ATECEL meio século: preparada para o futuro Página 20
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Volume Campina Grande - PB
MUSEU E FURNE
50 anos de arte e cultura
RODOLPHO VON IHERING, UM PIONEIRO EM CG
SICREDI-CREDUNI: UNIÃO FAZ A FORÇA
NO COLÉGIO PETRÔNIO LER É MUITO BOM
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Campina - Século e Meio
Ano IV - Volume 5
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07 SICREDI-CREDUNI Cooperativa entra em uma nova etapa mais forte e com maior alcance
CAMPINA
12 MUSEU PROJETA CAMPINA
SÉCULO E MEIO
ÍNDICE
a partir de sua inauguração, o Museu de Arte levou o nome de Campina para todo o Brasil
16 PARECE QUE FOI ONTEM o artista plástico Chico Pereira, segundo diretor do Museu de Arte, relata os primeiros anos
19 BRÁULIO TAVARES ex-colaborador do Museu de Arte relembra sua trajetória e a importância do Museu
20 ATECEL ANO 50 um exemplo de sucesso na integração universidade-sociedade-empresa chega aos 50 anos
22 JOSÉ UMBELINO BRASIL o terceiro diretor do Museu de Arte faz uma retrospectiva da gestão 1974-1978
08 MOSTRA DA COLEÇÃO INAUGURAL Um roteiro completo da exposição comemorativa dos 50 anos do Museu de Arte Assis Chateaubriand feito pela curadora e diretora do Museu Silvia Regina da Mota Rocha
26 ANÁLISE DO BRASÃO o professor Cícero Vieira traduz o brasão da FURNE
28 RÔMULO AZEVÊDO conta sua experiência de trabalho no Museu de Arte nos anos 70
30 FURNE E UEPB o presidente da FURNE, Severino Brasil, esclarece as diferenças entre as duas instituições
31 VIDA SAUDÁVEL na véspera dos 30 anos da loja A Salutar, Mércia Xavier conta sua história
33 TUDO PELA LEITURA no Petrônio Colégio e Curso um projeto exitoso estimula a leitura entre os jovens
35 MARIA CORAGEM 40 ANOS O primeiro filme de longa-metragem de ficção produzido em Campina Grande completa quatro décadas do seu lançamento
ERRAMOS:
36 REFORMA LUTERANA os 500 anos da Reforma liderada por Martinho Lutero são lembrados neste ano de 2017
37 PIONEIRO DA PISCICULTURA Ida Steinmuller, pesquisadora, expresidente do IHCG apresenta o cientista Rodolpho von Ihering
A matéria ”Memorial dos 150 anos de Campina Grande: Homenagem aos Tropeiros da Borborema Imaginário do Empreendedor”, publicada no Volume 4, é de autoria de André Agra e não de Noaldo Ribeiro.
CAMPINA, SÉCULO E MEIO Volume 5 · Dezembro 2017 · DIRETOR E EDITOR: Romero Azevêdo (DRT-PB 617) · REDAÇÃO: Creusa Oliveira PROJETO GRÁFICO: Mário Miranda · DESIGNER: Isis Azevedo · REVISÃO: Rafael Azevedo · COLABORADORES: Bráulio Tavares, Chico Pereira, Cícero Agostinho, Gilvan Azevedo, Ida Steinmüller, José Umbelino Brasil, Rômulo Azevêdo, Severino Brasil, Silvia Regina da Mota Rocha, · AGRADECIMENTO: Museu de Arte Assis Chateaubriand · CAPA: montagem do brasão da FURNE com foto do Museu de Arte · IMPRESSÃO: Epgraf · TIRAGEM: 3.000 exemplares · CONTATO: revistaseculoemeio@gmail.com · INTERNET: issuu.com/revistaseculoemeio Os textos assinados são de responsabilidade de seus autores
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EDITORIAL
UM PRESENTE DE CHATEAUBRIAND
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hegamos ao Volume 5 da nossa revista graças à força dos nossos parceiros e apoiadores que mesmo neste ambiente derrotista de incertezas políticas e econômicas onde tudo quer dizer “não”, eles mais uma vez disseram “SIM” para a história, para a memória, para a arte, para a cultura em nossa cidade. Nosso penhorado agradecimento a todos vocês que foram decisivos para a edição deste número especial celebrando e comemorando os 50 anos do Museu de Arte Assis Chateubriand, além de outros conteúdos que integram a história da nossa Campina Grande, como por exemplo outro importante cinquentenário, o da Atecel. Temas como esses são a tônica dessa revista sem fins lucrativos que tem como objetivo visitar o nosso passado para compreender melhor o presente e auxiliar na construção do porvir. O Museu de Arte é um símbolo vivo do presente com passado, projetando-se para o futuro. A chegada do museu há 50 anos revolucionou o movimento artístico cultural da cidade que já era intenso naquele ano de 1967. Tínhamos os cineclubes, os grupos teatrais, a sessão do cinema de arte, uma galeria, livrarias, as bandas de rock embaladas pela beatlemania, os festivais de música popular... O museu impactou positivamente toda uma geração, não só pelo ineditismo do equipamento que se inaugurava, mas sobretudo pelo acervo precioso que instalou o estado da arte entre nós, proporcionando um novo espaço para convivência, debates e intervenções artísticas das mais variadas. Ao celebrar o meio século de existência do Museu de Arte Assis Chateubriand, a cidade confirma objetivamente sua vocação para a cultura, inserindo a Paraíba no roteiro dos grandes templos da arte no Brasil. O gesto de Chateubriand, que já tina implantado aqui na década de 1940 uma completa emissora de rádio (inclusive com “casting” de rádio
atores), um jornal diário nos anos 1950 e uma pioneiríssima emissora de televisão nos anos 1960, reflete a receptividade da cidade a esse tipo de investimento, um investimento que visa muito além da produção material, investimento focado na produção imaterial do conhecimento que é um bem imperecível, podendo ser transmitido às novas gerações ad infinitum. O conhecimento, dizia Paulo Freire, é a única forma de empoderamento -termo criado por eledo indivíduo. A comemoração desses 50 anos do Museu é cheia de simbolismos, é também indicativo que a arte e a cultura resistem através dos anos e se perpetuam como pilares indissociáveis do nosso crescimento e evolução. Já foi dito, e aqui repetimos para ficar bem gravado em nossos corações e mentes, que a riqueza de uma sociedade não se mede só pelo número de prédios levantados em suas cidades, se mede singularmente pelo trato que dispensa ao seu patrimônio imaterial/histórico/ artístico/cultural. O cinquentenário Museu de Arte Assis Chateubriand, o querido Museu de Arte de Campina Grande, está adequadamente conservado e, o que é melhor, renovado. Sob a guarda definitiva da FURNE (Fundação de Apoio
ao Ensino, Pesquisa e Extensão), o excelente acervo de mais de 500 obras volta a ser exposto ao público depois de uma acurada restauração e nova catalogação. O prédio também recebeu novos equipamentos que reforçam e atualizam os requisitos de segurança, abrigando o acervo numa reserva técnica que atende aos padrões vigentes na museologia contemporânea. Esse ano de 2017 marca o início do reencontro do público com essa coleção única que enriquece sobremaneira nosso patrimônio público. Poucos museus, muito poucos mesmo, possuem um acervo tão importante como este que conta um bom pedaço da história das artes plásticas no Brasil e no mundo. A FURNE, sob a presidência do advogado e amante das artes e da cultura Severino Brasil, convida a todos para a celebração deste Jubileu de Ouro. O mais importante museu de artes plásticas da Paraíba está com suas portas abertas, venha desfrutar desse patrimônio que pertence a todos nós. E a Paraíba, de coração e feliz, agradece ao seu filho ilustre que nunca esqueceu sua terra e sempre lutou por ela : Muito obrigado “Chatô”!
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GENTE QUE FAZ CAMPINA GRANDE
POR RÔMULO MARINHO DO RÊGO
SICREDI CREDUNI A Instituição financeira dos paraibanos
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Creduni, hoje Sicredi Creduni, foi fundada em 1999 por servidores da UFPB/UFCG para enfrentar os efeitos da alta inflação e da exploração financeira. Os salários sofriam perda do poder de compra, bancos e agiotas cobravam altas taxas de juros e o mercado financeiro pagava baixas taxas de remuneração pelas economias dos pequenos poupadores. A Sicredi Creduni, inicialmente restrita às instituições públicas de ensino superior da Paraíba, em 2017 estendeu o direito de filiação a todos os servidores federais, estaduais e municipais de instituições e órgãos públicos na Paraíba. Desde cedo procurou atender as demandas dos servidores fornecendo crédito com taxas de juros inferiores às praticadas pelos bancos e remunerando os poupadores com um rendimento melhor que os oferecidos pelo mercado financeiro. Procurou também desenvolver um ambiente mais humano, com um atendimento personalizado de qualidade, que busca integrar o associado à cooperativa seguindo os sólidos princípios e valores cooperativistas. Os 24 sócios fundadores, hoje são mais de 7.060 cooperados. Conta com um quadro de 47 colaboradores, uma carteira de
empréstimos de mais de 154 milhões de reais e ativos superiores a 197 milhões. Com Sede Administrativa em Campina Grande, onde centraliza sua estrutura operacional, dispõe de quatro agências de atendimento, duas em Campina Grande, a Agência UFCG e a Agência UEPB e duas em João Pessoa, a Agência Centro de Vivência na UFPB e a Agência Castelo Branco. Como resultado dos bons serviços prestados, a Sicredi Creduni conseguiu atingir um percentual próximo de 36% dos servidores ativos e inativos das instituições públicas de ensino superior da Paraíba. Também em 2017, a Creduni se filiou ao Sistema Sicredi e passou a se denominar de Sicredi Creduni. Junto às suas coirmãs paraibanas, hoje compõe o Sistema Sicredi, que está presente em 21 estados brasileiros e é formado por mais de 3,6 milhões de associados. A filiação ao Sicredi oferece, com menores custos, uma maior gama de produtos e serviços, além de participar de uma estrutura sistêmica com alcance nacional e compartilhar de uma cultura cooperativista sedimentada. A Sicredi Creduni disponibiliza todos os produtos e serviços do mercado financeiro, como Empréstimo Consignado, Empréstimo com Garantia de Salário, Financiamentos, Cheque Especial, Cartão de Crédito, Adiantamento de IR, de Férias e de 13º Salário, com taxas inferiores as do mercado. Também oferta Aplicações
de longo e de curto prazo com excelente remuneração e com garantia de até R$ 250.000,00 pelo Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCOOP), além de Consórcios, Previdência, Seguros e demais produtos e serviços do mercado financeiro com taxas vantajosas. Um dos produtos mais procurados pelos novos cooperados é a Portabilidade de Crédito, que permite a troca de dívidas com taxas de juros mais altas, em outras instituições financeiras, por crédito com taxas mais baixas na Sicredi Creduni. Consulte nosso site (www. sicredinne.com.br/creduni), visite as nossas agências, contate nossos atendentes, verifique as vantagens de se associar à Sicredi Creduni e participar da construção de uma instituição, onde você pode usufruir de soluções adequadas para atender às suas demandas econômico-financeiras.
