Bastião #2

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a espada de cabral cortou nossas raízes

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edição 2 ano 1 2011

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www.bastiao.net

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boxe esporte para mulheres onyx lorenzoni a opinião da direita procura-se quem fez isso mistério musical


cifrada

quem procura acha o autor deste texto abdica da fama em nome do anonimato

foto Ovos e Llamas

e apalpar, a revista está em suas mãos, mas não somos os caguetes, tampouco desejamos desta matéria algo muito cheiroso. Procura-se Quem Fez Isso, a banda porto-alegrense que canta mas não fala, concedeu-nos a honra de uma entrevista, coisa que não é do seu feitio. Através de um porta-voz de carne e osso, recebemos as respostas que ilustram esse texto. A não identificação é uma opção pela liberdade de tirar as próprias máscaras, o invólucro que normalmente coloca a figura do artista, a pele lisinha e os cabelos sedosos, sobre a própria arte, relegada a um segundo plano. O aspecto obscuro das meias enfiadas na cabeça, perfeitas para assaltos noturnos, é compensado pelas mentes luminosas que assistem ao mundo pelas lanternas: “Tudo é focado de uma só vez. Não existe visão periférica. Somos predadores, com a visão focada para frente, só para um objeto”. Se os humanos ainda se rebatem quanto ao surgimento do universo, os bonecos têm um esboço de como as coisas tiveram início: “A banda começou como o Big Bang. Moléculas foram se juntando até formar algo incerto, alguma coisa maior do que a simples soma das moléculas, algo tão grande que

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oi no meio de um tiroteio no Velho Oeste norte-americano que encontramos o cartaz com um retrato falado intrigante de quatro bonecos encapuzados. Após longa investigação, localizamos os meliantes, acusados de fazerem música de fina categoria. Ainda nos corroía a dúvida de entregá-los em troca da recompensa, que poderia pagar esta edição da revista, ou prosseguirmos com uma reportagem bem comportada. Como você pode notar

não coube em si e explodiu, gerando milhões, bilhões, trilhões de outras moléculas”. Parece que alguma coisa respingou por estes lados, para nossa sorte. Assumir um projeto independente e acreditar na música livre “de todas forças externas que atrapalham a criatividade individual e coletiva” significa optar pelo trabalho como prazer, em detrimento do lucro, da participação no Faustão e dos hotéis cinco estrelas. Em sete anos de existência, o Procura-se Quem Fez Isso lançou apenas um EP e dois singles, mas, ainda em setembro, devem chegar novidades: A marcha dos bonecos e a regravação de Turbilhão de emoções, do psicodélico dos pampas, Plato Divorak. Divido a autoria desconhecida deste texto com meus novos amigos de Andrômeda ǝnb ɯǝʌǝɹɔsǝ ɯǝ sǝnƃnʇɹod ǝp ɐɔǝqɐɔ ɐɹɐd oxıɐq. Eles também gostam da banda. Cá entre nós, aqueles sintetizadores, desfilando sutilmente ao fundo de cada canção, são inspirações de quem já foi abduzido. O som combina com um bom prato de cogumelos, mas eles recusam classificações: “Tudo é música, algumas agradam um tipo de pessoas, outras agradam a outros tipos de pessoas”. Libertar a música compreende ainda deixá-la à disposição de quem assim desejar, transitando entre os ouvidos interessados. As cinco faixas gravadas em estúdio até agora estão disponíveis para download no site da banda. A mais recente, Ele quer todo mundo a seus pés, fala de hierarquia social - ou sexual? Bagdá (She´s my baby) é uma música de protesto contra a guerra no Iraque - ou uma canção de amor entre uma iraquiana

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foto Ovos e Llamas

amargurada e um soldado desertor? Uma das mais interessantes, E se eu (não tivesse coisas novas pra lhe dizer), carrega uma gritaria em timbre infantil, tudo gravado por algumas “crianças barbudas de orfanato”, segundo o que eles nos contam. A preocupação com o som é contínua: “Não nos parece, ainda, meticulosamente trabalhado. Assim como qualquer processo evolutivo o trabalho é lento, talvez um dia chegaremos aonde almejamos em termos de composição”. Essa visão despreocupada de que as coisas acontecem aos poucos justifica o largo espaçamento entre um lançamento e outro, mais do que a dificuldade financeira: “As músicas são como kiwis. Elas precisam de tempo para amadurecer”. Dessa lapidação minuciosa se extraem os diamantes verdes e azedinhos com que eles expressam os seus sentimentos de bonecos, e não são de deixar o nariz crescer: “Dizemos muitas coisas, mas sem a pretensão de querer dizer alguma coisa. A música é uma linguagem, mas só é entendida pela própria linguagem da música”. Em uma única declaração, o nosso querido jornalismo, esse esforço descabido de querer traduzir as coisas, é aniquilado para todo o sempre, já que vale mais ouvir o som dos caras para realmente entender a loucura descrita nesta singela carta de recomendação. Pedimos a saideira, e eles deixam uma ameaça generosa a todos que estiverem passeando desprevenidos por aí: “Os bonecos nunca somem de cena, nem entram na cena. Eles estão por aí, de soslaio, aguardando uma brecha pra enfiar uma música bem no meio do ouvido das pessoas.”

