Velô #8

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EDIÇÃO #8 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

ANJOS DA BIKE Quem são os voluntários que ajudam quem quer pedalar no trânsito

INSPIRAÇÃO David transformou uma tragédia em força para inspirar e incentivar o uso da bicicleta

BIKE CAFÉS Uma seleção de lugares que unem gastronomia e ciclismo no mesmo ambiente 1


aragana

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A JORNADA É MAIOR QUE O DESTINO Serve para a vida cotidiana, para os relacionamentos, para a vida profissional. Somos seres humanos em eterno aprendizado sobre nós mesmos. E entender isso muda a forma como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor. Se entendemos que estamos em um constante processo a vida se torna um tanto mais interessante. É como andar de bicicleta: o prazer está em pedalar, está no processo, na jornada, não necessariamente no destino final. O que seria de um pedal se ignorássemos todo o percurso? Nos permitiríamos olhar para o lado e perceber as pessoas, as cidades?

Nessa Velô vamos mostrar como trabalham os bike anjos, que ajudam ciclistas que estão iniciando no trânsito; temos uma entrevista com a arquiteta e urbanista Izabele Colusso, que fala sobre as cidades que investiram em projetos de mobilidade para torná-las mais humanas; contamos a história de superação do David — que segue pedalando e defendendo a bicicleta depois de ter sofrido um grave acidente —; também viajamos a Milão e trazemos novidades sobre a bike no Brasil e no mundo. É um prazer dividir essa jornada com você. Boa leitura! redação

CAPA Ilustração de Mariana Dal Carobo

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CONTATO redacao@revistavelo.com.br

JORNALISTAS RESPONSÁVEIS Lina Colnaghi MTB: 15204 Sabrina Silveira MTB: 13629

DISTRIBUIÇÃO Gratuita

PRODUÇÃO CS PRESS

PERIODICIDADE Trimestral

IMPRESSÃO Impressos Portão

Edição #8 Porto Alegre | 2015

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Todos os artigos assinados e as fotografias são de responsabilidade única de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.


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Pedalando e acelerando com você


NESTA VELÔ

12 anjos que pedalam

20 superação de David

16 entrevista: Fredrik

10 bike cafés pelo Brasil

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38 Milão cycle chic


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colaboradores

ANDREZA SCHMITT

ADELAIDE TEIXEIRA

Analista de marketing, aprendeu a andar de bike aos 25 anos no lugar mais mágico do mundo, se reinventou e sonha com uma Porto Alegre segura para os ciclistas.

Natural de Belém do Pará, trabalha como atriz e jornalista em São Paulo. É ciclista urbana desde que chegou à capital e escreve o blog lamanacanela.com.br.

BÁRBARA MOREIRA Jornalista, mora em Porto Alegre. Acredita na mudança significativa de uma cidade através de uma visão sustentável que dê mais valor à bicicleta.

MARIANA DAL CAROBO Designer de profissão, ilustradora por paixão.

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DEB DORNELES Você a encontra fotografando enquanto pedala pelas ruas da capital gaúcha.


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9 Pedalando e acelerando com você


Um café para pedalar Por Bárbara Moreira Com histórias similares que envolvem amor pelo pedal e por gastronomia, muitos bike cafés espalhados pelo país surgiram pelo desejo de difundir a bicicleta como meio de transporte, num ambiente que mistura bike shop e cafeteria. Conheça alguns dos principais bike cafés espalhados pelo Brasil. No nosso site, acompanhe uma série de posts que serão publicados com mais opções por estado: www.revistavelo.com.br

Crédito: Talita Noguchi

Crédito: Piero D’ávila

Para comprar acessórios e saborear quitutes acompanhados de um bom café, o KOF foi idealizado por Camila e por Paulo, amigos de pedal que abandonaram suas carreiras para reunir nesse espaço o que mais gostam de fazer: comer e pedalar. KOF é sigla para ‘King of the Fork’, referência ao conhecido KOM ‘King of the mountain’, prêmio dado ao ciclista que teve o melhor desempenho em uma subida. O garfo [fork] é o ponto em comum entre esses dois catalizadores sociais: bicicleta e comida. >> www.kingofthefork.com.br

LAS MAGRELAS (SP) Inaugurado em fevereiro de 2013 para atender o ciclista urbano, é uma mistura de bar e oficina. Na oficina além dos serviços comuns, há uma bancada que pode ser alugada por quem gosta de mexer na própria bike e não tem ferramentas ou espaço. Talita Noguchi, uma das idealizadoras do Las Magrelas, apoia seu projeto em dois pilares: cicloativismo e feminismo. >> www.lasmagrelas.com.br 10

KOF - KING OF THE FORK (SP)

Crédito: Paco Pradas


Crédito: Isadora Lescano

Crédito: André Righetto

O lugar mistura café e bar com mini-oficina de bicicletas e loja de roupas. Idealizado por três amigas, a Vulp surgiu com foco em sustentabilidade e mobilidade urbana, destinado a quem aprecia a cultura da bicicleta. A oficina tem o formato “faça você mesmo”, em que qualquer um pode chegar com sua bike para fazer arrumações básicas. O uso da oficina varia de R$ 5 a R$ 10 para bikes de marcha única. >> facebook.com/vulpbicicafe

BIKE RIO CAFÉ (RJ) Os três irmãos Abelardo, Frederico e Claudio, amantes de bicicletas, perceberam uma crescente demanda pelas bikes como meio de transporte e a falta de locais apropriados para guardá-las. Juntos, montaram o Bike Rio Café. Lá tem estacionamento com segurança para bicicletas, vestiários com chuveiros temporizados e controlados por cartão, espaço café para refeições, loja especializada e oficina com serviços de regulagens e troca de peças. >> www.bikeriocafe.com.br

O Garupa — bicicletaria & etc — abriu as portas em setembro de 2014. A oficina funciona diariamente, além da loja, conta com conexão WiFi, sofá, mesas e livros para se passar um tempo agradável e funciona como um ponto de apoio aos ciclistas. Promove encontros e bate-papos gratuitos sobre diversos temas e possui um freezer com cerveja artesanal própria. O espaço conta também com uma parede de exposição que recebe obras de artistas locais que comumente não tem onde expor seus trabalhos. Além de trazer para o Garupa pessoas de fora do contexto da bicicleta, é mais uma opção de evento cultural gratuito para a cidade. >> www.garupa.bike Crédito: Divulgação

VULP BICI CAFÉ (RS)

GARUPA (SC)

ARO 27 (SP)

Inaugurado em 2013, o espaço é um conceito multifuncional de café, restaurante, loja com artigos para ciclismo urbano, oficina e park and shower. O segundo andar abriga uma mini biblioteca com títulos sobre ciclismo, que podem ser consultados gratuitamente no local. >> www.aro27.com.br 11


voluntariado

Profissão: anjo Por Sabrina Silveira Voluntários ajudam e encorajam, todos os dias, novos ciclistas a ganharem as ruas das cidades. Esse é o trabalho dos bike anjos, uma organização que tem mais de mil voluntários no Brasil.

