POSTAL 1283 9ABR2022

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Interdita venda na distribuição quinzenal com o jornal

Sobe & Desce P6 e 7

8 de abril de 2022 1283 • €1,5

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Consultadoria informática para empresas

Diretor: Henrique Dias Freire Quinzenário à sexta-feira

postaldoalgarve

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www.postal.pt

E ainda Abril, problemas "mil" na saúde no Algarve

Mês iniciou-se com uma grave acusação dos enfermeiros algarvios ao CHUA e com um percalço numa ala de cirurgia do Hospital de Faro, um surto de covid-19. P6

AP Cabanas Beach Nature volta a abrir

Localizada no coração da Ria Formosa, a unidade hoteleira abre novamente as suas portas e convida “a desfrutar de uma experiência inesquecível”. P7

RESERVAS TURÍSTICAS PARA A PÁSCOA JÁ SUPERAM LIGEIRAMENTE AS DE 2019

Podemos vir a ter o melhor verão de sempre no Algarve ➡ Expectativas 3% acima de 2019, o melhor ano turístico de sempre ➡ Portugueses, ingleses e espanhóis, por esta ordem, são os turistas mais esperados para a Páscoa no Algarve ➡ Portugal é o 3.º país mais procurado por turistas europeus na Páscoa. Ingleses e espanhóis são quem mais procura o Algarve P2

Mais informações em www.hpz.pt

Algarvios estão a fazer "romaria" a Ayamonte Desconto chega aos 10 euros num depósito de 80 euros. P5

Arménio Aleluia Martins: Memórias de uma vida Bombeiros do Algarve em risco de pararem

StartUp Portimão promove 'Aceleração Online' no Algarve

Em causa estão os elevados preços dos combustíveis. P6

Vai ser dinamizado o 3º Bootcamp de Aceleração Online, destinado a todos os empreendedores que pretendam acelerar os seus negócios. P11

LUXO NO ALGARVE

Casas até €9 milhões

Bee Shoes abriu na Rua de Santo António em Faro

O grupo algarvio Abelhas inaugurou a sua 12ª loja no coração da baixa de Faro, em plena Rua de Santo António e apresentou a sua nova coleção, colorida e refrescante. P4

IMPRESSORAS SOFTWARE IT SERVICES

ENTREVISTA É um dos decanos do

jornalismo algarvio. Pode-se dizer que nasceu “embrulhado” numa folha da Avezinha, com as palavras a cresce-

ram-lhe nos dedos. A par do jornalismo – e teve muitos projetos –, a sua grande paixão foi sem sombra de dúvida, Paderne, sua aldeia natal. Por ela resistiu

e foi à luta. Viu nascer Albufeira para o turismo no tempo em que não havia hotéis e os turistas eram encaminhados para casas particulares. P12 a 13

Novo condomínio com equipamentos de última geração, são 89 imóveis com preços entre €2,75 e €9 milhões, em fase de pré-construção. P3

ALGARVE SOLIDÁRIO COM POVO UCRANIANO

🇺🇦 VRSA garante mais acolhimento 🇺🇦 Animal Rescue Algarve aumenta esforços P9

PAULO SERRA

P9

RAMIRO SANTOS

Entrevista com Isabel Rio Novo, autora do romance Madalena Memórias (im)prováveis Um Amigo para o Inverno, de José Carlos Barros de Adriano CS20 e 21

PAULO LARCHER

SAÚL NEVES DE JESUS

O Algarve de Costa-a-Costa: Como são tratadas as obras Castro Marim CS16 de arte durante a guerra? CS14 MARIA LUÍSA FRANCISCO

JORGE QUEIROZ

CS15

MARIA JOÃO NEVES

O Colosso Agrilhoado VICO UGHETTO

CS18

As Pessoas Invisíveis A “Crónica da conquista do Algarve” Exposição como forma do escritor José Carlos Barros CS17 e a actualidade dos textos fundadores CS19 de ativismo CS19


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CADERNO ALGARVE

Postal, 8 de abril de 2022

REGIÃO TURISTAS EUROPEUS: PORTUGAL EM 3.º NOS MAIS PROCURADOS PARA A PÁSCOA Redação, Administração e Serviços Comerciais Rua Dr. Silvestre Falcão, 13 C 8800-412 Tavira - ALGARVE Tel: 281 405 028 Publisher e Diretor Henrique Dias Freire Diretora Executiva Ana Pinto

REDAÇÃO

jornalpostal@gmail.com Ana Pinto, Cristina Mendonça, Henrique Dias Freire e Jéssica Sousa Estatuto editorial disponível postal.pt/arquivo/2019-10-31-Quem-somos Colaboradores Afonso Freire, Alexandra Freire, Alexandre Moura, Beja Santos (defesa do consumidor), Humberto Ricardo e Ramiro Santos Colaboradores fotográficos e vídeo Ana Pinto, Luís Silva, Miguel Pires e Rui Pimentel

DEPARTAMENTO COMERCIAL

Publicidade e Assinaturas Anabela Gonçalves - Secretária Executiva anabelag.postal@gmail.com Helena Gaudêncio - RP & Eventos hgaudencio.postal@gmail.com Design Bruno Ferreira

EDIÇÕES PAPEL EM PDF issuu.com/postaldoalgarve DIÁRIO ONLINE www.postal.pt FACEBOOK POSTAL facebook.com/postaldoalgarve FACEBOOK CULTURA.SUL facebook.com/cultura. sulpostaldoalgarve TWITTER twitter.com/postaldoalgarve PROPRIEDADE DO TÍTULO Henrique Manuel Dias Freire (mais de 5% do capital social) EDIÇÃO POSTAL do ALGARVE - Publicações e Editores, Lda. Centro de Negócios e Incubadora Level Up, 1 - 8800-399 Tavira CONTRIBUINTE nº 502 597 917 DEPÓSITO LEGAL nº 20779/88 REGISTO DO TÍTULO ERC nº 111 613 IMPRESSÃO LUSOIBERIA Rua Fernanda Seno, nº 6 7005-485 Évora DISTRIBUIÇÃO: Banca/Logista DISTRIBUIÇÃO: à sexta-feira com o Expresso / VASP - Sociedade de Transportes e Distribuição, Lda e CTT

Tiragem desta edição

6.555 exemplares

Verão pode vir a ser o melhor de sempre

A

s expectativas da hotelaria algarvia para a Páscoa são "positivas" e poderão até vir a superar ligeiramente as de 2019. Quanto ao verão, "há uma expetativa de um aumento nas ocupações de 3% face ao verão de 2019", este ligeiro aumento pode vir a indiciar que o Algarve poderá vir a superar o de 2019, aquele que foi o melhor de sempre, até ao momento. Segundo confirmou igualmente ao POSTAL o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do

Algarve (AHETA), Hélder Martins, do inquérito feito aos seus associados, "o nível de reservas para a Páscoa é de 63% (+1%), sensivelmente o mesmo que o verificado em 2019". A estadia média prevista é de 3,9 noites e, neste momento, " cerca de 50% das reservas são de Portugueses, seguidas pelas reservas do Reino Unido e da Espanha". Hélder Martins salientou igualmente ao POSTAL que "ainda não há registo do impacto da inflação no aumento dos preços no alojamento, nem em quebra de reservas".

O presidente da AHETA relembrou que a ideia, “habitualmente passada” de PUB.

que a região “está cheia” de turistas nesta altura do ano, deve ser afastada, afirmando que “o Algarve está longe de estar cheio na Páscoa” e que conta com uma “capacidade de alojamento grande” para o período de 15 a 17 de abril que ainda pode ser utilizada. “Está com ocupações previstas ligeiramente acima de 2019, mas com grande capacidade ainda para acolher aqueles que quiserem cá vir”, salientou. Eleito em janeiro como presidente da AHETA, Hélder Martins sublinhou que estas perspetivas são “transversais em relação às várias categorias” e “não são só uma coisa que se verifique nas [unidades de] cinco estrelas ou de três estrelas”. O dirigente da associação empresarial algarvia afastou ainda, de momento, qualquer influência negativa na procura pela região motivada pela guerra na Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro com a entrada em território ucraniano de forças militares da Rússia, que cercam atualmente várias cidades, incluindo a capital Kiev. Na opinião de Hélder Martins, o facto de o conflito ser no leste europeu “pode ajudar a motivar pessoas a escolher destinos no sul da Europa, em detrimento de outros”, com “maior proximidade” à Ucrânia, como é o caso da Turquia ou de destinos asiáticos, cujo declínio turístico começa a ser visível.

Portugal em terceiro nos países mais procurados pelos turistas europeus Portugal é o terceiro país mais procurado na Jetcost para passar as férias da Páscoa, depois de Espanha e Itália. “Uma boa parte dos europeus que decidiram viajar durante a Páscoa de 2022 vão fazê-lo em Portugal devido ao elevado grau de vacinação da população, à diminuição da incidência e ao caráter menos perigoso da variante Ómicron, juntamente com o nosso ótimo clima, a riqueza cultural, os costumes e as festas religiosas, além da nossa requintada gastronomia, os bons hotéis e infraestruturas”, concluiu a Jetcost. Segundo os dados da sua plataforma de pesquisa de viagens, Lisboa é a cidade preferida dos espanhóis, alemães, italianos e holandeses. Já o Porto é a cidade mais pretendida pelos franceses.

"Enchente" espanhola A sul, a região do Algarve é a mais procurada pelos ingleses, mas é igualmente esperada a tradicional "enchente" de espanhóis que costumava na altura da Páscoa cruzar a Ponte Internacional do Guadiana. Mas são os portugueses que vão continuar a 'dominar' a Páscoa no Algarve, com cerca de 50% do total das reserva.


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REGIÃO NOVO CONDOMÍNIO DE LUXO NO ALGARVE

É o momento perfeito para investir: Casas até €9 milhões

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ha ma-se One Green Way (Um C a m inh o Ve r de) e é o mais recente e exclusivo empreendimento na Quinta do Lago, em Loulé. O novo condomínio de luxo inclui 89 residências contemporâneas que se distinguem pelo seu design marcante e grandes dimensões, assinadas pelo gabinete PLAN Architects. Nesta fase de pré-construção, os preços variam entre os €2,75 milhões e os €9 milhões, entre apartamentos de três quartos com 300 m2 às moradias com seis quartos e 1000 m2 de área. No exterior, jardins privados de estilo mediterrâneo, luxuosos e bem cuidados, vão dar vida à visão inspiradora dos premiados arquitetos paisagistas Cracknell. Equipamentos de lazer e desporto de última geração Segundo a Quinta do Lago Real Estate, vencedora do

prémio de Melhor Agência de Escritório Único em Portugal nos European Property Awards 2020/2021, “o One Green Way oferece uma ampla seleção de comodidades e instalações, que vão desde o trabalho ao exercício até a momentos relaxantes, seja no seu business center de última geração, no seu ginásio equipado ou no acolhedor Clubhouse — todos a curta distância e sem a necessidade de sair do conforto desta comunidade exclusiva”.

A especialista oficial do resort salienta que “cada propriedade foi cuidadosamente projetada para oferecer o melhor estilo de vida. Os especialistas da Vilaça Interior selecionaram criteriosamente todos os recursos para um estilo de vida descontraído e sem preocupações, que é complementado com tecnologia de casa inteligente para maior conectividade, funcionalidade e tranquilidade”. Com vistas fenomenais sobre o campo de golfe Norte, o One

Green Way é um condomínio privado que oferece privacidade e exclusividade dentro do resort – não apenas os seus moradores são convidados a desfrutar das muitas instalações da Quinta do Lago, mas no One Green Way encon-

trarão comodidades de luxo e equipamentos de lazer e desporto de última geração. “Agora é o momento perfeito para investir” Segundo Daniel Schneider,

da SPX Capital ao Expresso, “depois de um ano de fecho internacional, agora é o momento perfeito para investir”. A empresa de gestão de ativos brasileira juntou-se à portuguesa Green Jacket Partners — especializada em investimento imobiliário — para dar corpo ao novo condomínio de luxo, que vai nascer junto ao campo de golfe North Course da Quinta do Lago, numa área que inclui o antigo projeto The Keyes. No total, a SPX, com a Green Jacket, investiu €150 milhões na compra de terrenos segundo apurou o Expresso, “na forma de três ativos que tinham sido penhorados pela Caixa Geral de Depósitos por incumprimento dos anteriores proprietários”.

As tipologias em ambiente de pertença incomparável A partir do momento em que entra no empreendimento, o One Green Way revela-se como uma

comunidade cheia de possibilidades: “Uma cidade por si só que convida a momentos de partilha entre

os seus moradores, sem nunca colocar em causa o seu espaço pessoal e privado”. FOTOS D.R. REPRODUÇÃO SITE ONE GREEN WAY

HORIZON RESIDENCES Com vistas fenomenais sobre o campo de golfe Norte, as Horizon Residences têm entre quatro e seis quartos e apresentam espaço para tudo e algo para todos.

PANORAMA RESIDENCES

Generosas em tamanho, as Residências Panorama apresentam áreas de estar comuns elegantes e impressionantes. Cada apartamento apresenta entrada privativa, elevador privado e áreas de terraço ao ar livre.

GARDEN RESIDENCES

As Garden Residences apresentam entre 380m2 e 480m2. O verdadeiro destaque destes apartamentos são as áreas exteriores exuberantes, onde os jardins acolhedores são complementados por piscina e áreas de refeições exclusivas.


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REGIÃO BEE SHOES

breves Crianças têm novo mobiliário com maior eficiência térmica O Município de Castro Marim adquiriu novo mobiliário para as três salas da Creche e Jardim de Infância de Castro Marim. Um investimento de mais de 7.000 euros que se traduz numa maior comodidade para as crianças: “mais moderno e adaptado às necessidades das crianças, este mobiliário transforma as salas de aula em ambientes mais acolhedores e facilita também a lavagem e desinfeção, por se tratar de equipamento com mais resistência e impermeabilidade”. Um maior investimento, avaliado em cerca de 100.000 euros, foi também agora concluído. Trata-se da substituição do telhado, que era ainda em fibrocimento, e da aplicação uma solução termicamente mais eficiente.

Serviços de higiene e limpeza urbana reforçados O município de Vila Real de Santo António renegociou o contrato de prestação de serviços com a empresa Ecoambiente, de forma a reforçar e melhorar os serviços de limpeza e recolha de Resíduos Sólidos Urbanos. O contrato prevê agora um aumento dos níveis de cobertura, eficácia e dotação de recursos humanos, garantindo a correta limpeza e higiene pública de todas as freguesias. Visa também obter a melhor relação custo-benefício para a autarquia para que assim possa ser prestado um serviço de excelência à população e se garanta um concelho mais limpo.

Fogo Fogo iniciam digressão que inclui Faro Os Fogo Fogo encontram-se em digressão de apresentação de “Fladu Fla”, álbum editado no ano passado. No Algarve, a banda vai atuar no Festival Fado in a Box, no dia 15, no Teatro das Figuras em Faro. “Fladu Fla”, o primeiro álbum dos Fogo Fogo, quinteto português, lusófono, nascido na Casa Independente, em Lisboa, onde protagonizou concertos mensais a tocar funaná e a homenagear artistas de paragens cabo-verdianas, foi editado em setembro do ano passado. PUB.

Há uma nova loja do Grupo Abelhas na Rua de Santo António em Faro

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grupo algarvio Abelhas inaugurou a sua 12ª loja no coração da baixa de Faro, em plena Rua de Santo

António. Na cerimónia, o administrador Manuel Silvestre evocou o nome do fundador, José Silvestre, que lhe ensinou os primeiros passos no setor e mais tarde se tornou a sua principal atividade. Gosto herdado pela filha, Bruna Silvestre, licenciada em Gestão e Marketing, que toma agora as rédeas do negócio. A abertura da nova loja Bee Shoes, inaugurada na quinta-feira da passada semana, contou com a presença de vários convidados que desejaram amplas felicidades a Bruna Silvestre, filha de Manuel Silvestre, a quem cabe a responsabilidade não só deste novo projeto como gradualmente de todo o grupo. No discurso proferido pelo presidente do Município de Faro, Rogério Bacalhau, e replicado pelo também presente Bruno Lage, presidente da União de Freguesias de Faro, e Ana Fernandes, secretária-geral da

Bruna Silvestre, filha de Manuel Silvestre, a quem cabe a responsabilidade não só deste novo projeto como gradualmente de todo o grupo FOTO ANA PINTO | POSTAL D.R.

ACRAL, saíram elogios dirigidos ao proprietário da marca, como “empresário com garra e coragem depois de um período difícil para todos” e a “importância que o tecido empresarial tem na tradição e na identidade da cidade”.

