Campina Século e Meio - Volume 2

Page 1

Historiador contesta o 11 de Outubro Página 26

2

Volume Campina Grande - PB, Outubro/Novembro 2014

Evaldo Dantas Um súdito fiel da Rainha da Borborema

GALERIA CILINDRO:

ATRAÇÃO QUE SUMIU

GENTE QUE FAZ CAMPINA GRANDE

CHICO MARIA REVISITA O VELHO CAPITÓLIO


2

Campina - SĂŠculo e Meio


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

3


EDITORIAL

Cidade exemplar

N

o novo número, lançado em setembro, da sofisticada revista de arquitetura “Projeto Design” nada menos que 8 páginas são dedicadas a Campina Grande que é saudada na publicação paulista como “cidade exemplar” tida como “uma das 20 metrópoles importantes do futuro”. O texto não é baseado em utopias ufanistas, longe disso é um relato cujo norte é a abertura da cidade para projetos ousados no campo da arquitetura. A referência direta é aos dois prédios públicos projetados por ícones singulares da arte moderna no País, os cariocas Oscar Niemeyer e Acácio Gil Borsoi. O primeiro projetou o prédio do Museu de Arte Popular da Paraíba nas margens do Açude Velho e o segundo (coadjuvado por Janete Costa) desenhou as novas instalações do Museu de Arte Assis Chateubriand no bairro do Catolé.

4

Campina - Século e Meio

Se por um lado temos essa abertura, por outro lado também retrocedemos no tempo e no espaço eliminando sumariamente possibilidades concretas de contemporaneidade como foi o caso da Galeria Cilindro (veja matéria nesta edição). Outro exemplo: se estivesse “vivo” o Cinema de Arte completaria 50 anos de existência nesse ano de 2014. Inaugurado no ano do Centenário, com sessões semanais, sempre às quartasfeiras no Cine Capitólio, esse espaço privilegiado para exibir filmes que oferecem algo mais que o entretenimento visual para acompanhar a deglutição de pipoca com refrigerante, acabou sumindo para nunca mais voltar. No quesito “arte e cultura”, a cidade age como o morcego do ditado popular, ou seja, “morde e sopra”. Na música, na literatura, no teatro, nas artes visuais não faltam exemplos de retrocessos.

É um imenso deserto de ideias cercado pela aridez das requentadas novidades que nos chegam via internet. Mas, apesar de tudo, existem os oásis humanos neste quase inóspito semiárido, são pessoas que não desistem e insistem em dar um passo adiante nessa trajetória que completa agora 150 anos. Os parceiros que tornaram possível este segundo volume da nossa revista são um bom exemplo disso, sem hesitar aportaram com seu imprescindível apoio acreditando na nossa proposta e tornando possível sua concretização. A todos eles nosso profundo agradecimento, nosso reconhecimento público e não cansamos de repetir: são pessoas como vocês que fazem essa cidade grande. Estamos lançando o segundo volume e já caminhamos para o volume três que trará mais conteúdo inédito sobre nossa história, nossas paisagens, nossos personagens. A todos os leitores que enviaram suas mensagens de apoio, suas críticas e sugestões em relação ao primeiro volume, renovamos o convite para que façam o mesmo com este segundo volume, são colaborações assim que nos ajudam a aprimorar mais cada nova edição dessa revista que, graças a Deus, caiu no gosto do povo. Boa leitura e até a próxima edição.


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

5


CAMPINA

século e meio

Índice 10 Onildo Brito Cabelereiro completa 30 anos de trabalho e é referência em Campina Grande e na Paraíba

13 Espaço de Cultura-PB Livraria mantém a tradição de amor aos livros na cidade

15 Evaldo Dantas

22 Galeria Cilindro Atração artística do começo deste século sumiu bruscamente do centro da cidade

Médico nutre sua paixão por Campina através do estudo e difusão da nossa história

22 Capital do Trabalho Artigo justifica o título dado a Rainha da Borborema

29 saudável e natural Pioneira na comercialização de produtos naturais em Campina, Mércia Batista conta sua trajetória iniciada há 27 anos

30 FAPTEC Uma instituição que deu certo e contribui para o desenvolvimento através do ensino técnico de qualidade

33 Instituto Histórico Prepara lançamento da quarta edição revista e ampliada do livro “História de Campina Grande” de Elpídio de Almeida

26 Datas para a História Professor Humberto Melo apresenta datas da história da cidade e minimiza importância do 11 de outubro

35 Olimpíadas Estudantis No ano de 1968 as guitarras do iê-iê-iê rivalizaram com as bandas marciais neste evento cívico-esportivo para a juventude

38 Chico Maria O maior cronista vivo da cidade relembra a mitologia de luz e sombras no écran do cine Capitólio

CAMPINA, SÉCULO E MEIO Volume 2 · Outubro/Novembro 2014 · DIRETOR e EDITOR: Romero Azevêdo (DRTPB 617) · Editora de Jornalismo: Creusa Oliveira (DRT- 8569/01-15) · Comercial: Isis Azevêdo · Projeto Gráfico e DIREÇÃO DE ARTE: Mário Miranda Colaboradores: Chico Maria, Ida Steimüller, Humberto Melo · Agradecimento: Nilson Feitosa, Rafael Azevêdo e demais parceiros desta edição Impressão: Gráfica Agenda · Tiragem: 3.000 exemplares · Distribuição: gratuita e personalizada · Capa: montagem sobre foto de Edson Vasconcelos · Publicidade: revistaseculoemeio@gmail.com 83 9814.4343 | 9665.5084

6

Campina - Século e Meio


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

7


8

Campina - SĂŠculo e Meio


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

9


GENTE que faz Campina Grande

Onildo Brito,

30 anos fazendo a cabeça de Campina e da Paraíba

o

segredo da notável habilidade de Onildo da Costa Brito (esse é o seu nome de batismo) com tesouras e pentes está gravado em seu próprio DNA. O pai de Onildo, o senhor Inácio Elói Brito (in memoriam), era um conceituado barbeiro na então pacata cidade de Serra Branca no cariri paraibano, e foi com ele que Onildo deu os primeiros passos nessa profissão que o consagraria mais tarde com o Prêmio Qualidade Brasil outorgado pela International Quality Service em noite de gala no Claro Hall no Rio de Janeiro; este prêmio é o mais respeitado na categoria empresarialartístico- cultural do País. Na mesma noite em que Onildo recebeu o disputado troféu, também o receberam o diretor de novelas da Rede Globo Dennis Carvalho, o ator Selton Melo e a atriz Renata Sorrah. Como se sabe, o sucesso profissional não surge do acaso. Para alcançar esse privilegiado patamar, Onildo se aperfeiçoou

10

Campina - Século e Meio

em São Paulo, principal centro de estética e beleza da América Latina. Foi lá onde o jovem e esforçado coiffeur aprimorou o seu talento trabalhando num hotel em Guarujá, concorrida cidade do litoral paulista, ao mesmo tempo em que ampliava o currículo em estética capilar frequentando cursos de especialização em alto nível na cidade de Santos-SP. Essa rica experiência teórico-prática, aliada à herança genética que carrega em suas próprias células, transformou em pouco tempo o persistente aprendiz num expert nesta arte que literalmente “faz a cabeça” das pessoas. Dizendo de maneira simbólica: o diamante bruto virou joia rara de muitos quilates, lapidado pelo trabalho e obstinação. No início da ansiada e vitoriosa carreira de cabelereiro, em viagem de férias para visitar a família e matar saudades da terra natal, um primo sugeriu-lhe a ideia de montar um salão em Campina Grande. Corria o ano de 1986 e Onildo acatou a sugestão abrindo um

pequeno empreendimento no bairro de São José na Rainha da Borborema. Sabedor que a atualização constante é primordial neste concorrido campo profissional, Onildo continuou participando de cursos, workshops, congressos e demais eventos voltados para a estética e beleza em todo o Brasil. O resultado dessa contínua busca pela evolução foi o crescente reconhecimento da clientela e o consequente êxito do pequeno salão que teve que ser ampliado para dar conta da enorme procura. O ano de 1993 marca para a história do hairstyle na Paraíba o surgimento do novo e ampliado salão de Onildo, um verdadeiro centro de beleza e estética pessoal que vai muito além de um corte de cabelo e oferece uma série de serviços especializados que incluem estética facial e corporal, embelezamento das unhas, comercialização de produtos de beleza de variadas marcas e aplicações. Num sofisticado ambiente que prima, sobretudo, pelo conforto e bem estar de quem o procura, a palavra chave é satisfação. Tudo é pensado e concretizado em função do cliente sem distinção de gênero, afinal o maior patrimônio da grife “Onildo Haute Coiffure” é a fidelidade de seus amigos, a confiança da sociedade paraibana nesta empresa que está sempre sintonizada com as novas tendências e estilos deste