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esportes

por Luiza Müller colaboraram Ana Elizabeth Soares e Gilberto Sena

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sala tem paredes revestidas de espelhos, há meninas de roupas rosadas que prendem os cabelos enquanto outras iniciam o alongamento. O barulho uníssono das cordas batendo contra o chão lembra a sincronia de uma coreografia, porém o que se vê não são bailarinas nem passos de dança, mas pugilistas que começam o aquecimento para mais um treino. O cor de rosa vestido por algumas é pra lembrar a feminilidade de boxeadoras que não se fazem de rogadas ao adentrar um ambiente até pouco tempo exclusivo para os homens. Contudo, é nas mulheres que o boxe encontra as características essenciais para a sua prática. “Diferente dos homens, mulher não tem muita frescura, ou dá certo ou não dá. Elas são mais determinadas, levam mais a sério”, explica José Lima, treinador com mais atletas mulheres no estado. Nos últimos anos, as academias vêm sendo povoadas por mulheres que buscam nessa prática a solução estética de perda rápida de peso ou o desafio esportivo. Aline Gallo, de 22 anos, começou a treinar para melhorar o preparo físico, porém não pretende parar por aí: “Penso em continuar e, quando estiver melhor, talvez começar a competir.” Mas a situação é difícil para as que resolvem dedicar-se a competições e tomar o esporte como profissão. Megg Tavares, 25 anos, é a segunda melhor pugilista olímpica do Brasil na categoria 57Kg. Todavia, o incentivo governamental só foi possível quando a lutadora ganhou o primeiro título, o 3° lugar no Campeonato Brasileiro. “A bolsa-atleta do Governo Federal leva até um ano e meio para sair. Fiz o pedido em novembro de 2009, a bolsa saiu em março desse ano”,

explica Megg. Mesmo com o incentivo, a atual vice-campeã brasileira não consegue dedicar-se exclusivamente ao esporte, tendo de trabalhar em meio aos treinos. “Eu tenho o boxe como minha profissão, mas viver só pra isso, no Brasil, é quase impossível. Principalmente no Rio Grande do Sul, onde não há apoio nem investimento nenhum. As academias também não têm a estrutura adequada.” A Federação Rio-Grandense de Pugilismo é sintoma da situação do esporte no estado. Não há nenhum tipo de patrocínio de iniciativa privada ou verba pública que incentive os eventos promovidos pela organização. “A federação se mantém através do amor das pessoas pelo esporte”, sentencia Vinicio Guariglia, presidente da instituição. Essa lógica aplica-se à categoria feminina que, apesar de ter as salas das academias lotadas, vive um cenário de quase ostracismo no pugilismo profissional e olímpico. No Rio Grande do Sul, não há nenhuma atleta profissional, e as amadoras (boxe olímpico) passam trabalho para achar lutadoras dispostas a marcar um confronto. “É um esporte praticamente sem atletas. Há muitas meninas, mas sem experiência. Pugilistas como a Megg têm essa dificuldade, de achar lutadoras no mesmo nível”, explica José Lima. Apesar das dificuldades, o esporte vive

uma boa fase, de acordo com Guariglia. Para o presidente da federação, a imagem que as pessoas fazem do pugilismo mudou nos últimos tempos. “Hoje em dia, muita menina quer fazer boxe só pra poder dizer que faz boxe. A cabeça das pessoas mudou muito”, explica Vinicio, que se dedica a essa prática esportiva há mais de 40 anos. Megg conta que, quando começou a treinar, o preconceito direcionado às meninas era maior, mas, com a recente popularidade do boxe, ela só tem de lidar com as brincadeiras. “Sempre tem quem fale ‘não mexe com ela que ela faz boxe’”, comenta, entre risos. No mesmo espírito da maioria dos atletas gaúchos, a portoalegrense explica que se mantém lutando pelo prazer pelo esporte. “No primeiro campeonato brasileiro que participei, eu não ganhava nada, foram R$ 1300,00 de passagem, mais os demais gastos... Meu foco nunca foi o dinheiro, foi algo que sempre fiz por prazer.” Esse exemplo reflete uma lógica imposta por um sistema não tão lógico assim. No Brasil, a maioria dos esportistas é obrigada a galgar seus primeiros passos de forma independente, apenas recebendo certo incentivo depois que conquistam títulos. Ainda assim, Megg ressalta: “Eu vim de uma final de brasileiro, na qual perdi só pra mim mesma. Isso é o suficiente para garantir que agora eu não vou parar”. Megg Tavares, atual vice-campeã brasileira de boxe olímpico na categoria 57Kg

