do Tweed Ride Rio.

Você a encontra fotografando enquanto pedala pelas ruas da capital gaúcha.

JOSMAEL CORSO Esteve no Reino Unido para realização do doutorado. Escreve para o ano-zero.com. divulga ciência e curiosidades em Primata Curioso (facebook. com/primatacurioso).

HELGA BEVILACQUA Advogada e escritora. Usa a bicicleta como meio de locomoção, de motivação e de paixão. Escreve o blog Espaços Invisíveis (www. espacosinvisiveis.com).

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arte urbana

A RUA É A SALA DE CASA Por Lina Colnaghi Leticia Matos deixa as paisagens das cidades mais coloridas com intervenções em tricô De uma tarde no parque, em março de 2012, ensinando as amigas a fazer tricô, surgiram 13 pompons nas mãos de Leticia Matos. Engenheira civil por formação e atualmente professora de yôga em São Paulo, ela não imaginava o que esse número em forma de bolinhas de tricô se tornaria. “Olhei para as minhas amigas e questionei o que faria com aqueles pompons, que tinha feito por puro prazer. Falei: Ah, vou colocar em uma árvore”, conta. Ela tirou uma foto, postou nas redes sociais com a legenda 13 Pompons. E foi sem a intenção de tomar as proporções que ele tem hoje que surgiu o projeto. Naquele mesmo dia, à noite, Leticia começou a pesquisar algumas referências para fazer pompons coloridos e decidiu que faria uma intervenção por dia, com 13 pompons cada, até a data do seu aniversário (que, coincidentemente, seria dali a 13 dias). “Minha ideia inicial era apenas fazer algo que eu desse continuidade e finalizasse”, explica. Depois da meta cumprida ela continuou, por conta, com pequenas intervenções em São Paulo, mais espaçadas, em ruas por onde amigos passavam. “Era uma forma de eu me 8

comunicar com as pessoas que eu gostava”, lembra. Para Leticia, o crochê e o tricô remetem a algo familiar, por ser uma atividade que se aprende, geralmente, dentro de casa — com a mãe, com a avó, com alguém querido. “Eu moro longe de toda a minha família, que é de Porto Alegre, há nove anos, e fazer as intervenções era, também, uma forma de sentir essa familiaridade pelos lugares onde eu ia passando, me trazendo lembranças boas. Aprendi a tricotar com a minha mãe”, conta.

A RELAÇÃO COM A CIDADE No começo do projeto, as intervenções aconteciam em lugares mais discretos e escondidos. Foi assim que Leticia observou que, caminhando pelas ruas, as pessoas não olhavam no rosto umas das outras. Colorir a paisagem com um trabalho manual, que leva tempo e dedicação para ser feito, foi a estratégia da artista para chamar a atenção dos pas-


Foto: Deb Dorneles

santes. “Não é meramente decorativo. Se a pessoa para, olha e sorri porque lembrou de algo legal, está valendo”, comemora. É comum, enquanto está colocando os pompons em algum lugar, que as pessoas parem para conversar com ela, contar que têm alguém na família que também tricota, entre outros comentários. Na capital paulista seu principal meio de transporte são as pernas, ela caminha muito pela cidade, sempre avaliando o que podia ser melhorado. Quando acha algum local ou situação interessante, deixa sua marca em tricô. Hoje o 13 Pompons já contabiliza mais de 300 intervenções no Brasil e no exterior, a maioria delas na capital paulista. As realizadas em outras cidades foram feitas durante viagens ou a convite. Leticia também ministra oficinas, para adultos e crianças, no Sesc Pompeia, em São Paulo, e em outros lugares e comunidades, de acordo com convites. “Em um mundo em que os pequenos já nascem conectados acho legal resgatar as atividades manuais”, justifica. Mais fotos em: cargocollective.com/13pompons Fotos: Arquivo Pessoal

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bike vira arte O dono da cabeça de selim com chifres de guidom que estampa a capa desta edição da Velô é o artista austríaco Andreas Scheiger (foto). Inspirado em Picasso, ele criou 25 obras coletando peças usadas em lojas, oficinas e até no lixo: “Eu amo bicicletas vintage e tenho algumas em casa. Quando eu vi pela primeira vez a ‘Cabeza de Toro’, de Pablo Picasso — que abalou a cena artística em 1942 —, eu pensei: isso é legal, eu poderia fazer isso com partes de bicicletas que sobraram. E talvez possa servir como um cabide de bicicleta”. O que era para ser apenas um cabide se transformou em um trabalho artístico batizado de Upcycle Fetish. “Todas estas peças comemoram o fetiche da história da bicicleta e da história de seus proprietários anteriores”, explica o artista. Mais informações: www.glandis.com

Fotos: Divulgação| Andreas Scheiger

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lifestyle Foto: Ricardo Zapata

CIDADES (E BICICLETAS) PARA TODOS 12


Medellín, na Colômbia, será a primeira cidade fora do Brasil a receber o Fórum Mundial da Bicicleta. A quarta edição começa no dia 26 de fevereiro. Anfitriã do debate, a cidade também tem o que ensinar aos seus visitantes.

