Revista Curinga Ed.4

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Curinga Revista Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Fevereiro de 2013 Ano III | nº 04

Acabou? Os fins cotidianos e a importância dos seus sentidos

Ressocialização Política pública garante a inserção de presos na sociedade

questão de comportamento A história da loucura e da excentricidade através do tempo

Entrevista

Patrus Ananias “O compromisso com a vida é o primeiro dos valores” 1


O melhor jornal laboratório do Brasil já está nas ruas! Leia e repasse.

LAMPIÃO Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto 2

Curinga

Expediente

Curinga é uma publicação da disciplina Laboratório Impresso II – Revista produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Ufop Universidade Federal de Ouro Preto. Editores gerais e jornalistas responsáveis

Frederico Tavares - 11311/MG e Fabrício Marques - 04663/JPMG Editora de planejamento visual

Priscila Borges

Editor de Fotografia

Anderson Medeiros Editora geral

Ana Luísa Ruggieri Subeditor

Pablo Gomes

Editora fotográfica

Lorena Silva

Editora de arte

Janini Sanches

Editora digital

Maressa Nunes

Subeditor digital

Kleiton Borges

Editores e revisores

Di Anna Lourenço, Fádia Calandrini Laís Queiroz, Leonardo Alves, Luísa Oliveira Nicole Alves, Renata Felício e Yasmini Gomes. Repórteres

Camila Maia, Gabriel Sales, Jamylle Mol, Laio Monteiro, Lázaro Borges, Luiza Barufi, Rafael Camara, Maysa Souza, Thalita Neves e Thiago Guimarães. Diagramadores

Flávio Ulhôa, Giovana Bressani, Joenalva Porto, Jorge Lelis, Kael Ladislau, Marcela Servano, Mickael Barbieri, Nathália Barreto e Ricardo Maia. Fotógrafos

Eduardo Braga, Greiza Tavares, João Felipe Lolli Kamilla Abreu, Mateus Meireles, Mayara Coutrim e Pedro Fernandes. Produtores digitais

Alice Piermatei, Aline Barreíra Flávia Pupo, Flávia Rodrigues Gustavo Aureliano, Jéssica Michelin Lidiane Andrade e Natália Ambrósio. Endereço

Rua do Catete 166, Centro, CEP 35420-000 Mariana-MG Tiragem

1.500 exemplares Fevereiro 2013

Cartas do leitor

Para comentar as matérias ou sugerir pautas para nossa próxima edição, envie e-mail para revistacuringa@icsa.ufop.br


Editorial

Política com jeans rasgado Ana Luísa Ruggieri e Pablo Gomes

“Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”. Che Guevara A participação dos jovens no universo político se fez válida e crucial em diversos pontos de nossa história. Manifestações, marchas, panelaços, caras pintadas, planos revolucionários secretos e a esperança de que o futuro poderia e seria melhor. Entre as décadas de 60 e 80, os jovens universitários abandonavam as salas de aula e se tornavam guerrilheiros contra a Ditadura Militar. Foi um período marcado por um movimento cultural muito forte no âmbito das canções, cinema e literatura e pela mobilização e engajamento entre intelectuais, artistas e jovens para a transformação da sociedade, dividida entre vermelhos e azuis. Em meados dos anos 80, a redemocratização do Brasil chegava carregada de vestígios de autoritarismo. A sociedade vivia uma inflação crônica e uma recessão econômica. A derrocada do regime comunista jogava um balde de água fria nos jovens revolucionários e a utopia da construção de um mundo justo e igualitário começava a se apagar. Hoje, ouve-se muito falar que a juventude desapareceu da política. Não vemos, com frequência, militantes pelas ruas. Jovens que reclamam os direitos da sociedade. Que protestam as corrupções do Governo. Nesta edição da Revista Curinga, Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte e exministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, diz que “houve um rebaixamento dos sonhos, um encurtamento dos desejos, das esperanças, das utopias”. A descrença no governo e a falta de perspectiva nos candidatos a cargos administrativos também influenciam na falta de participação, não só dos jovens, mas de toda a população. Grandes “escândalos” envolvendo políticos, dinheiro, roubos, cuecas, cura dos gays, Lei da Moral e Bons Costumes, entre outros, fazem o eleitor se sentir impotente perante as urnas, e duvidar da possibilidade de propostas que solucionem problemas básicos da sociedade, como falta de segurança, a fome entre miseráveis, educação precária, etc. Apesar disso, podemos notar um grande número de compartilhamentos via internet, em redes sociais e blogs, que tratam de questões que determinadas comunidades acreditam ser injustas. Não se trata mais da luta pelo socialismo, ou da retirada de um poder autoritário, mas de abordagens sociais, ambientais, culturais, reivindicando os direitos de minorias e a batalha pelo respeito às diversidades e individualidades presentes nos dias atuais. Talvez, a mudança não tenha sido no interesse sobre assuntos politizados, mas, sim, no campo de batalha e no que se prioriza.

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Sentido

Foto: Kamilla Abreu

E dos sĂ­mbolos s

Elementos da arquitetura de Ouro Preto e Mariana traduzem poder e status hĂĄ mais de trezentos anos

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se fez a história... Texto: Laio Monteiro Edição Gráfica : Nathália Barreto

Uma mulher meio hippie lê um livro sentada na escadaria de uma igreja barroca. Da igreja ao lado, sai um homem acompanhado da esposa, cunhada e sobrinhos. Dividindo espaço com essas pessoas, vê-se os telhados de casarões coloniais; esculturas; vergas das janelas de sobrados de 200, 300 anos; formas, coisas, significados. Esses e outros elementos da arquitetura das cidades de Ouro Preto e Mariana servem para ilustrar a crença difundida de que o homem é o único animal capaz de criar símbolos. Olhando para as antigas Vila Rica e Vila do Carmo (primeiros nomes de Ouro Preto e Mariana, respectivamente), é possível identificar, de várias maneiras, como a arquitetura e outras formas de arte, de grandes construções a detalhes quase imperceptíveis, se configuravam como meios de expressão de poder econômico, social e, também, de ideologias. Quem passa pelas ruas de pedra para trabalhar, estudar, ou mesmo num passeio turístico pode não perceber, mas está rodeado de símbolos que, claro, não estão onde estão por acaso. No período colonial e no Império, o Estado era ligado à igreja Católica, o que já justifica os vários templos monumentais espalhados por todos os lados. No entanto, os sinais dessa aproximação apareciam, também, nos detalhes. Os brasões com as armas de Portugal e do Brasil eram afixados nas fachadas e dentro dos santuários, como, por exemplo, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja São José e na São Francisco de Paula, em Ouro Preto, e na Igreja da Sé, em Mariana. O Estado não era laico e essa combinação de elementos na arquitetura mostra o poder das duas instituições que ditavam as regras antes da proclamação da República, em 1889. Marcas que, ainda hoje, deixam evidente a influência religiosa nos costumes e práticas cotidianas de quem vive na região dos inconfidentes. O jornalista e escritor Ângelo Oswaldo de Araújo, 65 anos, natural de Ouro Preto, revela um pouco como fé e política eram indissociáveis na época colonial e imperial do Brasil. “Na fachada da Igreja São Francisco de Assis, Aleijadinho esculpiu, aos pés da Virgem Maria, de um lado, as cinco quinas de Portugal, que são as armas do país, e, do outro, as cinco chagas de Cristo”, afirma Ângelo, mostrando como a associação de símbolos pertencentes a dois uni-

versos diferentes criava um significado. Segundo a historiadora marianense, Maria do Carmo Queiroz, 60 anos, a religião era o que tinha mais peso no processo de separação de classes na época, “o que distinguia a posição social de alguém era o contexto religioso, o lugar que a pessoa ocupava dentro de uma solenidade e a irmandade a que pertencia. Além disso, havia as tribunas, lugares reservados para os que tinham mais poder”, diz. Outra representação de poder bastante sutil, embora mais presente em outras cidades coloniais do que em Ouro Preto e Mariana, se dava por meio da construção das casas e sobrados. Tradição que tem sua origem na Península Ibérica, as eiras, beiras e tribeiras eram os nomes das camadas de telhas que cobriam os casarões e, assim como elas, as cimalhas, acabamentos de cor branca que ornamentavam as coberturas, eram caras para se construir e se manter, já que essas últimas eram feitas de madeira. Desse modo, somente os mais abastados tinham condições de encomendar o trabalho para os artistas da época. As pessoas com menor poder aquisitivo, em geral, só tinham condições de construir a tribeira, que era a primeira camada, ficando “sem eira, nem beira”, o que se transformou no ditado popular utilizado até hoje para designar os indivíduos sem posse. A expressão de poder e status através da arte existe desde a antiguidade e continua viva nos dias atuais. Em Mariana, o designer em ferro batido, Silvio Palmieri, 53 anos, produz peças de decoração em modelo antigo e diz que tipo de público procura seus serviços. “Normalmente, eu trabalho mais com comerciantes e pessoas que têm um poder aquisitivo maior, porque as peças desse estilo são caras e exigem muito tempo de fabricação”, revela Silvio. O artista afirma, ainda, que os clientes exigem um trabalho cada vez mais requintado, o que o leva a procurar um conhecimento maior em peças que remetam ao barroco e ao medieval, por exemplo. “Eu tenho buscado sair do país, estive na Espanha, Portugal e Itália com vários professores que trabalham com forjaria”, explica o designer, se referindo ao método de produção com o qual trabalha e mostrando como a influência europeia ainda é vista como sinônimo de status por quem procura por obras de arte na região.