foto Ana Elizabeth Soares

unhas pintadas e punhos cerrados


editorial

d

esde o início, a ideia era não nos vincularmos nem a instituições nem a partidos, e, sim, sermos um legítimo projeto independente, que nos proporcionasse a liberdade tão sonhada no meio jornalístico. Mas não se posicionar seria covardia. O Bastião está do lado de quem vai atrás, do curioso, do manifestante, do contestador. Escolhemos entrevistar Olívio Dutra e, nesta edição, Onyx Lorenzoni para questionar dois expoentes da política gaúcha, indivíduos sem papas na língua, para que nos respondessem: “Pra onde foi a ideologia?”. Entre frases convictas, e outras nem tanto, veio a resposta: “Está nas mãos de poucos, e refém dos interesses do poder”. Seja na direita ou na esquerda, a política de alianças do Brasil consome a cada eleição os resquícios dos grandes pensadores e dos grandes revolucionários que um dia fizeram política e não politicagem. O que resta são os militantes, não necessariamente os ligados a siglas, mas os atuantes da rua, os burladores do sistema. Como Dione, que mostramos com muito orgulho na reportagem especial do Bastião #2. Longe da discussão “vandalismo ou não”, chamamos a atenção para o trabalho desse e de tantos outros que não têm papel, mas dão recado pelo muro.

expediente Redação Arthur Viana, Carlos Machado, Douglas Freitas, Gabriel Hoewell, Gilberto Sena, Luciano Viegas e Luiza Müller Editoração Ana Elizabeth Soares Planejamento gráfico e capa Ramiro Simch Arte Lucas Monteiro e Ramiro Simch Relacionamento João Filipe Padilha, Luiza Zanotto, Matheus Astarita, Mauricio Pflug e Samantha Diefenthaeler Colaboradores Ovos e Llamas e Gabriel Oro Tiragem 1.500 exemplares Web www.bastiao.net www.twitter.com/revista_bastiao www.facebook.com/revistabastiao

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Reconhecido internacionalmente, o traço de Edgar Vasques já passou por publicações como O Pasquim, Folha da Manhã e Coojornal. Na Playboy, deu vida ao Analista de Bagé, de Luís Fernando Verissimo. Agora, o criador do personagem Rango reconstrói o Bastião. www.evblogaleria.blogspot.com

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especial

POR TRÁS DE CADA PLACA Tu provavelmente já viu esse indiozinho pelas ruas de Porto Alegre. Se ainda não viu, passará a perceber a partir de agora. Ele vai chamar a atenção, e os teus olhos serão atraídos por esse e outros stickers. O “indiozinho” referido é Xadalu, o mais popular dos adesivos colados na cidade. Mas ele está longe de ser o único. Xadalu é influenciado e vira influência para muitos outros

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foto Gabriel Oro

artistas de rua.

por Gabriel Hoewell e Luciano Viegas colaboraram Ana Elizabeth Soares, Douglas Freitas e Ramiro Simch


foto arquivo Celos

Adesivo de Celos colado em Paris, França

M

adrugada, o Centro de Porto Alegre é uma mistura de vários mundos que não se mostram ao mormaço da luz do dia, quando os diálogos se abafam em murmurinhos. Descemos a ladeira em direção ao Mercado, nosso ponto de partida. Quando estava desempregado, Dione, mais conhecido como Xadalu, ia para a rua quase todos os dias. Diz que esse negócio de colagem vicia, e tragamos na mesma hora a empolgação que dele exala. Ao mesmo tempo em que ele nos conta que o mais encantador de sair para as intervenções é imergir nas histórias das putas, dos bêbados, dos moradores de rua, passa ao nosso lado uma mulher que reclama de duas jovens vestidas em roupas minúsculas: - Essas aí vem pra cá só pra roubar o marido das outras. Se veste de safada, mas na hora de foder elas nem sabe (sic). No meio desse ambiente bruto e fascinante, vagueiam alguns subversivos, ou mesmo quem só quer curtir sua arte tomando a cidade. E, para tomar Porto Alegre, o Centro é o destino preferido. É lá que mais pessoas circulam e, consequentemente, o trabalho do artista fica mais exposto, explica Dione. Placa atrás de placa, lixeira por lixeira, ele e seu amigo 3’D Invader vão deixando sua marca. Não há um plano, um roteiro a ser seguido. Os destinos vão sendo traçados na hora e levam para os mais diversos cantos da cidade. Nas noites de maior empolgação, por volta de 400 stickers são colados em caminhadas que vão até as sete horas da manhã. Xadalu aposta em mensagens políticas, alertando para uma injustiça social que teve origem na colonização da América. Se os índios foram sumindo, dizimados no curso da história, a arte - que hoje estampa muitas das placas, lixeiras e paredes de Porto Alegre -, busca relembrar que eles ainda existem.

