Cultura.Sul 137 10ABR2020

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Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o

ABRIL 2020 n.º 137 www.issuu.com/postaldoalgarve

6.615 EXEMPLARES

MISSÃO CULTURA •••

O que pode o património contra um inimigo invisível? O potencial da Marca do Património Europeu, por descobrir, aqui tão perto de nós... foto drcalg

/ joão pedro costa

Ficha técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Paginação e gestão de conteúdos: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • Artes Visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço ao Património: Isabel Soares • Filosofia Dia-a-dia: Maria João Neves • Letras e Literatura: Paulo Serra • Marca D'água: Maria Luísa Francisco • Missão Cultura: Direção Regional de Cultura do Algarve • Reflexões sobre Urbanismo: Teresa Correia • Colaboradores desta edição: Raquel Roxo Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/ postaldoalgarve FB: www.facebook.com/ postaldoalgarve/ Tiragem: 6.615 exemplares

O Promontório de Sagres, de enorme beleza paisagística, apresenta uma forte carga telúrica, mitológica e semiótica •

Vivemos um tempo de grande incerteza, em que a recente pandemia parece ter suspendido as nossas vidas, e onde as coordenadas que norteiam a nossa existência parecem integrar-se cada vez mais numa realidade a roçar a distopia. Este inimigo invisível fez suspender os contactos humanos, a uma escala local, europeia e mundial, como nunca imaginámos poder assistir. Sabemos ainda, que depois desta crise, teremos uma outra, provavelmente mais longa, com consequências económicas, sociais e humanitárias ainda pouco previsíveis. No momento crítico que atravessamos, precisamos refletir sobre os modelos e estruturas que sustentam a nossa vida em sociedade, sobre os pilares em que a nossa civilização ocidental se ancora. Nesta perspetiva, o património pode deter um papel mais importante e decisivo do que à partida se poderia supor. Se entendermos o património não apenas como testemunho do passado, mas também como um imprescindível recurso e ainda como um proces-

so dinâmico em constante revisão e construção, onde se refletem os nossos desejos e aspirações para o futuro, podemos imaginar o que queremos para este património global que temos em mãos. Para esta mudança de paradigma, muito têm contribuído os critical heritage studies que encaram o património como recurso cultural, ideológico, social e político, que nos pode auxiliar a ultrapassar os problemas societais mais críticos e complexos. E é nesta perspetiva que interessa refletir e promover um projeto europeu muito especial, ainda pouco conhecido entre nós, mas que tem o potencial de constituir um importante agente de mudança: a Marca do Património Europeu (MPE). Esta é uma iniciativa da União Europeia, que distingue bens patrimoniais, sítios, documentos, monumentos e paisagens culturais que simbolizam a integração, a história e a cultura europeias e os seus valores comuns. A ideia de dimensão europeia promovida pela MPE integra uma narrativa baseada nas noções de pluralidade

cultural, associada a diversos processos históricos transnacionais, que reconhecem as ligações e redes de memórias, que se estendem também para lá da Europa. E é aqui que este projeto pode deter, de facto, um papel relevante, “saindo fora das portas europeias”, não se encerrando em narrativas fechadas sobre si mesmas, numa abordagem que tenta combater as práticas, as narrativas e as mentalidades eurocêntricas, colonizadoras, raciais ou elitistas, que excluem sempre um determinado “outro”. O projeto MPE tem ainda o potencial de promover um debate em torno do que é, efetivamente, o património para os cidadãos, para além das esferas política, da academia ou de especialistas. Pode significar também uma oportunidade de constituir um projeto verdadeiramente polifónico, ao incluir diferentes visões sobre o passado e sobre o presente e de as integrar no debate em torno de questões prementes e cruciais. Por outro lado, investigadores como Rodney Harrison, defendem uma