segmento profissional e busca sempre oferecer o melhor em seus serviços e no atendimento personalizado. Para diversificar seu raio de ação e proporcionar opções de atendimento, Onildo abriu filial no Partage Shopping (andar térreo, ao lado do Banco do Brasil) e no Manaíra Shopping em João Pessoa. A manutenção dessa megaestrutura que lida diretamente com o ser humano seus anseios e volições, conta com uma equipe formada por mais de 90 profissionais, a maior parte deles oriunda de sua própria família, todos em permanente trabalho de atualização e qualificação não só no aspecto técnico, mas também no psicológico, é uma equipe motivada que procura em seu dia-a-dia servir bem para servir melhor. Entre os familiares que auxiliam Onildo no dia-adia do movimentado centro de beleza , destaque para a esposa Anisia Maria Gomes de Brito, e os filhos Felipe Gomes de Brito (administrador de empresa) e Álvaro Gomes de Brito (este herdou do pai e do avô a arte de lidar com pentes e tesouras, faz pós-graduação em Tricologia, que vem a ser o estudo científico do cabelo e do couro cabeludo, e atua profissionalmente na unidade de Onildo no Partage Shopping) Por isso tudo, o “Onildo Haute Coiffure” é um local aconchegante e convidativo,

Pente, tesoura, talento e sucesso

lá o cliente se sente imerso num ambiente requintado onde a beleza e a estética não são meros conceitos, mas realidades que tornam a vida mais bonita e ajudam as pessoas a serem mais felizes.

Vocação e sensibilidade: referências deste artista Mais que um competente cabeleireiro, Onildo Brito é um artesão que usa a tesoura, o pente e o secador para esculpir verdadeiras obras de arte na cabeça de mulheres e homens do nosso estado. Porém, quem é do ramo sabe que só uma refinada técnica não é suficiente para atrair uma assídua e fiel clientela, acima de tudo é preciso ter sensibilidade, carisma, empatia com o público, e isso Onildo tem de sobra. Não são poucos os depoimentos de mulheres que chegaram “em cima da hora” no salão-estúdio, aflitas pedindo “socorro”, com o cabelo “em pânico” e viram Onildo comandar pessoalmente sua equipe no pronto atendimento daquele caso de urgência. E

quem entrou quase aos prantos saiu de lá exibindo um largo sorriso de satisfação e gratidão. Essa é uma característica desse incansável profissional que pode ser encontrado a qualquer hora do dia no seu ambiente de trabalho, não encastelado numa redoma de vidro dando ordens aos colaboradores, mas no meio deles, pente e tesoura na mão, exercendo na prática o seu sonho de embelezar cabeças com cortes, colorações e penteados exclusivos. Quem conhece Onildo percebe logo que ele é um homem de fino trato, gestos elegantes, olhar manso e cordial, com uma qualidade muito rara hoje em dia: saber escutar as pessoas, interpretar suas necessidades e materializar devaneios. Com a vocação que lhe foi prodigalizada por Deus e o esforço pessoal para refinar cada vez mais esse dom natural, Onildo é referência nesta categoria profissional e o seu nome tornou-se sinônimo de haute coifure no Nordeste brasileiro.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

11


12

Campina - SĂŠculo e Meio


gente que faz Campina Grande

CULTO AOS LIVROS

permanece vivo no Espaço de Cultura-PB

a

s livrarias têm um papel importante na história de Campina Grande a partir do século XX. Muitos ainda recordam a lendária Livraria Pedrosa, cujo lema “faça do livro seu melhor amigo” influenciou gerações de leitores que frequentavam aquele templo das letras na Maciel Pinheiro. Nos anos 1970 do mesmo século foi a vez da Livro 7, livraria recifense que abriu uma concorrida filial na cidade atraindo os leitores ávidos por novidades e diversidade. A partir de 1987, mês de abril, surge a semente do que viria a ser o Espaço de Cultura-Pb, a mais completa livraria em atividade hoje em Campina Grande. Foi nesse ano que o professor de matemática da então UFPB, Juarez Fernandes de Oliveira abriu uma

Juarez lê um dos livros prediletos de sua biblioteca

O Espaço de Cultura está aberto ao público em geral

pequena livraria na Rua Cavalcanti Belo, no Centro. No início só vendia livros russos (da editora MIR), em seguida ampliou a oferta com livros didáticos, científicos, técnicos e literatura em geral de várias editoras. Em 1994, com a expansão do negócio, mudou-se para a Getúlio Vargas e o número 74 da avenida virou point dos intelectuais campinenses que passaram a se reunir nas manhãs de sábado na livraria ”para conversas que abordam desde a origem da humanidade até o fim dos tempos” diz com bom humor o próprio Juarez. Em 1999 foi aberta uma filial da Cultura-PB no Shopping Iguatemi (hoje Partage), permanecendo ali por dez anos. Com a morte de sua esposa, Maria das Graças, em 2011, Juarez extinguiu a antiga empresa retomando com outra razão social e passando a funcionar no

local onde está hoje, a mesma Avenida Getúlio Vargas só que no número 78, vizinho ao antigo endereço. “Um dos legados da livraria Espaço de Cultura-PB foi a renovação, de forma sistemática e atualizada, da bibliografia adotada nos cursos de nível superior em Campina”, afirma Juarez. Os apologistas da vida digital estão decretando, mais uma vez, o fim do livro. Leitor contumaz de livros, Juarez opina: “O livro é um objeto de desejo, as pessoas querem ter, pegar, sentir, o livro tem vida, tem cheiro. As pessoas se apaixonam por certos exemplares e não vendem, não trocam, não emprestam nem dão. Isso não acaba”. Um desses livros para Juarez é “Menino de Engenho” que leu a primeira vez em 1978 e sempre retorna ao universo criado por José Lins do Rego, outro livro inesquecível para ele é “Metodologia Científica” de Cervo Amado Lins (primeiro livro que adquiriu quando entrou na universidade). Sobre a quase onipresente Internet diz: “É um meio de informação, acaba gerando vendas porque as pessoas vão lá, pesquisam e terminam comprando aqui mesmo”. O futuro do Espaço de Cultura-PB é a ampliação: “Quero implantar um café, posteriormente integrar com outras atividades ligadas à ciência e à cultura concretizando assim o sonho de um centro cultural em Campina Grande”, projeta. Juarez Fernandes é viúvo de Maria das Graças Rodrigues Silva e tem três filhos: Júlio César, doutor em engenharia elétrica pela Unicamp; Juliano Rodrigues, doutor em engenharia elétrica pela USP e Ana Júlia, professora da Univast (Universidade do Vale do São Francisco). Perguntado por que decidiu abrir uma livraria, o atual professor do Departamento de Estatística da Universidade Estadual da Paraíba respondeu rápido: “Sou apaixonado por livros”.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

13


Campina Grande, 150 anos

N贸s fabricamos a tinta que colore essa hist贸ria

14

Campina - S茅culo e Meio


CANAÃ de leais forasteiros

Ele seguiu a rota dos tropeiros e se fixou na Serra da Borborema

Dr. Evaldo em seu memorial | Foto: Edson Vasconcelos

O

melhor de Campina é o seu povo, disso ninguém tem dúvida. Se não fosse assim como explicar esse amor desmedido, essa paixão desenfreada, esse culto que beira o fanatismo? Dizem que os nascidos aqui (ou adotados) são bairristas, ledo engano, os habitantes do topo da serra da Borborema são “cidadistas”, um “bairro” é muito pouco para definir esse querer que transborda pelos poros dos que

vivem felizes por aqui. Um exemplo desse entusiasmo único e exemplar é o Dr. Evaldo Dantas Nóbrega. Sertanejo de Patos, Dr. Evaldo escolheu Campina Grande para morar, trabalhar e aqui constituir família. Hoje é um súdito fiel da Rainha da Borborema que o acolheu há mais de 30 anos e exprime seu amor ajudando a cidade a ser cada vez melhor não só no seu campo de trabalho, a medicina, mas também no mundo das letras, da história, do civismo.