Por Lina Colnaghi

O tema em torno do qual cerca de cinco mil pessoas vão se reunir em Medellín, na Colômbia, entre 26 de fevereiro e 1º de março, é “Cidades para Todos”. Esse é o assunto central da quarta edição do Fórum Mundial da Bicicleta, maior evento mundial liderado por cidadãos que promovem a cultura da bicicleta. “Buscamos refletir sobre como as cidades podem ser organizadas de forma a beneficiar todos os seus cidadãos, utilizando a bicicleta como um veículo para a transformação social e para a equidade urbana”, diz Juan Manuel Restrepo, um dos organizadores do evento. Na programação do FMB estão conferências, sessões paralelas, oficinas, espaço para exposições e intervenções urbanas pela cidade. A participação é totalmente gratuita. “Mais que um espaço para conversas, o fórum busca gerar um esforço coletivo e concreto para que a bicicleta seja uma prioridade. Por isso, planejamos mais de 50 atividades de urbanismo tático e oficinas com comunidades em Medellín”, complementa Restrepo. Entre os conferencistas confirmados estão Assaf Biderman, co-inventor da Roda de Copenhague e diretor asociado do MIT SENSEable City Lab; Anibal Gaviria, prefeito de Medellín; Amarilis Horta, co-fundadora do BiciCultura, do Chile; Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá; Fredrik Gerttin, diretor de Bikes vs. Cars e Matthew Passmore, co-fundador do MoreLab e do evento mundial Park(ing) Day. 13


“O objetivo do fórum é converter-se na real voz global das cidades a favor da mobilidade sustentável”, Juan Manuel Restrepo

Foto: Arquivo Pessoal

A quarta edição do fórum acontece em um momento em que centenas de cidades, no mundo inteiro, estão apostando na bicicleta como eixo fundamental de transformação social e urbana. “Um número que mostra este crescimento são os sistemas públicos de bicicletas que passaram de menos de dez, no ano 2000, a mais de 600 sistemas, em 53 países, em 2014”, afirma Restrepo. Ainda, de acordo com ele, existem ações por parte da sociedade civil, que promove a bicicleta através de intervenções urbanas, passeios ciclísticos e ações criativas. Durante os dias de fórum, serão discutidos assuntos como o apoio e a promoção da bicicleta, a política e a bicicleta, a arte e a cultura, o urbanismo da bicicleta e a saúde pública. Estão confirmados mais de 60 especialistas da Colômbia e de outras partes do mundo e já foram recebidas mais de 300 propostas, de 14

#FMB3 Em 2014 o fórum foi realizado em Curitiba e reuniu 1,5 mil participantes de todo o mundo. Temas como saúde, economia e meio ambiente foram discutidos durante os três dias do evento. Os ativistas Chris Carlsson e Elly Blue e o arquiteto dinamarquês Lars Gemzoe estavam entre os palestrantes.

40 países, com sugestões de atividades para criar durante o evento. O Fórum Mundial da Bicicleta teve sua primeira edição em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 2012. A data escolhida para realizar o evento, 25 de fevereiro, marcou um ano do atropelamento coletivo de ciclistas que aconteceu na capital gaúcha. “O objetivo do fórum é converter-se na real voz global das cidades a favor da mobilidade sustentável”, resume Restrepo.


INOVAÇÃO EM MOBILIDADE Conhecida por ter reduzido de forma significativa seus índices de violência e de criminalidade, resultado de uma combinação de projetos de planejamento urbano e de políticas públicas em educação e segurança, a cidade que vai sediar o FMB também tem bons exemplos em mobilidade. Segunda maior cidade da Colômbia, Medellín já foi escolhida em 2013 como a mais inovadora

Foto: Divulgação | SiClas

Foto: Carlos Felipe Pardo| CreativeCommons

do mundo em premiação do Urban Land Institute. A variedade de meios de transporte impressiona. A cidade dispõe de um sistema de metrô, integrado a linhas de BRT e aos metrocables, linhas de teleféricos que conectam o metrô às regiões mais altas e periféricas da cidade. Além disso, estão em andamento as obras para resgatar um antigo meio de transporte da cidade, que esteve ativo de 1921 a 1951 em Medellín: o Tranvía — um meio de transporte ferroviário urbano e elétrico, que circula na superfície. O sistema de bicicletas públicas, EnCicla, é outra opção para quem precisa se deslocar na cidade, e atende não só Medellín, mas a região metropolitana do Valle de Aburrá. Em 2014 o EnCicla superou a marca de 10 mil usuários registrados e de 700 mil empréstimos de bicicletas. As magrelas, gratuitas, podem ser usadas por períodos de uma hora. No entanto a cidade ainda conta com poucas ciclovias — são 29,6 quilômetros. Além dos meios de transporte consolidados em Medellín, organizações da sociedade civil também se destacam na cidade quando o assunto é mobilidade. Um dos exemplos 15


Foto: Divulgação| Secretaria de Movilidad de Medellín

é o coletivo SiClas (o “Si” é de “si, se puede”). Ele surgiu em 2010, a partir de pequenas reuniões entre amigos que queriam vender bicicletas adaptadas para a cidade. A partir dos encontros surgiu a primeira sicleada, um passeio ciclístico pela cidade, em 22 de setembro de 2010. “No começo acontecia a cada 15 dias e eram poucas pessoas, grupos de amigos e conhecidos. Começamos em 10, fomos 20, depois 50, 100, e fomos agregando cada vez mais gente. Aumentamos a periodicidade das sicleadas e, para se ter uma ideia, nas últimas de 2014 chegamos a ter 3 mil pessoas participando”, conta Mauro Mesa, um dos integrantes do coletivo. De acordo com Mesa, a proposta do coletivo é promover a bicicleta como um meio de transporte, em Medellín e nos municípios que integram a região do Valle de Aburrá. 16