noção de património, onde se diluem as diferenças entre património cultural e património natural, e por isso o entende como uma série de escolhas que emergem de um diálogo entre atores humanos e não humanos, que estão comprometidos com práticas de proteção patrimonial, conceito cada vez mais abrangente, no momento presente. O Promontório de Sagres apresenta dimensões geofísicas, naturais, históricas e simbólicas que o tornam num território excecional, no âmbito da celebração dos valores, dos ideais, da cultura e da história europeia, que o levaram a ser distinguido com a Marca do Património Europeu, em 2015. Foi neste território que o Infante Dom Henrique idealizou o seu projeto expansionista que veio a proporcionar uma série de mudanças tecnológicas, científicas, culturais e epistemológicas, que foram decisivas na trajetória de construção da História Europeia e do Mundo. Como Almada Negreiros nos dizia, foi neste lugar que se iniciou a “universalidade da Europa”. Este território de enorme beleza

paisagística apresenta ainda uma forte carga telúrica, mitológica e semiótica, características únicas que nos fazem refletir sobre a importância do património natural desta finisterra e sobre a pertinência da revisão do conceito de património, que possa ir para além da dicotomia natural versus cultural, associada à dicotomia homem versus natureza. Poderá o Promontório de Sagres auxiliar-nos no debate urgente em torno do nosso património natural global? Que relação pode existir entre o Promontório de Sagres, o Forte Cadine (Trento/Itália) ou a Casa de Robert Shuman (França)? Para saber mais informação sobre estes ou os 38 sítios distinguidos com a Marca do Património Europeu, consulte: https://ec.europa. eu/programmes/creative-europe/ actions/heritage-label/sites_en l Raquel Roxo (Técnica superior da Direção Regional de Cultura do Algarve)


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LETRAS E LEITURAS •••

Chuva Miúda, de Luis Landero tória, que começou por ser trivial e até festiva e que acabou em ruína e em desastre, como ela intuiu desde o primeiro momento.» (p. 13)

fotos d.r.

Paulo Serra

Luis Landero estreou-se na literatura em 1989

Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL

Gabriel planeia celebrar o octagésimo aniversário da mãe e, para isso, terá de contactar as suas duas irmãs Sonia e Andrea, com o propósito de reunir a família para este evento que deveria ser motivo de celebração e alegria. Depois de tanto tempo, um almoço de aniversário afigura-se a ocasião perfeita para se voltarem a juntar todos. Mas esta não é uma família dessa natureza. Se todas as famílias são felizes à sua maneira, esta sabe foçar particularmente bem na infelicidade e no rancor. Por isso mesmo esta sinopse enganosamente simples não pode dar conta da complexidade e singularidade deste romance.

tagónicos, sentimentos díspares, conforme é lembrado por cada uma das personagens. A narrativa abre e fecha com Aurora, que pelo seu sorriso bonito e triste, o seu ar terno e melancólico, sempre se revelou uma boa confidente para as histó-

Uma forte particularidade do romance é o modo como a vida das personagens é sempre tratada como uma história, em que todas elas são autoras das suas próprias narrativas, mesmo quando essa é uma narrativa vazia: «Nunca, nunca, mesmo que não aconteça nada, as pessoas param de contar a sua história e, se o Inferno existir, também nele continuarão a contá-la ao longo de séculos e mais séculos, dando corda uma e outra vez ao brinquedo das palavras, tentando compreender minimamente o mundo apalpando o absurdo da vida em busca talvez de um botão que abra o seu fecho cego, como a gruta de Ali Babá ante o conjuro da palavra mágica, revelando-nos o grande tesouro da razão, da luz, do real sentido das coisas...» (p. 199) A acção decorre ao longo de seis dias apenas, em que os segredos familiares são desenterrados, até que se desvela uma história particularmente macabra em torno de um homem que tem em casa um museu de brinquedos e que trata a mulher como se fosse a sua criança...

rias dos que com ela convivem. Mas Aurora coloca em risco a sua própria inocência e paz de espírito quando finalmente percebe que não há histórias inocentes, enquanto se deixa enredar nas teias de aranha destas histórias familiares: «(...) todas as versões de todas as histórias acabam por confluir em Aurora. Ela é, na verdade, a única dona absoluta da história, aquela que sabe tudo, o enredo e o avesso do enredo, porque só confiam nela e só falam com ela, com todo o tipo de detalhes, sem vergonha nem reparos, todos e cada um dos implicados nesta his-

