Cultura.Sul 150 8MAI2021

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Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o

MAIO 2021 n.º 150 7.193 EXEMPLARES

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ARTES VISUAIS

O trabalho dos profissionais de saúde pode ser valorizado através da arte?

Direção: GORDA, Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Responsáveis pelas secções: • Artes Visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz

SAÚL NEVES DE JESUS Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

• Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Filosofia Dia-a-dia: Maria João Neves • Fios De História: Ramiro Santos • Letras e Literatura: Paulo Serra Colaboradores desta edição:

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o último ano as pessoas aperceberam-se que os profissionais de saúde têm um papel fundamental na nossa vida, nomeadamente porque muitas vezes dependemos deles para nos mantermos vivos. Os profissionais de saúde são dos que apresentam níveis de exaustão mais elevados, de acordo com investigações realizadas em vários países, desde há alguns anos. No entanto, os níveis de stresse e burnout nunca foram tão elevados como os verificados no último ano, tendo estes profissionais que superar constantemente os seus próprios limites para conseguir dar resposta aos cuidados de saúde necessários em virtude do elevado número de casos de Covid-19. Um pouco por todo o mundo e das mais diversas formas ocorreram manifestações de agradecimento e reconhecimento a estes profissionais. Uma dessas manifestações foi concretizada por Bansky, ao homenagear os profissionais de saúde com uma obra de arte. Banksy é um dos artistas mais conceituados na atualidade, criando imagens visuais que pretendem ajudar a refletir sobre o mundo à nossa volta, nomeadamente sobre temas sociais. Os seus trabalhos chegam a atingir vários milhões de euros em leilões. Um episódio muito mediatizado ocorreu em outubro de 2018, quando a obra “Girl with balloon” (“Rapariga com balão”) se “autodestruiu”, desfazendo-se em tiras ao passar por uma trituradora de papel instalada na parte inferior do quadro, depois de ser vendida por 1,04 milhões de libras (1,18 milhões de euros) na leiloeira londrina Sotheby's. Desta vez criou uma pintura, “Game

Ficha técnica

Saúl Jorge Lopes Parceiro: Direcção Regional de Cultura do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve FB: https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve

por 9,9 milhões de libras, em 2019. Não obstante todo o sucesso, a identidade de Banksy permanece um mistério, pois procura manter o anonimato, chegando a afirmar que “o anonimato é um superpoder”,

“Game Changer” (Bansky, 1,00 x 1,00 m; 2020)

Changer” (“Jogador desafiante”), com um metro quadrado, quase totalmente monocromática, que mostra um rapaz que havia jogado os bonecos Batman e Homem-Aranha no lixo, para passar a brincar com uma enfermeira do NHS (sigla inglesa para o Serviço Nacional de Saúde) que usa máscara, capa e um avental com o emblema da Cruz Vermelha, único elemento com cor. O braço da enfermeira surge estendido e apontando para a frente, como uma verdadeira super-heroína em missão na luta contra a Covid-19. Esta obra foi oferecida ao Hospital Geral de Southampton, em maio de 2020, tendo sido pendurada perto da unidade de emergência. Juntamente com o quadro, o artista

FOTOS D.R.

deixou um bilhete aos funcionários do hospital, em que escrevia o seguinte: "Obrigado por tudo o que estão a fazer. Espero que isso ilumine um pouco o lugar, mesmo que seja apenas a preto e branco". Paula Head, diretora do hospital, afirmou que “o facto de Banksy nos ter escolhido para reconhecer a excelente contribuição de todos nós, em tempos sem precedentes, é uma grande honra". Disse ainda que o gesto "será realmente valorizado por todos no hospital, pois as pessoas poderão fazer uma pausa, refletir e apreciar a obra de arte". Entretanto, a tela do hospital foi recentemente substituída por uma réplica para que a obra original pudesse ser leiloada, procurando

arrecadar recursos para o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS). Tal aconteceu no dia 23 de março de 2021, tendo o leilão realizado pela Christie’s sido antecedido de um minuto de silêncio para lembrar as mais de 126 mil pessoas que tinham perdido a vida no Reino Unido por causa da Covid-19. A obra foi vendida por 16,7 milhões de libras (quase 19,5 milhões de euros), valor quase cinco vezes maior ao estimado inicialmente e batendo o recorde atingido em leilões anteriores com obras de Bansky. O recorde de Banksy tinha sido alcançado com a obra "Devolved Parliament", uma gigantesca obra que retrata os deputados britânicos como chimpanzés, que foi vendida

Obra “Game Changer” no Hospital de Southampton

encontrando-se em contra corrente com aquilo que se passa com a maioria das pessoas na atualidade, em que toda a vida é exposta através das redes sociais. Os seus trabalhos nunca são assinados, tendo apenas uma conta no Instagram, onde publica as imagens das obras que vai realizando em paredes um pouco por todo o mundo, o que serve de autenticação para as mesmas. Mas esta situação reforça a atitude de missão com que Bansky realiza as suas obras, atitude fundamental também no trabalho realizado pelos profissionais de saúde!