Em função da grande quantidade de participantes, o trajeto de cada sicleada é discutido e realizado previamente por integrantes do coletivo, que também avisam aos moradores das regiões por onde vão passar sobre o passeio. “Não nos acompanha nenhuma autoridade do governo local. Nós contamos com um grupo voluntário de logística que se encarrega de garantir a harmonia do tráfego durante os passeios”, explica. As pedaladas acontecem todas as quartas-feiras à noite, percorrendo de 12 a 25 km em até duas horas e meia. Apesar do crescimento das sicleadas, Mesa destaca que muitas pessoas ainda têm receio de sair de bicicleta pela cidade, por acharem que esta ainda não está preparada. “Hoje temos poucas ciclovias que não estão organizadas em uma rede que facilite a moblidade, não há conectividade”, afirma.


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entrevista

A CIDADE QUE QUEREMOS Ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa ficou conhecido por transformar a capital da Colômbia em cidade modelo em transporte cicloviário na América Latina entre os anos de 1998 e 2001. Ele é um dos palestrantes convidados para o 4º Fórum Mundial da Bicicleta, que começa no dia 26 de fevereiro, em Medellín.

Foto: Divulgação

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Velô: Como o sistema de transportes de uma cidade está relacionado ao nível de qualidade de vida da população? Enrique Peñalosa: Só é possível escolher um sistema de transporte se tivermos claro o modelo de cidade que queremos. Mas um modelo de cidade é apenas um meio para um estilo de vida. Então, quando nós escolhemos esse modelo de cidade ou de transporte, o que escolhemos é um estilo de vida. Os seres humanos precisam estar em convívio com outras pessoas. Nós apreciamos a beleza da natureza, a arquitetura. Eu acho que uma cidade que permite andar a pé ou de bicicleta não é apenas segura, mas prazerosa, é uma cidade boa, com qualidade de vida.

Velô: Qual foi o papel de Bogotá no incentivo às bicicletas e ao transporte público na América Latina? Qual cidade você destacaria hoje pelos investimentos em mobilidade urbana? EP: Em Bogotá fizemos 300 quilômetros de ciclovias protegidas e 70 quilômetros de autopista para bicicletas, quando ainda nenhum outro país das Américas havia feito, e na Europa existiam apenas no norte, na Holanda e na Dinamarca. Com relação ao transporte público, copiamos o sistema de BRT de Curitiba, mas fizemos algumas mudanças importantes que triplicaram sua capacidade. O TransMilenio BRT de Bogotá teve um enorme impacto no mundo. Centenas de cidades fizeram sistemas de BRT depois do TransMilenio. No que diz respeito aos investimentos em mobilidade urbana, quero deixar claro que existe uma diferença entre os tradicionais, aqueles que agradam os cidadãos de maior renda, como rodovias e metrô, e os investi-


Foto: Divulgação

mentos mais democráticos, que privilegiam os usuários de transporte público e de bicicletas. O desafio interessante e democrático é a melhor distribuição do espaço viário. É importante lembrar que o espaço viário, o espaço entre as construções, pertence a todos os cidadãos da mesma maneira, independentemente de ter ou não um carro. Quem decidiu que íamos dar mais espaço para os carros estacionados do que para os pedestres ou ciclistas? Velô: Transformar uma cidade para que ela seja bike-friendly encontra dificuldades para avançar mais na questão econômica, na política, ou na cultural? EP: Volto a bater na mesma tecla: a grande batalha é a batalha por espaço viário. Isso não é pouca coisa. É uma das questões ideológicas e políticas mais importantes do nosso tempo. É ridículo que alguns comerciantes afirmem que, se não houver espaço para os carros estacionarem nas calçadas ou na rua, em frente a suas lojas, eles vão falir. Em cidades como Londres, Nova York ou Paris, as pessoas não estacionam em frente de lojas, e as lojas vão muito bem... e não há shoppings!

É bom lembrar sempre que estamos diante de um desafio grande e difícil: construir uma maneira diferente e melhor para se viver. Não é uma questão simples. Não é fácil.

Velô: A sua frase “A cidade avançada não é aquela onde os pobres andam de carro, mas aquela onde os ricos usam o transporte público” faz cada vez mais sentido nos dias de hoje. Como fazer essa mudança? EP: Todos os processos educativos têm um componente de bônus e de ônus: o bônus é um transporte público de melhor qualidade todos os dias, com calçadas de boa qualidade, amplas e bem desenhadas, com árvores, iluminadas e com ciclovias e bicicletários de qualidade. O ônus, neste caso, é aumentar as restrições para o uso do carro, principalmente com relação aos estacionamentos, não só nas ruas, mas em edifícios privados e escritórios. A bicicleta faz bem para a saúde, além de que uma cidade onde as pessoas andam mais de bicicleta é mais sensual e divertida. Vai ficar cada vez mais claro que as pessoas que andam de bicicleta são mais bonitas e que é mais divertido pedalar do que ir de carro, que é chato, é velho, não é sexy. 19


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QUEM É? Diogo Cassales Celente DESDE QUANDO PEDALA? Uso a bici como meio de transporte faz um pouco mais de um ano. POR QUE ESCOLHEU A BICICLETA? Para mim, a bicicleta é um meio de transporte prático, rápido e divertido.

