POSTAL 1262 9ABR2021

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Interdita venda na distribuição quinzenal com o jornal

9 de abril de 2021

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Diretor: Henrique Dias Freire Quinzenário à sexta-feira

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E ainda

LUÍS GOMES EXPLICA REGRESSO A VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

Restaurante "O Tacho" apoia com oferta de refeições

quando o património duplica o passivo

Baltazar Gomes é o sócio-gerente, e dada a crise alimentar existente compreende a falta de rendimentos de muitas famílias e abraça a missão de doar comida aos mais necessitados da cidade. P2

Não há bancarrota 💢 Meter as pessoas cegas a ver foi um dos momentos

Primeiro hotel cinco estrelas nasce em Faro

A abertura está prevista para o mês de junho e conta com uma área com 2.500 metros quadrados no centro da cidade da capital algarvia. Resultou da recuperação de dois edifícios, um dos quais centenário, num investimento do grupo hoteleiro 3HB Hotels. P4

mais felizes da minha vida

💢 Futuro: preservação da identidade, valorização do património, diversificação económica e apostar nas pessoas

P12 a 13

UM DOS DOIS ENTREVISTADOS VAI SER O PRÓXIMO PRESIDENTE

www.hpz.pt

Voluntários no Ualg V+ são exemplo de inspiração O grupo conta já com 822 voluntários ligados à academia. A sua missão é ajudar quem se encontra em situações de vulnerabilidade P14

AUTÁRQUICAS

PS e PSD fecham listas no Algarve

Algarve continua a ter menos vacinados

É na região algarvia que o processo de vacinação continua a estar mais atrasado: apenas 11% das pessoas tomaram a primeira dose e 5% as duas vacinas. P6

P3 e Editorial

Terramoto político em PortimãoP3

♦ Dinis Faísca

Tavira parou no tempo precisa de novo impulso

P10

POR SAÚL NEVES JESUS

Pode a arte espontânea contribuir para a saúde mental? CS15

♦ Ana Paula Martins

Tavirenses conhecem o meu trabalho

P11

POR JORGE QUEIROZ

POR PAULO SERRA

POR RAMIRO SANTOS

Cultura e indústrias culturais

Entrevista à escritora Tânia Ganho

O Cabo A inteligência do Medo artificial pode destruir a POR JÉSSICA SOUSA Arte prepara-se fotografia para invadir Pública as ruas de Faro

CS16

POR MARIA JOÃO NEVES

Filosofia Dia a Dia: Ética e Saúde Pública CS18

Só escrevo quando consigo pôr-me na pele das minhas personagens

CS20e21

POR MAURO RODRIGUES

CS19

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CADERNO ALGARVE

Postal, 9 de abril de 2021

INICIATIVA TAVIRA

Redação, Administração e Serviços Comerciais Rua Dr. Silvestre Falcão, 13 C 8800-412 Tavira - ALGARVE Tel: 281 405 028 Publisher e Diretor Henrique Dias Freire Diretora Executiva Ana Pinto

REDAÇÃO

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DEPARTAMENTO COMERCIAL

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Tiragem desta edição

7.227 exemplares

Restaurante “O Tacho” aconchega o estômago dos mais necessitados

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setor da restauração tem sobrevivido a conta-gotas durante o período de confinamento, mas há quem ainda procure ajudar os mais carenciados. Baltazar Gomes é sócio-gerente do Restaurante e Take Away “O Tacho”, localizado em Tavira, e dada a crise alimentar existente compreende a falta de rendimentos de muitas famílias e abraça a missão de doar comida aos mais necessitados da cidade. Ao fim do dia, naturalmente existem pratos que não são vendidos e que seriam destinados ao lixo e é nestes que Baltazar Gomes encontra a oportunidade de ajudar os que mais precisam. Diariamente, o restaurante doa e distribui refeições e partilha a iniciativa no grupo do Facebook “Apoio Social Tavira (Covid-19)”, apelando aos mais necessitados que liguem a fazer a reserva. Apesar do esforço constante, Baltazar Gomes refere que o desejo de doar mais é grande, mas lamenta que não seja possível. O estabelecimento iniciou atividade no ano de 1991 e desde então serve clientes e amigos. A equipa conta com 13 elementos que diariamente procuram satisfazer o paladar de quem lhes confia a refeição. Desde o desporto, à música e mesmo ao apoio social, todos estes elementos prometem estar sempre prontos a apoiar a cidade de Tavira, que conhecem como ninguém. A iniciativa conta com imensos apoiantes e a população tavirense agradece a sensibilidade e generosidade do restaurante. Esta semana, com as novas medidas de desconfinamento progressivo, o Restaurante O TACHO já reabriu a sua “magnífica esplanada“ para almoços e jantares.


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Postal, 9 de abril de 2021

POLÍTICA AUTÁRQUICAS

PS e PSD fecham listas no Algarve Enquanto o PS já escolheu os seus candidatos como cabeças de lista às 16 câmaras do Algarve, o PSD aguardava no início desta semana, a indicação pela concelhia de Portimão do nome que faltava para completar a sua lista. Ao início da tarde desta quarta-feira, o Postal apurou que o presidente da câmara de Monchique, Rui André, vai ser o candidato dos sociais democratas aquela que é uma das mais importantes autarquias da região algarvia. Os restantes partidos, ainda se encontram numa fase atrasada do processo. Os grupos independentes em Albufeira e Lagoa, já estão no terreno, enquanto em Aljezur, Manuel Marreiros, mostra sinais de indecisão. Os socialistas optaram por recandidatar todos os nove presidentes de câmara que dispõem na região: Osvaldo Gonçalves (Alcoutim), José Gonçalves (Aljezur), Luís Encarnação (Lagoa), Hugo Pereira (Lagos), Vítor Aleixo (Loulé), António Pina (Olhão), Isilda Gomes (Portimão), Vítor Guerreiro (São Brás de Alportel) e Ana Paula Martins (Tavira). Em Vila do Bispo, os socialistas indigitaram a atual vice-presidente, Rute Silva, para cabeça de lista, uma vez que o presidente, Adelino

Soares, está impedido de se recandidatar por ter atingido o número permitido de mandatos (três). Para disputar as cinco câmaras sob presidência social-democrata, o PS/Algarve escolheu: Ricardo Clemente (Albufeira), Rosa Nunes (Castro Marim), João Marques (Faro), Paulo Alves (Monchique) e Álvaro Araújo (Vila Real de Santo António). Em Silves, Luís Guerreiro foi o escolhido pelo PS para disputar o único município com presidência comunista no Algarve.

Dos atuais dez presidentes socialistas de câmaras do Algarve, apenas cincos voltam a encabeçar as listas para um novo mandato - Osvaldo Gonçalves (Alcoutim), Vítor Aleixo (Loulé), António Pina (Olhão), Isilda Gomes (Portimão) e Vítor Guerreiro (São Brás de Alportel). Os restantes autarcas em funções apresentam-se pela primeira vez como candidatos diretos ao cargo que assumiram em substituição dos autarcas eleitos, casos de José Gonçalves (Aljezur), Luís Encarnação (Lagoa), Hugo Pereira (Lagos) e Ana Paula Martins (Tavira). Nos concelhos de Faro, Silves, Castro Marim e Vila Real de Santo António, os candidatos que não desempenham cargos autárquicos concorrem também pela primeira vez, ao contrário do que sucede nos municípios de Albufeira e de Monchique, onde os socialistas mantêm os cabeça de lista de há quatro anos. O PS tem como principal objetivo vencer o maior número de câmaras na região e manter a presidência da Associação de Municípios do Algarve (AMAL).

LEI PARA AS FREGUESIAS

Associação de municípios quer criação de nova lei

No inícío da semana faltava uma câmara ao PSD No fecho desta edição, o POSTAL apurou que o atual presidente da câmara de Portimão, Rui André, vai ser o candidato do PSD à câmara de Portimão. O anúncio foi feito pelo secretário geral do partido, José Silvano, depois de o POSTAL ter avançado com a notícia. Rui André, professor primário, está a cumprir o terceiro e último mandato como presidente da câmara de Portimão. Os outros nomes conhecidos como candidatos dos sociais-democratas são os seguintes: Albufeira (José Carlos Rolo), Alcoutim (Carlos Ludovico), Aljezur (Hélder Cabrita), Castro Marim (Francisco Amaral), Faro (Rogério Bacalhau), Lagoa (Mário Vieira), Lagos (Pedro Moreira), Loulé (Rui Cistina), Olhão (Álvaro Viegas), Monchique (Bruno Estremores), Portimão (Rui André), S. Brás de Alportel (Bruno Sousa ), Silves (João Garcia), Tavira (Dinis Faísca), Vila do Bispo (Paula Freitas), Vila Real de Sto António (Luís Gomes).

TERRAMOTO POLÍTICO COM EPICENTRO EM PORTIMÃO

F

oi uma semana política muito agitada e que ficou marcada por avanços e recuos de uma coligação que não chegou verdadeiramente a sê-lo. Mal tinha acabado de anunciar a sua candidatura à câmara municipal de Portimão, Luís Carito, começava a sentir que o chão lhe escapava por debaixo dos pés. O apoio que acabara de receber dos líderes das concelhias do PSD

e CDS, esfumou-se rapidamente perante a intervenção da direção nacional do PSD declarando que não homologava aquele acordo. Por esse motivo, o assunto não chegou a subir para votação na reunião da comissão distrital ocorrida na tarde do sábado passado. Luís Carito já reafirmou a sua intenção de levar por diante a sua candidatura como independente, enquanto o atual presidente

da câmara de Monchique, Rui André, em final do seu terceiro mandato, vai ser o candidato do PSD a Portimão.

O anúncio foi feito pelo secretário geral do partido, após o POSTAL ter avançado com a notícia.

A Associação Nacional de Municípios Portugueses considerou "urgentíssimo" a criação de uma lei para as freguesias com um regime "específico e simplificado" para corrigir problemas da reforma de 2013, mas admitiu que será difícil fazê-lo até às autárquicas. A ANMP, que representa os municípios portugueses, foi terça-feira ouvida na Assembleia da República, onde estão em discussão três propostas para uma lei-quadro para as freguesias, resolvendo também problemas criados pela reforma administrativa de 2013, com a possibilidade de repor freguesias que foram extintas ou unidas a outras. Na audição na comissão de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local, Manuel Machado, presidente da ANMP, sublinhou a "necessidade urgentíssima" desta lei para fazer face ao vazio legislativo atualmente existente, "dado que não há normas que permitam reordenar o mapa das freguesias desde a chamada reforma de 2012/2013", mas reconheceu que será difícil fazer esta reforma a tempo das eleições autárquicas previstas para o outono. "A reforma é importante, é urgentíssimo, como disse, pôr termo ao hiato que existe do ponto de vista legal no tempo presente, mas deve haver tempo também para ponderar, para auscultar, para analisar e discutir. Naturalmente que este meio ano é escasso e há que reconhecê-lo com clareza, para não haver nenhum subentendimento", afirmou. Manuel Machado defendeu a criação de "um regime específico e simplificado que possibilite a correção da agregação de freguesias forçada, operada em 2012/2013". Entre os casos a precisar de serem corrigidos estão alguns "territórios de freguesia que são ilhas de outras freguesias circunvizinhas", exemplificou. A ANMP defendeu ainda que a criação, modificação ou extinção de uma freguesia deve ter em conta a expressa "vontade política da população". Os deputados estão a discutir três propostas para uma lei-quadro de criação, modificação e extinção destas autarquias que deverá permitir que freguesias agregadas contra a vontade das populações na reforma administrativa de 2013 que eliminou mais de mil freguesias, das quais 17 no Algarve (são agora 67 em vez das 84), feita pelo Governo PSD/CDS-PP e negociada com a 'troika', possam voltar atrás.

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REGIÃO

Grupo 3HB Hotels abre em Faro primeiro hotel cinco estrelas

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cidade de Faro vai contar a partir de junho com o primeiro hotel de cinco estrelas, dis-

tinguindo-se por um conceito adaptado aos novos viajantes e à cultura local. Implantado numa área com 2.500 metros quadrados no

centro da cidade da capital algarvia, o 3HB Faro resultou da recuperação de dois edifícios, um dos quais centenário, num investimento do

grupo hoteleiro 3HB Hotels. Com um total de 103 quartos, a unidade hoteleira integra dois restaurantes, bares, ‘spa’, uma piscina interior e outra

exterior, esta última instalada na cobertura do edifício com vista para a Ria Formosa. Além destes equipamentos, a unidade hoteleira dispõe ainda de um centro de cultura e de conferências direcionado a empresas, num segmento ‘corporate’ e um ginásio. “Este projeto resultou de uma mudança de filosofia daquilo que era a normalidade operacional do grupo em conceitos mais de família, com uma aposta num novo segmento turístico não tão sazonal”, disse à Lusa Rodrigo Roquete, diretor de comunicação do grupo 3HB Hotels. Segundo o responsável, este novo hotel de cinco estrelas de Faro, bem como outras duas novas unidades previstas para abrirem em Faro e em Lisboa, “são adaptadas ao viajante atual, à vertente das experiências, com ligação à cultura e gastronomia locais”. “Não sendo Faro um destino óbvio para quem procura o Algarve, a revitalização da zona histórica e da baixa da cidade, do ponto de vista gastronómico, social, cultural e de eventos, justifica a implantação de uma unidade hoteleira que fosse ao encontro deste novo estilo”,

sublinhou. Rodrigo Roquete perspetiva que o 3HB Faro “poderá ser um ponto de partida para o turista conhecer a cidade, a sua cultura, os usos e costumes e toda a parte dos recursos naturais, como a Ria Formosa”. “Queremos ter uma forte ligação com a cidade, com esta revitalização que está a ser feita, com vários pontos que estão a ser criados por pessoas inovadoras e queremos estar associados a esta nova abordagem muito focada nas experiências e cultura local”, frisou. Segundo Rodrigo Roquete, o 3HB Faro tem abertura prevista para o início de junho, embora “a situação da pandemia da covid-19 cause sempre alguma angústia”. “Nesta fase inicial não estamos propriamente preocupados com as taxas de ocupação do hotel mas ainda assim, gostaríamos que fosse um verão bom. Estamos mais preocupados em ter tudo a funcionar bem e a ter o agrado das pessoas, a causar uma primeira boa impressão”, concluiu. O 3HB Faro é a quinta unidade hoteleira que o grupo 3HB Hotels detém no Algarve.