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LETRAS & LEITURAS

Da Meia-Noite às Seis, de Patrícia Reis FOTO MAFALDA GOMES

PAULO SERRA Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL

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a Meia-Noite às Seis, de Patrícia Reis, autora publicada pela Dom Quixote, é um romance claramente inscrito no contexto pandémico que se tem vivido nestes dois anos. Contudo esta não é uma história que se detém na pandemia mas sim no demais que a vida comporta. Uma tessitura narrativa feita de várias vidas um pouco desencontradas, que se encaixam de modo a compor um mosaico que reflecte as nossas próprias vidas nestes tempos. Com início na história de Susana Ribeiro de Andrade, cujo marido morreu em 2022, «durante os dias de combate ao vírus que nunca mais se foi embora, o vírus que chegara há demasiado tempo» (p. 11), o impulso

A capa do livro de Patrícia Reis

de alguns leitores pode ser o de rapidamente pousar o livro, pouco predispostos a uma narrativa que parece claramente imersa num real já por si demasiado opressivo. Meses

depois, Susana é forçada a sair do luto e, até porque não consegue dormir, dá por si a fazer um programa de rádio nocturno, da meia-noite às seis, horário pouco nobre em que ninguém se liga. Mas nesse programa, que tem muito pouco de jornalismo, as directrizes são muito claras e exigem que Susana se mantenha muda, regra que ela acaba por quebrar, com resultados surpreendentes, quando certa noite um ouvinte faz o pedido de que «queria muito ouvir Caetano Veloso, «Cajuína», essa canção que pergunta, existirmos: a que será que se destina?» (p. 72). E esse parece ser o momento-chave de mudança para quem já nem se considerava uma jornalista, «como aliás tinham feito questão de lhe demonstrar várias vezes, aliás, questão de lho fazer ver várias vezes ao longo da sua carreira. Entreter não é informar. Ela sabia.» (p. 61) Susana, tal como a autora deste livro, parece querer pegar em todo o excesso de realidade dos

últimos tempos e dar voz àquilo que está para lá da espuma destes dias de instabilidade, doença e desconhecimento: «Os seus ouvintes entravam numa ilusão, da meia-noite às seis sonhavam e era gratuito.» (p. 171). Até porque no meio de muitas vozes, as da rádio, as da música, e das mensagens áudio de WhatsApp dos ouvintes, há outros que optam simplesmente por deixar de falar. Este é o trabalho magistral de Patrícia Reis neste livro, fazer um libelo das relações humanas e do companheirismo, conforme entretece as histórias de Susana, Rui Vieira e Miguel Noronha, atendendo ao contexto destes estranhos tempos que, todavia, servem apenas como moldura de uma janela que se estende muito além do que a comunicação social nos tem servido. Porque acima das estatísticas e dos números e do pânico resta-nos, ainda e sempre, o amor. E o riso: «o riso surgiu

O mais recente romance de Patrícia Reis reflecte sobre o que é prioritário em tempos de pandemia

simplesmente dentro de si e estava a respirar, tinha encontrado espaço para sair. O riso, o que nos distingue dos animais, o riso dos homens é uma arma.» (p. 168)

Klara e o Sol, de Kazuo Ishiguro

Klara e o Sol tem como narradora uma Amiga Artificial

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lara e o Sol é o novo romance de Kazuo Ishiguro, autor cuja obra integral é publicada pela Gradiva, premiado com o Nobel em 2017. Este é o oitavo romance de um autor já conhecido por algumas das suas particularidades, como explorar géneros distintos, se bem que com que uma certa propensão para a distopia ou ficção-científica, em cenários muitas vezes irrealistas. A narrativa é contada na primeira pessoa pela perspectiva de Klara, uma AA (não confundir com as pilhas), sigla de Amigo Artificial, desde os seus primeiros dias na montra de uma loja onde espera expectante que uma criança a veja e escolha, pois a função de um AA é ajudar a combater a solidão enquanto acompanhante de