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Missaki Idehara é engenheiro agrônomo e anjo. Como qualquer anjo, sua função é proteger, orientar e garantir a segurança de uma pessoa. Porém, para exercer esse função, ele não precisa de asas, apenas de duas rodas. Missaki faz parte do grupo de mais de 1.200 voluntários espalhados pelo Brasil com a missão de ser um Bike Anjo. Desde 2011, quando se mudou do interior para a capital de São Paulo, ele ajuda outras pessoas que precisam de orientação e de uma dose de motivação para sair pedalando no trânsito ou que querem aprender a pedalar. “Nós falamos muito em empoderamento das pessoas, para que elas sejam donas de suas próprias ações. Quando eu ensino uma


pessoa, fico muito feliz em saber que ela poderá, no futuro, estar pedalando ao nosso lado, lutando pelo que nós acreditamos e batalhamos”, diz ele. Nesses quatro anos, o engenheiro já participou de mais de 200 atividades como voluntário, ensinou mais de 150 pessoas a pedalar nas EBA’s (Escola Bike Anjo), fora os acompanhamentos individuais e as palestras educativas. “Eu me sinto muito responsável por cada pessoa que passa a pedalar por minha causa e por isso procuro fazê-lo da melhor forma possível, separando o certo do errado e despertando a consciência delas”. A maior dificuldade, segundo ele, é conciliar o tempo disponível e a vontade de fazer cada vez mais pelos outros. “Hoje ainda não é possível abdicar do meu emprego para viver do Bike Anjo, mas é um projeto futuro”, conta

ele. A compensação vem junto e motiva quem se dispõe a abraçar esse papel de anjo: “Todo o tempo e trabalho são recompensados por saber que amanhã essas pessoas também estarão usufruindo as cidades de uma forma mais plena e ajudando a sociedade caminhar para um rumo mais humano”. Como qualquer trabalho voluntário, além de disposição é preciso ter tempo. O Bike Anjo possui uma plataforma própria, que conecta quem precisa de ajuda com o “anjo” mais próximo. Feito o contato, o voluntário “Todo o tempo e trabalho são recompensados por saber que amanhã essas pessoas também estarão usufruindo as cidades de uma forma mais plena e ajudando a sociedade caminhar para um rumo mais humano”. Missaki Idehara

Andreia Machado

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“A experiência é única. Cada pessoa que você ajuda a realizar o sonho de pedalar é algo que dinheiro nenhum paga. Costumo dizer que ver as pessoas sorrindo é o melhor pagamento que poderia receber”. Tonimar Dal Aba

Crédito: Andreia Machado

acompanha a pessoa em um dia ou mais, mostrando os melhores trajetos, passando noções de segurança e de como sinalizar suas ações no trânsito. Uma das pessoas que buscou ajuda dessa forma e recebeu apoio do Missaki foi Carla Moraes, 31 anos. “Eu havia começado a pedalar em São Paulo a poucos meses, apenas como lazer e nas ciclofaixas, aos domingos e feriados, e comecei a pegar gosto”, explica ela. Depois de perceber que poderia fazer o trajeto semanal até o trabalho de forma mais rápida que o normal, esbarrou no medo de encarar o trânsito de São Paulo pela primeira vez. “Já tinha ouvido falar do projeto Bike Anjo e resolvi enviar um e-mail. Prontamente fui atendida pelo Missaki, que mora na minha região, e marcamos um dia 14

de teste em uma praça. Ele me falou sobre altura de banco, regulagens da bike, sinalização com as mãos, postura e tudo mais”. Depois das orientações iniciais o voluntário acompanhou a Carla em dia normal, às 18h. “Ele me passou muita segurança e me acompanhou por todo o trajeto, desde as proximidades da minha casa até a empresa onde eu trabalho”. O paulistano Tonimar Dal Aba, 33 anos — três deles atuando como Bike Anjo —, já perdeu as contas de quantas pessoas ajudou, mas não esquece da sensação de recompensa. “A experiência é única. Cada pessoa que você ajuda a realizar o sonho de pedalar é algo que dinheiro nenhum paga. Costumo dizer que ver as pessoas sorrindo é o melhor pagamento que poderia receber”, define ele. A responsabilidade, porém, também é grande. O voluntário precisa dar segurança para quem está começando. “Um dos casos que mais me marcou foi o de uma pessoa que tinha um trauma de infância e, após 60 anos sem poder chegar perto da bike, ela conseguiu pedalar e superar essa dificuldade. No passado o pai não a deixava chegar perto da bicicleta. Quando se aproximava, era recebida com cintadas. É muito bom ver que podemos ajudar as pessoas e que coisas que parecem simples para alguns, como andar de bicicleta, na verdade são sonho para outros”, conta o Bike Anjo.


Carla perdeu o medo do trânsito de São Paulo com a ajuda de um bike anjo e hoje não desce mais da bicicleta para ir ao trabalho.

Arquivo Pessoal

PRIMEIRO ANJO Quando surgiu o projeto do Bike Anjo em 2010, o idealizador JP Amaral não poderia imaginar que em cinco anos este estaria espalhado por 200 cidades brasileiras. Criado em São Paulo, o grupo nasceu da ideia de dar apoio a pessoas que querem começar a pedalar no trânsito, mas ainda não se sentem seguras. “Por conta da bicicletada, percebemos que muita gente queria participar e também ir para o trabalho de bicicleta. Então, em dezembro de 2010, começamos a montar o projeto”, conta. Amaral começou a pedalar na cidade em 2008 e enfrentava uma rotina estressante dentro do carro e nos transportes públicos até optar pela bicicleta. Depois que com-

provou o ganho de tempo, ele experimentou os efeitos positivos para a sua saúde e, em pouco tempo, já estava envolvido em tentar melhorar todos os problemas da cidade, que a bicicleta lhe apresentou. Além de conectar os ciclistas com os voluntários e oferecer aulas para quem quer aprender a pedalar, o Bike Anjo também é uma das ONGs mais ativas na defesa da mobilidade urbana no Brasil, promovendo encontros como o “Mobilização da Rede Bike Anjo” e o “Dia de Bike ao Trabalho”. Precisa de um anjo ou quer ser um voluntário? Entre no site bikeanjo.org 15


entrevista

A GUERRA PELO ESPAÇO PÚBLICO Fredrik Gertten é o diretor do documentário Bikes vs Cars (Bicicletas vs Carros), lançado no Brasil em junho. Filmado em diferentes cidades do mundo, inclusive em São Paulo, a obra do cinegrafista sueco retrata através de personagens reais a disputa por espaços públicos nas grandes cidades. Nesta conversa com a revista, ele conta como surgiu a ideia do filme e suas impressões sobre o Brasil.