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REGIÃO

Embargados trabalhos em terreno do Parque Natural da Ria Formosa

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Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) embargou um conjunto de intervenções realizadas sem autorização ou parecer prévio num terreno situado no Parque Natural da Ria Formosa, em Tavira, disse esta terça-feira o diretor regional do Algarve. O embargo foi decidido “depois de técnicos do instituto se terem deslocado ao local” e terem detetado a construção de uma via de acesso, um muro de pedra e uma vedação num terreno abrangido pelo Parque Natural da Ria Formosa, em Tavira, na sequência de uma denúncia de um movimento de defesa ambiental e do património, contextualizou Joaquim Castelão Rodrigues à Lusa. “Sabendo através de uma denúncia que havia uma operação a ser executada num terreno, nomeadamente a abertura de caminhos e colocação de vedações, uma equipa nossa des-

locou-se ao local para ver e constatar o que se passava e, na sequência da visita, procedeu-se ao embargo da obra e abertura de um processo de contraordenação”, afirmou o diretor regional do Algarve do ICNF. Joaquim Castelão Rodrigues referiu que, no mesmo terreno, no passado, o proprietário “já tinha feito uma ligeira intervenção” que levou à atuação do ICNF e à abertura de uma primeira contraordenação, que “está ainda em curso”. A mesma fonte esclareceu que,

nessa primeira ocasião, “não foi necessário fazer o embargo, porque o proprietário paralisou os trabalhos” a pedido do ICNF, mas agora as intervenções “foram mais longe e executadas sem autorização e pedido de parecer”. “No interior do Parque da Ria Formosa, o ICNF tem de se pronunciar sobre qualquer trabalho e, à partida, nada podia ser feito porque não foi pedido parecer”, justificou. A intervenção do ICNF teve origem numa denúncia do movimento de

eco cidadania “Tavira em Transição”, que pediu às autoridades com competência na fiscalização ambiental para investigarem um conjunto de intervenções “ilegais” junto a uma falésia do Parque Natural da Ria Formosa, na União de Freguesias de Conceição e Cabanas de Tavira. Em causa estavam, segundo o movimento de defesa do património ambiental, a “realização de infraestrutura viária, a alteração da topografia da arriba, a construção de vedação e de muro em plena falésia do Parque Natural da Ria Formosa”. “Esta denúncia parte de três circunstâncias. A primeira e mais óbvia, é a circunstância de que uma intervenção destas nunca poder ter o acordo das autoridades competentes, em função da legislação em vigor. Concluímos, portanto, que foi uma intervenção não autorizada e em completo desrespeito pelas

normas legais em vigor e sem o conhecimento das várias autoridades que superintendem no espaço onde se verificou a referida intervenção”, justificou o movimento num comunicado. A mesma fonte precisou que a “segunda circunstância tem a ver com a destruição” causada pelas intervenções no que respeita à “movimentação de terras, à terraplanagem, à construção de uma cerca com dois metros de altura e de um muro de alvenaria”, com efeitos na “destruição de coberto vegetal autóctone” da zona. “A terceira circunstância tem a ver com a absoluta necessidade de, mais do que penalizar esta infração com uma coima, ser obrigatório repor a situação tal como se encontrava antes da intervenção. Todas as novas estruturas devem ser removidas, o local onde foi aberto um caminho deve ser renaturalizado”, defendeu o movimento.


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Breves

Costa preocupado com velocidade de contágios nas escolas O primeiro-ministro manifestou-se preocupado com a velocidade de transmissão das infeções de covid-19 nas escolas, que associou à variante britânica, e afirmou estar em curso um reforço da testagem e um alargamento da vigilância. António Costa falou esta terça-feira, após ter estado reunido por videoconferência com os presidentes de câmaras dos sete municípios que registam mais de 240 casos de covid-19 por cem mil habitantes nos últimos 15 dias: Alandroal, Carregal do Sal, Moura, Odemira, Portimão, Ribeira de Pena e Rio Maior. Confrontado com dados que indiciam um aumento dos contágios entre crianças, sobretudo desde que reabriram as escolas em 15 de março, o líder do executivo reconheceu estar apreensivo.

Algarve é a região com o maior índice de transmissibilidade O

(Rt) da covid-19 tem vindo a aumentar desde meados de fevereiro e subiu para 1,02 no continente divulgado esta quarta-feira, sendo mais elevado na região do Algarve, onde estava em 1,19, de acordo com o primeiro relatório de monitorização das 'linhas vermelhas' divulgado na passada sexta-feira. Estes indicadores são os critérios definidos pelo Governo para a avaliação contínua do processo de desconfinamento iniciado em 15 de março. Dos dez concelhos do país com mais incidência de casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, dois são do Algarve. A lista é composta pelos seguintes municípios: Machico (500), Moura (474), Rio Maior (334), Odemira (316), Portimão (308), Carregal do Sal (302), Ribeira de Pena (283), Ribeira Brava (225), Vila do Bispo (213) e Marinha Grande (203). Na apresentação do plano de desconfinamento, o primeiro-ministro avisou que as medidas da reabertura serão revistas sempre que Portugal ultrapassar os “120 novos casos por dia por 100 mil habitantes a 14 dias” ou sempre que o Rt ultrapasse 1.

Processo de vacinação continua

mais atrasado no Algarve

FOTOS D.R.

S

ão os números mais recentes do plano de vacinação em Portugal, anunciados esta terça-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS). Na análise continental por região, é no Algarve que o processo continua mais atrasado com apenas 11% das pessoas com a primeira dose e 5% com as duas. Seguem-se Norte (12% e 5%, respetivamente) e Lisboa e Vale do Tejo (também com 12% e 5%). As regiões onde o processo está mais avançado são o Alentejo, onde 17% das pessoas tomaram a primeira dose e 9% as duas, e o Centro - com 17% e 8%, respetivamente. Nas regiões autónomas, os opostos são de maior extremidade. A Madeira tem 12% da população com a primeira dose e 6% com ambas, já os Açores têm apenas 8% das pessoas com a primeira dose e 4% com as duas.

VACINAÇÃO POR REGIÃO Portugal Continental

Vacinadas com a primeira dose estão agora 1.334.338 pessoas (13% da população), tendo 135.736 recebido esta toma na última semana, indica a DGS. Por grupos etários, destaca-se a faixa dos idosos com 80 ou mais anos, na qual 85% (576.599 pessoas) já foram vacinados com a primeira toma e 44% (298.862) já têm a vacinação completa.

Só 6% tomaram dose completa e 13% a primeira dose

VACINAÇÃO POR REGIÃO Em % da população de cada faixa etária

Perto de 580 mil pessoas têm a vacinação completa contra a covid-19, o que representa 06% da população, das quais cerca de 300 mil idosos com 80 ou mais anos. Segundo o relatório semanal da DGS, 579.069 portugueses já receberam as duas doses da vacina contra o SARS-CoV-2, 83.652 das quais na última semana.

RESTAURANTE O TACHO

Restaurante de estilo familiar Take-Away: Entrega ao domicílio em Tavira

Estrada Nacional 125, Km 134 (junto à GNR) 8800-218 Tavira)

No grupo entre os 65 e os 79 anos, 15% (237.063) já tomou a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus, mas apenas 03% (50.930) têm a vacinação completa. O relatório adianta ainda que 12% das pessoas com idades entre os 50 e 64 anos (252.678) foram vacinadas com a primeira dose, percentagem que baixa para os 04% (82.690) no que se refere à vacinação completa nesta faixa etária.

Relativamente à cobertura vacinal por regiões, em termos absolutos, o Norte continua a liderar no número de vacinas administradas (626.873 doses) desde 27 de dezembro, quando se iniciou o plano de vacinação contra a covid-19, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo (605.758), o Centro (404.406), o Alentejo (123.627) e o Algarve (71.744). Nas regiões autónomas, a Madeira já vacinou um total de 48.501 pessoas, enquanto nos Açores só foram administradas 30.011 doses, mas a DGS refere que os indicadores para este arquipélago “poderão estar subestimados” devido a um atraso entre vacinas administradas e o seu registo. Portugal ultrapassou esta semana a barreira dos dois milhões de vacinas recebidas, com um total de 2.344.530 doses desde o final de 2020, 1.996.561 das quais já distribuídas pelos postos de vacinação do país.

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REGIÃO

Centro algarvio angaria fundos para cuidar das crias acolhidas

Maior fiscalização nos concelhos mais atingidos

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O primeiro-ministro anunciou esta terça-feira que será reforçada a fiscalização pelas forças de segurança nos municípios com maior incidência de casos de covid-19 e intensificadas as inspeções às condições sanitárias de habitações temporárias de obras ou colheitas. Estas medidas foram anunciadas por António Costa após ter estado reunido por videoconferência com os presidentes de câmaras dos sete municípios que registam mais de 240 casos de covid-19 por cem mil habitantes nos últimos 15 dias: Alandroal, Carregal do Sal, Moura, Odemira, Portimão, Ribeira de Pena e Rio Maior. Na generalidade dos casos, verifica-se a existência "de um padrão comum". A origem dos surtos está na "concentração de pessoas, na habitação precária e temporária associada ou nas grandes obras públicas ou a colheitas, ou, ainda, em trabalhos em unidades industriais que recorrem a habitação local".

Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS), em Olhão, no Algarve, iniciou uma campanha de angariação de fundos para cuidar das pequenas crias de aves e mamíferos que recebe durante a primavera e o verão. “Está a aproximar-se a época de mais trabalho do RIAS, altura em que recebemos mais crias - na primavera e no verão - e como são animais que precisam de muita dedicação precisamos de aumentar a equipa”, disse à Lusa a coordenadora do RIAS. Fábia Azevedo adiantou que as crias representam “10% dos animais recolhidos no centro, 300 por ano”, mas implicam um tratamento intensivo, que no caso dos mamíferos - ouriços-cacheiros, lontras, ginetas, morcegos - envolve uma alimentação “24 horas por dia”. As necessidades nutritivas destes animais implicam “um gasto extra”, já que é necessário adquirir “rações especiais e insetos vivos”, realçou.

Os apoios à campanha “Ajude a salvar as crias de animais selvagens”, que pretende atingir os 3.200 euros, podem ser feitos através da plataforma de ‘crowdfunding’ PPL – em ppl. pt/causas/rias - e implicam uma recompensa que, dependendo do valor doado, pode ser a fotografia digital de um dos pacientes com uma nota de agradecimento, um convite para a libertação de um animal ou mesmo uma visita ao centro, entre outros.

A bióloga sublinhou que as contribuições devem ser feitas apenas através da plataforma - e não diretamente para o RIAS –. já que este tipo de campanhas implica que o valor solicitado seja atingido para que possa ser recebido. Todos os anos o RIAS tem a necessidade de contratar pessoas para cuidar especificamente das crias, mas a pandemia de covid-19 dificultou a obtenção dos habituais donativos nas libertações de ani-

mais. Os visitantes do centro no parque de Marim, em Olhão (distrito de Faro), eram "outra fonte de rendimento", algo que deixou de acontecer desde o início da pandemia, em março de 2020. “Como já não temos esses momentos há um ano, o orçamento que temos para esta altura do ano não é suficiente”, indicou a coordenadora. Desde 2009 que o RIAS é responsável pela gestão do Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, localizado em pleno Parque Natural da Ria Formosa. O funcionamento é garantido pelo apoio do Aeroporto de Faro, "reduzido em 50% em 2020", para 20.000 euros, e compensado em parte pelas "contribuições de quase todas as câmaras municipais algarvias". Em 12 anos o centro já recolheu mais de 15.000 animais e 2020 foi o ano mais trabalhoso, com mais de 3.000 acolhimentos. Os primeiros três meses de 2021 seguem o mesmo caminho, com “quase 900 animais” entregues, notou Fábia Azevedo.

DOIS MINUTOS PARA OS DIREITOS HUMANOS 2. QATAR

1. GLOBAL Segundo um novo relatório da Amnistia Internacional, prisioneiros em todo o mundo têm sido esquecidos durante a pandemia de COVID-19, com prisões a recorrerem a medidas de controlo que violam direitos humanos para prevenirem os contágios. A organização apela aos estados que não discriminem as pessoas mantidas em detenção e as incluam nos planos nacionais de vacinação, tendo em atenção sempre que as condições não permitam o distanciamento físico e confinamento.

Por ocasião do início dos jogos de qualificação para o Campeonato Mundial de 2022, a Amnistia Internacional apelou à FIFA para usar a sua influência junto das autoridades do Qatar para que terminem as violações de direitos humanos de trabalhadores migrantes. A FIFA deve estar à altura das suas responsabilidades de direitos humanos relacionadas com o torneio e utilizar a sua influência para instar o Qatar a cumprir todas as promessas de reformas laborais.

4. LÍBANO 4

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Junte-se a nós. Encontre o grupo mais perto de si em www.amnistia.pt/grupos

Uma recente investigação da Amnistia Internacional denuncia a forma como as forças de segurança libanesas têm cometido violações de direitos humanos contra refugiados sírios detidos, muitas vezes arbitrariamente, por acusações relacionadas com terrorismo. A organização defende que membros de grupos armados devem ser responsabilizados pelos crimes cometidos, mas a violação flagrante pelas autoridades libanesas do direito a procedimentos justos tornou a justiça numa paródia.

3. CHINA Uma nova investigação da Amnistia Internacional revelou o sofrimento das famílias separadas de crianças uigures, mantidas em “orfanatos” estatais na região chinesa de Xinjiang. A organização entrevistou famílias uigures exiladas que foram completamente afastadas das suas crianças – algumas tão novas quanto os cinco anos de idade – e que não podem regressar à China devido à ameaça de serem enviadas para um campo de internamento e “reeducação”.

5. NIGÉRIA A violência perpetrada por elementos do Boko Haram continua a assolar o nordeste da Nigéria. Dados recolhidos pela Amnistia Internacional revelam que estes combatentes atacaram mulheres e raparigas, recorrendo a violação e outras formas de violência sexual, equivalentes a crimes de guerra, tendo ainda assassinado civis e pilhado bens. O conflito criou uma crise humanitária que permanece sem resposta, com mais de dois milhões de deslocados internos e total ausência de justiça.


CADERNO ALGARVE

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REGIÃO Resorts da Kronos Homes reabrem campos de golfe

Obras de requalificação da antiga lota de Portimão vão estar concluídas antes do final do ano

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o início desta semana arrancaram as obras de requalificação do edifício onde funcionou durante muitos anos a lota de Portimão, num investimento municipal na ordem dos 960.000 euros e com um prazo de execução de 180 dias. "Os trabalhos contemplam a substituição da cobertura e o reforço das paredes e de toda a estrutura, com respeito pela traça original do imóvel, ficando o rés-de-chão dotado de ampla sala multifunções, preparada para receber eventos culturais e recreativos, enquanto nas traseiras do edi-

fício poderá funcionar uma cafetaria", explica a autarquia portimonense e comunicado. As obras neste emblemático edifício, que marca a paisagem da zona ribeirinha de Portimão, consagram igualmente "a modernização das redes de água, eletricidade e telecomunicações, a criação de diversas salas de apoio no piso térreo e no 1º andar, bem como instalações sanitárias". Esta intervenção de fundo, que já se encontrava prevista há algum tempo, recebeu há poucas semanas o visto prévio do Tribunal de Contas e pretende transformar a antiga lota de Portimão num edifício de utilidade pública,

devidamente preparado para acolher projetos culturais, festividades, comemorações e eventos ligados às tradições locais e regionais, sobretudo relacionados com a gastronomia, o artesanato e outras manifestações de cunho popular. Localizado logo à entrada da cidade pela chamada “ponte velha”, o edifício foi construído em 1916 para acolher a primeira central elétrica da então Vila Nova de Portimão, passando a funcionar como lota entre as décadas de 1950 e 1980, altura em que foi utilizado para apoio a diversos restaurantes da sardinha assada, antes de ser identificado no Plano Di-

retor Municipal como imóvel de interesse concelhio.