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Foto: Kamilla Abreu

Da forma ao significado

Estudar os signos, revelando como o indivíduo dá significado a tudo que o cerca. Esse é o objetivo da Semiótica, ciência que busca entender a “arte dos sinais”, mostrando como as coisas adquirem sentido, tanto no campo da língua quanto na natureza, no mundo físico, químico ou fisiológico. A Semiótica fundamenta-se em diversas áreas do conhecimento, uma vez que ela demonstra que toda ideia é construída culturalmente, dentro de um contexto. Como sua abordagem abrange qualquer sistema de signos – artes visuais, músicas, fotografia, religião – ela ajuda a compreender, por exemplo, o porquê dos elementos artísticos e arquitetônicos de cidades

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históricas terem uma significação específica. A estátua de Tiradentes, no centro de Ouro Preto, ilustra esse conceito, pois “consagra a figura do mártir da inconfidência, num aspecto muito ligado à imagem do Cristo flagelado”, analisa Ângelo Oswaldo, que também é exprefeito de Ouro Preto. Em Mariana, o pelourinho, instalado na Praça Minas Gerais no século XVIII, representava, naquela ocasião, o símbolo do poder municipal, já que toda vila, ao se tornar cidade, recebia esse tipo de monumento. Além disso, era o lugar onde se acorrentava e castigava os escravos e presidiários. Esses elementos, no contexto atual, adquirem mais um significado: o histórico.


O que é isso?

(Re)conhecer a história

Oswaldo, “quando a retina fica submetida à rotina, as pessoas perdem a capacidade de enxergar”. É nesse exercício cotidiano, de descobrir o que a maioria não vê, que a história se revela e é interpretada por múltiplos olhares. Os detalhes da arquitetura de Ouro Preto e Mariana desvendam traços culturais tricentenários, desde as obras a céu aberto às que se encontram dentro de museus ou, muitas vezes, escondidas numa curva desenhada por um artista. A necessidade de expressar o poder econômico, status ou dominação ideológica, que antes eram materializados nos símbolos das igrejas e outros monumentos barrocos, continua latente nos dias atuais. O tempo só alterou a forma de significar esses valores. No entanto, independente do período da história, o que não muda é o fato de que alguns olhares estão atentos, outros, nem tanto.

Ateliê

A interpretação pessoal dá sentido à obra de arte. Para você o que é isto?

Fonte: www.obviousmag.org

The Lovers – Os amantes, 1928, de Rene Magritte “Um homem e uma mulher se beijando” Bruna

Evangelista

da

Silva, 15,

estudante.

“Isolamento das pessoas, nesta era da

comunicação. Ninguém mostra quem é” Luís

Lázaro Ruiz, 31, Mariana.

empresário

Espanhol

e

Turista

em

“As aparências não importam. O que importa é o amor” Herminia Abranches, 50,

Ensino Fundamental.

professora de

“Duas pessoas que tem algo a esconder” Fernanda

Carolina, 17,

estudante.

Continue interpretando: www.jornalismo.ufop.br/revistacuringa

Foto: Kamilla Abreu

A mulher hippie da escada e o homem com a família são turistas. Ela, Margarida Ferreira, 32 anos, é de Lisboa, Portugal. Flávio Diesel, 60 anos, veio de mais perto: Vitória, Espírito Santo. Ambos conhecem um pouco da história local e percebem o significado dos símbolos espalhados por Ouro Preto e Mariana “O ouro presente nas igrejas, na decoração, o pelourinho, tudo isso são formas de expressão de poder econômico e político”, afirma Flávio, que ensina aos sobrinhos, ainda pequenos, a importância de se conhecer a história. Margarida, que diz enxergar as influências do seu país nos elementos arquitetônicos dessas cidades, resgata o forte caráter religioso presente nas simbologias. “O Estado e a igreja reforçavam o poder um do outro. Só que não era uma dominação pela arma, mas ideológica”, avalia. Diante dos símbolos presentes nas obras de Ouro Preto e Mariana e de suas significações culturalmente construídas, o que parece ser um ponto de entendimento coletivo de quem tenta compreender esses signos é a necessidade das pessoas observarem e conhecerem a história nos detalhes, principalmente os moradores dessas cidades. “É importante conhecer esses aspectos, pois, quando você entende o sentido de algo, adquire, também, consciência”, analisa Margarida. No entanto, aproximar-se da história por meio da arte requer um exercício de mudança de visão, pois, como pondera Ângelo

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abril 2012 abril 2012 Fotos: Mateus Meireles

foto: Mateus meireles


Por uma política humanizada Texto: Jéssica Michellin e Maysa Souza Edição Gráfica: Flávio Ulhôa

Os olhos já não pertencem a um garoto, mas ainda são cheios de esperança. As mãos que acompanham o ritmo da fala são as mesmas que militam em prol das políticas sociais. Dos sonhos que ainda carrega, ele não hesita em responder: “Desejo viver em um país que valoriza a vida. Em que o cidadão seja sempre a prioridade”. Nascido no norte de Minas Gerais, na “grande Bocaiúva”, Patrus Ananias é uma figura ímpar quando se trata de política. Reconhecido por sua idoneidade e pelo comprometimento, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Governo Lula (de 2004 a 2010), foi um importante articulador para a consolidação do Programa Bolsa Família e de uma série de políticas públicas de combate à fome e à miséria. Bem antes de assumir o Ministério, Patrus já havia se destacado internacionalmente. Em 1992, foi eleito prefeito de Belo Horizonte e teve sua gestão premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, foi vereador da capital mineira e deputado federal por Minas Gerais. Hoje é professor de Introdução ao Estudo do Direito, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e técnico da Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Em entrevista à CURINGA, Patrus Ananias comenta sobre sua carreira política, fala sobre o julgamento do mensalão, a ditadura militar e suas expectativas para o Brasil. 11


Curinga: O que o motivou a estudar Direito e iniciar sua carreira política? Patrus: As duas coisas estão muito ligadas. A minha escolha pelo Direito tem a ver com a política, na medida em que são temas muito próximos, voltados para a sociedade, promoção do bem comum, justiça social, direito dos pobres e dos trabalhadores. São temas que atraíram a minha atenção desde muito jovem. Isso se deve, talvez, ao fato da minha formação católica. Quando eu era menino, frequentava muito a igreja e, desde então, comecei a me interessar por leituras. Eu lembro que quando eu tinha 10 anos, eu vi o papa João XXIII, uma figura muito simpática, recebendo o genro do primeiro ministro da União Soviética, Nikita Khrushchev. Um diálogo entre os ecumênicos e os comunistas. Aquilo era o máximo! Aos 14 anos, fui presidente do diretório estudantil de minha terra, a “grande Bocaiúva”. A partir de então, passei a exercer a minha militância. Mais tarde, aos 20, quando comecei a estudar Direito na UFMG, integrei os movimentos de resistência à Ditadura. Sempre tive claro que a minha opção pelo Direito tinha muito a ver com a opção social. Prova disso é que eu fui advogado sindical trabalhista e comecei minha carreira como professor de Direito na PUC Minas, na disciplina de Direito do Trabalho. C: Quais as principais diferenças e semelhanças, em sua opinião, da política de hoje e a de alguns anos atrás? Patrus: Tendo como referência a militância política dos anos 70, durante a Ditadura, destaco o desprendimento das coisas materiais; o desapego, a busca da liberdade interior, da militância forte. Todos tínhamos a crença de que poderíamos fazer uma revolução social, democrática e pacífica. Hoje eu sinto que houve um rebaixamento dos sonhos, um encurtamento dos desejos, das esperanças, das utopias. Não é necessariamente ruim, porque a historia é dialética. Minha geração está mais atenta à família. Temos um carinho com os netos que não pudemos ter com os próprios filhos, porque antes a militância era tão intensa, que às vezes não tínhamos tempo. A vida da gente era tão dedicada ao próximo, que esquecíamos dos mais próximos.

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cresci assim e mantive uma profunda fidelidade aos ideais que me motivaram na juventude. É claro que ao longo da vida eu fui ampliando meus horizontes, lendo, estudando, incorporando novos conhecimentos e tendo uma visão mais dialética das coisas. Eu não esqueço quando cheguei na Prefeitura e tive o primeiro contato com o valor da Prefeitura. Meu anjo da guarda me soprou na hora: “Patrus, isso é dinheiro da Prefeitura, você vai viver com seu salário”. Eu me sinto como servidor público e fico feliz cumprindo um cargo público.

C: O senhor foi prefeito de Belo Horizonte entre os anos de 1993 e 1997 e teve sua gestão premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O que destacaria de positivo na sua gestão? Patrus: Foi uma belíssima gestão e o primeiro grande acerto foi a escolha de uma equipe muito competente, qualificada e comprometida. Uma coisa muito importante que nós fizemos foi levantar a autoestima de Belo Horizonte, preparando a cidade para o centenário. Debatemos a questão da cultura em BH, a história da cidade, fazendo o tombamento de patrimônios históricos. A cidade se reencontrou muito. Foi muito importante também a implantação do Orçamento Participativo logo no primeiro ano de governo. Outra inovação do nosso mandato foram as políticas de segurança alimentar e nutricional. Fizemos, também, investimentos muito fortes em recursos e profissionais na área da educação, incluindo inovações pedagógicas. A área da saúde também foi beneficiada por esses investimentos, fatores essenciais em uma redução bastante significativa do índice de mortalidade infantil na cidade. Outro grande marco foi a integração das políticas sociais e a priorização das crianças, especialmente as que estavam em situação de vulnerabilidade social. Com elas fizemos um trabalho muito bonito e interdisciplinar. Todas as secretarias e todas as administrações regionais eram orientadas pelo prefeito a trabalharem prioritariamente com as crianças.