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Velô: Como surgiu a ideia do documentário? Fredrik Gertten: Quando eu viajava pelo mundo como repórter e cinegrafista sentia falta da minha bicicleta diariamente. Muitas vezes me senti um prisioneiro em engarrafamentos, xingando a falta de espaços de estacionamento ou suando nos trens e ônibus abarrotados. Nos últimos anos vi uma mudança radical. Vejo as bicicletas em todos os lugares. De Nova York a Santiago do Chile, da cidade do Cabo a Istambul. Uma geração de pessoas educadas, jovens e modernas das cidades tem abandonado os carros, que já não entregam o que prometem. O carro é percebido como inflexível, uma relíquia antiga que só custa dinheiro e frustração. Eu queria fazer

Divulgação Bikes vs Cars


um filme sobre as forças que rasgaram a cidade tradicional, e que geraram as frustrações diárias de quem precisa se transportar na cidade.

Velô: Como o público tem reagido? Está atingindo o seu objetivo inicial? FG: Para fazer um documentário forte você precisa mais que um assunto, você precisa de uma ideia que te faça pensar “era isso!” e desta vez acho que encontrei. Você quer fazer um filme que pode ser usado como uma ferramenta para as pessoas discutirem o que está acontecendo na sociedade. Um bom documentário é entretenimento, mas deixa algo para trás, para as pessoas usarem em suas vidas. Até agora, Bikes vs Carros inspirou esse tipo de reação. Um artigo recente sobre o filme no Guardian gerou 7.500 compatilhamentos. Então eu acho que é um tema muito relevante, principalmente agora que as pessoas já estão falando sobre ou querem falar sobre isso em suas cidades. O filme lhes dá esse impulso extra para iniciar ou continuar a conversa. Velô: Como você escolheu os personagens retratados? FG: Para o Brasil, em particular, eu queria encontrar alguém mais jovem, que estivesse realmente no meio do ativismo. Alguém em quem pudéssemos ver o desenvolvimento ocorrendo realmente. No filme nós vemos que, no início, Aline (Cavalcante) já é muito ativa na comunidade de bicicleta. Ela está

muito presente nas mídias sociais e está sempre no meio das discussões. No final, ela desenvolveu um papel maior e mais importante no movimento da cidade, participando de reuniões e discussões políticas. Ela é muito importante agora.

Velô: Depois de dois anos filmando, como você vê a guerra por espaços públicos nas grandes cidades? FG: As cidades mais bem sucedidas estão tentando reconquistar o espaço público. Times Square, em NYC, é um exemplo. Paris está fazendo grandes progressos também. Cidades que desejam ser vencedoras serão parte dessa tendência.

Velô: O que mais te surpreendeu em São Paulo? Você já tinha vindo ao Brasil antes? FG: Eu estive no Brasil muitas vezes quando trabalhava como jornalista. Quando eu comecei a filmar em São Paulo, em 2013, ninguém pensava que aquela cidade poderia mudar. Mas agora, dois anos depois, 400km de ciclovias foram construídas e 40 mil espaços de estacionamento foram removidos. E, é claro, no final de junho foi inaugurada a ciclovia da Avenida Paulista. Dois metros de revolução pintada de vermelho. Eu nunca teria sonhado com isso. Quando estive lá para o lançamento eu tive a chance de pedalar em algumas das novas ciclovias e, de repente, São Paulo me pareceu mais amigável e intimista. Pretendo voltar em alguns anos para ver o progresso, pois eu tenho certeza que ele está só começando. 17


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QUEM É? Ilka Marques Sant’anna, 38 anos. DESDE QUANDO PEDALA? Pedalo desde 2006, meu filho me ensinou. POR QUE ESCOLHEU A BICICLETA? Vem comigo que te conto sorrindo como é bom pedalar. Algo tão leve e profundo como a imensidão do mar. Não é escolha, é cumplicidade.

Fotos: Deb Dorneles 19


mobilidade perfil

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SUPERAÇÃO E INSPIRAÇÃO Por Adelaide Teixeira Após um grave acidente em 2013, que o deixou sem o braço direito, David Santos tornou-se inspiração para outros ciclistas. A bike continua sendo sua melhor companheira pelas ruas de São Paulo e ainda sobra disposição para os esportes radicais.

Fotos: Adelaide Teixeira

A maioria das pessoas gosta de comemorar o aniversário com festas e celebrações, além de pensar no que gostariam de fazer no próximo ano de suas vidas. Para David, comemorar dois aniversários é um privilégio: fazer duas festas, planejar sua vida duas ou mais vezes e, principalmente, continuar a fazer o que gosta sem nunca desistir de um sonho, por mais que a vida apresente alguns percalços pelo caminho. David nasceu no dia 27 de setembro de 1991 e nasceu de novo no dia 10 de março de 2013, quando sobreviveu a um acidente, na Avenida Paulista. “Nunca foi difícil falar do assunto”, diz o ciclista que, com 21 anos, perdeu um braço no choque contra um veículo que invadiu o trecho reservado à ciclovia, numa madrugada de domingo. Natural de Diadema, ele sempre sonhou alto, literalmente, e mesmo após o ocorrido ele continua pedalando, escalando e fazendo todas as coisas que sempre planejou fazer. A PAIXÃO POR AVENTURAS Seu instinto aventureiro surgiu quando ainda era pequeno. Quando morou em Santa Quitéria, no Ceará, teve seu primeiro contato com a bicicleta. “O meu avô tinha uma Monark na garagem e disse que se eu arrumasse, poderia ficar pra mim. Fui juntando, peça por peça, até conseguir pedalar”, conta. Quando voltou para a capital, já era autodidata e consertou uma Caloi 10 que pertencia ao irmão. Desde que voltou para São Paulo, David anda pela cidade de bicicleta. Além da economia com transporte, ele vê na magrela 21


“Depende de mim continuar ou não fazendo o que eu gosto e o que eu sempre sonhei. Apenas decidi seguir em frente e me sinto bem em fazer isso”.

uma forma mais ágil, prática e eficiente de aproveitar o tempo de deslocamento. Já trabalhou em Santo Amaro, Centro, Jabaquara, e, para todos os lugares, vai de bike. Mas a sede por esportes radicais pedia mais do que o prazer sobre duas rodas. Para ter coragem em saltar de paraquedas, David foi trabalhar com rapel industrial. “Queria saber se eu tinha medo de altura. Um amigo já havia me falado do emprego e eu pensei que se achasse tranquilo, conseguiria saltar”. Ele encarou o desafio e iniciou uma jornada que só foi interrompida pelo acidente, oito meses depois.