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A Kronos Homes, marca de promoção imobiliária residencial da Kronos, reabriu esta segunda-feira os espaços ao ar livre dos restaurantes dos dois resorts no Algarve, o Palmares Ocean Living & Golf, em Lagos, e o Amendoeira Golf Resort, em Alcantarilha. "As esplanadas dos respetivos Clubhouses estão prontas para receber os clientes com a mesma qualidade e requinte de sempre. Com vistas panorâmicas para o mar, o Clubhouse do resort Palmares Ocean Living & Golf foi concebido pelo ateliê RCR Arquitectes, distinguido com o Prémio Pritzker de 2017, o mais prestigiado galardão internacional da arquitetura", avança a Kronos Homes em comunicado. O restaurante do Clubhouse, inaugurado em novembro sob a liderança do Chef Louis Anjos, reconhecido por uma estrela Michelin, oferece uma gastronomia de cariz Mediterrânico, com alguns dos bivalves mais importantes do estuário do Alvor – que rodeia parte do resort– bem como peixe fresco, carne e alguns apontamentos internacionais. No restaurante do Amendoeira Golf Resort, perto de Silves, em Alcantarilha, destaca-se também a gastronomia mediterrânica. Para além dos restaurantes, esta segunda-feira reabriram ainda os campos de golfe dos dois resorts da Kronos Homes. Também os escritórios de vendas, em ambos os locais, já estão novamente em funcionamento.

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CADERNO ALGARVE

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ENTREVISTA DINIS FAÍSCA, candidato independente do PSD à Câmara de Tavira

É preciso governar pelo exemplo FOTO D.R.

♦ Tavira é uma das zonas do Algarve onde o acesso à habitação é mais difícil ♦ Fui educado para a preocupação social e o trabalho intenso em favor de todos ♦ O bom resultado eleitoral é merecer a confiança dos tavirenses

Texto HENRIQUE DIAS FREIRE | CRISTINA MENDONÇA Quer acabar com a discriminação em função das ideologias ou amizades e dar respostas em tempo útil às solicitações dos munícipes. Dinis Faísca sente um desejo imenso de mudança por parte da população tavirense: "Tavira parou no tempo e necessita de um novo impulso". Lamenta que os últimos 11 anos de gestão autárquica sejam “o fazer por fazer”, sem o devido amadurecimento dos projetos, sem a participação de uma equipa pluridisciplinar na busca da melhor resposta, sem uma apresentação pública alargada e detalhada dos mesmos. P O que o leva a candidatar-se ao executivo da Câmara Municipal de Tavira? R O que me levou a aceitar o desafio de encabeçar a lista do PSD, como independente à Câmara de Tavira, foi a convicção que é possível estar na política com espírito de missão e humildade, ao serviço de todos sem olhar a cores, com o único propósito de melhorar a qualidade de vida daqueles que amam este concelho e o escolheram para aqui residir e criar condições de atratividade para que outros aqui queiram viver. A minha candidatura é, também, uma afirmação de liberdade, de rutura com as cadeias do medo e da intimidação que se fazem sentir sobre aqueles que pensam de forma diferente. Não podemos ter medo de dar a cara por aquilo em que acreditamos e muito menos de sofrer represálias ou telefonemas intimidatórios, só porque queremos abraçar um projeto diferente. Não é admissível que

se use o cravo na lapela e se coarte a liberdade de pensamento e expressão, que se alimente o medo.

Urge ouvir os tavirenses, sentir as suas dificuldades e anseios e envolvê-los nas decisões Urge ouvir os tavirenses, sentir as suas dificuldades e anseios e envolvê-los nas decisões, para conjuntamente construirmos uma sociedade mais justa, mais preparada para dar resposta aos desafios criados por esta crise sanitária e económica que estamos a viver. Todas as nossas decisões e ações devem ser em função das pessoas e como respostas às suas necessidades. P Nos seus contactos com as populações, que receção tem encontrado?

A CONFIANÇA DOS TAVIRENSES SERÁ O NOSSO BOM RESULTADO P Sendo um cidadão não filiado em nenhum partido político, porque encabeça a lista do PSD?

Este projeto começou com a necessidade que um grupo de tavirenses, de diversas sensibilidades políticas e áreas profissionais, sentiu de construir uma alternativa consistente a apresentar às eleições autárquicas. Criámos grupos de estudo e reflexão nas mais diversas matérias de forma a dar robustez e envolvência. R

O PSD local e regional acompanhou os nossos trabalhos e lançou-nos o desafio de avançarmos com o seu apoio. Aceitámos com a condição de sermos nós a construirmos o programa eleitoral e as respetivas listas, olhando unicamente à competência, disponibilidade, generosidade, envolvência comunitária e capacidade de trabalho. Não sou filiado, considero-me um democrata com uma vincada preocupação social e prezo a liberdade individual sem a absolutizar.

R Sinto um desejo imenso de mudança. Tenho sido recebido com muito afeto e reconhecimento de uma forma diferente de estar na política e na vida. Já várias pessoas me disseram que Tavira parou no tempo e necessita de um novo impulso. Inicialmente era eu que contactava para escutar as ideias e sugestões; neste momento, já são as pessoas que me ligam para falar comigo e conhecer a minha equipa. Mas, há um denominador comum em todos os contactos estabelecidos com a população, o medo de represálias, mas também uma profunda revolta e desejo de se libertarem das mesmas. P Que balanço faz da gestão autárquica socialista em Tavira, nestes últimos 11 anos? R O que marca os últimos 11 anos de gestão autárquica é o fazer por fazer, sem o devido amadurecimento dos projetos, sem a participação de uma equipa pluridisciplinar na busca da melhor resposta, sem uma apresentação pública alargada e detalhada dos mesmos. Não há trabalho de equipa. Algumas obras realizadas por este executivo até fazem sentido, não é a necessidade das mesmas que está em causa, é a forma como são feitas. A dimensão, a volumetria, a localização, são discutíveis e deverão sê-lo, não durante a execução, mas durante a conceção. Mas, para tal deviria existir o esforço de envolver técnicos de diversas áreas de estudo e a população no seu todo. Um município que se preze tem que governar pelo exemplo e não exigir aos privados aquilo que não cumpre. Proibir o uso de LEDS no centro histórico está bem, mas não pode coloca-los nos espaços públicos. Inviabilizar a construção com mais de três pisos no centro histórico é preservá-lo, mas não pode ser o município a desrespeitar

essa regra fundamental. Exigir aos privados condições de acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida é fundamental na democratização dos acessos, mas o município terá de ser o primeiro a criar condições de acessibilidade aos seus edifícios.

É prioritário criar condições para a fixação e captação de jovens

P O que distingue a sua candidatura do seu principal opositor? R É a capacidade de planeamento, em articulação e escuta da comunidade. O trabalho em equipa, o espírito de entrega generosa em prol do concelho, não discriminar em função das ideologias ou amizades e a resposta em tempo útil às solicitações. Em suma, a minha matriz de formação humanista. Fui educado para a preocupação social e o trabalho intenso em favor de TODOS. P Que propostas e projetos fundamentais tem para o futuro do concelho de Tavira? R Num contexto de pandemia, quando um número considerável de pessoas está a passar por necessidades importa, antes de mais nada, responder a essas mesmas necessidades. É prioritário criar condições para a fixação e captação de jovens, através da aposta na formação profissional e no apoio ao empreendedorismo, à constituição e funcionamento de empresas. O município deverá ser um facilitador e estar ao lado das empresas que se pretendam instalar no território, de forma a criar postos de trabalho e

dinamismo económico. Sendo Tavira uma das zonas do Algarve onde o acesso à habitação é mais difícil, urge promover uma política social de habitação. Depois de 12 anos sem que a Câmara Municipal de Tavira tivesse construído uma única casa de habitação, é chegada a hora de apostar não só na construção de habitação social, como, também, de habitação a custos controlados e em regime de cooperativas, em todas as freguesias do concelho. É essencial a aposta no ensino artístico e na promoção da atividade física no primeiro ciclo, como forma de educar para a saúde e promover a qualidade de vida. Fomentar a prática desportiva ao ar livre, com a criação de novos espaços e a abertura à comunidade dos existentes. Fortalecer e promover a identidade cultural do território e a promoção e certificação dos nossos produtos autóctones. Apostar fortemente nos patrimónios, natural, cultural, dos saberes e tradições. A saúde é uma das nossas grandes preocupações. Defendemos um serviço básico de urgências a funcionar em Tavira e a criação de uma unidade de saúde integrada que possa ser uma referência no Sotavento Algarvio. Brevemente, apresentaremos o nosso programa de forma mais concreta e estruturada. Quais são as suas perspetivas eleitorais? Existe um bom ou um mau resultado para si? E para o movimento que lidera? R Estou convicto que os tavirenses confiam em nós e irão reconhecer que somos diferentes e que nos propomos a fazer diferente. Iremos trabalhar intensamente para merecer a confiança dos tavirenses e esse será o nosso bom resultado. P


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ENTREVISTA ANA PAULA MARTINS, candidata do PS à Câmara de Tavira

Existem sempre novas ideias e projetos para pôr em prática FOTO D.R.

♦ Estou muito confiante. Os tavirenses conhecem-me e conhecem o meu trabalho ♦ A requalificação das frentes ribeirinhas da cidade de Tavira é uma realidade em curso ♦ Vamos ouvir as pessoas e elaborar um

ao Rio com miradouros, esplanada e parque de merendas. A concretização de um porto de recreio na área destinada ao porto de pesca, está também a ser avaliada e a sua concretização proporcionará condições de acostagem às embarcações dos residentes e visitantes. P Assunto da polémica atual centra-se na reconstrução do Cineteatro António Pinheiro. Gosta do que vê ou subscreve as opiniões criticas que correm nas redes sociais? R Eu vejo um equipamento essencial para a cidade e para a sua dinamização cultural, que permitirá a realização de espetáculos de música, teatro, dança e cinema bem como a utilização pelas associações do concelho. O projeto realizado por arquitetos de Tavira, e alvo de vários pareceres, mantém a volumetria do antigo espaço, com exceção da caixa de palco, que tem de subir de modo a que o equipamento cumpra a sua função e possamos receber espetáculos de todos os tipos. Não podíamos perder a oportunidade de reabilitar este espaço com uma comparticipação significativa de fundos comunitários e deixar Tavira sem um equipamento desta natureza.

programa participado e mobilizador

Texto HENRIQUE DIAS FREIRE | CRISTINA MENDONÇA Diz estar bem preparada para enfrentar os próximos desafios e projetar o futuro de Tavira. A sua grande prioridade são as pessoas, que serão ouvidas para que seja elaborado um programa eleitoral participado e mobilizador, que vá ao encontro das suas necessidades, nomeadamente nas questões sociais. Do seu trabalho, Ana Paula Martins destaca as respostas sociais traduzidas em apoios que a autarquia criou para minimizar os impactos da pandemia junto das famílias, das associações e das empresas. P É a sua primeira candidatura à presidência da Câmara de Tavira, uma vez que exerce o cargo em substituição de Jorge Botelho, chamado a desempenhar funções no governo. Um bom resultado para si e para o PS, não será outro senão a vitória. Está confiante? R Estou muito confiante. Os tavirenses conhecem-me e conhecem o meu trabalho. Sabem que sou uma pessoa honesta, empenhada e trabalhadora. Nasci, cresci e resido em Tavira, estou no executivo camarário desde outubro de 2009 como vereadora e Vice-presidente e desde outubro de 2019 como presidente. Tem sido uma experiência gratificante e de dedicação total trabalhar para Tavira e para a sua população. Após 5 meses nesta função, surgiu esta pandemia mundial que a todos surpreendeu e que apelou à nossa capacidade de resiliência e adaptação, exigindo dos autarcas um enorme esforço.

Julgo que mostrei estar à altura da situação, trabalhando articuladamente com o executivo e com a Proteção Civil local e regional na proteção da nossa comunidade e na mitigação dos riscos de contágio, centrando a atividade na resposta à nova realidade sem deixar de concretizar os restantes projetos municipais.

Estratégia Local de Habitação permitirá a construção de nova habitação social P Do seu trabalho e deste mandato que obra destacaria? R Nesta última fase destacaria as respostas sociais, traduzidas em apoios que o município criou para minimizar os impactos da pandemia junto das famílias, das associações e das empresas.

A CONFIANÇA DE UMA GESTÃO COM RIGOR E CONTAS CERTAS Que boa razão apontaria para pedir o voto à população de Tavira? P

R A confiança de uma gestão com rigor e contas certas, a capacidade de concretizar projetos e o profundo conhecimento que tenho das necessidades do concelho, após estes anos de trabalho autárquico.

Apesar do muito trabalho já realizado, existem sempre novas ideias e projetos para pôr em prática e melhorar o concelho e as condições de vida das pessoas. Penso que a consciência desta realidade, faz de mim uma candidata bem preparada para enfrentar os próximos desafios e projetar o futuro de Tavira.

Destacaria ainda, a execução da Estratégia Local de Habitação, com financiamento assegurado, que permitirá a construção de nova habitação social e habitação a custos controlados. Relativamente a obras, destacaria a requalificação da Escola EB Santo Estevão, a reabilitação em curso do Cine Teatro, da Piscina e do Pavilhão municipais, a construção da nova Ponte sobre o Rio Gilão, a substituição e alargamento do Passadiço de Cabanas e um conjunto vasto de pavimentações. P Tavira com toda a sua história e património, tem todas as condições para se afirmar no contexto regional e nacional com uma ideia e um projeto de cultura? O que falta? R Tavira já se afirmou no contexto regional e nacional em termos culturais, pelo seu património arquitetónico e imaterial, como Comunidade Representativa da Dieta Mediterrânica, traduzida na qualidade das exposições realizadas no Palácio da Galeria e numa oferta cultural diversificada durante todo ano (agora condicionada por força do contexto atual) com con-

tributos significativos das associações locais. O futuro cineteatro, a construção do Núcleo Fenício e a abertura do Museu 0, serão importantes para consolidar ainda mais esta vertente. P E o rio? Para quando um projeto de valorização do rio, das suas margens, da sua navegabilidade para pequenas embarcações de passeios turísticos. A Veneza algarvia não se devia apenas circunscrever ao nome, não acha? R A requalificação das frentes ribeirinhas da cidade de Tavira é uma realidade em curso, com intervenções já concretizadas e outras em projeto. As intervenções a realizar integram um conjunto de ações que visam melhorar a acessibilidade e mobilidade ao longo do Rio. Pretende-se criar condições de utilização do Rio e possibilitar a utilização de embarcações não motorizadas. O Parque Verde do Séqua será ampliado e valorizado, com equipamentos e novas áreas que permitirão realizar exercício físico e atividades de jogo e recreio adaptadas a várias faixas etárias. Serão criadas zonas de descanso e contemplação, um percurso junto

A maioria da população elogia a [nova] ponte E a polémica da ponte, está ultrapassada? R A atual ponte substituiu uma velha e com graves problemas de segurança para a circulação. A maioria da população elogia a ponte no sentido estético e de grande utilidade em termos de mobilidade. P

P Se ganhar as eleições, quais são as suas prioridades? R A grande prioridade será sempre as pessoas. Vamos ouvi-las e elaborar um programa participado e mobilizador, que vá ao encontro das suas necessidades, nomeadamente nas questões sociais. Neste sentido, a criação de habitação municipal será uma realidade, concretizando a estratégia local de habitação. Na minha visão de futuro é necessário uma estratégia clara que, para além da reabilitação e construção de infraestruturas sociais, desportivas, rodoviárias e de segurança ainda necessárias, impulsione o desenvolvimento económico, gere emprego e permita a fixação de jovens no concelho.


