Revista Curinga Ed.10

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Revista Laborat贸rio | Jornalismo | UFOP

Maio de 2014 | Ano III

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Expediente Curinga é uma publicação da disciplina Laboratório Impresso II. Revista produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Ufop. Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA). Departamento de Ciências Sociais, Jornalismo e Serviço Social (DECSO). Universidade Federal de Ouro Preto.

Professores Responsáveis Frederico Tavares - 11311/MG (Reportagem) Lucília Borges (Planejamento Visual) Ana Carolina Lima Santos (Fotografia)

Redatores

Ana Clara Castro, Ana Luisa Reis, Caroline Brito, Caroline Gomes, Carol Lourenço, Daniela Karine, Flavia Silva, Geovani Barbosa, Gisela Cardoso, Isadora Ribeiro, João Gabriel Nani, Júlia Cunha, Rosi Silveira

Diagramadores

Dayane Barreto, Fernanda Mafia, Isabella Madureira, Lucas Machado, Mayra Costa, Maysa Alves, Maria Fernanda Pulici, Nathalia Souza, Pedro Carvalho, Thiago Huszar, Viviane Ferreira

Fotógrafos

Editor geral Cristiano Gomes Subeditora Bruna Fontes Editor de Arte Gabriel Koritzky Subeditora de Arte Bruna Lapa Editor de Fotografia Filipe Monteiro Subeditor de Fotografia Osmar Lopes Editora de Multimídia Laura Vasconcelos

Bárbara Monteiro, Carol Lourenço, Dalila Caetano, Danielle Diehl, Hiago Maia, Kênia Marcília, Marcos Resende, Pablo Silva , Paula Bamberg, Rosana Maria, Thiago Novais

Monitora: Tamires Duarte

Editorial O mundo que habita o mundo Habitar. Essa é a palavra chave que rege a 10ª edição da Revista Curinga. Muito se foi pensado sobre este termo, para que chegássemos a uma nova linha editorial, capaz de reunir experiências interiores e exteriores ao mundo. Do nascimento do projeto até a sua concretização, muitos desafios foram enfrentados. No começo, ideais, no meio, dúvidas, e no fim… É assim! Sob a luz da experimentação, a Curinga apresenta duas grandes e expressivas editorias: Eu no mundo e O mundo em mim. Essa relação dicotômica possibilita um outro olhar, mais reflexivo, sobre assuntos pertinentes, sem deixar de questionar valores, conceitos e o próprio fazer jornalístico. Situada em uma linha tênue, que separa estes dois modos de habitar o mundo, existe uma Travessia, onde é possível encontrar um ponto de equilíbrio, tecendo um elo significante entre as matérias. Habitar implica, então, em uma relação complexa entre catalisar experiências intrínsecas ao próprio existir, e reagir àquilo o que o mundo oferece, de forma cíclica. Esta é a fórmula proposta para as diferentes temáticas contidas nesta edição. No vai e vem de ideias, os ciclos se renovam, a história se mantém no presente, as gerações se transformam, deixando sempre algumas marcas. Influências passam a surgir, crenças a se implantar. Benefícios e malefícios se mesclam, abrindo novos caminhos àqueles que desbravam terras desconhecidas. A solidão pode ser transformada em alegria, bem como a vida, em morte. A partir desta perspectiva - entre a ação e a reação, o oposto e o complementar, a introspecção e a catalisação de experiências -; convidamos você a descobrir novas nuances acerca do espaço no qual habitamos. Acreditando nas indagações como forma de movimentação global e mais do que isso, de instigação, lançamos: como você habita o mundo? E como ele se reflete em você? Cristiano Gomes Bruna Fontes

Cartas d

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Agradecimentos especiais a Felipe Augusto Passos Macedo, Catarina Barbosa, Juçara Brittes e a portaria do ICSA. Endereço: Rua do Catete, 166 - Centro 35420-000, Mariana - MG Maio/2014

Leitor

Para com entar as matérias ou sugeri r pautas p ara a nos sa próxima edição, envie e-m revistacu ail para ringa@ic sa. ufop.br


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Sumário

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De salto alto


Edição Especial

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Desafio 1:

Desafio 2:

Encontre dez referências ao número 10 na capa (sem contar as cartas)

Encontre dez tsurus coloridos no resto da revista. (5 verdes e 5 roxos)


n eu o u m ndo


Identidade

Eu quero uma pra viver

De salto alto Dizem que a mulher é um sexo frágil. Mas que mentira absurda! Atleta aos 41 anos, Marinalva é exemplo de garra e perserverança

Texto: Caroline Gomes Fotos: Kênia Marcília Arte: Nathalia Souza


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Antes tarde do que nunca! Resolveu ser

Nunca é tarde para você

atleta, aos 39 do segundo tempo. Hoje, com 41 anos, relata com orgulho como construiu sua carreira e esboça a felicidade que sente na realização de um sonho. Marinalva Maria de Brito é o exemplo de uma virginiana persistente que batalha pelo que quer. Nasceu em Pernambuco, numa cidadezinha chamada Moreno. Ao longo dos anos, assumiu vários papéis, dentre eles como mãe. Ouropretana de coração, se tornou atleta profissional de heptatlo, conciliando com o trabalho no setor de informática da Câmara Municipal de Ouro Preto. Desde criança sempre gostou muito de esporte, independente da modalidade. Na adolescência optou pelo futebol, jogava com os meninos. Por muito tempo foi artilheira do seu time e ganhou vários campeonatos da cidade. Sofreu com o bullying, com o preconceito que as pessoas tinham por não entender por que uma mulher gostava de chutar bola. E se nos dias atuais ainda convivemos com esse tipo de preconceito, há trinta anos as coisas eram bem piores. Foi assim que o futebol deixou de ser uma prioridade para Marinalva. Resolveu estudar. Cursou Informática Industrial no antigo CEFET de Ouro Preto, atual IFMG. Porém, sua vontade de praticar esportes não havia desaparecido. Marinalva dispensava as classes sem pensar duas vezes quando o assunto era vôlei, basquete ou qualquer outro esporte, exibindo no brilho dos olhos a paixão e o conforto que aquela prática lhe transmitia. “Eu tinha um sonho de ser atleta. Só que na minha adolescência eu não conseguia, porque eu tinha que estudar e trabalhar”, diz.

aproximar os sonhos da sua realidade, existe uma gama de oportunidades que te permitem fazer isso. Basta Acreditar!

Há dois anos, Marinalva foi surpreendida pela doença do pai, um enfisema pulmonar. Extremamente abalada e sem chão, foi aconselhada por um psicólogo a praticar esportes. Matriculada na academia, seu objetivo inicial era fazer triatlo, participando de treinos para corridas e aulas de natação. Como era tutora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) pelo curso de Administração, conheceu uma aluna, mais tarde sua amiga, Lurdinha. Com anos de experiência, Lurdinha – atleta que representa Ouro Preto nas competições nacionais e internacionais há 13 anos apresentou à Marinalva as corridas de fundo, que são provas acima de cinco mil metros. Como não estava com o preparo físico adequado, em seis meses caiu em overtraining, quando o atleta ultrapassa o seu limite e o corpo não responde mais. “Eu acabei cometendo um erro que muitos atletas cometem muito no começo, que é não saber o limite do seu corpo, achar que correr é fácil, mas não é assim que a coisa funciona”, conta.

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Em 2013 recebeu convite para participar da ABRAM

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Atleta x Preconceito Marinalva iniciou sua vida como competidora profissional do atletismo em abril de 2013, em um campeonato realizado em Ipatinga, onde disputou provas de fundismo. Nessa ocasião, foi contemplada com seis medalhas, resultando em um convite do presidente da Associação Brasileira de Atletismo Máster (ABRAM) para fazer parte da delegação, representando o Brasil em campeonatos internacionais.

Bronze no Campeonato Word Master Games, em Torino, Itália

Mas foi no Peru, no primeiro campeonato que participou junto à seleção brasileira, que descobriu sua vocação atual: o salto. Passou então a competir não mais por corridas de fundo, mas fazendo provas de lançamento de dardos, salto triplo e salto em distância. “Uma mulher de 39 anos, iniciando no atletismo e ainda fazendo modalidades que são técnicas. Então, o cara olha pra você e pensa: ‘essa menina não vai longe, não vai dar conta’”, relata Marinalva sobre quando começou. Hoje, Marinalva treina para o heptatlo, modalidade que inclui o lançamento de dardo, arremesso de peso, corridas com e sem barreiras, salto em altura e à distância. E ainda, como já treinava para o salto triplo, decidiu continuar. Por participar de oito provas nos campeonatos, Marinalva se tornou alvo de piadinhas entre os próprios competidores, que segundo ela perdura até os dias atuais. E mais uma vez, o preconceito entrava em ação. Histórias que marcavam a trajetória de Marinalva como atleta, envolviam o preconceito. Havia mais alguma? Ela sorriu com o canto da boca. Era mais um relato. Em dezembro de 2013, foi a Montevidéu inscrita para competir em nove provas. Por estar começando, Marinalva opta por se inscrever em várias provas, para depois decidir se faria todas ou não. Surpreendida pelo “boicote” do campeonato, países considerados mais fortes, como Argentina, Chile e Peru não participaram, deixando a competição mais tranquila e com adversários mais despreparados. Atletas do Brasil, Uruguai e Paraguai concorriam entre si. Como a concorrência estava menor, Marinalva resolveu competir em todas as provas, conquistando onze medalhas, superando quarenta atletas brasileiros que a acompanhavam no ônibus. Consequentemente, mais uma vez foi caçoada e questionava: “Poxa, será que eu não posso me inscrever em várias provas porque eu vou ser motivo de piada dos rapazes?”, conta. Recentemente, o mesmo aconteceu na Argentina.