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MAAC 50 ANOS: UMA MOSTRA DA COLEÇÃO INAUGURAL
A Emergência do Museu de Arte Assis Chateaubriand - MAAC Por Silvia Regina da Mota Rocha Diretora do Museu de Artes Assis Chateaubriand e curadora da Exposição MAAC 50 Anos: uma mostra da coleção inaugural
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ideia da criação do Museu de Arte de Campina Grande é um dos frutos do Jornalista, Assis Chateaubriand com o propósito da implantação de um Centro de Divulgação e Cultura das Artes plásticas do Nordeste, notadamente com foco nas Artes e Pintura, para democratização do acesso, valorização e difusão do nosso Patrimônio Pictórico, bem como para a inserção da Região Nordeste na política de desenvolvimento integrado da cultura nacional . A ideia se materializou através da Campanha Nacional de Criação dos Museus Regionais criada por Assis Chateaubriand na perspectiva de que a arte não poderia ser vista como um hobby de meia dúzia de eleitos, ou um entretenimento fora do alcance da sociedade, mas, como forma de expressão da cultura universal a que todos deviam ter acesso, no interesse do aperfeiçoamento espiritual da humanidade. Nesse contexto foram criados os três museus irmãos: o Museu de Arte de Campina Grande na
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Paraíba, que posteriormente recebeu o nome de Museu de Arte Assis Chateaubriand, o Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco em Olinda e o Museu Regional de Feira de Santana na Bahia. O Museu de Arte de Campina Grande foi inaugurado em 21 de Outubro de 1967 para prestar esse serviço aos artistas e aos admiradores das artes no Nordeste. Alguns documentos arquivísticos revelam que o evento de inauguração do Museu adquiriu o relevo de um acontecimento de extraordinária projeção social, tendo atraído a presença de quatro governadores de Estados do Nordeste e de importantes figuras dos meios artísticos do Rio e São Paulo, além de receber a consagração do apoio popular na manifestação das ruas. O museu tinha uma missão pedagógica a cumprir, compreendida pelo sentido de educar o povo no cultivo das artes plásticas, como uma fonte de desenvolvimento artístico. A organização do acervo foi realizada por Drault Ernany
com a orientação e articulação de Assis Chateaubriand junto a empresários, banqueiros, políticos, intelectuais, artistas e colaboradores para doações e aquisições, e com a contribuição de Jean Boghici, que atuava na Galeria Relevo do Rio de Janeiro, e era o responsável pela aglutinação de obras de arte para os diversos museus desta região e contratado pelo Embaixador Assis Chateaubriand na implantação da Campanha dos Museus Regionais.
A Relevância do Acervo A pintura brasileira está bem representada no Museu Assis Chateaubriand, no que ela possui de mais alto e notável em seu merecimento, com quadros de grande valor, dos maiores pintores de nossa constelação artística. Podemos apreciar obras singulares de Portinari a Da Costa; de Marcier a Malfatti; de Vicente do Rêgo Monteiro a Di Cavalcanti; de Ismael Neri a Batista da Costa; de Pancetti a Volpi; de Sérgio Telles a Scliar; de Guinard a Visconti; de Reynaldo
Fonseca a Ismailowitch; de Santa Rosa a Antônio Dias, até chegarmos ao genial Pedro Américo, o eterno patrono das artes pictóricas e o nome tutelar do Museu, que nasceu em Areia, na Paraíba. Atualmente, o Museu de Arte Assis Chateaubriand detém sob sua guarda um acervo constituído por cerca de 566 (quinhentos e sessenta e seis) obras de significativo e inestimável valor histórico artístico-cultural referente às diversas manifestações artísticas e culturais dos Séculos XIX e XX. Este representativo acervo consta de objetos de comunicação, pinturas figurativas e abstratas, desenhos e gravuras, esculturas e estampas, e são bens culturais de grande relevância para a comunidade paraibana, nordestina e brasileira. A Exposição: MAAC 50 Anos: uma mostra da coleção inaugural constitui uma ação comemorativa aos 50 anos do MAAC da Fundacao de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão – FURNE, com 50 das 164 obras adquiridas no seu primeiro ano de vida, selecionadas nessa curadoria como obras de referência na grandiosidade do seu acervo. Desta forma, através da apreciação estética das coleções de obras de arte do MAAC, pode-se ter acesso a verdadeiras obras primas das artes plásticas brasileira e internacional executadas em diversos períodos histórico/ estilísticos e fundamentais para o entretenimento cultural e para a formação humanística do cidadão.
SALA 1 - SÉCULO XIX e INICIO DO XX – A Pintura Acadêmica e a Belle Époque no Brasil O Império Brasileiro conheceu o desenvolvimento das artes, letras e ciências foi intenso graças ao impulso conservador do Imperador. Dom Joao VI criou por Decreto a Missão Francesa que veio para o Brasil em 1816 chefiada por Joachin Lebreton e tinha como principal objetivo a criação da Escola
de Ciências, Artes e Ofícios para o desenvolvimento da cultura e da arte brasileiras, tendo como pressuposto a internacionalização dos costumes e da arte com grande influência europeia, sobretudo francesa. Entretanto, nossa primeira escola de arte começou a funcionar em 1826 através da criação da primeira instituição de ensino de arte no Brasil, a Academia Imperial de Belas Artes. O Academismo no Brasil foi a expressão institucionalizada de todo o sistema de arte que prevaleceu no Brasil do início do século XIX até o início do século XX, baseado nos princípios das academias de arte europeias. O “academismo” é realizado pelo ensino das belas artes em Academias Oficiais que intelectualizam a criatividade em louvor do espirito clássico, com predomínio do gosto das elites “viajadas” e o desenvolvimento de “gerações acadêmicas” de artistas. A pintura realizada pelos artistas que frequentaram a Academia de Belas Artes seguiu os padrões estéticos neoclássicos aqui introduzidos pela Missão Francesa em a beleza perfeita e um conceito ideal que não existe na natureza, e os artistas devem recriar a beleza ideal em suas obras através da imitação dos clássicos, sobretudo os gregos, os que mais se aproximaram da perfeição criadora. No entanto, devido à ausência de registros da arte grega, a perfeição artística é encontrada nos pintores do Renascimento Italiano, principalmente Rafael, o mestre do equilíbrio das formas na composição. Os artistas acadêmicos influenciados por esta concepção estética afirmam ser a arte uma imitação dos modelos clássicos, portanto seguem princípios rígidos para o desenho, para o uso das cores e a escolha dos temas, a exemplo dos temas bíblicos,
históricos e dos retratos. Na segunda metade do Século XIX grandes exposições internacionais realizadas em Paris passam a influenciar os pintores e os escultores de varias partes do mundo. É o chamado Período da Belle Époque no qual ocorre os movimentos estéticos do realismo, impressionismo, simbolismo, pontilhismo e Art Nouveau. No final do Século XIX ocorre a evolução do academismo para o realismo e naturalismo. A Belle Époque Brasileira ocorre no período de 1889 a 1922, quando são superados os princípios acadêmicos e a tomada de novos rumos na pintura e na cultura brasileiras, e delineiam as bases para o modernismo no Brasil. Compõem este acervo obras importantes do academicismo histórico do século XIX e da Belle Époque Brasileira de autoria de Pedro Américo de Figueiredo e Mello Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, Rodolfo Almoedo, Antônio Parreiras e Eliseu Visconti.
Cabeça de Cristo, 1885, Pedro Américo
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SALA 2 - PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: MODERNISTAS No Século XX ocorrem várias mudanças socioculturais advindas do Industrialismo pautado na riqueza e mistura populacional, a valorização de tendências universalistas e o rompimento ao antigo sistema patriarcal agrário e a formação de mentalidades liberais. Os anos 20 deste século presenciaram o auge da profunda ruptura na história da cultura no Brasil. O Modernismo, mais do que um movimento artístico, representou uma época crucial na vida intelectual e política brasileira. Os intelectuais e artistas dos anos 20 tentaram eliminar definitivamente da cultura brasileira qualquer influência lusitana e colonizadora. O café ditava as linhas do processo de modernização, com o crescimento das cidades, o acúmulo de capital junto com uma contradição social, apesar do vigor e dinamismo econômico, com uma sociedade urbana repleta de valores patriarcais e conservadores, os quais imitavam os padrões das culturas francesa e inglesa. A visão de mundo que orientou
a maior parte do modernismo no Brasil foi a crença na “Nova Civilização”, que surgia com a indústria e com o fim de um país agrário atrasado. Os modernistas, artistas, intelectuais e alguns aristocratas, que frequentavam bares, livrarias, garconieres, sedes de jornais e revistas, onde acontecia o intercâmbio das novas ideias europeias, e buscavam atualizar, modificar e criticar a produção cultural vigente na pintura, na literatura e na música. É nesse contexto que se insere a Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo e se configurou como um grande marco no processo de reflexão e reinterpretação da cultura brasileira. O evento resultando do movimento modernista no Brasil, pela articulação principal de Oswald de Andrade e com a participação de vários artista e intelectuais na busca de um nacionalismo artístico intenso, de uma linguagem mais brasileira, como também, no desejo de atualização em informação estética e o rompimento com o academismo oficial. Nas artes visuais, em contraposição aos padrões estéticos e rígidos do academismo, Borboleta, 1967, Clóvis Graciano
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surgem novos arranjos pictóricos, linhas retas, cores intensas, formas geométricas e texturas diversas. Ressaltam-se novos padrões estéticos e representações de plantas e frutas tropicais, dos mitos indígenas brasileiros, e das figuras humanas no contexto brasileiro, a exemplo da mulata e dos trabalhadores. Desta forma, ocorre a emergência de temática brasileira pela formação do sentimento nacional, o espirito nacional e a busca do equilíbrio entre a cultura brasileira e a cultura europeia. Nesse contexto, vale a pena mencionar a criação de Oswald de Andrade da Teoria da Antropofagia inspirada na Obra, O Abapuru, de Tarsila do Amaral, representação indígena que significa Antropófago. A teoria para a arte moderna do Brasil propunha que os artistas brasileiros conhecessem os movimentos estéticos modernos europeus, mas criassem uma arte com essência brasileira e enraizada na cultura do país. A Teoria resultou no Manifesto Antropofágico publicado em 1928 no primeiro número da Revista da Antropofagia. A burguesia agrária aspira educação atualizada e ocorre a intensificação das ligações com a cultura europeia, sobretudo com os movimentos vanguardistas. A nova estética do belo e oriunda da velocidade, da máquina e da vida agitada. Esse período foi marcado por ardentes polêmicas sobre as novas ideias e pela dualidade entre o Nacionalismo e Universalismo e pela liberdade criativa. A partir da Revolução de 30 ocorre maior aceitação dos movimentos artísticos europeus os “ismos”. No 2º Ciclo do Modernismo há variações de tendências com o expressionismo e o lirismo nacionalista. No acervo do MAAC encontramos importantes obras de artistas modernistas a exemplo de: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Lasar Segall, Cícero Dias e Vicente do Rêgo Monteiro. Os pósmodernistas Antônio Gomide, Dimitri Ismailovitch, Ismael Néri também se
encontram representados. Outros representantes importantes são os integrantes do “grupo Santa Helena” Alfredo Volpi e Clóvis Graciano, importante grupo de artes plásticas da História da Arte Brasileira.
SALA 3 - SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX: ANOS 50, 60 e 70 Na metade do Século XX ocorreram mudanças significativas nas áreas da ciência e das artes, inspirados pelo iluminismo, cujo pressuposto e o desenvolvimento moral e material do homem através do conhecimento. A sociedade Pós-moderna é dominada pela tecnologia aplicada à informática e à comunicação. A civilização moderna industrial é assentada na produção e na máquina e se modifica tornandose uma sociedade mobilizada pelo consumo de serviços e da informação técnico-científica. Através dos meios de comunicação de massa, a cultura ocidental busca o simulacro da realidade, a hiperrealidade do mundo. Este processo de “massificação” da informação causa a saturação dos signos, principalmente, visuais, utilizados nas linguagens mais acessíveis. Mais radical do que a arte moderna, a arte da pós-modernidade questiona a beleza, a forma, e o valor supremo e o termo da estética grega, quando a antiarte da arte pop abandona os museus, galerias, teatros e utiliza outros conceitos e materiais não artísticos, orgânicos e não-convencionais. A Arte Pós-moderna se desestetiza e reflete o conflito existencial do homem frente à desreferencializacao, a falta de comunicação humana, ao niilismo e ao ascetismo. Neste contexto a arte brasileira da década de 50 evoluiu em novas e diversas direções, com o desenvolvimento de importantes gravadores, a exemplo de Marcelo Grassman, Carlos Scliar, Fayga Ostrower, Mario Cravo Junior e Iberê Camargo, bem como, o desenvolvimento dos processos técnicos de gravar: litografia, Água-
forte e Agua Tinta. A Década de 60 foi extremamente rica e conturbada nas artes, tanto na Europa quanto no Brasil, cujos movimentos artísticos assimilaram as novas discussões da nova figuração provocadas pela arte pop norteamericana. As jovens gerações de artistas se interessam na figuração redefinida pelas novas condições de tecnologia, “mass media” e símbolos da “sociedade de massa”. Na Década de 50 no Brasil surgem as grandes exposições de arte, a exemplo da I Bienal de São Paulo em 1951, que vão impulsionar os movimentos estéticos. Novas e diversas tecnologias de produção artística são utilizadas, a exemplo da gravura e sua diversidade tecnológica, como também, e da fotografia artística. No Brasil o período foi marcado pelo golpe militar de 1964 e a ditadura de 1968 e a figuração brasileira vai discutir os aspectos políticos e a produção artística vai se caracterizar por elementos tipicamente urbano,violento e sexual, comprometida com o realismo social, no qual ganha espaço como tema, a vida do homem do campo. Posteriormente, o movimento informalismo ou abstracionismo informal vai questionar a estética figurativa e o realismo social, que mais adiante seriam contestados pelo movimento concretismo, e o neoconcretismo. Nos anos 70 a arte trilha novos caminhos estéticos vinculados aos sistemas avançados de comunicação, como a Computer arte, Audiovisual, Multimídia, Mail Art, com discussões menos interessadas na dimensão política e mais focadas nos processos. Neste contexto da 2º Metade do Século XX podem ser apreciadas as obras de Tomie Ohtake, Manamu Mabe, Mário Cravo Júnior, Marcelo Grassman, Franz Krajcberg, Ivan Cerpa, Charoux Lothar, Ademir Martins e outros mais. Neste sentido, o MAAC possui um singular e expressivo acervo de arte brasileira da Década de 60, a
exemplo das relevantes produções artísticas dos Artistas Paraibanos: Antônio Dias; Raul Cordula, Flávio Tavares, Chico Pereira e Tomas Santa Rosa.