jovens adolescentes, num mundo desestruturado (nunca completamente explicado pelo autor) onde poucos adolescentes parecem sobreviver à poluição e ingressar na vida adulta, um mundo competitivo onde só os alunos que tenham beneficiado de «edição genética» (p. 283) podem ser capazes de ingressar numa faculdade e depois ter sociedade. A perspectiva externa distanciada, através de uma narradora alienada, dá à história um tom de fábula ou narrativa infantil ao dar-nos a conhecer o mundo (mundo esse confuso, face a um rápido desenvolvimento tecnológico) pelos olhos de Klara que, apesar de inumana, tem em si algumas qualidades sobre-humanas que a colocam inclusive acima dos modelos mais recentes de AA: «A Klara tem muitas características únicas (…). Mas se quisesse salientar apenas uma, bem, teria de ser a sua apetência para a observação e a aprendizagem. A sua capacidade para absorver e integrar tudo o que vê à sua volta é espantosa.» (p. 55) Klara, contudo, ao contrário de nós, vê tudo como que segmentado por caixas (e talvez por isso seja fascinada por padrões), ou a partir de diferentes ângulos, ao invés de uma perspectiva monista e redutora como a nossa: «Bebeu o café sempre a olhar para mim, até eu ver a cara

da Mãe encher seis caixas só por si, os seus olhos semicerrados repetidos em três delas, sempre com um ângulo diferente.» (p. 121). Klara não é, portanto, o androide comum de uma qualquer série de sci-fi, pois a sua aprendizagem fazse a partir daquilo que experiencia e observa – «Creio que tenho muitos sentimentos. Quanto mais observo, mais sentimentos tenho disponíveis.» (p. 117) – o que a torna capaz de uma perspicácia incomum ao detectar os sentimentos das pessoas que vê passar frente à montra da loja e a torna mais do que humana na sua capacidade de sentir empatia. Capaz até de exprimir a realidade com uma certa carga poética, como quando é finalmente escolhida por uma jovem, Josie, e passa a ver o Sol das janelas da sua nova morada: «O céu que se avistava da janela traseira do quarto era muito mais vasto do que o intervalo de céu que se via da loja — e capaz de variações surpreendentes. Por vezes era da cor dos limões na fruteira, em seguida podia ficar cinzento como as pranchas de cortar, de lousa. Quando Josie não estava bem, podia ficar da cor do seu vómito ou das suas fezes descoradas, ou apresentar mesmo veios de sangue. Às vezes o céu ficava dividido numa série de quadrados, todos eles com tons diferentes de púrpura.» (p. 67)

Klara recarrega a sua energia a partir do Sol, astro que ela aliás personifica, ou melhor, deifica. E tal como o Sol, tal como os humanos, também ela conhecerá um declínio, quando terminar o seu ciclo de alguns anos apenas, alimentando-

ter sentimentos – pois a inteligência artificial deverá ficar sempre aquém da emoção -, muito menos um robô capaz de rezar ou fazer promessas para que o Sol interceda com um milagre e cure a sua amiga humana. «Deixa-me perguntar-te isto.

Kazuo Ishiguro recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 2017

se das memórias que construiu. Klara e o Sol, ao jeito da obra narrativa de Kazuo Ishiguro, é um acto de preservação da humanidade pela ficção, pois ao autor parece interessar sobretudo uma tentativa de retratar o mundo não nos seus detalhes superficiais (e por isso se detém tão pouco em aspectos tecnológicos deste novo mundo) mas sim na vida emocional que nos torna únicos, inclusivamente no caso de um robô que não deveria ser capaz de

FOTO D.R.

Acreditas no coração humano? Não me refiro simplesmente ao órgão, como é óbvio. Estou a falar no sentido poético. O coração humano. Achas que tal coisa existe? Algo que torna cada um de nós especial e único? Vamos supor que existe. Nesse caso, não achas que, para conheceres verdadeiramente a Josie, terias de aprender não só os seus maneirismos, mas também o que existe no mais profundo dela? Não terias de conhecer o seu coração?» (p. 251).


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ESPAÇO ALFA

A emoção da fotografia de rua SAÚL JORGE LOPES Membro da ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve

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emoção de quem fotografa, sem dúvida. A esperança pelo inesperado. A dúvida sobre o enquadramento. A inquietação do resultado da focagem. O enfrentar e vencer os receios, de estar a ser demasiado intrusivo. As adversidades colocadas pela direcção da luz e da sua intensidade e a forma de melhor as ultrapassar. O julgamento dos pares sempre tão dispostos a expor de forma crua aquele pormenor que podia ser melhorado. A insatisfação relacionada com o material de que dispomos. A angústia de publicar o resultado do nosso trabalho. A comparação com as figuras de referência e com os ícones da fotografia. A resposta a isso, só pode ser, conhecer o mais profundamente possível, as potencialidades, e de como as tornar reais, do material de que dispomos. É preferível ter um material menos evoluído ou menos actual,