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ENTREVISTA LUÍS GOMES: deixei um património de 147 milhões de euros

Quando cheguei à câmara não havia Texto RAMIRO SANTOS Requalificar o espaço público, preservar a alma e a identidade da cidade, valorizar o património, apostar na diversificação económica e continuar a investir nas pessoas, são as prioridades de Luís Gomes no seu regresso a Vila Real de Sto António. Vai a eleições mas assevera que não afastou ninguém do seu caminho. E garante: veio para ganhar P Luís Gomes, o seu regresso, 4 anos depois, à Câmara de Vila Real de Santo António, não veio impedir a recandidatura da atual presidente Conceição Cabrita? Uma avaliação negativa da gestão da presidente nos últimos anos, foi a razão que o levou a avançar com a sua candidatura? R De modo algum, foi justamente o contrário. A Conceição Cabrita avisou informalmente os órgãos do partido, em princípios de dezembro, da sua vontade em não se recandidatar e formalizou através de um email que enviou à comissão política distrital e à comissão política de secção que não queria avançar para a Câmara Municipal, alegando questões pessoais. O partido iniciou um processo de escolha da candidatura para a Câmara de Vila Real de Santo António e a comissão política juntamente com os militantes do partido escolheram-me para ser o candidato.

Mas não acha que numa altura em que o próprio presidente do partido, Rui Rio, se queixa ou pelo menos P

lamenta a fraca participação das mulheres na vida política, que faria sentido uma recandidatura da atual presidente, ou a gestão dela foi assim tão má? R Eu acho que não faz nem deixa de fazer nenhum sentido só por ser uma mulher. As mulheres têm que ter iguais oportunidades às dos homens. Se alguma pessoa que de livre e espontânea vontade entende que de alguma maneira não tem condições pessoais para ser candidata à Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, seja homem ou mulher, essa vontade tem de ser respeitada.

Os bens patrimoniais duplicam o compromisso com os bancos Que avaliação faz da gestão dela? Conceição Cabrita diz que conseguiu reduzir a dívida da câmara em 15 milhões? R Sou solidário com a gestão desP

te executivo. A atual presidente da câmara trabalhou 12 anos comigo e naturalmente há matérias que eu faria de forma diferente e outras que a atual presidente também encontraria diferenças da minha forma de as fazer. A verdade é que quando entrei na Câmara Municipal, entrei com 15 milhões de euros e quando saí tinha 147 milhões de euros de património. Algum foi alienado, designadamente a concessão das águas e um terreno em frente ao Vasco da Gama e foi decisivo para a redução do défice, mas reconheço que foi feito um esforço de tesouraria para a redução do mesmo. A questão do défice da Câmara Municipal como património tão vasto para uma dívida de 72 milhões fez com que os bens patrimoniais duplicassem o compromisso que a câmara tinha com os bancos e essa valorização dos patrimónios é decisiva para reduzir o défice do município. P Não considera ou contraria a ideia que se tentou criar ao longo destes anos todos de que abandonou a câmara numa situação de bancarrota? R Não, de todo. Não pode haver bancarrota quando aquilo que é o nosso património quase duplica o passivo líquido da câmara. Hoje, o endividamento líquido são aproximadamente 72 milhões de euros. A câmara abriu um concurso para a concessão das águas e o valor de concessão das águas em termos nominais foi de 68 milhões de euros. Esse processo terminou em setembro de 2017 e eu não consumei o processo porque estava a um mês das eleições. A presidente em janeiro de 2019 decidiu avançar com esse processo e permitiu a longo prazo arranjar uma solução para metade do défice público.

Quando cheguei à câmara não havia esgotos na Aldeia Nova, às portas da cidade P Que outros tipos de investimentos marcaram este défice junto à banca? R Nós tínhamos 65 milhões de euros que deviam ser gastos imediatamente. Havia uma sentença do tribunal de justiça europeu de 2016 em que por a câmara ter drenado os esgotos para o Rio Guadiana e para o mar na Manta Rota, tinha que pagar 30 milhões de euros de multa à cabeça, mais 8 mil euros por cada dia que não tratasse dos esgotos. Estes dias foram 10 anos. Estamos a falar de 30 e tal milhões de euros só em multas, para além do

investimento de 65 milhões que era necessário fazer. P Do ponto de vista do saneamento havia ainda muito trabalho a fazer, tantos anos depois da instalação do poder local? R Quando cheguei à câmara não havia esgotos na Corte António Martins, na Serra de Cacela, na Ribeira da Gafa, e nem águas pluviais na Manta Rota. A Aldeia Nova, às portas da cidade, não tinha esgotos; uma parte importante das Hortas também não tinha; metade de Vila Real de Santo António não tinha esgotos nem águas pluviais a correr diferentemente e a restante tinha uma rede de esgotos que nunca funcionou desde os anos 90. Nós resolvemos isso e nos próximos 40 anos Vila Real de Santo António não precisa de mais investimentos estruturantes ao nível de infraestruturas de saneamento. Fizemos uma requalificação, acho eu, que ganhou dois prémios nacionais, na Praia da Manta Rota e colocamo-la como destino turístico de referência. Em Monte Gordo fizemos os passadiços e na Praia de Vila Real de Santo António abrimos um acesso pedonal e ciclável.

(Protocolo com Cuba) é um exemplo como uma autarquia pode ter um papel decisivo na vida das pessoas Diz que o seu regresso visa pôr novamente a cidade a funcionar. Quer dizer que não tem funcionado? R Naturalmente eu entendo que faz falta uma dinâmica agora neste período pós-covid para a cidade voltar a crescer e ganhar. O compromisso do investimento que foi feito em Vila Real Santo de António não se paga com gestão de troika. Paga-se com desenvolvimento e com crescimento e por colocarmos os ativos da Câmara Municipal ao serviço do desenvolvimento do concelho. O grande objetivo para os próximos anos é arranjar um compromisso da sustentabilidade geracional. Encontrar condições para que os jovens de Vila Real de Santo António que não queiram estudar na universidade possam encontrar um emprego qualificado na cidade ou no concelho ou para quando os jovens se vão licenciar, como eu fui, possam regressar e encontrar condições de trabalho em Vila Real de Santo António. Temos de ter a noção clara de que a hotelaria é fundamental para Vila Real de Santo António, mas é preciso diversificar, tal como o Algarve, a sua P

base económica. Hoje, temos a Frusoal que é a maior produtora e comercializadora de cítricos do país e a Nautiber que é dos estaleiros mais importantes no país com um saber fazer fantástico ao nível da indústria naval. A parte da inovação relacionada com os cítricos e produtos agrícolas e a componente da indústria naval são autênticos desafios para garantirmos sustentabilidade ao nível do emprego e uma sustentabilidade geracional que irá permitir aos jovens do concelho poderem encontrar


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esgotos às portas da cidade sustentabilidade para garantir a manutenção das obras que fizemos. Outro eixo é sobre a alma. Tratar da alma do concelho. A alma tem muito a ver com a nossa memória histórica, com a nossa identidade, com o nosso ADN e com todo o nosso património. Quando aprovámos o plano de pormenor do cemitério de Vila Real de Santo António previmos a manutenção do único vestígio ainda presente da arquitetura industrial do século 19 e 20 de Vila Real de Santo António e a expropriação da fábrica e compra de outra ao lado. Infelizmente, deixou-se acabar com as fábricas. Nenhuma chaminé se manteve e eu acho que esse património é absolutamente compatível com novos processos de urbanização. Foi uma pena de facto toda a zona sul de Vila Real de Santo António ter destruído todos estes vestígios que conseguiam ser completamente integradas com novos espaços de vida das pessoas. O património islâmico de Vila Nova de Cacela é uma referência da história do nosso país. Recriar e recuperar os fornos de cal de Santa Rita é bastante importante. Valorizar o património natural, os caminhos para andar junto à Ria Formosa, à Mata Nacional das Dunas de Vila Real de Santo António e Monte Gordo, a Reserva do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António. Nesse sentido, começámos um grande projeto que originou a construção de 30 quilómetros de ciclovia e agora é altura também de a expandir através do nosso património cultural.

uma âncora de garantia para aqui criar as suas vidas. P Falou-me em dois projetos. Não referiu as conservas porquê? Estão condenadas? R Hoje já não existe a conserva. Quando falo do cluster do mar, as conservas estão integradas, mas já num contexto muito mais modernizado. Aquele conceito das fábricas enormes conserveiras já é muito difícil de arrancar. Pequenas empresas ligadas à transfor-

mação dos produtos do mar, seja por produtos gourmets ou pelos patés, faz todo sentido P Relativamente à memória da tradição operária ligada às conservas, não há um projeto de criação de um museu, por exemplo, para perpetuar a memória de uma atividade que marcou a vida do concelho e da sua população? R Estamos em momentos diferentes. Tivemos os primeiros 12 anos a criar

as condições, o hardware, para instalarmos um software. Criamos as condições infraestruturais para agora nos próximos anos investirmos no concelho, tirando partido e explorando essas infraestruturas em que investimos mais de 200 milhões de euros. Agora é o momento de investir em outras frentes. Um dos eixos passa pelas questões da requalificação do espaço público. Hoje vale a pena entrar dentro de Vila Real de Santo António, mas falo de ter

P Vila Real de Sto António andou nas bocas do mundo quando o senhor estebeleceu um protocolo com o governo cubano para tratar de pessoas do seu concelho com problemas oculares... R É um exemplo em como uma autarquia pode ter um papel decisivo na qualidade de vida das pessoas. Quando se abordou o tema das cataratas, levámos 300 pessoas a Cuba e demonstrámos que não sendo das suas competências, a Câmara Municipal teve um papel decisivo para mostrar ao governo aquilo que é a identificação de um problema que neste caso era a oftalmologia no distrito de Faro. Enquanto estivemos na câmara nunca ninguém deixou de tratar-se porque não tinha dinheiro e isso era um princípio para mim. P E agora no pós-pandemia ainda mais cuidado se ganha com isto... R Essa questão é uma matéria cada vez mais presente e sabemos que há pessoas também com outro tipo de problemas não só económicos, mas também com problemas psicológicos decorrentes da pandemia e vai haver consequências graves. Orgulho-me

por ter feito parte de uma equipa que meteu pessoas que estavam cegas a ver, pessoas que tinham critérios para nunca sair de uma cama começarem a andar e isso foi dos melhores momentos da minha vida enquanto autarca.

Orgulho-me por ter feito parte de uma equipa que meteu as pessoas que estavam cegas a ver. Foi um dos melhores momentos da minha vida de autarca P Qual é o seu grande desígnio caso ganhe as eleições? R Em primeiro lugar a questão da rua, tratar do espaço público e dos lixos; a alma do concelho, de termos orgulho na nossa Terra; a diversificação da economia e a questão de continuar a aposta nas pessoas. P Em termos eleitorais quais são as suas perspetivas? R Se vou para a luta, quero ganhar. Nós não estamos obcecados com qualquer resultado em particular. Queremos aproveitar o momento para falar com as pessoas para explicar o que pretendemos e esclarecer a contra informação que houve em relação a mim nos últimos quatro anos. Qualquer pessoa que tenha dignidade, e eu gosto de ter a cabeça levantada com honra, tem o dever moral de o fazer também.

Guadiana: navegar no sonho das realizações possíveis P O rio é agora mais fronteira do que foi no passado ou não? R Ao longo das últimas décadas tem havido muita utopia sobre o Guadiana, muita vontade de fazer coisas, muitos livros, muitos atos de contrição sobre o desenvolvimento do rio. Criar um cluster / aglomerado de turismo ligado à natureza e ao rio é uma opção. Se for para fazer coisas contam sempre comigo, se for para gastar dinheiro e não fazer coisas, hoje as pessoas já não querem isso.


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SOLIDARIEDADE

Campanha de recolha de bens para Moçambique, em 2019, pelo grupo de voluntariado UalgV+

FOTOS D.R.

Academia universitária solidária com as gentes do Algarve Texto JÉSSICA SOUSA | HENRIQUE DIAS FREIRE

“Estudar onde é bom viver” é o slogan que certamente todos os alunos da Universidade do Algarve (UAlg) conhecem e embora para uns a vida seja plena, outros encontram-se em situações de vulnerabilidade A Universidade do Algarve deu luz ao grupo de voluntariado UAlg V+, que conta com toda a instituição e é coordenado por representantes de cada unidade orgânica e pelos serviços de ação social. Esta iniciativa pretende dar força ao voluntariado e estabelecer laços com toda a comunidade algarvia, potencializando oportunidades técnicas e de desenvolvimento social na área da saúde, educação, social, ciência, ambiente e proteção civil, cultura, desporto e defesa de património. A constituição oficial enquanto Grupo de Voluntariado UAlg V+ deu-se em setembro de 2015 e nasceu de uma

academia universitária. Por isso, qualquer elemento da comunidade académica pode juntar-se a esta causa, seja estudante, funcionário não docente, professor ou investigador.