C: O senhor é um político conhecido pela idoneidade e honestidade. Como se manter assim em um meio como a política? Patrus: Dinheiro realmente não me compra e não acho

C: O senhor, durante o governo Lula, ajudou a consolidar alguns programas contra a miséria e a pobreza, incluindo o Bolsa Família. Nos últimos anos, pudemos acompanhar a melhoria da situação financeira dos brasileiros. Como o senhor se sente tendo sido peça fundamental na formação dessa nova realidade do país? Patrus: Ninguém faz nada sozinho, especialmente na

que ele seja o último bem da vida. Eu quero ter uma vida razoável, proporcionar à minha família condições humanas e dignas de vida, mas o dinheiro não pode ser o valor fundamental. Antes do dinheiro você tem que antepor seus valores. O primeiro deles é o compromisso com a vida. Uma sociedade decente é aquela que prioriza a vida. Nós ainda não chegamos lá e esse é um grande desafio para o Brasil. Eu sonho com um país em que todos os recursos financeiros, humanos, tecnológicos e de conhecimento devem estar mobilizados para preservar a vida. Eu me formei assim, eu

política. Todas as realizações são coletivas e a minha equipe foi essencial nos bons resultados do Ministério. Éramos uma equipe comprometida, capacitada e que fazia da questão social uma prioridade. Nós não só desenvolvemos as políticas de combate à fome e promoção do desenvolvimento social. Também integramos todas as iniciativas nesse sentido. Os programas sociais só funcionavam porque eram integrados às outras iniciativas, como foi feito durante a minha gestão em Belo Horizonte. Pode-se dizer que o Governo Lula fez uma revolução no Brasil, democrática, pa-


foto: mateus meireles

cífica, silenciosa. Os dados são inegáveis, o mundo inteiro reconhece. Cerca de 30 milhões de brasileiros foram para classe média e outros milhões saíram da pobreza extrema. O sistema defende uma renda mínima necessária para a família e isso não é assistencialismo. Com um valor menor do que o estipulado, não dá pra viver. Além das razões éticas, humanitárias, de justiça social e direito à vida, há razões práticas que interessam ao Estado. Interessa ao Estado que as pessoas tenham uma renda razoável e digna, porque as pessoas compram e isso aquece a economia e gera emprego. Interessa ao Estado que as famílias possam manter os filhos na escola, consolidar seus laços familiares. E nós sabemos que uma família com uma renda aquém das suas necessidades básicas corre o risco de se desconstituir. “Casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.”

C: Casos de corrupção estão cada vez mais recorrentes na mídia. O senhor acredita que isso se deve a uma maior vigilância da Justiça, meios de comunicação e população? Patrus: Creio que nenhum governo no Brasil criou mais condições para o combate à corrupção do que o governo do presidente do Lula. Eu tenho algumas lembranças muito tristes do governo do presidente FHC, que é uma pessoa a qual tenho muito respeito. Entre elas, a de que a Polícia Federal (PF) não tinha dinheiro. E o Lula fez uma revolução dentro da PF, abrindo concursos e melhorando o salário. Ele também implantou a Controladoria Geral da União (CGU) e teve total respeito com a liberdade de imprensa. O que falta no Brasil é uma reforma do poder judiciário. Infelizmente, grande parte dos processos levantados, inclusive o “mensalão mineiro”, não são julgados. É preciso reconhecer que o Ministério Público, a CGU e a Polícia Federal, às vezes com algum excesso, têm feito a sua parte.

C: Como jurista, o que o senhor achou do julgamento do mensalão? Patrus: As pessoas estão dizendo que esse foi um julgamento histórico. Mas eu digo que esse é o julgamento que será julgado pela história, com mais discernimento, mais estudo. O julgamento foi marcado em plena campanha eleitoral e havia ali, claramente, uma vontade da oposição em confrontar o PT. A história vai julgar qual foi a relação do Superior Tribunal Federal com essa grande imprensa, que faz uma oposição sistemática ao PT e ao Lula. Se o STF e o judiciário julgassem os processos, principalmente os de crimes contra a economia popular e os crimes de corrupção com o mesmo vigor, certamente o país agradeceria.

C: Vivemos um momento em que grande parte da população brasileira não se interessa pela política. Como recuperar a confiança dos eleitores atuais? Patrus: É preciso criar espaço para que as pessoas possam exercer a sua cidadania efetivamente. Nesse sentido, o orçamento, o planejamento participativo e outras formas de participação são fundamentais. A verdade é a seguinte: na teoria, todo mundo é a favor da democracia participativa, mas na prática, não a exercem. Nós ainda somos muito condicionados pelos velhos paradigmas e modelos. Qual é o velho modelo? Não é o da cidadania, é o do súdito, é o poder quem manda; e a tendência do poder é se ampliar. Dessa forma, ao criar mecanismos para que todos possam desenvolver sua responsabilidade, consciência política e crítica, estimula-se um contexto onde as pessoas vão exigir, reivindicar; pessoas que vão olhar no olho. Assim, para se trabalhar sob uma perspectiva participativa, a população deve ter uma formação nova e acreditar realmente na democracia.

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E nsaio texto A lbergue O Albergue Relato de uma experiência de conhecimento do mundo Texto: Lázaro Borges Edição gráfica: Joenalva Porto

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abril 2012

foto: Pedro Fernandes

foto: Pedro Fernandes

Editoria Ensaio


Conheci Simone em um momento muito insólito da minha vida, momento que fez com que cada frase sua tivesse o efeito do floreio de um esgrimista rasgando o meu peito; cada gesto ressoasse em mim como um delicado e profundo soco metafísico no estômago; e cada silêncio medido, a força atrativa de uma muleta que leva com graciosidade o peso de um touro da escuridão à luz.

Momento este que todos passamos uma, duas, ou trezentas vezes durante aquilo que se convenciona chamar de Anos Dourados. Momentos de mal-estar resultado da frustração entre aquilo que uma educação tradicional e de províncias, tão cheia de certezas e sem espaço para dúvida, se choca com um devir de mundo diverso. As contradições entre mundo ideal frustrada frente à realidade. Decidi, naquele distante ano, deixar a faculdade por um tempo e sair para uma viagem errante a lugares exóticos, onde eu pudesse esquecer quem eu era e de onde vinha. Nosso encontro se deu nos últimos dias de minha viagem, no living subterrâneo de um albergue, na cidade de Göreme, região da Capadócia. Após jejuar todo o dia, por conta do Ramadan, caminhando pelo planalto semiárido e quente todo o dia, somente dispunha de algo em conserva (na embalagem dizia Koala Kebap) para comer. Tomei uma cerveja russa levemente refrigerada, e vi algo sem atenção na TV que soava como grego para mim – e era. Tudo isto contribuía para uma atmosfera de au-

sência, caso alguém me notasse. Foi quando ele apareceu naquele living escuro incrustado numa cava, que é como são as casas de Göreme, trajando como se fosse um Alexander Von Humboldt contemporâneo, com roupas de viagens desportivas. Ao olhar o livro que repousava sobre a mesa, ele logo acusou minha nacionalidade e perguntou o quê eu estava lendo num uso razoável do português. Estranhando, eu perguntei a ele porque sabia português. Disse-me que estudava Persa na Universidade de Veneza e que viajava o Oriente Médio desde Istambul até Agra, na Índia, para escrever sua tese de fim de curso sobre o Oriente e a Complexidade. Porém, estudara, como segunda língua, um pouco de português. Reverti a pergunta buscando saber porque ele estudava uma cultura tão contraditória como a do Irã. Não tinha dúvidas que não tinha origens islâmicas. E daquele universo cultural que eu apenas conhecia seus estereótipos, fui àquele país por ser o mais secular de todos e ter fama de exótico. Como era possível alguém se apaixonar pelo estudo de um mundo que oprime e esconde sobre um manto negro suas mulheres e produz pessoas tão radicais a ponto de dar sua vida, matar outras tantas por uma promessa? A TV havia sido desligada, e agora soava uma música sufi. Ele esperou que minha exaltação passasse e citou um escritor argentino, que dizia que para o cosmopolita não há cultura, língua ou livro que não seja de seu interesse. Ademais fez uma defesa breve enaltecendo a culinária, a grandeza poética do Alcorão, e como a proibição da arte figurativa produzirá a mais evoluída das artes geométricas e abstratas. “E não seriam os padrões de beleza que impomos as mulheres do ocidente uma espécie de burqa?”