mas que nós tratamos por tu e em quem podemos confiar, do que estarmos artilhados com as últimas novidades do mercado (e elas surgem todos os dias) sem explorar todas as suas capacidades. O desenvolvimento de uma cumplicidade com a câmara e as objectivas é essencial. No processo criativo, que envolve a fotografia de rua, a imagem do que podemos vir a fotografar, tem de estar composta previamente. O resultado e o quanto ficamos aquém da sua concretização, são o motor permanente do nosso aperfeiçoamento. A visualização crítica de outras imagens produzidas por nós ou pelos outros e a participação em grupos ou discussões, vai acelerar a nossa evolução. Considero, no entanto, que devemos tentar criar o nosso próprio estilo e melhorá-lo permanentemente. Devemos imprimir um cunho pessoal às imagens que vamos produzindo. A antecipação e resposta, a possíveis obstáculos técnicos ou relacionados com o local, que possam surgir, contribuem para diminuir a possibilidade de falharmos os nossos objectivos. Conhecer ou reconhecer

o local onde prevemos fazer fotografia de rua é uma vantagem. Olhar para a luz natural disponível e a sua orientação, permite que nos coloquemos de feição. Uma forma indirecta de usarmos os fotómetros que hoje tão bem equipam as câmaras é a realização de várias fotografias prévias, com diferentes parametrizações. É possível, com paciência e persistência, “esperar” que determinadas situações façam parte da nossa composição de forma enriquecedora. O treino de enfrentar com determinação mas equilíbrio e respeito quem está na mira da nossa objectiva vai abrir as possibilidades de captarmos momentos carregados de expressividade. Podemos criar e desenvolver cenários, onde nos movimentamos com facilidade e tranquilidade, fotografando-os de forma repetida e exaustiva. Nunca é de mais reforçar a vantagem, de conhecer e estudar, quem já fez caminho na realização da fotografia de rua e humildemente pedirmos e aceitarmos os juízos de fotógrafos mais experientes. E a emoção de quem aprecia as fotografias também.

“Reencontros na Rua de Santo António” (Panasonic DMC-LX100 24 mm, F/5.6,1/1600 seg., ISO 200)

Uma boa fotografia de rua tem sempre uma história para contar. A sua interpretação pode e deve ser quase infinita. Cabe a quem fotografa, registar, luz, sombras, linhas, figuras animadas ou fixas, expressões e sentimentos, que vão compor algo que vai mexer com quem vê. A fotografia de rua tem um papel cultural, na medida em que fixa momentos, que traduzem aspectos vivenciais de múltiplas realidades, dando-lhes uma visibilidade, que

pode e deve ser enriquecedora para quem a vai apreciar. É um grande incentivo, a ver e interpretar a realidade de uma forma diversa, acrescentando-lhe valor. Pode servir de estímulo aos fotógrafos e não só, de iniciarem os seus próprios registos e assim contribuírem para o enriquecimento da fotografia de rua. * O autor não escreve segundo o acordo ortográfico

ESPAÇO AGECAL

Algarve na História Cultural: a expansão marítima e o mito henriquino JORGE QUEIROZ Sociólogo, sócio da AGECAL

“No século XVI a gesta dos portugueses tornou-se epopeia pela pena de Camões… a transposição da História para a epopeia deu-lhe porém, a força do mito, não só para gente pouco instruída…” José Mattoso, in “A identidade Nacional”, 1998

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expansão marítima portuguesa, ou “descobrimentos” na perspectiva europeia, foi obra de muitas gerações, consequência de necessidades nacionais e aspirações sociais: posicionamento ultraperiférico de Portugal, limites oceânico e terrestre com Castela, carências alimentares sobretudo de cereais, rotas comerciais no Mediterrâneo dominadas pelos otomanos, influência dos mercadores nas maiores cidades, Lisboa e Porto, ideais culturais do Renascimento,…

Na História da expansão marítima de quatrocentos o Algarve surge ligado à figura do Infante D. Henrique, tema sensível por razões educativas e de herança mitológica. Na origem dessa construção idealizada estarão as crónicas de Gomes Eanes de Zurara, autor dos panegíricos henriquinos, protegido do Infante e por este feito comendador da Ordem de Cristo. A descrição mitológica e mesmo hagiográfica, fixou-se no imaginário colectivo, reproduzida pelas elites políticas, religiosas e aristocráticas pós-Alfarrobeira (1449), mais tarde exaltada pelo nacionalismo romântico do século XIX e pelo Estado Novo. O auge propagandístico ocorreu em 1894 e 1960 durante as “comemorações henriquinas”, com centenas de topónimos, estátuas,… Da “Ínclita Geração” destacaram-se duas figuras relevantes, o rei D. Duarte, autor do “Leal Conselheiro” sobre ética e moral e o Infante D. Pedro “das Sete Partidas”, regente uma década (1439-1448) na menoridade de Afonso V, príncipe viajado,