Uma caminhada de 55 anos Manuel Silvestre enalteceu o trabalho dos colaboradores, que desde sempre acompanharam

esta caminhada empresarial que já leva 55 anos. “A Bee Shoes irá ser sempre um marco de viragem para o Grupo Abelhas, mas naquilo que é a sua essência, a qualidade dos artigos, o conforto e a defesa do produto nacional, manter-se-á fiel”, referiu a administração. “Tanto em sapatos como nas malas, cintos e outros acessórios vão privilegiar o que é português, mas também introduzir artigos de fora”, nomeadamente “Lodi”, “Bruno

Premi”, “Alma en Pena”, “Port Side”, Menbur, não esquecendo as “Hispanitas”, “Pikolinos”,”Ara”, “Fluchos”, as Skechers, Camport e “Sofia Costa”. A nova loja, cujo projeto tem a assinatura do arquiteto Noel Marques do Atelier 2B1, apresentou igualmente a sua nova coleção, colorida e refrescante, acolhida neste novo espaço na baixa de Faro, em plena Rua de Santo António, “cartão de visita da capital algarvia”. PUB.


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REGIÃO

Algarvios aproveitam desconto direto de 0,20€ por litro nos combustíveis em Ayamonte Os portugueses que vão a Espanha abastecer-se de combustível estão não só a pagar menos do que em Portugal, como também a beneficiar de um desconto direto de 20 cêntimos por litro atribuído pelo Governo espanhol. Na localidade espanhola de Ayamonte, município da região autónoma da Andaluzia que faz fronteira com Castro Marim e Vila Real de Santo António, o desconto dado pelas estações de serviço e que será depois coberto pelo Governo espanhol chega aos 10 euros num depósito de 80 euros. A este desconto, atribuído pelo Governo espanhol para ajudar a população a enfrentar a subida do preço dos combustíveis, soma-se o facto de o preço praticado em Espanha ser menor do que aquele que é cobrado em Portugal: a gasolina 95 naquele país está hoje nos 1,810 euros por litro e o gasóleo simples nos 1,789 euros por litro.

Filas de automóveis portugueses sucedem-se “Meti 40 euros de gasóleo e, quando fui pagar, devolveram-me quatro euros e tal”, disse à agência Lusa Marta Costa, uma portuguesa que hoje estava num posto de abastecimento em Ayamonte, onde os portugueses aproveitam a proximidade da fronteira com Portugal para abastecerem mais barato. As filas de automóveis portugueses sucedem-se nos postos de abastecimento próximos da fronteira e os portugueses conseguem assim pagar os carburantes mais barato do que os que em Portugal, onde esta se-

gunda-feira o preço por litro do gasóleo simples atinge 1,979 euros e o da gasolina 2,054 euros. A Lusa falou também com Luís Antunes, que disse ter ido a Ayamonte abastecer o automóvel porque “o preço é mais barato do que em Portugal” e acabou por ser “surpreendido com o desconto” que é dado pelo Governo espanhol.

O objetivo é conter o aumento dos preços da energia e atenuar o impacto nos bolsos dos AF_ Mupi Maria do Céu Guerra.pdf

“Governo português devia era seguir este exemplo” “Vim cá porque é mais barato do que em Portugal e quando paguei disseram-me que me descontavam os 20 cêntimos por litro. O Governo português devia era seguir este exemplo e dar também um apoio às pessoas para fazerem frente a esta subida escandalosa dos preços dos combustíveis”, afirmou a mesma fonte. Luís Nunes também aproveitou a deslocação ao Algarve para passar o fim de semana para abastecer o carro no regresso a Lisboa e mostrou-se satisfeito por, “além de o preço ser mais baixo do que em Portugal”, ainda “beneficiar de um desconto dado pelo Governo espanhol e que se sente imediatamente no bolso quando é feito o pagamento”. Carlos Fuentes, espanhol residente em Ayamonte, contou à Lusa que, desde a entrada em vigor do desconto, na sexta-feira, “tem sido um constante movimento de automóveis portugueses” nas bombas de gasolina da localidade fronteiriça espanhola, que está separada dos municípios de Castro Marim e Vila Real de Santo António, no distrito de Faro, pelo rio Guadiana. As estações de serviço em Espanha aplicam desde sexta-feira um desconto de pelo menos 20 cêntimos por litro de combustível aos clientes.

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consumidores e das empresas, depois das subidas registadas nos valores dos combustíveis

e da energia desde o início da guerra na Ucrânia. O desconto está em vigor em

todas as 11.650 estações de serviço de todo o país até, pelo menos, 30 de junho. PUB.


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REGIÃO

Transportes não urgentes dos bombeiros do Algarve em risco de pararem

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Federação dos Bombeiros do Algarve está preocupada com o impacto da subida do preço dos combustíveis no serviço de transporte de doentes não urgentes, advertindo que pode racionar ou deixar de realizá-los se a situação não melhorar. A posição da federação, que junta as associações humanitárias e corporações de bombeiros do Algarve, foi anunciada após uma reunião realizada na semana passada para analisar o impacto do preço dos combustíveis e na qual todas as associadas manifestaram “grande preocupação” quanto ao futuro próximo para garantir que são prestadas as suas “principais atividades”. “Caso a situação não se altere, começa mesmo a perspetivar-se a necessidade de racionar serviços, o que implica que o transporte de algumas pessoas para consultas ou tratamentos, os chamados transportes não urgentes, poderão deixar de ser realizados”, advertiu a Federação dos Bombeiros do Algarve. A organização apelou ao novo Governo liderado por António Costa, apoiado por uma maioria absoluta do PS, para que “olhe para a situação periclitante que muitas associações

FOTO D.R.

em 0,51 euros por quilómetro”. “Os Bombeiros do Algarve consideram mesmo que estão a ser desconsiderados pelo Governo, atendendo ao relevante papel que desempenham no quadro das competências da proteção civil, bem como da sua responsabilidade social para com as Comunidades e populações que servem”, lamentou a Federação.

BOMBEIROS APELAM PARA UMA RESPOSTA URGENTE

estão a passar”, algumas “com graves dificuldades de funcionamento”. A federação pediu a adoção de medidas de apoio para corrigir uma situação que “se agravou bastante nos últimos dois anos” e “agora também com a situação do conflito” na Ucrânia, invadida pela Rússia numa ofensiva iniciada em 24 de fevereiro.

A SITUAÇÃO É MUITO GRAVOSA “As repercussões que esta situação pode ter no dia a dia dos bombeiros é muito gravosa e por isso merece uma atenção discriminatória positivamente por parte do Governo”, considerou a Federação dos Bombeiros do distrito de Faro, que

integra os 16 concelhos do Algarve. Além do aumento de combustíveis, também é necessário proceder, segundo a mesma fonte, a uma “atualização urgente” das comparticipações do Serviço Nacional de Saúde para o transporte de doentes, que “não é atualizada desde 2012” e apenas está “fixada

As associações e corporações de bombeiros algarvias também criticaram a falta de “qualquer tipo de diferenciação positiva por parte do Governo” durante os últimos dois anos, nos quais “o país foi assolado pela pandemia da covid-19”. “No momento em que não são conhecidas quaisquer medidas de apoio às associações humanitárias no sentido de mitigar esta situação crítica, os bombeiros do Algarve apelam ao Governo para uma resposta urgente, a tempo de garantir a sua operacionalidade e os serviços de importância extrema que realizam diariamente no apoio às populações mais necessitadas”, pediram ainda as corporações algarvias.

Abril, problemas "mil" na saúde no Algarve Este mês de abril iniciou-se com uma grave acusação dos enfermeiros algarvios ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve e com um percalço numa ala de cirurgia do Hospital de Faro, um surto de covid-19

Dezenas de enfermeiros algarvios concentraram-se, na passada sexta-feira, em Portimão para acusar o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) de mentir sobre a contagem do tempo de serviço. Dizem que a administração está a roubar-lhes quase 20 anos de ex-

periência nos cálculos dos salários. Concentrados junto à porta principal da unidade hospitalar de Portimão, os enfermeiros entoaram palavras de ordem como “enfermeiros a cumprir, queremos progredir” e “queremos justiça”, enquanto seguravam cartazes onde se lia “ARS e

Surto fechou novos internamentos na ala de cirurgia do Hospital

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ala poente do serviço de cirurgia do Hospital de Faro teve que ser encerrada na passada semana “a novos internamentos” devido a um surto de covid-19, mas a assistência foi garantida noutras áreas da unidade, garantiu fonte hospitalar. O diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA – que gere os hospitais de Faro, Portimão e Lagos), Horário Guerreiro, assegurou que,

com alguma “ginástica na gestão de camas”, o hospital concentrou as pessoas infetadas e contactos próximos na ala poente do serviço de cirurgia, encerrando-o a novos internamentos e redirecionando a assistência habitualmente aí prestada para outras áreas da unidade. O representante adiantou que a ala poente da cirurgia, “com uma lotação de 28 camas”, estava ocupada com 25 doentes, 12 dos quais com infeção de covid”, enquanto

os “restantes [13] estiveram em contacto com infetados de covid, mas sem casos positivos”. “As coisas estão a funcionar normalmente, não tivemos de cancelar nenhuma atividade particular. Obviamente produz consequências a nível da gestão das camas, temos de fazer alguma ginástica para encaixar os doentes, mas por enquanto temos mantido a atividade”, garantiu na altura o médico do Centro Hospitalar.

CHUA – paguem o que prometeram aos enfermeiros” e “CHUA rouba anos de serviço e nega progressão aos enfermeiros”. Na concentração de protesto, promovida pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), os profissionais de saúde exigiram que a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve o Centro Hospitalar Universitário do Algarve – que integra os hospitais de Faro, Portimão e Lagos – cumpram o compromisso assinado em 2019 “para a progressão dos enfermeiros”. Nuno Manjua, da direção regional de Faro do SEP, notou que, “para além de não terem progredido nas carreiras, os enfermeiros receberam recentemente com grande surpresa que apenas vai contar o seu tempo de serviço de 2018 para a frente”. O dirigente sindical assegurou que os enfermeiros vão continuar em luta até que sejam satisfeitas as suas

reivindicações, adiantando que até ao dia 12 de maio – Dia Internacional do Enfermeiro -, os profissionais de saúde vão manifestar “a sua indignação”, com concentrações alternadas em Faro, Portimão e Lisboa.

Provedor de Justiça dá razão O sindicato garantiu anda que até o Provedor de Justiça dá razão aos enfermeiros e que, por isso, decidiram avançar com ações de protesto semanais, deixando, para já, de parte a paralisação, numa altura em que a afluência às urgências é maior. A administração do centro hospitalar reconhece a justiça da reivindicação, mas diz que, para ser justa, terá de rever o acordo coletivo celebrado em 2018. O sindicato não compreende esta posição, afirmando que há outros hospitais do país onde o acordo em vigor bastou para garantir a justiça salarial.


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REGIÃO NO CORAÇÃO DA RIA FORMOSA

AP Cabanas Beach Nature volta a abrir

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FOTO D.R.

Localizada junto do Parque Natural da Ria Formosa, a unidade hoteleira abre novamente as suas portas e convida “a desfrutar de uma experiência inesquecível”. O Grupo AP Hotels & Resorts confirmou ao POSTAL a reabertura da sua unidade AP Cabanas Beach & Nature esta sexta-feira, dia 8 de abril. Numa localização em perfeita harmonia com a natureza, bem junto do Parque Natural da Ria Formosa, a unidade AP Cabanas Beach & Nature abre novamente as suas portas e convida “a desfrutar de uma experiência inesquecível”. Com 274 quartos e desenhado para ir ao encontro das mais elevadas expectativas, aproveitando ao máximo a excelente localização bem como o rico património natural que Cabanas de Tavira oferece, este hotel é recomendado para hóspedes a partir dos 14 anos (adults friendly) e disponibiliza estadias em regime de alojamento e pequeno-almoço ou em regime de tudo incluído, onde poderá encontrar nos diversos restaurantes e bares elevados padrões de gastronomia e qualidade. Graças ao incrível regime de tudo incluído, poderá desfrutar dos diversos restaurantes e bares. O Rooftop AP Cabanas Poolbar & Lounge promete festas incríveis e sunsets de verão, repletas de animação com DJs, saxofonistas e muitas outras surpresas, acompanhadas de refeições ligeiras. O AP Cabanas Beach & Nature está localizado junto a umas das zonas mais bonitas da costa algarvia, oferecendo um misto de natureza e elegância,

Feirinha da Páscoa leva folares, doces e artesanato a Altura Os tradicionais folares e outra doçaria típica da época festiva, artesanato e muitos outros produtos locais, vão estar à venda na Feirinha da Páscoa, que se realiza em Altura, nos dias 16 e 17 de abril, entre as 10:00 e as 18:00, na Zona de Lazer da Avenida 24 de Junho. Grande destaque para a animação musical, que irá dar música e ritmo a esta iniciativa, sábado com as “ARUTLA” (16:00) e domingo com “Silvino Campos” (14:00). Os mais pequenos vão poder divertir-se com os workshops infantis, que se realizam nos dois dias, a partir das 14:00.

Aluna de Portimão é finalista do concurso Maestro del Espresso Junior

garantindo que nada lhe falta. “Os hóspedes podem desfrutar de umas férias tranquilas, aproveitando igualmente o SPA do hotel que inclui jacuzzi, banho turco, sauna e diversos tratamentos e massagens disponíveis. Não deixe que todas as ofertas e serviços do hotel o/a impeçam de conhecer Tavira e o que de melhor tem para lhe oferecer”, refere o grupo AP Hotels & Resorts. Pode começar o dia com um passeio de barco para observar as aves, seguir para um mergulho na praia de Cabanas de Tavira ou na magnífica e ampla piscina do hotel e degustar

o melhor da gastronomia portuguesa nos restaurantes e bares do hotel em regime de tudo incluído. Se preferir descobrir a vida noturna, pode dirigir-se ao Rooftop AP Cabanas Poolbar & Lounge, desfrutando de noites animadas ou aventurar-se pela bela cidade de Tavira.

Dois Restaurantes: " Flor de Sal" e "Ria" No restaurante Flor de Sal terá o melhor do menu internacional, conjugando as melhores iguarias em regime buffet. Poderá desfrutar

das refeições desde o pequeno-almoço, almoço e jantar. Já o restaurante Ria, é perfeito para quem procura uma opção mais saudável tanto para o pequeno-almoço, como para o almoço, também em regime buffet. Este restaurante vai surpreendê-lo/a ao jantar graças à sua gastronomia fine dining, com os melhores sabores da comida portuguesa, algarvia e da Ria Formosa. Se preferir apanhar sol junto à piscina durante todo o dia, o Poolbar serve os snacks ideais para lhe fazer companhia, bem como cocktails que o/a deixarão deliciado/a.

Tawany Andrade, aluna do 3º ano do curso de Técnico(a) de Restaurante/ Bar da Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão, é uma das finalistas portuguesas do concurso Maestro del Espresso Junior, organizado pela empresa italiana de café expresso de alta qualidade ILLycaffe eLa Spaziale. “Na primeira fase do concurso, que consistiu numa prova teórica, estiveram em competição 19 escolas portuguesas e 43 escolas espanholas, tendo sido apurados seis finalistas, cinco dos quais portugueses”, explica a EHT Portimão. O concurso, cujo objetivo é difundir a cultura do café, destina-se aos alunos das escolas de hotelaria e turismo de Espanha e Portugal. PUB.

Prof. Joana Baltazar

/Ballet clássico /Contemporâneo /Estilo Livre, Hip Hop (danças urbanas) /Sapateado /Danças do Ventre

RESTAURANTE BAR GRUPO NAVAL DE OLHÃO

10 de

abril

NOVA GERÊNCIA participamos na Dançarte, em Faro - no Teatro das Figuras Com coreografia de Lucy Ford - Tema 'Singing in the rain'.

facebook: D'Dance Company | Instagram: d_dance_company | site: www.ddancecompany.com Campo Mártires da República, nº20 G, 8800-378 Tavira (Ginásio Espaço d’Elite)

Vista mar para desfrutar o melhor do nosso Algarve à mesa! Tel. 289 050 543 | 963 104 922 | 965 808 932 | gnorestaurantegno@gmail.com


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REGIÃO PUB.

breves Silves aposta na prevenção e combate à vespa asiática O Município de Silves, em coordenação com a AMAL, tem em fase de implementação um projeto de intervenção na monitorização e combate da vespa velutina (vulgo vespa asiática). Segundo recorda o Município, “apesar de, neste momento, ainda não existir registo de avistamentos da espécie na região do Algarve, esta estratégia reveste-se de especial importância, atendendo à expressão que a produção de mel tem no concelho de Silves e ao impacto negativo que a chegada da vespa velutina pode trazer para os sistemas ecológicos, nomeadamente na polinização de culturas arvenses pelo que; neste contexto, o município dispõe, atualmente, de quatro fatos completos”.

Idoso em prisão preventiva por violência doméstica Um homem com 79 anos foi detido pela GNR, em Tavira, por alegadamente injuriar, agredir e ameaçar a sua mulher. A detenção do homem resultou de uma investigação desenvolvida pelo Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas de Faro da GNR, após apurar que o suspeito “injuriava, agredia e ameaçava de morte a mulher, também com 79 anos, impedindo-a de trabalhar e controlando todos os seus movimentos”, indicou a guarda. O septuagenário foi ouvido em primeiro interrogatório judicial na passada sexta-feira, no Tribunal Judicial de Faro, tendo-lhe sido decretada a prisão preventiva como medida de coação.