UM DOMINGO PRA NÃO ESQUECER “Eu saí cedo de casa. Era domingo e nós havíamos combinado que se começássemos o trabalho mais cedo, iríamos terminar logo para ainda aproveitar o dia”. David saiu de 22

casa antes do amanhecer, percorreu os seus 20 km de pedal pela Avenida Jabaquara e, quando chegou à Paulista, decidiu passar para a área da ciclovia que já estava sendo delimitada nas ruas. “Achei que estaria mais seguro”, completa. Quando passou a Avenida Brigadeiro, diz só lembrar dos cones que voaram a sua frente. David teve socorro imediato e sobreviveu ao estado de choque. Thiago e Agenor, até então desconhecidos e hoje amigos de David, saíam do metrô quando ouviram o barulho, correram e conseguiram socorrê-lo. David acordou ainda na rua e reagiu bem, mesmo quando percebeu que estava sem o braço direito. É de se impressionar a naturalidade com que ele lida com a história do acidente. Por mais que julguem louvável a forma como ele enfrentou a situação, para ele foi mais do que natural. “Depende de mim


continuar, ou não, fazendo o que eu gosto e o que eu sempre sonhei. Apenas decidi seguir em frente e me sinto bem em fazer isso”, afirma o ciclista. Em menos de um mês David voltou a pedalar, ensaiando um novo jeito de se adaptar à realidade. A família ficou impressionada com quão rápida foi a sua recuperação, e, segundo David, isso ajudou a superarem juntos o trágico episódio. Voltar a pedalar também ajudou na movimentação das pernas e no realinhamento da coluna após o acidente. David só não voltou ao rapel industrial porque já havia descoberto o que queria. Já que não tinha medo de altura, foi saltar de paraquedas. A paixão foi tamanha que logo iniciou um curso de rapel e, hoje, trabalha como instrutor de altura, ajudando as pessoas a vencerem seus medos e a encararem grandes desafios.

CICLOATIVISMO INSPIRADOR “É um pedido de atenção para com a sociedade”. Hoje o ciclista escalador também dá palestras sobre autossuperação e inspira várias pessoas com a sua história de vida. Também virou cicloativista e sempre que pode participa de pedaladas e mobilizações, além de comparecer em eventos que incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte. “Não existe perigo, pedalar só me trouxe alegria” diz ele. David tem orgulho do que aprendeu e da pessoa que se tornou nos últimos dois anos. Hoje ele se prepara para ingressar na faculdade. O sonho de cursar arquitetura será mais uma de suas conquistas. “Quero continuar a ser um exemplo não só pelo que aconteceu, mas pelo tempo presente, por continuar em busca dos meus sonhos. O mais importante é permanecer em movimento, de preferência com a bike”, finaliza. 23


Planejamento para as cidades do futuro

Em grandes centros urbanos é comum encontrarmos histórias de pessoas que mudaram de trabalho, ou de casa, para estarem mais próximos das atividades cotidianas. A quantidade cada vez maior de carros nas ruas significa um congestionamento que se multiplica e que leva várias pessoas a disperdiçarem horas em uma espera angustiante. Além das iniciativas individuais, a solução do problema passa por questões muito mais amplas, como o planejamento urbano. Quem explica é Izabele Colusso, arquiteta urbanista e professora coordenadora da Especialização Cidades: Gestão Estratégica do Território Urbano, na Unisinos. Confira a entrevista que ela concedeu à Velô.

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Velô: O que é fundamental para um bom planejamento urbano? O que não pode faltar? Izabele: Planejar a cidade é uma tarefa árdua, pois envolve o planejamento da cidade a partir de suas partes, tendo em vista o todo, o que é uma alternativa duplamente interessante — ao mesmo tempo detém as virtudes da proposição e os cuidados com a cidade que vai absorver esses planos e projetos. A cidade é plena de projetos e planos. O que temos é uma infinidade de pessoas planejando, projetando e implementando seus próprios planos e projetos, cada um determinando mudanças na cidade e interferindo nos demais. O planejamento urbano é apenas mais um desses planos e está muito longe de significar uma proposição que englobe e contenha as proposições dos demais agentes. Nessas condições, o planejamento urbano


Copenhague, referência em mobilidade por bicicleta, inaugurou recentemente a ponte Cykelslangen, sobre o porto da cidade.

SusanneNilsson,Creative Commons

que tem mais condições de ser implementado é aquele que parte de baixo para cima, ou seja, que está em conformidade com os planos dos usuários da cidade.

Velô: Em uma cidade ideal, que opções o cidadão deve ter a sua disposição? Izabele: O espaço público é contínuo e constituído dos espaços de circulação e dos espaços de lazer. Os espaços de circulação, representados pelo sistema viário, devem apresentar condições para as pessoas cumprirem rotas de origem e destino dentro da cidade, sejam estas rotas cumpridas com o modal de transporte que a pessoa deseja. Neste sentido, de acordo com o porte da cidade, devem-se ter à disposição, além de passeios públicos (calçadas) e vias de circulação de veículos privados, espaços para usuários de transporte coletivo e usuários de transporte cicloviário.

Velô: Da maneira como muitas cidades grandes estão hoje, com uma concentração exagerada em determinados centros, o que é preciso fazer para não chegarmos a uma situação limite? Izabele: A concentração exagerada é chamada de alta densidade. Espaços centrais são tradicionalmente mais densos, por razões históricas e principalmente econômicas, e a situação limite pode ser atingida tanto pelo aumento expressivo da densidade quanto pelo aumento do número de atividades de comércio e serviço, que atuam como atratores de viagens de origem e destino dentro das cidades. Se a maior parte das atratividades de uma cidade estiver concentrada em um determinado local, e todas as pessoas estiverem em busca destes mesmos atratores, a situação limite pode ser vista como a sobrecarga do sistema viário que leva a estes locais centrais. Esta situação pode ser evitada com planejamento urbano de qualidade, como a distribuição da densificação em vários centros ou setores da cidade.