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Em busca de quebrar recordes, pular barreiras e saltar preconceitos, Marinalva é um exemplo de garra, força de vontade e perseverança.

Falta divulgação e sobra preconceito “Dizem que a mulher é um sexo frágil, mas que mentira absurda!”, buscando apoio nas palavras de Erasmo Carlos, procuramos entender o porquê ainda é motivo de conversas paralelas e cochichos ver uma mulher praticando um esporte. Qual o critério para a escolha do “isso é masculino e isso é feminino” ou porque “o rosa é de menina e o azul é de menino”? O preconceito não vem apenas da plateia, mas dos colegas, técnicos e responsáveis pelo atletismo. Isso é o que mais preocupa. Marinalva conta que muitas mulheres não conseguem continuar ou desistem. Já viu muitas passarem pela Associação Marianense de Atletismo, e continua sendo a única. Hoje, treina todos os dias da semana, três horas por dia. Com adolescentes. Com homens. Marinalva é exemplo de superação, persistência e força de vontade em acreditar e ir em busca do que deseja, ir em busca de alcançar seu objetivo principal: ser uma atleta profissional. “Eu não deixo o preconceito me abalar não, porque eu quero provar para as pessoas que você pode realizar seu sonho em qualquer momento da sua vida”. Os patrocinadores também, não apostam em mulheres e não acreditam que uma mulher pode conquistar mais prêmios que um homem no esporte. No caso de Marinalva, o preconceito era duplo. Uma mulher de 41 anos. Há um ano na seleção master, Marinalva ainda não conseguiu patrocínio. Para ela, até que a mulher consiga adquirir credibilidade para ganhar seu espaço no esporte, isso leva tempo e muitas mulheres desistem nesse período. “Quando você está nessa, é porque você gosta realmente. Não pode esperar nenhum benefício de troca, porque não vai ter”. Mesmo diante de todas as dificuldades, uma meta: quebrar o recorde nas modalidades que disputa e trazer ouro para o Brasil no Mundial da França, em 2015. Na maioria de suas viagens, Marinalva foi com seus próprios recursos, priorizando os campeonatos internacionais. Peru, Itália, Uruguai, Argentina e Paraguai são países que conheceram a garra de Marinalva. Pretende ainda esse ano, competir na Costa Rica, Colômbia e Montevidéu. Conquistas. Muitos prêmios. Aproximadamente 70 medalhas. Marinalva foi em direção a uma sacola que carregava suas preciosidades. Com as medalhas estendidas em seu colo,

apresentou-me uma a uma. Sua maior paixão: a de bronze conquistada em Torino, na Itália, em 2013. A World Masters Games (WMG), é uma das competições mais significativas no mundo do esporte, havia muitas mulheres na disputa e com diferença de cinco horas para o Brasil, o fuso horário quebrou o ritmo em que Marinalva treinava. Com a desistência de algumas mulheres e passando por cima dos conflitos com o tempo, Marinalva conquistou a medalha, que mesmo sendo de bronze, para ela é um ouro, dos mais valiosos. A nossa conversa continuava e a cada palavra de Marinalva, eu fazia uma viagem entre saltos e arremessos. Era impossível não se encantar com a força que aquela mulher teve e a disposição em treinar, praticar, conquistar e sempre querer mais. Encerrando o nosso papo, suas últimas palavras me fizeram sentir viva e acreditando muito mais nos meus objetivos. “Nunca é tarde para você aproximar os sonhos da sua realidade, existe uma gama de oportunidades que te permitem fazer isso. Basta acreditar!”. Marinalva me acompanhou até a porta e se despediu com um abraço. E mais uma vez, pegando gancho nas palavras de Erasmo Carlos, quem disse que a mulher é um sexo frágil? Pude sentir naquele abraço a garra de uma mulher que pretende continuar saltando alto para conquistar o que deseja. Afinal, como ela diz: “Antes tarde do que nunca”.

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70 medalhas conquistadas

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Comum

Analisando essa cadeia

Geração turbo

década Texto: Júlia Mara Cunha Fotos: Hiago Maia Arte: Fernanda Mafia Ilustração: Pedro Pessoa

Ascensão profissional dos jovens de 25 a 35 anos reconfigura as relações no mercado de trabalho

Ser meu próprio chefe, fazer o que gosto, fazer meus horários, trabalhar de pijamas, criar algo inovador, ser bem sucedido mesmo com pouco tempo de formado, ser destaque e referência em uma profissão; esses são alguns dos anseios dos jovens de hoje que possuem um perfil empreendedor e estão dispostos a investir em ideias inovadoras e abrir seu próprio negócio para que alcancem sucesso, independência e liberdade. “São [jovens] considerados pre-

coces, desenvolvendo atividades inovadoras ainda na adolescência, geralmente algo voltado para o que gostam de fazer como hobby. Essa geração é pioneira em negócios tecnológicos, muitos tendem a empreender em algo voltado para internet, preocupando em impactar na vida das pessoas, com ideias que facilitarão a vida da população”, explica o assistente do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE MG), Felipe Tostes.


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Com o avanço da tecno-

Fernando Kennedy, 26 anos, geDesafios para a geração Mesmo com toda paixão, teimosia e disponibilidade de fracasso esse jovem empreendedor tem dificuldade de manter seus negócios devido à falta de maturidade, concentração, organização e foco e, tendem a ter certa dificuldade de gerenciar a empresa, uma vez que não tem muita paciência para processos longos. A consultora da empresa Luzes Consultoria em Processos Organizacionais Paula Laiterin comenta que esse fracasso é devido à falta de desenvolvimento da inteligência emocional. “Os bons empreendedores são humildes para reconhecerem que não podem fazer tudo sozinho, daí a importância da equipe e a compreensão dos perfis que se completam”, aponta Laiterin. O dentista, Rodrigo Mendes Dutra, 27 anos, formado há cinco anos e há dois anos e meio abriu seu consultório em Mariana (MG), conta que gerenciar seu próprio empreendimento requer aprender a administrar, a conhecer o mercado, saber o que o paciente quer e a lidar com os funcionários. “Acaba sendo uma prática além do que aprendemos na universidade”, explica Dutra. Essa geração ainda está em formação e pode vir a mudar todo o mercado de trabalho e a forma de criar e gerenciar novos empreendimentos, principalmente na área de tecnologia. “Vejo possibilidades, sejam elas no âmbito da grade curricular das escolas, faculdade, universidades; sejam elas no redesenho estratégico das organizações de grande médio ou pequeno porte”, acredita Laiterin.

rente do banco HSBC, em Ouro Preto (MG) é um representante dessa geração. É jovem e ocupa um cargo de grande responsabilidade em uma agência bancária. “Minha primeira experiência no mercado de trabalho foi aos 17 anos, em uma agência de turismo. Aos 18, ingressei na faculdade de Administração de Empresas e consegui um emprego no banco Bradesco, no qual realizava atendimentos aos clientes, abertura de contas e fui auxiliar do gerente, chegando, em algumas situações, a ocupar o cargo dele. Depois de três anos e meio na agência, fui convidado, aos 22 anos, a assumir a gerência do Banco HSBC”. No final de 2013, junto com sua mãe, Luciene Kennedy, investiu na franquia da loja de chocolates Cacau Show. “Está sendo uma experiência muito positiva e pretendo investir mais em negócios dessa natureza”. Para Fernando, é necessário aproveitar as oportunidades que chegam e sempre estar atualizado para que se possa ter sucesso na carreira e realização pessoal. “Como já realizo consultoria de finanças para alguns empresários estou cursando MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria para poder atender melhor esses clientes e gerenciar melhor minha franquia e os negócios nos quais pretendendo investir em breve”.

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logia, a sociedade teve que preparar melhor os indivíduos não somente para adentrar ao mercado de trabalho, por meio de cursos de empreendedorismo, em especial iniciado na década de 70, na América do Norte, mas também para melhor se compreender como profissional bem-sucedido de um mercado adverso. “Diferentemente das gerações anteriores, caracterizadas pela formação sólida em uma determinada área de conhecimento, esse jovem tem formação multidisciplinar facilitada e induzida pelas tendências e informações disponíveis na internet”, aponta o coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo da Universidade Federal de Ouro Preto, Rodrigo Bianchi. O jovem dessa geração tende a criar e gerenciar seu próprio negócio, uma vez que seus anseios não foram e nem serão trabalhar e fazer carreira em uma única empresa durante toda a vida ou servir a um empregador, devido ao seu comportamento. “São workaholics (viciados em trabalho), desafiadores e ávidos a atrelar oportunidades a negócios de impacto social e/ou ambiental. Sem dúvida, a geração é marcada por características e opiniões próprias e está determinando negócios inovadores e de alto impacto”, explica Bianchi. Mesmo que ainda não seja tão fácil criar uma empresa e empreender em algo próprio a criadora do site FazINOVA, , Bel Pesce, aponta que começar a testar uma ideia nunca foi tão acessível e tão fácil de dar o primeiro passo. “Você não precisa ter investimentos em áreas de destaque, se acredita que algo é muito impactante e que vale a pena colocar sua vida nesse negocio é necessário que se estude o mercado, o que já existe, o que realmente quer fazer e dê o primeiro passo”.