Fotos: Deb Dorneles 21


mobilidade

COPACABANA: UM RETRATO DO BAIRRO DAS BICICLETAS Por Aline Souza

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Copacabana foi um dos primeiros bairros a investir em infraestrutura cicloviária no Rio de Janeiro. O resultado é que hoje a região serve de modelo e atrai ciclistas que optam pela bike no dia a dia.


Foto: Juliana Swenson | Creative Commons

O bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, sempre foi o mais famoso dos bairros brasileiros. Sua beleza natural, sua vida cotidiana de badalação e recantos que só alguns moradores conhecem bem são alguns dos motivos para a fama. Entretanto, o bairro tem ficado famoso atualmente pela sua estrutura cicloviária, que vem se expandindo ao longo dos anos para as ruas do interior do bairro. Antes só havia a ciclovia da orla marítima, construída na década de 1990, a primeira da cidade. Hoje é possível circular por todo o

bairro em vias preferenciais para as bicicletas, o que tem servido como modelo não só para a cidade do Rio, como para o Brasil. Como explica Zé Lobo, ciclista à frente da ONG Transporte Ativo, a história começa na metade da década de 1990, quando o circuito começou interligando as vias com os bairros vizinhos Botafogo e Ipanema. Já em 2008 vieram as chamadas Zonas 30, que reduzem a velocidade dos veículos automotivos com o objetivo de dar preferência aos ciclistas. “ A aplicação da Zona 30 aconteceu em 33 ruas secundárias do bairro e naquele mesmo ano chegaram as primeiras estações de bicicletas públicas do hemisfério sul”, contou ele. A sinalização também é importante para que tudo isso seja visto e respeitado. Nos locais de Zona 30 ela existe vertical e horizontalmente e também há os bike box nos principais cruzamentos do bairro (caixa vermelha sinalizada no asfalto para os ciclistas aguardarem o sinal de trânsito em segurança). De todas as ciclovias ou faixas sem dúvida a mais importante é a que faz a ligação Orla-Botafogo, via rua Figueiredo Magalhães. O ciclista Arlindo Pereira ainda lembra a recém inaugurada na Rua Toneleros/Rua Pompeu Loureiro como uma via importante de acesso. Entretanto, o respeito ao espaço do ciclista ainda é ausente em muitas situações. É comum ver motoristas pararem seus carros em cima do bike box no sinal e tirarem as finas em ruas em que a ciclovia não existe. Quando ela existe, muitas vezes o ciclista encontra obstáculos como carros estacionados, 23


pessoas empurrando carrinho de compra ou de bebê, além dos desatentos pedestres que insistem em caminhar pela via das bicicletas. Arlindo discorda da ideia de que o bairro seja o mais frequentado por ciclistas. Segundo ele, esse título pertence a bairros da Zona Oeste. “Acredito que especialmente bairros como Guaratiba, Campo Grande e Santa Cruz são mais merecedores porque muita gente nesses bairros utiliza bicicleta como meio de transporte casa-trabalho (indo de casa até o transporte público de massa, seja o trem ou o BRT) além de usar no dia a dia (idas ao mercado, serviços)”, contou. Para ele, o que existe hoje em Copacabana deveria ser expandido a outros pontos da cidade. “É um modelo a ser reproduzido, especialmente na Zona Norte, que é região mais carente de vias para bicicletas — os únicos bairros que possuem na Zona Norte são Tijuca, Grajaú e Maracanã”, disse. 24

Sem dúvida, ainda há muito que ser feito, mas o saldo é positivo. Hoje em Copacabana são mais de 100 bicicletários em modelo U invertido espalhados pelo bairro, 18 estações de bicicletas públicas e 10 lojas de bicicletas para atender as necessidades dos ciclistas, além do charmoso Café na Roda, um espaço de encontro dos ciclistas que circulam por aqui. Arlindo conta que não costuma frequentar muito esses locais, mas reconhece o valor deles para a ampliação da cultura ciclística e concorda que apesar de não merecer o título de “bairro das bicicletas”, é o bairro que possui a melhor infraestrutura para bicicletas na Zona Sul. Zé Lobo ainda aponta outras facilidades: “o ciclista encontra em Copacabana a integração com o Metrô, há bicicletários internos em algumas estações e a maioria das rotas é plana”, afirma.

BICICLETA DE CARGA Outra vantagem para o bairro de Copacabana é o transporte de mercadorias com o uso de bicicletas de carga. Somando as características já listadas, o bairro de Copacabana possui uma alta densidade demográfica com muitos moradores, empresas e prestadores de serviços em geral. Isso faz dele um bairro amplamente favorável ao uso da bicicleta. Um pesquisa feita em 2011 pela Transporte Ativo revelou mais de 11 mil entregas por dia feitas em bicicletas de carga no bairro. Isso somado a todos os deslocamentos por este modal fazem de Copacabana um bairro das bicicletas. Mas Zé Lobo é enfático: “para ficar perfeito, só falta a ligação com a Lagoa via Corte Cantagalo e maior educação e respeito por parte dos motoristas” disse ele.