Velô: Que exemplos você conhece de cidades que investiram no planejamento urbano e, com isso, conseguiram melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram ali? Izabele: Vancouver é um exemplo de uma cidade que tem uma agenda de planejamento urbano a longo prazo, e todas as decisões tomadas a nível local têm uma repercussão em outros níveis da cidade. Como iniciativas pontuais, temos diversas ações interessantes 25


LaCittaVita, Creative Commons

Madrid transformou uma das maiores marginais da cidade em um parque de 9 km de extensão - Parque Madrid Río. que têm se tornado um crescente, como a transformação de rodovias em parques lineares e ciclovias (Madri e Seul), a transformação de túneis em jardins verticais (Vale do Anhangabaú, São Paulo), e as iniciativas sociais, como Massa Crítica e Dia Sem Carro.

Velô: Hoje muito se fala em “cidades para pessoas”. No seu ponto de vista, o que uma cidade como essa precisa? Como o planejamento urbano pode contribuir para isso? Izabele: O termo “cidades para pessoas” virou um lema utilizado por muitos para ilustrar como a cidade deveria ser pensada. O conceito foi introduzido por Jan Gehl, um urbanista dinamarquês. Seu país e sua cidade conseguiram implementar projetos que levaram Copenhague a ser vista como uma cidade pensada na escala do pedestre, não do veículo privado. Isto significa que as distâncias a serem percorridas são menores do que em uma cidade tradicional, e que a infraestrutura urbana está preparada para os pe26

destres e usuários da bicicleta, com passeios públicos largos, travessias com segurança e ciclovias bem dimensionadas. Este cenário é muito interessante, mas ainda muito distante da nossa realidade. Quando se incentiva o uso de veículos privados o que mais se pensa é em ampliar a infraestrutura destinada ao veículo, não ao pedestre. É uma inversão de valores. O planejamento urbano pode contribuir no sentido de indução da demanda: oferecer a infraestrutura de forma preliminar para induzir as pessoas a alterarem seu modo de vida. As pessoas não andam de bicicleta porque não existe ciclovia ou não existe ciclovia porque as pessoas não andam de bicicleta? Esta dúvida é sanada com planejamento urbano que mostra que, se a infraestrutura está disponível, as pessoas vão utilizá-la. Se seguirmos ampliando e duplicando vias e avenidas, estamos induzindo o oposto, que é a “cidade para carros”.


pedal seguro Há uma série de produtos disponíveis no mercado para que você possa carregar os pertences na bike, sem deixar tudo na mochila ou na bolsa. Saiba quais são e em que casos estão indicados.

ALFORJE

BOLSA DE SELIM

BOLSA DE GUIDÃO

> Uso urbano: transporte de livros, cadernos, roupas, etc. > Cicloturismo: transporte de roupas, calçados, barraca, kits de higiene pessoal e primeiros socorros, alimentos, líquidos e ferramentas. > Bike precisa de bagageiro traseiro, para acoplar. > Peso suportado: de 20 kg (uso urbano) a 30 kg cada.

> Transporte de ferramentas e câmara extra. Alguns usuários urbanos levam barras de cereal, gel energético e um documento de identidade. > Instalada no selim, independente do modelo de banco. > Peso suportado: De 3 a 4 kg, para modelos mais reforçados. Até 2 kg para pedais urbanos.

> Transporte de objetos pequenos ou de valor que precisam estar à mão do ciclista como câmera fotográfica, lanche, documentos, celular, chaves, entre outros. > Adaptáveis a diferentes modelos de guidão. > Peso suportado: variável, até 6 kg em modelos maiores.

BOLSA DE QUADRO

MOCHILA

> Ideal para transporte de objetos pequenos, como chaves e documentos. > Instalados no centro do quadro de modelos urbanos, que são mais tradicionais. > Peso suportado: até 3 kg.

> Uso urbano: transporte de objetos pessoais e acessórios eletrônicos. > Modelos de alforje podem ser fixados no bagageiro ou usados como bolsa ou mochila. > Peso suportado: Até 15 kg.

ATENÇÃO NA ESCOLHA > Verifique se o tecido é impermeável e resistente. > Aplicações em refletivo devem estar costuradas ou aplicadas como um silk, porém verifique se não descolam com facilidade. > Verifique se as costuras são reforçadas nos pontos de tração, pois podem estourar com facilidade. > Verifique o sistema de fixação, de acordo com o tipo de atividade - para uso urbano dê preferência para sistemas não muito complexos. Fonte: Luciano Moreira, responsável pelo departamento de Desenvolvimento de Produtos da Curtlo. Fotos: Curtlo/divulgação

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eu pedalo

Por

Crédito: Arquivo Pessoal

Invencível, pela primeira vez Por Andreza Schmitt Impossível contar minha história sem sentir uma nostalgia gigante. Aprendi a andar de bici no lugar mais mágico do mundo, e essa história de amor, de mudança e de autoconhecimento só existiu por causa de uma bici. Me mudei para o vale do silício, na Califórnia, aos 25 anos, com incertezas, medos e coisas a aprender. O povo lá respira inovação e uma atitude de bem-estar. Como se não bastasse, é perto de São Francisco e suas maravilhas. As cidades na região são super bike-friendly e a maior parte da população 28

usa a bike como meio principal de transporte ou commute. Eu fui parar nessa terra sem nunca ter aprendido a andar de bicicleta. Minha primeira bici - velhinha e muito feia - foi comprada de uma amiga que estava se mudando. Vivi momentos ímpares com ela, como a vez em que estava aprendendo e uma criança parou para me olhar como se eu fosse um ET. Todas as vezes em que eu contava que estava aprendendo recebia olhares de espanto seguidos de um “mas no Brasil as pessoas não usam bicicletas”? Foi tratamento de choque! Precisava aprender, pois não tinha dinheiro para comprar um carro, a estação de trem mais próxima ficava a 2 km de casa, a parada de ônibus a 1,8 km e a faculdade a 12 km. Era a bike ou morrer caminhando. Lembro de pensar que nunca ia conseguir