Cátia Martins é coordenadora do projeto e referiu ao Postal do Algar-

ve que atualmente o grupo conta com 822 voluntários que pertencem ou já pertenceram à universidade, incluindo os alumni, ex-funcionários e ex-docentes. Esclarece que com o confinamento muitas instituições viram-se obrigadas a suspender ou reformular as suas atividades, o que fez com que o número de voluntários diminuísse. Em anos anteriores e conforme decorriam iniciativas e campanhas de esclarecimento na área do voluntariado, o aumento do número de inscrições era notório, mas “este ano tudo se alterou”, acrescenta. Apesar de alguns programas se encontrarem suspensos devido à Covid-19, atualmente estão ativos vários projetos e abertas as inscrições aos interessados em ajudar o próximo. É o caso da iniciativa #UAlgEstamosJuntos que apoia durante toda a semana a comunidade académica que se encontre em confinamento ou isolamento profilático. A ajuda incide na entrega de bens de primeira necessidade, como medicamentos e alimentação, na entrega de materiais necessários para acompanhar as aulas e no apoio psicossocial. A delegação de Faro-Loulé da Cruz

Vermelha Portuguesa solicita também voluntários para a estruturação e organização do Banco de Roupa e a Re-food Faro visa travar o desperdício alimentar e a fome na comunidade algarvia através da recolha e distribuição de alimentos que sobram de diversas fontes. Os voluntários podem fazer parte de outros projetos como o “MOBI: Mobilidade sustentável na UAlg” que se dedica ao apoio em atividades de ensino informal a crianças e jovens no andar de bicicleta, ensino de regras básicas de trânsito e princípios de sustentabilidade ambiental. Dentro deste projeto existe outra proposta que consiste em tarefas de apoio na gestão do sistema de bicicletas partilhadas da Universidade do Algarve. A colaboração com a associação Animais de Rua permite igualmente ao grupo a participação em campanhas de aplicação do método “Capturar- Esterilizar- Devolver” ou em atividades de angariação de fundos. No apoio a atividades educativas e lúdico-pedagógicas, os voluntários colaboram com uma equipa multidisciplinar no apoio a atividades letivas, como na expressão plástica e em da-

tas comemorativas ou em períodos de férias no desporto, atividades balneares e ao ar livre, workshops. Na Associação Juvenil Akredita em Ti há projetos relacionados com o apoio ao estudo por tutoria de pares diariamente, oficina de estímulo cognitivo a partir de atividades lúdicas e divertidas e há oficina de promoção emocional através de jogos. No âmbito da cidadania, há o Jornal de Bairro, 123 Ação para a realização audiovisual, Oficina de Música, Oficina de Dança, Oficina de Artes Manuais e Oficina de saúde e bem-estar. As inscrições para participar nas ações de voluntariado podem ser realizadas através do preenchimento de uma ficha de inscrição, por email ou através do Facebook.

SER VOLUNTÁRIO NO UALG V+

B

runa Coscarelli tem 21 anos e fez parte do grupo de voluntariado da UAlg em 2018. Alojou-se na campanha de arrecadação de fundos para os animais de rua e a sua função era vender produtos ao longo do dia, cujos ganhos foram revertidos em alimenta-

ção para os animais e esterilização. Passou pelo Mercado Municipal de Faro e pelo supermercado Continente e confessa honestamente que entrou na secção dos animais de rua para ter contato com os mesmos. A experiência marcou-a de forma “gratificante” principalmente porque a população

no geral mostrou-se sempre interessada e empenhada em ajudar, fazendo doações. Para Bruna, o UAlg V+ é um grupo de grande interesse e que facilita à comunidade académica realizar voluntariado em diversas áreas de forma incansável. “Achei muito boa essa relação com os estudantes

e a iniciativa do próprio grupo”, partilha. Na sua visão, “o voluntariado hoje em dia é extremamente essencial, pois gera um sentimento de partilha e de solidariedade que é essencial, principalmente nos dias de hoje”.


Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o

ABRIL 2021 n.º 149 7.227 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve

ARTES VISUAIS

Pode a arte espontânea contribuir para a saúde mental? Ficha técnica Direção: GORDA, Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Responsáveis pelas secções: • Artes Visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Filosofia Dia-a-dia: Maria João Neves • Fios De História: Ramiro Santos • Letras e Literatura: Paulo Serra Colaboradores desta edição: Jéssica Sousa, Mauro Rodrigues Parceiro: Direcção Regional de Cultura do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve FB: https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve

EM CIMA Pintura “Campo de trigo com corvos” (Van Gogh, 1890) EM BAIXO Pintura “Floresta do lago” (José Luís Firmino, 2020) SAÚL NEVES DE JESUS Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

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o último número procurámos identificar o enquadramento para as obras de arte produzidas por artistas que não têm formação académica em artes visuais, sendo feita uma retrospetiva de vários conceitos que foram surgindo na literatura, desde finais do século XIX, para enquadrar estas produções artísticas, nomeadamente o conceito mais abrangente de arte naïf. No entanto, de entre a expressão artística daqueles que não têm formação académica neste domínio, há o caso particular das pessoas com experiência de doença mental. De entre as várias designações propostas ao longo do século XX, como arte bruta, arte degenerativa, arte pura, arte visionária ou arte marginal, a designação de arte espontânea parece ser a mais abrangente e consensual para descrever a expressão artística de pessoas diagnosticadas com doença mental, tendo em conta que a espontaneidade é comum aos

processos envolvidos na produção artística em qualquer das designações propostas. Assim, o conceito de arte espontânea designa as obras que apresentam qualidades de expressão estética, na forma de desenho, pintura ou escultura, realizadas por pessoas diagnosticadas como sendo portadoras de doença mental. E a arte espontânea pode ter um papel muito importante para a estabilização e recuperação no âmbito da saúde mental, como aliás a arte terapia tem vindo a revelar. Foram vários os contributos realizados ao longo do século XX procurando destacar a importância da expressão artística de pessoas diagnosticadas com doença mental. Destes destacamos o trabalhos de Prinzhorn, que estudou as características de estruturação de obras produzidas por doentes mentais, tendo em 1922 publicado o livro “Obras artísticas de doentes mentais”. Em homenagem a Prinzhorn, em 2001 foi criado o “Sammlung Prinzhorn Museum”, alojado no Hospital Universitário Heidelberg, na Alemanha, onde pode ser admirada a coleção de obras de arte realizadas por pessoas com doença mental.

Por seu turno, no Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira criou uma oficina de artes plásticas para doentes mentais, os quais podiam produzir de forma completamente livre e espontânea as suas obras. Em 1954, Nise fundou o “Museu de Imagens do Inconsciente” com as obras produzidas pelos “doentes-artistas”. Em Portugal têm sido várias as associações e instituições que têm desenvolvido um trabalho no âmbito da estabilização e recuperação de pessoas portadoras de doença mental através da expressão ao nível das artes visuais. Destacamos o trabalho recente realizado pela ReCriar Caminhos, uma Associação de Apoio ao Desenvolvimento Vocacional, Formação e Inclusão de Pessoas com doenças mentais, criada em 2008 e tendo obtido o estatuto de IPSS em 2010. Esta Associação promove atividades de reabilitação psicossocial procurando “recuperar e desenvolver talentos”. Recentemente, entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, foi realizada em Coimbra a “II Exposição Nacional de Arte Espontânea”, organizada pela ReCriar Caminhos.

FOTOS D.R.

Nesta exposição encontravam-se reunidos trabalhos provenientes de seis instituições portuguesas que possuem Centros de Atividades Ocupacionais destinados à estabilização e reabilitação de pessoas com doenças mentais, de entre elas a Associação de Saúde Mental do Algarve (ASMAL). No Prefácio do Catálogo desta exposição, Manuel Viegas Abreu destaca que as obras produzidas por pessoas diagnosticadas com doença mental nascem sobretudo devi-

do à necessidade de comunicar e podem ser interpretadas como mensagens, apelos ou pedidos de ajuda. E é fundamental ser tida em conta esta forma de expressão por estas pessoas, não apenas em termos de diagnostico, mas também pela

realização que esta expressividade lhes pode proporcionar. Num artigo anterior, intitulado “Qual a importância do reconhecimento da criatividade dos artistas?, tínhamos destacado que o reconhecimento ou não do trabalho criativo dos artistas pode ser um aspeto muito importante para compreender o desenvolvimento ou não de problemas de saúde mental. Talvez se Van Gogh tivesse sido reconhecido em vida, em vez de ter desenvolvido psicopatologia, teria sentido estímulo para a concretização da sua criatividade e de todo o seu potencial artístico, não se tendo suicidado. Várias investigações têm verificado a importância da realização do sujeito e do reconhecimento pelos outros como uma dimensão protetora para prevenir a depressão das pessoas em geral. Este reconhecimento é tanto mais importante em relação a pessoas que são mais vulneráveis do ponto de vista psicológico, pelo que é essencial o trabalho desenvolvido pela ReCriar Caminhos e pelas outras instituições e associações que procuram promover a expressão artística e o reconhecimento das obras produzidas por pessoas diagnosticadas com doença mental.


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ESPAÇO AGECAL

Cultura e indústrias culturais JORGE QUEIROZ Sociólogo, sócio da AGECAL

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or Cultura entende-se o conjunto de valores espirituais e conhecimentos técnicos, que ao longo da história integram o quotidiano das sociedades humanas, realidades diversas como as línguas/ dialectos, hábitos de alimentação e de convívio colectivo, vestuários, convicções e práticas religiosas, as artes, tradições populares, o Direito, entre muitas outras. Charles P. Snow numa conferência muito debatida realizada em 1959 abordou as “duas culturas”, as humanidades e as ciências. A categorização teve outras formulações, nomeadamente quanto aos espaços, as “culturas de apartamento” e as “culturas de saída”. Surgiram conceitos como “cultura material e imaterial”, “cultura cultivada” ou erudita que exige formação e estudo, a “cultura popular” produ-

zida pelas próprias populações e a “cultura de massas” ou de consumo ligada aos fenómenos da urbanização e da influência dos media. As indústrias culturais (i.C.s) pertencem maioritariamente a este último grupo, visam a reprodutibilidade em grande escala, actividades que incluem a produção cultural e artística, a comercialização e consumo massificado. As relações entre cultura, enquanto conhecimento e desenvolvimento humano e as i.C.s são complementares, envolvem criação e tecnologia, na educação, no livro e na leitura, no audiovisual informativo e pedagógico. Se o acesso é livre e gratuito, as obras são criadas pelos autores, as produtoras e tipografias reproduzem-nas, os editores divulgam e comercializam. As indústrias culturais têm características particulares em relação a outras, resultado da fluidez dos mercados e variações de gosto, originando “marcas” e a reprodução em maior escala.

Nas indústrias culturais, do ponto de vista laboral, é mais acentuada a precariedade devido às conjunturas e concorrência entre mercados. Existe maior estabilidade de emprego em trabalhadores ligados a infraestruturas culturais de natureza pública ou comunitária, museus, bibliotecas, arquivos, teatros, centros de ciência, entre outros, que funcionam de forma continuada no desenvolvimento educativo das gerações, acesso aos bens culturais. O grau de formação e especialização são mais elevados que noutros sectores, nas estatísticas nacionais os trabalhadores da cultura surgem com níveis elevados de formação superior. As i.C.s exigem concentração de capital, promovem a novidade, notoriedade e diferenciação. Acentua-se nelas a competitividade, as estratégias de valorização da autoria e do produto, visando a liderança de mercados, acréscimo de consumidores e internacionalização. A utilização de publicidade nos meios de comunicação de massas,

TVs, rádios, imprensa e internet, são instrumentos de captação de públicos e de alargamento da atenção e influência. Em relação aos conteúdos, as actividades culturais e artísticas promovidas por instituições públicas, são normalmente menos voltadas para a experimentação e inovação que associações privadas e grupos criativos com maior informalidade nas relações. Até ao surgimento da actual crise sanitária mundial a “festivalização cultural” vinha aumentando em Portugal. O espectáculo ao vivo tendo custos de produção mais elevados consegue maiores benefícios para os promotores, financiado sobretudo por autarquias locais que procuram atrair cidades, o turismo e populações suburbanas. A livre concorrência é hoje problemática, o investimento e concentração de meios nas i.C.s mais poderosas dominou nas últimas décadas os circuitos de produção e os novos sistemas de comunicação,

distribuição e exibição, formatando o gosto das novas gerações, sendo escassas as produções de outras origens geográficas ou linguísticas. A globalização de uma cultura unipolar contraria as convenções da UNESCO, a protecção e valorização da diversidade cultural. Pela natureza espiritual e reflexão crítica sobre a realidade, importa que a cultura não seja apenas produto de lazer, de consumo passivo-emotivo, tendência que se tem vindo a acentuar. As políticas culturais, se correctamente desenhadas, promovem o conhecimento e reequilíbrios sociais, a cidadania e participação, valores humanistas e inclusão, sentimentos de pertença e afinidades, maior cooperação entre criadores e operadores artísticos, o Estado, autarquias e as instituições culturais, com o espaço público e as populações. * O autor não escreve segundo o acordo ortográfico

Arte prepara-se para invadir as ruas de Faro

Cursos de iniciação realizados em 2020 adaptados à nova realidade da Covid-19

JÉSSICA SOUSA | CRISTINA MENDONÇA Fotos: Eduardo Pinto

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or entre dunas e encantos da Ria Formosa, a fotografia vem a ganhar cada vez mais adeptos e fiéis no Algarve. A Associação Livre Fotógrafos do Algarve (ALFA) pretende inovar para aumentar o nível de procura e tem programada para o verão uma grande exposição de rua. As exposições coletivas e individuais organizadas pela associação

de pequena escala são recorrentes em anos anteriores na Galeria Arco, na Cidade Velha em Faro, mas este ano reinventam-se e prometem. A ALFA avança que uma exposição de rua de grande impacto na cidade será novidade este ano a partir do mês de junho. Segundo Carlos Cruz, presidente da direção da associação, “vamos tentar surpreender! Vamos lançar o desafio e estamos abertos a acolher projetos dos nossos sócios sobre diferentes temáticas: mar, Ria Formosa, biodiversidade, ou mesmo temas a serem escolhidos pelos próprios autores”. O Postal do Algarve

tem conhecimento que foram enviados convites a fotógrafos premiados. A associação conta atualmente com 70 sócios pagantes e cerca de 700 membros ativos e proporciona o ensino da fotografia através de formações, workshops, passeios fotográficos e exposições de teor coletivo ou individual. Com a pandemia houve uma diminuição do número de iniciativas, embora no ano passado tenham sido realizados cinco cursos de formação presencial que obedeceram a todas as regras sanitárias. O grupo teve de se adaptar à nova realidade e no ano presente iniciou um novo ciclo

de tertúlias virtuais, mas continua à espera que os cursos de curta duração voltem a fazer parte da agenda num regime misto que conjugue o online e presencial. O ensino da fotografia envolve uma componente teórica, mas também prática. Ao passar o conhecimento da fotografia via online aos formandos são encontradas dificuldades. A ALFA lamenta a limitação da sessão de dúvidas e respostas e o facto de não ser possível aplicar na prática os conteúdos lecionados através de saídas para fotografar e editar passo a passo. Em fase de iniciação, os cursos online pecam a nível de interesse

pela falta da parte prática. Para o nível mais avançado, as formações são mais vantajosas dado que são apresentados tutoriais que podem ser seguidos e, mais tarde, recriados pelos alunos. Com esta opção de ensino, ao estilo “on-demand”, o conteúdo consegue abranger um público infinito. A associação destina-se principalmente aos apaixonados por eternizar momentos que passam, do sul do país e de todas as idades. A ALFA afirma que não trabalha apenas para os interessados de Faro, mas sim “para toda a região” e conta com sócios em Lisboa e Huelva.