SALA 4 - SÉCULO XX: ARTE NAIF O primeiro pintor a ser chamado de “Naïf”, termo que significa ingênuo, foi o funcionário da alfândega francesa Henri Rousseau, que primeiro expôs seus trabalhos no Salão dos Independentes francês de 1886. Este estilo apareceu durante a revolução da arte moderna no final do seculo XIX quando Henri Rousseau, pintor francês autodidata foi acolhido pelos pintores impressionistas da escola de Paris. No Brasil as principais produções artísticas naïfs ou primitivistas situam-se sobretudo, a partir da década de 1940 e são representações relevantes da tradição popular e da intuição poética, uma vez que são artistas de formação autodidata. Constituem-se verdadeiras crônicas visuais de captação do cotidiano e de temáticas regionalistas, com representações do patrimônio cultural imaterial, sabores e celebrações, a exemplo das festas populares, folguedos, danças, ofícios e atividades economicas em cenas registradas em contextos rurais e urbanos. O Maac tem em seu acervo obras relevantes dos artistas brasileiros, Chico daSilva, Maria Lacerda, Antonio da Silva, Manoel Araujo, Clovis Junior e Manoel Alexandre Filho. Na atualidade, o Brasil se destaca como o maior celeiro do mundo de artistas naïfs de grande criatividade e talento. Assim, comemoramos os 50 Anos do MAAC com essa mostra iniciando uma nova fase da política cultural da FURNE na perspectiva da preservação e extensão cultural, convocando a participação e a parceria das instituições e agentes culturais diversos para o desenvolvimento artístico e cultural de Campina Grande e da Paraíba.
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A cidade é reconhecida como importante polo artístico-cultural
MUSEU PROJETA CAMPINA EM TODO O BRASIL
O “Diário de Pernambuco” estampava a inauguração do Museu em uma chamada na capa
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inauguração do Museu de Arte em Campina Grande foi um acontecimento que ultrapassou as fronteiras da Paraíba e do Nordeste. A chegada da galeria de quadros que abrange períodos que vão desde
o classicismo do século 19 até a vanguarda dos anos 1960, passando pelo modernismo dos anos 1920 e 1930, foi destaque na imprensa regional e nacional. O Museu foi inaugurado numa sextafeira, 20 de outubro de 1967. Já na edição de domingo, 22, o quase bicentenário “Diário de Pernambuco” estampava a inauguração do Museu em uma chamada na capa e dedicou toda página 9 do primeiro caderno ao evento. A lendária “O Cruzeiro”, principal revista da América Latina na época, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares por semana, abriu nada menos que 6 páginas coloridas da edição de 25 de novembro de 67. A ampla reportagem contava em detalhes tudo referente aquele dia especial não só para a cidade, mas também para o estado e toda região nordestina. Antes da inauguração, “O Cruzeiro” já havia dedicado generosas
páginas coloridas ao Museu de Campina, como na edição de 29 de abril de 1966 onde uma reportagem escrita por Pietro Maria Bardi, com fotos de Ed Keffel, destacava uma exposição promovida em Londres por Assis Chateubriand com quadros dos museus regionais de Olinda e Campina Grande. Ainda no ano de 1966, na edição de 25 de setembro, a revista de maior circulação na América Latina trouxe uma reportagem em cores sob o titulo “Museu de Campina Grande – Novo templo da arte no Nordeste”. O texto do repórter Barros Ferreira e as fotos de Dirceu Leme antecipavam para os leitores parte do acervo do futuro museu da cidade. Em 19 de agosto de 1967, dois meses antes da inauguração, “O Cruzeiro” publicou outra reportagem colorida (na época, só as reportagens especiais eram coloridas) com o título “Quadros para o Museu de Campina Grande”, em 4 páginas eram mostradas novas doações de obras para o acervo e apresentava o ex-prefeito Newton Rique como “diretor do Museu Regional de Campina Grande” (inconformado pelo tratamento recebido pelos militares, cujo golpe apoiou de primeira hora mas não teve reciprocidade, Chateubriand ao escolher o empresário -destacando a escolha nas páginas da principal revista do país-provocava a tropa pois Newton,
cassado pela ditadura, era “persona non grata” aos militares que ocupavam o poder naquele período). Na semana seguinte, 26 de agosto, mais uma reportagem especial, portanto colorida, trazia o museu como pauta: “Museus do Nordeste recebem obras de arte”. A
jornalista Rosinha Sarda e o fotógrafo Walter Luiz relatavam nova doação de quadros para o museu de Campina Grande e o museu “Gonçalves Dias” no Maranhão. Como se vê, a fama da cidade na mídia regional e nacional foi reforçada igualmente no campo da arte e O “Diário de Pernambuco” dedicou toda a página 9 do primeiro caderno ao evento
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A lendária “O Cruzeiro”, principal revista da América Latina na época, com uma tiragem de 1 milhão de exemplares por semana, abriu nada menos que 6 páginas coloridas
da cultura através do pioneiro Museu de Arte, equipamento da maior importância para o desenvolvimento de qualquer comunidade e que ainda hoje permanece vivo contando com um invejável acervo, que também inclui esculturas, à disposição de todos que apreciam e valorizam o saber e querem ampliar seus conhecimentos sobre as artes plásticas nos séculos 19, 20 e 21.
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POR CHICO PEREIRA*
PARECE QUE FOI ONTEM...
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ara um adolescente 50 anos é uma eternidade. Para mim, passando dos 70, a criação do museu é como um sonho que foi se dissipando com o tempo mas que permanece vivo nas lembranças de um jovem na época com pouco mais de vinte anos, cheio de expectativas existenciais e de esperanças, mesmo sob uma ditadura militar que duraria mais de vinte anos. Quando o museu foi anunciado, isso no início de 1967, já havia na cidade um movimento formado por jovens artistas, intelectuais, professores, estudantes e teatrólogos, que se juntavam em torno dos cineclubes, da literatura contemporânea, das montagens teatrais que tinham como lugar o Teatro Severino Cabral, das ações dos centros acadêmicos e de outras manifestações que contribuíssem para manter acesa a chama da liberdade de expressão cultural e artística. Entre eles destacou-se a Equipe 3, formado por Anacleto Eloi, Eládio Barbosa e por mim, cuja proposta era desenvolver manifestações no campo das artes visuais, de forma coletiva e individual, tentando
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Campina - Século e Meio
se aproximar da vanguarda internacional, naturalmente influenciada pela pop art norte-americana, pela nova objetividade europeia e do realismo fantástico latinoamericana. Algumas dessas produções fazem parte do acervo do museu, e podem ser vistas como manifestações ainda hoje cheias de vigor por que estavam muito à frente do seu tempo. Daí porque quando o museu chegou à cidade as obras mais atuais não causaram nenhuma surpresa a Equipe 3. Mas aí é outra história que começa para mim quando Eládio me comunica que estaria chegando em Campina Grande o marchand Jean Boguice, dono de uma galeria de arte no Rio de Janeiro, que negociava com arte de vanguarda e que o já conhecíamos de nome. Isso era no final de primeiro semestre de 1967. Boguice tinha sido contratado para selecionar obras contemporâneas, pela Campanha Nacional dos Museus Regionais, criada por Assis Chateaubriand, para implantar museus de arte em capitais regionais, sob o patrocínio dele e de pessoas por ele influenciadas. Lembro que nosso primeiro encontro,
com a Equipe 3, foi no Chopp do Alemão, na época o ponto de encontro da cidade. Na oportunidade Boguice nos informou dos detalhes para a criação do museu de Campina Grande. Paralelamente as conversas foram sendo ampliadas, transformandose numa causa pública manifestada principalmente pelos Diários Associados, através da Rádio e do Diário da Borborema, principais difusores de notícias da cidade e da região, convocando a classe empresarial e cultural da cidade para se engajarem nesse auspicioso evento que era a decisão pessoal de Chateaubriand ter escolhido Campina Grande, cidade que ele tinha uma especial afeição. À época eu era desenhista técnico do Dnocs e estava emprestado à Furne, trabalhando no projeto do campus da Urne, que seria construído no terreno onde hoje está edificado o edifício sede da Fiep e seus órgãos. Minha participação portanto na criação do museu se deu por conta da Equipe 3 e do envolvimento da
Edvaldo do Ó (direita) trabalhou para o Museu ser instalado em Campina
Universidade Regional do Nordeste, atual UEPB, quando ficou decidido, pelo caráter cultural do empreendimento, que o futuro museu deveria ser entregue a uma instituição que pudesse assegurar sua dinamização sem os risco dos humores que geralmente afetam as instituições públicas submissas à política. Coube a mim fazer o lay out do sistema expositivo do museu que seria instalado no antigo Grupo Solon de Lucena, na época funcionando como prédio da reitoria da Urne e da sua mantenedora, a Fundação Universidade Regional do Nordeste – Furne. A escolha do local teve a sugestão do próprio Asssis Chateaubriand. Definido o local, no início do segundo semestre daquele ano, começaram chegar as obras que comporiam o acervo do museu. Lembro-me de Raul Córdula carregando uma obra de sua autoria, uma pequena pintura, e me perguntando: diga de quem é esta obra? Não sabia... E aí entra Raul na História. O artista, que veio ser o primeiro diretor do museu, estava contratado pela Furne para colaborar na implantação do Instituto Central de Artes da Urne, um dos vários que compunham o modelo da universidade que pretendia
ser uma instituição de ponta, tal como era a Unicampi e a UNB. Raul, em surdina já vinha participando dessa “conspiração”ao lado de Edvaldo do Ó, reitor em exercício da Urne, para trazer o museu para Campina Grande e por conveniência política mantinham-se reservados até o instante que estivesse assegurado esse ritual da chegada do museu. A cada dia chegavam caixas vindas de diferentes lugares do eixo São Paulo/rio de Janeiro, transportadas por via aérea até Recife, e por via terrestre até Campina Grande. A cada abertura gratas surpresas que nos enchia de orgulho. Eram obras de Pedro Américo, Rodolfo Amoedo, Santa Rosa, Alfredo Andersem, Aurélio de Figueiredo, Di Cavalcanti Fujita, Anita Malfati, Mário Cravo, Ismael Nery, artistas vindos do século 19, outros da modernidade entre os quais Portinari cuja obra “O perna de Pau e sua Senhora”, é uma das suas mais importantes pintura de cavalete. Quase todo dia incorporavam-se ao acervo novas obras contemplado também por artistas da atualidade internacional e de brasileiros como Rubens Gerchmam, Pedro Escotegui, Antonio Dias, este campinense que se notabilizara a partir do Rio de Janeiro, tendo conquistado no ano anterior o prêmio da Bienal Jovem de Paris, um dos mais cobiçados no panorama internacional, por isto indo para a capa da revista “O Cruzeiro”, uma das raras aparições de personalidade masculina numa das mais importantes revistas brasileiras da época, responsável também pela divulgação semanal da implantação do museu de Campina Grande, ao lado
dos outros museus que estavam sendo criados através da Campanha Nacional de Museus de Arte, a exemplo dos de Olinda, em Pernambuco, e o de Feira de Santana, Na Bahia. A medida que novas obras iam chegando preparavase a inauguração, motivada também pelo engajamento da sociedade local, cujas residências serviam de recepção onde a Equipe 3 fazia palestras a respeito de obras e dos artistas que logo à frente estariam expostas no museu. Era uma estratégia para estimular a participação das pessoas e de certa forma o envaidecimento da cidade em ter este importante acervo da arte brasileira e internacional. Por diversas vezes foi marcado o dia da inauguração, sempre adiado por conta da saúde de Asssis Chateaubriand, que fazia questão de estar presente a esse ato. “Chatô” sofria de uma atrofia muscular que lhe impedia de locomoção e movimentos, mesmo assim continuava à frente dos seus múltiplos negócios, entre os quais escrevendo diariamente para sua cadeia de jornais e revistas. Piorando sua saúde decidiu-se então
Francisco Duarte, Antonio Dias, Mário Pedrosa (de costas) e Rubens Gerchman (ao fundo), em Campina Grande no ano de 1967.