Luis Landero, considerado um dos nomes essenciais da literatura espanhola, nasceu em Badajoz, em 1948. Licenciado em Filologia Hispânica pela Universidad Complutense, lecionou Literatura na Escuela de Arte Dramática de Madrid e foi professor convidado em Yale. Estreou-se na literatura em 1989, com o romance Jogos da Idade Tardia (Prémio da Crítica e Prémio Nacional de Narrativa 1990). Chuva Miúda, agora publicado pela Porto Editora e com tradução de Miguel Filipe Mochila, foi considerado pela crítica o Melhor Romance do Ano em Espanha. l

Luis Landero é considerado um dos nomes essenciais da literatura espanhola • Luis Landero constrói um poderoso romance polifónico, cuja

“Chuva Miúda” foi considerado pela crítica o Melhor Romance do Ano em Espanha •

maioria dos capítulos constitui diálogos, sempre por telefone, em que a conversa telefónica do momento alterna ainda, por vezes de modo sobreposto, com conversas anteriores que estão a ser agora relatadas ou recontadas ao telefone, pois quer Sonia quer Andrea, assim que ficam a par da intenção do irmão, ligam para a cunhada Aurora, a mulher de Gabriel, com quem desabafam as suas mágoas e os seus rancores. E é nesses telefonemas de Sonia, Andrea e, por vezes, até da mãe delas para Aurora, a confidente, sempre atenciosa e atenta, que estas mulheres destilam a peçonha que, décadas depois, continuam a conseguir extrair de velhos episódios familiares, retratados conforme a perspectiva de cada uma: «cada qual com a sua história, horas e horas de histórias intermináveis, quase todas cheias de minúcias mil vezes ouvidas e que elas nunca se cansavam de repetir, com as suas versões contraditórias, onde não havia episódio, por mais pequeno que fosse, que não tivesse variantes, que não rebatessem ou negassem entre elas, que não admitissem os mais prolixos e tortuosos comentários, de modo que Aurora tinha a esgotante impressão de estar imersa num pesadelo de que era impossível despertar. E assim, ano após ano, todos os dias de todos os meses, a qualquer hora, foi ficando a saber o argumento exato das vidas deles.» (p. 195) Um só acontecimento origina assim várias versões, relatos an-

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Os Testamentos, de Margaret Atwood fotos d.r.

Margaret Atwood conquistou o Booker Prize de 2019 com “Os Testamentos” •

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Quando estreou, em Abril de 2017, a série televisiva do canal de streaming Hulu que adaptava A História de uma Serva, de Margaret Atwood, superou todas as expectativas. A série The Handmaid’s Tale, que segue agora para a quarta temporada, tornou-se uma das mais populares dos últimos anos, até pela irónica coincidência de Gileade parecer representar o futuro dos Estados Unidos da América, com

sido lançado internacionalmente em 2019 e é a continuação, ou a conclusão, da história de Gileade, 35 anos depois da obra anterior. A intriga da narrativa tem lugar 15 anos depois do final em aberto de A história de uma Serva, até porque a segunda temporada da série se torna completamente independente da obra de Margaret Atwood. E a autora, depois de obras menos conseguidas como O Coração é

Gileade, com direito a estátua e a oferendas de laranjas e ovos que roçam a idolatria. Margaret Atwood consegue manter toda a suspensão de um mundo possível que é tão ou mais plausível do que a realidade que hoje vivemos, e fá-lo com a deliciosa ironia e humor a que nos habituou: «Se queres fazer Deus rir, conta-lhe os teus planos, costumava-se dizer; se bem que, nos dias que correm, a ideia de Deus a rir está muito perto da blasfémia. Um sujeito ultrassério é o que Deus é agora.» (p. 230)