aprender, ir até o supermercado na esquina, pegar o trem com a bike, ir até a faculdade ou sentir prazer em pedalar. Também lembro da primeira vez em que andei uma quadra, que venci uma distância grande, que ri sozinha ao sentir a brisa no rosto. Lembro de me sentir invencível pela primeira vez na vida. Depois de aprender veio a barreira psicológica. Sempre fui muito “menininha”, de andar toda arrumadinha, de vestidinho e de bolsa. De repente eu tinha 12 km pra percorrer de bike e manter-se arrumada durante o percurso não era uma opção. Comecei a usar roupas esportivas, troquei sapatilhas por tênis, vestidos por leggings e maquiagem por protetor solar. Não me sentia bonita daquela forma, me sentia feliz, livre, invencível, mas não bonita. Comecei a prestar atenção em como as americanas faziam pra andar arrumadinhas de bici. Procurei blogs sobre fashion biker e, aos poucos, consegui unir o estilo esportivo com minha definição de sentir-se bonita. Afinal, saia, sapatilha e bici combinam sim! Voltei a morar em Porto Alegre e troquei a linda e confortável cruiser por uma speed vintage. Infelizmente não tenho mais a bici como meio de transporte, planejo voltar a ter um dia, mas ainda não me sinto segura para ir e vir no trânsito. Sei que estamos, aos poucos, tentando educar a população e temos verdadeiros heróis construindo o respeito ao ciclista diariamente no trânsito. Sei que chegaremos lá! Mas, por hora, a bici ganhou status de hobby. Só tenho a agradecer a tudo que estas “simples” duas rodas me trouxeram. Conheci um lado forte de mim que nem imaginava que existia, conquistei uma liberdade de espírito que só o vento no rosto pode explicar e mostrei pra mim e para o mundo que se pode, sim, fazer tudo isso de saia! * Andreza Schmitt é analista de marketing, aprendeu a andar de bicicleta aos 25 anos no lugar mais mágico do mundo, se reinventou e sonha com uma Porto Alegre segura para os ciclistas.

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Mobilidade em 1 Instante: escolha diária Cada pequena atitude positiva faz diferença. Cada passo é mais uma decisão em direção ao caminho certo. No fim, unindo todos esses pequenos esforços, há uma grande mudança. Cada um ajudando como pode resulta em um futuro melhor. Podemos parecer pequenos, mas unidos somos gigantes. Vá em frente, faça sua parte! Seja parte dessa transformação! A série Mobilidade em 1 Instante é movida pela fotografia. Trazemos imagens que nos inspiram e que permitem uma reflexão sobre a mobilidade e a vida nas cidades. Série completa: thecityfixbrasil.com Crédito: Mariana Gil / WRI Brasil | EMBARQ Brasil

#SOMOSCITYFIXERS - MUDE SUA CIDADE HOJE! Atualmente, 3,7 bilhões de pessoas vivem nas cidades. Os problemas são cada vez mais complexos e desafiadores, mas, ao mesmo tempo, há um espaço sem precedentes para a mudança e milhares já estão se apropriando do espírito vai-lá-e-faz. Para promover a ação, o TheCityFix Brasil lançou a campanha #SomosCityFixers com depoimentos de pessoas engajadas em iniciativas para melhorar o acesso a suas cidades. Confira em: bit.ly/1JXSxZy. Você, eu, o vizinho, a colega de trabalho, todos nós podemos e devemos ser agentes de mudança! NOSSA CIDADE - DOTS O TheCityFix Brasil lançou em abril o projeto Nossa Cidade: séries de posts semanais com uma nova temática a cada mês. Já falamos sobre calçadas e espaços públicos e, em junho, nosso tema foi DOTS - Desenvolvimento Orientado pelo Transporte Sustentável, modelo de planejamento que busca construir bairros compactos e de alta densidade populacional, com diversidade de usos, serviços e espaços públicos e que favoreçam a mobilidade sustentável e o desenvolvimento econômico. Conheça a série em thecityfixbrasil.com/nossa-cidade

REDUZIR PARA SALVAR VIDAS Dividir as vias com veículos motorizados em alta velocidade é uma aventura perigosa – e pode ser fatal, já que os limites permitidos nas cidades brasileiras estão acima do que é considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde. Uma simples redução poderia salvar muitas vidas, como mostra a imagem ao lado, retirada de estudo do WRI Brasil | EMBARQ Brasil. A publicação, recheada de ilustrações com dados e fatos interessantes sobre o tema, está disponível em: bit.ly/velocidades

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uma colaboração

Kevin Zolkiewicz/Flickr

6 COISAS QUE VOCÊ NÃO SABIA SOBRE SISTEMAS BIKESHARE

A pesquisa Bikeshare: a review of recent literature, publicada em abril pela Universidade de Utrecht, reúne informações a respeito da expansão dos sistemas bike-share nos últimos anos, com dados dos serviços disponíveis em quatro regiões: América do Norte, Ásia, Europa e Austrália. Listamos seis curiosidades da pesquisa. 1. Crescimento de 6.476% em dez anos: Em 2004, 13 cidades do mundo contavam com sistemas bike-share, número que saltou para 855 em 2014. Destaque para a China, com 237 sistemas; Itália, com 114; e Espanha, com 113. 2. Sistemas bike-share reduzem o uso do carro: Em todas as cidades analisadas à exceção de Londres, os sistemas bike-share reduziram o uso do carro. Também ajudaram a diminuir o número de quilômetros rodados por veículos motorizados em geral, sendo utilizados em substituição ao transporte coletivo, à caminhada e ao carro. 3. Até 8 viagens por dia: Uma das métricas de comparação entre sistemas bike-share é o número de viagens diárias de cada bicicleta. A campeã nesse quesito é Paris, que

chegou a atingir 8 viagens por dia na mesma bicicleta em setembro de 2013. O sistema mais utilizado é o de Barcelona, com uma média de aproximadamente 6 viagens diárias na mesma bike ao longo de 2013. 4. Trabalho ou lazer: A finalidade do uso dos sistemas varia entre as regiões e entre usuários antigos e mais recentes. Em Washington DC e Londres, respectivamente 43% e 52% dos usuários de longo prazo utilizam a bicicleta como meio de transporte para o trabalho. Já em Brisbane, na Austrália, 65% das viagens têm fins de lazer. 5. Usuários têm renda mais alta: A pesquisa mostrou que os assinantes de bikeshare (aqueles que compram o passe periódico) tendem a ter renda mais alta e maior grau de escolaridade em comparação à média da população e a maioria tem emprego fixo. 6. 74 milhões de minutos de atividade física em Londres: 60% das viagens realizadas pelos sistemas bike-share substituem modais não ativos de transporte, o que levou a um ganho de 74 milhões de minutos de atividade física em Londres e 1,4 milhão em Minneapolis (EUA). 31