Ano IV - Volume 5
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Alfredo Andersen, Di Cavalcanti, Pedro Américo, Mário Cravo, Fujita, artistas presentes no acervo do Museu
fazer a inauguração sem a sua presença no mês de setembro, adiada para outubro, onde finalmente foi entregue ao público, numa festa que além de uma grande multidão se fizeram presentes ilustres personalidades da política e do empresariado nacional e de artistas especialmente vindos à Campina, tudo patrocinado por Chateaubriand, tendo na retaguarda a figura do paraibano Drault Ernani, o maior entusiasta dessa iniciativa e que veio a ser o patrono do museu. Os pormenores dessa história podem ser revistas no arquivo do museu ou dos arquivos da revista “o Cruzeiro”e de outros jornais dos Asssociados, entre eles o do Diário da Borborema, atualmente depositado na Biblioteca Central da UEPB. Muitas histórias perpassam pela nossa memória, entre elas a sala onde foram expostas obras da Equipe 3, como a melhor representação da arte local, e um almoço oferecido aos convidados na fazenda Maria da Luz, de propriedade do
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Campina - Século e Meio
agropecuarista e empresário Arthur Freire, onde se serviu o que melhor havia da nossa culinária nordestina. No meio da grande sala uma enorme mesa com frutas da região que levou Mário Pedrosa, um dos mais importantes críticos da arte brasileira, puxando pelo braço Raul Córdula lhe disse espantado: Raul esta mesa e essas frutas é uma obra de arte que poderia representar a arte brasileira em qualquer grande acontecimento da arte internacional. Não esqueço também a caçada que fizemos Jean Boguice e eu na região do Cariri próximo a Campina Grande em busca de plantas que representasse a nossa paisagem, destinadas a formar o jardim central do museu, em torno de um carro de boi. Era nossa intenção tornar dominante a nossa cultura, mesmo que no acervo diferentes tendências da arte brasileira e internacional fossem a principal atração.
Hoje, passando meio século daqueles acontecimentos as lembranças daqueles dias ainda são nítidas na nossa memória e nos nossos sentimentos. Tornaram-se parte da nossa vida e nos privilegiam de sermos dos poucos sobreviventes a poder contar esse legado. Quanto as exatidões históricas esses acontecimentos estão registrados nos documentos que formam precioso tesouro dessa aventura que apesar de tantos percalços permanece ativo como um precioso bem a ser preservado para a posteridade. Afinal a história do museu é parte íntima da história da cidade de Campina Grande e de diferentes momentos da vida nacional. *Chico Pereira- Francisco Pereira da Silva Jr. É professor aposentado da UFPB, artista plástico, escritor, membro da Academia Paraibana de Letras. Foi diretor do Museu entre os anos de 1969 a 1974.
POR BRÁULIO TAVARES
Museu de Arte
50 ANOS O
Museu de Arte da FURNe foi para nossa geração um ponto de encontro, um curso informal de artes, e a oportunidade para uma porção de trabalhos voluntários, não remunerados, mas que deram (a mim, pelo menos) as primeiras experiências fundamentais e o “know how” daquilo que eu viria um dia a fazer profissionalmente. Era o ambiente ideal para nós, ansiosos para trabalhar com cinema, com artes plásticas, com música, com literatura. Quando falo no Museu, falo na instituição, mas essa instituição, em nossa memória, se divide em três sítios arquitetônicos diferentes. No Museu da esquina da Prefeitura, a primeira sede, surgiu a parceria com o Cineclube de Campina Grande. Depois, no prédio em frente à Catedral, a aliança com a Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos, que resultou nos Congressos Nacionais
de Violeiros decisivos para a revitalização da Cantoria de Viola. No “museu redondo” do Parque do Açude Novo aconteceu a Jornada Nacional de Cineclubes; e assim por diante. Tudo isto reflete o espírito das gestões do Museu que acompanhei enquanto morei em Campina Grande: Raul Córdula, Chico Pereira e José Umbelino Brasil. Eles sempre viram o museu como um centro dinamizador da criação e
da discussão artística, independente do viés teórico, da orientação estética. Sempre penso que o museu deve funcionar como um Atrator, trazendo para dentro de si as pessoas mais diferentes (idade, gênero, cor, classe social, etc.) unidas apenas pelo seu interesse em se expressar através da arte. E que funcione como um Motor, botando todo esse pessoal para se mexer, para correr atrás, para realizar coisas.
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Equipe administrativa da ATECEL no ano do cinquentenário
ATECEL COMPLETA 50 ANOS ATUANDO NO PRESENTE E VOLTADA PARA O FUTURO
F
20
oi da cabeça, muito à frente do seu tempo, do professor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, que surgiu a idea que redundou na criação da ATECEL (Associação Técnico Científica Ernesto Luiz de Oliveira Júnior). No dia 05 de agosto de 1967, ele se reuniu com outros professores da antiga Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba (hoje UFCG) e, juntos, participaram do ato fundacional da associação pioneira (veja ata no box). O nome é uma homenagem ao também professor Ernesto Luiz de Oliveira Júnior, que na época atuava na área de melhoria do ensino no Ministério da Educação. Ao completar meio século
Campina - Século e Meio
de atividades ininterruptas, a Atecel exibe uma folha de serviços prestados que causa inveja a qualquer outra instituição similar. A associação cinquentenária nasceu em Campina Grande com o propósito de apoiar e viabilizar os programas de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal de Campina Grande. Também presta serviços de consultoria, elaboração de projetos e treinamento de pessoal nas diversas áreas do conhecimento, interagindo com empresas públicas e privadas, bem como com prefeituras, governos estaduais e o governo federal. Entre essas parcerias podemos citar a Petrobras,
Prefeitura Municipal de São Luis-MA, FINEP, Sudene, Ministério da Pesca, Ministério Público Estadual, BNB, Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, MEC, Braskem, Inframérica (concessionária do Aeroporto de São Gonçalo do AmaranteRN), Andrade Marinho e LMF Construções Ltda, Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, Companhia de Ferro Ligas da Bahia, Prefeitura Municipal de Caruaru, Companhia Paraibana de Gás, entre muitas outras. Essa atuação precursora e de alto nível técnico-científico fez com que a Atecel fosse declarada de Utilidade Pública pela Lei Estadual Nº 3.738 de 20.12.1974 e pela Lei Municipal Nº 03-D/74-GP de 15.03.1974. A ATECEL®
é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, é marca registrada e membro da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica Industrial (ABIPTI). A trajetória vitoriosa da Atecel não é motivo para acomodações ou desaceleração no ritmo de trabalho, muito pelo contrário a associação já está pavimentando a estrada que a levará ao seu centenário daqui a 50 anos. O tempo voa, diz o jargão popular, por isso mesmo o trabalho não para e os processos de constante renovação pessoal e atualização científica e tecnológica permanecem ativos e operantes como nunca. A Atecel vem participando com êxito do desenvolvimento regional e nacional ao longo de sua história, o segredo desse
sucesso é o acompanhamento constante de suas ações, visando sempre um alto padrão de qualidade nos serviços prestados. A união de profissionais com larga experiência e jovens talentos que começam a despontar faz da equipe de trabalho da Atecel um todo harmônico que resulta sempre numa prestação de serviço não só qualificada, mas sobretudo segura, eficiente e duradoura. Um presente assentado num brilhante passado, alicerce inviolável para um triunfante futuro, este é o maior patrimônio da Atecel no seu cinquentenário, um patrimônio de valor incalculável conquistado como muito esforço, garra, consciência e competência. Parabéns, e que venha o seu centenário!
Extrato da Ata de Constituição da “Associação Técnico-Científica Ernesto Luiz de Oliveira Júnior”, publicada no Diário Oficial, edição de domingo, 3 de setembro de 1967.
Aos cinco dias do mês de agosto de mil novecentos e sessenta e sete, reunidos na sede da Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba em Campina Grande, AnTõnio Faustino Cavalcanti, Antônio Lucena,Átila Augusto Freitas de Almeida, Evandro Emílio Mariano da Rocha de Souza Lima, José Ivan Carnaúba Acciolly, Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, Mário Toyotaro Hattori, Régis Ribeiro Guimarães e Wellington Maria Santos, membros do corpo docente da referida Escola, resolveram fundar uma “associação de caráter técnico-científica que recebeu a denominação de “ASSOCIAÇÃO TÉCNICOCIENTÍFICA ERNESTO LUIZ DE OLIVEIRA JÚNIOR”. Ao fim dos trabalhos, a Assembléia aprovou os Estatutos, reproduzidos abaixo e designou o professor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque para representar a entidade em seus atos constitucionais, a fim de proceder à publicação e registro de seus Estatutos. (segue-se a publicação do Estatuto no Diário Oficial)
ALGUMAS REALIZAÇÕES DA ATECEL • Foi através de um convênio da Atecel, no ano de 1968, que chegou em Campina Grande o primeiro computador em universidades do norte-nordeste do Brasil, um IBM 1130;
• Construção de sete salas de aula e uma bateria de sanitários, no Campus II (hoje UFCG) em 1970;
• Financiamento de 80% e construção do Bloco BB da UFCG em 1973/74;
• Construção com recursos próprios do prédio onde foi instalado o Almoxarifado do Campus II em 1976;
• Colocou o piso do Ginásio de Esportes da UFCG e adquiriu vários equipamentos para jogos que foram instalados no ginásio em 1983;
• Expressiva contribuição para a instalação de um Laboratório de Línguas no CH da UFCG em 1984;
• Doação a universidade de uma residência no bairro da Prata para instalação da Residência Universitária da UFCG em 1984;
• Aquisição e doação a universidade de uma residência em Bodocongó onde hoje funciona a Creche Escola da UFCG;
• Doação a universidade de um terreno para ampliação do Campus em 1985;
• Efetiva colaboração na construção do Centro de Extensão José Farias Nóbrega em 1995;
•Construção de salas para professores, sala multimídia e auditório no bloco do laboratório de solos III da Unidade Acadêmica de Engenharia Civil, incluindo todo o mobiliário, projetor multimídia e computadores;
• Instalação de uma Bacia Experimental para a Unidade Acadêmica de Engenharia Civil em São João do Cariri em 1984;
• Construção da biblioteca do Campus de Cajazeiras, com tecnologia antitérmica aprimorada pela ATECEL em 1995;
• Construção do Laboratório de Referência em Dessalinização da UFCG, 1988/2001;
• Convênio com o Ministério da Ciência e Tecnologia para implantação do Instituto Nacional do Semiárido “Celso Furtado” em Campina Grande.
A ATECEL também efetivou vários convênios com órgão públicos e empresas privadas como o Senai, Banco do Brasil, Alumar, Saelpa(hoje Energisa) para a realização de cursos de especialização e mestrado em Sistemas de Distribuição Elétrica, Engenharia de Materiais e Engenharia Química. Na área cultural a ATECEL também atuou, apoiando decisivamente as manifestações culturais promovidas pela Secretaria de Cultura de Campina Grande(inclusive a produção e gravação de um DVD com artistas locais homenageando o São João)em 2015; criação do Museu do Homem do Curimataú em Cuité e o Museu do Semiárido no Campus I da UFCG em Campina Grande.