Sensação

Entre o corpo e a mente

OS PALHAÇOS Doutores

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A Pílula do RISO

RESPEITÁAAVEL LEITOR!

DIRETAMENTE DE UM PROJETO DE EXTENSÃO DA UFOP , O GRUPO CIA DA GENTE CHEGOU AO HOSPITAL SANTA CASA DE OURO PRETO PARA DISTRIBUIR DOSES DE DIVERSãO, ALEGRIA E GARGALHADAS...

Dayane Barretos Arte Gráfica

Danielle Diehl Fotografia

Daniela Karine Texto


...TODA SEMANA, OS PALHAÇOS EXPURGO, MORFINA E FIMOSE ANIMAM OS CORREDORES DA PEDIATRIA, MOSTRANDO QUE RIR É O MELHOR REMÉDIO...

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Enquanto isso...

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SMA

CK!

ATÉ A PRÓXIMA... CURINGA | EDIÇÃO 10

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Danielle Diehl

Alternativa

Passando o chapéu

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Museu

que não tinha

teto

Texto: Daniela Karine Fotos: Danielle Diehl e Flávia Silva Arte: Dayane Barretos


Subir e descer as ladeiras de Ouro Preto é o que mais gosto de fazer nos momentos de lazer. Nasci em Mariana, cidade vizinha, aprendi a admirar a beleza dos conjuntos arquitetônicos coloniais das duas cidades. Ouro Preto é a que mais me fascina pela diversidade cultural e desperta meu interesse por ações de preservação deste belo patrimônio. Foi assim que conheci o Ecomuseu Serra de Ouro Preto, um museu comunitário, que preserva o patrimônio, estimulando a relação entre a cidade monumento histórico e o cotidiano dos moradores. É um projeto, coordenado por Yara Mattos, museóloga e professora da Universidade Federal de Ouro Preto, que engloba as comunidades dos Morros São Sebastião, Santana, da Queimada e São João. O trabalho foi iniciado em 2005. Decido então visitar um dos morros, o São Sebastião. Uma amiga, frequentadora assídua do bairro, me ensinou o caminho até lá. Teria que subir uma rua que fica ao lado do Observatório da Escola de Minas, segundo ela. “E então é só subir reto”, completou. Sigo rumo à viela, cada vez mais estreita. Subida forte, calçamento de pedras irregulares. Pelo caminho, tenho recordações das aulas de história. Lembro-me das explicações da professora da época de ensino fundamental. Era um dos trajetos feitos pelos tropeiros nos tempos de antigamente. Durante a subida reflito sobre a atividade dos desbravadores desta região, que fizeram surgir cidades através da condução de suas tropas. Minha professora dizia que os tropeiros não eram apenas os homens de negócio, que comercializa-

Dona Nida abre as portas de seu bar para abrigar as tradições, memórias e trabalhos da comunidade do Morro São Sebastião.

Tradições, como o ofício dos tropeiros são resgatadas pela comunidade, através do Ecomuseu.

vam mercadorias, mas importantes veiculadores de notícias e ideias, numa época sem estradas. Chego ao topo do Morro. O dia estava chuvoso, mas não ofuscou a beleza de Ouro Preto. Bem em frente à capela da praça, um bar. O Bar da Nida, local cedido por ela para funcionar como sede do Ecomuseu. Bati palmas. Um rapaz, Gustavo, filho de Nida, me recebeu e pedi para conhecer o local. Ele me disse que a mãe é muito envolvida com o projeto, por isto empresta o bar para a realização de atividades do museu. O espaço mais parecia uma casa de tão aconchegante. Na entrada, o resgate de um elemento tradicional, típico da época colonial: paredes de pau a pique. À direita, estandartes com fotos antigas que fizeram parte de uma mostra organizada pela comunidade. A exposição, uma das atividades do Ecomuseu, retratava o cotidiano de moradores e visitantes do Morro São Sebastião. Começo a perceber que museu era aquele. Em busca de mais informações, sigo para a casa da Nida. Bárbara, também filha dela, gentilmente me recebeu, pois a mãe não estava em casa no momento. Foi ela quem esclareceu minhas dúvidas. “O Ecomuseu somos todos, é a comunidade e tudo que existiu e existe acerca dela”, relatou. Este museu não possui paredes. Foge ao contexto clássico. Tudo faz parte do museu comunitário: as casas, a capela, a ruela de pedras irregulares, a paisagem. Os costumes, as crenças, a linguagem, os ofícios, a vista de cima do morro, os tropeiros das minhas lembranças das aulas de história... Perguntei à Bárbara sobre como a comunidade contribui para as atividades do Ecomuseu. Ela cita, então, a “Roda de Lembranças”, que reuniu no bar, os mais antigos moradores do bairro para uma conversa informal, momento em que compartilharam seus conhecimentos, sentimentos e experiências adquiridos ao longo de toda uma vida. “Temos tudo registrado através de fotos e vídeos”, destacou. Enquanto ela falava, eu refletia como foi interessante e rico aquele momento, uma interação entre gerações. O Ecomuseu é a própria cidade de Ouro Preto, as comunidades e sua memória viva. Um museu a céu aberto, composto por um belo acervo arquitetônico, natural e cultural, cuja riqueza maior é a beleza no jeito simples de ser do seu povo.

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Danielle Diehl

Flávia Silva


Habitar

Ação e re-ação

Liberdade à flor da pele

Texto: Ana Luísa Reis Foto: Dalilia Caetano Arte: Viviane Ferreira

Desvendando algumas intimidades e paradigmas sociais da mulher


As mulheres estão adquirindo cada vez mais

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Liberdade conscientizada Visto que o índice de doenças sexuais, principalmente o HPV, vem aumentado significativamente no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foi lançada em janeiro de 2014 a campanha de vacinação contra o vírus. Causada pelo Papilomavírus humano, existem mais de 100 tipos de HPV, sendo que 40 deles podem ser transmitidos através do contato sexual. Alguns tipos, podem causar câncer do colo do útero, câncer na garganta e no reto, além de verrugas genitais ou em outras partes do corpo. Haja vista que a doença atinge principalmente as mulheres (por possuírem, em relação aos homens, baixa resistência às infecções, devido a alterações de imunidade em cada ciclo menstrual), e que a prevenção pode ser mais eficaz em virgens, foi decidido pelo Governo Federal, que a faixa etária da vacina seriam jovens de 11 a 13 anos. “As meninas estão começando a vida sexual cada vez mais cedo, por isso foi escolhida essa faixa etária. A vacina em mulheres que já iniciaram esse processo não surtiria o mesmo efeito”, explica a enfermeira Michele. Apesar das controvérsias, principalmente religiosas, que defendem que a faixa etária estaria estimulando pré-adolescentes a iniciarem sua vida sexual, no primeiro mês de 2014 mais de 3,4 milhões de meninas já foram imunizadas contra o vírus HPV, de acordo com o Ministério da Saúde. O número representa 83% da meta, que é vacinar 4,1 milhões de adolescentes.

O corpo como tabu Hoje, em pleno século XXI, podemos notar um quadro ambíguo na sociedade. Enquanto algumas mulheres falam e tratam o sexo naturalmente, outras ainda não conseguem lidar abertamente com questões sexuais. O psicólogo da Universidade Federal de Ouro Preto, Leandro Andrade, ressalta que a sexualidade não extrapola, simplesmente a questão carnal, mas toda uma cultura, marcada por comportamentos e atitudes. “Se a questão da sexualidade não for bem refletida, acaba por comprometer toda a saúde psíquica da mulher, afinal de contas, o simples fato de inaugurar um novo espaço de vivenciar seu corpo, não garantirá formas de enfrentamento marcadas por uma cultura que se diz não machista, mas que ainda coloca o homem como o possuidor de direitos de vivenciarem mais abertamente suas questões sexuais”, destaca o psicólogo. A sexualidade feminina está relacionada com a saúde do próprio corpo e a saúde psicológica, que se não estiverem interligadas, não conseguem obter nenhum tipo de prazer.