BIKE RETRATO

Encantada pela cultura da bicicleta, a fotógrafa e jornalista Bárbara Magri começou a fazer retratos de ciclistas em Belo Horizonte, cidade onde mora. Por onde passa, a jovem registra os mais diferentes perfis e suas bicicletas em cliques cuidadosos e sensíveis. No ano de 2013 o projeto, batizado de Pedalo, ganhou força com a temporada de Bárbara na Europa. “A princípio convidava os amigos que andavam de bicicleta e pedia para me levarem nos seus lugares favoritos. Tiveram situações ótimas, dentro de prédio, no meio do mato e até dentro de um estúdio de fotografia”, conta Bárbara, que nasceu em Timóteo, interior de Minas Gerais. Com o tempo, foi percebendo que as bicicletas se pareciam com os seus donos e é isso que tenta mostrar através do trabalho. Veja mais fotos do Pedalo em revistavelo.com.br

* Membros da Ciclocidade, associação sem fins lucrativos, que tem como missão contribuir para a construção de uma cidade mais sustentável, baseada na igualdade de acesso a direitos, promovendo a mobilidade e o uso da bicicleta como instrumento de transformação. 32


O FUTURO DAS CIDADES É AGORA O desenvolvimento sustentável e moderno das cidades é guiado por várias decisões que são tomadas no presente: as escolhas sobre em quais projetos investir determinam se viveremos em cidades com calçadas melhores, com mais quilômetros de ciclovias e com muito mais liberdade de acesso a diversos pontos ou se continuaremos presos nos congestionamentos. Hoje, mais de 54% da população mundial vive em áreas urbanas. Somos 3,7 bilhões de pessoas e a maior parte sofre as consequências de um desenvolvimento insustentável, com elevados níveis de poluição, estresse e sedentarismo. Para inspirar prefeitos e apresentar ideias replicáveis para tornar as cidades mais humanas e inclusivas, o WRI Brasil | EMBARQ Brasil assumiu o desafio de realizar dois eventos focados na discussão sobre mobilidade nas cidades. A Cúpula de Prefeitos e o Congresso Internacional Cidades & Transportes vão reunir especialistas, gestores, empresas e ONG’s para compartilhar boas práticas e ideias inovadoras para as cidades. Ex-prefeitos de diversas cidades estarão presentes para discutir como é possível promover o desenvolvimento urbano de forma alternativa mesmo frente a adversidades. Ken Livingstone, o primeiro prefeito de Londres, fala sobre a necessidade de ter um plano estratégico de 20-30 anos. Sam Adams, ex-prefeito de Portland, narra como conseguiu reduzir em 11% as emissões de gás carbônico da cidade estimulando o uso da bicicleta, entre outras iniciativas. Jaime Lerner conta como inovou o transporte coletivo ao sofisticar os corredores de ônibus em Curitiba. Estes são apenas alguns assuntos que serão abordados pelos mais de 80 palestrantes dos eventos.

Rodrigo Soldon, Creative Commons

#CTBR2015 Cúpula de Prefeitos + Congresso Internacional Cidades & Transportes Quando: 09 a 11 de setembro de 2015 Onde: Cidade das Artes, Rio de Janeiro Inscrições abertas: cidadesetransportes.org 33


Fotos: Silvia Ballan /CicloBR

Festa na Paulista! No dia 28 de junho uma das principais avenidas da cidade de São Paulo foi tomada por milhares de pessoas para uma comemoração muito aguardada: a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista, uma das mais emblemáticas da cidade. Com 2,7 km de comprimento, o trecho que vai da Praça Oswaldo Cruz à Consolação levou cinco meses para ficar pronto. CURTA BIKE Promover a ocupação dos espaços públicos, o conhecimento maior da cidade e seus espaços e a visibilidade da produção cultural nacional é o mote do Curta Bike, que tomará as ruas de Porto Alegre em 22 de agosto. Serão 5 quilômetros de passeio ciclístico com quatro paradas para a exibição de filmes brasileiros. A chamada para filmes está aberta e aceita a inscrição de cineastas brasileiros, estreantes ou não (sabujofilmes.com). O evento é aberto ao público e a mostra é gratuita. Para mais informações: fernanda.morenaslv@gmail.com ou facebook.com/curtabike 34

PEDALIKE Lançado pelo Criativo Pedalando, o aplicativo mostra locais bike-friendly nas proximidades de onde você está e ainda indica a distância até lá, pra quem caminha ou pra quem pedala. A distância é medida em “pedalikes”. Um pedalike são 50 centímetros para quem está a pé e um metro para quem está de bicicleta. Em outras palavras, trata-se de uma descolada medida de distância, tempo e curtição pois, a pé ou de bike, é possível conhecer e curtir lugares que seriam praticamente invisíveis dentro de um carro ou motocicleta em alta velocidade. Mais em: www.criativopedalando.com


Divulgação

GENIAL É ANDAR DE BIKE Um painel de 13 metros de altura por 8 de comprimento na rua Oscar Freire, número 944, em São Paulo, é um dos mais recentes trabalhos do artista Eduardo Kobra. Intitulado “Genial é andar de bike”, o desenho foi criado a cerca de dois anos, mas só agora saiu do papel. “Assim como em outros casos, anoto a ideia, faço um desenho preliminar e, apenas depois disso, procuro um espaço adequado para colocar o painel”, explica Kobra. A motivação para pintar na capital paulista veio do próprio momento que a cidade vive “Quando surgiu a possibilidade de pintar em São Paulo achei super viável, porque estamos passando por um momento delicado em relação aos ciclistas na cidade. Achei conveniente pintar o painel propondo esta reflexão”, diz o artista. Conheça mais sobre o trabalho dele em www.eduardokobra.com

Foto: Divulgação

Orquestra sobre rodas A ideia de criar a Cyclophonica surgiu quando um dos integrantes, Leonardo Fuks, cursava doutorado em acústica musical, tocava oboé na orquestra filarmônica de Nacka (a 15 km de Estocolmo) e se deslocava todos os dias de bicicleta pela cidade.