Ano IV - Volume 5
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POR JOSÉ UMBELINO BRASIL*
Cineasta russo Sergei Eisenstein
MUSEU, CINECLUBE e outras histórias
O
Museu abriu
era jovem. Nossa primavera
nos foi entregue quando o
as suas portas
cinematográfica teve início entre
curso findou, ficamos com
acolhendo e
o fim de abril e começo de maio
a incumbência de agitar
abrigando a
de 1967. Frequentadores do
o cinema na província. Os
nós, membros
Curso de Iniciação ao Cinema,
mais diversos espaços foram
do Cineclube de Campina
ministrado pelo crítico Dorivan
ocupados, do auditório do
Grande. Era o início da década
Marinho, formamos uma trupe
Colégio das Damas ao da
dos 70 do século XX. Do lado
de cinéfilos sem tela, dela
Faculdade de Administração,
de fora, as nuvens densas dos
fizeram parte Braulio Tavares,
aonde projetávamos filmes
anos de chumbo pairavam
Luis Custódio, Romero Azevedo,
clássicos, na bitola de 16mm,
no céu deixando o ar pesado,
Rômulo Azevedo, Marcos Agra,
alugados nas distribuidoras da
resultado do raio provocado
Jackson Agra, Severino Caluête
cidade do Recife, provocando
pelo Ato Institucional número
e eu, entre outros que não me
agitados debates. O salto foi
5, anúncio fatal de que o sinal
recordo.
grande, passamos a programar
estava fechado para quem
22
Campina - Século e Meio
O bastão do cineclube
os filmes para o Cinema
de Arte, que funcionava nas
cultura brasileira. Passamos por
Os poetas Marcos e Jackson
quartas-feiras no Cine Capitólio, e
Woodstock, pelas barricadas de
Agra passaram a se dedicar ao
também os do Cine Cultura, cujas
Paris, pelos tanques de guerra
ensino. Zélio se transformou num
exibições eram nas quinta-feiras
em Praga, e mergulhamos na
eficiente advogado, Guilherme
no Cine Babilônia. Logo, fomos às
sonoridade de Bob Dylan, dos
num engenheiro e Caluête,
páginas do Diário da Borborema
Beatles e dos Rolling Stones,
médico, se evaporou na imensa
exercer o papel de críticos e ao
éramos garotos que os amavam.
Amazônia.
estúdio da Rádio Caturité falar de
O amor é uma fagulha que se
cinema no programa Sétima Arte,
dissipa num olhar.
antes dirigido pelo crítico Aldo
A rapadura que era doce se
Tereza Braga, mulher destemida, enfrentou a repressão aos camponeses, vítimas do
Porto com quem aprendemos
desmanchou, deixando o gosto
esquadrão da morte a mando
muito sobre o neorealismo
de mel na boca. Agora, era a
dos latifundiários, falou aos meus
italiano. Aproveitamos o alto
hora de dar uma sobrevivência
ouvidos, dizendo que o cerco
falante para rivalizar com outro
aos ideais utópicos e mais
iria fechar sobre quem mexia
programa radiofônico, Falando
ainda, direcionar as nossas vidas
com cultura, no caso nós. Fui
de Cinema, dirigido pelo crítico
que tomariam rumos quase
levado de maneira involuntária
Humberto de Campos. De quebra,
imprevistos. Voltei de Belo
ao Quartel do Exército para
outra harmônica rivalidade com
Horizonte, aonde tinha ido com
dizer o que fazia ou não fazia
o Cineclube Glauber Rocha,
Braulio Tavares fazer o Curso de
com o cineclube. Fiz chegar aos
comandado pelo Coringa e poeta
Especialização em Cinema na
amigos, numa mensagem cifrada,
concretista José Neumanne
PUC de Minas Gerais. Braulio lá
o desconcertante, descabido e
Pinto. Os rivais tinham nos
ficou, fazendo o curso regular.
desconfortável ato repressivo.
seus pelotões gente do quilate
Voltou depois de uns dois anos
Chico Pereira dirigia o Museu
de um Irêmar Maciel, que nos
para Campina. Romero e Rômulo
com a sua criatividade aguçada
mostrou o caminho trilhado
chegaram da temporada no Rio
e uma estratégia ímpar de
pelo Cinema Novo, e da musa
de Janeiro. Luis Custódio migrou
dar nó górdio na adversidade
Regina Coeli, autora do filme
para o Recife, rumo ao Jornalismo.
conservadora, abriria para nós
WKWY, um curta concretista que participou do Festival Jornal do Brasil. Ao nosso lado, uma única figura feminina - Clotilde Tavares - frequentadora assídua dos nossos eventos, já era o melhor exemplo do empoderamento da mulher moderna. Somaram-se novos agregados: Zélio Furtado e Guilherme Vilar. O tempo foi uma eternidade curta. Com os olhos pregados nas telas vimos passar o melhor do cinema contemporâneo, da Nouvelle Vague ao Cinema Novo, do Free Cinema às películas japonesas, russas e do leste europeu vanguardista. Fomos vendo os mestres do cinema clássico e moderno. Com os ouvidos colados no melhor da música popular brasileira conhecíamos os seus novos mitos gerados nos festivais que assolavam a
Membros do Cineclube de Campina Grande em 1967.
Ano IV - Volume 5
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as portas e o espaço da sagrada
Embrafilme: São Bernardo,
Paternostro, Roberto Mendes,
instituição. Lá encontramos
Sagarana, Os condenados,
Raimundo Sodré e Vadico.
novos parceiros, entre eles, João
Aleluia Gretchen e muitas
Xavier, conhecido como Lanca,
outras películas iluminaram
Instituto Goethe se reforçou com
um homem de mil instrumentos,
as sessões do Museu de
a nossa contínua participação
e jovem artista Roberto Coura,
Arte. Importante foi a nossa
nas Jornadas de Cinema da Bahia
já reconhecido nas Bienais,
participação na reestruturação
por toda a década dos setenta,
fotógrafo que registrou
do Conselho Nacional de
fazendo a rede se ampliar,
esteticamente o retrato do
Cineclubes e a reconstrução
globalizando os nossos contatos
cotidiano expressivo da cidade.
da rede cineclubista,
com as esferas das políticas
Encoberto pelo manto
24
A ponte entre o Museu e o
particularmente a criação
culturais audiovisuais. Um dos
institucional, o cineclube tomou
de uma distribuidora ligada
atos marcantes da dimensão
nova face com a criação do
ao movimento, a Dinafilmes,
desse intercâmbio foi a ida de
Projeto Participe de Cinema,
e consequentemente, a
Romero Azevedo para participar
alimentado e alicerçado por
realização da Jornada Nacional
do Curso Profissional de Cinema,
um convênio feito com a
de Cineclubes, em 1977. Fatos
organizado por Guido Araújo
Cinemateca do Museu de Arte
significativos marcaram essa
(Coordenador da Jornada de
Moderna do Rio de Janeiro,
etapa da cinefilia como a vinda
Cinema da Bahia e do Setor de
através da figura do seu
de Jean Claude Bernardet
Cinema da UFBA) e por Roland
curador Cosme Alves Neto.
para ministrar um curso sobre
Schaffner (diretor do Instituto
Na primeira mostra de filmes
o cinema documentário,
Goethe da Bahia). Ministrado por
exibida, trouxemos Outubro,
promovido pelo Instituto
professores alemães e brasileiros,
filme clássico do cineasta russo
Goethe de Salvador, com o
entre eles Jean-Claude Bernardet
Serguei Eisenstein: o primeiro
qual mantivemos uma estreita
e Peter Przygooda, montador
choque com a censura, vencido.
cooperação exibindo películas
dos filmes de Wim Wenders.
Outros filmes vieram e o
do Novo Cinema Alemão,
O resultado prático do curso,
auge do projeto foi um curso
expondo os trabalhos mais
o documentário Por Exemplo,
de cinema, frequentado por
expressivos da vanguarda
Caxundé, obtve o prêmio de
uma sólida plateia, formada
europeia e promovendo
melhor filme no Festival de
por alunos e professores da
Oficinas, como por exemplo,
Cinema Jornal do Brasil/ Shell
Universidade. Galopamos,
a de Dramaturgia, ministrada
de 1977. Dois anos depois,
filmando o documentário Natal
pelo diretor de teatro Aderbal
Romero Azevedo e eu, estivemos
70, uma experiência inacabada.
Freire Filho, e a de Música e
no mesmo festival ganhando o
Outros passos foram dados
Dança com a participação
prêmio de melhor filme com O
com as exibições de filmes
do Grupo Sangue e Raça, do
que eu conto do sertão é isso...
brasileiros produzidos pela
qual faziam parte Carmem
Campina - Século e Meio
Criaram-se novos cineclubes,
entre eles destacaram-se o do
acumulação da história das
versos dos seus menestréis e
curso de Medicina, no seio do
artes visuais brasileiras indo
de seus admiradores: Ivanildo
movimento estudantil, e o Ruy
dos clássicos até a vanguarda
Vilanova, Braulio Tavares, Geraldo
Guerra, tendo Ronaldo Dinoá
contemporânea. Novos
Amâncio, José Laurentino,
a frente das suas atividades.
conceitos passaram a orientar
Clotilde Tavares, Thadeu
Para cuidar das projeções
as ações de dinamização da
Guimarães, Zeze Duarte, Iris
do Museu, um novo auxiliar,
arte e da cultura, popularizando
Medeiros, Lêda Quirino, Arly
Wilson Barbosa Melo, Peninha.
o acesso ao público. Criamos
Arnaud, Severino Feitosa, Tadeu
O relato da longa maratona
cursos de todos os sentidos e
Mathias, Geová Amorim e tantos
de um Museu cineclubista
sensibilidades artísticas sob
outros.
encerra-se com a exibição
a supervisão pedagógica da
de Di Cavalcanti, filme de
professora Nelly Melo. Novos
À sua frente, uma estação de
Glauber Rocha sobre o pintor
atores ocuparam a cena do
transbordo tomou a praça. Uma
modernista. O último ato de
Museu, o maestro Pedro Santos
festa de São João Fast Food
transgressão, o filme havia
e o artista visual Ricardo
abarca a mente, o corpo e o
sido proibido. Contudo, o
Aprígio, foram exemplos.
espaço do Parque Açude Novo,
poeta Jomard Muniz de Brito,
Tivemos um staff técnico
trazendo o som das trombetas
um dos nossos gurus, tinha
administrativo de primeira
de um novo templo de cultura. O
sido presenteado pelo autor
linha, Gilca, Luiza Pereira,
acervo partiu numa peregrinação
com uma cópia em 16mm.
Terezinha, Seu Marcos e Manuel
quase sem fim e na busca de
Noticiada a exibição pelos
que davam mais do que a conta
outro refúgio acolhedor num
jornais, o receio se instalou em
do recado.
momento em que completa meio
todos os presentes à sessão,
Os tentáculos do Museu
havia a expectativa de que o
se faziam sentir fora do seu
filme fosse apreendido. Porém,
espaço com a promoção dos
tudo transcorreu num clima de
espetáculos musicais no Teatro
euforia e perplexidade com a
Municipal Severino Cabral.
obra glauberiana.
Pelo seu palco desfilaram
O Museu havia sido
O prédio do Museu rachou.
século de uma histórica, bela, e resistente vida.
reconhecidos artistas
transferido da sua sede
nacionais e outros que seriam
original, cedendo espaço
reconhecidos a posteriori,
para a instalação da Reitoria
Gilberto Gil, Jards Macalé,
da Furne. Fomos alojados no
João Bosco, Jorge Mautner,
antigo prédio do Instituto
Alceu Valença, Geraldo
Histórico Geográfico até ser
Azevedo e Elba Ramalho.
deslocado para a nova sede
Aportaram em Campina os
no Parque do Açude Novo.
Novos Baianos: Pepeu, Baby
Era a modernização urbana
e Moraes acompanhados
avançando e trazendo novos
por Gonzaguinha, Fagner e
ares à cidade e à cultura.