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Voltei a bater na tecla do fanatismo e da falta de liberdade individual. Fez-se longo silêncio na escuridão parcial daquela cava. “Tendemos a massa”, rompeu ele o silêncio. “Queremos saber o que tocamos, nada nos apavora mais do que o estranho, o desconhecido, além de nossa fugacidade perante a dolorosa passagem do tempo”, enfatizou. E seguiu: “Na massa todo mundo é igual, reduzem-se a zero todas as diferenças entre gênero, classe ou raça. A massa também nos dá caminhos seguros de conhecer e falar do mundo. Por isto a importância da escola ou do papel hegemonizador dos meios de comunicação, difundindo formas de pensamento único e por vezes intolerantes à diferença”. “A massa nunca pode estagnar. Para ser eficiente, ela precisa crescer em ciclos repetitivos. Pense no cristianismo do Sermão da Montanha, feito ao ar livre, contra o hermetismo histórico do judaísmo. Na amplitude dos meios de comunicação de hoje em dia. Quando ela não pode crescer, sua fixação se dá por meio repetição de metas fixas e tão distantes que sua realização nunca poderá se dar em vida, como a promessa de uma vida além desta ou padrões de consumo inatingíveis”, continuou Simone. Respirou fundo, e seguiu: “estar na massa alivia nossas maiores dores, a solidão, a efemeridade da vida biológica, as incertezas do mundo, a dor física e da perda afetiva. Apegamos-nos aos valores que a sustentam enquanto instituição e nos empenhamos intransigentemente na defesa deles, que sustentam os sentimentos de seguridade e

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a transcendência das fraquezas do gênero humano. Mesmo que sejamos dominados, defenderemos esta dominação, pois sabemos do conforto de não ser responsável pela nossa tomada de consciência individual”. “A Modernidade também foi um projeto de massa que buscava conhecer o mundo de maneira absoluta. Conhecer e dominar foram as palavras-chave lançadas por Descartes. E assim, o gênero humano se emanciparia de suas misérias. Mas foi um fracasso, toda a evolução tecnológica e econômica ainda não foi o suficiente para proporcionar bem-estar e dignidade humana para a maioria sequer”, concluiu. Fez um longo silêncio e viu a hora. Era por volta de sete da noite, e me convidou a ir até o terraço para ver o pôr do sol. No topo, minha vista foi tomada pela suavidade da luz do fim de tarde. Sentamos num lado mais isolado dos outros viajantes no terraço. Ao fundo, podíamos ouvir de uma mesquita o cante a palo seco e entrecortado de um Imã, uma espécie de busca tenaz da reconciliação daquela alma com a fugacidade e a ausência de som daquele deserto. Porém, prosseguiu ele, “cada individuo é cheio de potencialidades dentro de si que conflitam com essa realidade. Ou ele pode aliviar estes conflitos por meio da resignação, violência (frequentemente resvalando naqueles que estão na sua mesma condição, reproduzindo a opressão) ou o entorpecimento; ou ele pode tentar transcender os limites de sua realidade justamente ao conhecê-los. Aí, meu caro, é que a aventura humana toma este gosto forte de gengibre da comida oriental que nós conhecemos”. “Hoje, felizmente, parece que as coisas vão num caminho bom... não sei. Mas sou entusiasta”, afirmava ele naquele dia que ainda seguia muito quente. “As informações circulam com maior velocidade, e o conhecimento está em constante e fluída alteração. Já não se pode mais afirmar uma certeza única nestes tempos. O conhecimento já não é mais uma ferramenta de domínio do mundo, mas é lente para se enxergar melhor a condição humana”. “E como funciona isto na prática?” perguntei a ele. “Somos habituados com a ideia de que é preciso ter o conhecimento como instrumento que nos dá acesso a realidade. Isto é em parte verdade. Mas o problema se localiza no fato de que esta forma de conhe-


cer traz em si os próprios limites. Só se enxergará aquilo que a teoria postular em si, cortando parte da perspectiva do campo de visão. Não que esta forma seja ruim, mas para complementar seus limites, é interessante pensar no fenômeno nele mesmo, como portador em si dos elementos que possibilitem sua compreensão. Isso exige a humildade de não saber nada, e deixar se guiar pelo objeto que se busca conhecer”, respondeu. “Durante minhas viagens conheço pessoas super interessantes e buscando conhecimento. Mas já aconteceu, em muitos casos, destas mesmas pessoas recusarem o convite de ir comigo a um museu, por dizer não terem o conhecimento para o fruir das obras de arte. Ora, conhecimento de história e teoria da arte ajudam a fruição, mas não é necessário saber ler para se encantar com o belo. É fazendo lograr isto, que reside a grandeza de um artista”. Foto: Pedro Fernandes “Deixar para trás nossas certezas do passado, que vínhamos usando como projeção para o futuro, é um caminho para alargar os horizontes de mundo”, pensei. Incertezas? Essas serão a nova constância de que nada estará definido e mais, elas virão com a gradual libertação do homem de suas contingências históricas. Deixando para trás valores como utilidade, eficiência e lucratividade, nos aproximamos da riqueza humana. “O ser humano já não será mais o meio, mas o fim em sua plena e esplendorosa humanidade”, refleti. A conversa terminou quando escureceu completamente. Silêncio total. E minhas inquietações começavam a ceder espaço para uma suave música de um mundo que ali se desembaraçava. Simone me disse que sabia de um bar escondido nas cavas de Göreme donde se podia tomar uma

cerveja melhor e encontrar outros mochileiros. Tive uma última impressão dele aquela noite: a de que não havia pessoa com quem ele não fosse capaz de manter de levar a mínima conversa. Mesmo um grupo que não conversasse entre si, logo ele apareceria lá e animaria a mesa. Naquele bar, ele arrumou muitos companheiros de viagem que tinham um itinerário em comum. Na outra manhã, tivemos uma conversa ordinária sobre os mais diversos cafés da manhã do mundo enquanto desjejuávamos. Ao terminar, pegaria um ônibus que me levaria ao aeroporto, dando fim à minha viagem. Não peguei seu contato, mas ele me deixou um cartão postal com sugestões de livros, filmes e músicas, no qual terminava dizendo: “O homem sem âncoras mentais/ será para sempre jovem/ nunca se detendo em um porto/ viajará impulsionado pelo silêncio do vento.”

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Para a igreja, obra do demônio. Para os gregos, uma divindade. Para muitos, algo excêntrico. Para outros, uma patologia. Veja como a loucura é relativa, e o louco, na verdade, pode ser você. texto:

Camila Maia e Luiza Barufi

edição gráfica e ilustração: Jorge

Lelis

Louco, insano, excêntrico, alienado, maluco, pinel, transtornado. Muitos são os adjetivos para designar pessoas consideradas loucas. Durante a história, muitos foram os significados atribuídos a essa palavra: “LOUCURA”. A ideia do termo – suas interpretações e definições – muda de acordo com o espaço e a temporalidade. Mas, ainda que os sinônimos designados para a palavra sejam diversos, ela está relacionada frequentemente a um desvio social, ou seja, a tudo aquilo que foge aos costumes e normas de cada sociedade. Mas, afinal, a loucura veste a carapuça do bem ou do mal? Quem são os loucos que nos cercam? Onde está a loucura? Segundo o dicionário Aurélio, louco é aquele que: adj. 1. Que perdeu a razão; doido,

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maluco. 2. Contrário à razão; insensato. 3. Dominado por paixão intensa; apaixonado. 4. Esquisito, excêntrico 5. Imprudente. 6. Doidivanas. O sociólogo Ubiratan Vieira comenta esse significado: “nas conversas do dia a dia encontramos o termo ‘louco’ servindo de elogio, como em ‘isso é muito louco’, mas também como forma de insulto: ‘você está louco!’.” Apesar de existir esta dualidade de sentidos hoje em dia, a questão da loucura nem sempre foi abordada em expressões e brincadeiras, ou seja, tratada com tanta “normalidade”. Na Idade Média, acreditava-se que o ideal era manter os considerados loucos bem distantes da sociedade, de modo que estes não atrapalhassem a ordem que já estava estabelecida. Um exemplo disso é a fa-


mosa pintura Nau dos Loucos, em francês, La Nefdesfous, do artista HieronymusBosh, exposta no Museu do Louvre, em Paris. A pintura retrata as embarcações que transportavam os loucos durante o período medieval. O principal objetivo: isolá-los em alto mar ou levá-los para outras cidades que os acolhessem. Ainda nesse período, a Igreja exercia enorme influência sobre as pessoas, não fazia separação entre o louco e o homossexual, nem entre aqueles que praticavam ritos de magia. Todas essas pessoas eram vistas como uma ameaça, porque poderiam, a todo tempo, causar o caos. Elas foram punidas e retiradas do convívio social por serem reconhecidas como insanas, ainda que na época a insanidade não fosse diagnosticada por um profissional e era, muitas vezes, tratada como possessão do demônio. O vínculo histórico da loucura com a questão religiosa não possui apenas uma conotação negativa. Na Grécia antiga, quando as pessoas tinham alucinações e perdiam a razão, os gregos acreditavam que elas estavam entrando em contato direto com alguma divindade.

Entre a razão e a patologia

Rodrigo Mikelino é ator e sempre gostou de trabalhar com temas humanos. Um dia, em uma fila de banco, se deparou com o comentário de duas pessoas atrás dele: “Fulano é louco!”. Resolveu que este seria o tema de sua próxima peça. Foi trabalhar no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e pesquisar mais sobre o assunto. Qual era a loucura a que as mulheres se referiam? O que levou aquele indivíduo a ser taxado de louco? Qual a linha que separa a lucidez da loucura? Durante a Idade Média, a loucura era vista como uma doença e aqueles que eram considerados loucos eram isolados em colônias chamadas leprosários. As consequências desse tratamento se deviam a uma medida de saúde pública que, para a época, era conveniente. Porém, mesmo com a diminuição do surto que atacou a Europa e a extinção dessas colônias de isolamento no século XV, a ideia de exclusão que os leprosários traziam prevaleceu, como ressaltou Foucault em “História da Loucura”. A partir do século XVII o modo de ver a loucura muda completamente: ela começa a

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ser relacionada com a razão, mas, as formas de repressão eram parecidas. Surgiu nessa época, a internação; poder que, ao mesmo tempo, executava e julgava. Essa medida tomada no período em questão se parece com o isolamento dos leprosos na Idade Média: a figura do louco agora é representada pela exclusão, ele incomoda a sociedade e perturba a ordem. O quadro muda com a eclosão dos pensamentos iluministas no século XVIII. A razão passa a ser valorizada e a loucura é considerada um fenômeno, estudado pelo campo da medicina. O progresso nesta época é significativo, porque a loucura passa a ser diagnosticada como doença mental passível de cura. Um dos principais estudiosos do tema, o filósofo e historiador francês Michel Foucault procurou evidenciar o caráter normalizador do discurso psiquiátrico. Em sua obra, ele mostrou como os julgados loucos eram marginalizados no período renascentista até a modernidade, analisando a lou-

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1 - Malle Babbe, Gustave Courbet; 2 - Alexandrine Le Normant d’Étiolles, François Boucher; 3 - Keith Negley;


Gênios ou loucos?