No seu consultório no edifício da Clínica São Camilo na Rua Siqueira Campos, 655, no bairro da Prata, Dr. Evaldo mantém um verdadeiro memorial com peças antigas, mobiliário, fotos, filmes, vídeos, documentos e livros históricos, notadamente os que abordam a história de Campina Grande. Neste mês de setembro de 2014, o Dr. Evaldo Dantas Nóbrega completou 60 anos de idade, metade dos quais vividos em Campina. A data em que chegou à cidade para se fixar profissionalmente ele cita como um marco indelével de sua vida, “foi no dia 28 de setembro de 1983”. Com indisfarçável alegria ele nos conta o que chama de “feliz coincidência”: ter nascido no mesmo dia (primeiro de setembro) de um personagem ilustre, nascido em Areia, também médico como ele e cultor da nossa história, o Dr. Elpídio de Almeida. Em seu memorial, Dr. Evaldo expõe uma fotografia do ex-prefeito (presenteada pelo Dr. Humberto Almeida, filho de Elpídio) e conserva com muito carinho um exemplar da raríssima primeira edição do livro “História de Campina Grande”, lançado em 1962. Para completar essas coincidências que o ligam ao construtor da maternidade pública municipal, Dr. Evaldo é o atual titular da cadeira da Academia de Letras de Campina Grande que tem como patrono justamente o historiador Elpídio de Almeida. Também integra os quadros do Instituto Histórico de Campina Grande “Casa Elpídio de Almeida”.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

15


CANAÃ de leais forasteiros

Sra. Luzia Dantas e o Sr. Fernando Nóbrega, pais de Dr. Evaldo

Duas peças raras do acervo de Dr. Evaldo

Dr. Evaldo, aos 11 anos, no Colégio Diocesano de Patos (1965)

16

Campina - Século e Meio

A dedicação e o trabalho em favor da saúde proporcionou ao médico sertanejo o título de Cidadão Campinense, outorgado pela Câmara Municipal. Ele também é membro titular da Academia Paraibana de Medicina (onde ocupa a cadeira de número 2 e integra o Conselho Fiscal) e recebeu a Medalha de Honra ao Mérito Municipal em sessão especial da Câmara realizada em 18 de outubro de 2011. Arguto observador do nosso patrimônio histórico, Dr. Evaldo destaca as localidades que, segundo sua opinião, merecem ser visitadas, admiradas e reverenciadas “enquanto instrumentos do

acervo arquitetônico-histórico da Rainha da Borborema”. Diz ele: “A igreja Catedral de Nossa Senhora da Conceição, o edifício onde funcionavam os Correios e Telégrafos de Campina Grande (hoje Museu Histórico), o edifício da antiga reitoria da Furne (hoje Galeria do Museu de Arte), a estação ferroviária, o próprio Açude Velho (com o novo Museu de Arte Popular da Paraíba) e, enfim, a Feira Central que apesar de todas as dificuldades ainda teima em resistir no tempo. Cito ainda o Teatro Municipal Severino Cabral que é um edifício belo e encantador, principalmente quando o vemos lotado nos grandes espetáculos”.


Wédna (esposa), Mylenne, Leandro e Lorenna (filhos) e Léa (neta)

Formação moral e cívica Um dos pontos de sua biografia que faz questão de mencionar é sua formação cívica, que conserva até os dias de hoje. Dr. Evaldo relembra: “Nestes meus 60 anos de vida, tenho procurado ser útil aos meus semelhantes, até porque adoro lidar com gente. Gosto tanto das relações interpessoais que, de forma a mais espontânea possível, trilhei o caminho da medicina, uma ciência verdadeiramente humanística. Fui criado num ambiente familiar harmonioso, com respeito ao próximo, convivendo com os meus pais, avós e irmãos (além dos amigos e colegas) numa infância-juventude em que se ainda se vestia uma farda nova para participar dos desfiles do expressivo 7 de setembro, a cada ano em que se comemorava, àquela época, a data da Independência do Brasil. Ainda muito criança, admirava muito e tinha prazer de conviver com um tio da minha mãe, que nos visitava esporadicamente, e vinha sempre bem fardado. Ele, o Tenente Dantas da briosa e heróica polícia militar paraibana. Posteriormente, já recém formado em medicina apresentei-me de forma voluntária, em Brasília, para prestar o meu dever cívico-militar como oficial médico das forças armadas, na

caserna do 1° regimento de Cavalaria de Guardas, onde atuei por três anos, justamente no governo do inesquecível e honrado homem público que era o General de Exército João Batista de Oliveira Figueiredo. Foi assim que conquistei a minha importante Carta Patente no Posto de Segundo Tenente médico das Forças Armadas do Brasil, a qual muito me honra e me dá imedida satisfação como brasileiro. Hoje, contemplando as minhas medalhas e diplomas da minha existência humana na caserna sinto uma intensa emoção. Devo dizer ainda que a religiosidade também foi muito importante na minha vida familiar.”

Sobre o sesquicentenário O médico Evaldo Dantas encerrou sua participação nesta matéria especial sobre mais um personagem da nossa história contemporânea lembrando os 150 anos de Campina Grande que celebramos neste ano de 2014: “Amo, defendo e luto por Campina Grande. Assim sendo, procurando ampliar o meu raio de atuação em relação à sociedade campinense como um todo, também procuro tomar conhecimento e me certificar de fatos ou acontecimentos relevantes para

que Campina Grande continue a se desenvolver cada vez mais. Situações, acontecimentos e personagens de outrora, realmente são os pilares que sustentaram e ainda sustentam a vida e a história de Campina Grande, que agora comemora seus 150 anos de emancipação politico-administrativa. De forma bem natural, ao longo de todo esse tempo, pois, muitas foram as personalidades, ao modo de cada uma delas, que deram sua contribuição para que a Rainha da Borborema pudesse chegar ao elevado patamar de desenvolvimento que ostenta, e que nos orgulha sobremaneira. Nesse contexto, há de se fazer um grande e esplendoroso registro à nossa querida e muito competente ativista cultural, respeitabilíssima professora, que é a doutora Eneida Agra Maracajá, a quem Campina Grande muito deve pela sua presença à frente dos mais destacados acontecimentos músico-culturais e artísticos da nossa tradição de uma forma bem ampla e irrestrita. A professora Eneida Agra, enfim, é a cara cultural da Rainha da Borborema, sendo que, aliás, ela representa para a Paraíba aquilo de bom e maravilhoso que o mestre Ariano Suassuna foi (e ainda é) para o Brasil”.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

17


CAMPINA GRANDE

A Capital Paraibana do Trabalho Por Evaldo Dantas da Nóbrega.

P

ara mim – que me reconheço ser por demasiadamente leigo nessa temática -, desde logo me apresso em dizer-lhes, caríssimas leitoras e leitores, que é uma tarefa por demais difícil escrever em relação ao resgatamento da memória de Campina Grande, muito em especial, pelos vieses científico-culturais de sua extraordinária e brilhante historicidade. Não sou historiador, nem tampouco memorialista! Porém, enquanto leigo, emociona-me e enche-me de contentamento sobremaneira falar sobre esta cidade que muito amo e respeito. Ela que de braços abertos me acolheu, há exatos 31 anos. E ela que, por pura opção, eu a escolhi para viver e também porque foi aqui o bom lugar onde eu pude criar (ao lado de Wédna) três estimados filhos - ainda que com intensa luta profissional, mas com enorme alegria e indescritível satisfação. Falar sobre a cidade de Campina Grande (PB) - a nossa Rainha da Borborema e reconhecidamente conhecida como a Capital Paraibana do Trabalho -, muito em especial, sim, por ocasião do transcurso, neste dia 11 de outubro do ano da graça de 2014, dos seus 150 anos de emancipação políticaadministrativa, em verdade, causa-me – a um só tempo – indisfarçável satisfação, muito orgulho e especial honra. A cidade de Campina Grande, geograficamente