reconhecido nas cortes europeias, dominando idiomas, tradutor de clássicos da Antiguidade, que escreveu o “Livro da Virtuosa Benfeitoria” sobre a boa governação, marco na expressão escrita da língua portuguesa. Na “Carta de Bruges” (1426) dirigida ao rei D. Duarte seu irmão, aconselha o comércio atlântico evitando guerras e ocupações territoriais, contudo a aristocracia feudal e o Infante D. Henrique pugnavam pela “guerra santa” no Norte de África que lhes traria títulos e benefícios. O Infante D. Henrique, terceiro na sucessão, pressionou D. Duarte a autorizar-lhe o comando do ataque a Tanger, contra a vontade dos irmãos D. Pedro, Duque de Coimbra e D. João, Mestre de Santiago. A expedição foi um desastre, cercado o Infante negociou a devolução de Ceuta sem ter poderes para tal, deixando refém o irmão mais novo D. Fernando que morreu em Fez. Ao regressar, sob duras críticas, afastou-se da Corte e foi viver para o Algarve, estabelecendo-se na zona

de Lagos. É o início da lenda, acompanhada por factos reais… O regente D. Pedro realizou actos de sábia governação, como as “Ordenações Afonsinas”, concedendo ao irmão a administração da Ordem de Cristo, percentagem nos negócios ultramarinos. O Infante enriqueceu e fez de Lagos (1444) entreposto esclavagista. No confronto entre antagonismos, com D. Afonso V ainda menor, o regente foi alvo de intrigas da nobreza feudal conduzidas pelo bastardo D. Afonso, feito Duque de Bragança pelo próprio D. Pedro. Este foi assassinado em Alfarrobeira (1448), o seu relevante papel apagado da História da expansão marítima portuguesa, diminuído o valor da sua governação. O “Príncipe Perfeito”, D. João II, neto e admirador de D. Pedro, seguiu-lhe as ideias, negociou a paz com Castela e o Tratado de Tordesilhas, impulsionou as viagens para o hemisfério sul. Apesar do brilhante reinado, D. João II morreu só e abandonado em Alvor. Ao Infante foram atribuídos os méritos da expansão, dela ausentes vários

reis, cidades, cientistas, milhares de marinheiros,… D. Henrique viveu rodeado de uma elite científica e criou a “escola náutica” de Sagres? Nunca tal foi provado nem referido no seu testamento. Duarte Leite (1864-1950), historiador e diplomata, mostrou que o inglês Samuel Purchas foi no século XVII o criador desse mito. Intelectuais do século XIX, sem o domínio dos métodos da História, inspirados pelo nacionalismo romântico escreveram biografias romanceadas. Na segunda metade do século XX investigadores como A. J. Saraiva, Luís Albuquerque, Veiga Simões, Magalhães Godinho e outros, procederam a uma necessária e fundamentada revisão histórica, que continua hoje com novos contributos. E o Algarve? António Rosa Mendes pugnou por uma unidade científica especializada na História do Algarve, culturalmente dela carecemos para educação das gerações e valorização da região. * O autor não escreve segundo o acordo ortográfico


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FILOSOFIA DIA-A-DIA

Os Novos Dinossauros MARIA JOÃO NEVES PH.D Consultora Filosófica

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onge vão os tempos dos cartazes de Toulouse Lautrec ou de Mucha, que tanto nos maravilham. Na sua época eram bens perecíveis, meros papéis que se colavam a muros e paredes, anunciando um espectáculo no Moulin Rouge ou uma peça com a diva Sarah Bernhardt. Verdadeiras obras de arte, aí ficavam à mercê da intempérie ou do vandalismo dos transeuntes. Hoje em dia não vale a pena gastar dinheiro em cartazes ou flyers, as redes sociais tornaram-se o meio privilegiado de divulgação. Lamentavelmente, a componente da divulgação tornou-se ingrediente indispensável para singrar em qualquer que seja a actividade profissional. Rendida a esta evidência, e fazendo um esforço enorme para ultrapassar a minha aversão, resolvi frequentar um mini-curso on-line de escrita criativa para adquirir competências na área do marketing digital. No módulo de “Escrita para a web” informaram-me da chamada “Lei Fundamental da Internet”. Confesso que apesar do meu desafecto instintivo por este tipo de actividade, não me encontrava preparada para o que se seguiu. A Lei Fundamental da Internet é: “não fazer o leitor pensar”. Da enxaqueca que se abateu sobre mim nesse momento, ainda não recuperei. Sem qualquer pudor esta lei foi repetida nas sessões em directo, nos vídeos gravados e nos pdf’s de apoio. Dos mais de 3000 participantes, aspirantes a escritores deste curso, ninguém questionou este conteúdo. Esta instrução calamitosa - não fazer o leitor pensar - não causou perplexidade, não incendiou os ânimos, dir-se-ia que ninguém reparou nela. Foi acatada com a submissão dos carneiros que, ao seguir o primeiro do rebanho, se atiram do precipício. Pese embora o flagelo, acredito nas boas intenções dos mentores deste curso. O que mais me assusta é que, se calhar, até têm razão quanto à eficácia desta regra. Com uma vida dedicada à Filosofia, não apenas à investigação mas também ao ensino, conheço bem o prazer de pensar e tudo tenho feito e continuo a fazer para despertar no outro esta delícia. A filosofia é uma

