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9 de outubro de 2021

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E ainda Peixes “tomam” Prozac e Brufen no Algarve

O alerta é deixado por Maria João Bebiano, diretora do CIMA da Universidade do Algarve. Segundo a cientista, os compostos químicos de alguns medicamentos “são mais graves do que os plásticos”. P4

Novos alunos em curso que arranca na UAlg com a Deloitte

Um total de 22 alunos foram selecionados para o Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP) em Tecnologias Informáticas, num programa de cinco anos, que resulta de uma parceria entre a Universidade do Algarve e a Deloitte P9

Orçamento grátis em: www.hpz.pt

VENCEDORES E VENCIDOS

O riso e a lágrima em noite de eleições

P14e15

MULHERES NO PODER AUTÁRQUICO

Algarve está muito acima da média nacional

Neonatologia do Hospital de Faro em risco de fechar P5

Outubro é rosa no Algarve

Alcoutim inaugura a maior central fotovoltaica do país

O projeto conta com 661.500 painéis instalados, que ocupam uma área descontínua de 320 hectares, acompanhando a orografia do terreno e mantendo corredores verdes P6

P8

Alunos e professores da Bemposta vão remover chorão-das-praias nas dunas de Alvor

Esta planta exótica, originária da África do Sul, tem uma impressionante capacidade de propagação e vigoroso crescimento que impedem o desenvolvimento e sobrevivência da vegetação nativa P14

Cristóvão Norte na liderança do PSD Algarve? P4

Entrevista a Emílio Campos Coroa, diretor do Grupo de Teatro Lethes:

Das 16 câmaras do Algarve, quatro foram ganhas por uma mulher contra três eleitas em 2017. A sociedade começa a entender com outro olhar e estar mais atenta à

tão falada igualdade de género. Também neste aspeto, as coisas estão a mudar. Por esse facto, o POSTAL decidiu fazer duas perguntas a cada uma das mulheres

eleitas para presidir aos destinos dos seus municípios, duas delas reeleitas com longa experiência acumulada, a cumprir o terceiro e último mandato. P12e13

POR PAULO SERRA

"Orçamento para a cultura é uma pequena migalha e as autarquias não ajudam" P16e17

POR MARIA JOÃO NEVES

Integrado Marginal, Biografia de José Líbano, Labirinto, de Pensar Cardoso Pires, por Bruno Vieira Amaral Alexandra Lucas Coelho CS21 Pessoa CS18 POR RAMIRO SANTOS

POR SAÚL NEVES DE JESUS

Batalha naval ao largo do Cabo de São Vicente CS19

Como Weiwei é ativista político através da arte? CS15

POR JORGE QUEIROZ

A casa do sul e as alterações climáticas CS20

POR MARIA LUÍSA FRANCISCO

Outono, tempo de perdas e de ganhos CS20


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CADERNO ALGARVE

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REGIÃO FOTO D.R.

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7.982 exemplares

Cultivo de mais abacates na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e VRSA pode originar queixa na Comissão Europeia

A

instalação de culturas intensivas de regadio, como o abacateiro, na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António é incompatível com o Plano de Ordenamento (PO) daquela área protegida, alertou esta terça-feira a associação Zero. Em nota enviada à Lusa, a associação ambientalista refere que em causa está a instalação de vários projetos, num total de 40 hectares, “ocupando espaços que chegam a confinar com a zona húmida, os quais não se enquadram no que se encontra disposto nos instrumentos de ordenamento”, nomeadamente, no PO da reserva natural. A associação sustenta que as culturas de regadio, nomeadamente, de abacateiros, ocupam áreas de proteção parcial tipo I e II e Complementar tipo I, assim classificadas no PO daquela área protegida do sotavento (leste) do Algarve. “Da análise das atividades permitidas e condicionadas, não parece existir compatibilidade com este ti-

po de cultura não tradicional e em sistema de monocultura intensiva em regadio”, lê-se na nota. Aquela reserva natural, cuja dimensão é relativamente reduzida, é uma das mais antigas áreas protegidas do país, tendo sido criada em 1975. Além de zonas húmidas, integra também manchas de terrenos onde a ocupação tradicional correspondia a uma agricultura de sequeiro extensiva e a pastagens, com culturas tradicionais da região. Segundo a Zero, “incompreensivelmente, existe um parecer positivo da Direção Regional da Conservação da Natureza e das Florestas do Algarve [tutelada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF)], datado de 2018, para um dos projetos, onde apenas se exige o cumprimento de medidas muito gerais no âmbito da instalação e exploração deste espaço”. De acordo com a associação, “estão ainda a decorrer os procedimentos legais para um outro projeto onde foram levantados dois autos em março e em maio de 2019”.

A Zero adianta que da resposta do ICNF a questões colocadas pela associação “ressalta a informação de que existe um grande interesse pela instalação de pomares desta cultura [abacateiros] dentro das áreas classificadas”. A associação ambientalista alega que o plano de ordenamento daquela reserva natural estabelece regimes de salvaguarda dos recursos e valores naturais, fixando os usos e o regime de gestão da área de intervenção. Os ambientalistas justificam a sua posição com base nos princípios orientadores do PO, que referem que “as atividades agrícolas e pastoris devem ser desenvolvidas de forma a garantir o seu papel essencial na manutenção dos habitats naturais e da estrutura da paisagem (…)”. Além disso, referem, “devem ser fomentadas as práticas agrícolas adequadas à exploração do solo e de que não resulte a degradação dos valores naturais em presença, nomeadamente pela promoção dos produtos tradicionais de base regional (…)”, prossegue a nota.

“Estamos perante uma situação onde não podemos apenas falar de falta de fiscalização, mas onde a autoridade nacional para a conservação da natureza foi conivente com os interesses económicos, pondo em causa os objetivos de conservação da Reserva Natural e da Zona Especial de Conservação da Rede Natura 2000”, aponta a associação. A Zero pediu a intervenção da Inspeção Geral do Ambiente Mar Agricultura e Ordenamento do Território para “averiguar o enquadramento legal” da intervenção da Direção Regional da Conservação da Natureza e das Florestas do Algarve, relativamente ao plano de ordenamento e de gestão previstos no Plano Setorial da Rede Natura 2000 para aquela reserva natural. A associação diz aguardar o resultado desta intervenção, considerando a possibilidade de formalizar uma queixa à Comissão Europeia face ao que considera “ser também uma infração à Diretiva Habitats e Diretiva Aves”.



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destaque Nome de Cristóvão Norte é o mais falado na corrida à liderança do PSD Algarve David Santos vai acelerar o seu processo de substituição na liderança regional do PSD Algarve. O anúncio foi feito pelo próprio presidente em reunião da Distrital realizada esta segunda-feira para análise dos resultados eleitorais na região. As eleições regionais antecipadas vão realizar-se antes do congresso nacional do partido, cuja data será marcada no Conselho Nacional do próximo dia 14. O ainda líder distrital dos sociais-democratas, que assumiu a derrota eleitoral autárquica, não avançará com uma nova candidatura por ter esgotado o limite dos três mandatos previstos estatutariamente. O deputado Cristóvão Norte é o nome apontado para assumir a liderança dos sociais-democratas algarvios, faltando saber se Rui Cristina ou Luís Gomes vão avançar como seus opositores.

Peixes “tomam” Prozac no barlavento e Brufen no lado nordeste do Algarve FOTO D.R.

O

Centro de Investigação das Ciências do Mar (CIMA) no Algarve descobriu, através da análise das águas, que os peixes andam a tomar, indirectamente, vários medicamentos. O alerta é deixado por Maria João Bebiano, diretora do CIMA da Universidade do Algarve, em entrevista ao jornal Público. Segundo a cientista, os compostos químicos de alguns medicamentos “são mais graves do que os plásticos” e a acumulação destes resíduos nas águas “pode dar origem a uma mistura de tal modo explosiva, que não conhecemos ainda o seu efeito” na vida dos animais e das pessoas.

A única especialista portuguesa no grupo dos 25 peritos da ONU que estão a elaborar uma avaliação global do estado dos oceanos, alerta que “estamos a lançar para o mar imensas toneladas de medicamentos através das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR)”. A partir de análises às águas do mar, os investigadores do CIMA conseguiram traçar um “perfil” do consumo de medicamentos da população algarvia. “Se pegar numa água de Portimão, encontro Prozac [ministrado para a depressão e ansiedade]”, refere Maria João Bebiano. “No Guadiana, prevalece o Brufen [remédio para as dores frequentemente utilizado

por uma população idosa]”, acrescenta. Os compostos químicos dos anticancerígenos e outros remédios, prossegue, “são mais graves do que os plásticos”. Por conseguinte, o acumular de situações desreguladas “pode dar origem a uma mistura de tal modo explosiva que não conhecemos ainda o seu efeito”.

O grande inimigo da amêijoa e da ostra As amêijoas e ostras do Algar ve têm fama de qualidade, no país e no estrangeiro, “mas podiam ser muito melhores”. A professora catedrática Maria João Bebiano critica o facto de a nova ETAR de Faro e Olhão

continuar a descarregar para a Ria Formosa — a maior maternidade da criação de amêijoas e ostras. “É uma ilusão pensar-se que os efluentes são tratados na totalidade”, sublinha. Nos últimos três anos foram gastos cerca de 44 milhões de euros na Estação da Companhia (Portimão) e na substituição da ETAR de Faro (nascente) e Olhão (poente). O mau cheiro dos esgotos esbateu-se, mas há outros perigos ocultos. “A água pode sair transparente, mas está contaminada.” Não será por acaso, observa, que a produtividade do oceano está a diminuir. “Se queremos que o mar seja a economia azul”, diz, “temos de investir fortemente

em tratamentos eficientes”, alerta a cientista ao jornal Público, que relembra igualmente que os resultados das análises aos microplásticos são assustadores”. A região de Sagres, diz, é a que se encontra em situação mais crítica, no Algarve. “As amostras revelam uma situação explosiva, no futuro”, garante. A contribuir para a degradação do meio aquático estão os microplásticos acumulados no fundo do mar durante décadas, que chegam à superfície por efeito das correntes do Mediterrâneo — o mar mais poluído do mundo. A passagem dos petroleiros, na auto-estrada marítima ao largo do Cabo de São Vicente, é outro motivo de preocupação.

© Faozee Lateh, Kan Sangtong

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DOIS MINUTOS PARA OS DIREITOS HUMANOS 1. GLOBAL As seis principais empresas farmacêuticas que desenvolvem vacinas contra a COVID-19 têm recusado prescindir dos direitos de propriedade intelectual e partilhar tecnologia, criando uma grave crise de direitos humanos. A maioria destas empresas também não prioriza a entrega de vacinas aos países mais pobres, contribuindo para que a taxa de vacinação permaneça ainda abaixo de 1% nestes Estados de baixo rendimento.

2. MÉXICO Em 2020, foram registados 3.723 assassinatos de mulheres no México, dos quais 940 foram investigados como feminicídios. A investigação destes crimes tem falhas recorrentes por parte das autoridades mexicanas que não armazenam as provas com a devida segurança e analisam os casos de forma incompleta. Muitas vezes, são os familiares das vítimas (maioritariamente mulheres) a assumir a liderança das investigações com os próprios recursos.

4. UNIÃO EUROPEIA / ARÁBIA SAUDITA 4

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Junte-se a nós. Encontre o grupo mais perto de si em www.amnistia.pt/grupos

A Amnistia Internacional apelou aos líderes europeus para que responsabilizassem o governo da Arábia Saudita pelo silenciamento da dissidência, que tem colocado a população saudita em constante risco de perseguição, detenções arbitrárias e severas restrições ao seu trabalho legítimo em matéria de direitos humanos. Este apelo antecipou a primeira reunião de direitos humanos entre o país e a UE, que decorreu no dia 27 de setembro.

3. AFEGANISTÃO Desde a tomada de Cabul, e apesar das várias alegações de que protegeriam os direitos humanos, os talibãs têm perpetuado um regime de violência e medo generalizado. As restrições às mulheres, as repressões de protestos e da atividade dos meios de comunicação social, os assassinatos de civis e os bloqueios da assistência humanitária a algumas regiões fazem parte das múltiplas violações de direitos humanos por si praticadas.

5. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Quase 20 anos depois das primeiras detenções, o centro de Guantánamo permanece com 39 detidos por tempo indeterminado, tendo a última libertação ocorrido em julho de 2021. Apesar da maioria dos prisioneiros não ter qualquer tipo de acusação, muitos já foram vítimas de tortura pelo governo dos EUA e nenhum beneficiou de um julgamento justo. O recurso às detenções por tempo indefinido e sem acusação são uma prática ilegal.


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REGIÃO

Neonatologia do Hospital de Faro em risco de fechar

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serviço de Neonatologia do hospital de Faro está em risco de acabar por falta de médicos da especialidade, alertou o diretor do serviço, João Rosa. “Estamos com a corda na garganta. Chegámos a um ponto em que, se um de nós partir uma perna, temos de fechar portas porque não conseguimos dar resposta”, referiu ao jornal Expresso. Todos os anos dão entrada em média 400 os bebés no serviço de Neonatologia de Faro. A maioria dos casos são nascimentos prematuros, mas também há crianças com outros problemas graves, porque o serviço engloba os Cuidados Intensivos pediátricos. “Nós somos oito médicos e temos de fazer Urgências, dar consultas, tratar da burocracia, acompanhar

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Cais de apoio à pesca em Faro vai ser reabilitado A Docapesca lançou um concurso para a reabilitação do cais flutuante de apoio à pesca na Doca de Recreio de Faro

os doentes que, neste serviço, precisam muitas vezes de meses de

internamento… Precisava de mais quatro médicos, mas, nos últimos

dois anos, perdemos cinco”, descreveu, João Rosa.