18

Campina - Século e Meio

situada no Planalto da Borborema, está delineada fronteiramente entre as microrregiões do Sertão, do Cariri e do Brejo paraibanos, fato este que, por destino da mãe-natureza, proporcionalhe uma peculiar vantagem em relação a outras cidades de médio porte do Nordeste do Brasil. Tal fato, pois, lhe proporciona ser importante elo entre caminhos que levam e trazem pessoas, riquezas econômicas, ciência e cultura a populações da Capital das Acácias e também a outros estados nordestinos. Ela sempre foi considerada como importante entreposto para o comércio e para a indústria nordestinas – principalmente depois da inauguração de sua estrada ferroviária (em outubro de 1907), no governo municipal de Cristiano Lauritzen, que presenteou Campina Grande com a máquina férrea “Maria Fumaça”, pelo seu aniversário de 43 anos – abrindo caminhos pelos trilhos da inglesa Great Western of Brazil Railwey. Há muitas décadas, já é consensual a ideia e o fato de que essa cidade primitivamente habitada pelos índios Ariús já nasceu com o ímpeto de ser grande, vitoriosa e deveras pujante, principalmente pelo espírito empreendedor, criativo e destemido de sua gente. Tem essa urbe campinense a grande e muito privilegiada satisfação de ser habitado por uma população composta por uma gama de gente a mais

cosmopolita possível, e por um povo esse que sabe se impor na hora da precisão e da firmeza - mas, naturalmente sem perder a sua ímpar brandura e sua hospitalidade costumeira. Dentro desse prisma de pensamento, portanto, não seria impróprio ou desnecessário se usar a expressão já antes profetizada pelo importante filósofo Alemão Arthur Schopenhaner (17881860), que assim se expressou e que eu, nos dias de hoje, ainda que de forma emprestada a uso em relação à população desta Rainha da Borborema: “O mundo nada mais é do que uma representação formada pelo individuo!”. Nessa similar ótica, portanto, sabese também que Campina Grande, em verdade, só é grande mesmo porque é habitado por sua grandiosa, magnífica e espetacular massa populacional, inteligente e operosa – e que vislumbra um futuro resplandecedor para que ela possa ir bem mais além deste patamar atual de desenvolvimento. Eu, naturalmente, bem que tenho orgulho de ter sido incluído no rol de seus filhos, quando pude ser agraciado com título de cidadão campinense, há alguns anos. Neste singelo e breve artigo, aqui eu procuro me expressar de forma direta, porém, feliz porque estou presente neste ano das comemorações do Sesquicentenário da Rainha

da Borborema, e muito mais feliz ainda, sim, porque pude contribuir assim desta forma mais humilde possível para a confecção de uma pequena parcela das múltiplas matérias publicadas pela importante Revista Século e Meio, edição no. 2. Parabenizo, desde logo, toda a equipe editorial desta espetacular Revista, pois, na pessoa do grande jornalista Romero Azevedo, editor-chefe, que ora está, com muita competência e ética profissional, presenteando a população de Campina Grande com a referida edição, ora em suas mãos, povo campinense amigo. Não é de hoje, realmente, que até mesmo pessoas de outras regiões do Brasil sabem – e reconhecem muito bem! – que essa grandiosidade da Rainha da Borborema, sem dúvida alguma, é nucleada no âmago de sua gente plasmaticamente muito especial, repito, até porque ela é possuidora de uma energia positiva o bastante para alavancar cada vez mais o seu desenvolvimento, nas mais diversificadas áreas de atuação, com destaque significativo no tocante à prestação de diferentes serviços. E dentre tais, apenas como um forte exemplo está a assistência médico-hospitalar. E aqui outros setores podem ser citados como: a indústria, o comércio e a área de turismo (capitaneada pelo maior São João do Mundo); e além, claro, de seu maior foco de crescimento intelectual, enfim, lastreado pelo campo educacional, principalmente liderado pela saúde, e pela tecnologia universitária de ponta, seja no âmbito público ou mesmo privado. Em verdade, todo esse crescimento de Campina Grande, pois, deve-


se ao labutar de seus incansáveis trabalhadores, não importando se eles estão atuando nas áreas mais simples e/ou até aqueles que têm forte atuação científico-cultural e econômica financeira – tudo isso num contexto social vibrante e responsável. Em resumo, todos eles são credores dos louros dessa triunfante e gloriosa vitória alcançada pela Rainha da Borborema neste seu aniversário de 150 anos de emancipação política-administrativa. Campina Grande é forte, enfim, por ser formada por uma população composta por homens e mulheres visionários, obstinados e que, ao mesmo tempo, prazerosamente se dedicam de coração e alma em prol de seu progresso, até mesmo contrariando o chamado senso comum, e, no entanto, firmemente lutando, opinando e defendendo os ideais desenvolvimentistas desta brava terra paraibana. O desenvolvimento avantajado e constante desta urbe serrana, com efeito, em grande parte se deve também à contribuição que é proporcionada pela esfera educacional, a qual, sobremaneira, evidentemente, tem ensejado o crescimento simultâneo de outros variados nichos de incrementos nos campos mais diversificados como político-administrativo e socioeconômico. Somente para se citar um exemplo, temos a nossa Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) que é mundialmente reconhecida como formadora científica da forma a mais inovadora e visionária possível - além, pois, de seu bastante destacado perfil enquanto criador espetacular de programas computadorizados (tipo

software) que são utilizados no mundo todo, há décadas. Por outro lado, já no campo da intelectualidade campinense, neste momento, portanto, gostaria de citar o nome do advogado, educador e grande tribuno doutor Amaury Araújo de Vasconcelos, que, em 9 de abril de 1981, nesta Rainha da Borborema, fundou a Academia de Letras de Campina Grande (ALCG), assemelhando-se proporcionalmente, claro, aos modos da Academia Brasileira de Letras. Citado amigo, enfim, sempre tinha muita convicção e inquebrantável segurança naqueles seus discursos vibrantes e eloquentes, que emocionavam grandes e seletas plateias, aqui e alhures. Coincidentemente, quando de minha posse na Academia de Letras de Campina Grande “Casa de Amaury Vasconcelos”, então, assumi realmente a Cadeira de nº 11, a qual fora primeiramente ocupada por ele próprio, e que tem como patrono o médicohumanista e historiador/ escritor imortal doutor Elpídio Josué de Almeida. Naquela oportunidade, lá na FIEP, fui extraordinariamente recepcionado pelo professor doutor Ailton Elisiário de Sousa, e efusivamente saudado pelo jurista e intelectual Evaldo Gonçalves de Queiroz. Fatos históricos importantes acontecidos no passado da vida desta população da heroica e admirável Rainha da Borborema, efetivamente, portanto, atuaram de maneira a concretizar e consolidar o prestígio de Campina Grande, enquanto tão importante cidade encravada no Planalto da Borborema. Tudo isso, então, é bastante imperativo para quem como ela mesma ainda deseja alcançar, em

2064, a grandiosa festa do seu Bicentenário. Até mesmo porque temos que acreditar que apesar desta estrada ser longa e de difícil caminhada, nós temos realmente é que nos fortalecermos espiritualmente em relação ao alcance de um pensamento coletivo que seja a um só tempo socialmente largo, rico de boas ideias e extremamente inovador para nossa população com o um todo. A massa populacional campinense vem sabendo valorar a importância da historiografia escrita e não escrita ( alicerçada nos costumes de nossos antepassados!) e, também, está reconhecendo o valor agregado à nossa vida sociocultural no que tange às coisas de nossas memórias, enquanto patrimônios palpáveis e impalpáveis. Ademais, a nossa população tem manifestado sempre que possível uma consciência real daquilo que significa a valoração pretérita e a imensurável capacidade da nossa gente em procurar conservar o que já foi conquistado – além, de, evidentemente, tentar melhorar tudo o que foi possível de ser edificado nesta Sesquicentenária Rainha da Borborema. Cremos nós, portanto, que as novas gerações de campinenses não podem levar negativamente ao esquecimento sociocultural todo esse consagrado patrimônio serrano antes já conquistado às duras penas, posto que, inclusive, não se pode mais cair no pecado do provincianismo aqui existente antes de 1864, data essa da verdadeira emancipação políticaadministrativa desta Rainha da Borborema. Sem muito esforço, observa-se que este nosso modesto conhecimento técnico científico no que se relaciona à historiografia

desta cidade de um modo mais amplo, com efeito, nos limita a tão somente procurar aqui também deixar o nosso registro e o conveniente e inevitável aconselhamento aos jovens campinenses. Assim sendo, implica dizer que eles devem aprofundar, sempre que possível, os seus conhecimentos e seus pensamentos no caminho das diversidades acadêmicas científicas, mesmo no campo profissional, porém sem deixar de lado, enfim, a vontade de adquirir uma mentalidade a mais universal e mais humanística possível, além de inteiraremse do incalculável valor daquilo que envolve o patrimônio histórico material e imaterial desta urbe serrana. Ou seja: devem eles contribuir verdadeiramente com suas ações edificantes e transformadoras, em respeito à preservação do nosso patrimônio Históricogeográfico. Além do que, na prática, tais patrimônios devem ser carinhosamente defendidos por gente que sabe dar valor e que respeitam os nossos antepassados, verdadeiros desbravadores de Campina Grande. Parabenizamos, portanto, o povo de Campina Grande como um todo, pela sua gigantesca festa de Sesquicentenário a ser comemorado neste dia 11 de outubro de 2014, momento este em que ela é constitucional e republicanamente capitaneada pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal doutor Romero Rodrigues. Esta foi a forma que pude encontrar para homenagear, ainda que de forma bem singela, a Rainha da Borborema, agora, através desta Revista Século e Meio. Parabéns, enfim, a esta “Venturosa Campina querida, Ó cidade que amo e venero!”