Durante a história, muitas personalidades foram conside-

radas loucas por sua excentricidade ou por defenderem ideias que contradiziam as crenças e costumes de uma

determinada sociedade. Conheça alguns desses personagens:

GALILEU (1564-1642): Defendeu a tese de que a Terra não ficava no centro do Universo e, como essa teoria era

contrária ao dogma da Igreja, foi perseguido, considerado herege em 1611 e taxado como louco.

NIETZSCHE (1844-1900): Acreditava que a base racional da moral é uma ilusão e, por isso, descartou a noção de homem racional. O mundo para Nietzsche era desordem e irracionalidade.

NIKOLAS TESLA (1856 – 1943): Ele ficou conhecido como um gênio maníaco que dormia pouco e adorava se exibir

usando seu próprio corpo como condutor elétrico em demonstrações públicas.

ALEISTER CROWLEY (1875– 1947): Sua vida regrada a sexo,

drogas e misticismo chamou a atenção e fez com que ele fosse considerado louco por grande parte das pessoas.

LIMA BARRETO (1881-1922): Em 1911, escreveu o romance Triste

fim de

Policarpo Quaresma. Em 1914, foi internado

pela primeira vez no Hospício Nacional dos Alienados, lugar ao qual retornou mais uma vez anos mais tarde. A

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edição de luxo de Diário

do

Hospício

e

Cemitério

dos

Vivos traz

reunidas as impressões de Lima Barreto sobre os dois meses que passou no hospício.

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO (1909-1989): Artista plástico

brasileiro, considerado louco por uns e gênio por outros.

Sua figura está ligada ao debate sobre o preconceito e os limites da insanidade e da arte no Brasil.

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cura desde a percepção do louco até a classificação como doença mental. Mesmo com todas essas mudanças, a ideia de que o louco incomoda ainda faz parte do imaginário das pessoas, como observa o sociólogo Ubiratan Vieira: “O termo talvez esteja muito carregado ainda daquele sentido dado pelo medo do patológico”. Tal medo leva à criação de estereótipos. A loucura aparece em diversas representações. Alguns movimentos culturais, como o surrealismo, reivindicaram a necessidade de preservar a atividade criativa do artista exatamente como a de um “louco”, capaz de propiciar expressões que ultrapassem os limites do razoável e permitam, assim, a livre manifestação do talento criador. Quando se fala da loucura como estado de ampliação, ultrapassar limites preestabelecidos, a conotação costuma ser positiva ligada à ideia de coragem. As doenças mentais são o oposto: “as psicoses são uma distorção do pensamento e do senso de realidade, que pode prejudicar muito a vida do

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paciente; no lugar de liberdade, elas restringem a autonomia”, diz a psicóloga Márcia Damasceno. O fato é que, embora livre dos nós das camisas de força dos manicômios, os hoje chamados loucos ainda estão presos ao preconceito e à ideia muitas vezes negativa causada pelo estereótipo.

Diário de um louco

Durante os três anos que trabalhou no CAPS, Rodrigo Mikelino levava o teatro a pacientes que tinham acabado de sair dos hospitais psiquiátricos. O desafio era grande, pois nunca tinha feito nada parecido. “Não tinha uma fórmula pronta de como trabalhar, tive que aprender no dia a dia quais as alternativas funcionavam.” Ele também enfrentou o medo inicial do desconhecido e desconstruiu a ideia de como seria lidar com aquelas pessoas. “No primeiro dia fiquei com medo que eles me batessem, mas vi que não era nada disso”, relata. Rodrigo começou a anotar em um diário


as experiências que vivia lá e as histórias de vida de pessoas que tinham muito a dizer, mas quase ninguém para ouví-los. “Quando eles me contavam as histórias não era como se contassem a alguém, era mais uma conversa na frente do espelho e conforme falavam se sentiam aliviados. Eu incentivava e tentava tirar deles o máximo possível. Eram histórias reais e, ao mesmo tempo, inventadas pelas alucinações, mas que não deixam de ser reais para eles.” Os anos no CAPS renderam ao ator um espetáculo intitulado “Diário de um louco”, no qual ele apresenta seis das histórias que ouviu lá. Rodrigo acredita que o contato com essas pessoas mudou a sua percepção da loucura: “a única diferença é que tem gente que tem que tomar remédio controlado todos os dias e outras não. Todos nós temos nossos surtos! Não existe um ser são e um ser louco, existe um SER, somos a junção de um todo!”. Para a psicóloga Márcia Damasceno, “todos nós carregamos um pouco de loucu-

ra. São as nossas cismas, as nossas manias, as nossas paranoias. Se elas atrapalham a nossa vida de maneira importante, prejudicando o nosso rendimento profissional e a nossa capacidade de se relacionar, merecemos o rótulo de ‘louco’ e devemos nos tratar. Se elas não atrapalham nossa vida de forma efetiva, classificamo-nos como neuróticos ou apenas de esquisitos e tocamos a vida”. Damasceno ainda acrescenta: “Freud afirma, em uma de suas obras, que todas as pessoas têm um pouco de neurose em si. É normal o ser humano ser um pouco neurótico, sendo apenas o excesso chamado de patológico.”. Quem nunca fez uma loucura na vida? Ela pode ser observada nesse contexto como uma “válvula de escape” para determinadas situações em que o indivíduo se sente “oprimido”, “aprisionado moralmente”, ou mesmo para extravasar tensões emocionais retidas na mente. Pois, parafraseando Rodrigo Mikelino: “O que fora te mata, dentro te liberta”.

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Entre quatro paredes Fragmentos de uma história ainda a ser preenchida

Texto e Fotos: Mateus Meireles Edição Gráfica: Ricardo Maia

- “Ô, moço! Você não pode tirar foto daí, não. É proibido”. Disse o porteiro fazendo cara de poucos amigos, enquanto estufava as mãos no bolso da calça. - “Mas eu estou na calçada, fora do prédio. Só vou fazer umas fotos da fachada. Isso não é proibido, é?”, respondi surpreso, mas sem dar muita atenção ou parar de fotografar. Ele já havia se aproximado mais durante o esboço de conversa: -”E se sair algum morador nessas fotos suas, hein?! Sabia que ele pode te processar?” As palavras desferidas em tom de ameaça só me permitiram reiterar o conceito do ensaio presente nas próximas páginas. Será que somos simplórios ao ponto de nos pertencer uma descrição baseada exclusivamente na cor dos olhos ou cabelos, altura, gordura localizada ou generalizada (até quem sabe a escassez dela)? Seria a nossa significação tão simples que caberia numa foto 3X4? Eu não consigo acreditar nisso. Por esse

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motivo, decidi sair em busca de uma narrativa contada a partir de outra perspectiva, a da apropriação do espaço. Durante dias, visitei diversos apartamentos do Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte, e lá ouvi “segredos de liquidificador” e outros objetos que me disseram mais sobre os seus donos do que os próprios poderiam tentar. A escolha do projeto de Niemeyer como dispositivo para essa série se deu exatamente pela natureza rocambolesca da obra. Sua construção, que teve início nos anos 50, só foi finalizada quase duas décadas depois. O conceito original foi reformulado inúmeras vezes e hoje está longe de ser o que poeta do concreto havia planejado. O conjunto conta com duas torres, uma de 23 andares, localizada em frente à Rua Timbiras, e outra de 36 andares, localizado na Rua Guajajaras. No total, cerca de cinco mil pessoas residem nas quase 1100 unidades do complexo. No interior de cada apartamento uma história, um estilo de vida, um objetivo, um olhar, um estar no mundo. Não há um “manual de instruções”. Cada um se ajusta àquela estrutura predeterminada de modo que vá ao encontro de sua essência. Objetos ali presentes, por vezes, considerados banais ou meramente decorativos, na verdade, são fragmentos de uma história ainda a ser preenchida, construída no cotidiano.


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Trilhas Urbanas

Liberdade en Texto: Jamylle Mol

Edição Gráfica: Marcela Servano

Na entrada do presídio regional de Mariana, interior do estado, uma mensagem na parede se destaca. “Se queremos progredir, não devemos repetir a história”. A frase, dita por Gandhi tempos atrás, parece mover também alguns dos detentos, que veem as políticas públicas desenvolvidas no local como uma oportunidade de mostrar à sociedade que sempre é tempo de prosseguir e que ninguém deve ser julgado a vida toda pelo crime de um dia. O governo de Minas Gerais, desde a criação da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) em 2003, vem substituindo a custódia

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dos centros prisionais, antes administrados pela Polícia Civil, para um novo tipo de sistema, coordenado pela Subsecretaria de Administração Prisional (SUAPI). Essa substituição só chegou à cidade de Mariana no final de 2011 e alterou significativamente o dia a dia no presídio. Grande parte dessas modificações é decorrente do programa de ressocialização, que prevê, entre outras medidas, o acesso à leitura, o Enem prisional, o supletivo educacional, o Caixa-estante, palestras, reuniões com pastorais religiosas e frentes de trabalho dentro e fora do presídio. O Caixa-estante é um

projeto de incentivo à leitura desenvolvido em parceria com o SESI-FIEMG. Através dele, são disponibilizados livros para os presos. Já o Enem prisional e o supletivo educacional dão a oportunidade de os detentos fazerem provas e concluírem o ensino médio ou fundamental dentro do presídio. No entanto, não existem professores para auxiliar o processo de aprendizado: os estudos são orientados pelos próprios profissionais da SUAPI. Nas frentes de trabalho, o preso não recebe salário, mas a cada três dias de serviços prestados, há uma diminuição de um dia na sua pena total. Para

esse tipo de ação, as vagas são limitadas e participam apenas em torno de seis presos, num total de 118, que são selecionados de acordo com o comportamento que apresentam e o tipo de crime que cometeram.