A execução da empreitada representa um investimento de 120 mil euros e visa a melhoria das condições de trabalho das embarcações de pesca no loca. "A intervenção contempla a instalação de um novo cais flutuante e de uma ponte de acesso com 11 metros de comprimento, a substituição do sistema de amarração e o tratamento dos elementos metálicos", explica a Docapesca em comunicado. PUB.


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destaque

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Cimpor instala parque fotovoltaico em Loulé A Cimpor vai instalar um parque fotovoltaico em cada uma das três unidades de produção em Portugal, um projeto que faz parte de um pacote de investimentos que poderá superar os 130 milhões de euros em 10 anos. “A Cimpor vai investir na instalação de um parque fotovoltaico em cada uma das suas três unidades de produção em Portugal (Alhandra, Souselas e Loulé)”, indicou, em comunicado a empresa que produz e comercializa cimentos. Em resposta à Lusa, a Cimpor não revelou o valor do investimento nos parques fotovoltaicos, mas adiantou que o projeto faz parte de um pacote de investimentos que poderá superar 130 milhões de euros ao longo da próxima década. O projeto em causa prevê a instalação de um megawatt (MW) de potência para autoconsumo em cada fábrica. A conclusão da instalação está prevista para até ao final do ano, estimando-se ainda a expansão para 10 MW até 2025. No total, vão ser instalados 6.500 painéis fotovoltaicos em cerca de 3,5 hectares nos terrenos de cada fábrica, estando a capacidade de produção anual de energia elétrica estimada em 4,5 gigawatts por hora, evitando a emissão de 1.100 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. A Cimpor está ainda a preparar a instalação, nas unidades de Alhandra e Souselas, de duas unidades de recuperação de calor residual de processo para geração de energia elétrica, com quase oito megawatts de potência. Segundo a empresa, em conjunto com os parques fotovoltaicos, o objetivo é gerar, de forma autónoma, 30% das necessidades de energia e reduzir, também em 30%, as emissões indiretas de CO2. O projeto foi anunciado no âmbito da divulgação do relatório de sustentabilidade. Nos últimos três anos, a Cimpor destinou 7,2 milhões de euros a investimentos ambientais para tornar as operações mais sustentáveis. “O projeto fotovoltaico para a produção de eletricidade nas três unidades de produção, entre outros em curso, é estratégico para atingir os objetivos ambientais a que nos propusemos, além de reduzir o consumo elétrico e otimizar processos de produção”, afirmou, citado no mesmo documento, o presidente executivo da Cimpor, Luís Fernandes.

É UMA DAS MAIORES DA EUROPA

Alcoutim inaugura a maior central fotovoltaica do país

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Central Fotovoltaica Riccardo Totta vai ser inaugurada no próximo sábado em Alcoutim. A cerimónia, a decorrer na subestação local, contará com a presença do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, do secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, e do presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves. "Localizada nas freguesias de Vaqueiros e Martim Longo, no concelho de Alcoutim, no nordeste algarvio, a central fotovoltaica, com uma potência de 219 Megawatts, é a maior, atualmente, a operar em Portugal

e uma das maiores da Europa não subsidiada, promovida pela WElink Energy/Solara4 em parceria com a China Triumph International Engineering Company (CTIEC)", explicam os responsáveis pelo projeto, acrescentando que, "comparativamente, é cerca de cinco vezes superior à Central da Amareleja, que, em 2008, era a maior central solar do mundo". O projeto conta com 661.500 painéis instalados, que ocupam uma área descontínua de 320 hectares, acompanhando a orografia do terreno e mantendo corredores verdes, o que representou um desafio da engenharia para minimizar o impacto no

meio ambiente. No total, 40 postos de transformação fazem a ligação entre a subestação da Central e a subestação da Rede Elétrica Nacional (REN) em Tavira. Lançada em março de 2017, a Central Fotovoltaica Riccardo Totta – até aqui designada por Solara4 ou Central Fotovoltaica de Alcoutim – começou a ser implementada em 2019, num processo de engenharia moroso, sofreu uma paragem em 2020 devido à pandemia de covid-19 e ficou concluída este ano, tendo recebido, a 15 de setembro, a licença de exploração por parte da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG). A maior central solar do país ganha o

nome de Riccardo Totta, em homenagem ao proprietário do terreno que colaborou com a WElink/Solara4 para que o projeto se concretizasse. A Central Fotovoltaica Riccardo Totta vai poupar 326 mil toneladas de CO2, o equivalente à energia utilizada por 200 mil casas, uma contribuição fundamental para que Portugal alcance as metas de energias renováveis previstas no Programa Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030). Um passo decisivo para a sustentabilidade do Planeta com a produção de energia limpa que orienta a estratégia do grupo: A better Planet now.

Albufeira debate o urgente combate às desigualdades através dos impostos O combate às desigualdades através dos impostos é o tema que vai ser abordado no 5º Congresso Luso-Brasileiro de Auditores Fiscais O evento tem como objetivo principal abrir um debate urgente e necessário para toda a sociedade mundial e, em particular, para os Auditores Fiscais, operadores do

Sistema Tributário. Vai realizar-se em formato híbrido, nos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2021, no hotel Nau São Rafael Atlântico, em Albufeira, organizado pela Associação Sindical dos Profissionais da Inspeção Tributária e Aduaneira (APIT) e pela Law Academy. No amplo espectro de fatores que têm contribuído para a ampliação da desigualdade so-

cial no mundo, num grau que não encontra precedente na história da humanidade, a tributação é, sem dúvida, um elemento determinante. Assim, para além dos aspetos económicos, na perspetiva do desejável desenvolvimento económico, a melhoria do ambiente de negócios, a segurança jurídica, a importância de se discutir o papel dos impostos no

combate às desigualdades sociais visa atingir o objetivo latente para esta categoria de profissionais da Administração Tributária, a justiça fiscal e o desenvolvimento social. Este evento contará também com a entrega do 1.º Prémio Nacional de Educação e Cidadania Fiscal, direcionado aos meios de comunicação social que reconhecem, valorizam

e divulgam ações que promovem a informação, o conhecimento, a educação e cidadania, assim como a transparência e ética, sempre relacionadas com as temáticas da função social dos tributos, da qualidade do gasto público e do acompanhamento do retorno dos recursos à sociedade. O vencedor ganhará um prémio monetário de 1.000 euros.



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Outubro Rosa Passeio de mota por Faro e arredores sensibiliza para a prevenção do cancro A Associação “Pink Riders Motard Club” vai realizar um passeio de mota por Faro e arredores, no próximo domingo, com início às 10:00, na Marina da capital algarvia, durante o qual serão distribuídos flyers da mamamaratona. A iniciativa vai decorrer no âmbito do “Outubro Rosa” - movimento internacional de prevenção do cancro da mama. "O objetivo é sensibilizar a população em geral para a prevenção do cancro, para a importância de rastreios de saúde e também dar a conhecer a existência de estruturas de apoio, como é o caso da Associação Oncológica do Algarve", explica a associação em comunicado. A Associação “Pink Riders Motard Club” convida "todos a aderir ao movimento 'Outubro Rosa', integrando a cor 'rosa' em alguma situação que possa despertar a atenção da população, como por exemplo no vestuário do dia-a-dia, na iluminação de casa ou qualquer outra iniciativa que possam ter".

Tavira com rastreio gratuito do cancro da mama O Rastreio do Cancro da Mama, promovido pelo Núcleo de Rastreios da Administração Regional de Saúde do Algarve, decorre em Tavira até ao próximo dia 22 de outubro, em colaboração com a Associação Oncológica do Algarve no âmbito do Programa de Rastreio de Base Populacional do Cancro da Mama no Algarve. O rastreio é dirigido a todas as mulheres dos 50 aos 69 anos inscritas em unidades de Saúde do Concelho de Tavira, e é realizado numa unidade móvel que se encontra instalada junto do Centro de Saúde de Tavira, das 09:30 às 13:00 horas e das 13:30 às 16:00 horas (dias úteis).

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Portimão sensibiliza para a prevenção e diagnóstico precoce O Município de Portimão volta a associar-se à campanha internacional “Outubro Rosa” com vista a sensibilizar a população para a prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama, em parceria com a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e a Associação Oncológica do Algarve (AOA). No dia 9 de outubro, o Município de Portimão, em parceria com a LPCC - Núcleo Regional do Sul, irá desenvolver várias Caminhadas Solidárias e uma tertúlia com vista a sensibilizar para a temática da prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama.

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REGIÃO

Curso em Tecnologias Informáticas arranca na UAlg com a Deloitte FOTO D.R.

Os 22 alunos selecionados para o Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP) em Tecnologias Informáticas iniciaram um programa de cinco anos, que resulta de uma parceria entre a Universidade do Algarve e a Deloitte, através do Programa BrightStart Os estudantes que iniciaram esta segunda-feira "usufruirão de uma bolsa de longa duração, isenção de todos os custos académicos, incluindo as propinas mensais e taxas de inscrição no referido CTeSP, uma vez que todos estes custos serão suportados pela Deloitte", referiu a UAlg em comunicado. O valor da bolsa é progressivo e depende do desempenho académico-profissional do estudante ao longo do curso. O programa tem duração total de 5 anos durante os quais os alunos irão completar um CTeSP (dois anos) e terão a oportunidade de concluir uma licenciatura (três anos) na área das Tecnologias Informáticas. Gonçalo Pego, proveniente da Escola Secundária de Tavira, é um dos 22 escolhidos de entre os mais de 96 candidatos que tentaram a sua sorte no novo curso técnico superior profissional da UAlg. “Sempre soube que queria seguir algo relacionado com a área da Informática e, por isso, o

Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP) em Tecnologias Informáticas foi uma escolha à minha medida. A licenciatura será o próximo passo”. Neste grupo está também Bruno Gonçalves, que frequentava o curso técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, na Escola Secundária de Loulé. “Gosto de programação e de fazer coisas novas

e encaro esta oportunidade como um desafio de poder trabalhar numa empresa com um grande nome como a Deloitte”, revela Bruno Gonçalves.

Preparação para o mercado profissional é o foco Karla Albuquerque, manager da Deloitte, refere que esta formação

se trata de “um curso de aceleração de competências técnicas, muito voltado para a programação”. Exemplo disso foi o facto de, logo no primeiro dia de aulas, os alunos terem recebido um computador portátil, que, como esclarece, "será o seu instrumento de trabalho", à semelhança do que acontece "com qualquer outro profissional da Deloitte”.

O principal objetivo é “prepará-los para o mercado profissional, no primeiro semestre com aulas em full-time, e a partir do segundo semestre até ao final do curso divididos entre a vertente académica e a profissional, participando em projetos reais da Deloitte”. Questionada sobre a importância desta parceria, Karla Albuquerque explica que “os profissionais de Informática estão muito escassos no mercado, por esse motivo queremos apostar na sua formação e investir nestes potenciais talentos. Vamos prepará-los de forma a que, no final do curso, estes alunos não sejam apenas licenciados nesta área, mas contem também com quatro anos e meio de experiência, o que fará com que o seu valor no mercado seja maior do que o de um recém-licenciado". Pedro Cardoso, docente do Instituto Superior de Engenharia da UAlg, que será coordenador do curso, realça, além das particularidades já mencionadas, as competências profissionais que este programa de cinco anos proporcionará aos alunos, destacando ainda o papel da Deloitte na definição de alguns dos objetivos desta formação.

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OPINIÃO

O riso e a lágrima em noite de eleições Em democracia só perde quem não participa. Mas nas contas finais há, inevitavelmente, vencedores e vencidos. Uns mais do que outros, como em tudo na vida.

Para o POSTAL, aqui ficam, para a galeria futura, as caras do domingo eleitoral autárquico. A ordem apresentada pelo jornalista Ramiro Santos é arbitrária:

VENCEDORES FOTOS D.R.

LUÍS GRAÇA

ROGÉRIO BACALHAU

Presidente do PS Algarve

Faro

ANA PAULA MARTINS Tavira

O presidente da Distrital do PS tinha uma tarefa difícil que consistia em saber se poderia ultrapassar o número dos dez municípios onde detinha a presidência do executivo. Não apenas o conseguiu como atingiu o segundo melhor resultado eleitoral autárquico que um partido algumas vez obteve no Algarve, excetuando as 15 das 16 câmaras municipais conquistadas no distante ano de 1976. Se há espinho que lhe pode ter ficado na garganta, é o desastre do PS na capital da região. Mas hoje deverá estar agradecido aos deuses e às circunstâncias de ter sido preterido para encabeçar a lista do seu partido à Assembleia Municipal de Faro.

Sobram dedos de uma mão para apontar um outro nome que tivesse obtido um resultado tão categórico e esmagador como o dele. O autarca do PSD de Faro vai para o seu terceiro mandato, somando duas maiorias absolutas (agora com a provável presidência e maioioria na Assembleia Municipal) e tem todas as condições políticas - sem desculpa alguma – para deixar neste mandato final a sua marca de água e fazer o que ainda não foi feito. O lançamento das bases para a requalificação de toda a zona marítima do cais novo e do Bom João (já chegam desenhos cheios de boas intenções), a valorização do espaço da Emissora classificado de interesse municipal e o plano de urbanização da Lejana de Cima, são apenas alguns exemplos. Há oportunidades que não podem ser desperdiçadas. E uma “pitada” de cultura - que é muito mais do que uns espetáculos de rooftops e de entretenimento musical - não calhava mal se a autarquia pretende mesmo vir a ser a Capital Europeia da Cultura.