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

19


Campina Século XXI

Por Júlio César Leite*

GALERIA CILINDRO: 10 ANOS FORA DE MODA E OUTRAS MUMUNHAS MAIS.

w

alter Benjamin, em seu livro Um Lírico no Auge do Capitalismo, dedicado a Charles Baudelaire, enaltece a figura do flaneur¹ como personagem em sua trama bem articulada por uma Paris nas primeiras décadas do século passado. Vagar pela cidade, assim como um vadio, acompanhado de um caderno de anotações é um exercício pleno de garimpagem artística. É, sobretudo, um ato estético dos mais sutis e eficazes para problematização entre o artista e os processos

20

Campina - Século e Meio

de formatação de sua obra, sempre compreendendo que “flanar é uma ciência, é a gastronomia dos olhos”². Um destacado flaneur, Helio Oiticica fez incursões na cidade do Rio de Janeiro e propagou sua arte em pontos diversos da cidade sendo os penetráveis um dos exemplos dessas ações. A Arte Ambiental é a derrubada do conceito tradicional de pintura-quadro e escultura, já que pertence ao passado, para a criação de ambientes – daí nasce o que chamo de antiarte³, justificava Hélio Oiticica.

A Galeria Cilindro foi uma ocupação indevida e transgressora ocorrida em um caixa eletrônico do Banco do Brasil e legitimada por artistas de ponta da arte brasileira como Paulo Bruscky, Nuno Ramos, Regina Silveira, Guto Lacaz, Carmela Gross, José Roberto Aguilar, Rodrigo Braga, Laerte Ramos, Vânia Mignone, Gil Vicente, Marcio Botner, Aline van Langendonck, entre tantos outros. Localizada em um lugar de passagem, estratégico por excelência, o caixa eletrônico é tão útil para realização de

operações financeiras quanto para manifestações artísticas. Essa cumplicidade entre o pragmático e o contemplativo enriquece toda uma relação sígnica de cunho urbanístico na localidade e “onde há arte, fantasia e intuição aí não há nem pensamento nem juízo”⁴. Foi com esses atributos que a Galeria Cilindro esteve representando o Brasil na X Bienal de Havana e na V Bienal Internacional de Curitiba, além de ter generosas publicações em livros e revistas especializadas em artes visuais no Brasil e no exterior, garantindo o respeito da crítica de arte em relação à proposta destas ações.


É exatamente dessa descompostura, desse gesto fantasioso e intuitivo, desse espírito flaneur que ocupamos o caixa eletrônico Instalado na Praça Clementino Procópio, no coração da cidade, no ano de 2004, partindo da observação direta e latente dos potenciais que poderiam ser explorados como agentes de veiculação e de proliferação artística fora dos espaços previsíveis - tipificados como museus e galerias - sistemas que em Campina Grande não conseguiram, até os dias atuais, sistematizar circuitos de arte em níveis local, regional e nacional devido as gestões amadoras cujo resultado é a incapacidade de propor políticas relacionadas com as artes visuais. A elaboração e ocupação do espaço, sua dinâmica e mobilização dos artistas atingem um formato que abrange conceitos de impermanência, deslocamento e geopolítica assumindo a plenitude da reivindicação efetiva das demandas voltadas às artes visuais em Campina Grande. É bom lembrar que: “ fazer é verdadeiramente um formar somente quando não se limita a executar algo já idealizado ou realizar um projeto já estabelecido ou a aplicar uma técnica já predisposta ou a submeterse a regras já fixadas, mas

no próprio curso da operação inventa o modus operandi, e define a regra da obra enquanto a realiza, e concebe executando, e projeta no próprio ato que realiza. Formar, portanto, significa “fazer”, mas um fazer tal que, ao fazer, ao mesmo tempo inventa o modo de fazer.” ⁵ Nessas relações apresentadas no processo da obra podemos afirmar a alteridade como via de concretizar um fato novo, contemporâneo, autônomo e experimental, interagindo como relação normativa de uma identidade local pontuada pela cultura popular, pelo artesanato e uma “arte” predominantemente amadora erguida por meio da mimese e sem profundidades técnica e conceitual. Nem mesmo os milhões gastos pela Universidade Estadual da Paraíba para construção de um “novo” e complicadíssimo museu foram suficientes para estabelecer em Campina Grande um circuito de arte. É Nesse embate de um equipamento como a Galeria Cilindro, que executa um circuito marginal, financiado com recursos dos próprios artistas, com grandes nomes da arte brasileira é que se enfatiza a dialética com a política estéril dos milhões gastos dos gestores oficiais para promoverem a esterilidade cultural.

A Galeria Cilindro durou até o ano de 2009 quando o equipamento foi arrancado do local. A conclusão é que, em Campina Grande, estar à margem é ser profissional, atuante e coerente, contradizendo e ridicularizando o amador sistema do apadrinhamento oficial. Na ausência de critérios, tão comuns em nossa província, é sempre bom valer-se de alguma referência e se ela for advinda de inquestionável juízo torna-se tão cabível quanto necessária. Assim, nada mais oportuno que a reflexão de Jean-Luc Godard evidenciando que “cultura é

regra e arte é exceção.” ⁶ *Júlio César Leite é artista visual e jornalista Notas: ¹ Pessoa que passeia ociosamente. Michaellis Dicionário. Francês-Português/ Portugês-Francês. ² Balzac e o Sono dos Patifes. Ricardo Luiz de Souza. Pag 121. EDIPUCRS. ³ Hélio Oiticica. Coleção Encontros. Pag. 42. Ed. Azougue. ⁴ Estética-Teoria da Formatividade. Pareyson, Luigi. Pag. 258. Ed. Vozes. ⁵ Estética-Teoria da Formatividade. Pareyson, Luigi. Pag. 59. Ed. Vozes. ⁶Je Vou Salue Sarajevo. Godard, Jean-Luc. Vídeo-1993.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

21


22

Campina - SĂŠculo e Meio


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

23


GRテ:ICA AGENDA

24

Campina - Sテゥculo e Meio


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

25


DOCUMENTO PARA A HISTÓRIA

Algumas datas da história campinense

A

primeira das datas é desconhecida e praticamente impossível de ser determinada. É a da fundação do povoado. Nem o ano se pode precisar. É certo que quase todos os historiadores dizem ser 1697, com base na carta enviada pelo Governador da Capitania da Paraíba, Manoel Soares de Albergaria, ao Rei de Portugal. Trata-se de documento conhecido, transcrito por diversos autores – Irineu Joffily, Irineu Pinto, Elpídio de Almeida, entre outros. Nele se afirma que “no dia 1º de dezembro de 1967 fora aquela cidade (Nossa Senhora das Neves da Paraíba) o capitão-mor das Piranhas e Piancó, Teodósio de Oliveira Ledo, e o informara... que trouxera consigo uma nação de Tapuias, chamados Ariús, que estão aldeados junto dos cariris, onde chamam a Campina Grande”. Desse trecho se pode concluir, como acertadamente já o fez José Elias Barbosa Borges, em artigos para a Revista Campinense de Cultura, que os Ariús não eram Cariris, e que Campina Grande já era um lugar conhecido, provavelmente aldeamento Cariri, talvez povoação. A hipótese se reforça diante do fato de que, no mesmo ano de 1697, foi publicado na Europa um mapa do Brasil, de autoria de Andreas Heratiy, aproveitado no ano seguinte 1698, para ilustrar o livro “Istoria delle guerre del Regno del Brasile”, de frei Giuseppe

26

Campina - Século e Meio

de Santa Teresa, editado em Roma – e nele constava Campina Grande. É possível que um povoado fundado no ano anterior do Brasil já figurasse, no mesmo ano de sua criação, em um mapa publicado na Europa, principalmente se considerarmos que a carta do Governador Albergaria, acima referida, é datada de 14 de maio de 1699. O reconhecimento oficial da existência do povoado data de 13 de janeiro de 1701 quando é expedida carta régia autorizando pagamento de côngrua ao Capelão de Campina Grande. Em 8 de dezembro de 1769 é dado o primeiro passo para a autonomia do povoado, com a provisão que cria a freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Campina Grande. Essas duas datas têm interesse tanto religioso quanto administrativo, sabido que tínhamos uma religiã de Estado, com o Trono e o Altar intimamente ligados e clero estipendiado pelos cofres públicos, como se fossem os padres funcionários d’El Rei. Mais de um século transcorreu até que fosse conquistada a autonomia municipal. Esta surgiu com a instalação da Vila Nova da Rainha, no dia 20 de abril de 1790. O Ouvidor Geral da Comarca de Paraíba e Rio Grande do Norte, Desembargador Antonio Felipe Soares de Andrade Brederodes propusera, em 28 de março de 1787, A Dom Thomaz José de Mello, Governador de Pernambuco, a quem então se subordinavam as Capitanias de