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ESPAÇO ALFA

A inteligência artificial pode destruir a fotografia MAURO RODRIGUES Membro da ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve

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frase pode ser um pouco radical, mas a chamada inteligência artificial vem aí para mudar completamente as coisas, não só na fotografia e no vídeo, mas em muitos setores da sociedade. A inteligência artificial por enquanto é apenas um chavão de marketing e trata-se nada mais que estatística e comparação, não existe nada de inteligente e tem tudo de artificial. Os benefícios da internet e da cloud (nuvem) estão a criar a segunda grande revolução da sociedade de informação… e informação é precisamente no que a inteligência artificial se baseia, milhões e milhões de imagens são guardadas em servidores e depois comparadas por softwares especiais (neural networks) que “escolhem” o que lhes interessa e aplicam nas novas imagens, resultando daí um aglomerado estatístico e comparativo. Todas as empresas estão cada vez mais a adotar o termo AI (artificial intelligence) nos seus produtos e alguns exemplos dessa tecnologia estão a começar a aparecer e são extremamente populares. A conhecida “FaceApp” usa estes algoritmos de comparação para tornar a nossa cara 30 anos mais velho e os resultados são impressionantes. A “Deep Nostalgia” pega numa foto estática e fá-la voltar à vida, dando por exemplo a Mozart ou Albert Einstein “vida” novamente, eles piscam os olhos, olham para um lado ou outro, tudo isto resulta do processo e da facilidade com que a informação é manipulada, para o computador uma fotografia é apenas uma coleção de números, zeros e uns. A cor é um número, os olhos são números, o céu ou uma árvore são números e a alteração desses números de uma forma exata transformam como nós quisermos tudo sobre essas imagens e vídeo. E prova disso vai continuar a acontecer cada vez mais, como a “Remini app” que torna as fotografias desfocadas, novamente focadas com um detalhe nunca visto ou a impressionante e automática colorização de filmes antigos. A manipulação analógica já existia desde a invenção da fotografia na câmara escura, mas o computador

veio dar um novo leque de ferramentas à população. Por exemplo, se quisermos preencher o céu da nossa paisagem com nuvens, ou até mudar a altura do dia para um pôr-do-sol magnífico também já é possível com o software Luminar AI. Outras funcionalidades impressionantes são a aplicação instantânea de maquilhagem, tornar os lábios mais vivos ou os dentes brancos em vez de amarelos, mudar a iluminação original adicionando mais pontos de luz e até mesmo simular a desfocagem: “bokeh” como é conhecido, que as máquinas mais profissionais fazem. Tudo isto é feito através do computador e por isso são tudo simulações aproximadas da realidade. Realidade essa que irá ser consideravelmente mais fácil e automática de ser simulada. Mas irão as pessoas abraçar esta falsidade e manipulação ou regressar para algo mais “realista” e “genuíno” no futuro? As empresas e os interesses económicos vão abraçar certamente e a tendência é para ser ainda mais disruptiva, como foi o caso da empresa Data Grid que criou modelos virtuais através da sua rede especializada neurológica (neural network), tudo completo com poses, roupas… centenas de pessoas virtuais criadas a partir do nada… salvo seja, tudo fruto do processo estatístico e comparativo de milhões de exemplos reais. E algumas coisas já estão a ser comercializadas como foi o caso da Vogue que usou modelos 3D virtuais em algumas das suas capas de revista. As modelos Noonoouri e Shudu Gram não existem, só em computador, mas representam claramente uma pessoa quase indistinguível da realidade. O problemático disto é que estes seres digitais podem “ganhar vida” nas redes sociais, terem canais de youtube, terem filhos ou viajar, tudo virtualmente… tudo a favor do marketing e das vendas de produtos. Outro exemplo, “deep fakes”, onde um ator faz uma “performance” imitando um ator conhecido da vida real ou um Presidente da República, essa “performance” é depois manipulada digitalmente, com a cara da “pessoa real”, tornando-se indistinguível da realidade, incluindo a sua própria voz que é manipulada também, tornando esta falsa realidade num pau de dois bicos. Isto quando é feito em tom de brincadeira em que todas as partes estão informa-

Estas imagens não representam o verdadeiro Tom Cruise, é apenas um deep fake

FOTOS D.R.

A modelo 3D virtual “Margot” na última campanha da Balmain

das e foram feito acordos, está tudo bem, mas todos nós sabemos que esta tecnologia nas mãos erradas pode criar problemas sérios e destruir vidas reais e terá de ser, mais cedo ou mais tarde, regulamentada. A fotografia no seu longo caminho desde a sua invenção veio da no-

ção de mostrar a realidade como ela é para um universo totalmente fabricado e falso. A chamada inteligência artificial está a chegar não em forma de Robô ou Humanóide pensante como no filme “Terminator”, mas vai certamente mudar completamente o panorama de

muitos setores e postos de trabalho na indústria, vai mudar a forma como tiramos e vemos o conceito da fotografia e do vídeo, a inteligência artificial vai criar duas realidades, a (falsa) virtual e a real e pode tornar a fotografia como nós a conhecemos… num nicho.


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FILOSOFIA DIA-A-DIA

Filosofia Dia a Dia: Ética e Saúde Pública MARIA JOÃO NEVES PH.D Consultora Filosófica

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travessamos, neste momento, o décimo quarto estado de emergência decretado desde o início da pandemia. Contamos assim com 210 dias de confinamento, que correspondem a 7 meses de restrições, concretizadas na suspensão parcial dos nossos direitos, liberdades e garantias como cidadãos. Quer isto dizer que já há mais de meio ano que vemos a nossa, já de si coartada liberdade, muito reduzida. Entre todas as liberdade interditas há uma verdadeiramente acutilante: a proibição da actividade profissional de certos sectores. Aqui no Algarve, por exemplo, alguns outrora trabalhadores nas áreas do turismo e da restauração vivem situações desesperadas. Nuno Alves, responsável pelo Banco Alimentar do Algarve, em declarações ao POSTAL em Fevereiro passado, distinguiu a pobreza estrutural que estima ser da ordem dos 18 a 20 por cento, das pessoas “cuja situação de pandemia levou à perda parcial ou total dos rendimentos, provocando um crescimento global da operação de assistência às famílias necessitadas da ordem dos 74,2 por cento”. A aquisição da imunidade de grupo parece ser a via de esperança para o retorno a alguma normalidade, portanto, a vacinação é urgente! Contudo, o processo avança muito lentamente. E esta lentidão não tem que ver com a nossa capacidade de resposta mas sim com a escassez de vacinas. É de conhecimento generalizado o atraso no fornecimento das quantidades contratadas, devido à incapacidade de produção. Pergunto-me, pois, como é possível a manutenção das patentes da vacinas contra a covid-19 quando está em causa a sobrevivência de tantos seres humanos? Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS, escreveu um artigo de opinião no jornal britânico The Guardian (01/03/2021) onde aponta várias alternativas: “Quer se trate da partilha de doses, transferência de tecnologia ou licenciamento voluntário, como a própria iniciativa Covid-19 Technology Access Pool da OMS incentiva, ou renúncia aos direitos de propriedade intelectual, precisamos fazer todos os esforços possíveis.” De facto, existe em vários países, e Portugal é um deles, capacidade científica e técnica para produção de vacinas. Se a tecnologia fosse partilhada, a vacina poderia estar a ser produzida em todos os quadrantes do globo e teríamos uma imunida-

de mundial em tempo record! A manutenção das patentes garante o monopólio e, por conseguinte, o lucro das grandes farmacêuticas envolvidas na produção da vacina contra a covid-19. Obvia-se o facto de ter existido muito investimento público para o desenvolvimento científico e testagem, portanto, os cidadãos já pagaram antecipadamente muitos destes custos. O especialista em patentes, Vítor Palmela Fidalgo, em declarações à Rádio Renascença (23/03/2020) esclareceu que no caso da vacina se trata de propriedade industrial e defende que “o Estado português tem meios que permitem fazer face a esta circunstância, através das chamadas licenças obrigatórias ou compulsórias”, pois o Código de Propriedade Industrial refere, expressamente, a possibilidade de atribuir licenças obrigatórias por razões de saúde pública. Estando na presidência do conselho da União Europeia, será que o Governo português não poderia interceder neste sentido? Por seu lado, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, em declarações à RTP (29/03/2021) criticou o armazenamento excessivo de vacinas por parte dos países ricos, defendendo que estas devem ser consideradas bem público mundial. Aliás, advertiu que se não formos rápidos a imunizar a população mundial podemos correr graves riscos. É muito possível que se o vírus não for erradicado globalmente se desenvolvam novas mutações resistentes às actuais vacinas, que voltam a colocar os países presumivelmente imunizados em situação vulnerável. Uma vez mais, daqui se deduz que a conduta inteligente e eficiente seria partilhar o conhecimento técnico que permitisse produzir vacinas na maior quantidade e rapidez possível. O investigador J. Wolff, num artigo intitulado, “Global Justice and Health: The Basis of the Global Health Duty,” publicado em 2012 expõe 3 tipos de razões para o entendimento da saúde pública como transcendendo os estados-nação: interesse próprio; considerações humanitárias; e justiça, direitos e deveres. O exemplo paradigmático do interesse próprio nacional é a motivação de cada país para prevenir e conter doenças infecciosas. É do interesse das nações mais ricas fornecer apoio financeiro e técnico aos países mais pobres para aumentar sua capacidade de vigilância e resposta rápida e fornecer assistência de emergência quando surgem surtos. Prevenir e conter doenças infecciosas à medida que surgem é

Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial da Saúde, e António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas FOTO D.R.

do interesse de todos. É também do interesse de todas as nações a partilha global de dados de vigilância e de amostras biológicas por meio de mecanismos mantidos pela OMS. Quase 200 países são signatários do Regulamento Sanitário Internacional, que, entre outras coisas, os obriga a fazê-lo. No entanto, é aqui que podem surgir choques sérios entre o interesse próprio e a justiça global. Bio-amostras partilhadas são usadas para desenvolver vacinas, meios de diagnóstico e tratamentos que, dependendo do contexto, podem ser disponibilizados primeiro ou apenas acessíveis em países de rendimento mais alto, onde essas contra-medidas provavelmente serão financiadas e desenvolvidas. Com respeito às considerações humanitárias e justiça global cabe perguntar: será correcto ficar parado e permitir que outros sofram quando temos os recursos para ajudar? Temos ou não o dever humanitário de ajudar aqueles que se encontram em circunstâncias desesperadas? Esses deveres transcendem as fronteiras nacionais. Os serviços, materiais e pessoal de saúde pública estão frequentemente entre as respostas mais importantes em crises humanitárias, não apenas em surtos e epidemias, mas também em desastres naturais, guerras e conflitos violentos, populações deslocadas e migrações em massa, fomes e secas. Organizações humanitárias de saúde e profissio-

nais de saúde são regularmente confrontados com desafios éticos que incluem, por exemplo, tensões entre princípios humanitários de imparcialidade e neutralidade e compromissos éticos com a distribuição justa de recursos de saúde limitados, tal como apresentam os investigadores Broussard, et al., no artigo “Challenges to ethical obligations and humanitarian principles in conflict settings: a systematic review,” publicado em 2019. No que concerne à Saúde Pública, Justiça Global, Direitos e Deveres são sobejamente conhecidas as diferenças gritantes na saúde entre as populações que vivem em países ricos e as populações que vivem em países de baixo e médio rendimento. Será justo que os países ricos produzam e armazenem apenas a quantidade de vacinas necessária para proteger as suas próprias populações, quando os países pobres não têm uma capacidade comparável? Enquanto os surtos crescem em países pobres e as mortes aumentam, os países ricos podem continuar a reservar o seu suprimento de vacinas para sua própria população? Os regimes de propriedade intelectual e os acordos comerciais internacionais fornecem uma proteção tremenda para as empresas farmacêuticas em países ricos, com o resultado de que muitos medicamentos e produtos biológicos custam muito além do que os países pobres podem pagar. Que legitimi-

dade tem isto? Por outro lado, somente os países ricos têm recursos financeiros e humanos para fazer investimentos consideráveis em investigação biomédica. Esses países têm ou não a obrigação moral de alocar recursos para resolver os principais problemas de saúde dos mais desfavorecidos? Sabemos que a melhoria da saúde dos pobres do mundo está indelevelmente ligada a melhorias económicas, sociais, educacionais e ambientais, e as reivindicações de justiça relacionadas à saúde não são facilmente separáveis das reivindicações de justiça que surgem nesses outros contextos. Se considerarmos a saúde como um direito fundamental, conforme codificado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e encararmos as desigualdades entre as pessoas que vivem em nações ricas e as que vivem no resto do mundo, então, quer entendida como questão de justiça, quer como preocupação humanitária, a ética da saúde pública não nos permite baixar os braços! * A autora não escreve segundo o acordo ortográfico Nota de Redação: Na passada edição do Cultura.Sul, na legenda que ilustrava a foto da rubrica Filosofia Dia a Dia, onde se lia “O Oráculo dos Elfos” devia ler-se “O Oráculo de Delfos”. Pelo lapso pedimos desculpa à autora do artigo e aos nossos leitores


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FIOS DE HISTÓRIA

O Cabo do Medo

Bojador: não havia notícia de quem tivesse de lá voltado. Os ventos fortes dominantes do quadrante norte abortavam qualquer tentativa de regresso. Gil Eanes venceu o medo e trouxe como prova um braçado de rosas de Santa Maria

RAMIRO SANTOS Jornalista ramirojsantos@gmail.com Nos tempos em que o mar era um segredo, o mundo acabava ali. Além dele era o desconhecido. Quem ousasse passar o Bojador era engolido e nunca mais voltava. A terra enfiava por baixo da linha do equador e desaparecia. As águas eram ferventes e povoadas de monstros marinhos. À parte o exagero das lendas do mar tenebroso, a verdade é que com o conhecimento, os meios e os instrumentos disponíveis, a tarefa não era assim tão fácil como hoje pode parecer. E existiam razões da geografia, do regime dos ventos e da configuração da costa daquela zona da África Ocidental que explicavam os receios e as dificuldades. E os árabes, temendo uma invasão europeia, ajudavam à festa carregando nas cores negras de uma aventura sem regresso. O cabo era rodeado de recifes pontiagudos envoltos em denso nevoeiro e de bancos de areia que se estendiam por uma distância de cinco léguas da costa com apenas poucos metros de profundidade. Os que o haviam tentado ultrapassar, por ali ficaram encalhados e engolidos. E não havia notícia de quem tivesse de lá voltado. Os ventos fortes dominantes do quadrante norte abortavam qualquer tentativa de regresso. Era uma viagem sem retorno e condenada ao fracasso. Para se compreender melhor as dificuldades que se colocavam aos marinheiros de então, basta atentar nesta descrição, que há alguns anos tive o privilégio de escutar da voz do mestre Arnaldo, 40 anos de mar e que conhece o Cabo Não e o Bojador como as palmas das suas mãos: “O monstro é o mar. Toda a costa é tormentosa feita de altos e fundões a esconderem os perigos dos recifes e línguas de areia até 25 quilómetros da costa, onde o mar tem apenas poucas braças de profundidade. Se aquilo para nós com os barcos e a maquinaria e instrumentos de navegação, ainda é difícil, imaginemos o que seria para eles. As correntes e os ventos são fortíssimos e eles tinham que navegar a remos junto à costa ou em zigue zague, a bolinar se o pudessem fazer no regresso. Para lá, iam com vento à popa e no regresso tinham de vir aproados. No inverno ainda vinham bem, mas se viessem no verão era muito mais difícil porque atravessavam a nortada toda. Se não tinham velas que pudessem bolinar seguiam à deriva até que o vento virasse. Gil Eanes foi para lá com vento pelas costas e no regresso apanhou a nortada. E com uma barca de um