OUTROS

Recebeu a presidência da Câmara Municipal de Tavira a meio do último mandato de Jorge Botelho. A organização das finanças do município foi a grande tarefa a que meteu mãos e no fim teve que disputar umas eleições com adversários de peso. O regresso de Macário, embora como candidato à Assembleia, era um nome que podia ter feito pender o prato da balança a favor de Dinis Faísca. Mas discretamente, Ana Paula Martins do PS resistiu e, feitas as contas, deverá ficar também com o controlo da Assembleia Municipal. E agradecida à deserção de Macário Correia.

Merecem sempre referência nomes que consolidaram a sua liderança à frente dos seus municípios

PAULO ALVES Monchique Por norma, há a tendência de se olhar apenas para as maiores autarquias. No Algarve, o caso de Monchique e a vitória de Paulo Alves do PS, teve para os vencedores o sabor de uma vitória praticamente anunciada. Não retirando os méritos e qualidades a Paulo Alves e à sua equipa, o fim de ciclo da gestão de Rui André e os desentendimentos públicos entre os candidatos do PSD e do CDS, abriram a alameda para uma campanha que se tornou num passeio até à vitória final. Mas não se julgue que foram as zanguinhas de comadres entre Chaparro e Estremores, que levaram Paulo Alves aos ombros na conquista autárquica em Monchique. A sua vitória resulta de um trabalho metódico e persistente de quatro anos na oposição. No final, somou mais votos que toda a concorrência junta, ficando clara a ideia de que em Monchique, a sua vitória, longe de ter sido o resultado de uma simples soma dos protestos, traduz antes uma votação de confiança dirigida e concentrada em Paulo Alves.

São o caso de Vítor Aleixo (mais uma vitória esmagadora), Isilda Gomes (não deu qualquer hipótese), Francisco Amaral (um eterno e sábio dinossauro), Rosa Palma (não há duas sem

ÁLVARO ARAÚJO Vila Real de Santo António Poucas vezes uma campanha terá conhecido momentos de tanta emoção, agressividade verbal, tensão e de disputa política como esta de Vila Real de Santo António. A demissão de Conceição Cabrita nas circunstâncias e com os contornos conhecidos, o regresso de Luís Gomes, a combatividade do Álvaro da CDU, a juntar ainda a um movimento de independentes, não permitiam grandes aventuras para sondagens ou adivinhações. O desenlace poderia cair para dois ou três lados. Caiu para o lado de Álvaro Araújo do PS, por mérito próprio e por vontade dos vila-realenses.

três em Silves), José Carlos Rolo (recebeu e soube defender o testemunho de Carlos Silva e Sousa), António Miguel Pina (vitória sem surpresa num concelho pintado a cor de rosa). RS


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VENCIDOS DAVID SANTOS

JOÃO MARQUES e ADÉRITO SILVA

Presidente do PSD Algarve

Faro

Estava metido em demasiados desafios para sair em glória e sem mossa de todos eles. Parece que perde em quase todos os tabuleiros. No primeiro, não só fica longe de conquistar o maior número de câmaras, como ainda perde duas para o PS que reforçou a sua supremacia política na região. No segundo, estas eleições podiam ser o tiro de partida para um lugar de reserva a deputado numas próximas legislativas, o que o levará a pensar agora se vale a pena o investimento ou se haverá lugar para ele. E por último, por falta de condições, perdeu todo o espaço e autoridade para entregar o ceptro do partido no Algarve, como parecia ser seu propósito, a um dos seus delfins: Luís Gomes ou Rui Cristina. Perderam os três. Cristóvão Norte esfrega as mãos de contente.

Sem grande passado político relevante a não ser uma obscura passagem pela vereação municipal de Faro, João Marques surgiu de peito cheio impondo as suas condições para avançar na capital do reino. Tudo seria segundo a sua vontade. Fez uma limpeza interna no PS concelhio, escolheu as listas e os nomes, fez o seu programa e ignorou o partido. No meio disto, comprou uma “guerra” com o presidente da federação algarvia do PS, Luís Graça, rejeitando-o liminarmente como seu candidato à presidência da Assembleia Municipal, de que fora seu presidente. Fez tudo o que podia ter feito para que tudo lhe corresse mal. Revelou-se a maior deceção destas eleições. O presidente da concelhia, Adérito Silva, por muitas razões que possa aduzir a seu favor – e tem algumas - dificilmente poderá também esquivar-se das suas responsabilidades, lavando as mãos como Pilatos ou tentando fazer-se passar incólume por entre os pingos da chuva. Quem anda à chuva molha-se e vêm aí as noites das facas longas.

CARLOS MARTINS Portimão

JOÃO GRAÇA Vila do Bispo

Era um rapaz cheio de ambições, mas sai pela porta dos fundos e dificilmente poderá recuperar internamente, a curto ou médio prazo, da sua derrota em Portimão. Demorou na escolha do candidato, acabou por meter-se na confusão do apoio e desapoio a Luís Carito, deu o dito por não dito e foi useiro e vezeiro em sacudir a água do capote. Perdeu espaço, tempo e credibilidade. Rui André, merecedor de outro tutor e proteção, dispensava bem esta “ajuda” que o empurrou para a derrota.

Para quem enchia a boca que queria oferecer uma prenda especial ao presidente do Chega – leia-se a conquista da Câmara de Vila do Bispo - sai muito mal na fotografia. Afinal, foi nesse concelho onde se apresentou como candidato que o Chega obteve um dos piores resultados no Algarve. Somou apenas 73 votos, representando 2,78%, muito abaixo dos 6,37% obtidos no Algarve. Há a registar a eleição de dois vereadores, um em Loulé e outro em Portimão.

LUÍS GOMES

MACÁRIO CORREIA

Vila Real de Santo António

Tavira

Esperava-se mais luta no regresso deste dinossauro à sua cidade. O caso que envolveu a ex-presidente Conceição Cabrita acabou por atingi-lo com estilhaços que o deixaram muito maltratado e que os seus adversários políticos souberam aproveitar. Resta saber se se vai manter na vida política ativa, porque esta derrota afasta-o desde logo de uma eventual corrida à substituição de David Santos como líder regional dos sociais-democratas. Mas na lista de deputados haverá sempre lugar para mais um. Se estiver interessado, sobrará algum para ele?

Nem sempre o nome ou estatuto são suficientes para ganhar eleições. Macário Correia, um experiente nestas andanças, sabe disso perfeitamente. Ganhou em número de votos a presidência da Assembleia, mas contadas as inerências dificilmente seria ele a ocupar esse lugar. Apressou-se logo a afirmar que não estava para ser mais um entre iguais, declarando que nem lá punha os pés. Quando se dispôs a concorrer, ele conhecia as regras do jogo. Sabe que é assim, e fica-lhe muito mal esta postura com fortes tiques de arrogância, falta de humildade democrática e de mau perder. Sobretudo, falta de respeito pelos eleitores de Tavira. Não havia necessidade, como diria o outro. PUB.


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MULHERES NO PODER AUTÁRQUICO

Algarve muito acima da média nacional

(PS) RUTE SILVA Presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo Ganhou a câmara de um concelho com uma profunda marca na história da expansão marítima portuguesa. Sagres é o símbolo maior dessa epopeia. Qual é a grande prioridade estratégica na sua gestão para os próximos quatro anos? R O território de Sagres assumiu um papel de grande relevância nas epopeias além-mar, na exploração de continentes desconhecidos, na globalização e miscigenação de diferentes povos. Mas não só. Vila do Bispo revela-se como um autêntico museu da paisagem, reservando um incomparável acervo patrimonial que temos vindo a investigar, conservar, valorizar e partilhar, de forma sustentável. P

Mais do que um investimento estratégico, trata-se de uma responsabilidade cívica, transmitir este legado patrimonial às gerações futuras. Assumimos como prioridade para os próximos anos a execução do Plano Estratégico de Habitação, a construção de casas acessíveis, o reforço das rendas apoiadas, a aquisição de novos terrenos para habitação, entre outras medidas que visam mitigar as dificuldades no acesso à estabilidade de um lar e a fixação de população, com especial atenção aos jovens. Na sua relação com os seus colegas autarcas do concelho e da região, alguma vez sentiu que a sua condição de mulher P

representou um fator discriminatório e penalizador na sua ação política? R Sim, sobretudo localmente. Ainda se sente alguma resistência em admitir mulheres em cargos de comando e decisão, realidade transversal em diversos patamares da sociedade portuguesa, quer a nível familiar, profissional ou político. A nossa democracia é jovem e a sociedade ainda se encontra condicionada por uma cultura particularmente conservadora. Enquanto primeira mulher eleita como presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, tudo farei para que a nossa sociedade se torne cada vez mais igualitária, justa e democrática.

(PS) ISILDA GOMES Presidente da Câmara Municipal de Portimão O que falta ainda fazer em termos de pensamento estratégico que não tenha conseguido neste tempo de 8 anos como presidente da Câmara de Portimão? P

R Estes 8 anos foram muito difíceis. Os primeiros 4 anos foram dedicados quase exclusivamente a resolver o problema económico e financeiro da autarquia. No segundo mandato demos início à elaboração de projetos de obras há muito desejadas para Portimão, e aí fomos surpreendidos pela pandemia, que travou completamen-

te a nossa estratégia. Este mandato tem que ser o da concretização. Desde o espaço público, a mobilidade, a habitação, a cultura, e muito importante a retoma da economia, no período pós-covid, sem esquecer os problemas sociais. Há muito para cumprir o que prometi aos Portimonenses. P Na sua relação com os seus colegas autarcas do concelho e da região, alguma vez sentiu que a sua condição de mulher representou um fator discriminatório e penalizador

na sua ação política? R Não nego que no início da minha vida política, as mulheres tinham poucas possibilidades e não era fácil o acesso da mulher a alguns patamares da política. Já lá vão uns anos!!! Como presidente de câmara, tenho sempre tido por parte dos colegas, o maior respeito e consideração. Devo dizer que neste momento, mulheres e homens lutam de igual para igual, salvo raríssimas exeções. As mentalidades mudaram para bem melhor, em benefício da nossa democracia.


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ntre as muitas leituras e conclusões que as eleições autárquicas permitem, deve destacar-se o facto de o Algarve ter apresentado um resultado superior à média nacional no respeitante ao número

de mulheres que vão chefiar os respetivos municípios. Das 308 câmaras do país, 29 foram ganhas por uma mulher, o que corresponde a aproximadamente 9% do total e menos do que as 32 autarcas eleitas em 2017, o que multiplica por 7,25 as

quatro autarcas vencedoras em 1985, mas significa, também, a primeira inversão na tendência de alta iniciada precisamente há 36 anos. Mas em contraciclo, das 16 câmaras do Algarve, quatro foram ganhas por uma mulher – 25% do total –

contra três eleitas em 2017. Sem prejuízo dos méritos políticos e pessoais que os seus eleitores lhes reconheceram, a sua participação vitoriosa num mundo maioriotariamente de homens na gestão da coisa pública, não deixa de constituir um

(PCP-PEV) ROSA PALMA Presidente da Câmara Municipal de Silves Silves foi nos seus tempos áureos a grande e opulenta capital do reino do Garb do Andaluz. O assoreamento do Arade foi-lhe retirando poder e importância. O que falta para que a sua cidade recupere, se não o papel histórico, político e económico que teve no passado, pelo menos consiga afirmar-se como um centro cultural de referência no barlaventro algarvio e no Algarve? R É nossa firme intenção prosseguir com o desenvolvimento socioeconómico do concelho de Silves, cumprindo de forma cada vez mais eficiente, inovadora e arrojada, com as competências próprias do município, não deixando ao mesmo tempo, de exigir da Administração P

Central que cumpra com as suas obrigações, alocando recursos e promovendo o investimento público, na perspetiva da valorização do interior e da diminuição das assimetrias intra e interregionais. A concretização do projeto de desassoreamento do Rio Arade, da responsabilidade da Administração Central, persiste como a maior ambição dos silvenses, que permanece, eternamente, adiada. A progressiva conservação e valorização do riquíssimo património histórico-cultural e a intensa programação cultural, sobretudo, na cidade, mas não só, é uma aposta do Município de Silves. A cidade já é hoje um dos locais mais visitados do Algarve,

graças, precisamente, às suas referências patrimoniais e à beleza da sua silhueta, edifícios e arruamentos. A intervenção autárquica no interior e litoral do concelho, promovendo investimentos públicos avultados e estruturantes, visa o reforço da sua competitividade e o desenvolvimento integrado, desencadeando um efeito atrativo e mobilizador junto dos investidores privados. P Na sua relação com os seus colegas autarcas do concelho e da região, alguma vez sentiu que a sua condição de mulher representou um fator discriminatório e penalizador na sua ação política? R Se aconteceu não me apecebi.

sinal importante de que a sociedade começa a entender com outro olhar e estar mais atenta à tão falada igualdade de género. Também neste aspeto, as coisas estão a mudar. Por esse facto, o jornal POSTAL decidiu fazer duas

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perguntas a cada uma dessas quatro mulheres eleitas para presidir aos destinos dos seus municípios, duas delas reeleitas com longa experiência acumulada, a cumprir o terceiro e último mandato.