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Queda acidental junto à praia da Figueira Uma mulher com 57 anos, de nacionalidade alemã, foi na quinta-feira da passada semana auxiliada na sequência de uma queda acidental, enquanto caminhava num trilho junto à praia da Figueira, no concelho de Vila do Bispo. A vítima, que apresentava fortes dores num pé e incapacidade de locomoção, foi prontamente assistida no local pelos elementos dos Bombeiros Voluntários de Vila do Bispo, tendo sido transportada de seguida para uma unidade hospitalar.


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REGIÃO

Vila Real de Santo António garante acolhimento de cidadãos ucranianos FOTO D.R.

O

Instituto da Segurança Social, IP e a Santa Casa da Misericórdia de Vila Real de Santo António celebraram, na quinta-feira da passada semana, um protocolo para a criação de uma Estrutura de Acolhimento Coletivo destinada a receber cidadãos deslocados em consequência do conflito armado vivido na Ucrânia. A unidade está sediada nas instalações da Santa Casa da Misericórdia de VRSA e tem capacidade para 18 utentes. Estará em funcionamento no período entre 31 de março e 15 de junho, podendo a sua atividade ser renovada por iguais períodos de três meses,

informou a autarquia. Com esta resposta social, “garantem-se as condições necessárias para acolher os cidadãos ucranianos e as suas famílias, proporcionando alojamento, alimentação e apoio psicossocial imediato. Por outro lado, será assegurada a prestação de informação e a ligação com os serviços competentes”. Através deste protocolo, “cumpre-se também o esforço da sociedade portuguesa e do concelho de Vila Real de Santo António em desenvolver estratégias de resposta a todos os refugiados ucranianos que fogem da guerra e procuram proteção temporária no nosso país”.

Animal Rescue Algarve aumenta esforços na Ucrânia A Animal Rescue Algarve (ARA), de Loulé, continua a sua missão na Ucrânia. A equipa continua a acumular quilómetros por estradas degradadas e caracterizadas por um grande fluxo de trânsito, somando, assim, horas às já longas viagens. O aumento das dificuldades para garantir rápida entrada na Polónia dos animais, resulta em animais (que fazem uma média de 12 a 24 horas de viagem para chegar à fronteira) retidos em jaulas, por tempo indefinido, sem quaisquer cuidados a nível de limpeza, higiene e saúde. A ARA conseguiu alugar carrinhas adicionais, aumentando assim a sua área de ação e impacto. Na passada semana, a equipa transportou duas mulheres, uma criança de 10 anos, um homem e um cão para a França, ao cuidado de uma família de acolhimento, uma viagem de cerca de 40 horas. Também na estrada, outra equipa conduziu mais de 15 horas para realojar animais oriundos da Ucrânia, para abrigos polacos mais longe da fronteira, visto que os abrigos mais próximos estão a ficar sobrelotados. PUB.

Mãe Soberana

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FOTOGRAFIA: LUÍS DA CRUZ

Nossa Nossa Senhora Senhora da da Piedade Piedade

Loulé

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StartUp Portimão promove 'Aceleração Online' no Algarve e volta a estimular espírito empreendedor FOTO D.R.

A Startup Portimão vai dinamizar o 3º Bootcamp de Aceleração Online, destinado a todos os empreendedores que pretendam acelerar os seus negócios, ao participarem nesta experiência única, que terá lugar em dois períodos, respetivamente, nos dias 27 e 28 de abril e em 25 e 26 de maio. As Smart Cities e os ESG – Environmental, Social and Corporate Governance serão os temas centrais deste Bootcamp, que, à semelhança das duas anteriores edições, decorrerá em inglês e online, à exceção do dia 26 de maio. A atestar o impacto que os Bootcamp vêm alcançando, merecem destaque os números da última edição, que teve uma abrangência nacional e internacional, com 14 projetos, 17 mentores, sete jurados e 33 parceiros.

entre outras talks de temáticas que incentivam o desenvolvimento e aceleração dos negócios. As “talks” irão decorrer em inglês e transmitidas através da plataforma Zoom, com inscrições prévias através do link: bit.ly/SP_talks2022

Fontes de financiamento

O Bootcamp deste ano irá contar com talks em sessões abertas ao público agendadas para os dias 27 e 28 de abril onde irão ser abordados diversas temáticas, desde “E-commerce: what else?”, com Katarina Johansson, head of E-commerce da Nespresso, “The Power of Resilience”, com Rodrigo Coutinho, cofundador e diretor de Data Scien-

ce da OutSystems ou “Zero Risk Startup”, com Paulo Andrez, presidente da Toys’R’Us Iberia Holdings. Também serão abordados os temas “Finances 4 Startups”, com João Pereira, diretor da Portugal Ventures e “How to improve entrepreneurial decision-making”, com Ana Barjasic, CEO da Connectology e membro do Conselho Europeu da Inovação,

A StartUp Portimão também contará para esta iniciativa com um painel sobre fontes de financiamento, marcado para 25 de maio, com representação de diferentes modalidades de financiamento, nomeadamente Business Angels, Capital de Risco, Crowdfunding e Banca. No painel, iremos contar com nomes como Filipe Portela managing partner da TEAL Impact, José Maia - Portugal Investment Lead da August One e Nuno Brito Jorge, cofundador e diretor executivo da Goparity. O Bootcamp será composto, ainda, por momentos de networking, speed

DESPEDIDA NO INATEL DE ALBUFEIRA EM 2020

DETIDOS EM FLAGRANTE

Joana Coelho volta a exercer funções por decisão do tribunal

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or sentença do Tribunal da Relação de Évora, do passado dia 24 de março, a Fundação INATEL viu-se “obrigada a reintegrar a trabalhadora Joana Coelho, que tinha sido despedida em 2020”. O Sindicato da Hotelaria do Algarve explica em comunicado que “a trabalhadora reiniciou as suas funções de rececionista no INATEL Albufeira, esta segunda-feira, onde foi fraternalmente recebida pelo dirigente e delegado sindical Nelson Trindade e restantes colegas”. A direção do sindicato, que acompanhou a situação desde o início e prestou o respetivo apoio jurídico, felicita “a sua sócia Joana Coelho pela sua coragem e determinação na luta contra

Homem com 80 doses de cocaína em Albufeira FOTO D.R.

o seu despedimento, que a direção do sindicato sempre considerou ser ilícito”. “Este é mais um exemplo que demonstra a justeza da luta do sindicato e, neste caso em concreto, da sua sócia Joana Coelho, que não se conformaram com o injusto e ilegal despedimento levado a cabo pela Fundação INATEL”, salienta o sindicato. A direção do Sindicato da Hotelaria do Algarve apela “aos restantes trabalhadores da Fundação INATEL e demais trabalhadores dos setores do alojamento, restauração e similares para acreditarem na sua força organizada e na ação do sindicato porque, unidos, os trabalhadores têm força suficiente para melhorar as suas condições de trabalho e de vida”.

mentoring e pitch stations para os empreendedores selecionados, sendo a Startup Academy Plan a ferramenta que irá ser utilizada para desenvolvimento do plano de negócios, a qual foi desenhada pelos Territórios Criativos e é bastante intuitiva. No dia 26 de maio, estará de regresso o formato presencial, com uma conferência sob a temática das Smart Cities e os Desafios do Turismo que terá lugar no auditório do Museu de Portimão. No final desta conferência, os projetos selecionados irão apresentar os pitches a um júri que irá dar o seu feedback. Este Bootcamp surge de uma parceria entre a Câmara Municipal de Portimão, o Autódromo Internacional do Algarve, o GEN Portugal e os Territórios Criativos, decorrendo as respetivas candidaturas até às 23h50 do dia 22 de abril, através do link: http://bit.ly/SP_bootcamp2022

Um homem de 29 anos foi detido este sábado por tráfico de estupefacientes, em Albufeira. Durante uma ação de policiamento em zonas de diversão noturna, os militares abordaram um veículo e, segundo explica a GNR, “o condutor demonstrou nervosismo e encetou uma fuga, tendo sido intercetado já no interior de um estabelecimento”. A ação culminou com a apreensão de 80 doses de cocaína, 550 euros em numerário, um veículo e um telemóvel.

Mulher na posse de arma proibida em Vilamoura A GNR deteve esta segunda-feira uma mulher de 24 anos por posse de arma proibida. Após uma denúncia por ameaças com recurso a arma de fogo, junto a um estabelecimento de diversão noturna em Vilamoura, os militares deslocaram-se ao local e abordaram a suspeita, que se encontrava a causar distúrbios na entrada do referido estabelecimento. Detetaram na sua posse, um revólver calibre .32, municiado com munições, culminando na sua detenção pelo crime de posse de arma proibida.


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GRANDE ENTREVISTA A ARMÉNIO ALELUIA MARTINS

“Os governantes esquecem as sua Texto RAMIRO SANTOS (Jornalista) Afirma-se desiludido com os agentes políticos algarvios e lamenta o desinteresse das autarquias no apoio à imprensa regional. Hoje fragilizado pela doença, mas sempre lúcido e corajoso como sempre o conheci, não depõe armas e ainda recentemente deu à estampa a sua mais recente obra “De Badirna a Paderne - Longa Viagem no Tempo”. Nesta conversa – mais do que entrevista – Arménio Aleluia Martins desfia memórias e lembra os amigos da escola e de brincadeiras. Os bailaricos, os amores e os namoricos. Fala de tudo conjugando sempre o verbo no presente. Até nas memórias mantém a atualidade. Há hábitos que não se perdem. P Fala-me das tuas memórias de Albufeira, onde nasceste e cresceste? Como eram esses tempos? R As memórias de Albufeira são muitas e começaram bem cedo. Não nasci nesta cidade, então vila piscatória, mas em Paderne uma das quatro freguesias do concelho. Na minha juventude as visitas à sede do concelho eram escassas apesar de lá viver uma prima de minha mãe, que era chefe da estação dos correios. Recordo-me de ter visto os efeitos trágicos das inundações de 25 de outubro de 1948 e mais tarde de 30 de dezembro de 1949, deixando um rasto de destruição nas casas existentes nas zonas mais baixas da vila. A opção foi desviar o curso da ribeira, que desaguava no mar junto à praia dos Pescadores, para um túnel sob os prédios ali existentes até à praia do Peneco. Quando regressei a Albufeira para o exame da 4ª classe a vila estava quase recuperada dos efeitos das inundações. Voltaria dois anos mais tarde para no Colégio da Orada concluir o primeiro

ano do ensino secundário com a oportunidade de conviver não só com os colegas e professoras, mas também com os moradores que tentavam sobreviver numa terra cheia de problemas. O futuro seria mais feliz nos anos vindouros, graças aos efeitos de um turismo que ia crescendo. Depois de alguns anos de permanência em Faro e Paderne, regressei a Albufeira, não para viver ou estudar, mas para passar alguns momentos de lazer na praia ou na Esplanada do Túnel que era considerada o grande centro do turismo, não só de Albufeira, mas do Algarve. Realizavam-se aqui animados bailes abrilhantados por conjuntos e orquestras famosas, além dos mais diversos eventos culturais e sociais, como saraus de poesia, concursos de dança, eleições de misses ou desfiles de moda. Durante duas ou três épocas colaborei como responsável em relações públicas neste local, utilizado também como restaurante. Havia ainda um outro espaço contíguo, denominado Gruta Alentejana, a poucos metros de distância e onde

se realizavam além de bailes outros eventos, num ambiente mais acolhedor em dias frios e ventosos. O turismo que até então era incipiente, apesar dos esforços da Comissão de Turismo de Albufeira, começava agora a revelar excelentes condições, não só nas praias de finas areias e num mar calmo e convidativo a refrescantes banhos, mas com outras estruturas para receber turistas e visitantes. Durante muitos anos, carenciada de recursos hoteleiros onde as duas pensões existentes não conseguiam receber os muitos turistas que surgiam, obrigavam a que estes tivessem de recorrer a casas de familiares ou de pescadores que alugavam quartos ou a totalidade das suas habitações. Alguns anos mais tarde começaram a surgir, em prédios adaptados para o efeito, residenciais e outros equipamentos para receber turistas ou visitantes de ocasião. Em 1955 o empresário Joaquim Vinhas Cabrita apresentou o projeto de construção de um hotel de grande capacidade, mas, somente em 1965, dez anos volvidos, surgiu o Hotel Sol e Mar, com a capacidade para receber mais de uma centena de turistas e edificado no espaço de vários prédios existentes sobre o túnel de acesso à praia do Peneco. Este tão desejado equipamento hoteleiro veio suprir as muitas carências existentes na vila e aumentar a capacidade de alojamentos. Existia apenas desde 1960, a Colónia de Férias da FNAT, aproveitando parte de uma estrutura existente no local onde, anos antes fora iniciado um prédio para alojar trabalhadores ligados a associações sindicais.

Arménio Aleluia Martins explicando o início do jornal A Avezinha O crescimento da vila nos mais diversos setores, onde o turístico impunha o seu peso económico e social, fez nascer novos espaços hoteleiros, sendo de registar a construção do Hotel Baltum em 1968, propriedade dos Estabelecimentos Teó-

BIOGRAFIA Arménio Aleluia Martins

N

asceu a 19 de maio de 1940, em Paderne, terra onde reside. Como formação académica tem os cursos de Guia-Intérprete, pelo SNI e Direito do Trabalho, pelo ITE. Possui o Curso de Jornalismo e Gestão no CFPJ – Centro de Formação dos Jornalistas em Paris, tendo sido Bolseiro da Direcção Geral de Informação. Em Lyon estagiou como jornalista no diário francês “Le Progrés”. Foi diretor dos jornais “a Avezinha”, “Hora de Albufeira” e “Diário do Algarve” Foi também diretor de Informação da Rádio Albufeira e Rádio Barrocal, colaborador da RDP, correspondente do “Diário de Notícias” durante 35 anos, delegado no Algarve da agência informativa ANOP, do

jornal “O País” e colaborador em diversos jornais e rádios regionais e nacionais (de informação geral e desportiva). LIVROS PUBLICADOS “Os anos de ouro do acordeão no Algarve” – 2001; “Música em Três Séculos” – 2005; “Onde os rouxinóis cantam Paderne terra de poetas” – 2006; “O Algarve e o sonho” - Portfólio 2008; “Da Cultura ao Desporto, uma Longa Caminhada”, em parceria com Luís Santos Silva Alho 2010; “Gente de Boliqueime” - Estudo biográfico 2012; “Entre a Serra e o Mar” - Nova Monografia de Paderne 2013; “Agora Chuto Eu” em 2015; “Nascida do Barro” 2019 e “De Badirna a Paderne - Longa Viagem no Tempo” em 2022.