FOTOS D.R.

mastro e uma vela redonda, não era tarefa fácil de manobrar...” Este relato do mestre Arnaldo, de experiência feito, corresponde, no essencial, ao que contava Zurara na sua Crónica da Guiné: “Diziam os mareantes que despois deste cabo, não há aí gente nem povoação alguma: a terra não é menos arenosa que os desertos da Líbia, onde não há água, nem árvore, nem herva verde; e o mar é tão baixo, que a uma légua de terra não há fundo mais do que uma braça. As correntes são tamanhas, que navio que lá passe, jamais nunca poderá tornar”. Por isso mesmo, os aventureiros preferiam outras águas mais tranquilas e lucrativas. A grande maioria ficava-se pelas Canárias, mares de

Granada e pelo litoral africano, nos limites então conhecidos e aconselhados, onde praticavam o corso e apresavam cativos que vendiam como escravos a preços que justificavam as despesas de viagem. O Bojador parecia então aos olhos dos navegantes das barcas algarvias, um obstáculo intransponível. Mas D. Henrique sabia que o mundo não acabava ali. Muito teimou convencê-los que aquilo não era bem como soava. E não deviam dar ouvidos às histórias pouco tranquilizadoras de marinheiros estrangeiros que nada sabiam daqueles mares desconhecidos. Zurara, citando o Infante, acrescentava: “quando são tirados da carreira de Flandres, ou de alguns outros portos para que comummente na-

vegam, não sabem mais ter agulha nem carta de marear”. E de tanto insistir, acabou por levar Gil Eanes a encher-se de coragem e a fazer-se de novo ao mar, depois de uma primeira viagem fracassada, com promessas de generosas recompensas. Finalmente, em maio de 1434, - após 15 tentativas em 12 anos, feitas por outros navegadores portugueses - Gil Eanes “aparelhou uma barca de 30 toneladas, com um só mastro, uma única vela redonda, parcialmente coberta e também movida a remos. A sua tripulação era de apenas quinze homens. Com ela, ao chegar às proximidades do Cabo do Medo, decidiu manobrar para oeste afastando-se da costa africana. Após um dia inteiro de navegação longe da costa, depa-

rou com uma baía plácida de ventos amenos, e então dobrou para sudeste e logo percebeu que havia deixado o Cabo Bojador para atrás”. E ao invés de monstros e outros medos, encontrou uma terra desolada e deserta. Sem vivalma! E como não quis fazer o regresso de mãos vazias, sem uma prova que pudesse convencer os incrédulos de que lá tinha estado e voltado, colheu umas ervas silvestre que trouxe consigo para oferecer ao rei e ao infante. Eram as rosas de Santa Maria. E assim se abriram as portas ao mistério*! Fontes: “Crónica dos Feitos da Guiné”, Gomes Eanes de Zurara; “Obra Poética”, *João José Cochofel; “Navegantes, Viajantes e Aventureiros Portugueses”, Luis Albuquerque; outras


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Teolinda Gersão celebra 40 anos de vida literária

PAULO SERRA Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL

Apneia, o mais recente romance de Tânia Ganho foi publicado o ano passado pela Casa das Letras e é agora um dos nomeados na categoria Melhor Livro de Ficção Lusófona do Prémio Bertrand Livreiros. Obra de ficção literária que assenta em casos verídicos e experiências reais vividas no Tribunal de Família e Menores de Lisboa e junto do Ministério Público, da Polícia de Segurança Pública, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e do Departamento de Investigação e Acção Penal. Através de Adriana e Alessandro, um casal luso-italiano, e do seu filho Edoardo, Tânia Ganho dá voz às vítimas de violência doméstica e de abusos sexuais, sobretudo às crianças que se tornam, muitas vezes, arma de arremesso entre os pais. Numa trama tão densa e asfixiante quanto sóbria, a autora desfia o fio da história de Adriana, conforme ela desce a um labirinto negro em que a sua sanidade se torna cada vez mais ténue (e a arte pode ser a única salvação), enredando o leitor numa teia psicológica de manipulação e medo, em que nem Adriana nem nós conseguimos enxergar a realidade e reconhecer o inimigo. Tânia Ganho nasceu em 1973, em Coimbra. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, trabalhou durante vários anos em legendagem para televisão e cinema. Foi assistente convidada na Universidade de Coimbra, onde leccionou tradução literária, área a que se dedica há mais de 20 anos. Traduziu autores como Hervé Le Tellier, Angela Davis, Siri Hustvedt, Maya Angelou, Leila Slimani, Chimamanda Adichie, Amor Towles, David Lodge e Alan Hollinghurst, entre muitos outros. É autora dos romances A Vida sem Ti (2005), Cuba Libre (2007), A Lucidez do Amor (2010) e A Mulher-Casa (2012) e tem vários contos publicados na revista Egoísta. P Este é um livro denso, pesado. Diria mesmo que pode custar ao leitor lê-lo. Talvez tanto como lhe custou escrevê-lo?

R Custou-me muito escrever Apneia, não só por abordar questões tão delicadas e complexas como a violência psicológica e o abuso de menores, mas também por sentir que tinha de encontrar o tom certo, o tom justo. Não queria que o livro parecesse um manifesto contra a guarda partilhada, nem um texto sensacionalista sobre

FOTOS HOMEM CARDOSO | D.R.

Através da sua obra, Tânia Ganho dá voz às vítimas de violência doméstica e de abusos sexuais FOTOS D.R.

Entrevista à escritora Tânia Ganho

Só escrevo quando consigo pôr-me na pele das minhas personagens o sofrimento de uma criança e de uma mulher. Queria que a narrativa fosse sóbria, sem cair no melodrama. Creio que tinha em mente livros como Os Níveis da Vida do Julian Barnes e O Ano do Pensamento Mágico e Noites Azuis da Joan Didion, que se destacam pela contenção. A Didion consegue comover-nos sem nunca ser histriónica, e eu tinha esse objectivo em mente.

O processo de escrita levou anos? Quase tantos como os do tempo durante o qual o processo de Adriana se arrasta? P

R Demorei cerca de sete anos a concluir o livro, porque levei muito tempo a decidir como é que ia contar a história, de que ponto de vista. Cheguei a pensar escrever da perspectiva do Alessandro, ou do Edoardo, mas foi a voz da Adriana que acabou por se impor e, a partir daí, o processo tor-

nou-se mais fluído. O tema era tão avassalador, que precisei de anos para processar o material que tinha recolhido e as emoções que me havia suscitado.

artistas, como Cindy Sherman, Frida Kahlo, Marina Abramovic, Helena Almeida, Francesca Woodman... Li a poesia completa de Anne Sexton, li biografias de Sexton e Plath.

P Até porque o livro denota muita pesquisa, inclusivamente no trabalho artístico de Adriana, assim como nas constantes citações de autoras-mulheres.

P Dessas autoras, foca-se, sobretudo na obra de Sexton que cita recorrentemente.

R A pesquisa ocupou-me mais tempo do que a escrita. Só escrevo quando consigo pôr-me na pele das minhas personagens, ter a certeza do que pensam, sentem, fazem... Para criar a personagem do Alessandro e conseguir compreendê-lo, tive de ler muito sobre perversos-narcisistas e manipuladores, queria que ele fosse plausível e não a caricatura de um monstro. E a Adriana só ganhou realmente forma quando mergulhei a fundo na pintura da Cristina Troufa e na obra de outras

R Os versos de Anne Sexton que vou citando ao longo de Apneia dão voz aos sentimentos que, por vezes, Adriana não consegue exprimir. E na sua poesia confessional, Sexton faz exactamente o mesmo que Adriana pretende fazer na pintura: diluir as fronteiras entre o público e o privado, virar a intimidade do avesso e expô-la, contar histórias pessoais dando-lhes um carácter universal. Os poemas de Sexton são janelas que se abrem para o interior de Adriana e nos mostram o que ela sente: “Estou a afundar-me um pouco, mas sempre nadando”. Ilus-

tram o desespero e, ao mesmo tempo, a tenacidade desta mulher. Além de que Sexton dá o mote para o tema da doença mental que começa a cercar Adriana, durante o processo litigioso. Sexton e Plath escreveram e viveram no limiar entre a sanidade e a loucura, e toda a história de Adriana é um aproximar constante da beira do precipício. Julgo que o leitor sente, muitas vezes, que basta um empurrão para que Adriana caia e se afogue. Nestes processos judiciais tão longos, que se arrastam durante anos, é preciso uma enorme resistência física e mental para não baixar os braços e desistir de lutar. P Ao ler Apneia fica a sensação de que a autora se esconde atrás de um narrador frio, objetivo, distante até. No entanto, o sentimento é de tal forma opressivo, conforme entramos na pele de Adriana, que as duas se parecem


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LETRAS & LEITURAS

confundir mais do que aparenta… R Quando escrevo, vivo dentro das personagens e as personagens habitam-me, é natural que as fronteiras se esbatam. Criei a personagem da Mara, de A Mulher-Casa, enquanto vivia em Paris e, a dada altura, já dava por mim a ver tudo através dos olhos dela. Ia a exposições que achava que ela gostaria de ver, visitava lojas de tecidos e chapelarias, porque era isso que ela faria. O meu trabalho de construção das personagens é muito semelhante ao de um actor que se prepara para um papel num filme. Cheguei a ir a uma loja Dior, em Paris, provar vestidos que a Mara adorava. Para dar vida à Adriana de Apneia, passei horas a olhar para os quadros da Cristina Troufa, fui ao Porto visitar o atelier dela, estudei a sua tese de mestrado que dá uma série de pistas para outras artistas, li muitos acórdãos e textos sobre guarda partilhada, alienação parental...

No tribunal de família e menores, quando a nossa vida e a dos nossos filhos está nas mãos de desconhecidos, o sentimento de impotência é avassalador Falando em objetividade e imparcialidade, a própria Adriana consegue muitas vezes ser estóica, como forma de proteger Edoardo, o filho. Porque, como a Tânia já teve oportunidade de manifestar, numa luta de custódia parental a criança é sempre vítima. A força da protagonista chega a ser impressionante. P

R Como escreveu a Maggie O’Farrell, «nunca subestimem uma mãe em guerra». O’Farrell usa esta expressão em Estou Viva, Estou Viva, Estou Viva, referindo-se à sua luta, enquanto mãe, contra a doença da filha. Adriana não está em guerra com Alessandro, está numa espécie de missão para proteger o filho da maldade do pai e da inépcia do tribunal. Tem de ser forte (estóica, como dizes), senão fica sem o filho, ou porque o tribunal lho tira, ou porque Alessandro o rapta, ou simplesmente porque o próprio Edoardo se vira contra ela. Acima de tudo, tem de ser lúcida, para não ferir ainda mais o filho. Ela não quer ser igual a Alessandro, ela faz ponto de honra em ser verdadeira e correcta, caso contrário Edoardo enlouqueceria debaixo de fogo cruzado.

Contudo, o mais desconcertante, e aflitivo do livro, é assistir a momentos-chave em P

que Adriana perde a capacidade de expressão. Foi intencional fazer a protagonista ficar quase sempre sem palavras quando a acusam de coisas inconcebíveis? R Foi, foi intencional. Estamos habituados a ver séries e filmes com cenas de tribunal, em que nos julgamentos os advogados são sempre brilhantes e toda a gente faz discursos longos e comoventes. Eu quis mostrar precisamente o oposto: no tribunal de família e menores, quando a nossa vida e a dos nossos filhos está nas mãos de desconhecidos, o sentimento de impotência é avassalador, sobretudo para as vítimas de violência doméstica. Foram «programadas» durante toda a relação para serem submissas, acatarem ordens, calarem os seus sentimentos, não protestarem sob pena de sofrerem as consequências; portanto, terem de se exprimir perante os magistrados, na presença do agressor, e de se defender de acusações horríveis, sabendo que podem perder os filhos, é de uma violência brutal. São poucas as pessoas que, nestas circunstâncias, conseguem manter o dom da palavra. Adriana balbucia, mete os pés pelas mãos, repete o que a advogada lhe disse... é incapaz de um discurso coerente, firme, porque está desfeita. Ela vê a sua própria vida como que através de um vidro, como se estivesse dentro de um aquário, e as palavras têm dificuldade em atravessar a barreira da água. P Curiosamente o livro dá a sensação, por vezes, de poder ser tomado como um guia. Como se revelasse estratégias relativas a casos deste género, de violência doméstica e abusos sexuais. R Cada caso é um caso, mas há conselhos que se repetem nos consultórios dos bons psicólogos e psiquiatras: nunca dizer mal do outro progenitor aos filhos, nunca lhes mentir deliberadamente, nunca manipular as crianças, nunca comprar afectos e lealdades com prendas, nunca escrever e-mails a quente... O livro não pretende ser um guia, mas as situações que descrevo são muito comuns e se o que descrevo em Apneia ajudar algumas pessoas a não entrarem em guerra e a não magoarem os filhos, óptimo. Mas é um romance e pode ser lido só pelas peripécias do enredo e não nessa óptica mais «pedagógica». P Ainda acerca da violência, foi uma opção deliberada focar-se num casal cuja relação é pautada não pela agressão física mas pela violência psicológica? Esta é aliás tão subtil que nem Adriana se parece aperceber, apenas em relances desconexos do passado que parecem quase inocentes. R Quis explorar a violência psicológica, porque é subtil e insidiosa, infiltra-se nas nossas vidas e quando damos por ela, por vezes já ela nos ti-

rou a auto-estima e despojou da força suficiente para a enfrentarmos. É uma violência ministrada a conta-gotas, é um constante jogo de dominação. O agressor avança e recua, sabe perfeitamente como dar com uma mão e tirar com a outra. Por isso vemos pessoas que nos pareciam fortes e luminosas tornarem-se apagadas e fracas sob o domínio de alguém: porque é um processo lento e discreto. A violência física, pelo contrário, é óbvia, não há nada de ambíguo num estalo ou num pontapé. P A cronologia aparenta ser um pouco desordenada na primeira parte do livro. Há avanços e recuos na idade da criança. R A cronologia só se torna «ordenada» quando Adriana perde o medo e recupera o controlo sobre a sua vida. Até aí, a narrativa acompanha o estado tumultuoso e toldado de Adriana, que não tem uma noção muito clara do que lhe está a acontecer, ela tem dificuldade em raciocinar com clareza. Os pensamentos de Adriana são como legos espalhados pelo chão e ela tropeça neles, magoa-se, apanha alguns, esquece outros.

de Alessandro, a multitude de crianças, …), que tão subtilmente desconcertam o leitor, ao mesmo tempo que nunca o deixam deter-se por muito tempo a reflectir, foram depois interligados e originaram um desfecho imprevisto? R Quando comecei a escrever o livro sabia que queria falar sobre violência psicológica em contexto familiar, mas não fazia ideia de que acabaria por abordar um tema tão doloroso como o do abuso de menores. As pistas estão lá todas, desde as primeiras páginas, e há um crescendo que só podia desembocar neste desfecho, mas eu própria demorei a perceber que estava tudo interligado. A partir do momento em que tomei consciência disso, voltei ao princípio e só depois de confirmar que havia ali um fio condutor e coerente é que escrevi os dois últimos capítulos. Quase que por imposição das próprias personagens.

ser submetido a uma lavagem cerebral regular. Era esse constante ouvir dizer mal da mãe que suscitava tanta violência nele; Edoardo era uma criança esgaçada, forçada a escolher entre o pai e a mãe, como se não pudesse amar ambos, ser leal a ambos. Alessandro obrigou-o a «matar» a mãe dentro de si. As crianças que sofrem este tipo de pressão por parte de um progenitor sentem-se destroçadas e, quando ainda não têm capacidade de se exprimir com maturidade, reagem de maneira visceral, por vezes violenta. Li muito sobre este tema e ouvi vários relatos de casos semelhantes, em que as crianças se tornam «órfãs» de pais vivos («pais» no sentido de pai ou mãe). P Hoje, à luz das várias leituras e conversas em torno do livro, mudaria o final de Apneia?