(PS) ANA PAULA MARTINS Presidente da Câmara Municipal de Tavira Recebeu a câmara a meio do mandato de Jorge Botelho; foi a votos e ganhou numa disputa com adversários difíceis. Sendo conhecida por ter uma gestão cuidadosa e de contas certas, que obra precisa a cidade e que gostaria de realizar neste seu mandato sem olhar muito à contabilidade do ‘deve e haver’? R As contas certas são um meio necessário para cumprir metas e concretizar projetos, ao mesmo tempo que se apoia socialmente quem mais necessita. A principal prioridade dos próximos 4 anos será ajudar a resolver o problema da habitação, concretizando a Estratégia Local de HabiP

tação aprovada, que prevê a construção de mais de 200 fogos de habitação de renda apoiada e de custos controlados, bem como reabilitar o parque habitacional municipal existente. É essencial o alargamento das instalações, horários e valências no Centro de Saúde de Tavira. Também a construção de um novo Complexo Municipal da Proteção Civil, a criação no Centro de Experimentação Agrária de Tavira de um Centro Competências da Dieta Mediterrânica e a reabilitação do nosso património histórico, com a construção do Núcleo Fenício são prioritários. Haverá a requalificação e criação de melhores acessi-

bilidades ao longo do rio e o Parque Verde do Séqua terá um espaço de lazer para as famílias. P Na sua relação com os seus colegas autarcas, alguma vez sentiu que a sua condição de mulher representou um fator discriminatório e penalizador na sua ação política? R Entre autarcas e não autarcas, sempre senti que tinham respeito por mim e nunca me senti discriminada por ser mulher. No entanto, tenho consciência que muitas vezes as mulheres têm de trabalhar mais para provar que são competentes, sobretudo quando ocupam cargos de direção.


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REGIÃO

Alunos e professores da Bemposta vão remover chorão-das-praias nas dunas de Alvor

U

m total de 190 alunos e professores do Agrupamento de Escolas da Bemposta vão remover nas dunas de Alvor o chorão-das-praias, entre 12 e 15 de outubro, no âmbito da SEVA – Semana de Educação e Iniciativas de Voluntariado Ambiental. Esta ação, promovida pelo Município de Portimão, decorre durante a manhã e dirige-se às nove turmas do 8º ano daquele agrupamento, que inclui as escolas EB 2,3 D. João II, de Alvor, EB José Sobral, da Mexilhoeira Grande, e EB da Bemposta, inserindo-se nas iniciativas coordenadas pela Agência Portuguesa do Ambiente – Administração da Região Hidrográfica do Algarve. Desde 2017, o Agrupamento de Escolas da Bemposta e o Município de Portimão têm desenvolvido no ecossistema de Alvor diversas ações de remoção do chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), uma planta exótica originária da África do Sul, cuja impressionante capacidade de propagação e vigoroso crescimento impedem o desenvolvimento e sobrevivência da vegetação nativa. Introduzido em Portugal para fins ornamentais, e mais tarde cultivado para fixar taludes e dunas, a colonização do chorão-das-praias ocupa

FOTO D.R.

vastas áreas, formando nalguns locais tapetes contínuos. De acordo com o Dec re to-Lei n.º 565/99, de 21 de dezembro, que regula a introdução de espécies não indígenas da

flora e fauna, o chorão-das-praias é considerado uma espécie invasora, com a capacidade de ocupar o território de forma excessiva, em área ou em número de indivíduos, o que provoca uma modificação

significativa nos ecossistemas. Logo após a degradação e destruição direta de habitats, a proliferação de espécies invasoras como esta, é considerada a segunda causa mais importante de perda de biodiver-

sidade, revestindo-se de grande importância iniciativas como a remoção do chorão-das-praias na zona de Alvor, que no ano passado não se realizou devido à Covid-19.

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Óculos voltam a ser gratuitos para os jovens de Olhão O programa “Together for Vision”, uma iniciativa da Essilor que conta com o apoio do Município de Olhão, voltará a beneficiar a população residente no concelho até ao final de novembro Esta será mais uma oportunidade para que as crianças e jovens residentes no concelho de Olhão, dos 6 aos 17 anos, tenham acesso a óculos graduados gratuitos, se um dos pais ou o encarregado de educação estiver, no momento, em situação comprovada (pelo IEFP) de desemprego. A iniciativa está já a decorrer e prolonga-se até 31 de

novembro, depois de uma primeira fase que aconteceu no verão e teve ótima adesão por parte dos interessados, o que fez com que os envolvidos voltassem a apostar no programa. Em www.forvision.pt pode conhecer os oftalmologistas e óticas aderentes ao programa, assim como a razão de ser desta iniciativa e quem se enquadra nas condições de acesso a este benefício, para além de outras informações de relevo.


Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o

OUTUBRO 2021 n.º 155 7.982 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve

ARTES VISUAIS

Como Weiwei é ativista político através da arte? SAÚL NEVES DE JESUS Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

N

Imagens de trabalhos produzidos por Ai Weiwei sobre os refugiados

Cartaz da exposição “Rapture”, de Ai Weiwei FOTOS D.R.

o último artigo abordámos o tema da migração e dos refugiados como um dos problemas da atualidade, evidenciando o contributo que alguns artistas têm procurado dar através das obras que produzem, como é o caso do próprio Banksy. Desta vez pretendemos destacar o papel específico do artista chinês Ai Weiwei na defesa desta e doutras causas sociais, como ativista político. Este artista, de 63 anos, eleito como o mais popular do mundo em 2020 pelo “The Art Newspaper”, é considerado um dos artistas mais interventivos e criativos da contemporaneidade, mundialmente reconhecido pelo seu ativismo político e por procurar produzir obras dedicadas a questões sociais e a direitos humanos. Numa das suas instalações, em 2016, usou 14 mil coletes salva-vidas de imigrantes que faziam a travessia do Mediterrâneo, recolhidos na Ilha de Lesbos (Grécia), fazendo uma grande instalação nas colunas da Konzerthaus, em Berlim, tendo por objetivo mobilizar a comunidade internacional contra o crime de tráfico de seres humanos na Mar Egeu. A instalação incluiu também um barco de borracha, igual ao usado pelos refugiados para chegar à Europa. Também em 2016, numa das suas obras mais conhecidas, intitulada “Law of the Journey (Prototype C)”, apresenta um barco insuflável de 16 metros de comprimento cheio de figuras humanas insufláveis, fazendo alusão à crise global de refugiados. A cor negra usada no barco e nas figuras insufláveis representa a tragédia, enquanto o tamanho da obra representa a grande dimensão do problema. Todo o trabalho de Ai Weiwei é de ativismo político, em particular como crítica ao regime de Xi Jinping. Por exemplo, através de “Snake Ceiling” (2009), uma

grande instalação em forma de serpente constituída por centenas de mochilas de crianças, em memória aos estudantes mortos no terremoto de Sichuan, em 2008. E foi precisamente em 2009 que foi detido pelas autoridades chinesas e agredido, seguindo-se em 2010 o encerramento do blogue que mantinha há quatro anos e onde criticava o Partido Comunista Chinês, bem como a demolição do seu estúdio por supostas questões burocráticas. Em 2011, voltou a ser preso e arriscava 13 anos de cadeia. Passou 81 dias na cadeia por subversão e saiu após pagar uma multa de mais de dois milhões de euros, através de donativos de fãs. Durante quatro anos teve o seu passaporte confiscado. Quando o devolveram, em 2015, mudou-se para a Alemanha, nunca mais tendo voltado à China, com receio que lhe confisquem o passaporte. Nos últimos tempos tem vivido no Alentejo e o seu trabalho está a ser apresentado pela primeira vez em Portugal, com a exposição “Rapture”, a decorrer na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até 28 de novembro. Com curadoria do brasileiro Marcello Dantas, esta exposição apresenta alguns dos trabalhos mais icónicos do artista, tal como “Law of the Journey (Prototype C)” e “Snake Ceiling”, assim como obras originais produzidas em Portugal, com materiais tipicamente portugueses, como a cortiça, incluindo trabalhos com azulejos e cerâmica. A exposição pretende mostrar Ai Weiwei como um artista que é também “um arqueólogo de métodos e práticas que foram sendo perdidas na história dos lugares”, como seja o artesanato, aplicando-as à arte contemporânea. Assim, quando preparou a exposição, o artista pôde contactar com materiais e artesãos portugueses, dando uma nova leitura às técnicas usadas, com um sentido de arte contemporânea. O cartaz desta exposição mostra-nos Ai Weiwei a olhar-nos fixamente e abrindo mais os olhos com a ajuda das mãos, como que a provocar-nos para estarmos atentos e não virarmos as costas ao que acontece à nossa volta, procurando combater a apatia e a indiferença

aos problemas sociais do mundo em que vivemos. Para Ai Weiwei, a sua arte é precisamente o protesto, a voz política. Conforme refere no livro “Weiwei-ismos”, editado a propósito desta exposição, “A liberdade de expressão implica que o mundo não esteja definido. Só faz sentido quando se permite que as pessoas possam ver o mundo à sua maneira (...) Quero que as pessoas vejam o seu próprio poder”. Mas salienta ainda o seguinte: “As minhas mensagens são temporárias e não devem ser a nossa condição permanente. E, tal como o vento, hão-de passar. Outro vento há-de vir.” Desta forma, as criações artísticas devem ser contextualizadas e entendidas na época em que são produzidas, pois a arte acompanha o desenvolvimento da sociedade, sendo uma expressão desta, mas a atitude de ativismo político através da arte visual pode estar sempre presente, podendo a produção artística ser um instrumento para promover a sensibilização e a consciencialização relativamente a questões sociais, ambientais e outras, que vão ocorrendo ao longo da história da humanidade.

Ficha técnica Direção: GORDA, Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Responsáveis pelas secções: • Artes Visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Filosofia Dia-a-dia: Maria João Neves • Fios De História: Ramiro Santos • Letras e Literatura: Paulo Serra • Marca D'Água: Maria Luísa Francisco e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve FB: https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve


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CULTURA.SUL

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FOTOS D.R.

Diretor do Grupo de Teatro Lethes, Emílio Campos Coroa

“Orçamento para a cultura é uma pequena migalha e as autarquias não ajudam” • Falta de apoios ao teatro e à cultura • Pandemia penalizou atividade • Continuamos à espera da sede social prometida pela autarquia • A crítica social de Eça de Queirós vai subir ao palco proximamente

ENTREVISTA RS Agora que começa a subir o pano de uma pandemia que dura há cerca de ano e meio, que balanço é possível fazer no que respeita às actividades culturais e ao teatro em particular? Em que medida o Grupo de Teatro Lethes foi afetado?

Creio que não é exagero afirmar o reflexo extremamente nefasto da pandemia na sociedade em geral e em todas as manifestações culturais e artísticas no País, quaisquer que se considerem, desde as artes de palco como o teatro, a música, o bailado, às artes circenses. Naturalmente, aqueles que fazem da arte a sua profissão, foram fortemente penalizados e, na nossa opinião, deveriam beneficiar do máximo suporte financeiro possível, como garante da sua subsistência, porque a arte, nas suas formas diversas, é um património insubstituível na sanidade mental das gentes. No que ao Grupo de Teatro Lethes respeita, veio suspender o trabalho que tínhamos em cena, no salão do Club Farense, gentilmente cedido por aquela distinguida coletividade; tratava-se de “A Relíquia” de Eça de Queirós, cujo último espectáculo ocorreu em 7 de fevereiro de ECC

2020, mas que está disponível para visualização na íntegra no youtube site maisalgarve - para aqueles que não tiveram oportunidade de ver em tempo real. Claro que foi um contratempo, pois tínhamos enviado e-mails a muitas das autarquias do Algarve para propor a apresentação do espectáculo, não tendo recebido qualquer resposta, o que demonstra o impacto da pandemia na nossa atividade. Mas, como é evidente, sendo o Grupo de Teatro Lethes um grupo de teatro amador, não há qualquer prejuízo financeiro.

No tempo que durou a pandemia, as atividades culturais de um modo geral receberam alguns apoios do estado ou das autarquias. E o vosso grupo? RS

Parece-me que a fatia do Orçamento de Estado destinada à Cultura é sempre uma pequena migalha, em comparação com os investimentos que são feitos noutras áreas, nomeadamente o desporto. Não contesto a importância do desporto na vida de cada um e na sociedade em geral, mas julgo que há uma grande desproporção de verbas e mesmo no desporto, as diferenças entre as diversas modalidades são muito consideráveis. ECC

Penso que, apesar do esforço suplementar implementado pelo governo, os artistas profissionais, quer de teatro, quer do cinema, da música sinfónica, da ópera, do bailado, do circo, passaram e ainda passam por graves dificuldades económicas, o que é lamentável. Nós, felizmente, não solicitámos qualquer subsídio para qualquer evento e, como tal, não temos de justificar onde está a verba atribuída. Aliás, em meu entender, os responsáveis autárquicos pensam sempre que as associações culturais e mesmo as desportivas vão “pedir” alguma coisa, entre elas financiamentos; pois eu penso que as associações vão dar, oferecer os seus préstimos para o enriquecimento cultural e formação desportiva às populações de vários escalões etários dos seus concelhos e, antes pelo contrário, são as autarquias que devem satisfazer a curiosidade das populações acerca do que fizeram ao dinheiro dos contribuintes e quais são os planos futuros, a curto, médio e longo espaço temporal. O Grupo de Teatro Lethes não tem pedido subsídio regular à Câmara de Faro, porque ao longo dos seus provectos 64 anos de idade, tem conseguido constituir património suficiente para as suas produções, mas pergunta à Câmara de Faro quando será cum-

prida a promessa feita desde 1986 e repetida várias vezes e em público, da construção da sua sede social, a qual viria colmatar uma lacuna importante essencial ao trabalho diário. Esse sim, seria um subsídio, que me parece devido. ainda mais, a uma coletividade de utilidade pública sem fins lucrativos, já agraciada por 2 vezes com a medalha de Ouro da Cidade e que dispunha, por lei, de um subsídio regular anual para a sua atividade, subsídio que foi suspenso, como a outras coletividades, pela câmara presidida, se a memória me não atraiçoa, pelo Sr. Engº Macário Correia.