Paraíba e Rio Grande do Norte, a ereção em vila das povoações dos Cariris, Seridó e Assu. Exatamente treze meses depois veio a resposta afirmativa. O tempo decorrido permitiu ao Ouvidor um melhor exame da situação e, no dia 11 de agosto de 1788, ele representa ao Governador, ponderando que seria mais próprio a criação da vila de Campina Grande, ao invés da dos Cariris. A resposta veio rápida: no dia 25 seguinte, o governador aquiesceu. Mas os habitantes da povoação de São João do Cariri não se conformaram com a preterição e começaram a dirigir abaixoassinados ao Governador. Os campinenses usaram das mesmas armas. A questão levou mais de um ano para ser resolvida. Em dezembro de 1789, o Governador determinava que o Ouvidor Geral “ouvindo os moradores de um e outro lugar processa a criação da vila naquele distrito”. O Ouvidor manteve a decisão que já tomara. Em 6 de abril seguinte anunciava, através de edital, a elevação do povoado de Campina Grande a vila, instalada, como já dito, quatorze dias depois. Alcançava, assim Campina Grande sua emancipação política. Passava a governarse e a ostentar os símbolos de sua nova situação: Câmara Municipal, juízes de paz e pelourinho. Era a sétima vila criada na Capitania; consequentemente, o oitavo município. Antes, já haviam adquirido o predicamento Montemor (posteriormente removida para Mamanguape),


Por Humberto Melo* | Publicado originalmente no Anuário Campina Grande 82 (Editado por Evaldo Cruz)

Baia da Traição, Pilar, Alhandra, Conde e Pombal, todas a constituir municípios desmembrados da sede da Capitania. Mais de um século e meio depois, a lei provincial n° 127 conferia a Campina Grande o predicamento de cidade. Foi a quinta vila elevada a tal condição na Província, igualando-se à Capital. Já ostentavam o título Areia, Sousa, Mamanguape e Pombal. A autonomia se completou com a lei provincial nº 183, de 8 de agosto de 1865, que criou a comarca de Campina Grande, até então um simples termo judiciário, e, já em nosso século, com a bula pontifícia “Supremum Universi”, de 14 de maio de 1949, que criou a diocese, instalada no dia 12 de novembro do mesmo ano. As datas-marco da evolução da autonomia campinense vêm a ser, pois, 8 de dezembro de 1769 – a emancipação eclesiástica - , 20 de abril de 1790 – a emancipação política – e 8 de agosto de 1865 a emancipação judiciária; as outras duas passam em branco. É evidente que entendemos que a história não se pode nem se deve reduzir a uma sucessão de datas, nem, jamais, deve apresentar um caráter meramente comemorativo. Apresentamos, contudo, estas notas despretensiosas, que não contém nenhuma novidade,

“... no mesmo ano de 1697, foi publicado na Europa um mapa do Brasil, de autoria de Andreas Heratiy... e nele constava Campina Grande.”

diante da ênfase que se dá ao 11 de outubro, afinal de contas uma data menor na evolução de Campina Grande. Que é que tal dia representa? Vemos, ano após ano, referências a ela como data de emancipação política e, até mesmo, como aniversário da fundação da cidade. Nem uma coisa nem outra. Apenas como vimos, tal data representa a elevação de uma sede municipal, já existente, à condição de cidade. Atualmente, e desde 1938, todas as sedes municipais no Brasil tem a categoria de cidade. Isto talvez explique a confusão que se faz em torno do assunto. Anteriormente, tanto vilas como cidades podiam ser sedes municipais. Cidades eram, nos tempos coloniais, apenas as localidades fundadas para sediar as capitanias

reais. Muito poucas: Salvador, Rio de Janeiro, Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa), São Cristóvão - em Sergipe -, Natal e São Luís do Maranhão. As demais foram criadas como povoados e, depois, passaram a vila. Somente depois da Independência é que as vilas que eram capitais de província de alçaram à condição de cidade. Algumas dentre elas já eram centros importantes, de comércio intenso, sedes episcopais, como São Paulo, Recife, Ouro Preto e Belém do Pará. Mas ainda eram vilas. E o título não lhes diminuía a importância. Nenhuma delas – nem Campina Grande – cresceu qualquer coisa, ou se tornou mais destacada por ter sido elevada a cidade. Era quase como se fosse um título honorífico,

uma distinção que se conferia a uma vila que se sobressia entre as demais. Não há, portanto, motivo para se lembrar, tão festivamente essa elevação. Data muito mais importante para a história campinense é a esquecida 20 de abril. Que ela seja comemorada daqui a sete anos, quando atingiremos o bicentenário da nossa emancipação política. E então se homenageie, ao menos com uma placa em um beco, o olvidado Desembargador Andrade Brederodes o Ouvidor Geral que decidiu a favor de Campina a criação da primeira vila no Compartimento da Borborema “sem nenhuma imposição, livremente levado pela observação direta das condições locais”, segundo nosso historiador maior, Elpídio de Almeida.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

27


28

Campina - SĂŠculo e Meio


Gente que faz Campina Grande

A mulher que ensinou a cidade a valorizar e consumir produtos naturais e saudáveis

Q

uando saiu de sua cidade no sertão paraibano para concluir o ensino médio em Campina Grande no ano de 1969, a jovem Mércia Xavier Batista não imaginava que um dia entraria para a história da cidade como a pioneira na divulgação e comercialização de produtos naturais e fitoterápicos, ao ponto de se tornar um sinônimo desse segmento nutricional. Ainda hoje quando uma pessoa quer comprar um produto natural é logo aconselhada: “Vai em Mércia que tem”. Mas a construção dessa liderança foi árdua e difícil. Antes de abrir a loja “A Salutar”, Mércia estudou durante dois anos Engenharia Civil na UFPB (hoje UFCG), mas teve que abandonar o curso diurno porque precisava trabalhar para se manter. Com muito esforço fez Ciências Contábeis, curso noturno da Furne (hoje UEPB), e trabalhou durante seis anos como contadora em um escritório próprio, na Recebedoria de Rendas e em várias firmas do comércio local. Uma depressão pós-parto de seu segundo filho obrigou Mércia a abandonar os trabalhos como contadora por absoluta falta de condições físicas. A cura desse mal veio através da yoga e da homeopatia, e a aproximação com esses

dois métodos alternativos e naturais de reequilibrar a saúde levou-a a abrir a loja “A Salutar”, pois além de precisar voltar a trabalhar para tocar a vida novamente, queria compartilhar com as pessoas os benefícios daqueles produtos e hábitos saudáveis que a livraram definitivamente da depressão pós-parto. O primeiro endereço foi um pequeno espaço na Rua Cavalcanti Belo ( antigo Beco dos Bêbados ), o ano era 1987 e a empresária estreante pagou as primeiras duplicatas com o apurado das vendas, não tinha capital de giro, só muito trabalho e vontade de vencer. O boca a boca dos clientes aumentou rapidamente o movimento da loja e cinco anos depois, em 1992, “A Salutar” mudouse para um espaço maior na Rua Afonso Campos. Ela lembra: “No começo era engraçado, algumas pessoas chegavam, meio desconfiadas, perguntando se isso era comida de passarinho, alpiste, coisas assim”. Essa situação levou Mércia a outro pioneirismo: foi a primeira divulgadora e esclarecedora dos produtos naturais na televisão. Em inserções produzidas e apresentadas por ela mesma na TV Borborema, lá estava Mércia no vídeo educando a população, explicando as qualidades do arroz integral, do feijão azuki, do painço, da lecitina