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espaço na sociedade moderna, mas para que direitos fossem alcançados a classe feminina teve que passar por diversas lutas sociais. A primeira revolução e a mais importante, no que se refere a liberdade sexual feminina, ocorreu no início na década de 1960.Visto que, juntas poderiam conquistar seus direitos, as feministas dessa época lutavam por igualdades culturais e políticas, e encorajavam as mulheres a compreenderem aspectos de suas vidas íntimas. Outro movimento importante que integrou e integra a sociedade atual, é a chamada Marcha das Vadias. Criado em 2011 em Toronto, no Canadá, mulheres vestidas com roupas consideradas provocantes, salto alto ou apenas lingeries tinham como objetivo a luta contra a violência sexual. A partir do primeiro protesto, esse movimento tomou conta de diversos países, inclusive o Brasil que até hoje apresenta manifestações. Entretanto, mesmo com o passar dos anos e após os avanços conquistados pelas classes feministas, podemos notar que a mulher ainda é referência nas obrigações domésticas, enquanto os homens, são responsáveis pelo sustento da casa. Porém, nada foi em vão. No cenário sexual as mulheres conseguiram diversas melhorias, diante do fato que antes das lutas femininas, o prazer sexual era destinado apenas aos homens, já as mulheres eram tidas como reprodutoras, servindo apenas para dar à luz. Hoje, podemos notar uma série de benefícios destinados a liberdade sexual feminina. São anticoncepcionais e métodos contraceptivos que dão à elas o poder de controlar quando terão uma gravidez, além de vacinas que previnem doenças sexuais. A preocupação com a saúde feminina e o poder de regular quando teria uma gestação, já estava presente nas mentes femininas desde do período da Grécia e Egito antigos. O filósofo Hipócrates de Quíos descobriu que a semente de cenoura selvagem tinha eficácia contraceptiva. Com isso, a medida que os séculos se passaram, as mulheres continuavam com o uso dos contraceptivos naturais, mesmo que restringidas a falar sobre sexo. “A questão sexual era reprimida na nossa época. Para evitar a gravidez, nossas avós nos davam chás de ervas naturais antes das relações. Abortos também eram frequentes, mas ninguém podia tocar no assunto”, conta a moradora de Ouro Preto, Efigênia Carabina, de 66 anos. Nos anos 50 com a construção da identidade feminina e pela busca da liberação sexual, foi lançado em 18 de agosto de 1960 o primeiro contraceptivo oral nos Estados Unidos, chamado Enovid-10. O novo método de contracepção significou uma verdadeira revolução. Surgiram vários tipos de pílulas contraceptivas, que por sua vez tinham níveis diferentes de hormônios. No Brasil, o anticoncepcional começou a ser vendido em 1961, invadindo as casas brasileiras até os dias atuais. Segundo a enfermeira Michele Isabel Ferreira Mendes, de 34 anos, a pílula foi

a maior forma de liberdade encontrada pelo sexo feminino. “Hoje a mulher não tem relações apenas para procriação e sim também por prazer”, enfatiza. Apesar dos benefícios, as pílulas geraram paradigmas, uma vez que no atual cenário, as adolescentes não estão se preocupando com as doenças sexualmente transmissíveis. Tendo em vista que existe somente uma vacina que previne algumas doenças sexuais, o índice se torna ainda mais preocupante. “As meninas fazem o uso abusivo de pílulas, se preocupando apenas com uma gravidez indesejada, por isso, percebemos um aumento no número de doenças”, conta a enfermeira. A única vacina que pode prevenir doenças sexuais é a do HPV.


Opinião

Eu devo dizer

Voto e legitimação de poder As disputas partidárias são as características mais evidentes de um ano eleitoral. Todavia, as peculiaridades desse intervalo de tempo, que se repete a cada dois anos, projetam-se em uma mesma direção: o voto. Ainda que desse movimento surja uma ideia de síntese, esse exercício apresenta-se como cerne de discussões arraigadas à evolução política nacional e, no ano em que o movimento das “Diretas Já” completa três décadas, faz-se pertinente pensar na relação entre o votar e a configuração de poder daí advinda. Dos 53 termos iniciados com a letra “v” e disponibilizados no glossário do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 51 são conceituações referentes a voto. Esse recorte compreende basicamente as modalidades de voto que se fizeram e as que ainda se fazem presentes na política brasileira desde 1532. Desse ano data a primeira eleição realizada em território nacional para a escolha do Conselho Municipal de São Vicente, vila fundada pelos portugueses na região do atual estado de São Paulo. Nesse pleito, a modalidade de votação adotada foi a indireta, caracterizada pela escolha de representantes pelo povo, os quais, em seguida, elegem os ocupantes dos cargos oficiais.

A razão principal da adoção do voto obrigatório, em 1932, foi o temor de que uma participação diminuta pudesse tirar a legitimidade do processo Quatrocentos anos depois, em 1932, dois anos após assumir a presidência da República, Getúlio Vargas criou a Justiça Eleitoral, estabeleceu a votação secreta e obrigatória e deu às mulheres o direito do voto. Vale lembrar que nessa época as eleitoras casadas dependiam da autorização do marido e as solteiras ou viúvas deveriam ter renda própria. Essas condições só foram eliminadas há oito décadas, com a Constituição de 1934, que também estabeleceu 18 anos como idade mínima para votar e normatizou a votação “obrigatória” firmada pelo Código Eleitoral de dois anos antes. Entretanto, as mulheres só deixaram de ter o voto como opção facultativa em 1946. As ações de Vargas, contudo, não se restringiram a essas concessões. Em 1937, ele instituiu o Estado Novo, governando ditatorialmente até 1945. Nesse intervalo de oito anos, as eleições livres foram interrompidas, tal como viria a ocorrer 19 anos depois, com a tomada de poder pelos militares. O goverCURINGA | EDIÇÃO 10

Texto: Isadora Ribeiro Foto: Thiago Novais Arte: Maysa Alves

no iniciado com o golpe de 1964 suspendeu as eleições diretas para os cargos de presidente, prefeito, senador e governador. Isso motivou manifestantes a irem às ruas em prol do direito de votar nos candidatos de sua própria escolha, movimento que ficou conhecido como “Diretas Já”. As reivindicações desse movimento, no entanto, só foram acatadas cinco anos depois, em 1989, quando a eleição presidencial pelo voto direto, após 25 anos de embargo, voltou a ser válida. A legitimação de um governo passa, em um sistema democrático, necessariamente pelo voto. Para Luzia Helena de Oliveira, professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), “a razão principal da adoção do voto obrigatório, em 1932, foi o temor de que uma participação diminuta pudesse tirar a legitimidade do processo”. Nesse sentido, foi ilegítimo o governo militar instalado em 1964, pois além de destituir do poder o presidente eleito constitucionalmente, impediu que a população elegesse seus representantes para os cargos mais significativos do poder político nacional. A descrição do percurso histórico do voto no Brasil seria desnecessariamente extensa para mostrar o que os exemplos levantados já fazem: seja pensado enquanto direito, dever ou qualquer outra qualificação, o voto é determinante na configuração das relações de poder político de uma sociedade. A escolha dos próprios representantes, obrigatoriamente ou por opção, é, antes disso, uma manifestação individual com implicações coletivas. Isso, por mais clichê que se apresente, simboliza a necessidade de uma participação refletida do eleitorado.

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s e a Tr i a vs


Ecos de Ch Há 29 anos o último regime militar brasileiro chegava ao fim, alavancado por uma juventude que se opusera bravamente contra a repressão. Era então extinto o pensamento militarista e suas premissas opressivas. Ou não. Não é possível afirmar que o país se livrou das práticas da

Texto: João Gabriel Nani Fotos: Pablo Silva Arte: Pedro Carvalho

violência militar. Linchamentos protagonizados por justiceiros (encorajados por reacionários que, acredite, tem seu lugar na grande mídia) figuram nos cadernos de notícia, participando do dia a dia do brasileiro. Fazer justiça com as próprias mãos é resultado de uma cultura militarista e violenta, bem como de muitas desigualdades sociais que se perpetuam pela autoridade designadas a certas estruturas institucionais carcomidas. De fato, tal estruturação ecoa lógicas e rotinas do último período de governo militar no Brasil. Daí então, como julgar uma população que fora acostumada com a violência no cotidiano? É necessário compreender que a ditadura deixou um legado de desrespeito aos direitos humanos. Desde o tardio empenho às políticas afirmativas até o – ainda – precário resguardo aos direitos básicos do cidadão.


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humbo Segundo o cientista político Edson Teles, autor do livro O que Resta da Ditadura - A exceção brasileira (Boitempo Editorial, 2010), com o não cumprimento dos direitos por meio de políticas sociais que resguardem a integridade do indivíduo se dá “a criação de uma cultura de impunidade em relação às violações contra os direitos humanos. A sociedade brasileira tem certeza de que a violações aos direitos humanos não é apurada, inclusive – ou principalmente – quando é cometida pelo próprio Estado. A tortura política já existia no país há muito tempo, mas a institucionalização dessa prática e depois o avanço para os crimes comuns foram consequência direta da ditadura, porque nunca se apurou essa violação. Então, a tortura migra da política e hoje é aplicada sistematicamente por critério social e econômico.” Como forma de refutar o passado recente do país e dar um passo a frente, ainda que tardio, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, toma a responsabilidade de combater a ditadura do silêncio, propondo uma releitura das atrocidades cometidas pelos militares, e impor maior responsabilidade ao estado no que diz respeito aos abusos contra as liberdades do cidadão.

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Em pesquisa realizada pela antropóloga Kathrin Sicks, que analisou dez países latino-americanos que sofreram com o desrespeito aos direitos humanos durante as décadas de 1960 e 1970, após a implantação de políticas promovedoras de investigações sobre o não respeito aos direitos humanos, o número de violações caiu sensivelmente. Nos países em que, além das apurações, foram instaladas comissões de verdade, as denúncias caíram mais ainda. Mas será que a sociedade brasileira estaria disposta a um processo de rememoração de sua história recente? A professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Marta Regina Maia, que concentra seus estudos na Comissão Nacional da Verdade acredita que “a partir da criação da CNV o período do regime, até então submetido a um ‘desejo de desaparecimento’ por parte da grande mídia tornou-se inevitável”. Para Maia, é possível dizer que houve ampliação das matérias relacionadas à ditadura, mas ainda há muito a ser desvendado. Nesse contexto, pode-se dizer “que os temas que ganharam reverberação nos meios de comunicação foram as investigações sobre as causas das mortes dos expresidentes Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango). As Comissões da Verdade (Nacional e estaduais) investigam as causas das mortes dos ex-presidentes, que se sustentam na hipótese de que elas foram arquitetadas pelo governo militar. Diante dessa hipótese, as Comissões, além da tomada de depoimentos, solicitaram as exumações dos corpos de João Goulart e do motorista que dirigia o veículo de JK na data do acidente automobilístico que o matou.”