As contradições de uma pátria que se orgulha em ostentar o título de “tupiniquim”, mas que, cada vez mais, deixa de lado a cultura indígena são expostas a cada palmada que Xadalu dá contra uma placa, fixando mais um adesivo diante dos olhos vermelhos do mundo. Dione não busca no seu trabalho o reconhecimento de sua marca. “Eu nunca apareci em foto nenhuma”, comenta. Seu objetivo é simplesmente o de conscientizar as pessoas. Descendente de indígenas, Xadalu conta que já teve contato com eles, porém sem nunca se identificar como defensor da causa. “Um índio uma vez me falou que guardava todo o ódio no coração. O que ele mais lamentava não era o fato de estar vivendo na rua, mas de depender da esmola do povo branco.” Dione tem dois trabalhos com lambe-lambes (pôsteres colados nas paredes) que também pregam mensagens de cunho social. Um deles poetiza “A espada de Cabral cortou nossas raízes” e o outro questiona “Ordem e progresso?”. Xadalu conta que não se apega tanto à técnica, tentando exprimir em seu trabalho todo o sentimento que tem pela cultura indígena. Ele não nega, porém, que na confecção de sua arte preza por alguns critérios básicos

respeitados por grande parte dos artistas: “Quando faço meu trabalho, eu também levo em consideração teorias como a pregnância da forma e a gestalt.” Entre os pioneiros dos stickers em Porto Alegre, Celos visa algo diferente de seu colega e amigo Dione. Enquanto um quer passar uma mensagem, o outro só quer ver seu personagem na rua. Se Xadalu busca se aprofundar na área gráfica, Celos vai na contramão das tecnologias. “Na minha arte, eu busco algo bruto. Eu quero voltar a tal ponto que possa tirar o corante da árvore e pintar com isso.” Celos também acredita que a subversão é a essência da prática da arte de rua: “Eu acho que o espírito da coisa é o ilegal”. Apesar da transgressão, nem Celos nem Xadalu veem seus trabalhos como vandalismo. Não são raros os casos em que as autoridades abordam os dois, mas, com uma boa conversa, geralmente compreendem a situação. “Já aconteceu de policial conhecer o indiozinho e pedir adesivo pra levar para a filha”, conta Xadalu. Os trabalhos de Dione, Celos, 3’D e outros artistas ganham tamanho reconhecimento por se tratarem de uma espécie de comunicação em massa. A repetição de placa em placa da mesma imagem reforça a marca

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sétima página

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especial

oitava página

foto Gabriel foto Oroarquivo Celos

Sticker de Xadalu em Porto Alegre

que em Porto Alegre: “Sou mais reconhecido lá do que aqui”, relata Dione. O reconhecimento, contudo, não é o objetivo final de Xadalu. Muito além de seus planos profissionais na carreira de designer ou de seu trabalho como artista, ele segue caminhando pelas madrugadas de Porto Alegre para levar adiante a mensagem de preservação da cultura indígena.

No Velho Mundo

foto arquivo Clet Abraham

na cabeça das milhares de pessoas que a veem. É por esse motivo que, em épocas de eleição, muitos políticos chegam a procurálos para vincular às campanhas o sucesso dos adesivos já espalhados por toda a cidade. Completamente avessos à politicagem, eles nunca aceitaram as propostas. Preferiram tocar seu trabalho sozinhos, mesmo com as dificuldades de se sustentar como artistas de rua sem nenhum retorno financeiro. Durante nossa volta pelo Centro de Porto Alegre, Xadalu nos aponta o portão colorido de uma loja. “Esse grafite aí os caras me pagaram pra fazer. Foi a primeira vez que recebi pra fazer isso. E a última. Não gosto de arte paga.” Para manter a produção de mais de 10 mil indiozinhos a cada tiragem, Dione conta com a doação de material por parte de empresas que admiram o seu trabalho. Mesmo assim, os gastos com a tinta, que chegam a R$ 40 em cada um desses processos, ainda precisam ser bancados por ele próprio. Os adesivos, lambe-lambes e camisetas são produzidos em uma humilde serigrafia nos fundos de sua casa. Trabalhar só com arte de rua ainda é praticamente impossível em Porto Alegre. Celos lamenta não poder viver disso. “Já perdi muitos projetos e viagens pagos pela prefeitura porque tinha que trabalhar. Não que eu fosse ganhar grana com isso, mas perdi a oportunidade de levar a arte de rua daqui pra lá.” Em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, a cena é muito mais forte do