Olhares Internos

Marcos Pires* está preso em regime fechado há quatro anos. Hoje, divide o seu tempo entre o artesanato e as tarefas que desenvolve dentro do presídio, ajudando a distribuir alimentos, roupas e livros para outros detentos. Segundo Marcos, com a implementação da SUAPI, o tratamento tornou-se mais humano. “Se


ntre olhares precisamos de um médico ou de um dentista, é só chamar que eles atendem. Oferecer livros também é muito bom. Tem muita gente que ficava dentro da cela, não assistia à televisão e não tinha o que fazer”, diz.

Foi uma oportunidade de arejar a mente e sentir, ainda que por pouco tempo, como se estivesse livre . Marcos, que já foi preso três vezes, hoje, vê a si mesmo como um bom exemplo: “vou trabalhando, me integrando à sociedade e as pessoas vão notando; é uma

oportunidade de me mostrar. Até quem não tem bom comportamento aqui vê a gente e aprende”, afirma. O detento Miguel Alves* também participa dos projetos. Preso há quatro anos e cinco meses, trabalhou nas obras que aconteceram fora do presídio. Junto a outros presos e sob vistoria dos agentes carcerários, participou das reformas do Fórum de Mariana e do prédio sede da Guarda Municipal. Segundo Miguel, a atividade, que durou cerca de três meses, não trouxe apenas benefícios para a remissão de sua pena,mas foi uma oportunidade de arejar a mente e sentir, ainda que por pou-

co tempo, como se estivesse livre novamente. “De vez em quando, durante as reformas, a minha filhinha passava por lá e dava para eu vê-la de longe”, acrescenta. Para Miguel, as ações de ressocialização significam uma forma de voltar à sociedade antes mesmo de sair do presídio e cumprir toda a pena.“É um modo de verem que não sou um monstro ou algo do tipo”, explica. Miguel, que caracteriza a si mesmo como um homem de bem e trabalhador, conta que aprendeu muito no tempo que passou preso e espera voltar para o emprego, cuidar dos filhos e seguir adiante de cabeça

erguida. “Se hoje estou preso, é por uma fatalidade”, ressalta. Júlio Ribeiro* também chama de “fatalidade” o fato que o levou a estar preso desde 2009 e culpa a influência das más amizades pelo erro cometido. O detento, que tem o sonho de mudar a própria vida e a da família, voltou a estudar dentro do presídio e, no final do ano passado, prestou a prova do supletivo para concluir o sexto ano do ensino fundamental. “Tenho a cabeça boa, não sou um analfabeto. Sou um camarada ativo, sei dialogar com todo mundo. Trabalhar aqui dentro é uma forma de ocupar a mente”, conta.

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Efeitos

O diretor adjunto da SUAPI em Mariana, Josibel Ferreira, vê o programa com bons olhos. “Costumo dizer que a SUAPI devolve diretamente a dignidade da pessoa. Hoje, um infrator que, muitas vezes, estava na rua, sem banho, cometendo pequenos delitos e dependendo de favores, tem roupa limpa, colchão individual e quatro refeições por dia.

“A formação policial no Brasil ainda é repressiva e traz aspectos que remetem à ditadura militar” Jussara Lopes Sem contar toda a atenção voltada para esse preso, que vai desde atendimento jurídico e psicossocial até a intervenção no contato com a família, reafirmando os laços”, diz. Segundo Josibel, a SUAPI é especializada no trabalho com os detentos e tem uma equipe maior que a da Polícia Civil – um segmento também estatal, mas direcionado para os processos investigativos e não para a carceragem. Já a assistente social, Jussara Lopes, que trabalhou por um ano na equipe de um programa para inclusão de presos, considera a iniciativa válida, mas chama a atenção para a necessidade de se observar quem desenvolve essas ações. Para ela, o trabalho deve ser desenvolvido por profissionais comprometidos com a emancipação dos presos e que assegurem, sobretudo, a educação dessas pessoas. “A formação policial no Brasil ainda é repressiva e traz aspectos que remetem à ditadura militar”, diz. Segundo Jussara, para que o programa seja eficaz, é importante que as atividades saiam dos muros dos presídios e cheguem ao conhecimento da sociedade, porque os presos, muitas vezes, são estigmatizados pela população e, por isso, sofrem com as dificuldades de voltar ao mercado de trabalho e à vida normal. A assistente social também questiona o termo ressocializar: “na maioria das vezes, quem está no presídio foi excluído a vida toda. Portanto, não é reintegrar, já que eles sempre foram excluídos”.

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FOTO: Mayara Coutrim


O que você não vê

Proteção à família Texto: Renata Felício

Criminalidade

Atualmente, no presídio regional do município de Mariana, são mantidos 107 presos em regime fechado e 11 em regime semiaberto. O perfil dos detentos é variável: há desde homicidas até pessoas que cometeram pequenos furtos. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Centro Internacional para Estudos sobre Prisões, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking das maiores populações penitenciárias do mundo, atrás apenas de EUA, China e Rússia. A criminalidade no país é um problema estrutural e está intrinsecamente relacionada à grande desigualdade de renda e diferença de oportunidades entre as classes sociais. Ainda que esse contraste econômico tenha diminuído nos últimos anos, o Brasil segue chamando atenção pela intensificação do número de presidiários. Hoje, para cada 100 mil habitantes, existem 269 presos. É essencial que, cada vez mais, o Estado assuma a responsabilidade pela situação e desenvolva políticas públicas que atenuem esse índice.

*Os nomes utilizados são fictícios a fim de manter o sigilo e proteger a imagem dos entrevistados.

A lei do auxílio reclusão deve permanecer em vigor? Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o benefício é um direito de todo contribuinte e legalmente deve ser cumprido. Alvo de muita especulação, grande parte da população discorda, gerando muita polêmica. Isso se deve, em sua maior parte, ao desconhecimento de seus reais aspectos. A ajuda financeira paga pelo INSS tem o objetivo de garantir a sobrevivência do núcleo familiar após o afastamento temporário do membro provedor, desde que o preso não receba salário ou aposentadoria. Somente tem acesso a esse beneficio quem trabalhava com carteira assinada ou contribuía como autônomo para o INSS. O benefício instituído pelo extinto Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), e depois incluído na Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS - em 1960 - ainda é um tabu. Não existe uma real campanha de conscientização, o que acarreta em argumentos falhos. A lei é confrontada por grupos que afirmam que os trabalhadores pagam as contas para que os detentos usufruam R$915 por filho. Os mais leigos entendem que é melhor ir preso do que trabalhar, acreditando que terão direito a receber pelo menos um salário mínimo. Mas, o que muitos não sabem, é que o auxílio não é proporcional à quantidade de dependentes. De acordo com a Previdência Social, o valor do benefício é dividido entre os dependentes legais do segurado. Podemos comparar com o cálculo de uma pensão. O benefício é calculado de acordo com a média dos valores de salário de contribuição. O infrator, após ser julgado, está condenado a passar determinado tempo privado do direito de ir e vir. Os Direitos Humanos e Políticas Públicas voltadas para o desenvolvimento social do preso existem para garantir que os equívocos de uma sociedade leiga e julgadora não se concretizem. A Constituição, em seu artigo 5º XLIX, assegura aos presos o respeito à integridade física e moral. Presídios não existem para que os indivíduos que os habitam sofram, mas para que paguem por um erro cometido e, após isso, retornem à sociedade com condições de um recomeço.

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Perfil

Foto: Kael Ladislau

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O

pedido

que se pensou eo

destino

se

que

cumpriu

Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Ouro Preto: cenários peculiares que inspiraram a trajetória de um casal irreverente. Texto: Thalita Neves e Thiago Guimarães Edição gráfica: Mickael Barbieri

Para alguns, a fé está intimamente ligada à religião, para outros é uma forma de canalizar energias para se alcançar alguma meta. Para Vânia, ela está expressa nas mais diversificadas manifestações da natureza, e através dela enviou ao mar, junto a uma oferenda, um pedido especial: queria um amor. Não estava em busca de um casamento, uma convenção. Com 23 anos, na efervescente década de 80, não era afeita a esses padrões, gostava de sua independência. Estava mesmo em busca de um companheiro, um amante. Ela morava com um amigo na zona Sul de Belo Horizonte, era aluna de História na Universidade Federal de Minas (UFMG), mas estava insatisfeita e pedira transferência para Comunicação. Tudo lhe parecia muito igual, muito comum. Estava decidida: iria passar uns meses em Los Angeles. Mal sabia, mas tudo iria mudar. Vânia seguia em direção à faculdade e, por causa da chuva, decidiu voltar para casa. Foi quando, numa esquina da capital mineira, Kako cruzou o seu caminho. Recém-chegado a Belo Horizonte, ele iria passar uma temporada na cidade. Vânia não foi à aula naquele dia. Sorte de Kako, que teria mais tempo para cortejá-la, embora o relógio ainda não tivesse completado 24 horas quando ela aceitou seu pedido de casamento. No dia seguinte, uniram-se sob as bênçãos da natureza, em um ritual singelo em frente a uma capela no condomínio Retiro das Pedras, em fevereiro de 1985. Quinze dias após a união do casal, a cidade destino foi o Rio de Janeiro... Foram recebidos com festas pela família de Kako. Presentes e todo o requinte foram oferecidos. O jantar servido em louça limoge, o cardápio refinado e a estética da culinária apurada representavam a descendência