FOTOS D.R.

filo Fontainhas Neto e nos arredores um dos primeiros cinco estrelas do Algarve o Hotel da Balaia, com 140 quartos e estruturas de inegável qualidade, tal como o D. Filipa em Vale do Lobo, Praia da Rocha em Portimão e Alvor Praia. Conhecida como a Saint Tropez portuguesa pelas caraterísticas semelhantes à da conhecida praia francesa, Albufeira e o Algarve abriram as portas ao Mundo quando em 22 de julho de 1968 foi inaugurado o Aeroporto do Algarve com o voo da TAP, entre Faro e Frankfurt. Surgiram nos anos seguintes a Estalagem do Cerro, o Hotel Mar-à-Vista, a Residencial Mira-Serra e nas Açoteias o Hotel Pine Cliff, com campo de golfe. A minha ligação a Albufeira no âmbito do turismo começou na já referida Esplanada do Túnel e prosseguiu nas mais diversas atividades culturais, desportivas e políticas. Ao longo dos anos fui dirigente da Associação António Sérgio, Bombeiros Voluntários, Imortal Basket Clube, Casa do Benfica, Associação Prime Skill, além de vereador da Câmara Municipal. P As tuas origens familiares. Os teus pais o ambiente social? R Sou oriundo de uma família padernense. Meu pai foi funcionário do Grémio da Lavoura, comerciante, agricultor, segurador e autarca e minha mãe, doméstica


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uas obrigações políticas e sociais” passeios, convívios e bailes. Num tempo de inesquecíveis recordações promovia bailes com um gira-discos que na época era de grande importância por não existirem muitos aparelhos desse género. De tal modo que foi criado um grupo de amigos que foi denominado “Os Mosquiteiros” a fazer lembrar o que existiu na literatura francesa, mas sem espadas ou violência, mas amizade e amor. P E vem desse tempo o teu papel de intermediário de uma paixão envergonhada que o amigo Aníbal não sabia como assumi-la...? R Desse tempo recordamos alguns factos, tais como os que envolveram o namoro entre o meu amigo Aníbal Cavaco Silva e a minha conterrânea Maria Alves. Não quero dizer que tive alguma relação nesse casamento, mas existiram algumas coincidências que levaram a tal situação, como por exemplo o baile realizado no recinto defronte da antiga escola primária de Boliqueime, quando as relações entre os dois não eram muito propícias para um normal entendimento. Dias mais tarde propiciei a pedido do pai do Aníbal, senhor Teodoro Cavaco Silva, a ida do filho para a casa do tio da Maria Alves em Lisboa. O resto já se sabe ou pelo menos deixa explicar porque os dois casaram e são felizes.

e funcionária dos CTT, durante mais de quarenta anos. Tenho um irmão que é engenheiro, funcionário da Radiofusão Portuguesa e professor na Universidade do Algarve e uma irmã funcionária da Portugal Telecom. Vivi sem problemas sociais e económicos, integrado nas sociedades padernense e algarvia. A escola, as professoras, os colegas? Na idade escolar frequentei a Escola Primária de Paderne a escassos metros de minha casa e durante alguns meses o colégio dirigido pelo padre António Mateus, sendo forçado a interromper as aulas por um acidente com motorizada. No ano seguinte fui transferido para o Colégio da Orada, em Albufeira. Como ficava fora da vila, o caminho era feito a pé, num clima alegre e divertido. No ano seguinte matriculei-me no Colégio Pedro Nunes em Faro, de onde fui transferido para o liceu da mesma cidade. Interrompi o percurso porque o meu pai teve um grave acidente rodoviário e regressei a Paderne para substituí-lo, no comércio. Entretanto tirei um curso de rádio e televisão e mais tarde voltei aos estudos, frequentando outro de guia de turismo, o primeiro realizado no Algarve e do qual saíram cinco profissionais. Como é natural criei muitas amizades entre os companheiros. P

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P E quanto às namoradinhas, as paixonetas, os bailaricos...? R Na idade adulta, tal como na juventude adquiri muitas amizades nos dois sexos, não esquecendo as namoradinhas em

Foi doloroso sentir que a autarquia não mostrou vontade de apoiar o jornal (...). De um modo geral, continuo a notar a ausência de apoios das autarquias e das entidades regionais no reconhecimento da importância da imprensa regional no desenvolvimento do Algarve

a Avezinha. A minha paixão pelo jornalismo vinha desde os meus dez anos quando iniciei a função de colaborador do jornal “O Grão de Bico”. Seguiram-se o “Notícias do Algarve”, o “Jornal do Algarve” e mais tarde correspondente do “Diário de Notícias”, “O Jogo”, “Tal e Qual” e o “Dia”. P E como foi a herança e o peso da responsabilidade de manter o título e a edição da Avezinha? R Apesar das muitas dificuldades havidas para manter viva a ideia de publicar o jornal numa terra de fracos recursos económicos sempre mantive a determinação de o fazer para que Paderne não fosse esquecida. As dificuldades económicas para garantir a sobrevivência do projeto, motivaram o desiderato de, contra a minha vontade, manter a sua publicação até quando fosse possível indemnizando os empregados e liquidando os compromissos assumidos. P No quadro das crescentes dificuldades para manter um título de referência no jornalismo algarvio, que honrava o concelho, projetando e defendendo os interesses de Albufeira e dos seus cidadãos, tiveste alguns apoios, as portas estavam fechadas ou não foste bater a nenhuma delas? R Foi doloroso sentir que a autarquia não mostrou vontade de apoiar o jornal e esse apoio era somente manter a inserção da publicidade institucional, referente aos anúncios das obras que a lei exigia serem efetuadas nos jornais do concelho. Foi um sinal de falta de consideração pelo papel dos jornais, na vida dos cidadãos. De um modo geral, continuo a notar a ausência de apoios das autarquias e das entidades regionais no reconhecimento da importância da imprensa regional no desenvolvimento do Algarve.

P Profissionalmente foste um homem dos sete ofícios, profundamente marcado pelo jornalismo a tua fonte vital e primordial. Mas tinhas projetos paralelos como modo de vida, não? R A vida profissional teve várias fases. A atividade de guia-turístico começou com alguns hiatos porque o turismo que estava a nascer no Algarve não oferecia muitas vantagens ao haver somente um dia de trabalho por semana. Um dos sócios da empresa industrial Fábrica de Cerâmica do Algarve, Lda fez-me um pedido para, num curto espaço de tempo, substituir um empregado contratado por um grupo empresarial de Vila Real de Santo António que tinha uma fábrica de barcos nesta cidade e a exploração da Mina de S. Domingos. Por ser um emprego de curta duração não desisti da atividade turística. Semanas depois recebi da Região de Turismo um convite para a receção do Hotel Sol e Mar, lugar que ocupei apenas durante um mês, no período noturno, dado que era muito fatigante a acumulação dos dois serviços. Na Faceal foi-me então proposto um novo contrato de trabalho que durou mais de quarenta anos.

P O grupo editorial da Avezinha ainda alimentou a ideia de avançar com o projeto do Diário do Algarve. O que falhou? R A empresa EDIGARBE - Sociedade Editora do Algarve, Lda proprietária do jornal A Avezinha e de uma dezena de títulos, quase todos publicados com regularidade, teve a preocupação de consolidar o projeto que incluía a edição do “Diário do Algarve”, o que foi conseguido durante mais de um ano e de que resultaram prejuízos. Ainda entre os projetos esteve a Rádio Barrocal, em Paderne, uma das primeiras a surgir no Algarve, continuada com a Rádio Albufeira em 1986 que coincidindo com a subida de vila a cidade, foi denominada a estação da Cidade Nova.

O jornalismo: como começou, a paixão, a dedicação...? R De regresso a Paderne e acumulando a atividade de empregado de escritório com a de jornalista, fiz ressurgir o jornal

Conhecendo a região algarvia como conheces, como olhas para o Algarve presente, o modelo de desenvolvimento, os protagonistas ou falta dele, a relevância ou nem tanto dos agentes

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Vejo e sinto que os governantes, de forma bem evidente, esquecem as suas obrigações políticas e sociais de apoiarem esta região dotando-a dos serviços prometidos ou melhoramentos desde há muitos anos reivindicados (...). Com esquecimentos e mentiras, os anos passam e o futuro do Algarve vai regredindo, apesar dos atributos de uma região esquecida por alguns que elogiam as suas belezas e as potencialidades para o turismo, mas nada fazem para melhorar a situação

políticos locais. Algarve, que futuro? R Conhecedor da história do Algarve e das vicissitudes da vida dos algarvios vejo e sinto que os governantes, de forma bem evidente, esquecem as suas obrigações políticas e sociais de apoiarem esta região dotando-a dos serviços prometidos ou melhoramentos desde há muitos anos reivindicados. Não será de olvidar o papel do turismo para a economia do País sem que a região seja compensada. O modelo de desenvolvimento não é o mais indicado com as culpas maiores dos membros do Governo que sistematicamente vão-se esquecendo das suas obrigações. Não sei se algumas são dos políticos locais ou a falta da tão propalada regionalização. Com esquecimentos e mentiras, os anos passam e o futuro do Algarve vai regredindo, apesar dos atributos de uma região esquecida por alguns que elogiam as suas belezas e as potencialidades para o turismo, mas nada fazem para melhorar a situação.


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ABRIL 2022 n.º 161 6.555 EXEMPLARES

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ARTES VISUAIS

Como são tratadas as obras de arte durante a guerra? SAÚL NEVES DE JESUS Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

2 Pintura “A face da guerra”, de Salvador Dali (1940)

FOTOS D.R.

Pintura “Pomba da paz”, de Picasso (1961)

Pintura “Uma pomba abriu as asas e pede paz”, de Maria Prymachenko (1982)

4 de fevereiro de 2022 será para sempre recordada como uma data triste na história do mundo e da civilização humana, pois marca o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Logo dois dias depois foi divulgada a destruição do Museu Ivankiv, situado na região metropolitana de Kiev, tendo sido destruídas 25 obras de uma das principais artistas ucranianas, Maria Prymachenko. As suas obras, exuberantes nas cores e formas, retratavam a história e o quotidiano do país e do folclore, em pinturas, desenhos, cerâmicas e bordados. Era reconhecida internacionalmente, tendo o seu talento cativado Picasso e tendo a UNESCO dedicado à artista o ano de 2009. Entretanto, os bombardeamentos russos já destruíram, total ou parcialmente, outros locais de elevada importância cultural, como o Museu de Arte em Kharkiv, com mais de 25.000 obras de arte. Ocorreram também já bombardeamentos próximos do memorial do Holocausto Babi Yar, em Kiev, local onde, em 1941, mais de 34 mil judeus foram fuzilados pelos nazistas em apenas dois dias. Numa entrevista recente, Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO, referia que “temos que salvaguardar a herança cultural da Ucrânia como testemunho do passado, mas também como catalisador da paz e da coesão para o futuro que a comunidade internacional tem o dever de proteger e preservar”. Efetivamente, o património cultural material do mundo é a nossa herança comum, marcando a identidade e constituindo uma inspiração para toda a humanidade, tendo o poder de nos unir e de promover a paz. Infelizmente, as guerras procuram apagar a identidade, a consciência coletiva e a memória cultural de um povo através da destruição de obras de arte. Procurando evitar que isso aconteça na Ucrânia, os funcionários do Museu Nacional Andrey Sheptytsky, o maior museu de arte deste país, localizado em Lviv, próximo da fronteira com a

Polónia, embrulharam e retiraram já tela, do mármore, do bronze, mas soobras deste museu, para protegê-las. bretudo uma destruição da palavra, da Não sabemos por quanto mais tempo memória coletiva na forma de arquivos se irá prolongar esta guerra, à da- históricos e de manuscritos. ta em que escrevo este artigo (11 de Há quem diga que sempre houve março; curiosamente, faz 16 anos que violência ou guerras na história da huocorreram os atentados terroristas manidade, pelo poder, pela conquista de Atocha, em Madrid), mas espe- de espaço, pelo desejo de posse, mas remos que a mesma termine quanto o problema adicional é que os meios antes, evitando mais mortes, feridos, usados são cada vez mais mortíferos, memórias de sofrimento e rastos de atingindo muitos inocentes. Esta é uma destruição. questão central quando pensamos o Naquele que é considerado o mais an- futuro da humanidade. Tal como as tigo tratado militar do mundo, "A Arte questões ambientais, as questões da Guerra", escrito no século IV aC, ligadas à paz, em particular, são fundapelo chinês Sun Tzu, é referido que a mentais para podermos pensar na vida guerra pode ser o caminho para a so- no nosso planeta a médio/longo prazo. brevivência ou para a ruína de um povo. A arte visual pode ajudar a parar no Ao longo dos séculos, a história tem tempo e a refletir, de forma a que não se demonstrado que a ruína é o denomi- repitam no futuro os erros do passado. nador comum de qualquer guerra, com Considero que, para além de contribuir destruição de marcos culturais, artís- para preservar o património cultural, a ticos e civilizacionais da Humanidade. identidade e a memória coletiva, a arNo século passado tivemos duas guer- te pode inserir-se num movimento de ras mundiais, a primeira entre 1914 e “educação para a paz”, nesta sociedade 1918 e a segunda entre 1939 e 1945. em que é cada vez mais importante Nesta última foi imensa a destruição, educar para princípios éticos univerem particular no plano de obras de sais e para valores humanistas, como arte. Ainda jovem, Hitler havia tenta- sejam a honestidade e o respeito pelos do ser um pintor reconhecido, mas foi outros. rejeitado na Academia de Belas-Artes de Viena, em 1907. Trinta anos depois, Ficha técnica já como líder da Alemanha Nazista, ordenou a maior ação contra a arte, Direção GORDA, anunciando a exposição “Arte Degenerada”, em que incluiu artistas como Associação Sócio-Cultural Editor Henrique Dias Freire Picasso, Braque, Matisse, Grosz e ErResponsáveis pelas secções: nst, numa ofensiva contra pinturas, • Artes Visuais Saúl Neves de Jesus esculturas, livros, gravuras e desenhos • Diálogos (In)esperados considerados "impuros", pois não se enMaria Luisa Francisco quadravam no ideal de beleza clássico • Espaço AGECAL Jorge Queiroz e naturalista. • Espaço ALFA Raúl Coelho Após a segunda guerra mundial, em 1954, criou-se na Convenção de Haia • Filosofia Dia-a-dia Maria João Neves • Fios De História Ramiro Santos o “Escudo Azul”, procurando a prote• Letras e Literatura Paulo Serra ção de bens culturais em situações de • Mas afinal o que é isso da cultura? guerra. No artigo 53º da Convenção de Paulo Larcher Haia para a Proteção da Propriedade Cultural no Caso de Conflito Armado Colaborador desta edição Vico Ughetto é explicitado que são proibidos “quais- e-mail redação: geralcultura.sul@gmail.com publicidade: quer atos de hostilidade dirigidos anabelag.postal@gmail.com contra monumentos históricos, obras online em www.postal.pt de arte ou locais de culto que constituam património cultural ou espiritual e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve dos povos”, sob pena de serem consideFB https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve rados crimes de guerra. Infelizmente, em diversas guerras, localizadas em diferentes partes do planeta, tem sido evocada a transgressão desta regra, traduzindo a destruição da pedra, da


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FIOS DE HISTÓRIA

Memórias (im)prováveis de Adriano FOTO RAMIRO SANTOS / D.R.

RAMIRO SANTOS Jornalista ramirojsantos@gmail.com

N

ão é suposto que por aqui tenha andado, mas não é de todo improvável que isso pudesse ter acontecido. Afinal, Ossónoba fazia parte integrante do império romano e Milreu era uma estância residencial de um abastado súbdito de Roma. Adriano, imperador romano, nasceu em Itálica, na Hispânia, e foi no seu governo, entre os anos de 117 e 138 d.C., que conheceu um dos períodos de maior esplendor. Ficava a escassas duas léguas de Hispalis (Sevilha), e o seu anfiteatro, com capacidade para 25 mil espectadores, foi um dos três maiores do império romano. Marguerite Yourcenar, que lhe seguiu os passos por onde constasse que havia sinais dele, esteve em Faro, em fevereiro de 1958, mas não encontrou por aqui memórias de Adriano. Por essa altura, o seu busto e os de outras duas proeminentes figuras de Roma - os imperadores Galieno e Agripina -, estavam ainda soterrados nas ruinas de Milreu e só viriam a ser encontrados oito anos mais tarde. É verdade que o achado, por si só, nada esclarece quanto a uma eventual passagem de Adriano por aqui, embora Ossónoba, seguindo o itinerário de Antonino – um verdadeiro mapa de estradas do império romano –, não ficasse a mais de dois dias de viagem de Itálica. E por esse tempo, a futura capital algarvia já se havia tornado num centro eco-

nómico, comercial e político de grande relevo no império romano do sudoeste peninsular. Daqui partia a estrada para Itálica, e a norte estava ligada a Emérita Augusta (Mérida) por um corredor rodoviário - ainda hoje existente -, passando por Beja (Pax Julia) e Évora (Ébora), com uma derivação a ocidente, para Lisboa (Olissipo). Além disso, a cidade integrava-se no eixo marítimo que começava em Cádiz e contornava o Cabo de S. Vicente, passando pela foz do Guadiana, Tavira, foz do Arade e Lagos. O porto de Ossónoba, como os de outras cidades marítimas, era a plataforma onde se carregavam e escoavam os produtos agrícolas, sobretudo frutos secos, vinho e azeite, das quintas nos arredores de Faro, mais o pescado, o sal, as conservas e os minérios. Foi uma época de grande prosperidade e de afirmação estratégica no contexto regional, de tal modo que chegou a cunhar moeda própria. Mais tarde, na era da cristianização do império, viria a ganhar o estatuto de diocese, tendo D. Vicente como seu primeiro bispo. Pelas condições económicas ligadas ao mar e à agricultura de que dispunha, o Algarve desse tempo tornara-se um centro de atração escolhido pelas elites e famílias romanas abastadas que aqui se estabeleceram. E por toda a zona de costa, ou perto dela, ergueram-se novas cidades, rodeadas, quase sempre, de quintas agrícolas com as suas mansões, como foram os casos de Balsa (Tavira), Besuris (Castro Marim), Cerro da Vila (Vilamoura), Abicada, na Mexilhoeira Grande, e Milreu.

Tratando-se de um palacete de um patrício ou homem rico de Roma, a villa de Milreu alcançava-se subindo o rio Seco - considerando que fosse navegável nesse tempo - a partir de Ossónoba ou pela estrada que corre por perto em direção a Vale de Joios, em S. Brás de Alportel, onde se podem observar restos dessa mesma via romana. Durante muito tempo teve-se como provável que Milreu pudesse ter sido a antiga Ossónoba romana. Uma tese repetida até 1952, ano em que Abel Viana faria prova definitiva de que se tratava de duas povoações distintas. Situada a oito quilómetros da capital, Milreu - que teve ocupação permanente do século I ao século XI - ergue-se em patamares sobre uma encosta, paredes meias com a atual aldeia de Estoi, um pouco mais a subir. Era cortada por uma estrada que ainda ali está parcialmente lajeada. De um lado, à direita de quem sobe, eleva-se o templo, que numa primeira fase da romanização era destinado ao culto pagão da água e, mais tarde, transformado num santuário cristão. Já no período islâmico foi usado como cemitério. Do ponto de vista monumental é a estrutura que mais se salienta na paisagem, e parte significativa das suas paredes ainda se conserva de pé e em bom estado de conservação, tendo em conta os quase dois mil anos, entretanto, decorridos. O levantamento e os estudos de interpretação realizados primeiro por Estácio da Veiga em 1878, e posteriormente por outros especialistas, referem que o templo teria sido coberto por uma abóboda, agora inexistente, decorada com tesselas de ouro.