Para onde foram nossos heróis? “Maluco, mau e perigoso de se conhecer”. Eram estes os adjetivos que construíram o conceito de anti-herói, idealizado, no início do século XIX, pelo poeta e escritor britânico Lorde Byron. Na história recente do Brasil, seria possível resgatar personagens – não poucos – que se identificariam como a premissa do romancista inglês. No período mais rígido do regime militar, entre 1968 e 1979, foram vastas as “guerrilhas” (leia-se movimentos oposicionistas, greves e protestos) contra as repressões alavancadas pela instauração do AI-5, que suprimira as liberdades individuais dos cidadãos. Os guerrilheiros então assumem a incumbência de confrontar os militares. Surgem então, tal qual taxados pelos discurso oficial, os “anti-heróis nacionais”, jovens com perspectivas revolucionárias, e até esquerdistas, importantes para os movimentos que culminaram, anos depois, no fim do militarismo.


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Mas terminado o período do regime, onde estão nosa juventude da década de 1970, qual enfrentava corajosos heróis ou anti-heróis do passado recente? Nossos samente o regime. No entanto, a juventude de 1970 esheróis estão entre nós, mais precisamente, acima, cometava sob as égides de um governo ditatorial e repressor çando pela própria presidenta Dilma Roussef, alcunhados direitos individuais. Tinha-se ali o descontentamento da de guerrilheira (nomeação que hoje muitos direciotênue atuando como força motora aos jovens para que nam a quem sofreu tortura física e psicológica, ou que conduzissem seu descontentamento até as ruas, onde por tenha sido membro da luta armada). Outro nome é o de passeatas e protesto exerceriam uma participação polítiFranklin Martins, ministro chefe da secretária de comuca de suma importância. E a Juventude de hoje, lutará nicação social da república de 2003 a 2010, e Fernando contra quem? Gabeira, deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro Os tempos mudaram. Há liberdade de expressão, didurante 4 mandatos consecutivos, idealizadores do fatíreito individuais e de ir e vir, possibilidade de ascensão dico sequestro do embaixador norte americano Charles econômica e acesso à informação (ainda que parcialmenBurke Elbrick, no ano 1969. O sequestro culminou na te). De fato, é arriscado estabelecer uma frágil comparatroca do embaixador por 13 presos políticos, que foram ção entre as duas gerações. Mas isto também não quer “agraciados” como asilo político em países predeterminadizer que a juventude contemporânea está isenta do pedos na famosa carta entregue aos militares. cado. Há ausência de grandes causas desmobiliza os moApós o sequestro, em represália, os militares enrivimentos sociais. jeceram ainda mais a prática repressionista. Ao tecer Em maio de 2013 o jogo pareceu mudar. Atípico até uma visão crítica do episódio, Gabeira afirmou ao jornal então, os jovens saem as ruas para protestar inicialmente O Estado de S. Paulo, em setembro de 2009, em tom de contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ôniarrependimento: “Queríamos, com a soltura dos presos, bus. Com o passar dos dias, o movimento ganhou espaço recompor um pouco os grupos de e se alastrou por todo o país, não esquerda que estavam quase esfasó obstante ao aumento das pascelados e ditadura se aproveitou sagens mas a diversas outras deA ditadura se aproveitou do sequestro para aumentar a remandas, numa espécie de coro dos do sequestro para aumentar a repressão, pressão, principalmente sobre os descontentes. Mas o coro esbarrou grupos pacíficos, que pretendiam num Estado não preparado para o principalmente sobre os grupos combater o regime de outra fordia que os jovens sairiam as ruas. pacíficos. ma. Na verdade, pode ter signifiE sem preparo, conflito e a violêncado o início do fim da oposição cia aconteceram. Quando o quaarmada ou não.” drinista Alan Moore parafraseia a Entre os 13 anistiados estava também o ex-deputado anarquista Emma Goldman e diz: “Não há revolução sem e ex-ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da Redança”, é fato. E dança com a polícia militar (eco vivo pública no governo primeiro governo do presidente Luís da ditadura) é violência. A violência que deslegitimou Inácio Lula da Silva de 2002 a 2005, José Dirceu. Miliprecocemente a perspectiva de uma revolução, cessada tante do movimento estudantil durante o regime, sendo após um discurso da presidente Dilma, atendendo parícone de uma juventude que batalhou pelo processo de cialmente as reivindicações dos protestantes. redemocratização do país, Dirceu tornou-se um dos prinSegundo Zygmunt Baumman, sociólogo austríaco, a cipais políticos da década de 1990 até o início dos anos “revolução” daquele momento viria a tornar-se efêmera, 2000. No ano de 2012, foi condenado a 10 anos e dois mecessando aos poucos. Grupos isolados continuaram com ses de prisão, pelos crimes de corrupção ativa, formação protestos e mobilizações, mas perderam o apoio da massa de quadrilha, entre outros, relacionados ao episódio que (com exceção das redes sociais, onde a maioria dos usuáficou conhecido como “Mensalão do PT”. rios são “revolucionários”). Aos poucos, como resultado, Dirceu, pode-se dizer, trouxe o “Crepúsculo do ídolos” notou-se que os problemas existentes no cenário naciode Niethszche à tona. Atualizou o quadro de anti-heróis nal não incomodam tanto aos jovens. Estaríamos diante brasileiros com certa mágoa. Outros, como ele, foram de uma juventude que se contenta com o “pouco” que símbolo de uma juventude ativa, militante e disposta a tem, ou que não se mobiliza pelo coletivo? mudar o quadro político do país, sem medo da tortura ou, Para a pesquisadora Marta Maia, que militou no “Dina pior das hipóteses, da morte. Era a honrosa “Juventuretas Já”, “atualmente temos outros valores colocados de Transviada” do Brasil. Hoje, ela é história. na arena social. Parece-me que a emoção e os direitos individuais (tão represados em momentos anteriores) criam mais demandas do que as formas tradicionais de reivindicações mais institucionalizadas. De todo modo, Eu luto contra quem? os movimentos podem criar novos valores e práticas. Só a história poderá nos mostrar como essa potência irá transConformismo e despolitização tornaram-se comuns bordar, por intermédio das causas coletivas ou pela radicomo adjetivos à juventude brasileira. Comumente, tecalização do individualismo auto-centrado.” cem-se tal afirmação ao se comparar a juventude atual


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Jovens no comando! ARENA outra vez! ARENA?

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Partido dos militares, o ARENA foi praticamente banido da política brasileira ao fim da ditadura. Ícone de um período repressor, o partido não tem mais espaço num regime democrático e com liberdades individuais plenas. Mas não é bem assim que alguns pensam. Em 2012 a estudante gaúcha de 23 anos, Cibele Baginsk, resolveu recriar o partido. Quando perguntada sobre a relação do ARENA com o ditadura, Cibele afirma que “Conhecer e valorizar a história do nosso país é importante, mas mais importante ainda é poder a partir desse aprendizado e de tudo o que vemos no presente, projetar e trabalhar pelo futuro, então não nos atemos simplesmente à demagogia de ficar falando do passado”. Ainda segundo a estudante, há grande mobilização do público jovem, e acredita que isso se dá porque “Muitos deles não tem espaço para se manifestar por que são de direita” – afirma. De acordo com o estatuto publicado no Diário Oficial da União, a nova ARENA é um partido que “possui como ideologia o conservadorismo, nacionalismo e tecno-progressismo, tendo para todos os efeitos a posição de direita no espectro político; devendo as correntes e tendências ideológicas ser aprovadas pelo Conselho Ideológico (CI), visando a coerência com as diretrizes partidárias. A ARENA, em respeito a convicções ideológicas de Direita, não coligará com partidos que declaram em seu programa e estatuto a defesa do comunismo, bem como vertentes marxistas”. Em Abril de 2014, o STF rejeitou o pedido de criação do partido.

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Alternativa

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Qu de su al foi a o pi a fam ília q nião uand o voc Me ê dec ciona us pais idiu se to me a is, o rnar cham meu um s uma pai a alári l o u moch c o cha q a! (r dinh . . . S ileira i abe, eiro s u o e s ). El a gen ? esse que ficav es sã te te eu ju padr am p o m ã ntav s o u reocu q p t u rad er t et a, a Ale man pados co eu plane icional. M er um tra radiha, c migo java balh a s eu om o o, u , Mas isso med especialm ma viage não. Tod o de tem m e n e te o e e ia. E o Poré m m, e m todo u sofrer l o lug u sem algum eu pai s es obre ar, o pre f gosto p r ec Bras ui m muit il me onceito. ui o smo ção d dos alem to bem r tem. eceb o me ães. id F u loucu pai, ma oi essa p a lá, eu reocu s até ra. E Você le diz a hoje ele paac nunc s a par sim: “N ha ossa! a!”.