actividade erótica, o prazer de pensar é gratuito e está ao alcance de qualquer um. Portanto, esta competência - não fazer o leitor pensar - que agora deveria adquirir, arrasou-me. Decorria o Dia Mundial do Livro e a Biblioteca Álvaro de Campos de Tavira, na sua rubrica Encontro com Escritores acolheu Lídia Jorge. A inevitável transição para o mundo digital foi abordada. “Ao mexerem nas novas tecnologias as pessoas acham que estão na vanguarda e o livro surge como algo antiquado” disse-nos a escritora. Contou-nos então a seguinte anedota: “Como prenda de aniversário, a mãe queria oferecer ao seu filho um livro. O pai opõe-se: ‘para quê se ele já tem um?’” De facto, não há notícia de ajuntamentos nos interior das livrarias portuguesas. Porém, não considerando o livro um bem essencial, o nosso governo fechou as livrarias durante o confinamento. Mais tarde, resolveu atenuar a medida permitindo a compra de livros em hiper-mercados. Ficaram os leitores restringidos àquela selecção do fast-reading, primo irmão do fast-food. Como se não bastasse estarmos confinados fomos também privados, há que dizê-lo sem medo, de poder descobrir e, quiçá, adquirir bons livros. Sim, podemos comprar livros on-line, mas qualquer bom leitor sabe que isso não se compara ao encontro com as estantes de uma livraria bem apetrechada, por certo, em perigo de extinção na Lusitânia. Ao mesmo tempo, em França, o ministro das Finanças Bruno Le Maire soltava este grito de alarme: “Afastem-se dos ecrãs! Leiam! Os ecrãs devoram-vos, a literatura nutre-vos.” Explicou que, da mesma maneira como se adestram ratos em laboratório, recebemos dos ecrãs estímulos a cada 5 ou 10 segundos que excitam os nossos receptores nervosos e aprisionam a nossa atenção. Desta forma, os ecrãs formatados tornam-nos submissos e servis. A literatura, pelo contrário, “é uma arma de liberdade”, afirmava o ministro. Porém, uma arma que se esgrime com um imenso prazer. Desenvolve a imaginação, abre-nos a mundos radicalmente novos e, sobretudo, ajuda-nos a conhecer-nos um pouco melhor. Estou convicta de que existem livros que são como espelhos mágicos, neles não encontramos apenas o que somos, encontramos o que podemos vir

Livraria Lello, Porto

a ser e o que podemos deixar de ser. Escolhemos. Podemos esculpir-nos. No referido Encontro on-line, Lídia Jorge mostrou-nos como “o mundo actual faz de cada pessoa uma espécie de pára-raios de exigências múltiplas, ligados a variadíssimos universos ao mesmo tempo. Comportamo-nos como animais assustados. Estamos permanentemente a defendermo-nos.” Mas o mais perigoso de tudo isto é “o empobrecimento da subjectividade”, afirmou. Em que é que consiste a subjectividade? E porque é que constitui um empobrecimento perdê-la? A subjetividade é o nosso mundo interno, quer dizer, é aquilo que somos por dentro. Este mundo interior é composto por emoções, sentimentos e pensamentos. Como sujeitos livres e pensantes somos também seres criativos. A criatividade exercitada através do pensamento, da imaginação e da acção afecta-nos a

RESTAURANTE O TACHO

Restaurante de estilo familiar Take-Away: Entrega ao domicílio em Tavira

Estrada Nacional 125, Km 134 (junto à GNR) 8800-218 Tavira)

FOTO D.R.

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nós e ao mundo circundante. Graças ao seu mundo interior, a pessoa não age somente movida por forças exteriores, mas actua também a partir de dentro, a partir do núcleo da sua própria subjectividade. A partir do momento em que alguém é o autor das suas acções, possui uma identidade que foi alcançada por si, que não pode ser reduzida a uma análise objectiva e por isso resiste à definição. Esta resistência à definição, esta irredutibilidade, é precisamente aquilo que torna cada um de nós um ser único. Tudo isto fracassa se perdermos a subjectividade. Se os ecrãs formatados contribuem para a perda da subjectividade, tornando-nos seres indiferenciados e servis, os livros, pelo contrário, estimulam o mundo interior e a nossa unicidade. Os livros são agentes libertadores. Lídia Jorge diz: “Os livros são um meio revolucionário, uma revolução que veio dos céus”.