Afonsinho. Do show musical
Nessa nova etapa, estava à
ao da bola, o Museu foi campo
frente da direção e formava
e palco. Os sons das violas
um colegiado de decisões
e o brado dos versos dos
junto a Romero Azevêdo e
cantadores provocaram uma
Pedro Quirino, mantendo o
explosão de mil megatones
capital simbólico construído
entrando no corpo e na alma
pelo grupo de cineclubistas.
dos amantes da cultura popular
Promovemos uma mudança
mais original desse país. Era
radical na concepção
o ato mais subversivo dos
do Museu, que na sua
nossos trajetos e do Museu,
originalidade destinava-se a
transgressão visceral na direção
ser um repositório de um rico
da arte popular. Replicado
acervo de obras de arte, uma
ainda hoje nas violas e nos
LP da gravadora Marcus Pereira registrando um dos Congressos Nacionais de Violeiros em CG.
*José Umbelino Brasil trabalhou no Museu a partir de 1970, e dirigiu a instituição entre os anos 1974 a 1978.
Ano IV - Volume 5
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POR CÍCERO AGOSTINHO VIEIRA*
FURNE
O BRASÃO: ‘TERRAE VIROQUE LUMEN’ - “LUZ PARA O MUNDO E PARA O HOMEM”
O
ano de 2016 teve um significado especial para Campina Grande: 50 anos de fundação da URNE (hoje, UEPB) bem como da FURNE. Não houve festas. Sem homenagens especiais, oficiais. Foi assim que tudo começou. Em 30 de março de 1966, aconteceu a instalação oficial, em Campina Grande, da Universidade Regional do Nordeste, com a presença de autoridades e convidados especiais, como o Reitor da Universidade de Brasília – UNB, professor Laerte Ramos de Carvalho.,que na ocasião proferiu discurso alusivo ao evento, cujo teor encontra-se arquivado, creio eu, na Biblioteca da UEPB. A FURNE que foi
26
Campina - Século e Meio
instituída na mesma lei, como mantenedora da nova instituição e que se mantêm autônoma até hoje, também não se manifestou sobre a data cinquentenária. A matéria encontra-se no texto da dissertação do Mestrado em Educação na UNICAMP, em 1979, de autoria de quem escreve estas linhas. O autor lembra que se trata do primeiro trabalho escrito neste nível sobre a URNE: lá consta, em nota de rodapé, a respeito do Brasão da URNE. Era uma prática, na época (creio que ainda hoje também), quando se fundava uma Universidade, criavase também o Brasão, com título em Latim, como marco intelectual da instituição em foco. Foi também assim com a então recém-criada Instituição em Campina Grande. Para avivar a memória
dos que se interessam pela história da URNE, faço a transcrição “ipsis litteris” do meu comentário sobre a nova Universidade do Nordeste: “Tudo estava preparado para o nascimento. E a Universidade veio à luz com a Lei nº 23 de março de 1966 pela qual se criava a Universidade Regional do Nordeste, cujo lema, em latim, revelava de modo significativo, as aspirações de seus fundadores: ‘Terrae V/roque Lumen’ -Luz para o Mundo e para o Homem. O brasão da URNe, foi confeccionado pelo monge beneditino de Salvador -BA, Irmão Paulo em 1967, especialista no assunto. Só que havia uma incorreção quanto ao termo latino ‘vir’, ai empregado indevidamente, quando se deveria utilizar ‘homo’, termo genérico para homem e mulher e jamais
‘vir’ que é especifico para homem - varão -, em oposição a ‘femina’, mulher, fêmea; um detalhe que parece até hoje ter escapado à vigilância dos latinistas da Universidade. Um detalhe, apenas a titulo de esclarecimento...”. Quase 40 anos após esse episódio, foi me solicitado pelo senhor Presidente da FURNE, Severino do Ramo Pinheiro Brasil, que elaborasse um comentário sobre o referido Brasão. E é o que estou cumprindo agora, com este comentário, no contexto atual em que a URNE se transmuda em UEPB, há 30 anos (11 de outubro de 1987), e a FURNE permanece de pé, apesar dos baques sofridos. Antes de encerrar a minha fala, vale a pena transcrever, pelo menos, o primeiro artigo da referida lei municipal de número 23 de 15 de março de 1966: “Fica criada a Universidade Regional do Nordeste, sediada nesta cidade de Campina Grande, do Estado da Paraíba, com autonomia administrativa, financeira e disciplinar e finalidade de promover e coordenar a realização do Ensino de Grau Superior, nos seus diversos ramos e da pesquisa cientifica e tecnológica, visando em particular a preparação, melhoria e multiplicação dos recursos humanos, exigidos pelo desenvolvimento da região do nordeste e no geral, ao aprimoramento intelectual do homem, mediante a utilização de recursos próprios e em colaboração com pessoas flsicas e de direito público e privado, do Pais ou do estrangeiro, regendo-se pela legislação especifica do Ensino Superior brasileiro,
pelo seu Estatuto e pelos Regimentos de suas respectivas unidades de ensino e de pesquisa.” Creio que a explicação sobre o Brasão da antiga URNE foi colocada, a partir de um contexto histórico mais amplo. Este o nosso objetivo para que os estudiosos do assunto possam contar com mais este subsídio para seus trabalhos futuros. Esta a nossa esperança, para que hoje ou amanhã, o Brasão da antiga URNE
deveria ter sido assim escrito: “Terrae Hominique Lumen” - Luz para o Universo, Mundo e para o Homem, no sentido da espécie humana. Esta a nossa percepção da frase escrita no Brasão da antiga URNE. Espero que sirva de subsídio para futuros trabalhos de quem sente motivação para estudar assuntos deste jaez. *professor aposentado da UEPB/UFCG – Secretario da FURNE
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POR RÔMULO AZEVÊDO
CINEMA NA TELA DO MUSEU, MUSEU NA TELA DO CINEMA
O
cinema entrou no museu a partir de 1969 quando foi celebrado um convênio entre o MAAC (na gestão de Chico Pereira) e o Cineclube de Campina Grande, para a realização de atividades cinematográficas (exibições, debates, cursos etc.) no museu sob a coordenação do Cineclube, e a criação do Departamento de Cinema do Museu de Arte Assis Chateaubriand. Depois viria um convênio em nível nacional entre o Departamento de Cinema e a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), na pessoa do conservador da cinemateca Cosme Alves Neto. Mas, o primeiro resultado prático desta associação entre o cineclube e o museu foi a campanha de marketing “Participe de Cinema”. Foi elaborado um cartaz (criação do artista gráfico uruguaio Golo que estava lançando uma novidade na cidade, a impressão de cartazes usando a técnica do “silk screen”) com uma foto em sépia da cena clássica de “O Garoto” de Chaplin que mostra o vagabundo e o garoto
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Campina - Século e Meio
escondidos atrás de um muro e por trás dos dois um policial, acima a frase “Participe de Cinema” e embaixo Dept. de Cinema e Cineclube de Campina Grande. O cartaz foi impresso nas cores preto, amarelo e sépia. Nos colocamos o cartaz em todas as vitrines da Maciel Pinheiro, bancos, colégios e outros lugares públicos. A primeira iniciativa da parceria museu x cineclube foi a criação de uma sessão semanal no auditório da Faculdade de Administração da então Furne, na Getúlio Vargas, para exibição de filmes que não chegavam aos cinemas de Campina Grande por desinteresse das salas tradicionais. A estreia foi na semana santa de 1970 com a exibição de “O Evangelho Segundo São Mateus” de Pasolini. Foi um sucesso! O filme estreou na quartafeira e ficou em cartaz até o domingo sempre com casa cheia. Na sexta-feira e no sábado teve sessão dupla. Depois vieram “De punhos cerrados” de Marco Belochio, “O delator” de Jonh Ford, “A colina dos homens perdidos” de Sidney Lumet, “Selva Trágica” de Roberto Farias, “Darling” de John Schlesinger e
muitos outros. Os filmes eram exibidos na bitola de 16 m/m em um projetor “Bell&Howell” emprestado pela universidade. Eu era o responsável pelo tráfego dos filmes que eram alugados nas distribuidoras do Recife. Toda semana eu fazia duas viagens pra lá pra pegar e devolver os filmes. Na sexta-feira eu ia pegar o filme e na segunda devolver. Foi ainda no Departamento de Cinema que promovemos a exibição dos filmes vencedores do Festival de Obenhauser 1970. Também fazíamos experiências com o cinema de animação (influenciados pelo escocês, radicado no Canadá, Norman Maclaren) usando película transparente pintada com tinta acrílica. O filme era rodado, nós interrompíamos a projeção congelando a imagem, a tinta derretia com o calor da lâmpada formando desenhos abstratos na tela. No campo da realização cinematográfica foi produzido um documentário (inacabado) sobre o comércio de Campina Grande na época do natal. O filme se chamava “Natal 70” e foi filmado com película de 16 m/m. O fotógrafo era Neiva. Ele usou uma Paillard Bolex movida a corda e sem som. O museu serviu ainda de
cenário para o documentário institucional “Que cidade é esta?” produzido e dirigido por Primo Carbonari um experiente documentarista paulista que fazia filmes sob encomenda para exibição nos cinemas contratados pela produtora dele. O filme foi encomendado pela prefeitura municipal na gestão do interventor Luis Mota Filho, em 1971. Em Campina o filme foi exibido durante vários dias no cinema Babilônia. Consta que durante a projeção no velho cinema da Irineu Joffily, quando o locutor do filme perguntava: “Que cidade é esta?”, a plateia devolvia em coro: “É Paris” e explodia numa sonora gargalhada. Três anos depois, em comemoração aos 110 anos da cidade, o então prefeito Evaldo Cruz encomendou ao cineasta Machado Bittencourt um documentário cinematográfico para ser colocado na capsula do tempo existente na base do obelisco no, hoje, Parque Evaldo Cruz. Surgiu daí o filme “Crônica de Campina Grande”, onde o museu aparece numa sequência inteira, filmada em cores e 16 milímetros (disponível no Youtube). Mais recentemente, o museu foi o tema de um dos episódios da série da TV Escola “Conhecendo Museus” (também disponível no Youtube). Outra contribuição importante do Departamento de Cinema/ Cineclube de Campina Grande foi a realização na cidade (no Teatro Municipal) da XI Jornada Nacional de Cineclubes (fevereiro de 1977, poster feito pelo artista Cavani Rosas) que reuniu cineclubistas de todo país. Estiveram em Campina Grande durante a realização da jornada, o crítico e cineasta Alex Vianny e o documentarista Eduardo Coutinho entre outros. O Departamento de Cinema também funcionou como distribuidora de filmes quando foi criada a DINAFILMES, uma distribuidora de filmes brasileiros criada para furar o bloqueio das distribuidoras convencionais que boicotavam alguns títulos nacionais em seus catálogos,
e driblar a censura feroz da ditadura militar. Ainda como exibidor o departamento promoveu sessões de filmes nacionais inéditos em convênio com a Embrafilme, títulos como “São Bernardo” de Leon Hirszman, “O amuleto de Ogum” de Nelson Pereira, “Sagarana, O duelo” de Paulo Thiago, além de clássicos como “Alô, alô carnaval” de Adhemar Gonzaga e “Todas as mulheres do mundo” de Domingos Oliveira. Como formador de plateias o departamento de cinema trouxe para Campina Grande, em 1975, o moderno cinema alemão apresentando os nomes de Herzog, Fassbinder, Wenders, Kluge e outros aos espectadores campinenses. Certa ocasião conseguimos uma cópia do “cult” “ O ano passado em Marienbad” de Alain Resnais (com roteiro e diálogos de Alain RobbeGrillet). A cópia era original e nós não tínhamos a lente cinemascope necessária para ver o enquadramento correto das imagens, mesmo assim o filme foi exibido (quase duas horas e meia de projeção) para uma plateia atenta e atônita com aquelas imagens distorcidas mostradas na tela, muitos pensaram naquela noite que o que viam era a “genialidade” de Resnais que criara um “mundo próprio” com imagens deformadas, beirando o surrealismo. No dia seguinte conseguimos uma lente anamórfica emprestada pelo exibidor Expedito Costa e “Marienbad” foi exibido normalmente. Também foram mostrados na tela do museu os clássicos do cinema alemão da era muda: “Fausto”, “A última gargalhada” e “Nosferatu”de Murnau, “O anel dos Nibelungos” de Fritz Lang, “A caixa de Pandora” de Georg Pabst, e “O gabinete do Dr. Caligari” de Robert Wiene. “Orfeu”, de Jean Cocteau, com Jean Marais, foi outro clássico exibido numa das
movimentadas noites de cinema no museu. O Departamento de Cinema também oferecia cursos de cinema (geralmente ministrados por Bráulio Tavares) que atraiam muitos interessados. Outra atividade de formação de público cinematográfico exercida por nós do cineclube através do departamento de Cinema do Museu, era a programação da sessão coruja que exibia “filmes de arte” nas noites de sábado (começava às 23 horas) no cinema Babilônia. Nós indicávamos os filmes da sessão. Depois passamos a fazer este mesmo trabalho no Capitólio indicando os filmes do “Cinema de Arte”. É bom lembrar que todo esse trabalho realizado por nós (pelo menos eu e meu irmão Romero) era de forma voluntária não recebíamos nenhum centavo por isto. Durante muitos anos o Departamento de Cinema do Museu foi uma referência cultural cinematográfica do Nordeste. Era comum pessoas de Natal, Recife, Olinda, Caruaru entre outras cidades nos procurar para receber dicas de como tocar um projeto dessa natureza.