R Não, não mudava. Cheguei a delinear dois finais diferentes, ambos de

Não fazia ideia de que acabaria por abordar um tema tão doloroso como o do abuso de menores P Como já falámos, este livro leva-nos a uma apneia, deixando-nos quase sem respiração em certos momentos. O único instante de acalmia é quando somos transportados para a Ilha, onde até o tom narrativo se altera, a combinar com o cenário idílico. Ilha essa, algures a 6 milhas de distância da cidade, mas nunca nomeada…

Os momentos na ilha são bolhas de oxigénio. A ilha é o espaço onde o tempo se suspende e onde Adriana consegue respirar, deixar para trás a violência da sua relação com Alessandro. Gosto muito de ilhas, sempre foram sinónimo, para mim, de serenidade e lentidão. Correspondem a uma imagem idealizada (e ingénua) de refúgio. Quando visitei a Berlenga pela primeira vez, percebi que era o cenário ideal para encarnar essa ideia de porto seguro, mas queria que fosse uma espécie de lugar mítico e não uma referência específica no mapa, por isso nunca lhe dou nome. R

P Num projeto com este fôlego, e com o desfecho imprevisto da história, esse horizonte já estava previsto quando começou a escrever? Ou os sinais presentes ao longo do livro (a misoginia

Romance é um dos nomeados na categoria Melhor Livro de Ficção Lusófona do Prémio Bertrand Livreiros P O comportamento de Edoardo, que nos primeiros dois terços do livro, é dual, quase bipolar, com a mãe, só se torna estável quando dirige toda a raiva contra uma só pessoa. Testemunhou ou ouviu casos similares? R O comportamento de Edoardo torna-se estável quando ele pára de

um realismo que deixaria os leitores desfeitos e, depois, deixei-os de molho e não pensei nisso durante uns tempos. No fim, foram as personagens que elegeram o seu destino, foram elas que exigiram justiça poética. Por vezes, a literatura oferece-nos o final que a realidade não nos dá. Creio que todas as personagens precisavam de paz, até Alessandro.


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CADERNO ALGARVE

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NECROLOGIA REGIÃO

MARIA CONSTANTINO LOPES DA CRUZ FERNANDES

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Os seus familiares vêm, por este meio, agradecer a todos quantos a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias ou que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

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CASIMIRO MARTINS GUERREIRO

MARIA ODETE REBELO DA SILVA ROCIO

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23-07-1930 25-03-2021

Os seus familiares vêm, por este meio, agradecer a todos quantos o acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias ou que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos quantos se dignaram acompanhar o seu ente querido à sua última morada ou que, de qualquer forma, lhes manifestaram o seu pesar.

SANTA MARIA - TAVIRA SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA

SÃO JORGE DE ARROIOS - LISBOA SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA

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VER A GOES FERREIR A PERES

JORGE ALBERTO SILVA COELHEIRO

GR AÇA MARIA DE CARVALHO PATR ÃO BELIZ

05-03-1939 30-03-2021

23-02-1965 02-04-2021

04-04-1956 04-04-2021

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos quantos se dignaram acompanhar o seu ente querido à sua última morada ou que, de qualquer forma, lhes manifestaram o seu pesar.

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PENHA DE FRANÇA - LISBOA LUZ E SANTO ESTÊVÃO - TAVIRA

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OLIVEIRA DO DOURO - VILA NOVA DE GAIA SANTA LUZIA - TAVIRA

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CONVOCATÓRIA Convocam-se todos os associados da Associação Oncológica do Algarve para a Assembleia Geral Ordinária a realizar no dia 23 de Abril de 2021, às 16:30 horas, no Auditório do Instituto D. Francisco Gomes (Casa dos Rapazes), na Rua Dr. José de Matos – Estrada do Bom João, 8000-501, Faro, com a seguinte ordem de trabalhos: 1 - Apresentação, discussão e votação das contas do exercício de 2019; 2 - Apresentação, discussão e votação do Programa para o ano 2021; 3 - Apresentação, discussão e aprovação do Orçamento para o ano 2021; 4 - Apresentação, discussão e votação das contas do exercício de 2020. Caso à hora marcada não esteja presente o número de associados necessário para fazer quórum, a Assembleia Geral terá início meia hora depois, com o número de associados presentes. Atendendo à situação epidemiológica que atravessamos, devido à COVID-19, todos os associados deverão comparecer com máscara, respeitar o distanciamento físico recomendado (distância de segurança de 1,5 a 2m), observar as regras de etiqueta respiratória e higienizar frequentemente as mãos. Faro, 16 de Março de 2021 A Presidente da Assembleia Geral Dra. Nídia Maria Manjua Brás Jesus (POSTAL do ALGARVE, nº 1262, 9 de Abril de 2021)

Contacto: 918 201 747

COMUNIQUE COM O POSTAL Endereço: R. Dr. Silvestre Falcão 13 C, 8800-412 Tavira Contacto: 281 405 028 Administrativo: anabelag.postal@gmail.com Redação: jornalpostal@gmail.com

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EDITORIAL

É preciso credibilizar a política

O

povo, na sua imensa sabedoria, diz que a verdade acaba sempre por vir ao de cima como o azeite. E isso vale também para o recambolesco episódio de Portimão que vai marcando a atualidade política algarvia. Dir-se-à que esse caso e todas as incidências que o acompanharam só dirá respeito a quem lhes possa servir a carapuça. Trata-se de uma verdade apenas em parte, e só assim seria se o processo em causa, entre avanços e recuos, desmentidos e outros contorcionismos, não pudesse ter contribuído, como contribuiu, para agravar desconfianças e danos colaterais no prestígio e na credibilidade dos partidos políticos e seus agentes, mais do que já se conhece. Não se pretende aqui tomar a parte pelo todo, porque a atividade política sendo um exercício nobre ao serviço da comunidade, tem a seu lado um exército de gente boa, séria e dedicada à causa pública, onde se integra a grande maioria dos autarcas, com as excepções existentes para confirmar a regra. Como em todas as áreas e actividades profissionais. E num momento em que cresce o escrutínio público sobre a idoneidade dos políticos, impõe-se, por isso, cada vez mais, uma maior intransigência crítica relativamente a todos os casos que direta ou indiretamente possam contribuir para elevar o clima de suspeição e assim minar os alicerces de confiança das pessoas na democracia e nos seus eleitos.

São sobejamente conhecidas as técnicas de apontar o dedo, ferir ou tentar ‘matar’ o mensageiro, perante uma notícia desagradável de que este possa ser portador É, portanto, um assunto que não diz respeito apenas a quem está na política e nos partidos, devendo envolver igualmente todos os cidadãos empenhados na construção de uma sociedade mais transparente e na defesa e valorização do sistema democrático. Onde os órgãos de comunicação social têm um papel fundamental e insubstituível, do qual não se podem demitir e de nenhuma forma devem permitir deixar-se intimidar. Neste aspeto, é bom salientar que é antiga a relação nem sempre pacífica - não raras vezes conflituosa - entre jornalistas e políticos. São do domínio público e sobejamente conhecidas as técnicas de apontar o dedo, ferir ou tentar ‘matar’ o mensageiro, perante uma notícia desagradável de que este possa ser portador. É uma prática velha - da antiguidade clássica e da idade média - que teima em prolongar-se no tempo e que não acaba aqui. Vale a pena terminar, citando uma frase de uma personalidade cujo perfil moral e autoridade política, o Algarve e o país se habituou a admirar. A propósito de atos políticos que considerou censuráveis, o Dr. Francisco Amaral lançou, com todo o sentido de oportunidade, o seu grito de alerta que soou como um terramoto e do qual, a partir desta tribuna, fazemos eco: “É preciso credibilizar a política”.

AHETA: Elidérico demissionário vai manter-se em funções O presidente demissionário da AHETA, Elidérico Viegas, vai continuar a liderar a associação até final do mandato por decisão unânime dos órgãos sociais “Por decisão tomada unanimemente, a direção e o seu presidente receberam a solidariedade institucional de todos os órgãos da AHETA”, mantendo-se no “exercício das suas competências inerentes até final do mandato”, explicou ao POSTAL, Carlos Cabrita, presidente da

mesa da assembleia geral. Carlos Cabrita confirmou que esta decisão justifica-se perante a atual conjuntura de dificuldades resultante da atual crise económica e social do país e da atividade turística regional no Algarve. Nesse contexto, Carlos Cabrita considera por isso “imprescindível a intervenção da associação na atenta defesa dos altos interesses dos seus associados”. “Nos termos dos estatutos da AHETA, não há direção sem o seu presidente”, adiantou aquele responsável para justiticar que o mandato dado à direção contempla igual-

Últimas Delta Cafés apoia reabertura da restauração

Poucas figuras serão tão queridas e consensuais como a do empresário Rui Nabeiro, que recentemente celebrou 90 anos de idade. E é no momento de grandes dificuldades com que se depara a restauração que o Grupo Nabeiro volta a marcar presença ao apoiar a reabertura de esplanadas de restaurantes, cafés e pastelarias, através do reforço do seu canal Horeca. Com a iniciativa “Juntos Somos mais Fortes”, a Delta Cafés vai oferecer um conjunto de produtos do portefólio do Grupo Nabeiro, cujo valor de venda equivale a um milhão de euros.

mente o seu presidente, sem explicar, no entanto, como se conjuga esta situação com o facto de Elidérico Viegas ainda não ter retirado o seu pedido de demissão. Esta questão surge após o pedido de demissão apresentado por Elidérico Viegas alegando falta de solidariedade institucional, na sequência de declarações suas sobre alegados “prémios turísiticos comprados”. Contactado pelo Postal do Algarve, Elidérico Viegas não quis adiantar qualquer comentário.

Seduzia mulheres nas redes sociais O Tribunal

de Beja determinou esta quarta-feira a prisão preventiva do homem detido pela Polícia Judiciária por alegadamente ter seduzido várias mulheres e as ter sujeitado a ofensas corporais graves. O homem, de 55 anos, foi presente a primeiro interrogatório judicial no Tribunal de Beja e vai ficar em prisão preventiva no estabelecimento prisional desta cidade alentejana. O indivíduo incorre alegadamente nos crimes “de burla qualificada, violência doméstica e abuso de confiança, falsificação de documentos e tráfico de droga”.

CENTRO DE VACINAÇÃO JÁ ESTÁ PRONTO A FUNCIONAR

Barco-ambulância nas ilhas-barreira Foi

OLHÃO O Dia Mundial da Saúde foi assinalado com a vista do presidente do Município de Olhão, António Miguel Pina, ao Centro de Vacinação do concelho, criado em tempo recorde pela autarquia, em parceria com o Agrupamento de Centros de Saúde Central e a ARS Algarve.

renovado o protocolo para operacionalização, utilização e sustentabilidade do barco-ambulância “Ria Solidária”, que se encontra ao serviço dos habitantes das ilhas-barreira da Ria Formosa. Com a prorrogação deste protocolo, assinado em 2018, os Municípios de Faro e Olhão, bem como o INEM, viabilizam a manutenção e operacionalização desta embarcação.

Situado no Clube Desportivo “Os Olhanenses”, este espaço, pronto a funcionar e que abrirá assim que se iniciar a vacinação em massa contra a covid-19 no concelho, permitirá vacinar 400 pessoas por dia e, se necessário, aumentar a sua capacidade, pelo menos, até ao dobro.

Governo quer abrir centro de procriação medicamente assistida no Algarve O Governo pretende abrir um centro de procriação medicamente assistida no Algarve até ao final do ano para melhorar o acesso a estes tratamentos “nesta região e na periferia”, segundo o secretário de Estado Adjunto e da Saúde O anúncio foi feito esta quarta-feira por António Lacerda

Sales na Comissão de Saúde em resposta ao deputado do PCP João Dias sobre a possibilidade de alargamento dos centros públicos de PMA que neste momento existem no Porto, em Coimbra e em Lisboa. Na audição, por videoconferência, requerida pelo PCP sobre os atrasos no acesso aos tratamentos de PMA e as medidas para os recuperar, o governante avançou que “está a ser equacionada a abertura de um novo cen-

tro na região do Algarve que poderá contribuir para melhorar o acesso nesta região e na periferia”. “Já falei com o Senhor presidente do Conselho de Administração [do Centro Hospitalar Universitário do Algarve] sobre esta matéria”, disse, adiantando que a equipa já está constituída”. “Queríamos ver se conseguimos até ao final do ano pôr esta equipa a trabalhar”, afirmou o governante.

Atropelamento mortal em Tavira Faleceu David

Distribuição quinzenal nas bancas do Algarve

Tiragem desta edição

7.227 exemplares

POSTAL regressa a

23 de Abril

Monhe, de 27 anos de idade, vítima de atropelamento esta segunda-feira na cidade de Tavira. Ao passar a estrada de bicicleta, de um lado para o outro, na Avenida dos Descobrimentos, próximo da Repsol, David Monhe foi abalroado por uma viatura automóvel, cujo impacto da colisão foi fatal, deixando a viatura com o vidro partido. O condutor da viatura acabou por ser identificado e interrogado na esquadra da PSP de Tavira.


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