Foto: Transporte Ativo

“O ciclista encontra em Copacabana a integração com o Metrô, onde há bicicletários internos em algumas estações e a maioria das rotas é plana”. Zé Lobo

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Barcelona a Amsterdã Por Helga Bevilacqua*

“Isso aqui não é Europa!”. Não foram poucas as vezes que ouvi essa frase desde que eu decidi me transportar de bicicleta por São Paulo, em meados de 2010. Embora eu nunca tenha acreditado que pedalar pela cidade seja um privilégio apenas dos europeus, conhecer o velho continente sobre duas rodas foi se transformando em algo maior do que uma simples curiosidade. Viajando um pouco pelo Brasil e ouvindo a experiência de outros ciclistas do mundo que hospedei pela rede do Warmshowers, fui 26

tomando coragem para planejar uma viagem longa de bicicleta. Pesquisando rotas com outros viajantes e através da internet, acabei encontrando um site holandês que disponibilizava, entre diversas informações, uma rota inteira em GPS que ligava Barcelona a Amsterdã, com aproximadamente 1690 km. Foi assim que defini meu roteiro para pedalar durante um mês: partiria de Barcelona, na Espanha, cruzaria a França e a Bélgica, até chegar a Amsterdã, na Holanda. Metade da viagem eu faria na companhia de outro ciclis-

Foto: Arquivo Pessoal

eu pedalo


ta, de El Salvador, que está dando a volta ao mundo. A outra metade faria sozinha. Aprendizados e erros foram muitos. A começar quando me dei conta de que um smartphone e uma bateria extra não eram os melhores equipamentos para percorrer a rota que eu havia planejado. Com planos e tecnologia deixados de lado, me lancei de cabeça no mundo dos mapas, das mímicas e também da intuição. Graças a isso, pude conhecer rotas maravilhosas que não estavam no script e contar com a solidariedade que me fez repensar muito sobre as tristes limitações que criamos por estarmos inseridos em uma cultura cada dia mais associada ao medo. “O mundo é bão, Sebastião!”. A experiência de pedalar por quatro países diferentes também me fez entender que a cultura da bicicleta é um processo, e que mais do que vias exclusivas para ela, o grande diferencial é o respeito. Vivenciar a bicicleta como uma opção dentro dos espaços e não como uma reação ao mau planejamento das cidades ou ao excesso de automóveis, foi uma das melhores experiências que trouxe no meu alforje. Viajar por estradas exclusivas para bikes, como é o caso do projeto da Eurovelo, junto a idosos e famílias inteiras fez meu guidom molhar em lágrimas de felicidade. Espanha, França, Bélgica e Holanda. Cada país tem uma relação bastante peculiar com a magrela, difícil de descrever apenas em palavras. Enquanto os espanhóis e franceses dividem a bicicleta para o transporte e para o esporte, buscando criar espaços exclusivos para ela, holandeses e belgas tratam a bicicleta como um veículo único para a locomoção, para se exercitar e para viajar e rotas

exclusivas, portanto, não menos comuns. Saindo de Barcelona, uma cidade incrível para se pedalar, tive bastante dificuldade em encontrar rotas exclusivas na medida em que fui me aproximando da fronteira com a França. Pedalar por estradas na Europa não é algo tão simples, em especial porque é proibido o tráfego de bicicletas por autoestradas. Caso você seja pego em uma situação dessas, corre o risco de ser multado, então contei com a experiência do meu amigo e com o google para encontrar estradas regionais e nacionais, que além de contarem com um trafego menor, permitem algumas vezes a bicicleta. Na França, em compensação, o que não faltam são rotas incríveis, cheirando a lavanda para você cruzar o país, com muitos franceses simpáticos sorrindo e dizendo “bon jour”! Como o ciclismo é quase como uma paixão nacional, tive a oportunidade de encontrar crianças com menos de oito anos, pedalando velozmente suas speedies. Como meu plano inicial de GPS havia falhado, o jeito foi conseguir informação para buscar rotas e formas de chegar ao meu destino. E neste sentido, a França é um país surpreendente. As cidades francesas contam com uma estrutura bastante interessante para turistas, os chamados “Office de Turisme”, onde você pode encontrar boas informações sobre rotas para pedalar. Foi através do Office de Turisme que encontrei a Via Rhona, uma rota exclusiva para bicicletas ao lado do Rio Rhone, que corta boa parte da França. Foi também pelos Office de Turisme que conheci a Voi VerteTrans Ardennes, que me fez cruzar a França até a Bélgica em uma rota extrema27


Foto: Arquivo Pessoal

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mente verde e que me fez sentir em florestas exatamente como eu imaginava, quando ouvia os contos de fadas dos irmãos Grimm. Na Bélgica e na Holanda, as rotas fechadas e exclusivas foram sumindo e eu acabei conhecendo um sistema de ciclorotas, chamado Fiestnet, que possibilita você cruzar os dois países, passando por diversas cidades, estradas, plantações e florestas lindas. Foi uma espécie de “ligue os pontos” pedalar por esse sistema. Como ele funciona através de rotas numeradas, de número em número você vai desvendando os caminhos até chegar no seu destino. Bicicletas na Holanda e na Bélgica é o que não faltam e quanto mais velhas, melhor. Antiguidades são vistas em todas as esquinas e, na medida em que fui me aproximando de Amsterdam, mais e mais bicicletas foram surgindo até completarem um quarteirão inteiro e por que não dizer, uma cidade inteira. Cheguei ao meu ponto final com os olhos cheios de bicicletas, de todos os tipos, formas e para todas as pessoas. Bicicletas que fazem parte de um cenário inteiro e chegam a construir uma paisagem. Com as mudanças de rota, pedalei um total de 1.520 km, trazendo para o Brasil a sensação de que viver e viajar de bicicleta é possível, libertador e delicioso. Pedalar sem tantas preocupações com segurança ou brigando por espaços me deu outros gostos em pedalar. Desde que o avião pousou em São Paulo, agora cheia de ciclovias, não deixo de sonhar com o dia em que aqui a bicicleta também deixe de ser uma discussão para se tornar uma opção: de esporte, de transporte e de viagem. *Helga Bevilacqua é advogada e escritora. Usa a bicicleta como meio de locomoção, de motivação e de paixão. Escreve o blog Espaços Invisíveis (www.espacosinvisiveis.com). 29


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Foto meramente ilustrativa - Para um passeio seguro recomenda-se o uso de capacetes no condutor e na criança.