Mércia é adepta da vida natural desde os anos 80

de soja, tahine, ameboshi (ameixa salgada) e muitas outras iguarias nutritivas e saudáveis que só fazem bem ao organismo humano, prevenindo e curando muitas enfermidades. Nessa época a loja já estava instalada na Rua Maciel Pinheiro e no ano de 2007 mudou-se para o prédio próprio na Avenida Floriano Peixoto 725 onde permanece até hoje. “A Salutar” tem ainda filiais na extensão em frente ao shopping Partage, em Campina e em João Pessoa, na Praça 1817, no Centro. Além de experiente empresária, Mércia é uma estudiosa contumaz de temas relacionados à vida natural, filosofia, religiões e cosmologia, mantendo uma biblioteca virtual sempre atualizada, que carrega aonde vai, e outra, com livros físicos em sua casa. Ler é uma atividade primordial em sua

vida e ela faz do estudo e da leitura um hábito diário. Perguntada como define uma vida natural, Mércia respondeu rápido: “É viver de acordo com o seu interior, seguindo a intuição. Cuidar do corpo com alimentos e hábitos saudáveis, assim se obtém benefícios físicos e mentais.” A aparência frágil dessa sertaneja que um dia desceu a serra de Teixeira para triunfar na vida em Campina Grande esconde uma alma guerreira que faz de sua atividade profissional um modo de ajudar as pessoas, indicando alternativas para minimizar os males que as afligem, orientando na busca de um lenitivo para seus sofrimentos. Para ela, a venda de produtos naturais e fitoterápicos é mais que um meio de ganhar a vida honestamente, é um sacerdócio que ela exerce com alegria e obstinação.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

29


Faculdade Paulista de Tecnologia é marca de qualidade no ensino técnico na Paraiba

H

á dezoito anos, o enfermeiro e empresário José Araújo de Oliveira Filho decidiu transferir sua Escola Paulista de Enfermagem da capital bandeirante para seu estado natal, a Paraíba. A primeira opção que tinha era João Pessoa, cidade onde nasceu e que oferece um mercado consumidor duas vezes maior que o de Campina Grande. Mas Dr. Araújo decidiu fazer o caminho inverso da maioria dos empresários paraibanos e subiu a serra da Borborema para instalar aqui a conceituada Escola Paulista de Enfermagem, hoje Faculdade Paulista de Tecnologia-FAPTEC. O começo foi num prédio alugado na Rua João Suassuna no Centro, logo depois a escola se mudou para um novo aluguel no local onde funcionou o antigo Cine Babilônio, na Rua Irineu Joffily. Hoje a FAPTEC funciona em prédio próprio na mesma Rua Irineu Joffily no Centro, número 304. José Araújo, que já foi um dos mais destacados árbitros do futebol brasileiro, diz que a escolha de Campina Grande foi “a coisa mais certa que fiz na vida”, ele é um entusiasta da cidade que o abrigou e lhe deu o título de Cidadão Campinense pelos relevantes serviços prestados no campo da educação técnica: “Campina

30

Campina - Século e Meio

é um exemplo para toda a Paraíba, o seu diferencial é o povo que ama apaixonadamente essa terra e luta para que ela se mantenha sempre em destaque no cenário nacional”, diz emocionado. A Faculdade Paulista de Tecnologia é considerada como a melhor escola de nível técnico da cidade e uma das três melhores do estado. Atualmente oferece os cursos de Técnico em Enfermagem e Técnico em Radiologia nos turnos manhã e noite, para 2015 a FAPTEC prepara novos cursos que irão preencher uma expressiva demanda no mercado de trabalho, são eles: Técnico em Agente Comunitário de Saúde; Técnico em Meio Ambiente; Técnico em Análises Clinica e Técnico em Segurança do Trabalho. “Já existe muita gente trabalhando nessas áreas, mas infelizmente sem a qualificação requerida, lançamos esses cursos para qualificar esse pessoal e garantir seu futuro profissional”, explica José Araújo diretor-geral da FAPTEC. O diferencial da Faculdade Paulista de Tecnologia em relação a outras escolas similares é o investimento permanente no quesito qualidade. Não por acaso seu slogan é “Excelência

em Ensino”, das instalações físicas, passando pelos laboratórios, equipamentos didáticos e de segurança, biblioteca, planta digital, tudo é permanentemente atualizado seguindo rígidos padrões de qualidade e totalmente em acordo com a legislação vigente. O diretor-geral José Araújo acompanha pessoalmente todo esse processo e aclara: “Nosso objetivo maior é a satisfação e segurança profissional do aluno, o investimento que ele faz aqui tem retorno garantido, pois tem à disposição os melhores professores e equipamentos didáticopedagógicos, isso sem falar nos estágios supervisionados que são realizados nas melhores instituições de saúde pública da cidade”. Nesse ano em que Campina Grande comemora seus 150 anos de emancipação política, a FAPTEC foi a única instituição de ensino no município que homenageou essa data com uma exposição em seu hall de entrada aberta ao público em geral contendo reproduções de documentos relativos à história da cidade, entre eles a Lei N° 127 de 1864 que elevou a então Vila Nova da Rainha à categoria de Cidade com o nome de Campina Grande. José Araújo finaliza: “Toda homenagem que fizermos a Campina é pouca, essa terra abençoada merece tudo isso e muito mais”.


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

31


32

Campina - SĂŠculo e Meio


RESGATE DA HISTÓRIA

PRESENTE MAIOR

O

livro História de Campina Grande, de Elpídio de Almeida, editado em 1962, e lançado por ocasião do Centenário da cidade em 1964, teve até agora duas edições facsimiladas, a segunda em 1979, editado pela Editora da Universidade Federal da Paraíba e, a terceira, em 1995, por iniciativa de Humberto de Almeida, editado pela EPGRAF. Neste ano de 2014, comemorativo dos 150 anos de emancipação política da cidade, o Instituto Histórico de Campina Grande, sub denominado “Casa Elpídio de Almeida” e a Editora da Universidade Estadual da Paraíba lançam a quarta edição ampliada, revisada e atualizada, com grande expectativa por parte dos historiadores. Esta edição tem significado mais que especial, pois se trata da obra revisada pelo próprio autor, falecido em 26 de março de 1971, e, agora, torna-se prova maior de que não deixou orientação para reedição com as correções e inclusões ao conteúdo original, supondose nem mesmo com a viúva Adalgisa Cesar de Almeida, falecida em 28 de outubro de 1989. O segredo esteve repousando até meados de 2009 quando foi feita a descoberta dentre os papéis que haviam sido recolhidos no final do mês de janeiro de 1990, na residência da Avenida Marechal Floriano Peixoto 913, no centro da cidade.

A nova edição Coube ao Professor Josemir Camilo de Melo, PhD em História pela Universidade Federal de Pernambuco, membro da Academia de Letras de Campina Grande e sócio fundador do Instituto Histórico de Campina Grande, a missão de estudar as interferências de Elpídio de Almeida na sua obra, transformada no precioso trabalho “Introdução à História de Campina Grande, de Elpídio de Almeida”. Nesta quarta edição estão incluídos o Prefácio do historiador Doutor Arno Wehling, presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Apresentação do historiador Joaquim Osterne Carneiro, presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano; Pósfácio da Professora Doutora em História Juciene Ricarte Apolinário, Vice Presidente do Instituto Histórico de Campina Grande; Proêmio do Senador Cássio Cunha Lima; Orelhas de Evaldo Gonçalves de Queiroz, membro da Academia de Letras da Paraíba, da Academia de Letras de Campina Grande, do Instituto Histórico de Campina Grande, político e ex-Secretário da Educação da segunda administração do Prefeito Elpídio de Almeida. Na contra capa foram convidados cinco personalidades que depõem sobre a vida e a obra do autor. Coube a Maria Ida Steinmuller, presidente do Instituto Histórico de Campina Grande, o

“A História de Campina Grande é um desses exemplos de historiografia de qualidade, inteligentemente bem elaborada e com rigoroso zelo documental.” Arno Wehling, Presidente do IHGB “No especial ano das comemorações do Sesquicentenário de Emancipação Política da cidade, as gerações presentes e vindouras agradecem o legado do Doutor Elpídio de Almeida, Patrono do Instituto Histórico de Campina Grande.” Joaquim Osterne Carneiro, Presidente do IHGP “É importante lembrar que na escrita memorialística como a de Elpídio de Almeida não existem regras ou procedimentos teóricometodológicos oficiais que norteiem o escritor a uma abordagem mais rígida, como o fazem os historiadores acadêmicos. No entanto é necessário registrar nesse pósfácio a grande contribuição do livro História de Campina Grande para os pesquisadores acadêmicos e não acadêmicos que são as dezenas de citações de fontes documentais manuscritas e impressas utilizadas pelo autor.” Juciene Ricarte Apolinário, Vice Presidente do IHCG

Agradecimento onde ressalta sua condição de guardiã do arquivo documental do Doutor Elpídio de Almeida, por mais de duas décadas e à memória de Humberto de Almeida, incentivador para a republicação da obra, chamada para a EDUEPB por seu Diretor Cidoval Morais. Finaliza dizendo que a obra, com essa quarta edição, se torna fonte permanente de pesquisa da nossa rica historiografia.