sas can nto n e e v m i o j m m ov o por a perta ndo e mm a vid pelo mu do por u , compost lões” des r as a é d a a i t r a r est uda och iaja Beat sion s. Es Pé na nas costa decidem v as. Impul Geração mados “m ias para m o r a c e a u h n l com ent chi os c s qu eriê e mo as pessoa ento e av onhecido e – hoje, ovas exp Avens c i n m n r i – r e á c a 950 de v e conhe unid a arrisc aa 1 d u tu rei e a ro n s t i d t s ged e a as con busca na décad sociedade o dispost ar ralmente erto g c e p o possuem o , ã i a t m o r s d r u á t e r r s u e e lit grande identifica que drõ sem para o o az ção com ndo os pa que f ssoas obras da literatura o mu e um país o estilo dos d ão das pe l e p , r é músicas i ç d s a n es soa nho e filmes que abor a ate as. chila iajar sozi entes pes da m o d jornai m v das na estrada. Ho .V ma ifer suas uve algo gar u al de vida ias com d a e d p i c e “ que serviu como n r d dicio estes inspiração histó ltura um d , somanA cu stética tra quarto e para você? é , s o a o e n n r a a i a t r 0 o n r . 3 ra ilh Arge s, de queb compart ntureiros m Ou , e çalve e uma na hostel e ane, a v n a n o No meu caso, só a o s G r e i ca pa um id ne arte mesess Lidia pela Euro ente tem ulturas. L nga mo. Porque é mui eça d a b r a i c e i to c s n r a leg i m n al você s l u e a a m C g d a ia ia ver ao vivo o que se atu ica mpre viu nos plást ós duas v gem, ela o com var rsou com strada. a t s i e p t e t a livros. Eu ia para v A A ar de vi , con conta galerias para go da do”. mun e um ano inda tem lemanha ve ao lon ver , por exemplo o d s A s e a , Sa t a lvador Dalí à e b u dão d o o q n n e estas coisas que todo s que retor ais, o você acha que do ao inas Ger do o seu rendizado não tem acesso ou ,M jan ap nunca vai ter Preto stá plane iências e oportunidade. Mas r e e á tam p j bém tudo x e e u q as da história geral, as su como o Muro de e r b o s Berlim. Eu fui lá pa ra ver o muro, e a sensação é que vo cê se vê dentro da história. Isso é alg o incrível!

e sd ário os. v ara lind a p ares uíça, t á j n S g u ê na erg o lu ade voc is a p os sã inha a cid os ais ma que t s u Q ares dez um olh iz e tod em já f pois a cida que é com deilug antes u , r E os ress de sei um , po s nco il! e ifíc u não a, em tado o bra ultura rta da int ve? d n d é é o l c e a i n e p e c v t a a s u a ma is s ss es en o m quel s na e e M r s , e . u a s ão da es êra tod ssa No ósped uei em era um smo, es têm s e p vel! N gosto de ã á a l i h ç q r u e d d e nt az tu que e ma agra as e a ci esus , fi r , me a vez alme f m r d o o t e , a i p t r o e m és u Um e eu r ingué de lá via p ha m o Pret Weim me in i a a ond que n goste ta, h ilazin Our tem da! Eu r v m em is. Eu a abe uma ei co anha e é lin t azu a por e? Era costum Alem haus, a r xa s, sab me a as. N e Bau has! a u n s in ad e e a d c ue pequ ersi dadez q r v i i po des Un tas c a cid e há a or es p ond uito m o s


Texto: Gisela Cardoso Foto: Bรกrbara Monteiro Arte: Mayra Santos Costa

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Sobre as pessoas e realidades que você conheceu em suas viagens, quais são suas impressões, o que você aprendeu com elas?

Ter um hostel em Ouro Preto pode ser considerado como algo influenciado pela sua experiência na estrada? Sim, também. Eu tive uma experiência trabalhando em um hostel em Belo Horizonte por oito meses. Mas eu já tinha viajado - tanto é que foi um dos fatores que me ajudou a conseguir a vaga, pois eu já tinha esta experiência em hostel e viagens, e sabia lidar com pessoas. Porém, ao mesmo tempo eu fico doida para fazer a mala e seguir viagem com as pessoas. E agora, eu já tenho mais condições para viajar. Sempre fiz pequenas viagens de uma ou duas semanas – a mais recente para a Argentina, que foi a mais longa. Mas agora o hostel tem condições de andar sem mim.

u pasto ao se to ibe, jun x e e c n o onta Lidia s com e õ e rt d a n c , prete saporte s que e d e p s dos hó visitar.

M ui to s dihi moc leiros ação ns zem que a se expeas su e de liberdade o iridas ao long riências adqu o do an ud m abam da estrada ac essa iu nt se cê Vo vista. seu ponto de ? ça mudan , alquer viagem sempre. Em qu reem o uc po Eu acho que cê muda um vo il, as a, as Br is lo co bre uma até mesmo pe to que tinha so en am ns pe lação a um s… pessoas, lugare

p di se soa ode cas Q u ai s s av qu dar m com P é e e e nt Pa o g p rim p v p a r ur têm ara oc te de a. S ra s Eu pr e! A ei ê ar ro , c sa e e ro om em in as : m om úd v te p p o t e pr e, ocê r id ara ção inh se em eres se qu já ei se – a há s e a p m em pa e p tem a, e m R$ rim p oc u an 1 e ro ss od hi ag e pa tiv te .70 ira mo lõ em at ss e r l 0, v çã es á t é i 0 a o a r ? e se po ês , m 0 i ge de r rt d a da m de po co e, ias s a e à p is mp en p s v E a vo ra tão ara pa olt ur ssa cê do s r ss a c op ge de o erá eso age om a f m, cid nli p lv ns t oi e ne rec er e ax u o . N is tu stã a. ma qu ã o do o O e o fa p be ru va pe ze ar m im a i f ns r az e, um ir viáv à er a e (r pro seg Eu is. iso v u ro s) ei- ro .

Sim (risos). Mas eu acho que eu até tive sorte com os “perrengues”. Não foram muitos e nem surreais. Na minha primeira vez na Alemanha, na última semana, eu não conseguia sacar dinheiro em nenhum lugar. Porém, eu tinha uma amiga brasileira, que morava lá e fazia intercâmbio, e ela depositou dinheiro na conta de um amigo da cidade em que eu estava. Em 2010, de Berlim eu fui para a República Tcheca. Como eu nunca pesquiso nada, não sabia que lá tinha outra moeda – achei que era o Euro. Cheguei lá sem dinheiro nenhum! Daí, entrei no ônibus sem pagar e coisas assim que todo mundo tem medo de fazer, mas não vai acontecer nada (risos). Praga foi uma das cidades que não foi muito agradável. As pessoas não me receberam muito bem, porque elas não falam em inglês e não dão a mínima para estrangeiros. A primeira impressão foi bem chata. É lógico que houve pessoas que ajudaram, mas, com a maioria, você pede informações, e elas dizem “não, não, não!”.

Geralmente há momentos desagradáveis nas viagens. Quais foram as suas piores situações?

Os conflitos são os mesmos, são universais. Há muita gente que está frustrada com o trabalho, mesmo tendo um bom emprego. Eles tiram este tempo fora para pensar sobre isso. É muito legal quando você conhece as pessoas e acontece uma troca, e você vê que todos nós somos iguais. Há muita gente que me escreve, dizendo: “larguei minha cidade, meu emprego, fui tentar o eu queria”. Eu mesma, quando abri o hostel, abdiquei algumas coisas, mas era algo que eu realmente queria. Eu apostei nisso, mas se não desse certo, eu voltaria para BH. Você forma, investe em uma graduação, tem um trabalho e tal... Não é um conflito somente seu, mas de outras pessoas também. É uma troca de experiências bem bacana!


Ser ou não ser

Opinião

NÃO GRITA que eu te escuto! Não é que eu odeie ter vizinhos, mas às oito horas da manhã de um sábado… Finalmente o sábado chegou, de-

algo exclusivo dos sábados de manhã. Mesmo existindo diversas leis do silêncio, que estabelecem restrições para a geração de ruídos independente do horário, nem sempre são respeitadas. Principalmente em cidades do interior, onde a legislação ainda não prevê limites e sanções. A solução para estes problemas ainda depende do registro de boletins de ocorrência, pois normas de uma boa vizinhança, não é uma lei. Dado que a construção de casas com abafadores sonoros não é exatamente a solução mais adequada, o jeito é esperarmos que as pessoas possam entender que não é necessário gritar para ser ouvidas. Afinal o vizinho é quem esta do seu lado, literalmente, e muitas vezes, talvez pela proximidade, é o primeiro pelo qual a gente vai atrás quando precisa.

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pois de uma semana de aula, estágio, e tudo mais que me impede de acordar tarde e aproveitar o escuro do meu quarto e o silêncio que por ele paira. Mas eis que são oito da manhã e a rua já esta cheia, bom não sei se está de fato cheia, mas posso ouvir claramente o que meus vizinhos conversam. Mesmo sem gostar de futebol, estou virando uma expert no assunto, ou pelo menos já sei dos resultados de vários jogos, seja o mineiro, paulista ou libertadores e sem falar das várias retrospectivas. E assim começa meu dia, com aquela vontade de sair gritando, por mais que isso seja totalmente controverso a minha vontade de silêncio. Bom, este foi apenas um desabafo, afinal não sou a única pessoa que passa por este tipo de situação, que também não é

Texto: Flávia Silva Foto: Bárbara Monteiro Arte: Thiago Huszar

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Identidade

Penso, logo...