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pedal seguro A corrente é a responsável por transmitir a força que aplicamos nos pedais à roda traseira, gerando o movimento. Ou seja, é um componente fundamental da bike. Vários fatores contribuem para o seu desgaste. Saiba quais são os cuidados indicados e como identificar a hora certa de fazer a troca

Foto: John Chapman | Creative Commons LIMPEZA E MANUTENÇÃO: antes de pensar em lubrificar é preciso limpar a corrente, removendo partículas abrasivas acumuladas, que podem a desgastar ainda mais. Faça a limpeza com uma escovinha e com um pano seco ou, se tiver acesso, use os chain scrubbers, escovinhas específicas para esse fim, que se encaixam na corrente. LUBRIFICAÇÃO: manter a corrente lubrificada aumenta sua vida útil. Com a corrente limpa e seca, aplique o lubrificante em cada elo - parte que fica em movimento e em fricção constante. Com um pano seco, remova o excesso de óleo. MEDINDO O DESGASTE: além do estado de conservação e de manutenção da bike como um todo, outros fatores como o peso corporal do ciclista, a quilometragem rodada e o estilo da pedalada contribuem para o desgaste da corrente. Por isso, a sua durabilidade é relativa e existem ferramentas para medir o seu nível de estiramento. O funcionamento se dá por encaixe: se a chave não encaixa na corrente significa que ela é nova ou que está em condições de uso, caso encaixe, significa que a corrente está fora do padrão de uso.

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Mobilidade em 1 Instante: caminho livre

Venha, pode passar. Fique à vontade! A rua é sua, é nossa. Vamos iluminar a cidade com nossos sorrisos, tão cheios de orgulho por fazer parte dessa mudança, preencher o espaço urbano com vida e movimento. O sinal está aberto para aqueles que buscam um ambiente mais saudável e humano, está na hora de frear o desenvolvimento cinza e frio da pressa e do individualismo. O verde pinta nossa passagem, seguimos em frente para construir nosso futuro com cidades que possamos deixar para nossos filhos. Lugares onde é possível estar na rua e pertencer a um coletivo social e sustentável, ao invés de nos distanciarmos cada vez mais atrás de muros, janelas fechadas e motores. O caminho está livre para as pessoas. Venha, seja bem-vindo!

Crédito: NYCDOT

POR CIDADES MAIS SUSTENTÁVEIS Dica de leitura! A EMBARQ Brasil lançou o DOTS Cidades - Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável. A publicação é uma ferramenta prática para o planejamento e a implantação de soluções sustentáveis para tornar nossas cidades locais mais agradáveis para se viver. Facilitar o deslocamento de pedestres e ciclistas e contar com uma rede de transporte coletivo de qualidade são elementoschave para a mudança. Conheça e explore a publicação em embarqbrasil.org/publicacoes.

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A série Mobilidade em 1 Instante é movida pela fotografia. Trazemos imagens que nos inspiram e que permitem uma reflexão sobre a mobilidade e a vida nas cidades. Série completa: thecityfixbrasil.com


uma colaboração

Demorou, mas chegou uma solução simples e eficiente para facilitar a vida dos pedestres em São Paulo. Uma faixa em “x” foi instalada no cruzamento das ruas Riachuelo e Av. Brigadeiro Luis Antônio, no centro da capital paulista. De cor azul, as faixas permitem que as pessoas façam uma travessia diagonal segura, de uma só vez, com um ganho de 28 segundos em relação ao trajeto anterior. Ainda é teste, mas tomara que a moda pegue!

Cidades para pedalar Nem só de exemplos internacionais vive a lista de boas cidades para pedalar. Aqui no Brasil, alguns lugares já adotam boas práticas e enxergam a bicicleta como premissa para cidades mais igualitárias, seguras, saudáveis e habitáveis. Rio Branco, capital do Acre, conta com uma rede cicloviária de 74 km e prevê, no plano cicloviário, um total de 160 km de ciclovias. Quando estiverem concluídas, a cidade, de 300 mil habitantes, terá a maior rede cicloviária per capita do país. Sorocaba, em São Paulo, tem um plano cicloviário em vigência desde 2006 e já garantiu 115 km de ciclovias aos moradores. A malha cicloviária da cidade está interligada de Leste a Oeste e de Norte a Sul, o que facilita o deslocamento do ciclista de forma segura. Santos, no litoral paulistano, conta com 30,5 km de malha cicloviária interligando diversas zonas da cidade. O município é reconhecido pela Associação Brasileira dos Ciclistas como “cidade amiga da bicicleta” e já registra mais de 730 mil viagens no BikeSantos.

Crédito: Robson Fernandjes / Fotos Públicas

O pedestre primeiro!