Do lado esquerdo da mesma estradinha que divide o conjunto arqueológico, estava edificada a villa propriamente dita. De ambos os lados da escadaria de entrada, existem dois tanques semicirculares que, outrora, terão sido cobertos por uma cúpula em meia-esfera. Passando para o interior da residência, seguindo as indicações do IPPAR, fica o que resta daquilo que seria a praça central, com um tanque retangular ao meio, rodeada de galerias supostamente cobertas, como atestam as colunas em mármore cinzento que foram sobrevivendo ao tempo e ao vandalismo. Estes corredores davam para um conjunto de divisões e quartos destinados aos residentes e convidados. A ocidente, no patamar contíguo à praça, ficava uma grande sala de refeições com uma estrutura em pedras dispostas em U, sobre as quais assentavam as clinai, que mais não eram senão aqueles cadeirões ou leitos inclinados onde, à maneira romana, se tomavam as refeições. A Villa de Milreu é um exemplo construído à semelhança dos modelos das casas rústicas existentes à época da romanização um pouco por todo o império, e permite perceber a riqueza e o nível social e cultural elevados das famílias que ali habitaram. Exemplo disso é a decoração dos pavimentos em mosaicos pintados com motivos predominantemente marinhos, faixas de ondulantes, revestimentos a mármore, estuques pintados e peças de escultura decorativas, como os bustos dos imperadores e de outras figuras notáveis da sociedade romana. Os proprietários da domus, como

bons romanos que eram, não dispensavam as termas. E havia pelo menos duas: a maior de águas aquecidas, e uma mais pequena de água fria chamada refrigerium, cujos degraus e paredes se mostram ainda revestidos a mosaicos decorados com desenhos alusivos ao mar. O aquecimento, que abrangia outras áreas residenciais, provinha de uma fornalha que aquecia igualmente as salas de massagens através de cavidades por onde circulava o ar quente. Nada ficava ao acaso, nem tão pouco o sistema de esgotos e o abastecimento de água, que era feito por armazenamento em cisternas alimentadas a partir de fontes localizadas em Estoi e que corriam pela encosta abaixo em direção à villa e ao rio. Na zona de uma casa rural que ali foi edificada em séculos mais recentes, podem ser vistas as estruturas de uma adega de vinho com as suas cubas para pisa e fermentação das uvas. Mais abaixo, no lagar de azeite, havia seis prensas ligadas por um sistema de tubos em chumbo a 36 talhas onde se recolhia o líquido, que depois era guardado em dois compartimentos de uma cave com três metros de profundidade para o manter em lugar seco e fresco. As talhas, em muito bom estado, feitas ao que parece em mármore, encontram-se tapadas para evitar mutilações irreparáveis. Como se constata, Milreu - que acumula diferentes fases de construção ao longo dos tempos - era um complexo residencial de luxo com uma unidade de produção agrícola e de armazenamento de produtos para abastecimento próprio, e para exportação através do porto de Osssónoba. Entre a réplica e o original, faz lembrar Villa Adriana, desenhada pelo próprio imperador para sua residência, junto à cidade italiana de Tivoli com outra dimensão e riqueza. E se Adriano não chegou a vir por aqui, sendo embora um imperador viajante, chegaram-lhe certamente notícias do esplendor do império para estes lados. Um brilho de riqueza e poder que se prolongou até ao fim do império romano, a que se lhe seguiu, por cinco séculos, o período de dominação islâmica. Um e outro - árabe e romano -, são dois lados da mesma moeda, com um valor facial em termos culturais, que não desvalorizou com as guerras nem com o tempo. Fontes: “Milreu - Ruínas”, IPPAR-Roteiros da Arqueologia Portuguesa; “O Templo Romano de Milreu”, João Pedro Bernardes e J. Encarnação, in Anais do Município de Faro, 2018; outras.


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MAS AFINAL O QUE É ISSO DA CULTURA?

O Algarve de Costa-a-Costa: Castro Marim FOTOS ANTÓNIO HOMEM CARDOSO / D.R.

PAULO LARCHER Jurista e escritor

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sta é uma triste ocasião para escrever sobre algo mais que o horror pelo desrespeito pela vida humana e demais valores associados às sociedades justas e livres, a que temos assistido nos últimos dias1. Apesar desta lamentável circunstância, eu e o António Homem Cardoso decidimos manter o nosso plano desta travessia falada pelo Algarve - de costa-a-costa - seguindo

sempre que possível a via férrea que serve esta vastíssima região (com algumas falhas de que já falámos anteriormente). Na crónica sobre Olhão - lembro-me bem -, utilizei o método de perguntar à própria cidade como descreveria a sua alma. Talvez nesse caso - e por culpa do cronista - a resposta não tenha sido perfeita, mas a verdade é que qualquer que seja a abordagem a uma realidade plurifacetada, esta sempre se torna necessária se bem que normalmente insuficiente. Sei, sabemos, que as terras, todas as terras, têm as suas

dinâmicas culturais ancoradas em episódios históricos com os quais se conformam e identificam, e muitas vezes esses episódios tornam-se verdadeiros mitos nacionais (vide a epopeia portuguesa dos descobrimentos), mais significativos que uma abordagem mais científica do passado. Ao entrar na rotunda de Castro Marim, vindo de Vila Real de Santo António, surge-nos a interessante figura de um cavaleiro medieval, armado de lança e escudo, protegido com um elmo refulgente, toda feita de arame acobreado. É uma imagem bélica mas tranquila, como deveriam todas ser, quando o poderio militar é utilizado não como agressão mas sim como um factor de dissuasão das violências de todos os quadrantes. Quando o António fotografou a estátua lembro-me de termos andado algum tempo à sua volta procurando o melhor ângulo, sem nos apercebermos de que, disfarçado em arte, nos preparávamos para celebrar a guerra. Hoje, olhando-a, arrepio-me todo, pois esta parece-me uma prova mais de que a alma das comunidades humanas está quase invariavelmente ligada a ódios, como se o verdadeiro cimento dos povos fosse afinal a violência contra o Outro. Vejamos então o que nos diz o nosso cavaleiro dourado. No topo da sua longa lança um pendão quadrangular tem inscrita uma cruz. Quem não saberá o que significa essa cruz? Claro, é o símbolo da Ordem de Cristo (herdeira da cruz da Ordem do Templo a quem se deve a conquista de Castro Marim em 1242), e cuja primeira instalação no segundo decénio do século catorze, foi exactamente aí, no Castelo Velho. Nas paredes da cerca do Castelo, para quem se queira instruir, escreve-se com imagens a história dessa cruz que, adaptação após adaptação, se transformou na cruz que, por exemplo, o nosso navio-escola Sagres ostenta nas suas velas desfraldadas. Felizmente que a missão do navio tem sido a de, dando a conhecer Portugal, espalhar por esse mundo fora apenas a concórdia e a cultura. Mas voltemos à estátua. Era então religioso o nosso cavaleiro e sabe-se que naqueles tempos a Guerra e a Cristandade andavam de mãos dadas. O Castelo Velho e os seus torreões seria o seu poiso natural. Do topo de uma rara colina podia assim o frei-cavaleiro projectar o olhar para os arredores à cata de inimigos: no Sapal, no Guadiana e, muito ao longe, em Ayamonte, as mais das vezes mais amiga que inimiga. Eis então uma parte da “Alma” de Cas-

tro Marim assim desnudada. Será que adivinhámos desta vez? Castro Marim foi sobretudo uma praça forte que após o acordo de Badajoz2 se tornou uma sentinela fronteiriça no sistema defensivo português, com os seus altos e baixos, as suas construções e reconstruções. Teve pequenos papéis na Reconquista, e uma ou outra escaramuça nas guerras da Restauração e da Sucessão, mas, fundamentalmente, Castro Marim foi ao longo da sua história e até ao século dezanove um couto que serviu de abrigo de homiziados que ali cumpriam penas de degredo e que se ocupavam nas actividades que os locais não apreciavam, como o trabalho nas salinas ou o serviço no exército e, talvez também e mais que tudo, no contrabando de víveres, peixe e sal para os insaciáveis vizinhos do outro lado do rio. Como observa Diego Mesa acerca de Castro Marim3, “[…] Esta pequena vila é mais aldeia que cidade (apenas uma centena de ruas de casas baixas à volta do castelo e da igreja)”. Mas, se a capital do concelho é uma pequena e tranquila vila, o resto do concelho é extenso, embora na sua maior parte pouco atrativa para o turismo moderno. A sua extensa frente de rio está contaminada pelo Sapal. O que lhe resta para atrair turistas é um pequeno rasgão que, dividindo em dois o concelho de Vila Real de Santo António, lhe permite um acesso ao Eldorado da faixa costeira. O Sapal, contudo, permite ao concelho alguma actividade económica no campo da extração do sal de qualidade (a muito apreciada flor-de-sal ) e da aquacultura. A parte do concelho que sobe para o barrocal e para serra é quase desértica e com atividades pontuais no setor primário, quase ao nível da auto-subsistência. A autarquia esforça-se para não se deixar acantonar por essa escassez de uma história ou de um presente que justifique os seus pergaminhos,

e desenvolve uma intervenção cultural interessante na conservação das memórias do povo humilde e trabalhador de que o programa “100 memórias de Castro Marim” é um bom exemplo. Enfim, não há comunidade humana que não mereça a sua epopeia e Castro Marim não será exceção, e a pequenez deste texto não será pois da responsabilidade da terra mas do cronista canhestro que sobre ela reflete. (1) Escrevo no dia 8 de Março, duas semanas após o início da invasão da Ucrânia. (2) Em 1267 os reinos de Portugal e Castela firmaram um tratado que grosso modo concedia a Portugal os territórios algarvios na margem direita do rio Guadiana (3) Diego Mesa, Viagem ao Algarve, Baseado na Viagem a Portugal de José Saramago, 1ª ed., 2014, p 17


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DIÁLOGOS (IN)ESPERADOS

As Pessoas Invisíveis do escritor José Carlos Barros P O que é que vamos encontrar ao longo das 323 páginas deste livro? R Bem, o livro é, no essencial, um olhar sobre o Portugal do Estado Novo. Sobre esse período que vai da Constituição de 1933 até ao 25 de Abril de 1974. Com alguns recuos e avanços: um recuo ao século XIX, para se tratar da questão da abolição formal da escravatura, e um avanço até à morte de Francisco Sá Carneiro e às eleições presidenciais de 1980, para que os primeiros anos a seguir à revolução de Abril não ficassem de fora deste olhar sobre um arco temporal tão alargado. Claro que este é um olhar de entre muitos olhares possíveis, de entre várias perspectivas possíveis. P E que perspectivas são aqui privilegiadas?

Este olhar sobre o Estado Novo faz-se, no essencial, a partir de duas características desse tempo: por um lado, Portugal é um país que tem um Império, que tem Colónias. Que, aliás, passarão a designar-se por Províncias, após a revisão constitucional de 1951. Um país que tem um Império, portanto, e, simultaneamente, um País rural, pobre, de superstições, de santinhas miraculadas… R

P Há pouco foi referida a «abolição formal da escravatura» e não apenas «abolição». Que necessidade é essa de especificar a questão formal?

MARIA LUÍSA FRANCISCO Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa luisa.algarve@gmail.com

E

ste diálogo decorreu em Vila Nova de Cacela, onde já falei outras vezes com José Carlos Barros. Ambos colaborámos no DN Jovem, um suplemento do Diário de Notícias, embora em épocas diferentes. Como costumamos dizer, somos “DN Jotas”. Depois do Prémio Leya 2021 atribuído à obra As Pessoas Invisíveis, ainda não tínhamos falado pessoalmente e esta conversa permitiu conhecer alguns detalhes sobre o livro premiado para partilhar com os leitores deste jornal. José Carlos Barros nasceu em Boticas em 1963 e vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela. É Arquitecto Paisagista, licenciado pela Universidade de Évora. Foi director do Parque Natural da Ria Formosa e da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo

António. É autor de vários livros de poesia e de dois romances: O Prazer e o Tédio, de 2009, adaptado ao cinema por André Graça Gomes; e Um Amigo Para o Inverno finalista do Prémio LeYa em 2012 e publicado no ano seguinte. Venceu vários prémios literários. Os seus livros mais recentes, todos de poesia são: O Uso dos Venenos (2ª edição, 2018); A Educação das Crianças (2020), Estação – Os Poemas do DN Jovem, 1984-1989 (2020); Penélope Escreve a Ulisses (2021). No próximo dia 23 de Abril celebra-se o Dia Mundial do Livro. O romance nessa data já estará nas livrarias. Como será celebrado esse dia? P

R Bem, não sou muito de comemorar dias disto e daquilo, da Poesia ou da Árvore, da Paz ou dos Rios. Aqui não será muito diferente: As Pessoas Invisíveis vai para as livrarias no próximo dia 12 de Abril, e a 23 de Abril, portanto, já estará a fazer o seu próprio caminho, já a começar a deixar de me pertencer. A ir à vida dele. E é assim que está certo: o destino de um livro é ir à procura dos seus leitores.

R As histórias do livro demonstram como a abolição legal da escravatura, de facto, precedeu em muitos anos a sua abolição efectiva. Ou seja, a abolição legal não acabou com o trabalho escravo. Um dos episódios centrais do livro, aliás, baseia-se nisso mesmo.

Baseia-se no Massacre de Batepá? P

R

Exactamente.

P Ainda que, em nota de abertura, apareça escrito que as histórias do livro não se baseiam em factos reais e que não têm a ver com o Massacre de Batepá, nem com os acontecimentos de Fevereiro de 1953 em São Tomé e Príncipe…

R Sim, parte. Mas a ambição é sempre a de dar aos acontecimentos um carácter de universalidade. Ou seja: neste caso específico, mais do que descrever os acontecimentos do Massacre de Batepá, o que me interessava era dar notícia da ignomínia e da indignidade que, de modo idêntico, se revelou, e continua a revelar, em diferentes tempos e geografias.

Nesta conversa sobre o livro já falámos, por mais do que uma vez, da questão da escravatura… P

R Sim, porque é um dos temas centrais. O Massacre de Batepá, de facto, está ligado a uma recusa dos são-tomenses em se sujeitarem ao trabalho servil. Ou serviçal. Mas não tenhamos receio das palavras: ao trabalho escravo. P Penso que esta história é relativamente desconhecida… R Isso foi o que mais me surpreendeu e sobressaltou quando, em 2011, na Bienal de São Tomé, descobri pela primeira vez um conjunto de painéis com referência a esses acontecimentos de Fevereiro de 1953 em que terão morrido mais de mil pessoas. P Há um grande enfoque sobre trabalho escravo? R Sim, as referências e as denúncias a este respeito vinham do interior do próprio regime. Sem fugir à terminologia de trabalho escravo… Por exemplo: Marcello Caetano, por mais do que uma vez, faz referência ao assunto na sua correspondência com Salazar, alertando para a necessidade de resolver a indignidade associada ao «engajamento de mão-de-obra indígena». E no Relatório de Henrique Galvão, discutido em 1947 na Assembleia Nacional, em sessão secreta da Comissão das Colónias, refere-se uma «situação insustentável em que só os mortos estão isentos da compulsão ao trabalho» e denuncia-se uma realidade «mais grave do que a criada pela escravatura pura». É neste enquadramento que deve ser entendida a revolta dos forros, ou filhos da terra, em 1953, contra a imposição do trabalho servil.

R

P Mas o livro não se limita a esta temática…

P Mas não parte de um conjunto de factos reais?

R Claro que não. A conversa é que nos levou por aqui... No romance, como pano de fundo de tudo isto, há a revisitação do Portugal rural desse tempo, desde os anos trinta e das movimentações na raia durante a Guerra Civil, fugindo-se de Franco e de Salazar, até aos anos quarenta e à exploração do volfrâmio e ao tempo sombrio da Segunda Guerra

O leitor compreenderá, certamente, que essa é uma piscadela de olho que o autor lhe faz… Mas, no essencial, a procurar distanciar-se da ideia de romance histórico, e a alertar para o facto de que este livro não é, nem pretende ser, um romance histórico.