Texto: Rosi Silveira Foto: Rosana Freitas Arte: Isabella Madureira


Muitos consideram como uma religião,

Escolhas distintas Qualquer que seja o tipo de budismo praticado, a grande maioria dos adeptos buscam paz, sabedoria, novos hábitos e conhecimentos. Mais que isso, para lidar com questões que não conseguem responder em outras crenças e religiões. A estudante de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, Sara Barbosa, se interessou pelo budismo após ter vivido uma busca incessante por respostas. “Fui criada dentro de outras religiões, porém nenhuma delas sanou minhas curiosidades e anseios a respeito da vida, do porquê das coisas acontecerem da forma como acontecem, entre ou-

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outros como uma filosofia, um modo de pensar e viver a vida. Independente das definições, o budismo é uma prática que apesar de muito antiga, vem crescendo e ganhando adeptos até os dias de hoje. Por volta do século 523 a.C., nascia no Norte da Índia, um menino de nome Sidarta Gautama. Filho de príncipe dedicou sua vida à procura da libertação do sofrimento, trilhando um caminho de sabedoria e reflexão. Quando completou 29 anos, abandonou as suas riquezas e seguiu um caminho em busca da verdade. Foi então que em Gaia, um vilarejo indiano, após 49 dias e noites de meditação embaixo de uma árvore, alcançou o estado iluminado tornando-se Buda. Vale ressaltar que esse nome não se refere a ninguém, mas um título aplicado a quem atingiu um nível superior de entendimento, que sabe a verdade e se libertou. Devido à compreensão da realidade e de seus fenômenos e processos, o budismo pode ser considerado como uma linha de pensamento baseada na palavra sabedoria. “É uma cultura religiosa que visa meramente praticar o bem sem dogmas ou cânones”, afirma o monge Aníbal Ji Po, do Mosteiro de Zen Budismo de Ouro Preto. Existem três troncos principais no budismo: o Ortodoxo (crente), que resgata a prática adotada no tempo do Buda e seus seguidores se vestem de vermelho; o Lamaísta que incorporou os valores da cultura tibetana, com muitas cores e sons; e o budismo Zen, que combinou a cultura Taoista da China e de diversas artes e tradições japonesas, gerando o Zen Budismo, tendo como cor predominante o preto. Mas afinal, por que as pessoas buscam entender e praticar o budismo?

tras questões que faziam morada em minha mente”. Praticante do budismo há cinco anos, após participar de reuniões de estudo aprofundadas, Sara percebeu que havia pessoas que, muitas vezes, partilhavam do mesmo pensamento dela. “Minha busca por uma filosofia, que fosse de encontro com meus anseios, terminava ali. Encontrei no budismo a forma de transformar a minha vida a partir da minha própria transformação, denominada, no budismo Nitiren, de Revolução Humana”, conta a estudante que se converteu em 2011. O Budismo Nitiren da Soka Gakkai traz aos seus adeptos um novo modo de enxergar a vida, no qual o indivíduo se baseia nos fundamentos em qualquer circunstância, não só nos momentos cruciais, permitindo a liberdade de pensamento no que tange à comportamentos, posicionamentos políticos, orientação sexual entre outros. “Vejo que se trata de uma religião totalmente ‘antenada’ com os novos rumos da humanidade e capaz de trazer felicidade a todos, porque o budismo tem um olhar humanizado com os mesmos”, afirma o budista e estudante de arquitetura Glauber Guimarães. Praticante dessa mesma vertente, a jornalista Selma Silva, adepta ao budismo há 17 anos e convertida desde 2005, escolheu praticar essa filosofia pelo exemplo de transformação da sua mãe, que é budista há 33 anos. “Ainda na adolescência, percebi as mudanças da minha mãe depois que se converteu. Ela era muito nervosa e depois passou a ter mais equilíbrio e firmeza para a tomada de decisões e isso transformou o ambiente em nossa casa. Como consequência, a cada dia, crescíamos como seres humanos”, conta. As circunstâncias pela escolha do Budismo são várias. Cada pessoa tem os seus motivos e explicações. Independente das escolhas individuais, todos acreditam na força que o Budismo tem em aliviar as tensões do mundo e trazer sabedoria e autoconhecimento para quem o pratica. “É muito comum as pessoas me perguntarem ‘o que o Budismo diz com relação a isto?’, eu acho engraçado e respondo: ‘não diz nada, o Budismo se atém às questões espirituais da vida, nós apenas estudamos os sutras e ensinos, procurando interpretá-los em nossa vida. Em outras palavras, se você vive determinada situação é você mesmo que deve saber se posicionar diante dela, não o Budismo! Nós somos livres para pensar, basta que tenhamos um coração puro’”, pontua Glauber.


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O que é preciso para ser budista? O primeiro passo para se tornar um adepto do budismo é o conhecimento. Ler sobre os ensinamentos de Buda e os caminhos que podem levar ao entendimento ou confirmar a escolha por essa nova filosofia de vida. Depois disso, o ideal é encontrar um professor experiente e seguir as instruções. A prática budista apresenta uma tríade: fé, prática e estudo. “Esses ensinamentos, interpretamos para nossa vida, moldamos o comportamento de acordo com nossos valores e dialogamos a pratica com outras pessoas”, diz Glauber. Já a meditação também é um hábito tradicional dos budistas. Esta técnica milenar ajuda a limpar a mente, amplia a capacidade de lembrança e pode tornar a vida mais saudável. Para a praticante Selma, “É preciso definir qual é a nossa turma, qual é a nossa crença, qual é a nossa missão. E viver de forma coerente com nossas escolhas. Todos os seres humanos tem a natureza de Buda e podem se iluminar nessa existência. Iluminação significa fazer aflorar nossa natureza de Buda para emergir sabedoria.”

Pratiquem a bondade, não criem sofrimento e dirijam a própria mente. Esta é a essência do budismo. Buda

Entre as montanhas de Ouro Preto Ambiente tranquilo, natureza e muita paz. Para quem quer fugir da rotina e tensões do dia a dia ou quer apenas conhecer um pouco mais sobre o budismo, uma opção é o mosteiro Templo Zen Pico de Raios, localizado em Ouro Preto. O local, que nesse ano completa 30 anos de existência, foi fundado pelo monge Tokuda, que na época dirigia retiros espirituais (sesshins) itinerantes em toda a região. “Numa ocasião, realizando o retiro na casa da Domotila do Amaral, na subida do morro, ele se encantou pelas histórias e cenário do Morro da Queimada, contíguo à localização atual do Mosteiro, onde os seus discípulos na época adquiriram a atual propriedade”, conta o Monge Aníbal Ji Po. No templo Zen Pico de Raios é praticado o Zen Budismo, que é identificado pela figura histórica do Buda (imagem do Buda magro sentado com as pernas cruzadas em meditação). Segundo Aníbal, os monges tem como hábitos a “simplicidade, disciplina, austeridade na prática e atitude de meditação permanente em contato com a natureza”. Atualmente, o mosteiro possui a prática dos sesshins, normalmente mensais e realizados em feriados prolongados. Os retiros são abertos a todos, mas “o ideal é que a pessoa possua alguma prática espiritual prévia e seja adepto do Zazen (meditação sentada zen).” Frequentemente os sesshins são divulgados no blog do mosteiro que tornou-se um ponto de visitação da cidade pela curiosidade que é cada vez maior em relação ao budismo e ao Zen e sua importância para a humanidade.


Eis a questão

Habitar

O tempero

de uma prosa

Comer em grupo é um hábito que representa mais que uma tradição. A ritualização das refeições foi documentada desde as primeiras civilizações como expressão de religiosidade. Na Idade Média, o ritual de comer e beber servia para fortalecer a amizade, além de reforçar as relações entre senhor e vassalos. E até hoje esse hábito não mudou. A cozinha se tornou um ambiente aconchegante nas casas, onde visitas e moradores se sentem à vontade e acolhidos. Segundo a antropóloga Carolina Cadima, a cozinha, principalmente para sociedades em que o ritmo de vida não atingiu níveis como nas grandes cidades, é sim um foco de interação e organização social. Em muitas casas brasileiras, por exemplo, podemos notar a presença de duas entradas: uma pela sala e outra pela cozinha. A moradora de Santo Antônio das Pedras, subdistrito de Mariana, Fátima da Silva Paiva, de 42 anos, conta que em sua casa ninguém entra pela sala. “Apesar de terem duas portas, é sempre pela porta da cozinha que as pessoas entram. Vão chegando e já sentam na mesa redonda”, relata. Para Cadima, “o alimento está sempre envolvido em reuniões com amigos, assim como a bebida, e isso faz da cozinha, lugar em que se prepara a comida, um foco de sociabilidade”. A antropóloga ainda destaca uma das reuniões sociais mais comuns na casa dos brasileiros: “Quer exemplo maior de sociabilidade em torno da cozinha e da comida do que o churrasco?”. Modo de preparo do prato: Coversa na Cozinha • Saber receber as visitas. Você precisa ser acolhedor. “Quando você acolhe todas as pessoas que visitam sua cozinha, não precisa nem mostrar o resto da casa”, relata a moradora de Ouro Preto, Maria Antônia da Silva Passos, de 65 anos. • Fazer de sua cozinha um lugar especial: ter um café bem quentinho e boas quitandas sobre a mesa. Isso não pode faltar! Oferecer aquele cafezinho com o aroma de fim tarde é indispensável para uma boa receptividade. • Conduzir uma conversa onde todos possam compartilhar experiências, lembranças e que deixe o ambiente cercado de energias positivas. Misture todos os ingredientes e curta o momento entre amigos e família.