Atrevo-me portanto a interpretar a frase da escritora do ponto de vista da astronomia. Os livros estão em revolução como os astros, são capazes de fazer com o ser humano o que Copérnico fez com as nossas crenças planetárias. Como é do conhecimento de todos, a revolução copernicana é a responsável pela mudança de paradigma do geocentrismo para o heliocentrismo. É precisamente com a revolução copernicana que Kant inaugura a sua Crítica da Razão Pura. Nela o filósofo alemão aponta para o facto de, apesar de todo o nosso conhecimento se iniciar com a experiência, isso não significar que todo ele derive da experiência. De facto, existe um conhecimento a priori, quer dizer, independente da experiência, no interior de cada sujeito, que estrutura e dá forma aos dados que provêm da experiência. Por conseguinte, esta estrutura inata e interior a cada um de nós é condição sine qua non de cada acto perceptivo. Porém, com a interferência constante de e-mails, sms, WhatsApp, Instagram e variadíssimas outras formas de estarmos ligados à Internet, acabamos por descurar esse núcleo que nos estrutura. Já não nos conseguimos concentrar, sossegar, e aceder ao nosso mundo interior. Ficamos, portanto, muito mais vulneráveis a alguém que saiba como nos manobrar. É muito perigoso que os bibliotecários, os académicos, os leitores sejam considerados, e cito uma vez mais a escritora Lídia Jorge, “gente antiquada e prescindível”. Em abono do objecto de nutrição (livro) favorito dos novos dinossauros (os leitores) permitam-me realçar o seguinte: um livro não tem cabos, circuitos eléctricos ou bateria, portanto, pode ser utilizado por tempo indeterminado sem necessidade de ser recarregado. Nunca tem falhas no sistema, nunca precisa de ser reiniciado ou de fazer actualizações. Compacto e portátil pode ser utilizado em qualquer lugar. É feito de materiais totalmente recicláveis. Para conhecer mais vantagens deste dispositivo “bio-óptico” de conhecimento por favor aceda a: https://www.youtube. com/watch?v=YhcPX1wVp38 Inscrições para o Café Filosófico: filosofiamjn@gmail.com * A autora não escreve segundo o acordo ortográfico


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FIOS DE HISTÓRIA

Lagos na rota do comércio de escravos RAMIRO SANTOS Jornalista ramirojsantos@gmail.com

O Mercado de Escravos, em Lagos, tem resistido aos séculos para lembrar que “todo o monumento da civilização é, ao mesmo tempo, um monumento de barbárie” FOTOS D.R.

Dias antes haviam chegado as caravelas a Lagos, donde antes haviam partido. E do alto da sua montada, assistiu o Infante ao resultado da operação de Lançarote de Freitas. Assim descreve Zurara a grande descarga de escravos naquele que viria a ser o primeiro entreposto europeu do comércio negreiro. Não era a primeira vez que ali chegavam cativos africanos, mas nunca em número tão elevado! A seu pedido, tinha aquele mercador equipado uma frota de seis navios e cerca de trinta homens que partiram no mês de maio para os bancos de Arguim, atual Mauritânia. Em apenas alguns dias, fizeram 235 cativos tendo retornado a Lagos no dia 6 de agosto de 1444 com a sua carga humana. Aportaram na zona da ribeira, no local onde se ergue o edifício do mercado de escravos, transformado em museu para que a memória não esqueça. Um símbolo de um tempo que assinala o início do período mais negro e dramático dos descobrimentos e do domínio colonial português e europeu em África. Basta ler o cronista oficial do reino. Na sua Crónica da Guiné, Gomes Eanes de Zurara, não esconde sentimentos e conta apiedado o que os seus olhos viam. É um relato vivo e atento. Carregado de dor e sofrimento. Feito pelo confidente e a pessoa mais próxima do Infante D. Henrique: “E no outro dia, Lançarote como homem que do feito tinha principal cargo, disse ao Infante: - Senhor! Bem sabe vossa mercê como haveis de haver o quinto destes mouros (...) vêm assaz mal corregidos (maltratados) e doentes; pelo que me parece que será bem que de manhã os mandeis tirar das caravelas, e levar àquele campo que está além da porta da vila, e farão deles cinco partes, segundo o costume, e seja vossa mercê chegardes aí e escolher uma das partes, qual mais vos prouver”. E no dia seguinte, “que eram oito dias do mês de agosto, muito cedo pela manhã por razão da calma, começaram os mareantes de correger (preparar) seus batéis e tirar aqueles cativos, para os levarem segundo lhes fora mandado”. Para um campo onde hoje fica o rossio da Trindade. Ali foi feita a primeira partilha de escravos, a sua licitação e venda. De muitas que haviam de suceder por séculos adiante. “Mas qual seria o coração, por duro que pudesse, que não fosse pungido de piedoso sentimento, vendo assim aquela campanha? Que uns tinham