Das galerias para as ruas. Essa foi a opção do artista francês Clet Abraham. Na Itália desde 1990, Clet já expôs em Roma, Paris, Melbourne e outros grandes centros culturais do mundo. Porém, ele ainda percebia a necessidade de dar mais vida ao seu já amadurecido trabalho. E, segundo Clet, o único modo de fazer isso verdadeira e livremente é por meio da arte de rua: “Esse é o único modo para se poder existir de verdade”. Há pouco mais de um ano, ele vem fazendo intervenções em Florença, Londres, Paris e pelo resto da Europa. Stickers se fundem às placas criando novos significados. São diversas mensagens pensadas sempre em cima do tema da própria sinalização:

“Se há uma placa que fala sobre proibição, eu trabalho sobre a ideia da proibição; em outra de estrada sem saída, eu falo de religião, do que há depois da morte, depois do fim”. Dessa forma, uma bifurcação se torna um diabo, uma rua vira um crucifixo e uma seta, um anjo. A preferência pela temática da religião passa diretamente pela cultura dos italianos, explica Clet. A street art no Brasil e na Europa guarda algumas semelhanças, como, por exemplo, a relação com as autoridades. “Tem de tudo. Em algumas cidades me acolhem muito bem e em outras me aplicam multas muitas vezes bastante altas”, conta o francês. Clet Abraham explora a arte nas placas por vê-las como uma comunicação universal e como “um símbolo da autoridade um pouco estúpida, humilhante”. Dessa forma, ele acredita poder falar com todo mundo e dar dignidade a todos. “A arte pela arte para mim não é interessante. A arte deve ser útil, deve ser um protesto, uma ajuda, qualquer coisa que sirva ao presente e ao maior número de pessoas possível.” Por meio dos stickers, Clet se sente em diálogo com o mundo e vê nisso a beleza de seu trabalho: “É belo comunicar”.

Sticker de Clet colado sobre a placa que indica "rua sem saída", em Florença, Itália


veja bem

A voz da direita por Carlos Machado e Gilberto Sena colaborou Arthur Viana

Bastião - O senhor é conhecido pelas suas brigas e lutas. Em 2004, ficou nacionalmente famoso por pedir a saída do Antônio Carlos Magalhães (ACM) do PFL. Como foi essa briga no partido?

e o episódio com o ACM é que, no meio da campanha, o partido, que tinha decidido em 2003 que faria oposição ao Lula, ensaiou uma aproximação com o Governo Federal e o ACM foi lá tomar um café da manhã ou um almoço [com Lula]. E eu considerei isso uma agressão a todos aqueles que estavam suando sangue nas capitais brasileiras, defendendo o partido, fazendo oposição. Por isso que eu pedi a expulsão dele do partido. Em oito anos do governo Lula e o primeiro ano da Dilma ninguém tem coragem de chamar o PFL, hoje Democratas, de partido fisiológico, pelo contrário. No Congresso Nacional o

que mais tem é gente à venda, e nós fizemos a escolha de não se vender.

O PFL sempre foi crítico ao mensalão do governo Lula, só que o partido fez parte do governo do Aécio Neves, em que há indícios do pagamento de propina para deputados. Qual a diferença do mensalão do DEM e do mensalão do PT? Nenhuma família está livre de que um filho seu se drogue ou que um familiar cometa uma loucura ou vire um corrupto. Como as instituições lidam com isso é o que faz a diferença. O PT, quando enfrentou o men-

nona página

Onyx Lorenzoni - Nós estávamos fazendo uma força danada e eu era um dos raros deputados que tinha experiência de oposição. Eu vinha de quatro anos de articulação aqui na Assembleia, com um grupo de deputados apelidados por um jornalista de “os falcões”, e nós organizamos um grupo que enfrentou o governo Olívio. A minha experiência como um dos articuladores da oposição ao Olívio valeu muito porque eu levei um know-how que ninguém no PFL tinha e fundamentalmente contra o PT. Em 2004, o partido pede para eu disputar a prefeitura de Porto Alegre

foto Arthur Viana

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édico-veterinário apaixonado pelos animais, pela família e pelo Sport Club Internacional, o deputado federal Onyx Lorenzoni é o segundo entrevistado do Bastião. Casado há 26 anos com Hellen Cárdia Lorenzoni e pai de quatro filhos, Onyx foi deputado estadual por dois mandatos, de 1995 a 2002. Atualmente, cumpre seu terceiro mandato consecutivo no Congresso Nacional, onde é um dos líderes da oposição ao Governo Federal. Nesta entrevista à revista, o deputado fala sobre os rumos da direita e da oposição no Brasil, como enfrentar a possível desestruturação do Democratas, quem está por trás da criação do PSD e sobre a briga do seu partido com a ex-governadora Yeda Crusius. Luterano, o deputado tem fama de brigão, mas segundo suas próprias palavras, “um brigão de bom coração”.