Sobre o livro

A competente equipe da Gráfica Universitária da EDUEPB cuida da produção do livro, em formato 16 x 23, design da capa de Erick Ferreira Cabral, Projeto

Gráfico e Editoração de Jefferson Ricardo Lima Araújo Nunes, e que contou com a colaboração do Estúdio de Edson Vasconcelos para o tratamento das ilustrações da edição original e da foto da capa. A revisão lingüística foi feita pelo Professor Cícero Agostinho Vieira e o Professor Josemir Camilo de Melo, Editor da obra.

O lançamento

A nova edição será lançada em breve numa cerimônia do IHCG e EDUEPB, no Museu Assis Chateaubriand da UEPB, evento que integra as comemorações dos 150 anos de emancipação política de Campina Grande.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

33


34

Campina - SĂŠculo e Meio


Campina século XX

Olimpíadas Estudantis com Sebomatos na onda do iê-iê-iê

Marcelo do Vale, Acácio Barbosa (centro), Bolivar Vieira e Sérgio Pedrosa (bateria)

A

té meados dos anos 1970 havia dois desfiles cívicos em Campina reunindo os colégios, escolas e representações do exército, da polícia, dos bombeiros etc.Um no tradicional 7 de setembro e o outro no aniversário da cidade

em 11 de outubro. Na segunda metade dos anos 1960 surgiram as Olimpíadas Estudantis cujo desfile de abertura era realizado no Estádio Presidente Vargas (o popular “campo do 13”).No agitado ano de 1968 o desfile inovou ao introduzir os conjuntos de iê-iê-iê da cidade para

tocar a “Marcha Rítmica” (um contraponto melodioso às “Marchas Batidas” executadas pelas bandas marciais dos colégios). O conjunto Sebomatos participou da festa naquele ano a convite do colégio “Alfredo Dantas” (foto). O guitarrista Acácio Barbosa lembra: “O estádio estava lotado como sempre acontecia nessa ocasião, os amplificadores ficavam no centro do gramado e eram ligados por extensões enormes que iam até o túnel de onde saem os jogadores em dia de jogo. Tocamos três músicas, “If I fell” e “In my life” dos Beatles e “Love is blue” de André Popp mas que ficou conhecida no mundo inteiro com a orquestra de Paul Mauriat. Quando terminamos a execução de “Love is blue” o estádio aplaudiu de pé, foi emocionante.” Acácio havia entrado no conjunto no começo de 68 convidado pelo baterista Sergio Pedrosa para substituir Toinho que havia saído antes mesmo do conjunto fazer sua estreia. “Aceitei mas foi difícil o começo”, lembra ele, “meu pai não tolerava cabeludos, música jovem e comprei escondido dele, com ajuda da minha mãe, uma guitarra Fender em Olacanti, o amplificador era emprestado por Gabimar Cavalcanti”. Na época, os conjuntos eram muito requisitados para tocar em vários locais da

cidade, Acácio recorda alguns deles : “Tocamos muito numa churrascaria que tinha no Açude Velho, o “Enche Pança”, auditório da Rádio Borborema no programa “Clube Papai Noel”, toquei uma vez no Cine Capitólio, na matinê de domingo do Auditório São Francisco na Conceição, tocamos várias vezes no famoso “Picado Dançante” nas noites de sábado no CEU (Clube dos Estudantes Universitários) e em muitos “assustados” (festas realizadas em casa naquele tempo). Aliás, o primeiro assustado com conjunto,antes era só radiola tocando discos,fomos nós que fizemos na casa do Sr. Lelio Joffily onde hoje está a La suissa”.Num desses assustados, em Riachão do Bacamarte, Acácio conheceu Zé Ramalho, Vital Farias e os irmãos Floriano e Golinha que faziam parte do melhor conjunto da Paraíba na época: “Os Quatro Loucos” de João Pessoa. Segundo Acácio, os músicos da Capital ficaram surpresos ao ver um conjunto de Campina interpretando músicas dos Beatles, até aquele momento eles pensavam que só eles faziam aquilo. “No fim da nossa apresentação eles nos parabenizaram e disseram que tinham gostando muito do nossos som, foi gratificante”, relembra. Acácio saiu do Sebomatos em janeiro de 1969, entrando em seu lugar Bráulio Tavares.

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

35


36

Campina - SĂŠculo e Meio


BRASIL & IZINETE ADVOGADOS ASSOCIADOS

Severino Brasil, advogado

Há 20 anos, em 1994, criava-se a Sociedade de Advogados BRASIL & IZINETE ADVOGADOS ASSOCIADOS, com registro na OAB/Paraíba, Cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba, com atuação especializada em Direito do Trabalho, empresarial. Tem em sua carteira de clientes, cerca de 3.200 processos, nas áreas Trabalhistas, Civil e Administrativa/Trabalhista. Os sócios e os advogados colaboradores, os estagiários e o pessoal de apoio administrativo: Severino Brasil, Izinete Brasil, Mychellyne Brasil e Santa Cruz, Roilton Morais, Amanda Saraiva, Izabelita Santos, Monalisa Tomáz, Roberto Santa Cruz e Lucas Brasil, dedicam atendimento personalizado aos clientes e com eles interagem. Com atuação, primordialmente a área trabalhista, preocupam-se os advogados

em subsidiar os clientes com informações sobre as tendências dos tribunais, análise da legislação e da jurisprudência, posicionamento dos órgãos do Ministério Público do Trabalho, nos procedimentos investigativos relacionados ao ambiente de trabalho, nos procedimentos de fiscalização do trabalho, na elaboração de procedimentos prevenção de segurança e medicina do trabalho, nas pericias judiciais e na discussão de ações preventivas e de orientação.

Rua Vidal de Negreiros, 70, sala 105 Ed. Nenzinha Cunha Lima Centro, 58101-000 Campina Grande, Paraíba www.brasiliz.adv.br jurídico@brasiliz.adv.br 83 3321.5962

Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

37


CHICO MARIA

AH, VELHO CINE CAPITÓLIO!

n

a tela de luz esmaecida, também vai morrendo a última legenda: THE END. É o final de um longa metragem, diferente de todos, porque exibido durante sessenta e cinco anos, crescendo com a cidade, numa parceria de emoções as mais profundas, seja pelos momentos de alegria ou pelo amargor das lágrimas, unindo em um só sentimento, todas as idades em mil formas de vida. Refletores apagados, cadeiras vazias, a imensa cortina, parada no tempo, testemunhas mudas

38

Campina - Século e Meio

dos instantes ali vividos, feitos de imagens e fantasias, de todos os sons e em todas as cores. Ah, velho Cine Capitólio! Você e Campina, uma interação perfeita, os dramas e as comédias saltando da tela, para a vida nas ruas, a mudar comportamentos, eternizando instantes, construindo destinos. Quantas vezes, a menina envolta em sonhos, o vestido de tafetá cobrindo um corpo criança, não foi Brigitte Bardot, em sua nudez maliciosa e aparência infantil? No cavalo branco do carrossel de luzes coloridas, quantos meninos não foram Tim Mac Coy, cavalgando sonhos?

Na Sessão das Moças, desafiando a presença de “Seu Getúlio” o dono de todos artistas, quantas vezes, eles metidos a “dreco” a gola da camisa levantada, o cigarro Astória no canto da boca, não foram Humphrey Bogart, em Casablanca, conquistando a beleza casta de Ingrid Bergman? Cine Capitólio, de toda a saudade. Ó Guarda Vingador, Crepúsculo dos Deuses, O Ébrio, A Última Carroça, A Paixão de Cristo, Matar ou Morrer, Luzes da Ribalta, O Poderoso Chefão...E o Vento Levou”. Dorothy Lamour – Shirley Temple – Tyrone Power – Ray Milland – Oscarito – Flash Gordon – eles, todos eles se encantaram, e a última cena da última fita, também morreu na tela. Hoje e para sempre: THE END. Tudo passou. O Capitólio é um cinema mudo, e de lá desapareceram até os acordes que pareciam eternos de “Love is a Many Splendored Thing”. Jamais eles voltarão, mesmo se todos nós, unidos por um só sentimento de saudade, na recordação do garoto Joey, em Os Brutos Também Amam, passássemos a gritar: “SHANE, SHANE” – enquanto, lá na distancia do tempo e do horizonte, o pistoleiro solitário vai desaparecendo, a cavalgar as nuvens dos nossos sonhos, envolto na poeira da ilusão e da saudade.


Outubro/Novembro 2014 | Volume 2

39


40

Campina - SĂŠculo e Meio


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.