pectadores para pegar em algumas pontas soltas, mesmo quando estas

nada têm a ver com a sua obra original... Por isso, ficaremos a saber o que aconteceu, 15 anos depois, com a Bebé Nicole (este nome é tomado da série), a filha da protagonista do romance anterior, bem como o que aconteceu afinal com Offred (Defred) – este nome é um patronímio, composto pelo pronome possessivo e pelo nome do seu dono. É quase impossível parar ao longo das 450 páginas deste livro, especialmente nas últimas 50 páginas, em que a acção se precipita e os capítulos são cada vez mais curtos, contando apenas o essencial da acção. A primeira parte do livro, contudo, forma-se num lento crescendo, em que as histórias alternadas tornam o cenário de Gileade vívido, ao mesmo tempo que se pressentem as falhas e fracturas que preparam a sua queda, laboriosa e ardilosamente tecida pela mais inesperada das personagens, cujas intenções a autora consegue indiciar muito subtilmente, sem nunca empurrar verdadeiramente o leitor. Além de que é muito difícil não sentir alguma piedade cristã pela Tia Lydia, antes uma poderosa juíza e defensora dos direitos das mulheres, conforme percebemos como foi tratada, assim como as outras mulheres, quando os E.U.A. se transformam no país ultra-religioso e patriarcal de Gileade. l

É quase impossível parar ao longo das 450 páginas deste livro

a eleição de Trump. A própria autora chega a aparecer numa das cenas mais perturbadoras da série. Entretanto, as distopias parecem ter-se tornado uma possibilidade cada vez mais próxima – parece aliás que vivemos numa, com esta pandemia, que levou a que praticamente o mundo inteiro se fechasse em casa. Os Testamentos, com tradução de Sofia Ribeiro, surge agora publicado pela Bertrand Editora, depois de ter

o Último a Morrer, está aqui em pleno fôlego criativo, tanto que arrecadou novamente o Booker Prize de 2019 com este livro. A narrativa alterna entre a história de três mulheres, totalmente diferentes: Agnes Jemima é uma jovem já criada no regime de Gileade, filha de um dos Comandantes mais destacados; Daisy foi criada no Canadá, país vizinho de Gileade; e a terceira narradora é uma mulher mais velha, uma das Fundadoras de

É absolutamente brilhante que se tome como protagonista uma das vilãs do livro anterior, pois a Fundadora é ninguém mais do que a execrável Tia Lydia: um pouco mais humana ou ambígua na série do que no livro, na minha perspectiva... Além de que é também ela que interpela directamente o leitor, sem qualquer pejo em revelar como a sua mente retorcida e sinuosa é capaz de tecer uma teia de aranha fatal, em que o destino das duas jovens se entretece... É ainda muito inteligente da autora procurar responder, com esta obra, aos leitores que lhe perguntavam como é que afinal caiu o reinado de Gileade, ao mesmo tempo que tirou partido do sucesso da série e do seu impacto junto de milhares de es-

O livro cativa o leitor do princípio ao fim •


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REFLEXÕES SOBRE URBANISMO •••

O urbanismo e os cercos fotos d.r.

Teresa Correia

Arquitecta / urbanista arq.teresa.correia@gmail.com

O Algarve e o espaços de isolamento Curiosamente, o isolamento tem sido aquilo que mais tem caraterizado a região do Algarve, nos tempos mais antigos, historicamente falando. No entanto, com o efeito do Turismo e da inclusão de mão-de-obra estrangeira na Agricultura, ficamos, de facto, mais expostos à penetração de qualquer situação maligna, neste caso, de contágio do vírus. As portas de entrada do Algarve são pelo ar, através dos aeroportos, ou terrestre da parte da ligação a Espanha, e por mar, pelos portos e marinas. As questões de isolamento de uma região face ao estrangeiro por exemplo são medidas difíceis de tomar, mas, neste caso, teria sido a mais óbvia, e que tardiamente se entendeu realizar. Como região, sendo uma área periférica em relação ao resto do país, sempre associada a descanso e a lazer, em época de Páscoa, é óbvio, que será a mais procurada com fluxos pelas vias municipais, naturalmente, sendo as estradas pouco controladas pelas autoridades policiais. No entanto, exatamente porque o Algarve não tem infraestruturas de ligação fortes e completamente estrutura-