veja bem

décima página

Como o senhor avalia a criação do PSD pelo Kassab? Qual a sua relação com o prefeito? Eu digo que o Kassab atirou no que viu e acertou no que não viu. Porque o Kassab nunca foi um formulador, ele é um operador. Hoje fica claro que uma série de pessoas ajudou na formulação dessa ideia. Ele primeiro atirou pra resolver um problema dele, que é o seguinte: a dupla Serra e Kassab foi, em 2008, absolutamente terrível com o Geraldo Alckmin, ou seja, na eleição daquele ano ele foi humilhado pelo Serra. Quando o Alckmin ganha a eleição para governador e o Serra perde para presidente, naturalmente surge no cenário brasileiro o Aécio [Neves]. No campo político paulista, o Kassab, que se elegeu na aliança PSDB-DEM, não tinha mais espaço porque o Alckmin ia fazer, e vai fazer, tudo que puder para prejudicá-lo, porque é irreconciliável. Então ele sabia que não tinha campo e estava fechado por alguém que, no mínimo, é governador por quatro anos e tem chance de ser por mais quatro. Ele não tinha saída pra dentro de São Paulo e nem para fora, porque o Aécio sabe da pressão que o grupo serrista do DEM fez para não haver prévia entre Serra e Aécio para a disputa das eleições. Se houvesse a prévia eu trabalharia para o Aécio ganhar. E tenho certeza que o Aécio ganharia a prévia do Serra em 2010 e é por isso que o PSDB paulista não deixou ter prévia. E o cenário eleitoral seria completamente diferente. Eu arrisco dizer que o Aécio seria presidente hoje. Ele não perderia pra Dilma.

O senhor acha que o Serra está por trás da formulação do PSD?

foto Arthur Viana

salão, varreu para debaixo do tapete, passou a mão, fez cara de paisagem e ninguém foi a fundo. O que fez o DEM? O DEM foi surpreendido com o episódio de Brasília em que uma parte do governo e uma parte da mídia rotulou de mensalão do DEM, injustamente. E o processo da Jaqueline Roriz mostra isso. Na verdade, isso é um esquema que existe há mais de dez anos no Distrito Federal, que começa com o primeiro mandato do [Joaquim] Roriz. Quando nós fomos surpreendidos com essa história, em 60 dias nós botamos todo mundo pra rua.

Não tenho nenhuma dúvida de que sim. É uma aliança muito maluca: é Serra e Palocci. Porque o Planalto está junto com o PSD. Aí o que ele acertou no que não viu. Primeiro o interesse do governo na fase inicial de criação desse novo partido que vai chamar PSD. A primeira versão era Partido Democrático Brasileiro. Aí eu fiz um discurso na Câmara com grande expediente e criei o Partido da Boquinha. E o PDB deixou de existir porque não ia poder conviver com esse apelido. O que o governo achava era que o partido do Kassab ia desidratar a oposição levando metade do DEM. Não levou. Em São Paulo levou mais vereadores e deputados do PSDB do que do DEM.

Aqui no sul ele tentou estruturar esse partido? O senhor chegou a ser convidado? Aqui no Rio Grande do Sul ele tentou com os nossos. Falou com o Bonow, com o Pujol, falaram com uma série de líderes nossos. O fato é que o partido, aqui no estado, tem um trabalho muito consistente do ponto de vista da formação doutrinária. Nós realizamos periodicamente cursos de formação política. Treinamos e preparamos os nossos quadros. Aqui há uma solidez ideológica mais forte e

ninguém vai sair para uma aventura que, eu acho, corre um seriíssimo risco de ser um dos maiores micos da história política brasileira.

Em 2002 o PFL elegeu 84 deputados, em 2010 foram 43. No senado, os eleitos diminuíram de 14 para apenas dois. Como o senhor vê a diminuição da eleição de políticos de direita? O PFL, quando se transformou no Democratas, buscou construir no Brasil um espaço de centro-direita, para trazer para o Brasil a experiência do centro-democrático que foi o que fez grande sucesso no PP espanhol e que levou os conservadores de novo para o poder na Inglaterra depois de quase 20 anos. Este é um movimento importante, que nasceu na Europa, de partidos de centro-direita, com inspiração liberal e que faz a discussão moderna, que é sobre o grau de intervenção que deve haver na vida das pessoas por parte do governo. Esse tipo de ideia, esse tipo de conceito é a nossa responsabilidade. Quando um Kassab fala que vai fazer um novo partido, em nome do quê? Para fazer o quê? Com que ideia? No Brasil, nas eleições, tu só vês do centro para a esquerda. E esse é um erro que a geração


antiga do PFL cometeu. Simplificou o processo político ao se atrelar ao PSDB, que é um partido social democrata. Nós estamos há 20 anos sem ter candidato para presidente, isso foi um erro. O pensamento de centro-direita não foi valorizado, não teve representação. E time que não joga final de campeonato não tem torcida. Esse é um erro que queremos reparar.