Os profissionais da cultura foram fortemente penalizados e deveriam beneficiar do máximo suporte financeiro possível, porque a arte, nas suas formas diversas, é um património insubstituível

Julgo saber que esta pausa na representação teatral, abriu espaço para a organização de novas produções e o grupo de Teatro Lethes não esteve propriamente parado. Ou esteve? RS

Na verdade, esta tara genética, esta inquietude permanente, leva a que estejamos sempre a pensar no que vamos fazer a seguir, contra ventos e marés e enquanto houver capacidades física e intelectual para continuar, sem nos tornarmos ridículos; por isso, analisamos texto atrás de texto, estudamos alternativas, possibilidades, espaços físicos, excluindo dos planos o que nos não parecer exequível, por incapacidade técnica ou humana ou por manifesto desinteresse do ponto de vista de crítica social, beleza estética, atualidade ou diversão. De facto, temos passado este tempo a trabalhar em particular em dois projetos, sendo um deles uma dramaturgia construída com base em obras de outros autores sobre os múltiplos aspetos da vida e de várias das obras de Eça de Queirós, cujo texto está estabelecido, mas que poderá ainda vir a sofrer algumas alterações, o que iremos averiguar a breve trecho e também noutro projeto, que tem mais de vinte anos, mas que está em evolução constante, que é a elaboração de um livro com o registo de toda a atividade do ECC


CULTURA.SUL

Postal, 8 de outubro de 2021

Grupo, desde o primeiro espetáculo e até ao mais recente, que será ilustrado com fotografias, programas, cartazes, desenhos de cenários, críticas, enfim, com a reprodução de muito do espólio existente, para que no futuro, quem quiser debruçar-se com seriedade sobre a história do teatro em Faro, disponha de uma fonte fidedigna de informação no que respeita a um dos Grupos de Teatro Amador mais antigos do País, sem ter que se conformar com a informação errónea de algumas fontes, que dão o Grupo como “falecido” ou “desaparecido em combate”.

Pergunta-se à Câmara de Faro quando será cumprida a promessa feita desde 1986 e repetida várias vezes, da construção da sua sede social RS Sei que o grupo vai iniciar o ensaio de uma nova peça. Pode levantar a ponta do véu? Qual o tema central?

A nova peça a que se refere é, provavelmente, a dramaturgia que referi acima, mas não podemos afirmar ainda, neste momento, ser garantido que avance, embora tenha sido pensada, escrita para os recursos humanos que o Grupo dispõe. Para “subir à cena” há ainda um longo caminho a percorrer, sendo que um importante problema a resolver é onde será a cena? ECC

compromissos, não podemos saber se há disponibilidade para uma data concreta por parte de todos os amadores envolvidos no espectáculo, a seis ou mais meses de distância. E também não podemos aceitar que em todos os documentos de divulgação produzidos para o espetáculo tenha que constar “uma produção Acta – A Companhia de Teatro do Algarve”. Para o Grupo de Teatro Lethes, isso representa um ligeiro acréscimo de dificuldades, mas devo lembrar que antes do Teatro Lethes ter reaberto ao público em 1972, a actividade do Grupo ficou marcada por espectáculos de grande beleza estética ao ar livre. Já depois de termos saído do Lethes, concretizámos alguns, tais como “O Render dos Heróis”, de José Cardoso Pires, na Alameda João de Deus ou “Felizmente há Luar”, de Luís de Sttau Monteiro, em Cacela Velha. O maior problema que enfrentamos é a renovação do quadro de amadores, porque o mais notável fator que tem permitido a sobrevivência do grupo, é um excelente naipe de amadores muito experientes, alguns acompanham o grupo desde os primeiros espectáculos, o que merece especial relevo, sendo que os mais novos têm 20 anos de teatro, salvo raras excepções. Importa pois assegurar a sucessão e fazer o registo histórico do que foi realizado; É, portanto errónea, para não dizer maliciosa, a ideia que o grupo morreu com os seus fundadores. O Grupo foi criado, dinamizado e dirigido com a sabedoria e a genialidade de Emílio Campos Coroa, Maria Amélia Campos Coroa e José de Campos Coroa, que souberam rodear-se de grandes e talentosos amadores. Tanto Emílio como Maria Amélia como José de Campos Coroa estão sempre presentes, ainda hoje,

se vivem; posso assegurar-vos que essa intensidade continua a existir. O que acontece é que há menor visibilidade, porque existem outros grupos e mais actividades culturais, às vezes com sobreposição de datas e horas e o Grupo não dispõe de uma máquina de marketing para divulgação da sua atividade. Precisamos, portanto, de jovens, amantes de teatro, precisamos da generosidade, vitalidade e combatividade da juventude, apoiada pela experiência e conhecimento dos mais velhos para que o Grupo possa continuar. RS O Grupo de Teatro Lethes é provavelmente o grupo mais antigo do Algarve. Como se garante a sobrevivência de um

grupo de teatro ao longo de tantos anos? Esta é uma questão pertinente: como se garante a sobrevivência? Garante-se com a comunhão de objetivos, relegando o que nos separa individualmente para segundo plano, centrando-nos no que nos une: o amor ao teatro, a catarse que cada um de nós faz num espaço comum e partilhado, a defesa intransigente da independência de objectivos político-partidários, uma verdadeira, profunda e grande amizade entre todos, o respeito de cada um por todos e de todos por cada um e um pano de fundo onde assentam valores humanistas essenciais: liberdade, democracia, igualdade, justiça e beleza. ECC

O grupo sem fins lucrativos, já agraciado por 2 vezes com a medalha de Ouro da Cidade, dispunha, por lei, de um subsídio regular anual que foi suspenso, pela Câmara Municipal no tempo da Macário Correia

Um palco cheio de aplausos mas vazio de apoios públicos

É O Grupo ocupou instalações no Teatro Lethes, por convite da Direção da Cruz Vermelha de Faro àquela época, desde 1972 e até 1986, ano em que foi ordenada a saída pela Srª delegada regional do Ministério da Cultura. Estivemos no Lethes apenas 13 anos; hoje é necessário saber em outubro, quais os dias do ano seguinte em que necessitaremos da sala para apresentação de espectáculos, o que é quase uma “Missão Impossível”, porque num grupo amador como o nosso, habituado desde sempre a respeitar

no Grupo de Teatro. Mas o grupo já conta com mais anos de sobrevivência após a morte física de Emílio Campos Coroa, do que os 28 anos em que esteve sob a sua direcção. O que deve querer dizer que transmitiram saberes, valores a todos os que os acompanharam e que mantêm o Grupo a funcionar com grande amor ao teatro e um grande espírito de missão, de solidariedade, respeito e amizade entre todos. Poderão contrapor que a importância das coisas não reside no tempo que duram, mas na intensidade com que

um dos grupos de teatro amador mais antigos do país. Fundado em Outubro de 1957, como secção de teatro do Círculo Cultural do Algarve, tem andado quase sempre com a casa às costas. Em 1972, a convite da Cruz Vermelha Portuguesa, vai instalar-se no Teatro Lethes, tomando nessa época o seu nome atual. Em 1986, por ordem da delegada regional da Secretaria de Estado da Cultura, - que não devia entender a representação teatral como uma forma de expressão cultural - é expulso do Teatro Lethes. Desde 1989, por cedência da Câmara Municipal de Faro,

instala-se num pequeno armazém de vão de escada, ou nem tanto, sem espaço nem dignidade, apenas com capacidade para acomodar o seu património e proceder a ensaios de leitura. E, no entanto, o Grupo de Teatro Lethes, mantém-se teimosamente vivo, graças à persistência e amor ao teatro de todos os elementos que o compõem e o integraram ao longo destes 64 anos de atividade e do seu diretor, que contra ventos e marés, vão sustentando e mantendo vivo o espírito e o legado do seu fundador, Emílio Campos Coroa. O seu pr i mei ro espetácu lo ocorreu a 23 de maio de 1958, com a peça “Quando a Verdade Mente”, de Costa Ferreira. O

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mais recente, foi “A Relíquia” de Eça de Queirós. Pelo meio fica um total de 535 espetáculos que envolveram 468 atores. Muitos deles prosseguiram depois as suas carreiras como profissionais das grandes companhias de teatro portuguesas. Pelo seu passado e respeito pelo seu contributo para a cultura teatral do Algarve e do país, espera-se que um dia o Grupo de Teatro Lethes venha a receber das entidades da cultura e do poder autárquico, - já que Lisboa fica muito longe - os aplausos feitos dos apoios que lhe têm faltado. Palmas, senhores, para o Grupo de Teatro Lethes e para o seu diretor, Emílio Campos Coroa.

RS


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FILOSOFIA DIA-A-DIA

Na sua genialidade Pessoa oferece-nos um caleidoscópio de modos de ser FOTO

D.R.

Pensar Pessoa MARIA JOÃO NEVES PH.D Consultora Filosófica

Q

ue tem a dizer Pessoa — poeta pensador por excelência — sobre o pensamento? Sem pretender uma amostra exaustiva deste autor tão profícuo, proponho que atendam comigo a esta fuga a 5 vozes — work in progress — que continuará a compor-se oralmente durante o Café Filosófico deste mês. Comecemos pelo mestre: Alberto Caeiro tem uma vida muito curta, falece aos 26 anos de idade, e estudou apenas até à quarta classe. Contudo, é ele o mestre de Ricardo Reis, formado em medicina, de Álvaro de Campos, engenheiro naval, e do próprio Fernando Pessoa ortónimo. Caeiro encarna a ingenuidade de uma criança que vive no encantamento das sensações imediatas, predominantemente visuais, acolhendo a cada instante o que a natureza oferece. Eis um excerto do seu poema O Guardador de Rebanhos: “Creio no Mundo como num malmequer,/ Porque o vejo. Mas não penso nele/ Porque pensar é não compreender.../ O Mundo não se fez para pensarmos nele/ (Pensar é estar doente dos olhos)” Pensar aparece aqui como uma actividade doen-

tia, uma consequência de um mau funcionamento do órgão da visão, sentido eleito no modo de interacção com as coisas. O mundo é para ser visto e não pensado. Só a visão reifica, o pensamento tergiversa. Ricardo Reis, primeiro discípulo, reitera o seu mestre Alberto Caeiro, como podemos comprovar pela seguinte estrofe: “Para quê complicar inutilmente,/ Pensando, o que impensado existe?/ Nascem Ervas sem razão dada —/ Para elas olhos, não razões, tenhamos/ Como através de um rio as contemplemos.” Álvaro de Campos, segundo discípulo de Caeiro, escolherá o sentir ou o pensar? Vejamos o que nos diz em Poesias: “Não estou pensando em nada E essa coisa central, que é coisa nenhuma, É-me agradável como o ar da noite, Fresco em contraste com o Verão quente do dia. Não estou pensando em nada, e que bom! Pensar em nada É ter a alma própria e inteira. Pensar em nada É viver intimamente O fluxo e o refluxo da vida... Não estou pensando em nada. É como se me tivesse encostado mal. Uma dor nas costas, ou num lado das costas. Háumamargodebocanaminhaalma:

É que, no fim de contas, Não estou pensando em nada, Mas realmente em nada, Em nada...” Durante dois terços do poema Campos parece concordar com Caeiro e Reis: pensar em nada é maravilhoso! O sentimento pode agora ocupar todo o espaço perceptivo. Pensar em nada permite ter “a alma própria e inteira” e “é viver intimamente o fluxo e refluxo da vida”. Porém, o último terço do poema vem dar conta de um desconforto: pensar em nada é um “amargo de boca na alma”, ou um “encostar-se mal” que provoca dores. Na sua complexidade, Álvaro de Campos não parece conseguir ser inteiramente poeta e viver no deleite do sentir. Por outro lado, ao dar-se conta da actividade de pensar em si mesma, sem que seja exercida sobre um objecto em concreto, o mal estar instala-se. O último terço do poema é uma voz dissonante. Fernando Pessoa ortónimo, também discípulo de Caeiro, diz-nos no seu Primeiro Fausto: Não é o vício/ Nem a experiência que desflora a alma:/É só o pensamento. (...)/ Só pensar/ Desflora até ao íntimo do ser./ Este perpétuo analisar de tudo,/ Este buscar duma nudez suprema/Raciocinada coerentemente,/É que tira a inocência verdadeira (...)/ Pensar, pensar e não poder viver! (...)/ O que é perder a inocência toda.../ Não a inocência vã do corpo ao olhar,/ Ou vulgar e banal conhecimento,/Mas a inocência bela do viver;/De sentir (...)”. Pessoa concorda

com Caeiro, Reis, e com os primeiros dois terços da poesia de Campos ao considerar a actividade de pensar inadequada para o acesso ao mundo. A expansão da lucidez atenta contra a vida e aniquila a inocência da alma. O poeta parece retomar aqui o tema da queda do paraíso: precisamente no momento em qua a inocência acaba o pensamento acontece. Em contraponto com as visões expostas por Caeiro, Reis, Pessoa e os primeiros dois terços da poesia de Campos situa-se o semi-heterónimo Bernardo Soares: “Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência com os outros, e que a maioria pensa com a sensibilidade e eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar”. Para Soares o pensamento não atenta contra a vida nem contra o sentir, pelo contrário, a actividade de pensar nutre-se do sentimento e só o pensar se constitui em vida verdadeira. A problemática relação entre a vida e o pensamento surge na filosofia desde a sua génese. Já no diálogo Fédon de Platão encontramos um exemplo paradigmático de como vida e pensamento mutuamente se agridem: Sócrates propunha aos homens um caminho de salvação que era simultaneamente uma preparação para a morte. Filósofo era aquele que estava maduro para morrer. Os órgãos dos sentidos aparecem como propicia-

dores da desgraça do humano, pois fazem-no pender para o que é contrário à sua verdadeira natureza: “Na verdade, cada sentimento de prazer ou dor é como pregos que fixassem a alma ao corpo; e assim a agrafam a ele, a enleiam na substância corporal, por tal forma que tudo aquilo que o corpo lhe disser ela toma por verdadeiro.” (Platão, Fédon, 83 d-c). Porém, a verdade é a grande amada dos filósofos, mas não dos poetas! Os poetas amam sobretudo a vida, querem celebrá-la. Por isso os poetas cantam as aparências, louvam-nas, e não desejam separar-se delas através do esforço ascético do pensamento. Apesar da sua origem comum — o êxtase admirativo —, os caminhos do filósofo e do poeta separam-se, permanecendo o poeta ligado às coisas, às realidades que se lhe apresentam, desfrutando da contemplação das mesmas, enquanto o filósofo prefere renunciar a tudo isso, o que supõe um esforço violento. O filósofo, ao dar primazia ao pensamento, sacrifica a contemplação da pluralidade das coisas a que se tem acesso, (mas que continuamente se perdem num devir de nascimento e morte, numa contínua substituição), em busca de unidade e de permanência. Esta renúncia assenta num ascetismo que transforma o espanto primordial em interrogação incessante. O problema, justamente, reside em que a inquisição do intelecto implica o martírio da vida. Logo após o nascimento do mestre — que surge com o poema O Guardador de Rebanhos, escrito de uma assentada — escreve imediatamente, também de seguida, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua. Na carta acima citada esclarece: “foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.” E mais adiante especifica: “pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida”. Quanto a Bernardo Soares, precisa: “É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade”. Talvez o Pessoa poeta não conseguisse renunciar ao Pessoa pensador e vice-versa. Para dar conta destas perspectivas irreconciliáveis foi-lhe necessário criar tantas vidas quantas as possibilidades de se posicionar perante esta questão. Na sua genialidade Pessoa oferece-nos um caleidoscópio de modos de ser. Inscrições para o Café Filosófico: filosofiamjn@gmail.com * A autora não escreve segundo o acordo ortográfico


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FIOS DE HISTÓRIA

BATALHA NAVAL AO LARGO DO CABO DE SÃO VICENTE

O mar era um caldeirão a ferver FOTO D.R.

RAMIRO SANTOS Jornalista ramirojsantos@gmail.com

É

considerada a última batalha exclusivamente travada entre navios de vela em águas portuguesas. E foi decisiva para o desfecho da guerra civil de 1832-1834. Um conflito que opôs os liberais afectos a D. Pedro, regente em nome da Dª Maria II, aos realistas de seu irmão D. Miguel. As duas armadas enfrentaram-se no dia 5 de julho de 1833, ao largo do Cabo de S. Vicente. Mais do que uma guerra entre irmãos, foi um confronto de duas ideias de poder para o Portugal de então: de um lado, os defensores da ordem real absolutista, do outro, os adeptos de uma mudança constitucional conforme os ventos que sopravam da revolução francesa. O domínio da orla costeira era um objetivo estratégico de importância vital para o desfecho da guerra. O poder estabelecido de D. Miguel, determinado a assegurar a manutenção do regime tradicionalista, detinha o domínio dos mares, enquanto as hostes de D. Pedro viam no controlo da faixa atlântica uma plataforma essencial para apoiar as operações em terra das forças liberais. Neste quadro, o governo pedrista decide enviar para as costas do Alentejo e Algarve uma formação naval com o objetivo de ali fazer desembarcar forças militares que permitissem abrir uma nova frente de guerra civil, avançando sobre Lisboa a partir do sul. A reação dos miguelistas não se fez esperar, tendo deslocado para aquela zona a sua melhor esquadra. Sendo esta batalha entre as tropas dos dois irmãos, acabou, de certa maneira, por ser um conflito marítimo entre portugueses e ingleses, dado que eram britânicos os comandantes que lideravam praticamente todos os navios da armada liberal. O esquadrão afecto a D. Pedro, sob o comando do vice-almirante inglês Charles John Napier, alinhou-se em formação de combate na expectativa da reação da armada miguelista, liderada pelo almirante António Aboim. Os absolutistas eram detentores de uma força militar superior, quer em número de navios, quer no que respeita ao seu poder de fogo. Contavam com 372 peças de artilharia contra as 176 bocas de fogo dos vasos de guerra contrários. As duas armadas avistaram-se no dia

3 de Julho, mas só depois de dois dias de manobras deram início às hostilidades. O dia era de sol, uma sexta feira. Súbita calmia do mar e do vento. A armada miguelista hesitou permitindo à esquadra liberal através de um golpe tático inesperado, iniciar uma operação de abordagem e assalto. As hostes de D. Miguel, preparadas para um duelo de artilharia convencional, foram surpreendidas pelo recurso ao combate de proximidade, quase corpo a corpo, adoptado pelos fiéis de D. Pedro, que lograram anular a desvantagem e de poder de fogo que favorecia as partes inimigas. O almirante inglês deixou o relato escrito: “O inimigo conservava-se em linha cerrada, e reservou o seu fogo até nos acharmos bem a tiro de fuzil (...): o momento era crítico, e todos nós o conhecíamos (...) Eu olhei para cima, esperando ver todos os mastros ao vai-vem; mas a flâmula tremulava no topo, e não obstante o mais tremendo fogo que jamais tinha presenciado, que fazia borbulhar o mar que nos rodeava, como um caldeirão a ferver, o fumo tendo-se dissipado, descobriu aos miguelistas assombrados a (nossa) fragata Rainha”.

Aproveitando a confusão do primeiro embate, Napier lançou-se à abordagem do inimigo, tentando o aprisionamento dos seus navios: “A este tempo ainda nós não tínhamos dado um só tiro, (...) o chefe de Divisão Wilkinson e o capitão Carlos Napier, comandando a gente d'abordagem saltaram de cima das âncoras para a amurada da nau (miguelista), e levaram adiante de si aquela parte da guarnição ao longo dos bailéus de bombordo”. E o almirante prossegue a sua descrição: “Eu não tinha tenção de ser um dos da abordagem, tendo bastante que fazer em tomar cuidado na esquadra, porém, o impulso era demasiadamente forte, e achei-me, quase sem saber como, em cima do castelo de prôa da nau, acompanhado de um ou dois oficiais. Ali fiz pausa, até que saltando mais gente dentro do navio, corremos para ré dando um grande: Viva! - e ou passámos pelo meio, ou repelimos pela escotilha grande abaixo, uma partida dos inimigos”. Sem poupar nos pormenores, Napier adiantou: “Neste momento recebi um severo golpe com um pé-de-cabra, cujo dono não escapou a salvo, e o pobre Macdonough, caiu a meu lado trespassado por uma bala

de fuzil; Barreiros, comandante da nau, apresentou-se na minha frente, ferido no rosto, e batendo-se como um tigre. Era um homem valente; eu salvei-lhe a vida. Veio depois o 2.° comandante, e atirou-me uma tão boa cutilada, que não tive coração para lhe fazer mal; também ficou salvo. Barreiros pegou outra vez em armas, e a final foi morto na câmara”. Após estes e outros combates corpo a corpo e disparos à queima roupa, com perdas para ambos os lados, os navios miguelistas começaram a render-se . “Estávamos já senhores da tolda (...) Dentro em poucos minutos tudo estava tranquilo; a última coberta tinha-se rendido, e muitos dos marinheiros portugueses saltaram para cima da tolda para salvar-se, trazendo tiras de lona branca nos braços esquerdos. Outros puderam passar-se para bordo do meu navio. Dei ordem a D. Pedro para tomar posse da nau e dei caça ao Martim de Freitas e ao Vila Flor. A corveta Princesa Real, rendeu-se também. Pouco tempo depois estava eu prolongado com a Nau Rainha (navio Almirante) que se rendeu sem dar um único tiro”. Nas contas de Napier, no respeitante à perda de vidas, a esquadra liberal

“andou por uns noventa mortos e feridos” enquanto os miguelistas perderam “duzentos a trezentos homens”. O desastre foi enorme, e com esta batalha a armada fiel a D. Miguel praticamente desapareceu. Os liberais ficaram com o domínio pleno do mar, o que se veio a revelar fundamental para a sua vitória na guerra menos de um ano depois. Antecipando este confronto marítimo, as tropas liberais chefiadas pelo duque da Terceira, haviam desembarcado a 24 de junho na praia da Alagoa, entre Cacela e Monte Gordo, conquistaram o Algarve, e iniciaram a sua progressão em direcção a Lisboa e à vitória final. Derrotado, D. Miguel viu-se forçado a abdicar a favor de D. Maria II, na Convenção de Evoramonte assinada a 26 de Maio de 1834. Dia do seu 33º aniversário. Partiu num barco inglês, de Sines para o exílio, de onde já não regressou em vida.

Fontes: “A guerra de sucessão em Portugal”, Charles Napier, com trad. de Manoel Codina; “As guerras liberais, Revista da Armada, nº 488”, Moreira Silva; Gravura da Biblioteca Nacional; outras


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MARCA D'ÁGUA

Outono, tempo de perdas e de ganhos MARIA LUÍSA FRANCISCO Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa luisa.algarve@gmail.com

comportamental associada ao Outono, este tempo pode ser aproveitado para amadurecimento e para preparar novos frutos. No meio de tantos acontecimentos é preciso saber gerir a mudança que está a acontecer a vários níveis. As novas regras da Direcção-Geral da Saúde, nomeadamente a menor exigência em relação ao uso de máscara e a aberturas de certos espaços de diversão, trarão mudanças nos comportamentos sociais. Os resultados eleitorais trarão mudanças nas iniciativas de várias autarquias e na vida pessoal de muitos autarcas (tanto na vida dos que ganharam como na dos que perderam). Quem expôs os seus sonhos e não saiu vencedor, que veja neste novo ciclo de quatro anos, até novo momento eleitoral autárquico, uma nova possibilidade. Ver na melhor perspectiva, ou seja, perder uma eleição não é perder a esperança, mas ver como uma

oportunidade de se abrirem outros caminhos, muitas vezes inesperados. Pode não se ser vencedor eleitoral, mas pode ser-se vencedor a nível de crescimento pessoal, pois a vida política é uma escola. Depois há o dilema da oposição, ajudar os que ficaram dando sugestões construtivas ou guardar e melhorar as ideias para quatro anos depois? Pegando no tema do meu anterior artigo em que dei enfoque ao “cooperar em vez de competir” a nível desportivo, penso que se aplica também a nível político. O importante é saber gerir a mudança, porque mudar não é um drama, mas é uma oportunidade, até para quem perde. É crucial haver desenvolvimento e relembrar que o desenvolvimento se não for sustentável não é desenvolvimento. O conceito é bastante amplo e aplica-se a todas as áreas, nomeadamente

FOTO D.R.