Folheto semanal com 4 páginas produzido pelo Departamento de Cinema do Museu em 1974 (a cada sessão do Cinema de Arte um novo filme era exibido)
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POR SEVERINO R. P. BRASIL*
FURNE e UEPB
UMA HISTÓRIA, MEIO SÉCULO DE EXISTÊNCIA
C
riada em 11 de abril de 1966, a FURNE – Fundação da Universidade Regional do Nordeste, tinha por objetivo a manutenção da URNE – Universidade Regional do Nordeste, situação e condição que se mantiveram até o ano de 1987 – 11 de outubro de 1987, quando foi criada a UEPB – Universidade Estadual da Paraíba. Dai em diante, a FURNE e a UEPB passaram a ter atuações independentes. A FURNE transformou-se na Fundação de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão e a UEPB assumiu o papel até então desenvolvido pela URNE: o ensino superior nas diversas áreas do conhecimento. Por algum tempo, o Reitor da UEPB exerceu, também o cargo de Presidente da FURNE, com estreitas ligações entre as instituições. Posteriormente, com a reforma do Estatuto da FURNE, dada a criação da UEPB e não tendo mais a FURNE a função de manutenção do ensino superior, que lhe cabia em face da URNE, a administração da FURNE passou a ser exercida pelo Presidente do seu próprio Conselho Diretor, mantendo a UEPB assento no referido Conselho. A FURNE passou a exercer atividades autônomas apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, que não se confunde com a atuação educacional da UEPB
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Campina - Século e Meio
– ensino superior de graduação e de pós-graduação. A atuação da FURNE limita-se a apoio educacional, com curso de “lato e stricto sensu” em convênio com instituições educacional e atividades relacionadas a concursos públicos, inclusive de vestibular junto a UEPB. Criou cursos de música e de fotografia, e ações de relevância na área de pesquisas. Incorporou o Memorial Aluízio Afonso Campos, por testamento firmado por Aluízio e Inalda Campos, tendo como sede a residência dos donatários, na Fazenda Ligeiro, em Campina Grande, Paraíba. Mas a atividade de maior relevância a que se incumbiu a FURNE, nesta nova fase, foi a administração do Museu de Arte “Assis Chateaubriand”. Desde acriação e instalação do Museu em Campina Grande, em 20 de outubro de 1967 – há 50 anos – por decisão do seu idealizador e criador: Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, que a gestão, administração e guarda das obras é da responsabilidade da FURNE, assim recebida por Edvaldo do Sousa do Ó, na época Presidente da FURNE e Reitor da URNE, ato consolidado em Parecer do Procurador de Justiça: Dr. Agnelo José de Amorim, e chancelado por decisão judicial do Juiz de Direito: Dr. Giusone Ferreira Rodrigues. FURNE e UEPB, ainda que, tenham fins e objetivos diferenciados, se complementam,
a UEPB tem suas raízes de criação dentro da FURNE, e a FURNE a sua existência fundada nos princípios que nortearam a criação da UEPB, como sucessora da URNE. Não se pode falar de FURNE sem mencionar UEPB, o inverso é, também, verdadeiro. A FURNE e a UEPB têm autonomias próprias, ações, fins e objetivos independentes. A FURNE existe há 50 anos, a serviço de Campina Grande, do Estado da Paraíba e do Brasil. Cumpriu nesses 50 anos o oficio mais importante de toda a sua existência: a manutenção do ensino superior instituído pela UNIVERSIDADE REGIONAL DO NORDESTE – URNE, hoje exercida pela UEPB. Agora, a FURNE dá continuidade à missão cultural de maior relevância para Campina Grande, a manutenção do Museu de Arte “Assis Chateaubriand”, exercida desde a criação do Museu, associada a outras atividades culturais, como a administração do Memorial Aluízio Afonso Campos, e a realização de atividades educacionais, em parceria com instituições públicas e privadas. É a FURNE, a Fundação mais antiga em atividade no Estado da Paraíba. É o símbolo de um Povo ousado, destemido em suas ações, altivo e, acima de tudo, apaixonado por CAMPINA GRANDE. Advogado, atual Presidente da FURNE
GENTE QUE FAZ CAMPINA GRANDE
Por uma vida
SAUDÁVEL N
o próximo mês de janeiro de 2018, A Salutar,
primeira loja de produtos naturais e fitoterápicos da cidade, completa 30 anos de atividade ininterrupta. A comerciante Mércia Xavier está muito feliz por ter chegado até aqui num ramo de negócio que não foi muito fácil de implantar. No começo, naquele já distante ano de 1988, as dificuldades eram muitas. Primeiro ela não tinha a menor experiência, nem capital, para abrir uma loja; por cima disso decidiu vender um tipo de mercadoria que não tinha a menor tradição no comércio local e era vista com desconfiança pelos consumidores. Mércia lembra rindo: “Eles perguntavam se os grãos eram comida de passarinho”, mas isso não desanimou a sertaneja de Teixeira que chegou em Campina ainda adolescente para estudar Engenharia Civil na UFPB (hoje UFCG),as aulas eram pela manhã e à tarde e
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a rua Afonso Campos, em seguida veio a loja da Maciel Pinheiro, por último o endereço próprio na avenida Floriano Peixoto, 725 (quase ao lado do Museu de Arte Assis Chateaubriand). Hoje, os produtos naturais estão na moda. Em Nova York, por exemplo, as tradicionais cadeias de fast-food estão se adaptando a esse novo tempo e adotando cardápios light-greens e pelas ruas da big apple é comum ver os quiosques do “Joe & The Juice”, uma nova rede especializada em sucos naturais. “Agora a realidade é outra, muita coisa mudou nesses 30 anos”, afirma Mércia, “as pessoas estão cuidando mais da saúde, da alimentação, há uma consciência maior em relação à importância de uma vida saudável”, diz. Para chegar a esse estágio, Mércia atuou até como garotapropaganda na televisão. Foi nos anos 90, numa sacada de marketing planejada por ela mesma, comprou um espaço na Hora do Povo da TV Borborema e foi apresentar, ao vivo e em cores, A Salutar começou nesta loja na rua Cavalcanti Belo (antigo Beco dos Bêbados)
os produtos da Salutar. O quadro fez tanto sucesso que mereceu até uma paródia satírica do saudoso
a dificuldade para se manter a
A partir daí, ela decidiu
humorista Shaolin no mesmo
obrigou a abandonar o curso diurno,
compartilhar com as pessoas
Canal 9.
então, com muito esforço, foi fazer
esse benefício que praticamente
Ciências Contábeis na URNE
salvou a vida dela, foi então que
empreendedora vitoriosa, Mércia
(hoje UEPB).Com o diploma na
surgiu A Salutar.
Xavier Batista(esse é o seu nome
mão, Mércia abriu um escritório
completo), permanece fiel aos
próprio de contabilidade e trabalhou
capital de giro, o apurado era
princípios da vida saudável e
também na Recebedoria de Rendas
empregado em novas compras
natural e continua pesquisando
e em várias firmas locais, entre elas
de mercadoria”, lembra. Aos
em seus livros( tem uma vasta e
Pedro Ribeiro & Cia.
poucos, com muita paciência
atualizada biblioteca sobre o tema)
e obstinação, Mércia foi
e praticando em casa ou no sítio
o nascimento do seu segundo filho,
conquistando o público e a
que mantém no vizinho município
Danilo, mudou completamente a
clientela da Salutar foi ficando
de Lagoa Seca.
vida de Mércia. A forte depressão
fiel e cada vez maior.
Um problema ocorrido durante
pós-parto a incapacitou para o
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“No começo eu não tinha
Realizada como
O primeiro endereço, alugado,
“O século 21 é o século do retorno à vida natural e saudável,
trabalho na contabilidade, a cura
foi um pequeno espaço na rua
os sinais disto já estão em toda
para esse mal ela conseguiu
Cavalcanti Belo (antigo Beco dos
parte, ser moderno é ter saúde e
através da yoga e da homeopatia.
Bêbados), depois se mudou para
qualidade de vida”, finaliza.
Campina - Século e Meio
EDUCANDO PARA A VIDA
No Petrônio Colégio e Curso
“LER É BOM”
N
este ano de 2017, o Petrônio Colégio e Curso completa 40 anos de trabalho pela educação em Campina Grande, sempre inovando e buscando atualizar as formas de promover o ensino de qualidade. “Criar, construir, refletir e expressar um mundo inteiramente novo, a partir da compreensão da totalidade que é a vida”, dentro deste princípio defendido pela educadora Maria Goretti das Neves Brito, diretora do Petrônio, a escola lançou em 2015 um ousado e revolucionário projeto de incentivo à leitura e produção de livros entre os alunos. O projeto “Ler é Bom” chega ao seu segundo ano vitorioso. Cerca de cem livros, escritos pelos próprios estudantes, já foram publicados. “Superou todas as expectativas, o livro relegado nestes tempos de novas tecnologias, mas quando a leitura alcança a criança ela é cativada e passa a ser um leitor”, diz com brilho nos olhos a professora Maria Goretti. Neste ano, 800 alunos, do maternal ao nono ano do ensino fundamental, estão participando do “Ler é Bom”. O projeto segue uma cronologia: o primeiro semestre é todo ele dedicado à leitura, ao contato com o livro físico na moderna e aconchegante biblioteca “Monteiro Lobato”, espaço recéminaugurado no Petrônio e que reúne os alunos para convívio, estudo, leitura e reflexão. O segundo semestre do projeto é todo dedicado ao processo de produção do livro, com estímulo à criação e preparação do volume até o mês de setembro. Depois o livro segue para editoração e impressão. A novíssima biblioteca “Monteiro Lobato” possuí mais de 4 mil títulos à disposição dos alunos, tem
A professora Goretti na biblioteca (alto); os alunos desfrutam da leitura (esq.) e terminal de computadotes à disposição dos estudantes.
literatura infanto-juvenil, biografias, enciclopédias para pesquisas e periódicos (inclusive a revista “Campina Século e Meio”, o que nos honra sobremaneira). A arrojada estrutura física oferece 3 salas individuais para grupos de estudo, um amplo e confortável salão para leitura, além de 14 terminais com computadores. Ler é realmente bom, você mesmo comprova isso ao ler esta revista, os alunos do Petrônio Colégio e Curso
estão tendo uma oportunidade única para desenvolver o gosto pela leitura e, melhor ainda, despertar a arte de escrever, e publicar, suas próprias narrativas.