Durante o governo Yeda, o PSDB e o DEM estavam em pé de guerra. Ficaram feridas desse período? Há perspectiva de futuramente PSDB e DEM formarem aliança para o Piratini ou para a prefeitura de Porto Alegre? Claro, não há problema nenhum. Nós nunca tivemos problema com o PSDB. Nossas relações com o PSDB são maravilhosas, são ótimas. Nosso problema tinha nome e sobrenome, Yeda Rorato Crusius. E também por razão específica: pela ausência absoluta de caráter dela. E eu posso dizer isso porque fui o principal articulador da candidatura dela quando ela nem sonhava em ser candidata a governadora. Então, eu conheço bem a história. Ela pode mentir para quem ela quiser, menos pra mim. E nós somos o primeiro e único caso na história do Rio Grande do Sul que entre as benécias do poder legitimamente conquistado e a palavra dada ao eleitor, nós ficamos com a palavra dada ao eleitor. Nós rompemos com a Yeda antes das brigas com o Feijó.

Mas mesmo antes de assumir o governo os dois já se estranhavam. Nós ganhamos a eleição. Uma eleição difícil, em primeiro e segundo turno juntos. Quando ela [Yeda] começa a montar o governo, começa a capitular para interesses que depois são conhecidos de todos: Detran, Ban-

risul. Foram os interesses que financiaram o segundo turno da campanha dela. Pelo menos é a leitura que eu tenho hoje, depois que conheço todos os fatos. Para esses interesses, não era conveniente ter pessoas com princípios muito firmes de administração pública, de transparência nos atos públicos e de luta contra a corrupção, como nós. Éramos um estorvo que precisava ser afastado. E essas pessoas agiram já no segundo turno para nos afastar. Quando ela me liga no início de dezembro de 2006 e diz o seguinte: “Onyx, os nossos técnicos lá, o Aod [Cunha], o pessoal da fazenda, do PMDB, fizeram as contas e nós precisamos manter o ‘tarifaço’ do Rigotto”. Eu disse: “Olha, nós ganhamos uma eleição dizendo que tínhamos uma nova forma de governar e que não íamos aumentar impostos”. Ela disse que nós tínhamos que a ajudar, tínhamos que votar a favor do projeto porque ela precisava dos votos. Eu disse que ia reunir o partido. Reunimos o diretório aqui e tomamos a decisão, por unanimidade, de votar contra o aumento e de trabalhar para não aumentar. Aí a governadora disse que nós estávamos fora do governo dela. Então, ela que ficasse com o seu governo, que nós ficamos com a nossa coerência. Se ela quisesse mentir para o eleitor, que mentisse sozinha. E ali nós rompemos, eu nunca mais falei com ela.

“Nosso problema tinha nome e sobrenome, Yeda Rorato Crusius.” Qual o futuro do DEM no RS? Nós pretendemos dobrar o nosso número de prefeitos e vereadores na eleição do ano

que vem. Estamos trabalhando para isso. Nós temos a perspectiva de, para a eleição de 2012, manter a tradição de Porto Alegre ter candidato.

O senhor pretende se candidatar? Não. O deputado Paulo Borges vai ser o candidato.

Em março, o presidente do DEM, José Agripino, disse que negava o rótulo de ser de direita. Já o senhor disse que era de direita. Por que esse receio de os partidos se afirmarem como direita? Ninguém anda pra frente andando para esquerda, para direita ou ficando no centro. Eu acho que nós temos que avançar. A discussão no mundo é sobre o grau de intervencionismo. A CDU [União Democrata Cristã] prega, na Alemanha, que haja o menor grau de intervenção do Estado na vida das pessoas. O SPD [Partido Social Democrata] prega o contrário. Se alguém disser que para defender liberdade, defender propriedade, defender respeito aos contratos e defender menor intervenção do Estado precisa ser direita, eu sou de direita com muito orgulho.

O governador Tarso Genro disse que não era nem a favor nem contra o uso da maconha. FHC já se mostrou a favor da legalização. Qual a sua opinião? Eu perdi duas pessoas que amava muito: o meu avô materno e o meu pai, por causa do cigarro. A maconha estimula o fumo, que é devastador. Então, eu tenho uma posição contrária. Eu não sou a favor desse tipo de coisa. Acho que nós não vamos fazer uma sociedade melhor viciando a sociedade. Nós fazemos uma sociedade melhor estimulando valores positivos. Eu nunca vi a droga ser boa em nenhuma sociedade.