REDUZINDO A VELOCIDADE PARA SALVAR VIDAS Em dezembro, Florianópolis inaugurou sua primeira Zona 30 – uma notícia para ser comemorada e uma prática para ser replicada. A medida coloca a capital catarinense ao lado de outros exemplos nacionais que seguem uma tendência mundial: a redução dos limites de velocidade para salvar vidas no trânsito. Além de Floripa, aparecem no mural brasileiro da Zona 30 as cidades de Curitiba, Rio e São Paulo. Porto Alegre está no caminho e planeja para 2015 a implementação das primeiras zonas 30 na cidade. 33


CICLOTURISMO

José Antônio, Creative Commons

Barbara Eckstein, Creative Commons

Fazer turismo de bicicleta é uma das melhores opções para quem curte verão. Confira algumas das rotas de passeios curtos e belos para percorrer pedalando pelo Brasil:

CUNHA - PARATY (SP-RJ) Cachoeiras, matas e belas paisagens. É isso que o ciclista encontra neste roteiro de cerca de 30km entre Rio e São Paulo. O percurso tem 6km de subida, mas a recompensa é terminar o passeio na histórica e charmosa cidade de Paraty.

Otávio Nogueira, Creative Commons

CURITIBA - MORRETES (PR) A Serra da Graciosa é famosa pelos paralelepípedos originais desde 1854. Da Capital do Paraná até Morretes são pouco menos de 80 km de belas paisagens, que contam com mirantes e locais de descanso. 34

Lidyanne Aquino, Creative Commons

RIO - TERESÓPOLIS (RJ) A serra fluminense tem muitas atrações e também é uma ótima opção para quem quer pedalar, mas esteja preparado para 20km de subida na serra desde o Rio de Janeiro. Chegando em Petrópolis você encontra muitos museus e pontos turísticos. Em mais 33 km, a parada é em Teresópolis, pela estrada Teresópolis-Itaipava (BR-495).

VALE DOS VINHEDOS (RS) No Rio Grande do Sul a pedalada pode ser entre parreirais na Serra. O trajeto reúne as maiores vinícolas do estado, que oferecem degustações de vinhos e espumantes e passeios guiados. Um dos circuitos mais famosos é o “Caminhos de Pedra”.


Foto Mônica Schoenacker

PAULISTA Chegou a vez de a avenida mais emblemática da cidade de São Paulo receber a tão esperada ciclovia. As obras começaram em janeiro e devem ser concluídas em seis meses. A via exclusiva para ciclistas será implantada no canteiro

Fotos Divulgação

SEM REMENDOS

central da avenida e deve ser interligada a outros espaços destinados a quem pedala na região, além de contar com grades de proteção em algumas áreas. Durante as obras, a Ciclofaixa de Lazer será desativada.

Uma empresa sul-coreana desenvolveu um pneu de bicicleta que promete não deixar ciclista nenhum na mão. Depois de anos de estudo, a Tannus chegou em um modelo sólido, feito de poliéster com micro bolinhas de ar. Diferente de outros semelhantes já inventados, este promete ser mais leve e durável. Quem quer testar? www.tannus.co.uk

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pedal à moda antiga A edição de verão do Tweed Ride Rio coloriu a orla carioca no dia 11 de janeiro. O grupo, que reúne periodicamente ciclistas que curtem o estilo dos anos 1900, se encontrou no Leblon e partiu em direção ao Leme com uma pausa no Arpoador. Com roupas da época e trajes de banho criativos

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eles chamaram a atenção de quem curtia a praia. O evento premiou os melhores figurinos e contou ainda com um show da banda Uisqueletos Extravaganza. Tweed Ride é um encontro que ocorre em vários países. No Rio de Janeiro o grupo se reúne desde 2013. As fotos são do Bruno Lisboa.


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BIKE SHOP

Hidratação com sabor O sistema de hidratação portátil Drinkfinity permite customizar as próprias bebidas de acordo com as necessidades no dia a dia. É composto por um Vessel – garrafa reutilizável – e pelos Pods – pequenas cápsulas com combinações de sabor e nutrientes em formas líquida e pó. Compre em: www.drinkfinity.com.br

Divulgação

SEGURANÇA Para quem receia ter a bike roubada, o BitLock é um cadeado tecnológico: só abre a partir do app no celular, onde o ciclista digita a senha para desbloquear o dispositivo. Mais infos em: bitlock.co

CORRENTE O Medidor de desgaste de corrente Topeak TPSSP09 ajuda a identificar a hora certa de trocá-la. Compatível com 8, 9 e 10 velocidades. Possui 2 ganchos em um dos lados para auxiliar na montagem e desmontagem da corrente. Mais detalhes em www.topeak.com 38


QUADRO Ideal para a prática de Mountain Bike e uso urbano, o Slight foi um dos primeiros quadros a ser desenvolvido pela Kalf. Disponível nos tamanhos 16”, 18”, 20” e 22”, e nas versões preto com alumínio, branco com vermelho e branco com verde neon. Desenvolvidos em alumínio 6061, têm garantia de 6 meses contra defeitos de fabricação. Mais informações em: www.kalf.com.br

Personalizáveis Criar bicicletas únicas, com formas minimalistas e elegantes, de alta qualidade, com quadros feitos à mão e que permitam agregar acessórios para deixá-las perfeitas para o dia a dia. Essa é a porposta da Solabici, que também acaba de lançar esta bag de couro para selim. Saiba mais em: www.solabici.com.br

GUIA O Hammerhead é um dispositivo que, fixado na frente da bicicleta e conectado ao seu celular, funciona como um GPS, indicando as direções. Saiba mais em: hammerhead.io