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Texto: Ana Luísa Reis Foto: Dalília Caetano Arte: Viviane Ferreira

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Comum

Em cheque

Texto: Carolina Brito Fotos: Marcos Resende Arte: Thiago Huszar

MORADA transitória “Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos. E pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto”. A música dos Novos Baianos ilustra bem o estilo de vida dos que não têm medo da estrada. Longe de casa, as moradias coletivas - provisórias ou mais duradouras - são opções bastante viáveis. Dentre as abordadas a seguir, há uma característica em comum: a noção de que um ambiente desconhecido pode representar uma oportunidade de criação de vínculos interpessoais que vão além da troca cultural.

Permuta alternativa Há aproximadamente 20 anos, Ozana Fonseca, 59, descobriu o gosto por viajar. Foi de Porto Seguro (BA) até Canoa Quebrada (CE) de carona com pessoas que conheceu durante o percurso. O trajeto era feito na parte do dia e, à noite, descansavam em hostels. Também passou longas temporadas na Austrália, Estados Unidos e Inglaterra, sem abrir mão de tal ambiente coletivo de hospedagem. Acredita que é a melhor opção de moradia temporária por proporcionar uma relação mais próxima entre os hóspedes, enriquecendo a troca cultural. “A diversão era com os próprios amigos do hostel, sempre foi muito bom, muita interação! Cada um também apresentava uma gastronomia diferente pros outros”, comenta Ozana, que foi casada durante um ano, mas separou-se justamente pelo desejo de liberdade. Seu “quartel general”, afirma, é em São Paulo, onde possui residência fixa. No momento da entrevista, está hospedada no Rosário Hostel, em Ouro Preto. O local, um casarão bem ao estilo barroco, preserva o aspecto de ambiente familiar onde a proprietária Luisa Xavier Sans cresceu: “essa era a casa da minha avó. Meu pai também teve um albergue na década de 80, o primeiro de Ouro Preto, mas era em outro endereço”. A ouro-pretana, que mora no hostel com capacidade para 50 pessoas, considera interessante o convívio diário com os hóspedes, já que conhece a cultura de vários locais por meio de seu trabalho e aprende a lidar com diferentes tipos de pessoas.


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Mi casa, su casa Trocar experiências por meio de hospedagem em casas de usuários cadastrados, sendo visitante ou residente, essa é a proposta do site couchsurfing. org. Com aproximadamente 7 milhões* de cadastros, o site faz o intermédio entre pessoas que não se conhecem, mas estão dispostas a passar pela experiência. Foi o caso da estudante brasileira Clarice Souza e do espanhol Alfredo Sanchez. Durante uma temporada de estudos em Portugal, Clarice viajou à Espanha e hospedou-se com a irmã na casa de Alfredo, após contato prévio pela página virtual. O diferencial, neste tipo de hospedagem, é a maior proximidade com o anfitrião e, deste modo, com a cultura local. Poucos meses após a chegada da estudante ao Brasil, ela recebeu o amigo espanhol na república dela, em Ouro Preto. Alf, como gosta de ser chamado, considera a experiência positiva: “eu pude ver tudo de forma muito mais brasileira, tudo da vida cotidiana, que é o que te faz se identificar com o país. Durante a minha viagem ao Brasil, visitei em torno de 15 pessoas que já haviam estado na minha casa de Barcelona, e foi um grande prazer reencontrá-las”. * Fonte: couchsurfing.org

Convivência contínua Muito comuns em Mariana e Ouro Preto, as pensões e casas alugadas por firmas abrigam estudantes e trabalhadores que vem morar na região. O encarregado de tubulação Isaias Martins trabalha há oito anos em uma empresa que requer o deslocamento de seus funcionários, já que funciona por determinados períodos de tempo nos locais em que presta serviços. Isaias está em Mariana há 4 meses morando com colegas de trabalho, e considera a experiência positiva: “divido quarto com outra pessoa, mas nunca tivemos problemas. Como moramos em uma residência coletiva, às vezes surgem divergências, mas no geral, nossa convivência é bem tranquila”. A estudante Viviane Melo, 21, mudou-se para Mariana devido aos estudos, e vive há quase três anos em uma pensão com quartos individuais e demais cômodos compartilhados. Ela acredita que o ambiente proporciona a integração necessária aos moradores, ao mesmo tempo em que preserva a individualidade de cada um: “passamos a maior parte do tempo nas áreas coletivas e fazemos a refeições juntos. Mesmo com as diferenças, formamos uma família, são pessoas que vou levar para a vida”.

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Sensação

O pulso ainda pulsa / O corpo ainda é pouco

Drogas Você sabe o que consome?

Texto: Geovani Fernandes Arte: Lucas Machado

Segundo a medicina, a palavra droga designa fórmulas que

IMEDIATOS

EFEITOS

previnem ou curam doenças e estimulam o bem-estar físico e mental. Contudo, o termo popular refere-se a substancias lícitas e ilícitas que podem gerar dependência nos indivíduos que as consomem. As proibições e leis variam de nação para nação. Muitos debates sobre o consumo e a distribuição das drogas falam sobre descriminalização e legalização, e há quem defenda que as políticas públicas são o melhor caminho para o controle, não a repressão. Na própria história há casos em que recriminar não foi a melhor saída, como a Lei Seca, de 1920, nos Estados Unidos. Após 13 anos, quando chegou ao fim, o consumo do álcool e o crime organizado eram maiores do que antes da Lei. Hoje, entre tantas drogas existentes, as mais consumidas são o álcool, o cigarro e a maconha. A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta estudos sobre o consumo e as consequências desses produtos em quem as consome, algumas delas inclusive a morte. Mas você conhece os efeitos dessas drogas no organismo? E quais os motivos que orientam as regulamentações dessas substâncias? Para responder tais questões criamos um panorama do consumo das três drogas mais consumidas no mundo e os efeitos que elas causam no organismo, todos baseados em dados da OMS.

Pode causar sonolência ou euforia, alteração de equilíbrio, falha de memória, vômitos, náuseas e veisalgia (ressaca) após algumas horas. Aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, a quantidade de oxigênio diminui e há interferência na capacidade respiratória. Pode ocorrer diminuição da atividade locomotora, mudanças de humor, aumento da frequência cardíaca e aumento do apetite (larica).

12 aos 17 anos

Consumo no Brasil por faixa etária

16% 2% 4%


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MORTES BRASIL: 7 mil ao ano MUNDO: 2,5 milhões ao ano BRASIL: 200 mil ao ano MUNDO: 6 milhões ao ano CURINGA | EDIÇÃO 10

NUNCA HOUVE CASOS COMPROVADOS NO MUNDO

35 anos ou mais 53% 11%

25 aos 34 anos

5%

40% 10% 13%

EFEITOS A

LONGO PRAZO

Pode causar dependência, cirrose hepática, além de doenças cardiovasculares, como o infarto, e cerebrovasculares, como a hipertensão. Além da dificuldade respiratória, o consumo do cigarro pode desenvolver câncer de pulmão, de boca, de laringe e de estômago, e mais de 50 doenças. Pelo fumo, causa prejuízos pulmonares assim como o cigarro. Se consumida em excesso, pode levar à falhas na memória.

18 aos 24 anos 38% 8%

EFEITOS A

MEDIO PRAZO

17%

Se consumido em excesso, maiores são as chances de desenvolver resistência a embriaguez. Porém, também pode causar gastrite, pancreatite, hepatite e diabetes. Os chamados fumantes ativos podem ter irritação na garganta (pigarro), dentes amarelados, manchas nos dedos e nas unhas e perda de cabelo. Dependência psicológica, declínio da capacidade pulmonar e dificuldade de raciocínio.

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Próxima edição

Mich

Texto: Camélia Fotos: Fênix Arte: Corvo

Ce eireles

Victo ltaire Vo

E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será talvez até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso, que pena a vida ser só isso... (C.M.)

Wilde

da vida se mostra na vela. O mar me engole na proa – minha morte é parar de navegar. Um gole de café amargo e ainda escuto o rádio que canta a morte, inevitável e certa, pode me esperar na próxima onda. Tormenta de tempestade que me varre em pó e água.

Oscar

c

Na minha jangada o passo

M i ll ndes ôr Ferna

a Balz

s

y Ribeir Darc o

a

Morre-se sozinho, mesmo que de mãos dadas. O medo de morrer. Pensar aparelhos, tubos, fios, cheiro, cor, rachaduras em carne ainda viva. O homem que teme o sofrimento já está sofrendo pelo que teme. (M.M.) Morte é o fim da vida, e toda gente teme isso, só a morte é temida pela vida e as duas reflectem-se em cada uma. (O.W.) Para tudo há seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer. (E.S.) O homem morre a primeira vez quando perde o entusiasmo. (B.) Desaparecimento físico, inevitável como um salto no escuro. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. (G.R.)

Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis tem o mesmo destino. (V.) A morte é de facto o fim, no entanto não é a finalidade da vida. (M.M.) O único clamor da vida é por mais vida bem vivida. (D.R.) Morrer não é acabar, é a suprema manhã. (V.H.) Um espasmo cadavérico depois do traumatismo físico irreparável. É lampejo de vida, morbidez de cemitério. E o pior não é morrer, é não poder espantar as moscas. (MF) Mas morro hoje para nascer amanhã, intenso e vivaz como poeira de estrela, calmaria de sol, balanço contínuo de vento. Morte lenta, que vem de maneira esperada.

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r Hugo

arros noel de B

osa Gu i marães R

c íl i a M

el de M ontaigne

Ma r crituras Sag Es

ad

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação. (M.B.)


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