De quem eram os navios negreiros que partiram de África

as caras baixas e os rostos lavados com lágrimas; outras estavam gemendo mui dolorosamente, bradando altamente, como se pedissem acordo ao Padre da natureza; outros feriam seu rosto com suas palmas, lançados e (es)tendidos no meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto, segundo o costume de sua terra, nos quais, posto que as palavras da linguagem aos nossos não pudesse ser entendida, bem correspondia ao grau de sua tristeza. Mas para seu dó ser mais acrescentado, vieram aqueles que tinham cargo de partilha e começaram de os apartarem uns dos outros; onde se convinha de se apartarem os filhos dos padres, e as mulheres dos maridos e os irmãos dos outros, (...) somente cada um caía onde a sorte o levava! Ó poderosa fortuna, que andas e desandas com tuas rodas, compassando cousas do mundo como te apraz! (...) E vos outros, que trabalhais nesta partilha, esguardae (observai) com piedade tanta miséria, e vede como se apertam uns contra os outros, que apenas os podeis desligar! Quem poderia acabar aquela partição sem mui grande trabalho? Que tanto que os tinham postos em uma parte, os filhos, que viam os padres na outra, alevantavam-se rijamente e iam-se para eles de bruços, recebendo feridas, com pouca piedade de suas carnes, por lhe não serem tirados! E assim trabalhosamente os acabaram de partir (separar), porque alem do trabalho que tinham com os cativos, o

campo era todo cheio de gente, assim do lugar como das aldeias e comarcas de arredor, somente para ver aquela novidade. E com estas cousas viam, uns chorando, outros departindo (protestando) faziam tamanho alvoroço, que punham em turvação (perturbação) os governadores daquela partilha. O Infante era ali em cima de um poderoso cavalo, acompanhado de suas gentes, repartindo suas mercês, como homem que de sua parte queria fazer pequeno tesouro, que de 46 almas suas aconteceram no seu quinto, muito breve fez delas sua partilha”. * Esta descrição retrata em pormenor, sem esconder sentimentos, as cenas de leilão e venda de escravos em Lagos. Nesta praça algarvia, funcionou o primeiro entreposto negreiro da Europa que durou até 1512, ano em que o rei D. Manuel o concentrou

em Lisboa. Entre 1441 e 1470, terão passado por Lagos mil escravos por ano. Nas décadas seguintes, cerca do dobro no mesmo espaço de 12 meses. No século XVI estima-se que haveria no Algarve à volta de seis mil escravos, correspondendo a um décimo da sua população total. Uma parte desse lado negro da história viria a ser desenterrada quando em 2009 foram descobertos no Vale da Gafaria, em Lagos, 158 esqueletos de homens, mulheres e crianças identificados como escravos africanos. Trata-se, segundo os especialistas, do mais antigo local de enterramento de escravos negros encontrado em toda a Europa. O drama humano registado por Zurara, ganhou nos séculos seguintes uma dimensão transcontinental num triângulo comercial que incluía a Europa, África e o continente americano. A partir de 1444 e durante cerca de 180

anos, os portugueses detiveram, quase em exclusivo, o comércio de escravos no Atlântico. Só a partir de 1621, entraram em cena outros protagonistas. Se “a culpa não é hereditária” - como disse o historiador Vitorino Magalhães Godinho - no edifício onde chegavam as caravelas quatrocentistas carregadas de escravos, ergue-se hoje um memorial onde ecoam as vozes torturadas de um passado, como exemplo, para não mais se repetir no futuro. O mercado de escravos tem resistido aos séculos para lembrar que “todo o monumento da civilização é, ao mesmo tempo, um monumento de barbárie” (Walter Benjamin). Fontes: “Crónica da Guiné”, Gomes Eanes de Zurara; “Escravos e Traficantes no Império Português”, Arlindo Manuel Caldeira; “A Expansão Quatrocentista Portuguesa”, V. M. Godinho; “Lagos e os Descobrimentos”, Rui Loureiro; outras

♦A proibição da escravatura em todos os territórios sob administração portuguesa foi aprovada a 25 de Fevereiro de 1869, no reinado de D. Luís

♦Em 2016, a Walk Free Foundation, calculava que vives-

sem ainda em todo o mundo, 46 milhões de pessoas, em regime de escravidão

♦ Estima-se que o comércio esclavagista transatlântico a partir das rotas da Guiné, Mina, Angola e Moçambique, tenha envolvido entre 12 a 14 milhões de pessoas das quais, pouco menos de metade, com destino ao Brasil


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