Em dois meses, o vírus de Wuhan espalhou-se pelo mundo •

Fundamento para os cercos Em dois meses, o vírus de Wuhan espalhou-se pelo mundo devido ao efeito da forte globalização em que vivemos. Neste momento, é reavivado um conceito medieval que parecia ter ficado esquecido na história, o cerco. Wuhan viveu uma situação de isolamento forçado, fortemente policiado imposto pelo regime comunista da China, que muito provavelmente nas democracias ocidentais teria sido improvável.

riurbano. As ramificações das urbes estendem-se hoje pelo campo e distribuem-se em vasos capilares. O Algarve tem por caraterística um povoamento disperso, mas com alguma densificação nas cidades. O sistema urbano é polinucleado e tem grandes interdependências funcionais, face à nossa pequena escala. Será dramático nos tempos de hoje falarmos em cercos policiais à volta dos núcleos urbanos das cidades, mas parece já estar a ser uma prática, com postos de controlo. Estes cercos

reconhecer quais os pontos de ligação ao exterior de uma dada cidade, através dos locais de controlo policial e ainda pelas infraestruturas existen-

territórios. O Algarve, surpreendentemente, reagiu muito bem, porque o número de casos é diminuto ainda assim, e tem estado a cumprir

Os cercos antes eram realizados por muralhas à volta dos aglomerados urbanos e por água •

Será dramático nos tempos de hoje falarmos em cercos policiais à volta das cidades •

das, poderia ser muito facilmente controlada. A sua maior debilidade que é ter poucas ligações tanto ferroviárias, como rodoviárias, poderia agora transformar-se numa vantagem, pela facilidade de controlo.

Os cercos, que antes eram realizados por muralhas à volta dos aglomerados urbanos e por água, agora são difíceis de implementar, face à diluição entre o urbano e o rural, entre o consolidado e o pe-

à urbe que antigamente eram representados por exércitos de invasores, neste momento são realizados por autoridades do nosso Estado. A comparação até pode ser excessiva, mas a História é interessante. Poder-se-á

tes. Admite-se a necessidade desse rigor, face a alguma inconsciência dos cidadãos, no entanto, questiono o que irá acontecer às empresas e às estruturas produtivas que ainda temos no país. Por outro lado, se todas as cidades ou aglomerados tiverem esse cerco, como ficará o sistema polinucleado que existe hoje no Algarve, até no setor da saúde e de segurança? Provavelmente, sem grande resposta, porque não existindo muitas infraestruturas de suporte locais, tudo se centraliza em Faro. A resiliência dos territórios Dada a exigência deste estado de emergência, facilmente se conclui que esta pandemia é uma prova de resiliência das pessoas, empresas e

de forma exemplar as medidas de proteção. Apesar de uma região exposta, e com o maior pendor turístico do país, o crescimento da pandemia tem sido lenta, e com poucos casos. No que diz respeito à saúde, embora, possa ser uma região desprezada pelos sucessivos Governos, ela tem dado o seu melhor nos hospitais. Os casos estão a ser acompanhados e até agora, apesar do caos instalado na falta de meios e recursos, ainda existem pessoas que fazem os pequenos milagres de assistência, mantendo os equilíbrios necessários. Passado este tempo de contenção, virá a recessão, e as empresas e a economia levarão anos ou meses, a recuperar. A esperança é que quando existir recuperação, esta acontecerá primeiro no Algarve. l


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ARTES VISUAIS •••

Pode a arte ajudar-nos a aprender alguma coisa com o coronavírus? fotos d.r.