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ela ineira, pital m a c a n ê sc ncia a e criad a adole a m d u i c s e a d N nal, o ranças radicio t b m o le m o c rar traz romper or explo p a v a a c c s s u u nos, a b que b oito a fase d z e a d m u óbvio; . Com Brasil. bientes ste do m e a d r o s n o ia e nov jar pelo utonom a a i v a u v i a o. usc decid inusitad rego, b p lo e m p e o em Tinha o gost nsultora onsigo c o c a i z é e e tra maral sa, mã A o p s e a i , Vân artista omia, n o r t . s a a i g pat rda sim transbo

Entre Linhas

Ah, a amizade

Luisa Oliveira

Uma das obras literárias mais antigas sobre o tema amizade é a de Dom Quixote e Sancho Pança. Escrita pelo espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra, publicada em 1605, a obra conta a história de tres incursões da dupla pelas terras de La Mancha, Aragão e Catalunha. O pequeno fidalgo castelhano que leu romances de cavalaria até perder o juízo se envolve em uma série de aventuras, sonhos e fantasias. Enquanto isso seu fiel amigo e companheiro Sancho Pança o apoia quando a realidade desmente os devaneios de Quixote. Sherlock Holmes e Dr Watson, Batman e Robin, Mickey Mouse e Pateta, Harry Potter e Ron Weasley, Timão e Pumba, Frodo e Sam... A lista de amizades que entraram pra história é interminável. Afinal de contas, o que todo mundo quer é um amigo de fé, irmão e camarada, tipo aquele do Roberto Carlos.

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Nascido e criado na capital fluminense, de família imperial e tradicional carioca, Carlos Nabuco, o Kako, sentese ouropretano de coração. Apaixonado pelas Artes, ele as defende como o caminho para o tratamento de doenças ligadas à psique. Já foi de tudo: fotógrafo de Moda, diretor da Saúde Mental, serviu à Marinha e atualmente é praticante do sumi-ê, uma técnica de pintura milenar criada pelos chineses, considerada um caminho para o equilíbrio e a paz interior.


nobre e inseriam Vânia em um universo desconhecido. Para o esposo, a herança cultural da nopara que demais pessoas possam alcançar seus objebreza carioca, inspirada nos costutivos, por meio de suas próprias capacidades. mes europeus, era algo corriqueiro Kako esteve à frente da Saúde Mental de Ouro porém obsoleto. Kako sempre quis Preto por quatorze anos. Com brilho nos olhos, se orir além dos padrões estéticos da arte gulha de poder “levar amor aonde há a dor”, como ele ocidental. A busca pela sabedoria mesmo ressalta ao citar Nise da Silveira, uma psicaoriental, por meio da interiorização nalista atuante na década de 40 e precursora do tradas forças presentes na natureza, balho das Artes com doentes mentais. Ele demonstra fez dele um conhecedor de diversas certo desconforto com tratamentos paliativos como, manifestações da arte e da fé. por exemplo, o uso de remédios. Suas pesquisas apontam para a necessidade do desenvolvimento das Eu tinha medo é capacidades criativas e da autonomia para o resgate que a minha vida daqueles que sofrem de problemas psíquicos. fosse uma mesmice. Talvez inspirada pela veia artística do marido, VâEle representava o nia acabou descobrindo, em si própria, um talento, moderno, o novo, ou dom, como ela mesma diz. A arte da Culinária, a arte, a cultura, o com a qual ela teve contato inicial por intermédio dos mundo que eu queria monges vizinhos, até hoje é o que a mantém finanmergulhar. Ele trazia o ceiramente segura e pessoalmente grata. Também conhecimento que eu inusitada, sua arte trabalha aspectos alternativos na queria. Vânia cozinha, como a comida-remédio e a culinária vibracional, que funciona de acordo com as estações do Cansados do estilo de vida imano. posto pela metrópole, refugiaramse em Ouro Preto, no alto do Morro São Sebastião. O local já era freA arte cura, o amor constrói e o quentado por Kako e amigos desde mesmo ideal de ação de vida é o início da década de 80, quando capaz de refinar os gostos e afinar fundaram o mosteiro zen-budista as almas. Kako “Pico de Raios”. A região, quase inóspita à época, ainda hoje conApós 27 anos de casamento e apenas um dia de segue traduzir o bucolismo de seus namoro, acreditam que não há segredo para manter elementos e habitantes, que resisuma relação duradoura, mas deixam a dica: é importem, imunes, aos sinais mais drástante estar um ao lado do outro, e não de frente. Não ticos da urbanização. que não houvesse problemas ou divergências durante Na casa que escolheram para todo esse percurso. Porém, a maneira de superá-los é criar Aninha, única filha do casal, ao mesmo tempo simples e eficaz. A solução escapa pinturas, esculturas e artesanatos baixinho por entre os lábios de Kako: “nós sempre demonstram a personalidade da andamos lado a lado”. Nessa receita de irreverência família. Algumas das peças caracbem-sucedida, o egoísmo e a insegurança dão lugar terizam Kako, outras, simbolizam ao companheirismo, união e muito trabalho. O amor Vânia. Ambas, dividem harmoseria a cereja do bolo. niosamente o insinuante espaço. A chuva, coadjuvante em todos esses encontros, Sem falar na música, que também ameaça cair novamente enquanto, na sala, a imagem soa convidativa ora partindo dos dois se destaca por entre os diversos elementos do jazz no home-theater, ora pulsande arte presentes. A história expressa em gestos e do dos dedilhados suaves do marido olhares reluz a própria memória de dois que se tornana Kalimba – instrumento de origem ram um. A Kalimba ainda vibra e o som parece anunafricana do qual Kako construiu um ciar que esquecemos alguma coisa: sim, a música do exemplar a seu gosto. casal! “Maluco Beleza”, ele sussurra. “Ah, pra mim A paixão pelo trabalho desenpode ser aquela: você é doooida demais!”, ela berra. volvido na comunidade que os acoE sorriem. lheu e nos distritos ouropretanos, expressa na fala dos dois quase que univocamente, demonstra o que os une: o desejo de contribuir

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Humanidades

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m a r i t n a r a g e m a . . r . a r i a c b n a u c n a A e s a ara

Câm essani el r afa aB R e an es iov al G o lS

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“E o mundo não se acabou” é o nome do samba que Carmen Miranda cantava em 1938. Na canção, composta por Assis Valverde, Carmen dizia que iria se despedir e aproveitar seus últimos dias na Terra, fazendo coisas que não faria normalmente, como gastar “mais de quinhentão”. Mas o mundo não acabou, e ela teve problemas com isso. O medo do apocalipse não é novidade para nós. Volta e meia, o nosso planeta é alvo das mais diversas previsões do fim do mundo. Nostradamus, um respeitado vidente que viveu durante o século XVI, foi um dos que tentou achar a data em que o mundo acabaria: “No ano de 1999, sétimo mês, do céu virá um grande rei do terror”, previu. O último presságio, de responsabilidade do povo Maia, assustou muita gente com a possibilidade do juízo final acontecer no dia 21 de dezembro de 2012.

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Não é preciso dizer que essas previsões foram falsas. Ano passado, muita gente agiu como Carmen Miranda e acreditou que seriam seus últimos dias na Terra. Nos Estados Unidos, por exemplo, 12% dos americanos acreditaram na profecia, segundo pesquisa do jornal britânico Daily Mail. Já o canal de TV Nat Geo apresentou em setembro o programa “Preparados para o fim”, registrando como muitos se prepararam para uma possível catástrofe e estocaram alimentos, bebidas e até armas. Se você também levou o fim do mundo a sério e se despediu dos pais e amigos, prepare-se: existem novas profecias agendadas para um futuro próximo. Enquanto isso não acontece, ainda podemos gozar da nossa curta passagem por aqui. Por outro lado, as contas do mês continuam chegando, o seu chefe segue esperando aquele relatório, e o torcedor palmeirense ainda lamenta pelo rebaixamento do time. É, a vida continua. Nossa relação instável com o fim do mundo não é especial. Ela se estende para outros fins cotidianos que as pessoas experimentam em menor ou maior grau. Todos eles, dos mais banais aos mais grandiosos, nos toca de alguma forma. O fim da faculdade, de um emprego, da vida de uma pessoa próxima, de um objeto querido... Diariamente somos lembrados da efemeridade das coisas. Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, afirma que todas as coisas possuem vontade de vida, uma vontade de permanência intrínseca do existir. Tudo tenta se manter, embora seu destino seja sempre o fim. Para o filósofo, existe um fio que

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tece a existência que se chama Vontade. Com ela, seríamos marionetes do querer e, se queremos, sofremos, mas não deixamos de desejar. Quando alcançamos um objetivo, ou quando determinada coisa finda, temos algum momento de prazer, desgosto ou tédio. Porém, a vontade permanece. Comemos uma pizza gigante, mas nunca eliminamos nossa condição de saciar a fome. Na filosofia de Schopenhauer, cotidianamente, experimentamos vírgulas, e não pontos finais. Agora imagine como seriam as coisas se nada no mundo acabasse. Para compreendermos a importância das coisas findarem, imaginemos o outro lado do espectro: o que não há fim.