Mundial… Não se podendo decifrar as histórias, que o leitor deverá descobrir sozinho, sempre se poderá ainda dizer que, fintando as cronologias, tudo começa em 1980, em Berlim, com o relato da descoberta de uma jazida de ouro… P E quem são, afinal, As Pessoas Invisíveis? R Penso que o leitor descobrirá as pessoas invisíveis do livro: essas que não têm rosto, nem voz, nem identidade. E que, muitas vezes, ou a maior parte das vezes, são quem paga a factura do que convencionamos designar por «interesse público». Como se não existissem, ou como se o mundo, que não funcionaria sem elas, pudesse abdicar de lhes dizer os nomes. P Foi interessante termos falado no início desta conversa sobre escritores de relevo em Portugal, que se lançaram através do suplemento DN Jovem. Que escritores mais te influenciaram ao longo da vida? R Acho que, de um ou outro modo, tudo o que lemos acaba por servir ao ofício: os bons e os maus livros, as notícias de jornal, as bulas dos medicamentos, os textos de publicidade. Mas é claro que somos particularmente marcados por determinados livros e autores. Assim de repente, talvez todo o Vergílio Ferreira, todo o Jorge Luis Borges (mas começando pelas Ficções), o Eugénio de Andrade, Os Passos em Volta do Herberto Helder, e, claro, sempre, o D. Quixote. P Já estás a pensar num próximo livro? Que tema? R Penso que vai demorar até me libertar deste livro e regressar à escrita. Mas, sim, já ando com algumas histórias na cabeça, ainda que não tenha escrito uma única linha de texto. Não gostaria de falar do tema, porque eu próprio não tenho a certeza do que é que vai acabar por impor-se: mais do que escolher, em regra o que acontece é que somos escolhidos. Mas quase de certeza que regressarei ao passado, porque não vejo outro modo de falar sobre o presente e de compreender o nosso tempo. P Obrigada por esta partilha, a primeira que será publicada sobre o conteúdo desta obra premiada, antes de ir para as livrarias. Boa sorte para a carreira literária.

Obrigado, boa sorte também para a tua escrita. R

* A autora não escreve segundo o acordo ortográfico


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FILOSOFIA DIA-A-DIA

O Colosso Agrilhoado durante a chamada “Guerra Fria” Um modus vivendi em que oponentes armados se abstêm de atacar uns aos outros por medo. Esse tipo de paz é apenas uma trégua ou impasse. Em tais condições os oponentes não foram reconciliados e as intenções hostis não foram eliminadas. Vive-se numa espécie de empate possibilitado pela força de dissuasão mútua. E foi este empate frágil que a Europa e os EUA desequilibraram sem medir as consequências. Subestimar o “inimigo” nunca é boa ideia.

2. O burro é Putin por não

perceber que só pode perder

Imagem de Íris Mestre MARIA JOÃO NEVES PH.D Consultora Filosófica

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4 de Fevereiro de 2022 - uma coluna de fumo em forma de punho ergue-se nos céus: a Rússia bombardeia a Ucrânia. Na minha mente, tal como outrora para defender Espanha das invasões napoleónicas, o gigantesco Colosso ergue-se agora para enfrentar a invasão russa. Na tela original de Goya, observamos na base do quadro animais e gentes que fogem em todas as direcções; correm espavoridos em pleno caos e destruição.

chev ao poder em Moscovo (1985) e a dissolução da URSS (1991) assistimos a um acontecimento sem paralelo na história mundial: um império colocou à frente da sua própria sobrevivência, o interesse da humanidade, evitando uma guerra nuclear generalizada que conduziria a uma ‘destruição mútua assegurada’ (...) Apesar das promessas de que a reunificação da Alemanha não implicaria o alargamento para leste da NATO, a verdade é que esta se efectuou.” Como é de conhecimento público, em Março de 1999, a República Checa, a Hungria e a Polónia, ex-membros do Pacto de Varsóvia, aderiram à NATO. A Bulgária, a Estónia, a Letónia,

Pormenor da tela de Goya El Coloso Apenas um animal permanece quieto e olha o espectador: um burro branco, cuja sela já perdeu o cavaleiro. Alguns especialistas afirmam que este asno parado pode simbolizar a incompreensão do fenómeno da guerra. Eu atrevo-me aqui a propor algumas outras interpretações desta espécie de “alegoria do jumento”.

1. O burro somos nós por não

termos evitado esta guerra 1.1 Num artigo de opinião intitulado “Derrota mútua assegurada”, publicado a 26 de Fevereiro no DN, apenas 2 dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, o filósofo português Viriato Soromenho Marques escreve o seguinte: “Entre a chegada de Gorba-

a Lituânia, a Roménia, a Eslováquia e Eslovénia fizeram-no em Março de 2004, e, em Abril de 2009 a Croácia e a Albânia também aderiram à NATO. A vontade expressa de adesão à NATO, por parte da Ucrânia, terá certamente intensificado o medo e a hostilidade por parte da potência russa. Viriato Soromenho Marques interpreta, deste modo, a guerra na Geórgia em 2007, e a anexação da Crimeia em 2014: “a Rússia traçou uma linha vermelha à expansão de uma aliança militar, que considerava fazer perigar a sua segurança nacional. O desastrado activismo bélico da NATO e dos EUA nos últimos 20 anos, num proselitismo democrático coberto de sangue e ruínas, no Afeganistão, Iraque ou Líbia, ajudou a consolidar as reservas de Moscovo.”

FOTOS D.R.

1.2 Quando a Rússia se posicionou para atacar a Ucrânia a Europa continuou a acreditar que se tratava de “exercícios militares”. Uma e outra vez, ignorámos - que nem asnos! - os indícios que apontavam para a real possibilidade de uma guerra. Acordámos da pior forma possível: a realidade transformou-se em pesadelo! Apesar da solidariedade em larga escala demostrada, o povo ucraniano encontra-se desprotegido frente ao gigante russo sem que nenhum Colosso se erga. O gigante NATO está agrilhoado. Não pode intervir sob pena de fazer deflagrar uma terceira guerra mundial. 1.3 Apelamos para a paz, mas de que paz estamos a falar? A paz pode resultar da submissão ao poder; e a guerra pode terminar com a rendiçãoincondicional. O filósofo francês Jean Jacques Rousseau opôs-se terminantemente a esse tipo de paz apelidando-a de “paz de Ulisses” referindo-se ao episódio em que Ulisses e os seus companheiros de viagem, aprisionados na caverna do Ciclope, aguardam a sua vez de serem devorados (A Lasting Peace Through the Federation of Europe and The State of War, London: Constable and Co., 1917). Podemos afirmar que o domínio absoluto e a submissão absoluta produzem uma espécie de paz, mas trata-se de paz conjugada com injustiça. Daqui decorre que apenas podemos considerar como verdadeira Paz aquela que se nutre da justiça. A ideia de justiça está no centro da tradição a que se chamou “guerra justa”, que afirma que temos o direito de lutar contra a injustiça. A definição dialéctica de paz como ausência de guerra pode abarcar a ideia da paz armada, como a que vivemos

Interajo aqui com os pontos de vista dos historiadores Yuval Noah Harari (Israel) e Timothy Snyder (EUA) apresentados numa conversa online intitulada The War of Ukraine & the Future of the World que teve lugar no canal YouTube a 8 de Março de 2022. 2.1 Yuval Harari diz-nos que Putin cometeu um erro crasso ao não reconhecer a Ucrânia como uma nação com forte identidade própria. Considera que Putin construiu uma fantasia na sua cabeça julgando que os ucranianos são russos que querem ser absorvidos pela pátria mãe, e estão impedidos de o fazer por causa de um “gang nazi”. Esta fantasia fê-lo invadir a Ucrânia pensando que Zelensky fugiria, o exército se renderia, e a população lhes atiraria flores. Ora, todo o contrário ocorreu: Zelensky, apesar das ofertas de extradição pelos EUA, escolheu ficar no seu posto em Kiev; o exército ucraniano, mesmo com poucos meios, luta ferozmente - “they are big, but we are brave” - dizia um dos militares aos oradores e a população em vez de flores atira cocktails molotov. 2.2 Timothy Snyder diz-nos que Putin é vítima da sua própria tirania: todos os seus conselheiros temem-no, ao ponto de não se atreverem a discordar, preferindo ocultar qualquer verdade que indisponha o seu líder. Sem ninguém que o contrariasse, o presidente russo ficou completamente convencido das suas mentiras, perdeu o contacto com a realidade. O grande problema de um ditador é que quando comete um erro não consegue admiti-lo e procede numa escalada de violência cega. No enquadramento geopolítico de hoje, que um país julgue, só porque é grande e poderoso, que pode obliterar outro país, é inaceitável! Voltamos para a selva! Putin está a trazer o mundo todo para uma era de guerra que julgávamos ter já sido ultrapassada. Porém, num certo sentido, Putin já perdeu a guerra: se a Ucrânia era remota e desconhecida para alguns, agora a sua existência é incontornável. Os ucranianos dão a sua vida pelos ideais europeus de liberdade e demo-

cracia e aparecem, aos olhos de todos nós, como heróis. Quem pode esquecer as imagens de uma população, de mãos vazias, a enfrentar os tanques de guerra invasores?! 2.3 Outro erro incontornável para o qual aponta Timothy Snyder é a perversão da terminologia proveniente do holocausto que é parte constituinte da história e cultura de todos nós. Putin diz que quer “desnazificar a Ucrânia” e inicia uma guerra contra um país democrático, cujo presidente é judeu, e comete atrocidades que começam a ser comparadas ao genocídio em cidades martirizadas como é o caso de Mariupol. A Rússia não está apenas a invadir uma nação inocente e a tentar erradicá-la - algo que não se via desde os tempos das guerras imperiais - está a desfazer as estruturas morais e linguísticas decorrentes da 2ª Guerra Mundial. A palavra genocídio e a palavra nazi são muito importantes para a estrutura moral dos países europeus. Com o seu discurso falso e pervertido Putin não está apenas a ir contra um país, mas está a tentar destruir o marco civilizacional que nos constitui. Por isso mesmo, todos sentimos nas entranhas que há algo de radicalmente errado e horrível nesta invasão.

3. Consequências

de tanta burrice 3.1 A Europa vivia uma longa época de paz. O nosso orçamento global para a defesa era de cerca de 3%. Antigamente, reis e imperadores, gastavam 40, 50, mesmo 70% do seu orçamento com o exército. A desmilitarização permitiu que os recursos se orientassem para áreas tão fundamentais como a Educação e a Saúde. No dia seguinte à invasão da Ucrânia pela Rússia, a Alemanha duplicou o seu orçamento para a defesa. Os outros estados europeus estão também a ajustar os seus orçamentos incrementando a percentagem bélica, em detrimento de outras áreas. 3.2 Temos visto nos telejornais os ucranianos a chorar, não apenas pelos horrores da guerra, mas pela perplexidade que lhes causa a invasão russa. Era uma nação que consideravam como um parente próximo, agora sentem-se apunhalados pelas costas. Não sabemos qual será o desfecho desta guerra, mas, o que sim é certo, é que Putin está a plantar sementes de ódio e desconfiança que perdurarão durante gerações. Este será o seu legado. Um Colosso muito maior está a ser criado! Inscrições para o Café Filosófico: filosofiamjn@gmail.com * A autora não escreve segundo o acordo ortográfico


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ESPAÇO ALFA

Exposição como forma de ativismo VICO UGHETTO Membro da ALFA Associação Livre Fotógrafos do Algarve

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omummente associa-se o acto de expor um trabalho artístico ao mostrar o belo, de dar a conhecer o que é aprazível e estético. É o que o público espera de uma exposição seja qual for a arte em causa e na qual a fotografia não é exceção. Ela até sofre mais com a indiferença do mundo atual, onde os mais de 3 mil milhões de imagens, e as cerca de 800 mil horas de vídeo partilhadas diariamente, tornam mais difícil captar alguma atenção e não ser meramente mais uma neste oceano imagético. Para escapar a este paradoxo

em que a imagem deixa de ter a sua função de captar a atenção, de passar uma mensagem, a ALFA desenvolveu o conceito de LPI - Large Photo Installations - no qual a partir de estruturas urbanas de design próprio, faz a exposição de fotografias de grande dimensão em locais de forte circulação de pessoas. Foi assim em Faro e depois em Estoi e Santa Bárbara de Neve, com a exposição “A Sul Profundo” que apresentou um conjunto de fotografias subaquáticas captadas no mar do Algarve e na Ria Formosa. O conceito de ativismo fotográfico resulta da procura em alertar e consciencializar o público para toda a problemática das alterações climáticas, mas também do facto de os oceanos e os sistemas a ele afetos, como as zonas lagunares, serem possivelmente das zonas mais

sensíveis e afetadas. Ainda nesta vertente de usar uma exposição fotográfica como forma de ativismo, não ecológico e ambiental como anteriormente, mas social e comunitário, decorre a mais recente exposição “Rostos da Insulina”, que retrata 11 rostos de pessoas cuja atividade profissional ou o seu historial clínico as faz ter uma relação de proximidade com a insulina, uma hormona essencial às pessoas que padecem de Diabetes Mellitus. Esta exposição encerra o projeto “A insulina sai à rua”, organizado pela associação AEDMADA em parceria com o CHUA - Centro Hospitalar Universitário do Algarve, no sentido de comemorar o centenário da descoberta da insulina e desta forma transformar o tratamento desta doença crónica (a do tipo 1).

Os retratos foram captados por 5 associados da ALFA, reunindo um misto de fotógrafos a tempo inteiro e outros a tempo parcial, tendo por missão integrar esta exposição e com ela lembrar ao público o trabalho feito no Algarve na área da saúde e alertar para o impacto da Diabetes no dia a dia das pessoas, pois ao termos esta informação ficamos sensibilizados para o esforço que enquanto sociedade temos que desenvolver para o diagnóstico, monitorização e tratamento constante que a Diabetes exige. Esta exposição estará patente no Mar Shopping durante todo o mês de abril e é feita em conjunto com a Urban Sketchers Algarve, que integraram, com a ALFA, o conjunto de parceiros ligados ao projeto da comemoração do centenário desta descoberta. A exposição “Rostos da Insulina” está patente no Mar Shopping durante o mês de abril FOTO FABIANA SABOYA D.R.

ESPAÇO AGECAL

A “Crónica da conquista do Algarve” e a actualidade dos textos fundadores JORGE QUEIROZ Sociólogo, sócio da AGECAL

“Quando o Mestre Dom Payo Correa ouve gãhadas estas villas e lugares no Algarve que erão da Conquista de ElRey de Castella cuidou ElRey Dom Affonso que era bem de mandar pedir aquella terra a seo sogro que lha desse por conquista e então enviou la a Raynha sua Molher e ella foi a Tolledo…” In “Coroniqua de como Dom Payo Correa Mestre de Santiago de Castella tomou este Reino do Algarve aos Moros”

O

Al Andalus é hoje reconhecido pela sua importância para o Renascimento europeu. Recentemente,

um dos maiores prémios da União Europeia para as ciências sociais e humanas foi atribuído ao estudo da influência do Corão na vida cultural europeia, a análise de elementos que nos permitem a compreensão das identidades nacionais como processos evolutivos. As interpretações dos textos fundadores do cristianismo e islamismo têm hoje formulações alteradas, descontextualizadas, sectárias e nalguns casos mesmo radicalizadas. Entre os séculos XII e XV no mundo cristão, foram elaboradas crónicas justificativas das cruzadas e da ocupação de territórios sob domínio muçulmano. O epílogo político-militar deste processo histórico na Península ocorreu em 1492 com a queda do Reino nazari de Granada, com a expulsão dos judeus nos Séc. XV e XVI, também de milhares de “mouriscos” no século XVII. No período da formação de Portugal, a poesia trovadoresca e dos jograis era a mais popular, precedia a prosa

erudita escrita em latim pelo clero, teólogos e juristas. O testamento de D. Afonso II datado de 1241 foi o primeiro texto em prosa escrito em português. O incremento de traduções anteriores ao século XIII, bem como a afirmação da língua procuraram legitimar os novos poderes. Assim, a “Crónica do Mouro Rasis”, de Ahmad Al-Razi (887-955 d.C.), traduzida para português pelo clérigo Gil Peres, terá sido decidida pelo rei D. Dinis, determinada pelos interesses político-culturais do soberano, também ele escritor e poeta. A “História Geral de Espanha de 1344”, inspirada na de Afonso X de Castela e Leão, é uma tentativa de concretizar uma história ibérica integrando a nova realidade portuguesa. A autoria é atribuída a um filho bastardo de D. Dinis, D. Pedro conde de Barcelos, nela se inclui a formação do Condado Portucalense e as crónicas de todos os reis portugueses até D. Afonso IV.