Saúl Neves de Jesus

Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

Em poucas semanas aquilo que pensávamos ser possível apenas em filmes de ficção científica tornou-se a nossa realidade. Algo invisível, um coronavírus, veio alterar as nossas rotinas e fazer com que todos os outros problemas mais globais ou locais se tornassem secundários. Os temas das preocupações mais mediáticas, como as guerras, o terrorismo, a crise dos refugiados, o Brexit, as alterações climáticas, o plástico nos oceanos, a necessidade de descarbonização, os incêndios ou a seca, ficaram abafados face à preocupação gerada pela doença Covid-19. No final de março, no mundo o número de casos confirmados aproxima-se do milhão, com quase 50 mil mortos. Esta doença apresenta uma taxa de mortalidade muito elevada, podendo atingir qualquer um de nós, de qualquer meio socioeconómico, sexo, raça ou idade. Para além de ser um grande problema de saúde pública, uma pandemia é também um grave problema económico, enquadrando-se no conceito de “cisne negro”, por se tratar de um acontecimento imprevisto e raro, com um grande impacto no tecido socioeconómico. Mas penso que o maior impacto é ao nível comportamental, sendo desde logo necessário o isolamento social, fazendo com que haja um confinamento no espaço em que podemos movimentar-nos fisicamente e uma grande alteração nos estilos de vida de cada um e de todos nós. Neste contexto, as novas tecnologias adquirem uma maior importância, sendo o grande instrumento para possibilitar a comunicação interpessoal, a aprendizagem, através do ensino remoto, e o próprio trabalho, através do teletrabalho, cujas potencialidades eram muitas vezes desvalorizadas face a uma cultura do “marcar o ponto”, em vez do alcance de objetivos. Toda esta situação provoca um elevado stresse, pois trata-se duma situação nova que exige importantes mudanças comportamentais. Embora todas as mudanças representem exigências de adaptação, pelo que são fator de stresse, neste caso há uma elevada incerteza, imprevisibilidade e insegurança, visto parecer quase impossível controlar o vírus a curto prazo, pois o acesso a uma vacina só parece ser possível daqui a cerca de um ano.

Obra “STOP! Este não é o caminho...”, de Saúl de Jesus (2020) •

Tudo isto nos faz sentir “pequenos”, mas isso pode ser uma oportunidade para desenvolvermos uma maior humildade, flexibilidade e tolerância, bem como uma maior consciência de que tudo é relativo. A incerteza, que já faz parte da Física há quase 100 anos, através do Princípio da Incerteza de Heisenberg, e a relatividade, que já era evidenciada por Galileu, começando a ser lei na Física a partir de Einstein, é realmente algo que

passe e que daqui a menos de um ano exista uma vacina e que nenhum outro vírus global nos atinja, seja biológico ou informático, mas devemos aproveitar este tempo em que nos encontramos em contenção, esta “paragem obrigatória”, não apenas para esperar que passe e volte tudo ao mesmo, mas para evoluirmos como seres humanos, nos nossos valores e nos nossos comportamentos. Para tal é fundamental termos cons-

Pormenor da obra, visto com lupa. •

devemos interiorizar como natural. Efetivamente, nada está completamente garantido na nossa vida. Esperemos que toda esta situação originada pelo novo coronavírus

ciência da necessidade dessa evolução enquanto pessoas e enquanto espécie, tornando-nos mais solidários e procurando viver em paz, connosco, com os outros e com o planeta.

Em artigos anteriores procurámos evidenciar que as artes visuais podem ser usadas como forma de consciencializar as populações e de contribuir para que as pessoas adotem comportamentos mais adequados em relação ao ambiente (nos artigos “Pode a arte ajudar a proteger o ambiente?” e “Pode a arte ajudar a proteger os oceanos?”), bem como podem ser um importante instrumento no sentido duma educação para a paz e para princípios éticos universais e valores humanistas, como sejam a honestidade e o respeito pelos outros (no artigo “Pode a arte contribuir para a paz?”), ou ainda podem contribuir para o desenvolvimento de atitudes mais favoráveis do sujeito em relação a si próprio, sensibilizando-o para estilos de vida mais saudáveis (no artigo “Pode a arte sensibilizar para comportamentos mais saudáveis?”). As artes visuais podem ajudar na criação de imagens que ajudem a sintetizar o essencial neste processo de consciencialização e de mudança de atitudes e comportamentos. A situação de pandemia é recente pelo que ainda devem ser poucas as obras criadas com o objetivo de nos ajudar a refletir sobre esta situação e os aspetos com ela relacionados. Da nossa parte procuramos dar um pequeno contributo através da obra “STOP! Este não é o caminho...” Nesta colocamos uma figura humana um pouco diluída, significando que o nosso corpo é frágil e tem um tempo de existência reduzido naquilo que é