SERVIÇO
Petrônio Colégio e Curso R. Riachuelo, 337 - Liberdade, Campina Grande - PB, 58105-460 Telefone: (83) 3321-2106 http://www.colegiopetronio.com.br
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GENTE QUE FAZ CAMPINA GRANDE
CIÊNCIA, ARTE E TECNOLOGIA A SERVIÇO DA BELEZA
U
ma característica que logo identifica a rede Onildo Haute Coiffure é a constante atualização, a busca permanente pelo novo e melhor para sua refinada clientela. O coiffeur Onildo Brito, com uma longa experiência em seu ofício, já é considerado como um mestre na arte do pente e da tesoura. As mãos hábeis deste cabelereiro são capazes de fazer milagres na cabeça das mulheres e homens que procuram os seus serviços profissionais. Unindo arte, ciência e tecnologia no objetivo de obter os melhores resultados, Álvaro Brito, filho de Onildo que dirige a unidade da rede situada na loja 144 do novo Shopping Partage Campina, se especializou em Tricologia que é uma área da Dermatologia voltada para a solução dos problemas dos cabelos e couro cabeludo. A Tricologia é aplicada na solução de distúrbios capilares, como queda e quebra dos fios, caspa, infecções e problemas no couro cabeludo. Geralmente o que ocorre com mais frequência é a queda de cabelo, as causas desse mal, que também afeta a autoestima, são variadas, o especialista em Tricologia é capaz de identificar essas causas e aplicar o
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Campina - Século e Meio
procedimento correto. Para complementar o tratamento dos distúrbios capilares, a rede Onildo Haute Coiffure conta com produtos exclusivos, produzidos segundo os exigentes padrões da tecnologia de ponta tanto nacional como internacional. Tudo isso em um ambiente moderno, sofisticado e aconchegante que é a marca registrada de Onildo, um verdadeiro gentleman no atendimento, um profissional de fino trato que encanta a clientela com sua elegância e discrição.
SERVIÇO Loja 1: Rua Américo Braga, Centro, Campina Grande, Tel. 3343-5050; Loja 2: Shopping Partage, sala 144, Campina Grande, Tel. 3337-6047; Loja 3: Manaíra Shopping, loja S-25, João Pessoa, Tel. 2106-6310. Facebook.com/onildocabeleireiros Instagram: @onildohautecoiffure
DADOS PARA A HISTÓRIA
PRIMEIRO FILME DE LONGA-METRAGEM
produzido em CG foi lançado há 40 anos.
N
a noite de sextafeira, 23 de setembro de 1977, o auditório do Museu de Arte Assis Chateaubriand, na época localizado no Parque do Açude Novo (hoje “Evaldo Cruz”) estava superlotado. Mais de 200 pessoas, entre sentados e em pé, procuravam a melhor maneira de se fixar na tela central do espaço onde em instantes se iniciaria a projeção, em “avantpremière”, do primeiro filme de longa metragem produzido em Campina Grande, o drama rural, com pitadas de aventura, “Maria Coragem”. Produzido e dirigido pelo jornalista, professor, fotógrafo, escritor, publicitário e cineasta Machado Bittencourt, com apoio do curso de Comunicação Social da Fundação Universidade Regional do Nordeste (FURNe), inclusive com o elenco majoritariamente formado por professores, estudantes e funcionários do curso, o filme foi rodado em película de 16 milímetros, preto e branco, sonoro. A câmera usada nas filmagens, uma Beaulieu R16, câmera francesa com lentes Angenieux 12-120 Z, pertencia a Machado, e ele mesmo, experiente no metier das imagens, fez também a direção de fotografia. Na equipe do longa, além dos estudantes/atores, ainda estavam Romero Azevêdo (assistente de direção e ator), Unhadeijara
Machado Bittencourt; cenas de Maria Coragem
Lisboa (cenografia), Marconi Edson “Oropicho” (produção executiva e ator) e o repentista José Gonçalves que narra em versos, produzidos por ele, a trama do filme. As locações foram na fazenda “Grossos” em Gurinhém, na Feira Central em Campina Grande, no Parque “Cristiano Lauritzen” (Estação Velha) e nas instalações do curso (na época funcionando no antigo Colégio Pio XI). Mais que um histórico pioneirismo, “Maria Coragem” representa o legado de um artista que dedicou toda sua vida a fotografia e ao cinema. O jornalista e escritor Willys Leal disse certa vez que o piauiense, radicado em Campina Grande, Machado Bittencourt, no aspecto da obstinação em concretizar
seus projetos, “se aproximava, idealmente, de dois gênios nordestinos: Assis Chateubriand e Glauber Rocha”. Faz sentido. Machado não era de esperar “tempo bom”, fazia sua arte com o que tivesse à mão e não media esforços para conseguir os recursos necessários para as produções, para ele o importante era plasmar o projeto em celuloide e exibir para o público. As dificuldades de produção (e não foram poucas no caso de “Maria Coragem”) nunca foram obstáculos para esse incansável e corajoso cineasta cujo nome jamais poderá ser esquecido quando o assunto for cinema em Campina Grande, na Paraíba, no Nordeste e no Brasil.
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TUDO É HISTÓRIA
POR REV. GILVAN DE AZEVEDO*
Cinco séculos da
REFORMA LUTERANA Selo brasileiro comemorativo aos 500 anos da Reforma Luterana
e amplamente divulgadas. Martinho
em 2017. Na Alemanha onde
Lutero passou a defender uma
Lutero é reconhecido não só como
reforma da igreja, insistindo em
teólogo, mas também como alguém
destacar a doutrina de que a
cuja tradução da Bíblia lançou as
salvação eterna é recebida pela fé
bases da língua alemã como é
em Jesus Cristo, cuja vida, morte e
conhecida hoje; no Brasil onde a fé
ressurreição garantem ao pecador a
luterana chegou com a imigração
vida eterna!
alemã, no Canadá e especialmente
Anos se passaram e a ruptura
no continente africano onde o
se oficializou em 25 de junho de
luteranismo se expande em muitos
1530 quando foi apresentada na
países. Aliás na Etiópia há quase
assembleia na cidade alemã de
dez vezes mais luteranos do que no
Augsburgo uma confissão de fé
Brasil.
expondo as doutrinas ensinadas
Muitos aspectos da Reforma
o dia 31 de
pelos cristãos que receberam o
são destacados na política, na
outubro de 1517,
nome de luteranos. A Confissão de
economia, mas o mais importante
Martinho Lutero
Augsburgo também conhecida pelo
é a clara pregação da palavra de
afixou na porta da
nome Confessio Augustana é até
Deus e a correta administração dos
igreja do castelo
hoje um dos documentos básicos da
sacramentos.
N
de Wittenberg (Alemanha), 95 teses
Igreja Evangélica Luterana!
a serem discutidas academicamente
Os 500 anos da Reforma são
*Pastor da Igreja Luterana do
na universidade local onde ele atuava
comemorados internacionalmente
Canadá
como professor de teologia. Lutero pertencia a ordem dos agostinianos e era sacerdote da Igreja Católica Romana. O assunto das 95 teses era a venda de indulgências promovida pelo Papa Leão X com o propósito de arrecadar dinheiro para construir a basílica de São Pedro em Roma. Lutero tinha dificuldades teológicas em aceitar a venda de indulgências por considerar perdão de pecados algo que se recebe
SAIBA MAIS: ielb.org.br horaluterana.org.br editoraconcordia.org.br lutheranreformation.org
pelos méritos de Jesus Cristo. O que ele tinha em mente era tão somente debater o assunto, tanto que escreveu as 95 teses em latim, língua usada pelos intelectuais naqueles dias da Idade Média. Contudo suas teses foram traduzidas ao alemão por estudantes da universidade, impressas
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Campina - Século e Meio
NOMES PARA A HISTÓRIA
POR IDA STEINMÜLLER
Apresentando
RODOLPHO VON IHERING
D
entro da nossa incessante busca por fatos, nomes e lugares que compõe a rica história da nossa Campina Grande, fui “apresentada” ao Dr. Rodolpho Theodor Wilheim von Hering pelo professor Melquiades Pinto Paiva, editor da revista Terra do Sol, publicação da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro. O professor Melquiades, um entusiasta da história, numa reunião no Rio, me disse que eu precisava conhecer um grande cientista brasileiro que trabalhou em Campina Grande na década de 1930 criando na cidade o primeiro Posto de Piscicultura da região nordestina (evidenciando o pioneirismo e vanguardismo característicos de Campina Grande). Munida das preciosas informações preliminares fornecidas pelo professor, caí em campo para aprofundar a investigação sobre esse zoólogo, relevante nome da história da ciência em Campina e que, até então, se encontrava no mais obscuro esquecimento. Para essa tarefa contei com a inestimável parceria da pesquisadora do Instituto
artigo que ocupou nada menos que 12 páginas da conceituada revista Genius (editada por Flávio Sátiro Fernandes), edição de número 24 (João PessoaPB- março/abril de 2017). Peço licença neste espaço para agradecer mais uma vez ao professor Melquiades Paiva por nos proporcionar essa grata surpresa, nos apresentando esse importante personagem da nossa história no século 20.
Obra rara do Dr. Rodolpho, lançada em 1940
Dr. Rodolpho Theodor Wilheim von Ihering
Histórico de Campina Grande, Mestra em Desenvolvimento Regional e historiadora Erika Derquiane Cavalcante. De posse dos dados coletados e fotografias que documentam a passagem do Dr. Rodolpho por nossa cidade (onde integrou a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste), produzimos um pequeno texto introdutório ao tema que foi publicado no número 4 da revista Terra do Sol (Rio de Janeiro-RJ-2016). Continuamos as pesquisas sobre o apaixonante personagem e, de posse de material mais robusto, produzimos, Érika e eu, um
Dom Carlos Tasso, sócio correspondente do IHCG, enviou e-mail de congratulações (abaixo) pela publicação do artigo “O pai da piscicultura na Rainha da Borborema: Rodolpho Von Ihering e a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste em Campina Grande (1934-1935)” na revista Genius. Prezada D. Maria Ida, Com grande prazer recebi os seus amáveis votos, que me chegaram fazem poucos dias. Agradeço muito esta sua grande gentileza. Apreciei muito o amplo trabalho de pesquisa que realizou com Erika Derquiane Cavalcante. Realmente a figura de Rodolpho von Ihering me impressionou pelo grande trabalho realizado e pelo benefício que o seu estudo científico significou para o benefício do nosso país. São estes os homens de grande valor que merecem ser lembrados e cuja memória se deve cultivar. O seu trabalho de pesquisa foi notável e muito oportuno e certamente terá tido um grande sucesso. O Instituto Histórico de Campina Grande teve realmente muita sorte em ter a senhora como Presidente. Renovando os meus agradecimentos, envio os melhores votos de muito sucesso e todos estão aguardando os seus novos e interessantes trabalhos. Cordiais saudações. Dom Carlos
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Dr. Evaldo Dantas da Nóbrega recebe a
MEDALHA TIRADENTES
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ais um título honorífico é outorgado ao médico Evaldo Dantas da Nóbrega, presidente da Sociedade Médica de Campina Grande. No dia 19 de abril deste ano de 2017, ele recebeu da maçonaria campinense a comenda máxima que é oferecida a pessoas ou instituições voltadas a fazer o bem para a comunidade que é a Medalha Tiradentes. Dr. Evaldo é sertanejo de Patos, de origem muito humilde conseguiu através da educação e esforço próprios superar as dificuldades graduando-se em medicina, e hoje é tido como um dos mais competentes profissionais do estado em sua área de atuação, a coloproctologia. Cidadão campinense com titulo concedido pela Câmara de Vereadores, Dr. Evaldo Nóbrega também é membro da Academia Campinense de Letras onde ocupa a cadeira cujo patrono é outro intelectual médico, o Dr. Elpidio de Almeida. Ele integra ainda os quadros do Instituto Histórico e da Academia Paraibana de Medicina. Todas as pessoas presentes na solenidade daquela noite de abril foram unânimes em destacar o comportamento e o caráter filantrópico e humanista do homenageado. Perguntado por que cultivava
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Dr. Evaldo Dantas e sua esposa, a médica Wédna Nóbrega, na cerimônia
esse caráter cuja finalidade é ajudar ao próximo, especialmente os mais necessitados, Dr. Evaldo, grato pela homenagem e emocionado, disse: “Na infância fui muito doente e sempre precisava do atendimento público no INAMPS (hoje SUS), cresci sentindo na própria pele essas dificuldades. Quando finalmente me estabeleci na vida como médico, decidi ajudar aqueles que, como eu, na minha infância, precisam de ajuda médica.” Dr. Evaldo Dantas da Nóbrega é filho de Fernando Fernandes
da Nóbrega( in memoriam) e Luzia Dantas da Nóbrega; ele é casado com a médica Wédna Nóbrega e tem 3 filhos: Mylenne (médica), Leandro (médico) e Lorenna( bacharela em Direito e universitária de Medicina), ele tem dois netos: Léa( 10 anos) e Felipe(2 meses). Além dos hospitais Universitário e João XXIII, ele atende em seu consultório no Edifício da Clínica São Camilo, na rua Siqueira Campos, 655 –Prata em Campina Grande.
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