O fim como retorno

Suponha que um dia um demônio lhe apareça e diga que você irá viver a mesma vida para sempre, de forma que todos os acontecimentos, ínfimos ou gigantescos, se repetiriam como numa ampulheta que sempre é virada novamente! Você se desesperaria com esse pensamento, ou viveria algum momento digno de ser vivido incontáveis vezes? Ficaria inerte diante de cada acontecimento, ou se perguntaria quantas vezes gostaria ainda de vivê-lo? Friedrich Nietzsche, outro filósofo alemão do século XIX, introduz o


pensamento conhecido como Eterno Retorno. “É uma hipótese, para falar que se a vida não tivesse fim, a maioria das pessoas não suportaria, de tão medíocre. Uma crítica contra a pequenez e autonegação existencial durante a vida”, relata Magno Simões, especialista em Filosofia Clínica.”Interessante notar também, pelo viés da Filosofia Clínica, que o modo de vida de algumas pessoas que Nietzsche critica não deixa de ser legítimo e válido. Transportando isso para a filosofia, sabemos que para algumas pessoas o fim é algo distante, utópico e até alvo de busca”, complementa. Por esse viés, Nietzsche responde ao pessimismo de Schopenhauer dizendo que a afirmação ou negação à vida seria de responsabilidade da pessoa. Você seria responsável pelo próprio sofrimento, pela própria maneira de lidar com os ciclos que o cercam. Durante toda a nossa existência, nos deparamos com fins o tempo todo. Alguns mais importantes, outros banais e cotidianos, mas sempre presentes.

Os fins da vida

A psicóloga Alessandra Bombonato passou por isso ao ler toda a saga de Harry Potter. Buscando sugestões de leitura, um amigo sugeriu que ela lesse a história do jovem bruxo. A princípio, Alessandra não gostou muito da ideia por querer um “livro de verdade”. Mas depois de ler o primeiro das sete obras, Harry Potter e a Pedra Filosofal, começou a se interessar pelo modo como a autora J.K Howling escrevia. E leu todos os livros até o fim. Duas vezes. “Foi uma moda que deixou muita saudade, dá uma sensação de vazio, a gente fica

esperando o próximo. Já li outras coleções e terminar algumas delas foi uma benção. Assim como na vida, há algumas coisas que, quando terminam, trazem mais conforto do que se ficassem pra sempre. Outras deixam essa vontade de mais, essa saudade que HP deixou”, diz a psicóloga. Lorena Medeiros é outro exemplo. Em dezembro passado, formou-se em farmácia pela Univix, em Vitória, no Espírito Santo e, para ela, encarar o mercado de trabalho após quatro anos de muitas noites mal dormidas, trabalhos e provas, trouxe o medo. “Depois de formada, me vi em meio a uma entrevista, rodeada de pessoas experientes, com currículos extensos. Encontrei-me sem direção e insegura. Hoje, a ficha já caiu. A gente tem que saber lidar com o fim de uma etapa para começar outra, e é isto que estou fazendo agora”, afirma. Mesmo que não estivessem tão preparadas ao ler a primeira página de Harry Potter ou frequentar a primeira aula, Alessandra e Lorena já sabiam que o fim seria inevitável. Só que nem sempre dá pra saber e se preparar. A morte, talvez, seja o mais temido dos fins e sempre um assunto nebuloso. Quando alguém morre é o fim da vida, ou talvez um novo começo. O que dá pra ter certeza é que, como diz o ditado, “para morrer basta estar vivo”. Guimarães Rosa já dizia que um homem só prova que viveu quando morre. Isto é, quando uma coisa acaba é que nos damos conta de sua efemeridade e, portanto, existência. Mas se a morte é tão natural quanto a vida, por que causa tanta dor e sofrimento nas pessoas? Freud explica. Para a psicanálise, uma pessoa querida pode ser considerada um objeto de prazer

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para o qual voltamos energia psíquica. Estamos direcionados para aquele objeto na tentativa de recriar um ambiente prazeroso que remeta à primeira relação de amor entre a criança e a figura materna, a célula narcísica. Quanto maior o investimento de energia psíquica, mais difícil será o processo de luto. Segundo a psicanalista Rafaela Vasconcelos, o luto tem fases e algumas pessoas têm maior facilidade de lidar com ele, outras, menos. “Um caminho saudável é voltar a energia despendida com esse objeto de desejo a outras coisas. Assim dá-se início à aprendizagem”, afirma. Sejam pontos finais cotidianos, vírgulas ou reticências, sabemos que tudo possui o seu prazo de validade. “Todo o fim nos lembra o nosso próprio fim”, aponta Rafaela. De acordo com ela, a morte pode ser encarada com várias nuances: para alguns, ela é a saída de problemas e é desejada, para outros ela é motivo de medo, de pavor. Algumas pessoas até precisam se jogar ao risco de morte para sentir a vida. A morte é o fim que ainda não conhecemos e, ao mesmo tempo, a única certeza. Não importa se você é rico, pobre, negro ou branco, um mero desconhecido ou a Carmen Miranda. Todos nós teremos o mesmo fim. A cantora pode até ter os pés e mãos gravados para sempre na Calçada da Fama em Hollywood. Canções, como essa de Carmen, que você leu no início da matéria, também foram imortalizadas. Mas seu corpo descansa em paz desde 1955. Em 2012, passamos por mais um fim do mundo. Algum dia, cada um de nós chegará ao próprio fim. Até lá, lidaremos, diariamente, com diversas coisas que uma hora precisam acabar. O ponto final desse texto é um exemplo disso.

N˜ao

acabou!

1806 Galinha Profeta

Não é nenhuma novidade que pessoas afirmem saber a data exata para o fim do mundo, mas em Leeds, na Inglaterra, a “profeta” da vez foi uma galinha. Assim disse um morador da cidade ao afirmar que ela botava ovos com a frase “Cristo está chegando”. Você pode até achar isso bizarro (e realmente é), mas teve gente que levou isso a sério. Cometa Halley

Em 1881, um astrônomo descobriu que as caudas de cometas eram compostas por um gás mortal conhecido como cianeto. Isso não seria um problema, não fosse a descoberta de que o cometa Halley passaria pela Terra em 1910. O pânico de ser atingido por um gás mortal se espalhou pelo planeta após uma notícia do jornal The New York Times. Bug do Milenio

Programas de computadores da época abreviavam o ano. Na virada do milênio, o ano “99” passaria a ser “00”. Isso seria interpretado como o ano 1900 e não 2000. Esse erro de leitura causaria uma grande pane mundo afora e comprometeria o funcionamento de diversos setores, inclusive usinas nucleares, podendo gerar grandes catástrofes.

Arte sobre imagens de dominío público

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E aí? A Curinga buscou depoimentos de pessoas de diferentes nacionalidades para saber como elas lidam com a morte e como é o ritual em seus países.

Amer Bukhari– Arábia Saudita: “A morte em si é muito triste, mas os muçulmanos acreditam que, depois da morte, vão se encontrar com as pessoas que amam no céu. Religiosamente, somos permitidos a praticar o luto por três dias após um enterro.”

Chollada Promnoy – Taiwan: “Nós colocamos a pessoa falecida na

cama e cobrimos todo seu corpo. Colocamos também flores e velas perto dela e um pouco de água em sua mão e dizemos alguma mensagem para ela. Um Buda reza para a pessoa durante três dias e no último dia cremamos o corpo e jogamos as cinzas em lugares bonitos, como o mar, montanhas e lagos.”

Lidia Blandolino – Itália: “No sul da Itália, quando alguém mor-

re, as pessoas sofrem muito, sobretudo se é alguém jovem. No ritual, veste-se o morto e deixa-se o sobre sua cama até o funeral. As pessoas vão à casa dele para estar com a família e a casa fica aberta toda a noite.”

Carol Young – Estados Unidos: “Nós visitamos a família e a pessoa falecida em sua casa, levamos comida, doces como torta de maçã e também refeições completas. Depois acompanhamos o funeral até a igreja e o cemitério. Sempre mandamos cartões e flores.”

E aí? Como você lida com o fim da vida? Entre na nossa webpage e deixe seu depoimento também. Acesse jornalismo.ufop.br/curinga

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ZOOM

A casinha e o casarão

Pequenos detalhes de uma cidade histórica

Texto: Leonardo Alves Edição Gráfica: Ricardo Maia

Fotos: Leonardo Alves

Procura-se um ser ou objeto, um bicho escondido na natureza, uma letra perdida na esquina, um fragmento de poesia no muro, um rastro de humanidade pelas ruas históricas. Revela-se no olho, no espelho ou no reflexo, pausado, observado sem pressa. O Zoom é curioso, fotográfico, e busca en-

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contrar fragmento de uma cidade construída sobre elementos peculiares quase sempre despercebidos. Afinal, que coisas estão ao nosso redor e formam o meu espaço e a minha história? Este é o convite: descubra outro mundo dentro do seu, quase invisível, mas plenamente real.


Curinga online

Agora o site da Revista Curinga traz conteúdos exclusivos de maneira leve e interativa, como vídeos, textos, infográficos e testes. O site também passou por uma mudança estrutural, em sintonia com a nova identidade da revista. Confira algumas novidades da edição online:

FOTO: GREIZA TAVARES

Ensaio fotográfico “Uma vontade diferente”. Por Greiza Tavares

FOTO: jOÃO FELIPE LOLLI

Entrevista com o mais jovem vereador marianense. Por Yasmini Gomes

FOTO: ANDERSON MEDEIROS

Making Off da Curinga por Kleiton Borges e Flávia Pupo E muito mais!

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