a temporalidade do universo em que existimos e do planeta terra em que vivemos. E essa fragilidade é acentuada pelo atual coronavírus, invisível mas que pode pôr fim à nossa vida. Dessa forma, este vírus não é facilmente visível na pintura, sendo necessária uma lupa para o visualizarmos alojado no pulmão. É uma luta pela sobrevivência deste coronavírus, mas que começa a limitar a nossa capacidade de oxigenação e nos pode conduzir à morte. Mas afinal é isso que nós estamos a fazer com o nosso planeta, nomeadamente com os incêndios na Floresta Amazónica, o principal “pulmão” da Terra. E tudo isto por objetivos de poder económico, num caminho de ilusão da sociedade capitalista, imediatista e consumista, em que nos vamos afundando progressivamente num abismo. Seguramente este não é o caminho para a felicidade de todos e de cada um! Talvez o planeta esteja a pedir-nos para pararmos e alterarmos o caminho que estávamos a seguir, sendo necessário mudar alguns pressupostos, valores e comportamentos que não colocávamos em causa. Os próximos tempos não vão ser fáceis, colocando à prova a nossa capacidade de adaptação, serenidade e resiliência, mas aproveitemos para refletir sobre o que realmente é importante e para desenvolvermos atitudes e comportamentos mais adequados para nós mesmos, para com os outros e para com este planeta em que temos o privilégio de viver! l


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MARCA D'ÁGUA •••

Um novo tempo... com tempo! Que este tempo em que temos mais tempo, e que curiosamente coincide com a Quaresma, por si só um tempo de recolhimento e renascimento, seja isso mesmo, um renascer interior. Marcou-me esta frase do Papa Francisco proferida no passado dia 27 de Março, aquando da bênção Urbi et Orbi: “O nosso deserto florescerá!” Uma frase plena de esperança, porque este deserto não pode ser em vão! Uma frase que por sua vez remete para o recolhimento de Jesus Cristo, que durante 40 dias jejuou no deserto, antes de iniciar o seu ministério.

foto d.r.

Maria Luísa Francisco Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa luisa.algarve@gmail.com

Estávamos sempre a pensar no depois, como faremos, onde iremos… Agora é tempo de pensar no agora! Precisávamos de tempo e talvez, inconscientemente, desejássemos que tudo parasse três meses para nos reorganizarmos, porque o primeiro trimestre do ano estava a passar muito depressa e o tempo não dava para tudo. Agora que isto é real, e sem nos sentirmos culpados por tal pensamento, poderemos sentir que este é um tempo de reencontro connosco, um tempo para parar, para reflectir, para criar novos hábitos e valorizar o que já tínhamos e nem nos apercebíamos. Por estes dias, chegou a Primavera, a mudança da hora e quase nem demos por isso, talvez porque agora estamos centrados numa outra mudança: a mudança interior, a mudança de alguns hábitos e a reinvenção de novas formas de trabalhar e de nos relacionarmos. O jornalista português Paulo Dentinho escreveu uma inquietante frase sobre nós: “A nossa felicidade não pode ser indissociável da manutenção do equilíbrio da natureza, porque para o planeta nós é que estávamos a ser o vírus.” A nossa forma de consumir, de nos deslocarmos, de planearmos sem sustentabilidade não nos deixava

Quarent(en)a

Que nesta Páscoa possa florescer a semente de eternidade e de esperança que há em nós •

ouvir “o grito da Terra”. É certo que é um drama, mas se não olharmos a situação como tal e pensarmos na terapia do recomeço, talvez possamos compreender que o planeta Terra precisava de abrandar, e nós também!