N

o rescaldo do Verão chega um Outono cheio de novidades políticas. O Outono traz consigo a sabedoria das escolhas. É hora de decidir, de avançar, de dar novos passos em frente e iniciar novos ciclos. A Natureza tem tanto para nos ensinar. Sabemos bem a importância de libertar velhos padrões e sistemas de crenças que já não nos servem nem nos acrescentam, para que assim, definitivamente nos possamos renovar com uma nova atitude, com uma nova consciência. É urgente aprender a ser e a despir

as carapaças que não são nossas, a largar os pensamentos que não nos pertencem, a libertar sentimentos que nos intoxicam... É urgente aprender com as vivências que temos tido e deixar vir ao de cima o nosso Eu genuíno. É urgente pensar o presente olhando o futuro, na política e na vida. Se prestarmos mais atenção aos detalhes da Natureza, perceberemos que cada estação do ano traz mensagens e convites específicos. No entanto, muitas vezes não conseguimos vislumbrar esses sinais porque insistimos nas nossas perspectivas pré-formatadas. Quando as árvores começam a perder as suas folhas, também devíamos perder velhos hábitos, velhos ressentimentos e ganhar novos polos de esperança, de vontade de (re) construir e de criar um ambiente renovado à nossa volta. Ao contrário de apatia e tristeza

à ecologia, à saúde, ao apoio social, à cultura e à mobilidade inclusiva. Ficam os votos de boas concretizações para as equipas que iniciam os seus mandatos e o incentivo de procurar inspiração na Natureza que se renova entre perdas e ganhos. Este novo trimestre, o último de 2021, com tantas mudanças e expectativas de voltar à vida pré-pandemia, ditará, em muito, o que será 2022. *A autora não escreve segundo o acordo ortográfico

ESPAÇO AGECAL

A casa do sul e as alterações climáticas JORGE QUEIROZ Sociólogo, sócio da AGECAL

"O tempo passado nunca é absolutamente passado e por vezes o presente está mais próximo do passado que do futuro”. Fernand Braudel

E

m muitos lugares encontramos testemunhos de um passado recente, o mundo camponês e marítimo que desaparece alterado nos seus princípios de vida colectiva e valores milenares. Muitos interpretam esse património herdado como atraso ou pobreza, sem entender a sabedoria que guarda, transmitida por gerações que viveram ao longo de séculos no

multifacetado espaço geocultural mediterrânico, da Grande Grécia à Ibéria Atlântica. O mar é, desde os primórdios, elemento central dessa cultura de viagens e comércio, que levou milhões de pessoas a partirem, com o pensamento no regresso à terra e à casa. A base da agricultura foi a escolha das boas sementes, partilhadas com os vizinhos, permitiram combater fomes cíclicas e alimentar as famílias, ter os cereais armazenados junto às casas. Perto destas sempre as hortas e os pomares, os animais domésticos, os poços e fornos comunitários, nas montanhas estavam os rebanhos. Duas produções emergiram com esplendor no mundo mediterrânico: o vinho e o azeite. Grécia e Roma espalharam-nas pelas margens do “grande lago”, usadas para consumo

alimentar, fins simbólico-religiosos, medicinais, sanitários e utilitários. A casa e a mesa foram o centro da aprendizagem e transmissão de valores sociais. Em Portugal a casa é uma das evidencias da diversidade do País, numa síntese Orlando Ribeiro subdividiu o território em duas “civilizações”, do granito a norte e do barro a sul, contudo, no que se refere à habitação, existem diferentes tipologias e características. A casa do Sul é muito mais que uma arquitectura de linhas equilibradas e volumes harmoniosos, é um manancial de sabedoria e soluções para problemas vitais: o sol e os ventos dominantes, amplitudes térmicas e climatização, aproveitamento das águas pluviais, higiene com o uso da cal, alimentos acessíveis para a família alargada. A terra foi o material construtivo

RESTAURANTE O TACHO

Restaurante de estilo familiar Take-Away: Entrega ao domicílio em Tavira

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mais utilizado na habitação do sul, sendo obtida no local permitia economias significativas e autonomia nas decisões. Com a terra se construíram alguns dos monumentos mais visitados, que resistiram ao tempo. A arquitectura da terra faz uso das técnicas da “taipa”, com cofragem em madeira e terra compactada, do “adobe” feito de blocos de argila e areia, moldados e secos, do “tabique” que resulta da aplicação de terra sobre madeira e cana. Barato e ecológico… O Algarve é uma região rica na organização dos espaços e nas tipologias construtivas, casas térreas pequenas e de duas águas, habitações enriquecidas com chaminés, platibandas decoradas, terraços para secagem de roupas e alimentos (figos, peixes, polvos, …), “montes” nas zonas serranas aproveitando o

xisto, casas urbanas de maiores dimensões com quatro águas e vários pisos, entre outras. Será possível aproveitar esta sabedoria ancestral para revalorizar a região? Sim, com o estudo da história cultural, reordenamento territorial e estímulos demográficos, investigação aplicada a novos projectos de bairros, de habitações familiares e de espaços públicos, com paisagens preservadas num território vivo, produções ambientalmente adequadas para mercados de proximidade. Contemporaneidade evoluída e culta, respeitadora do Ambiente e da História. Conter as alterações climáticas é também aproveitar o saber incorporado na casa do sul. * O autor não escreve segundo o acordo ortográfico


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LETRAS & LEITURAS

Integrado Marginal, Biografia de José Cardoso Pires, por Bruno Vieira Amaral

Bruno Vieira Amaral dedicou três anos de trabalho à biografia de José Cardoso Pires FOTO MÁRIO SANTOS / CONTRAPONTO / D.R.

PAULO SERRA Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL

E

m junho deste ano, foi publicada a biografia de José Cardoso Pires, intitulada Integrado Marginal, publicado pela Contraponto. Resultado de três anos de trabalho do premiado escritor Bruno Vieira Amaral, representa o terceiro volume da coleção de Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa Contemporânea, onde

figuram O Poço e a Estrada – Biografia de Agustina Bessa-Luís, de Isabel Rio Novo (já apresentada no Cultura.Sul). A sinopse do livro dá bem conta de como Cardoso Pires foi visto de formas tão desencontradas: «Notívago, boémio, brigão. Receoso de que a imagem pública lhe ensombrasse os méritos literários. Crítico do marialvismo. Acusado de ser marialva. Bem relacionado. Obcecado com a própria independência. O maior escritor da segunda metade do século XX. Um escritor datado e sem a mesma projeção internacional de um Lobo Antunes ou de um Saramago. Um espírito insubmisso. Um casamento duradouro. A convicção e a crença no próprio trabalho.» Biografia escrita com um certo pendor narrativo, que embala o leitor logo de início, sem, no entanto, romancear, pois o autor da biografia é aqui praticamente invisível, a não ser por uma fina ironia que o denuncia em diversos momentos, com ligeiras notas de humor. Por exemplo, quando o biografado vinga o falecido irmão a propósito de uma

nota inconveniente de um repórter: «Cardoso Pires descobriu quem tinha sido o autor da brincadeira, foi à sua procura e deu-lhe um enxerto de porrada no Chiado (aparentemente, o Chiado era o palco preferencial para espancar jornalistas e críticos).» (p. 132). Ou quando se narra como Cardoso Pires terá feito, «ao melhor estilo marialva, um avanço a uma senhora» (p. 245) que estava acompanhada do marido que, entretanto, foi aterrar em cima do piano da boate. A alusão ao machismo marialva é, naturalmente, um piscar de olhos ao leitor conhecedor de uma das obras de referência de Cardoso Pires: O Delfim. Mas o que fica nítido ao longo da biografia é o modo como Cardoso Pires, apesar do seu círculo de amizades, fugia a essa «espécie de mofo de biblioteca tão característico da s sumidades literá r ia s», preferindo os bares recheados da fauna da Almirante Reis que marcou a sua juventude: «os excluídos, os vadios, as prostitutas, os pequenos criminosos, os mânfios lisboetas que nada sabiam de literatura, mas

que sabiam tudo sobre a vida e a noite» (p. 244). Bruno Vieira Amaral consegue ainda a proeza de desempoeirar a literat ura , como, muito especialmente, de nos fazer sentir a opressão que se viveu durante os 48 anos de ditadura portuguesa; Cardoso Pires foi acompanhado muito de perto pela PIDE e recebe um dos golpes da sua vida ao saber que o informador era um amigo próximo. «O cigarro era a extensão natural dos seus dedos, o fumo a extensão natural dos seus pensamentos. Dizia escrever com o bico do aparo, mas escrevia era com o fumo do cigarro, companheiro fiel das centenas de horas solitárias a arrancar de si páginas e personagens e vozes e palavras, as palavras certas.» (p. 522) Não obstante a voz narrativa, que torna a leitura prazerosa e compulsiva, se manter intacta ao longo de todo o livro, a biografia é rigorosamente documentada, e sempre que possível faz eco das palavras do próprio Cardoso Pires. O livro termina, aliás, com

Líbano, Labirinto, de Alexandra Lucas Coelho

Alexandra Lucas Coelho já recebeu vários prémios de jornalismo e de literatura FOTO RUI GAUDÊNCIO / D.R.

Líbano, Labirinto, de Alexandra Lucas Coelho, publicado pela Editorial Caminho em julho deste ano, é uma revisitação da autora a um país que lhe é querido. Quase 500 páginas de texto e 350 fotografias a cores resultam num livro em que se poderia assumir que a autora articula a reportagem e a narrativa de viagens, não fosse este cenário ser particularmente desolador. O livro inclui ainda as 5 reportagens que saíram no Público. Líbano, Labirinto centra-se nos dois grandes acontecimentos recentes que mudaram a vida do país e o deixaram em ebulição: a revolução de 2019, com a derrocada económica, e a explosão de 2020 no Porto de Beirute, uma das maiores explosões não-atómicas de que há registo.

O Líbano é «o terceiro país mais endividado do mundo. Um terço da população está abaixo do nível da pobreza. Um quarto da população é refugiada.» (p. 54) A saúde e o ensino público não funcionam, as quebras de luz são constantes e a falta de água potável exige camiões-cisternas. Entretanto, são alguns responsáveis políticos, corruptos, quem detêm as companhias dos geradores, os camiões-cisternas, os hospitais privados, as universidades privadas, as seguradoras e os bancos. Depois de uma série de despedimentos, com a crise do petróleo, os bancos fechados, as pessoas impedidas de levantar o seu dinheiro, a libra a desvalorizar vertiginosamente, os salários a descer; a «bolha pósGuerra Civil» (p. 55) acaba por levar a uma revolução. Na manhã de 17 de Outubro de 2019 os ânimos deflagram, quando o governo anuncia uma taxa de 6 dólares por mês nas comunicações por WhatsApp. A autora parte numa viagem de 3 dias; está em Beirute justamente quando o governo cai. Corre o dia 4 de Agosto de 2020 quando Beirute é varrida por uma explosão. Estamos em plena pandemia, com a maioria dos

países confinados e os aeroportos fechados, quando a autora decide, num impulso, partir para o Líbano. Essa explosão, que pode ser vista em vídeos difundidos pela internet, é o resultado da irresponsabilidade homicida dos responsáveis políticos que deixaram 2750 toneladas de nitrato de amónio durante quase sete anos no porto de Beirute. Um país que vive permanentemente em guerra, mas que não tinha um plano de contingência para uma catástrofe destas. Uma explosão que lembra a guerra do Líbano e a de países vizinhos, visível numa mancha púrpura de fumo a 60 km de distância. Nesta «conversa que não queremos terminar» (p. 422), num estudo de uma tragédia que é também a da Síria, da Palestina, de um Médio Oriente, Alexandra Lucas Coelho estuda um dos mais pequenos países do mundo com uma memória colectiva imensa (pela comida, pela literatura, pela cultura), onde convivem milhares de anos de paradoxos (p. 423). Biografia de um país, em que um dos maiores feitos é como, não obstante o conhecimento que tem do Líbano, feito de vivência, complementado com leitura, a autora se subsume

A obra é uma revisitação da autora a um país que lhe é querido

numa prosa sucinta, cirúrgica, em que colige um labirinto de vozes e depoimentos, neste retrato cru de um país que vive literalmente em ruínas e que muitos de nós sempre conhecemos em guerra, onde partir é um «perpétuo movimento» (p. 14). A lex a nd ra Luc a s Coel ho publicou romances, não-ficção e literatura infanto-juvenil. Estudou Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Trabalhou dez anos em rádio e vinte anos no jornal Público como repórter, cronista, editora e correspondente. Recebeu vários prémios de jornalismo e de literatura. PS

A biografia é rigorosamente documentada e, sempre que possível, faz eco das palavras do próprio Cardoso Pires

o último sopro de vida de Cardoso Pires. Quaisquer considerações que houvesse a tecer, o biógrafo já as deixou expressas nos momentos próprios, como por exemplo um certo ressentimento – que parece vir do próprio biografado – de que a vida é breve demais para todos os projectos que se deseja passar ao papel, mesmo que não falte na vida o combustível da escrita. Curiosamente, no caso paradigmático de Cardoso Pires, que gostava de reunir toda a informação possível e era obsessivo a reescrever e emendar a sua prosa, o autor sempre rejeitou partir da sua história de vida para fazer literatura: nunca usara «a infância como motor e combustível da escrita» (p. 539), nem escreveu nada ligeiramente passível de ser apontado como autobiográfico. Ironicamente, é ao lançar De Profundis – Valsa Lenta, que se consolida o sucesso do autor. Recebido com uma chuva de prémios e elogios, esse livro é um testemunho profundamente íntimo, escrito na primeira pessoa, do que Cardoso Pires sofreu após um AVC em que (caso raro) até a fala lhe saía ao contrário e começou a falar em latim. Ao retratar o biografado, Bruno Vieira Amaral acompanha ainda o círculo íntimo de Cardoso Pires, dos escritores mais próximos, e os mais avessos. Agustina-Bessa Luís, pasme-se, não é vista a uma luz muito simpática (e várias vezes mencionada por Cardoso Pires nas suas notas escritas como Beça Luís), e é com alguma alegria que descobrimos a amizade de Cardoso Pires com Lídia Jorge. Uma nota final ao livro: não faria mal ter-se incluído uma pequena fotobiografia do autor. A capa e o título assentam que nem uma luva.