DECOR Prático, versátil e fácil de ser aplicado, o Adesivo Bike é feito de vinil com acabamento em plástico. Veja em: www.oppa.com.br

Fotos Divulgação

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CONEXÃO CAMBRIDGE: BICICLETA É A PRIMEIRA OPÇÃO Por Josmael Corso

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A primeira vez a gente não esquece. Se não for boa, esquece sim, mas o caso é que foi inesquecível. Foram muitas primeiras vezes, primeira vez a cruzar o oceano, a trocar de hemisfério e a trocar o verão pelo inverno. Cheguei a Cambridge, na Inglaterra, saindo de

38°C na capital gaúcha para encontrar temperaturas negativas e muita chuva. Às quatro horas da tarde eu pisava na cidade que iria me abrigar por seis meses. Em uma tarde escura, de uma neblina que tornava impossível enxergar mais que dois metros à frente, vi se aproximar pela rua uma sequência de faróis. Eram do principal meio de transporte da cidade: bicicletas. Na primeira manhã, quis visitar o centro da cidade, fiz um trajeto à beira do rio Cam, que dá nome à cidade. O caminho era muito bacana, vi pela primeira vez os corvos, iguais aos do seriado Game of Thrones, barco-casas e cisnes. A trilha, ainda que agradável para


Foto: Josmael Corso

caminhada ou corrida, era compartilhada principalmente com as bikes. Ao chegar ao centro da cidade, a história centenária explica a opção por bicicleta. Ruas estreitas, cercadas em sua maior parte pelos Colleges da Universidade de Cambridge, não deixam muito espaço para outros veículos. Com mais de 800 anos de história, a cidade basicamente funciona em torno da Universidade, que tem o maior número de ganhadores de prêmio Nobel, além de ter sido alma mater de Isaac Newton, Charles Darwin, Jane Goodall e atualmente acolher o renomado físico Stephen Hawking. Falar da excelência acadêmica encontra-

da em Cambridge não é nenhuma surpresa, ainda que fascinante, mas deparar-se com um centro de cidade sem estacionamento para carros não é menos fascinante. Mercados, restaurantes, bancos, joalherias e cafés todos com paraciclos. É regra, ninguém abre um comércio em Cambridge sem pensar no ciclista. Sem a bicicleta, a vida de Cambridge seria impossível. Não há como as ruas serem alargadas, nem como aumentar a frequência de ônibus, já que não há pista exclusiva. Ter um carro na cidade serve apenas para viajar, no dia a dia é inviável. No tempo em que estive na cidade, todas as pessoas com quem fiz contato tinham bike. Além dos colegas e amigos, inclusive os professores da universidade usavam a magrela. Confesso que foi estranho o dia em que estava colocando o cadeado na minha bike e meu orientador estacionou a sua ao lado. Aquela situação foi introdutória para entender o respeito e a igualdade que os britânicos prezam. É normal ver um ônibus, taxi, ou caminhão parar para o ciclista, pois respeitar as pessoas é regra. Alguém que não respeita os colegas de trabalho, subordinados ou atendentes é a mesma pessoa que desrespeita o ciclista. Cambridge possui pouco mais de 120 mil habitantes e 25% dos residentes usam a bicicleta para ir ao trabalho diariamente. Cerca de metade da população usa a bicicleta pelo menos uma vez por semana. A soma de todas as ciclovias e rotas para bicicletas gera uma média de 1 km de ciclovia para cada mil habitantes, ou seja, 1 metro de ciclovia para cada habitante. Diferente de Londres, Cambridge não possui estações de bikes de aluguel, mas é possível alugar uma diretamente nas lojas e oficinas espalhadas pela cidade. Para quem vai com um tempinho a mais, fazer um passeio para fora da cidade com a bike é uma experiência fantástica. 41


CONEXÃO

“Cambridge possui pouco mais de 120 mil habitantes e 25% dos residentes usam a bicicleta para ir ao trabalho diariamente. Cerca de metade da população usa a bicicleta pelo menos uma vez por semana. A soma de todas as ciclovias e rotas para bicicletas gera uma média de 1 km de ciclovia para cada mil habitantes, ou seja, 1 metro de ciclovia para cada habitante. ”

Entre as melhores atividades que fiz por lá estão os cicloturismos. Há diversos percursos, em geral asfaltados, e que atravessam propriedades rurais. Um dos locais mais visitados de bicicleta é a área rural de Grantchester, a cerca de 4 km do centro da cidade. A região é famosa porque nela reside a maior concentração de prêmios Nobel por km². Além de ter inspirado a música Grantchester Meadows, da banda Pink Floyd, cujo integrante David Gilmour morou na região. Seria fácil justificar o uso da bicicleta em Cambridge apenas pela estrutura da própria cidade. Mas é muito mais do que isso, é também pela segurança. Reduzindo o número de veículos motorizados, a cidade reduz o numero de acidentes fatais. Também tem mais, é pela saúde, usando a bicicleta as pessoas ganham em qualidade de vida, e com a redução da queima de combustíveis fósseis toda a cidade ganha com qualidade ambiental. E tem ainda o principal para mim, o respeito. Uma cidade com mais bicicletas incentiva o contato interpessoal, a olhar entre pessoas, as cordialidades de não ser sempre você a passar na frente, enfim oportuniza você ser uma pessoa um pouco melhor.

42 Foto: Josmael Corso


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