É neste contexto de afirmação dos novos poderes que surgiu a “Coroniqua de como Dom Payo Correa Mestre de Santiago de Castella tomou este Reino do Algarve aos Moros”, uma cópia desta foi descoberta em 1788 por Frei Joaquim de Santo Agostinho nos “Tomos Velhos” da Câmara Municipal de Tavira. O traslado foi editado em 2013 pelo Arquivo Municipal de Tavira. É um texto fundamental para o estudo da História e Cultura do Algarve, pelas características, contexto e objectivos, mas também pelas interrogações que levanta. O relato da conquista definitiva do Reino do Algarve, um texto breve, anónimo e não datado, terá provavelmente tido origem no século XV ou princípios de XVI numa crónica que descreve os acontecimentos no reinado de D. Afonso III. No documento surge como figura central Dom Paio Peres Correia, aristocrata português, mestre da Ordem de Santiago entre 1242 e

1275. Alguns medievalistas consideram que terá sido elaborada nos “Scriptoria” desta Ordem fundada em Castela, por esse facto orientada para os desígnios e interesses estratégicos castelhanos, subalternizando o papel da Coroa portuguesa. Da disputa entre poder régio e as ordens militares, constituídas para o apoio às cruzadas e conquista de territórios aos mouros, resultou a nomeação dos mestres pelos Reis de Portugal. Fernand Braudel demonstrou que “as civilizações renascem”, os actuais conflitos na Europa e no mundo evidenciam questões com muitos séculos, territoriais e de identidades colectivas, emergem hoje com novas dimensões políticas, económicas, culturais, religiosas e militares. Na realidade, apesar das distracções virtuais, o passado continua presente. * A autora não escreve segundo o acordo ortográfico


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Madalena é o novo romance de Isabel Rio Novo: P Depois de A Febre das Almas Sensíveis, onde abordava a tuberculose, este romance volta à temática da doença. A realidade agora retratada é a de uma jovem com cancro da mama. Há traços que se impõem enquanto autobiográficos, como o facto de a narradora, sem nome, ser professora de História. Esta aparente (in)dissociação serve para confundir o leitor? R Indissociação será uma palavra um tanto forte, que não se aplica neste caso, nem sequer no caso do romance anterior, no qual a Autora personagem, interagindo, por exemplo, com Gustave Caillebotte, não pode obviamente corresponder à minha pessoa real. Aqui ainda menos, embora algumas experiências da vida da narradora protagonista sejam parecidas com algumas que tive (e outras tantas não). Não desejo confundir o leitor, quando muito, jogar com ele, o que é diferente e é também um dos desafios de sempre da literatura.

Isabel Rio Novo é uma das grandes vozes da ficção portuguesa contemporânea FOTOS PAULO M. MORAIS / D.R.

PAULO SERRA Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL

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adalena, de Isabel Rio Novo, autora publicada pela Dom Quixote, venceu o Prémio Literário João Gaspar Simões 2016 com este novo romance, confirmando-se como uma das grandes vozes da ficção portuguesa contemporânea. Enquanto se submete a tratamentos para um tumor, uma jovem professora formada em História, que sempre gostou de romances, torna-se mais predisposta a olhar para o passado. Quando a narradora observa o armário livreiro em carvalho que tem em casa, mandado fazer pelo bisavô - onde estão reunidas as fotografias, a quase centena de cartas e os velhos livros da família – tudo isso lhe cai literalmente em cima do seio esquerdo, justamente onde se localiza o tumor maior. E é a explorar esses papéis, retratos e cartas que a narradora ocupa os longos dias que lhe restam de ânimo, quando o tumor não a ocupa em abso-

luto, reconstruindo a história de Álvaro Amândio, o bisavô culto e ensimesmado, e sobretudo de Madalena Brízida, a bisavó sedutora, enigmática e talvez cruel. Madalena surge como uma segunda personagem do romance, também ela tocada pela doença, como se torna claro no final. Há inclusive momentos em que surge como um desdobramento da narradora, como quando esta imagina ver o reflexo da antepassada no espelho do armário. Esse confronto com um reflexo que não é o seu, mas o de Madalena, acontece ainda uma segunda vez, justamente perto do fim do livro. De forma subtil e subliminar, esta é também uma narrativa sobre os mortos que nos sobrevivem sempre, cujo legado genético inclusivamente muitas vezes vive em nós, gerações depois… Isabel Rio Novo, doutorada em Literatura Comparada, nascida no Porto, leciona Escrita Criativa e outras disciplinas, como História de Arte, no âmbito da arte, da literatura, do cinema. Foi finalista do Prémio Leya por dois anos consecutivos, em 2016 com o Rio do Esquecimento, e em 2017. Está agora a trabalhar numa nova biografia (depois da de Agustina), dedicada a Camões.

P Parece haver uma novidade neste livro. Um humor mais ácido… Surge como defesa? Como um olhar desenganado e cínico sobre o mundo? R Não creio que os meus romances anteriores sejam destituídos de humor, quase sempre um humor fino, algumas vezes negro, mas posso estar enganada. É verdade que aqui o humor ácido e as tiradas certeiras surgem como um mecanismo de defesa da protagonista. O desafio, aliás, foi criar uma personagem que não fosse naturalmente ou obviamente simpática, mas que, mesmo assim, contra vontade dele às vezes, levasse o leitor a identificar-se com ela e a estabelecer com ela uma relação de empatia. Por isso ao humor ácido junta-se muitas vezes uma certa ternura, que espreita inesperadamente do canto mais insuspeito. Em todo o caso, o humor salva-nos sempre, sobretudo o que direcionamos a nós próprios.

R O final estava na minha mente desde o início do romance, como acontece em todos os meus livros, e isto mesmo desde a primeira versão (sendo que nunca nenhum romance meu conheceu tantas versões como Madalena). Nunca me ocorreu outro e não o escolhi pensando nesta ou naquela leitura. O final é o que é, ou o que eu achei que tinha de ser. P Quando a narradora nos fala do armário livreiro em carvalho, mandado fazer pelo bisavô, onde estão reunidas as memórias dos seus bisavós, tudo lhe cai literalmente em cima. Em A Febre das Almas Sensíveis a narrativa de reconstrução parece ser escrita a partir das ruínas revisitadas de sanatórios. Já na escrita da biografia de Agustina fez questão de visitar e perambular pelos espaços por onde a autora se movera… Podemos assumir que, nestas viagens no tempo e na escrita, o método da Isabel, autora, é físico, quase como o de uma arqueóloga a escavar? R Muito físico. Não só no que toca à visita aos sítios, onde há sempre alguma atmosfera que me estimula a escrita e me desperta sentidos, mas também no

que diz respeito ao gosto por todos esses vestígios do passado: os retratos, as cartas, os objetos... Ainda que depois, no romance, todos eles, sítios, registos, surjam transfigurados pela imaginação. Das poucas coisas realmente verdadeiras neste romance, verdadeiras nesse sentido de resgatadas à realidade do passado, o armário livreiro em carvalho. Está na minha sala, cheio de álbuns, cartas antigas, papéis, meus e do Paulo [Paulo M. Morais, marido, escritor]. P Ainda acerca do resgate do passado como busca de um sentido num caminho futuro. Acresce que a história dos bisavós da narradora define-se no livro como «uma verdadeira fuga, real, imediata» (p. 146). Mas é também pela história de Madalena que a identidade da protagonista-narradora se define… R Sim, nós achamos sempre que somos únicos, e somos, mas também é verdade que somos mais um indivíduo entre milhares de milhões de indivíduos, todos com sentimentos, medos, frustrações, aspirações… Quis que este romance fosse também uma história sobre o modo como construímos a nossa identidade, sobre a parte que os nossos >

“O final estava na minha mente desde o início do romance” P Mais perto do livro assume-se uma natureza mais metanarrativa. Reside aí talvez um dos momentos mais emblemáticos do romance: «tudo isto deve ser um mecanismo de defesa, preparar-me para o fim, como quem termina um romance, sentindo que algo de definitivo se instaura e pode permanecer» (p. 188). Inclusivamente, logo depois, a narradora assume: «Invento histórias encorajadoras que acabam bem» (p. 189). Este final romanesco tem em mente um leitor mais atreito a finais menos felizes?

O romance venceu o Prémio Literário João Gaspar Simões em 2016


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LETRAS & LEITURAS Escritora está a trabalhar na biografia de Camões

"O humor salva-nos sempre" > A autora foi finalista do Prémio Leya por dois anos consecutivos

antepassados (não gosto especialmente da palavra, mas é útil para nos referirmos aos que vêm antes de nós) detêm na construção dessa nossa identidade, sobre a dificuldade em alcançar a verdade sobre qualquer existência humana. P Podemos ver a narradora e Madalena (e a Autora) como um desdobramento da mesma personagem? Algo assim já acontecia em Rua de Paris em Dia de Chuva (2020), nomeadamente na alternância entre as memórias (re) criadas da personagem e as memórias (re)criadas da Autora. R A narradora e a bisavó Madalena Brí-

zida são duas faces de um espelho, de certo modo, ainda que aparentemente muito diferentes. Mas o autor e a sua personagem estão sempre implicados nessa relação dupla e recíproca, não é? Nessa medida, Rua de Paris em dia de chuva só expunha de uma forma mais ostensiva, digamos assim, o que vem acontecendo na ficção desde há milhares de anos. P Esta é também uma narrativa sobre os mortos que nos sobrevivem sempre, cujos genes transportamos para as futuras gerações… R É verdade, como aliás sugerem as epígrafes do romance. Tanto do que so-

Um Amigo para o Inverno de José Carlos Barros

José Carlos Costa Barros venceu o Prémio Leya 2021 com a obra As Pessoas Invisíveis FOTO AUGUSTO BRÁZIO / D.R.

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m Amigo para o Inverno, de José Carlos Barros, foi publicado em 2012 pela Casa das Letras, tendo a obra sido finalista da edição do Prémio LeYa desse ano. Agora, a poucos dias da publicação de As Pessoas Invisíveis, vencedor da edição de 2021 do Prémio LeYa, parece uma boa ocasião para apresentar o romance anterior do autor. A narrativa baseia-se numa história verdadeira, quase desconhecida, de resistência à ditadura no Norte do País. A corroborar a sua autenticidade figuram fotos no final do livro, onde surge inclusivamente o “narrador” do romance, então criança, assim como fotos de documentos judiciais: mandado de captura, auto de detenção, sentença condenatória… O sargento Francisco Aniceto Gonçalves (nome fictício para

uma personagem real) chega em 1971 à Vila como novo comandante do Posto Territorial da GNR. A sua presença recém-chegada será imediatamente disputada por dois grupos distintos, que o alertam para os perigos que se escondem sob a aparente quietude das montanhas em redor: «Compreendia que alguém (todos?) o confrontava com a legitimidade do poder e lhe exigia a escolha de um dos lados do muro que parecia levantar-se mais a cada momento.» (p. 49) O aviso ganha especial sentido quando Rogério Afonso é assassinado na sequência de uma quezília relacionada com o roubo de águas. Da mesma forma que o sargento Francisco Gonçalves se faz acompanhar de um único livro na sua bagagem, um policial de Maigret em Nova Iorque, de Georges Simenon, referido aqui e ali no texto, o leitor pode começar a suspeitar que também esta narrativa se reveste da natureza de um policial… O próprio sargento recusa-se a aceitar a explicação mais óbvia para a morte de Rogério Afonso. «Francisco Aniceto Gonçalves é dado à leitura e muito particularmente batido em Simenon. Como o herói do seu herói, o comissário Maigret, ao sargento pouco o preocupavam as circunstâncias imediatas de um crime. Porque, salvo raras excepções, (…) acreditava que as razões de um crime vêm de muito antes da sua execução» (p. 56) Numa narrativa belissimamente lírica, mais circular do que linear (as datas recorrentes na intriga surgem destacadas no corpo do texto), onde abundam personagens (também ao

jeito de um policial), entre figuras do partido comunista e agentes da PIDE, homens solitários e mulheres determinadas, tece-se aqui o retrato de um país nas últimas décadas do regime salazarista. Note-se que o sargento parte da Vila a 24 de Abril de 1974. E a pontuar esta cerzidura narrativa está um estilo deliciosamente controverso (o início do romance é aliás uma reflexão sobre a importância do estilo na frase inaugural de uma obra), em que o narrador irrompe a dar ares da sua graça: «não sei, nesta desarrumada narrativa, sem um plano que haveria de ter como recomenda a teoria do romance, se já disse que corri mundo» (p. 152). José Carlos Barros (Boticas, 1963) é licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora e vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela. A sua atividade profissional tem sido exercida nos domínios do ordenamento do território e da conservação da natureza. Foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa.

Romance foi finalista do Prémio Leya 2012

mos e do que acreditamos em nós ser só nosso, único, sabemos lá ao certo donde vem? A minha filha mais nova, que não tem sequer memórias da minha avó materna, espirra exatamente como a minha avó fazia, com o mesmo timbre, a mesma cadência, a mesma garra… Comovo-me sempre um bocadinho quando a ouço, ao fundo da casa, e murmuro para dentro de mim: «Olá, Bó.»

“Gosto de pensar nos meus livros como irmãos entre si” Este livro ganhou o Prémio Literário João Gaspar Simões na edição de 2016. Tratar-se-á, portanto, de uma obra anteriormente enviada a concurso, que apenas agora foi dada a publicação… Em termos de continuidade lógica da sua obra narrativa faz sentido aproximá-lo do seu segundo livro, A Febre das Almas Sensíveis… Em que o momento o devemos enquadrar? R No momento que é seu: este, agora, depois dos três anteriores. O meu processo de escrita é sempre demorado. No caso de Rua de Paris em dia de chuva, por exemplo, decorreram dez anos entre a vaga ideia de um romance sobre o pintor Gustave Caillebotte e a publicação do livro. Madalena não demorou mais; a diferença é que houve uma primeira versão logo em 2012, 2013, a que se seguiram várias outras, entre as quais a do ano da premiação. Mas essa ainda P

não era a versão que me satisfazia. Demorei mais alguns anos, quase o pus de parte; devo muito ao Paulo o não ter desistido dele. Este livro encerra ainda, em dois momentos, um piscar de olho ao leitor mais atento, quando invoca o título desse seu outro livro, e depois quando se invoca uma das obras de arte mais amadas pela narradora, o quadro de Gustave Caillebotte, Rua de Paris em Dia de Chuva. R Em todos os meus romances há remissões para os anteriores, umas vezes mais evidentes, outras, mais subtis. Tem a ver com essas piscadelas de olho (mais uma forma de humor) que eu gosto de deixar aos leitores que leem mais do que um livro meu, mas também com o desejo de criar entre os meus romances um certo ar de família. Gosto de pensar nos meus livros como irmãos entre si: olhamos para eles, não dizemos que são gémeos uns dos outros certamente, mas lá estão as parecenças… P

P Está agora a trabalhar numa nova biografia que, imagina-se, deve ser uma empreitada de grande responsabilidade. R Até dá medo de escrever o nome do biografado, não é? Camilo dizia qualquer coisa como: estamos tão habituados a encarar Camões à luz triste e crepuscular das lendas do poeta injustiçado ou então sob os coloridos fortes da epopeia que mal o podemos olhar a uma grande luz natural. Mas que tentação tentar encontrar essa luz…


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CADERNO ALGARVE

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NECROLOGIA REGIÃO

MARIA SUZETE MARTA DA CRUZ PIMENTA SEGUR FERNANDES A LEIRIA

MARIA JOSÉMARTA JOAQUIM PIMENTA DOS MÁRTIRES FERNANDES

MARIA JOSÉ HOR MARTA ÁCIOPIMENTA GONÇALVES FERNANDES VIEGAS

01-03-1937 22-01-1942 13-01-2022 11-03-2022

22-01-1942 11-01-1938 21-03-2022 13-01-2022

09-02-1942 22-01-1942 23-03-2022 13-01-2022

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, exéquias ou que de algum algummodo, modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os os que que se a acompanharam dignaram a acompanhar em vida eo nas seu suasquerido ente cerimónias à sua exéquias última morada, ou que de ou algum que demodo quallhes manifestaram quer forma, lhes manifestaram o seu sentimento o seuepesar. amizade.

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que o a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, exéquias ou que de algum algummodo, modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

VILA REAL DE SANTOSANTA ANTÓNIO MARIA - VILA - TAVIRA REAL DE SANTO ANTÓNIO SANTA SANTO MARIA ANTÓNIO E SANTIAGO - LISBOA - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

SANTA SANTIAGO MARIA- TAVIRA - TAVIRA SANTASÉMARIA E SÃOEPEDRO SANTIAGO - FARO - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

SANTA CATARINA SANTADA MARIA FONTE- TAVIRA DO BISPO - TAVIRA SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

MARIA ARNALDO MARTABENTO PIMENTA GUERREIRO FERNANDES

MARIA EMÍLIO MARTA DA ASSUNÇÃO PIMENTA FERNANDES R AMIRES

MARIA JOSÉ MARTA DOMINGUES PIMENTADA FERNANDES SILVA

25-12-1933 22-01-1942 24-03-2022 13-01-2022

15-03-1940 22-01-1942 26-03-2022 13-01-2022

10-10-1930 22-01-1942 30-03-2022 13-01-2022

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que o a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, exéquias ou que de algum algummodo, modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os os que que se a acompanharam dignaram a acompanhar em vida eo nas seu suas querido ente cerimónias à sua exéquias última morada ou que de ou algum que demodo quallhes manifestaram quer forma, lhes manifestaram o seu sentimento o seuepesar. amizade.