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CADERNO ALGARVE

Postal, 8 de outubro de 2021

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CADERNO ALGARVE

Postal, 8 de outubro de 2021

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A NÚNCIOS REGIÃO

ISABEL NUNES DE ALMEIDA NOTÁRIA CARTÓRIO NOTARIAL DE CASTRO MARIM - ALGARVE CERTIFICADO Nos termos do número 1, do artigo 100º, do Código do Notariado, eu, Isabel Alexandra Dinis da Silva Esteves Nunes de Almeida, Notária no Cartório Notarial de Castro Marim, Urbanização Castro Marim Sol, lote 2, 1º E, certifico que, no dia vinte e oito de Julho de dois mil e vinte e um, foi lavrada neste Cartório, de folhas 41 a folhas 43 do Livro de Notas para Escrituras Diversas número Trinta e Nove-A, uma escritura de justificação, na qual outorgaram LUÍS MANUEL DA PALMA SOARES, natural da freguesia e concelho de Olhão, e sua mulher, MARIA EDUARDA RODRIGUES EUGÉNIO SOARES, natural da freguesia de Conceição, concelho de Tavira, casados sob o regime da comunhão geral de bens, residentes na Rua da Fortaleza, número 14, primeiro esquerdo, 8800-595 Tavira, os quais declararam que são donos e legítimos possuidores, com exclusão de outrem, do PRÉDIO URBANO situado no cruzamento da Estrada Nacional Cento e Vinte e Dois (EN 122) com o Largo do Mercado, no lugar e freguesia de Azinhal, concelho de Castro Marim, composto por Edifício térreo com uma divisão, destinado a habitação, com a área total de trinta e nove vírgula sete metros quadrados, a que corresponde a área coberta ou de implantação de trinta e um vírgula sete metros quadrados, não descrito na competente Conservatória do Registo Predial de Castro Marim, a confrontar a NORTE com Rua Largo do Mercado, a SUL com José Luis Soares, a NASCENTE com José das Dores Palma e a POENTE com Estrada Nacional Cento e Vinte e Dois (EN 122), inscrito na respetiva matriz predial urbana sob o artigo número 1679, da referida freguesia de Azinhal, com o valor patrimonial tributável de 5.390,00€, ao qual atribuem o mesmo valor.

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geral@previa.pt Tel.: 289 393 711 | 289 824 861 Rua Sport Faro e Benfica nº 4 A 8000 - 544 Faro

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Que não possuem qualquer título formal que legitime o domínio do mesmo prédio, já que o mesmo foi adquirido, já no estado de casados entre si, em dia e mês que não podem precisar do ano de mil novecentos e noventa, por doação verbal feita por José Luis Soares e Antónia Rodrigues Fernandes, casados que foram sob o regime da comunhão geral, ambos falecidos, com última residência habitual na mencionada Rua da Fortaleza, número 14, primeiro esquerdo, 8800-595 Tavira e na Rua Dr. António Malafaia Teles, 8, primeiro, em Olhão, pais e sogros, respetivamente, dos ora justificantes.

Convocam-se todos os associados da Associação Oncológica do Algarve (AOA) para a Assembleia Geral Ordinária a realizar no dia 29 de outubro, às 16:30 horas, no Instituto D. Francisco Gomes, Rua Dr. José de Matos Estrada do Bom João, 8000-501, Faro, com a seguinte ordem de trabalhos:

Que, em virtude da distância temporal, desconhecem quando e como o referido prédio chegou à posse do referido dissolvido casal.

3 - Eleição dos Órgãos Sociais para o Quadriénio 2021-2025.

Que desconhecem a proveniência do mencionado artigo matricial.

Caso à hora marcada não esteja presente o número de associados necessário para formar quórum, a Assembleia Geral reunirá meia hora depois, com o número de associados presentes.

Que, desde aquela data, de dia e mês que não podem precisar do ano de mil novecentos e noventa, os ora primeiros outorgantes, possuem efetivamente o dito prédio, sem qualquer interrupção, usufruindo o mesmo, ocupando-o, praticando os atos normais de defesa da propriedade, com ânimo de quem exercita direito próprio, sendo reconhecido como propriedade sua por toda a gente, fazendo-o de boa fé, por ignorarem lesar direito alheio, pacificamente porque sem violência, contínua e publicamente, à vista e com conhecimento de todas as pessoas, agindo sempre por forma correspondente ao exercício pleno do direito possuído, sem oposição, embargo ou estorvo de quem quer que seja e tudo isto por lapso de tempo superior a vinte anos Que, dadas as enunciadas características de tal posse, os ora primeiros outorgantes adquiriram o identificado prédio por usucapião, título este que, por natureza, não é susceptível de ser comprovado pelos meios normais. Que, não tendo qualquer outra possibilidade de levar o seu direito ao registo predial, vêm justificá-lo nos termos legais, por usucapião fundada em posse que teve o seu início após do casamento entre ambos, pelo que, o identificado imóvel pertence à massa patrimonial dos seus bens comuns.

1 - Apresentação, discussão e votação do Programa de Ação para o ano 2022; 2 - Apresentação, discussão e aprovação do Orçamento para o ano 2022;

Devido à COVID-19 todos os associados deverão comparecer com máscara, respeitar o distanciamento físico recomendado (distância de segurança de 1,5 a 2m), observar as regras de etiqueta respiratória e higienizar frequentemente as mãos, conforme normas da Direção-Geral da Saúde. Faro, 27 de Setembro de 2021 A Presidente da Assembleia Geral Dra. Nídia Maria Manjua Brás Jesus (POSTAL do ALGARVE, nº 1272, 8 de Outubro de 2021)

Está conforme o original. Castro Marim, vinte e oito de Julho de dois mil e vinte e um A Notária Isabel Alexandra Dinis da Silva Esteves Nunes de Almeida Conta registada sob o n.º 1461Fatura/Recibo: FAC 1008/2021 Data de Emissão: 28/07/2021 (POSTAL do ALGARVE, nº 1272, 8 de Outubro de 2021)

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Primeira ‘Aldeia Lar’ para idosos do país existe há 30 anos no Algarve

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Aldeia de São José de Alcalar, em Portimão, funciona como um grande lar residencial. Alguns dos idosos residentes na aldeia social encontraram naquele espaço a “qualidade e liberdade” para viverem a velhice. Concluída em 1990, a aldeia social com mais de 100 residentes foi edificada de raiz na freguesia da Mexilhoeira Grande, nos arredores de Portimão, numa área com mais de dois hectares [equivalente a dois campos de futebol] sendo composta por 52 apartamentos de tipologia T1, T2 e T3. As moradias geminadas estão inseridas em dois blocos circulares, num complexo criado para “dar uma alternativa digna aos mais velhos” com serviços de apoio, entre os quais lavandaria, refeitório, salas de convívio, serviços médicos e de enfermagem e espaços ajardinados. A construção da aldeia de São José de Alcalar foi financiada com doações das sociedades portuguesa e alemã, este último país onde o pároco da Mexilhoeira Grande estudou quatro anos e prestou serviços religiosos durante mais de 40 anos. Este modelo de funcionamento já chegou ao conhecimento dos japoneses, que vieram a Alcalar para ver e instalar nos subúrbios de uma cidade japonesa, este modelo, segundo noticiou o jornal Mundo Português. Domingos Costa, o mentor da primeira ‘Aldeia Lar’ para idosos, implementada há 30 anos em Alcalar, disse à Lusa que “o sonho e a razão” que o levou a construir uma aldeia para idosos, foi para apoiar os mais pobres e de ver “famílias de pessoas em idade avançada com filhos deficientes e de viverem angustiados com medo de morrerem e de os deixarem abandonados”. Para o padre jesuíta, o que distingue este modelo para acolhimento de idosos, é o facto de ser uma aldeia com casas, jardins, passeios, liberdade, sem limitações de horários para os residentes receberem visitas, sem portões, onde cada um está na sua casinha, “ao contrário dos lares onde está tudo estabelecido e tudo regulado”. “Não fica ninguém ao abandono apesar de cada um ter a sua casinha, a sua chave”, frisou o pároco, acrescentando que “votadas ao abandono estavam elas [pessoas] em casa se não tivessem vindo para aqui”. De acordo com o padre jesuíta, a prioridade na admissão à aldeia não é pela ordem de inscrição, mas sim pela necessidade e pela sua condição social, “sendo a prioridade dada a quem esteja mais abandonada, sem família ou que, por exemplo, sofreu um AVC [acidente vascular cerebral]”.

Casas mais baratas ‘empurram’ portugueses para Ayamonte As zonas de Ayamonte, junto a Vila Real de Santo António e de Ciudad Rodrigo, perto de Vilar Formoso, estão entre as mais procuradas de Espanha pelos portugueses A falta de oferta de habitação e a inflação de preços no mercado imobiliário nacional está a empurrar os portugueses que trabalham

na raia, a linha de fronteira que separa a Península Ibérica, a optarem por residir em Espanha e trabalhar em Portugal. Enquanto na zona de fronteira algarvia o arrendamento atinge os €600, ou mais, do lado espanhol a pujança imobiliária, alimentada pela conclusão de dezenas de edifícios cuja construção tinha ficado suspensa com a crise económica, está a atrair cada vez mais nacionais, que ali arrendam apartamen-

Últimas Sismo de 3.6 registado no Algarve Pelas 07:08 (ho-

tos por metade do preço. Apartamentos e vivendas, em condomínio fechado, com piscina e mobilados, e a escassos quilómetros de Portugal e do trabalho. Segundo o Expresso, para os trabalhadores transfronteiriços, que procuram em Ayamonte ou Ciudad Rodrigo qualidade de vida e habitações mais acessíveis, morar em Espanha pode representar pagar metade dos valores praticados em Portugal.

ra local) desta quarta-feira foi registado nas estações da Rede Sísmica do Continente, um sismo de magnitude 3.6 (Richter) e cujo epicentro se localizou a cerca de 60 km a Sul de Olhão. Segundo o IPMA, não causou danos pessoais ou materiais e foi sentido com intensidade máxima III (escala de Mercalli modificada) no concelho de Tavira. Foi ainda sentido com menor intensidade no concelho de Olhão.

Despiste faz ferido grave Um ferido grave e

Espetáculo Madagascar em Albufeira no domingo

outro ligeiro foi o resultado do despiste de um veículo ligeiro que ocorreu na manhã desta quarta-feira no IC27, no Azinhal, concelho de Castro Marim. Segundo o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro, os feridos, dois homens de 41 e 29 anos, foram levados para o Hospital de Faro, tendo este último, que se encontra em estado grave, sido transportado pelo helicóptero do INEM.

Detido por violência doméstica em Silves A

A MUSICAL ADVENTURE Junta-te a Alex, o

Leão, Marty, a Zebra, Melman, a Girafa, Glória, o hip-hipopótamo e, claro, àqueles hilariantes, conspiradores pinguins! Finalmente chegou ao Algarve a aventura musical de uma vida para toda a família. O Espetáculo Madagascar, com encenação de Paulo Sousa Costa, vai estar em exibição no próximo domingo, dia 10 de outubro, no Auditório Municipal de Albufeira pelas 15:30. Baseado no filme de animação da DreamWorks, Madagáscar, uma Aventura Musical, conta a história de um grupo de amigos inseparáveis, que escapam de sua casa no zoológico do Central Park, em Nova Iorque, e se deparam com uma viagem

inesperada ao mundo insano de Madagáscar. Alex, o leão, é o rei da selva urbana, a principal atração do zoológico do Central Park, em Nova Iorque. Ele e os seus melhores amigos - Marty, a zebra, Melman, a girafa e Glória, o hipopótamo - passaram a vida inteira em cativeiro, felizes, diante de um público que os admira e com refeições regulares. Não contente com a vida que tinha, Marty deixa a sua curiosidade levar a melhor e planeia toda uma fuga – com a ajuda de alguns pinguins prodigiosos – para explorar o mundo! Repleto de personagens divertidas e aventureiras, Madagáscar deixa o público sem escolha a não ser “Move It, Move It!”

Garvetur Luxury com nova diretora-geral SUSANA RODAS, com 24 anos de experiência nos mercados nacionais e angolanos, foi nomeada diretora-geral da marca Garvetur Luxury numa “estratégia de consolidação no segmento 'prime' do mercado, com especial incidência no Algarve”, anunciou a mediadora imobiliária. “Queremos consolidar o po-

GNR deteve esta quarta-feira em flagrante um homem de 70 anos por violência doméstica, no concelho de Silves. Após uma denúncia que estaria a ocorrer uma situação de violência doméstica, os militares deslocaram-se ao local e depararam-se com a irmã e a filha do suspeito a pedirem auxilio. "Durante as diligências policiais, o suspeito que se encontrava embriagado, desferiu um soco na sua irmã, de 71 anos, tendo os militares procedido de imediato à sua detenção", explica a GNR.

sicionamento da marca no segmento de mercado ‘luxury’, aproveitando o 'know-how' acumulado do grupo, que conta já com quatro décadas de presença no mercado, demonstrando a resiliência e atratividade que o destino Portugal, e particularmente o Algarve, mantém”, salienta o presidente executivo (CEO) da Garvetur, Reinaldo

Teixeira. Formada em Economia, pela Nova School of Business and Economics, Susana Rodas colaborou com empresas como a Deloitte, na área de 'corporate finance', como consultora especializada nas áreas de Turismo e Real Estate e a IMOCOM proprietária dos hotéis Hilton Vilamoura e Conrad Algarve.

Idosos detidos por caça ilegal A GNR deteve

Distribuição quinzenal nas bancas do Algarve

Tiragem desta edição

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POSTAL regressa a

22 de outubro

este domingo dois homens de 74 e 75 anos, pelo crime de caça em terreno não cinegético, a menos de 250 metros de habitações e povoados, na localidade de Monte Ruivo, concelho de Loulé. Durante uma ação de fiscalização ao exercício do ato venatório, os militares "detetaram os suspeitos a caçar em terreno não cinegético, ou seja, em terreno onde não é permitida a caça, nomeadamente nas proximidades de um povoamento, que constitui uma área de proteção". Após a realização de uma revista aos suspeitos, foram apreendidas 2 armas de fogo calibre 12, 39 cartuchos calibre 12, 2 cartas de caçador, 2 livretes de arma de fogo.


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