décima primeira página


vida de cameLÔ por Arthur Viana e Gabriel Hoewell

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om 82 anos, “sessenta e poucos” dedicados à vida de camelô, Harry Alexandre Paulokun se sente em casa dentro de sua loja de dois metros quadrados. O conforto de hoje é novo para esse senhor simpático, de cabelos brancos e voz rouca, assim como para a maioria dos lojistas do camelódromo que hoje é shopping. Harry trabalha na loja 385 do Shopping do Porto, na Rua Voluntários da Pátria, Centro de Porto Alegre. O shopping foi o destino de grande parte dos ambulantes e é uma parceria entre o poder público e a iniciativa privada: a prefeitura cedeu terrenos para a construção do prédio e a empresa vencedora de licitação fez os investimentos, que chegaram a R$ 25 milhões. Por lá, circulam diariamente 30 mil pessoas e atuam 800 lojistas. Envolvido nas associações de vendedores ambulantes do RS por anos, Harry Alexandre teve importante participação no crescimento do mercado informal dos camelôs.

As viagens É curiosa a história desse senhor que desde a década de 1940 vende mercadorias pelas ruas. Harry já vendeu de tudo: cortador de legumes, antenas, afiador de facas corta-vidro e artigos da dupla GreNal. Trabalhou em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Bahia, no Paraguai e no Uruguai. O motivo para tantas mudanças é que “a praça cansa”. As pessoas se acostumavam com a presença de um vendedor na rua e ignoravam os produtos oferecidos aos gritos. Por isso, Harry sempre perseguiu novas praças e mercados. Em todos os lugares a rotina era a mesma: partir cedo para a rua, montar sua banca e expor as mercadorias, vindas de São Paulo. Ali começava o trabalho do camelô, o “bom vendedor, aquele que explica a mercadoria”. Não basta dizer o preço e as condições de pagamento, é preciso conhecer o que se está vendendo. Harry sabe dizer sem titubear a procedência de cada uma das camisetas que vende; pode diferenciar sem dificuldades qual o material de maior qualidade e explicar por que uma bandeira é mais cara do que a outra. Dos tempos em que viveu em São Paulo, traz uma lembrança inusitada. Lá, trabalhou ao lado daquele que foi o camelô mais famoso do Brasil: Sílvio Santos. “Ele vendia canetas e o então inovador plástico para títulos de eleitor. Era bom vendedor, sempre de terno e gravata borboleta”, conta. Quase 50 anos após os dois terem trabalhado lado a lado, Harry foi convidado para participar do programa Tentação, no SBT. Ao reconhecê-lo, Sílvio Santos o presenteou com um relógio folhado a ouro e mil reais.

A volta Depois de duas décadas de viagem, quem cansou não foi a praça, mas o próprio Harry, que decidiu voltar para a sua Praça XV. Mas o lugar que ele esperava encontrar não estava mais lá: “Aquilo estava infestado de camelôs”. E não era só a Praça XV: segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 15,3 milhões

foto Arthur Viana

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de trabalhadores brasileiros não têm carteira assinada, o equivalente a 28,2% dos empregados. Grande parte deste contingente encontra como alternativa ao desemprego o mercado informal. Para tentar melhorar a situação, a prefeitura, na gestão de José Fogaça, criou o Shopping do Porto.

O outro lado Mas, se por um lado Harry aprova a criação do “camelódromo com teto”, outros lojistas não veem com bons olhos a nova forma de ser camelô. Alguns vendedores reclamam do alto valor cobrado pelo aluguel, outros criticam a violenta repressão à pirataria, o que dificulta os ganhos. Walter Corrêa, coordenador do Setor de Fiscalização de Atividades Ambulantes da Smic (Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio), explica que muita mercadoria ilegal é vendida no camelódromo. Porém, a responsabilidade pela fiscalização da origem do produto seria da Receita Federal. A principal atuação da Smic é na apreensão de mercadorias vendidas por ambulantes sem licença. Corrêa explica: “Se é meia ou maconha, para nós é a mesma coisa. A questão é se o vendedor tem ou não licença para vender”. Rosita Parmagnani, chefe do Setor de Licenciamento de Atividades Ambulantes da Smic, garante que todos os trabalhadores do camelódromo têm licença. O alvará é dado aos vendedores sem que se saiba qual produto será comercializado. Outra queixa é sobre a distribuição das bancas. Enquanto alguns ficaram próximos às entradas, outros foram postos em locais de pouco movimento. São os blocos A e B. Segundo Harry, a distribuição das bancas se deu da seguinte forma: próximos a uma das entradas ficaram os deficientes físicos e visuais; depois foram alocados os vendedores com “mais tempo de praça”; por último, houve sorteio. Com clima de feira, o Shopping do Porto atrai clientes pelos bons preços e pelo carisma dos seus vendedores. Cada um ao seu jeito, retiram a denominação pejorativa do termo camelô. “Não sou vendedor”, conclui Harry Alexandre. “Sou camelô, e com orgulho”.


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