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que o a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, exéquias ou ou que que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

VAQUEIROS SANTA MARIA - ALCOUTIM - TAVIRA SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

SANTA CONCEIÇÃO MARIA - -TAVIRA TAVIRA SANTASÉMARIA E SÃOEPEDRO SANTIAGO - FARO - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

SANTA CONCEIÇÃO MARIA- -TAVIRA TAVIRA CONCEIÇÃO SANTA MARIA E CABANAS E SANTIAGO DE TAVIRA - TAVIRA - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

MARIA MARIA DA MARTA ENCARNAÇÃO PIMENTA ENES FERNANDES TERREMOTO

MARIA MARIA DA ENCARNAÇÃO MARTA PIMENTA DO CARMO FERNANDES PEREIR A

MARIA MARIA LEONARDA MARTA PIMENTA SANCHOFERNANDES AMARO PIRES

26-05-1931 22-01-1942 13-01-2022 31-03-2022

09-05-1953 22-01-1942 13-01-2022 01-04-2022

13-03-1930 22-01-1942 02-04-2022 13-01-2022

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, exéquias ou ou que que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os os que que se a acompanharam dignaram a acompanhar em vida eo nas seu suas querido ente cerimónias à sua exéquias última morada ou que de ou algum que demodo quallhes manifestaram quer forma, lhes manifestaram o seu sentimento o seuepesar. amizade.

Agradecimento Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, exéquias ou ou que que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

SANTA SANTA MARIA MARIA -- TAVIRA TAVIRA SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

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CADERNO ALGARVE

Postal, 8 de abril de 2022

A NÚNCIOS REGIÃO

ANÚNCIO VENDA DE PRÉDIO RÚSTICO NOTIFICAÇÃO PARA EFEITOS DE EXERCICIO DO DIREITO LEGAL DE PREFERÊNCIA Vem por este meio Barry Fraser Blakeley e marido Maureen Kay, casados sob o regime da separação de bens, contribuintes fiscais nº 247188786 e 247189049 respectivamente, residentes em Apartado 65 – EC Castro Marim, Velha Reveza, 8950-909 Castro Marim, nos termos e para os efeitos previstos no disposto no nº 1 do artigo 1380º do Código Civil dar conhecimento a todos os proprietários dos prédios confinantes que é sua intenção vender o prédio misto composto por cultura com árvores e ruina: - o prédio inscrito na matriz predial rústica, com a área de 5.892 m2 sob o artigo 9 secção BN da Freguesia de Azinhal e concelho de Castro Marim, descrito na Conservatória do Registo Predial de Castro Marim sob o nº 49/19880205-Castro Marim, da Freguesia de Azinhal e concelho de Castro Marim, descrito na Conservatória do Registo Predial de Castro Marim sob o nº 49/19880205-Castro Marim, confrontando a norte com António Fernandes e Francisco Dias Serafim, sul com José Manuel Catita e Francisco Solésio Padinha e outros, nascente com José da Silva Ruivo Madeira e poente com caminho, António Fernandes; Manuel Fernandes Vaz, Manuel Anástacio Cardoso, Francisco Luis Murta, António Alberto Fernandes Silva e outros.

CARTÓRIO NOTARIAL DE ALCOUTIM A cargo da Conservadora de Registos e no exercício de funções notariais Lic. Margarida Rosa Molarinho de Brito Simão Certifico para efeitos de publicação que por escritura outorgada hoje neste Cartório Notarial, de folhas noventa e oito a folhas noventa e nove verso do Livro de Notas para Escrituras Diversas número "trinta e quatro - D", Abílio Frade da Encarnação, N.I.F. 123.550.351 e mulher Maria Helena Pereira Soares da Encarnação, N.I.F. 106.377.868, casados entre si sob o regime da comunhão geral, ambos naturais da freguesia de Martim Longo, concelho de Alcoutim, residentes na Avenida Professor José Maria Mendes Amaral, número 17, Alcoutim, freguesia de Alcoutim e Pereiro, concelho de Alcoutim. Que são donos e legítimos possuidores com exclusão de outrem, dos seguintes imóveis: Prédio rústico, sito em Eira de Santa Marta, composto por amendoeiras, cultura arvense e leitos de curso de água, com a área de vinte e nove mil seiscentos e oitenta metros quadrados, a confrontar do norte com José António Mestre Lopes, sul com barranco, nascente com Abílio Frade da Encarnação e poente com José Miguel Soares da Encarnação, inscrito na respetiva matriz cadastral em nome de Vivaldo José Francisco, sob o artigo 1 da secção A036 na união de freguesias de Alcoutim e Pereiro, concelho de Alcoutim, anteriormente inscrito sob o artigo 01 da secção 036 na extinta freguesia de Pereiro, não descrito na Conservatória do Registo Predial de Alcoutim, com o valor patrimonial tributário de quatrocentos e noventa e um euros e cinquenta e oito cêntimos, que e o mesmo que lhe atribuem. Que o mencionado prédio rústico, lhes pertence por o haverem adquirido em data imprecisa do ano dois mil, por compra verbal, e nunca reduzida a escrito, efetuada a Vivaldo José Francisco, solteiro, maior, atualmente falecido, residente que foi em Tacões, Pereiro, união de freguesias de Alcoutim e Pereiro, concelho de Alcoutim. E que sem, qualquer interrupção no tempo, desde então, e portanto há mais de vinte anos, têm estado os justificantes, na posse do referido prédio, fazendo sementeiras, plantações e culturas, suportando as contribuições e impostos, enfim, extraindo todos os normais frutos, produtos e utilidades por ele proporcionadas, sempre com ânimo de quem exercita direito próprio, posse essa, exercida de boa fé, por ignorarem lesar direito alheio, de modo público, porque com o conhecimento de toda a gente e sem oposição de ninguém, pacifica, porque sem violência e continua, com a consciência de utilizar e fruir coisa exclusivamente sua, adquirida de anterior proprietário, pelo que adquiriu o referido prédio por usucapião, não tendo todavia, dado o modo de aquisição, titulo extrajudicial normal, capaz de provar o seu direito de propriedade para fins de registo. Está conforme o original Cartório Notarial de Alcoutim, aos vinte e três de março de dois mil e vinte e dois A Conservadora de Registos e no exercício de funções notariais Margarida Rosa Molarinho de Brito Simão Conta: Artº. 20º. nº. 4.5 .....€ 23,00€ São: Vinte e três euros. Conta registada sob o nº. 08 (POSTAL do ALGARVE, nº 1283, 8 de Abril de 2022)

Reze 9 Ave-Marias com uma vela acessa durante 9 dias, pedindo 3 desejos, 1 de negócios e 2 impossíveis ao 9º dia publique este aviso, cumprir-se-á mesmo que não acredite. A.A.

A referida compra e venda concretizar-se-á nos termos e condições seguintes: a) O identificado prédio ser vendido em conjunto com o prédio urbano inscrito na matriz predial urbana com a área de 100m2, (em estado de ruina) sob o artigo 1012 da Freguesia de Azinhal e concelho de Castro Marim, descrito na Conservatória do Registo Predial de Castro Marim sob o nº 49/19880205-Castro Marim, da Freguesia de Azinhal e concelho de Castro Marim, b) O preço global a pagar pelo adquirente será de € 175.000,00 (Cento e Setenta e Cinco Mil Euros), sendo atribuídos €135.000,00 ao prédio urbano, artº 1012 e ao artº rústico nº 9, da secção BN o valor de €40.000,00. c) O preço será pago de uma só vez, no acto da celebração da escritura pública de compra e venda através de cheque bancário emitido à ordem dos vendedores; d) A escritura pública deverá ser realizada em qualquer Cartório Notarial no Algarve, até ao final do mês de abril, do corrente ano; e) Os custos relativos à celebração da escritura pública de compra e venda e demais despesas com a mesma relacionadas incluindo os registos de aquisição a favor do(s) comprador(es), o Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT), Imposto de Selo (I.S) e honorários a advogado ou solicitador, serão da exclusiva responsabilidade do(s) comprador(es). Nestes termos, devem os proprietários dos prédios rústicos confinantes pronunciarem-se sobre se pretendem ou não exercer o direito legal de preferência que lhes assiste, no prazo máximo de 8 (oito) dias contados a partir da publicação do presente anúncio, nos termos indicados, sob pena de caducidade do referido direito de preferência, nos termos do disposto ao nº 2 do artigo 416º do Código Civil.

Reze 9 Ave-Marias com uma vela acessa durante 9 dias, pedindo 3 desejos, 1 de negócios e 2 impossíveis ao 9º dia publique este aviso, cumprir-se-á mesmo que não acredite. R.P.

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Caso reúnam as necessárias condições e pretendam exercer o direito de preferência na compra e venda, deverão os interessados enviar, dentro do referido prazo, comunicação escrita para a morada da procuradora dos vendedores, Carmo Gonçalves, Rua Dr. Manuel Eusébio Ramires, nº 68, 8700-458 Olhão. (POSTAL do ALGARVE, nº 1283, 8 de Abril de 2022)

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"Soberana" volta ao palco na Páscoa em Loulé A peça de teatro “Soberana”, inspirada na tradição religiosa de Loulé, vai voltar ao Cineteatro Louletano para uma apresentação única, no domingo de Páscoa, após ter subido ao palco algarvio três vezes em 2019, disse o encenador. Ricardo Neves-Neves explicou que esta reposição vai “permitir a quem não assistiu ou queira rever a peça” o possa fazer e tomar contacto com a “temática local da procissão da Mãe Soberana” de Loulé, que todos os anos se realiza na cidade do distrito de Faro por ocasião da Páscoa.

Reaberto curso sobre o passado do concelho de Olhão para professores O Município de Olhão volta a promover o curso para professores “O passado do meio local: Olhão”, que terá lugar no Museu Municipal entre 3 de maio e 25 de junho. As inscrições estão abertas até 22 de abril na plataforma do Centro de Formação Ria Formosa. A formação, acreditada e que decorrerá em regime presencial, destina-se aos professores dos grupos 100 e 110, tendo prioridade os docentes a lecionar em escolas do concelho de Olhão. No total, estão destinadas 18 horas para os participantes conhecerem melhor a história do concelho. Nos módulos serão abordados temas tão variados como o território, arqueologia e património edificado, a história e o património marítimos, a necessidade de conhecer e preservar o património existente ou as tecnologias digitais associadas à manutenção desse património.

SB de Alportel tem espaço com novas respostas na reabilitação a crianças O Centro de Saúde de São Brás de Alportel acolhe, desde 30 de março, um Espaço Multifuncional com novas respostas na área da intervenção e reabilitação. O espaço reforça a capacidade de resposta e apoio a crianças e jovens abrangidos nos projetos do Grupo de Apoio à Saúde Mental Infantil e do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância. O Espaço Multifuncional vai ser dinamizado com profissionais da Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados do Agrupamento de Centros de Saúde do Central (ACES Central), nomeadamente: terapeuta ocupacional, terapeuta da fala, psicóloga e fisioterapeuta. A realização das obras de requalificação do novo espaço contou com o investimento por parte da ARS Algarve no total de 36.699,51 euros. Futuramente, o ACES Central pretende iniciar também neste novo espaço um projeto-piloto na reabilitação respiratória de utentes diagnosticados com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica que serão acompanhados por fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica nas áreas de cardiopneumologia e radiologia.

Um 'cerco' das autoridades à aguardente de medronho apreendeu 8285 litros

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Guarda Nacional Republicana (GNR) apreendeu na terça-feira, no concelho de Loulé, 8.285 litros de aguardente de medronho fora de entreposto de produção no decorrer de uma operação durante a qual cinco pessoas foram identificadas. Nas operações, que decorreram de uma investigação que durava há cerca de oito meses por suspeitas de crime aduaneiro de introdução fraudulenta no

consumo, foi dado cumprimento a 20 mandados de busca, duas em destilarias, oito em veículos e 10 em armazéns não autorizados para depósito e sem controlo, adiantou a GNG. “O valor da aguardente de medronho apreendida ascende aos 237.520,42 euros, sendo que a introdução no consumo deste produto teria causado um prejuízo ao Estado Português, em sede de Imposto Especial de Consumo e de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), num

Últimas

Fronteira de Castro Marim vigiada A GNR

valor aproximado de 99.151,42 euros”, adianta a GNR. Na operação denominada “ARBUTOS I e II” foram identificados cinco homens e o processo entregue ao Tribunal Judicial de Loulé e Olhão. A GNR salientou que o objetivo destas ações “é garantir o cumprimento das disposições legais de produção e armazenamento de bebidas alcoólicas, contribuindo dessa forma para o combate à economia paralela em Portugal”.

em coordenação com a Guardia Civil espanhola, vai reforçar a fiscalização de estradas e fronteiras. O objetivo é supervisionar as viagens dos estudantes finalistas no período da Páscoa. Já a PSP vai enviar agentes para Espanha, como acontecia nos anteriores à pandemia, para apoiar na vigilância das viagens de finalistas do 12.º ano.

'Garfo de Prata' para restaurante Noélia & Jerónimo Localizado em

Escola conquista quatro pódios em Concurso de Dança do Mundo TAVIRA A escola d’ Dance Company – Tavira alcançou quatro premiações no Concurso de Dança do Mundo – All Dance Portugal, nas vertentes de danças árabes, dance show, sapateado e commercial dance, que teve lugar nos dias 2 e 3 de abril, no Europarque, em Santa Maria da Feira. Foram apresentadas quatro coreografias e as quatro subiram ao pódio. Dois primeiros lugares, um segundo e um terceiro deixaram os 28 jovens bailarinos, com idades entre os 11 e os 18 anos, em êxtase de alegria e satisfação profunda pelo reconhecimento do esforço e empenho dos últimos meses. A escola é liderada por Joana Baltazar, professora e diretora artística da escola d’ Dance Company em Tavira. O concurso contou com a participação de 83 escolas nacionais de dança com altíssimo nível de performance artística. Joana Baltazar explica que “os alunos tavirenses contaram com o apoio de familiares, amigos,

Cabanas de Tavira, o restaurante “Noélia & Jerónimo” foi distinguido com o prémio “Garfo de Prata” pelo Guia Boa Cama Boa Mesa. A cerimónia de entrega dos prémios teve lugar esta terça-feira, na sede na sede da Impresa, em Paço de Arcos. No ano passado, Noélia Jerónimo conquistou o prémio de Chef do Ano do Guia Boa Cama Boa Mesa.

Loulé vai ter um Gymnasium A cidade de Loulé

vai ter um Gymnasium, após quase 11 anos de existência da cadeia algarvia de ginásios. O anúncio foi feito por Paula Caleça, diretora de Marketing do Grupo Gymnasium.

FOTO D.R.

conhecidos e simpatizantes que se uniram à causa ‘angariação de fundos – concretiza os nossos sonhos’ para que pudessem adquirir transporte particular, pagar inscrições, investir em figurinos e viajar tantos quilómetros para viver dois dias fantásticos de com-

panheirismo, união, nervosismo, adrenalina, paixão e premiações”. As excelentes classificações obtidas pela d’ Dance Company vêm consolidar o trabalho de mérito reconhecido desta escola, sendo motivo de orgulho para o concelho de Tavira.

Sete detidos por tráfico de droga A GNR

Tavira com provedora para defender os animais A cerimónia de tomada de posse da Provedora do Animal, Agnes Freitas, teve lugar esta quinta-feira na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira. Sob proposta da Câmara Municipal, a Assembleia Municipal de Tavira aprovou a designação de uma figura externa, a título de colaboração voluntária e não remunerada, para assumir esta causa. “A provedoria do animal surgiu devido à evolução legislativa do bem-estar animal em Portugal. É desempenhada por

um cidadão ou cidadã independente e imparcial relativamente a qualquer entidade municipal” explica a autarquia tavirense acrescentando que”esta tem como objetivo primordial a comunicação ativa entre a autarquia, os munícipes, as associações locais de defesa animal e as instituições com responsabilidade nesta área”. Com o intuito de garantir a defesa e prossecução dos direitos e liberdades dos animais cabe à Provedora do Animal de Tavira receber, analisar e procurar

resolver queixas e reclamações apresentadas pelos munícipes; apreciar as reclamações, sem poder decisório, dirigindo apenas as recomendações necessárias; reduzir a escrito as reclamações apresentadas oralmente ou por correio eletrónico, devendo as mesmas ser assinadas pelos reclamantes; dar resposta, no prazo de 30 dias úteis; e elaborar, anualmente, um relatório da sua atividade, remetendo-o à câmara com conhecimento à Assembleia Municipal.

Distribuição quinzenal nas bancas do Algarve

Tiragem desta edição

6.555 exemplares

POSTAL regressa a

22 de abril

deteve, esta semana, seis homens e um mulher, com idades compreendidas entre os 24 e os 41 anos, por tráfico de estupefacientes e apreendeu mais de 15.000 doses de estupefacientes e cerca de 40 mil euros, nas regiões do Algarve e Baixo Alentejo. No total, foram realizadas 13 buscas domiciliárias.

Inscrições para o Festival de Gastronomia do Mar As inscrições para

o XVII Festival de Gastronomia do Mar podem ser feitas até 12 de abril, o qual decorrerá de 20 de maio a 12 de junho de 2022. A adesão dos estabelecimentos de restauração e similares ao festival é gratuita e no final será atribuído um certificado de participação. PUB.


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