Sonhando com a mistura desses três elementos, ele adaptou uma flauta escandinava à sua bike e desse experimento bem sucedido nasceu a vontade de criar uma orquestra profissional sobre bicicletas. Ao retornar para o Rio de Janeiro, Leonardo contatou amigos músicos que também praticavam o ciclismo e, em 1999, surgiu a Cyclophonica, que atualmente é composta por dez músicos, professores de instituições como a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) e a Escola de Música da UFRJ. Os instrumentos foram adaptados para que os músicos não precisem usar as duas mãos para tocar e possam conduzir as bicicletas. Este ano, em comemoração aos 450 anos do Rio de Janeiro, a orquestra desenvolve o projeto “Volta ao Rio em 450 anos” e ocupará, com música, espaços públicos de mais de 40 bairros cariocas. 35


BIKE SHOP Bike Box

Inspirada nas caixas de vinho, muito usadas em bikes na Europa e nos EUA, a Traditional Bike Box é uma caixa estilo retrô para customizar a magrela. Mais infos em: traditionalbikebox@hotmail.com Fotos Divulgação

PROTEGIDO DO FRIO O manguito e o pernito da Scott são ideiais para os dias frios. São felpados internamente, com alta absorção de umidade, secagem rápida e alta durabilidade. Compre em: www.scott.com.br

CICLOCOMPUTADOR O aplicativo PanoBike, desenvolvido pela Topeak, calcula tempo, batimentos cardíacos, RPM e velocidade, além de funcionar como GPS e tocar música durante o pedal. Criado para transformar o smartphone em um ciclocomputador, o app é gratuito e está disponível para diferentes tipos de smartphones. 36


NO RADAR Lançado pela Garmin Brasil, o Varia é uma linha de dispositivos inteligentes para ciclismo, que inclui radar para bicicletas e faróis inteligentes que avisam os ciclistas sobre a proximidade com veículos. O radar traseiro avisa os ciclistas dos carros que se aproximam atrás da bicicleta em até 150 metros e também avisa os carros que há um ciclista a frente. É integrado a um ciclocomputador, permitindo que ciclistas personalizem de acordo com suas necessidades. Saiba mais em www.garmin.com/br GRAXA

OGGI BIG WHEEL

PM600 é uma graxa para todos os tipos de serviço. O lubrificante forma uma película que impede o contato de metal-a-metal e reduz as temperaturas de funcionamento. É resistente a água e protege contra a corrosão. Mais em: www.isapa.com.br

A bike vem com quadro de alumínio, suspensão dianteira Rock Shox XC28 com controle de trava no guidão, curso de 100 mm, grupo de peças Shimano Deore 20 velocidades, pneu Kenda Small Block Eight Kevlar. Mais em: www.isapa.com.br

CAPACETE DOBRÁVEL Disponível nos tamanhos M (55-58 cm) e L (5861cm), o acessório da Brooks pesa 330 gramas e combina tecnologia moderna com detalhes de couro. Mais em: www.brooksengland.com

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CONEXÃO PEDAL À MILANESA

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Crédito: Lina Colnaghi

Por Lina Colnaghi


Milão foi meu destino final em uma viagem de 20 dias pela Itália, para conhecer 12 cidades da bota. Encontrei, durante este período, várias cidades amigas das bikes, com restrições para a circulação de carros e com muita gente pedalando ou caminhando em ruas exclusivas para ciclistas e pedestres. Mas foi em Milão que a quantidade de ciclistas mais me impressionou e por um motivo em especial: a cidade parece ser a capital da Itália. Há trânsito pesado, largas avenidas e autopistas e, junto com isso, estrutura cicloviária e muitas bicicletas circulando - sejam particulares ou aquelas dos inúmeros pontos do sistema de bike sharing milanês. Logo na chegada à cidade, em uma curta caminhada saindo da estação Milano Centrale e percorrendo a Corso di Porta Nuova, já foi possível ver ciclovias movimentadas ao longo de importantes avenidas da cidade. Além da estrutura que convida ao pedal, Milão é uma cidade toda plana, o que favorece a escolha da magrela para os deslocamentos. Quem vai à cidade a lazer, como turista, pode experimentar o sistema de compartilhamento de bikes gerenciado desde 2009 pela prefeitura, o BikeMi. São mais de 3 mil bicicletas nas estações de aluguel, tradicionais ou elétricas, sendo a maior concentração na região central. O funcionamento é bastante simples. É necessário, primeiramente, cadastrar-se pela internet (www. bikemi.it) ou pessoalmente nos ATM Points nas estações de Metrô (Duomo, Cadorna, Loreto, Romolo, Centrale FS e Garibaldi FS). No ato do registro, paga-se uma taxa de 4,50 euros para usar um passe de 24 horas ou de

9 euros para o de uma semana (para os moradores ainda existe a vantajosa tarifa de 36 euros anuais). Depois de registrado, com um código recebido, você consegue retirar uma bike em qualquer estação e pedalar, sem nenhuma tarifa adicional, por 30 minutos. Excedendo este tempo, você passa a pagar 50 centavos de euro por meia-hora adicional. Isso na bici tradicional, porque se você optar pela elétrica, além do passe, você paga 25 centavos de euro já na primeira meia-hora. O segredo é fazer vários trajetos de meia-hora, com pelo menos 5 minutos de intervalo entre a entrega da bici e a retirada de um nova, assim você paga apenas o passe diário - ou semanal. As ciclovias não estão por toda parte e não dá pra dizer que a cidade está super bem conectada para atender os ciclistas, mas o fato é que as magrelas estão em qualquer lugar de Milão, seja nas ciclovias modernas e bem elaboradas ou no centro, nas ruas de paralelepípedo, ao lado dos pedestres, bondes, ônibus e carros. Observa-se que o comércio local também está ligado no assunto. No bairro boêmio de Brera, bicicletários lotados despontam nas vitrines e fachadas de lojas, bares e restaurantes, tanto de dia quanto à noite. É interessante observar como os milaneses usam a bicicleta para diversas atividades e com os mais variados figurinos. Vi de ciclistas esportivamente trajados, com suas speeds e sapatilhas, a mulheres de saia, sobretudo e salto alto chegando no restaurante pra jantar, o que me levou a ter uma outra ideia sobre Milão: a cidade é a capital do Cycle Chic na Itália. Eles já são, no geral,

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CONEXÃO

Crédito: Lina Colnaghi

A cidade é a capital do Cycle Chic na Itália. Crédito: Creative Commons, David Davies

charmosos e bem vestidos, em cima de uma bike, então, fica completa a beleza. Além das bicicletas, Milão é bem servida de transporte público, com linhas de metrô, linhas de tram, de ônibus e de trens. A intermodalidade é facilitada já que as bikes estão sempre localizadas nas proximidades de paradas de ônibus ou de estações. É perfeitamente possível sair do metrô, pegar a bici até determinado local e retornar para casa de metrô ou ônibus, por exemplo. Minha sugestão para quem vai a Milão pela primeira vez seria alugar uma bicicleta do BikeMi na estação Duomo e ir pedalando dali até o Castello Sforzesco. Pode ser uma boa maneira de reconhecer o território, passando por vários pontos emblemáticos da cidade.

Quem vai à cidade a turismo, pode experimentar o sistema de compartilhamento de bikes, o BikeMi. São mais de 3 mil bicicletas nas estações de aluguel, tradicionais ou elétricas. 40


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_produção de conteúdo _projetos editoriais para todo tipo de plataforma

www.cspress.com.br cspress@cspress.com.br 42


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