Espero que esta paragem forçada, que contém muito sofrimento, sirva para mudar algo no nosso modo de vida e para melhor. Como hoje se ouve e se lê em imensos textos: “A vida não voltará a ser a mesma depois disto!”.

Existe todo um simbolismo associado ao número 40. Na Bíblia encontramos muitos exemplos: O dilúvio durou 40 dias e 40 noites; a fuga de Moisés deu-se aos 40 anos e 40 anos mais tarde foi conduzido a libertar o seu povo da escravidão egípcia e a referência ao Profeta Elias que esteve 40 dias no Montanha. Tanto a palavra Quarentena como a palavra Quaresma têm na sua origem a referência ao número 40. Na numerologia o 40 representa transformação, mudança, desafios e decisões. Os antigos tinham a crença de que não era bom sair com os bebés de casa antes de completarem 40 dias de vida. A ideia de que “a vida começa aos 40” está de certa forma ligada à mudança, como aconteceu a Moisés, a Maomé e ao próprio Buda que receberam o chamamento aos 40 anos. Estava a escrever este artigo quando, na RTP, comecei a ouvir uma entrevista àquele que foi o mais jovem Presidente da República Portuguesa. Ramalho Eanes foi eleito aos 41 anos

e foi reeleito em 1980, ou seja, há 40 anos. Parei e fiquei a ouvir as palavras que o General, de 85 anos, transmitiu com imensa lucidez e verdade e que merecem ser relembradas: “O homem, com os avanços da Ciência e da Tecnologia, julgou que era capaz de tudo, que podia dominar tudo. Esta situação pandémica mostrou que o homem continua a ser frágil, falível. Tem que estar permanentemente em ligação, em comunhão com os outros, não só para fazer o trabalho, mas para se proteger e ter futuro”. E acrescentou: “Esta crise é um momento de silêncio, de reflexão, de comunhão. Se não for assim, estaremos a perder uma oportunidade única”. O General Eanes surpreendeu-me ainda mais com estas palavras: “A espiritualidade não está no local de culto. A espiritualidade está em cada um de nós e na relação de nós com os outros. Todos nós ouvimos, todos nós lemos que ‘Cristo é amor puro’.” Que melhores palavras poderia eu encontrar para vos desejar Boa Páscoa? Uma Páscoa que nunca esqueceremos e que nos tornará mais fortes e com mais fé, porque juntos venceremos esta batalha! Por fim, gostaria de referir a Encíclica do Papa Francisco intitulada Laudato Si, que é um verdadeiro tratado sobre o cuidado da Casa Comum e sobre a “conversão ecológica”. Esta conversão passa pelo respeito para com a Mãe Terra, que precisa de equilíbrio para nos continuar a acolher como espécie consciente da fragilidade. Uma espécie que tem de ser cooperante e ter comportamentos coerentes com uma ecologia integral, porque todos somos um Todo e “ninguém se salva sozinho!” l

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FILOSOFIA DIA-A-DIA •••

Alegria, pela sua saúde! pectáculos e os bailaricos. Os aviões negra, se passou a exigir aos navios não levantam voo e os carros permaum isolamento de quarenta dias, annecem estacionados. De repente, tes de lhes ser permitido atracar nos abrem apenas os serviços essenciais portos a que arribavam. Porquê 40 Maria João Neves Ph.D e aprendemos, por fim, a destrinçar dias ninguém sabe ao certo... QuaConsultora Filosófica o indispensável do supérfluo. renta dias tem também a quaresma, Por todo o laque sucede aos excessos do carnaval . . do, comunicação e antecede as celebrações pascais. social, redes soA quaresma de 2020 iniciou a 26 ciais, familiares de Fevereiro com a Quarta-feira de e amigos, todos Cinzas e terminará no Domingo de nos falam deste Ramos a 5 de Abril. À imagem de perigo invisível, Cristo, que passou 40 dias em jejum um dito “corona no deserto e que sofreu até ao dia da vírus” que pode crucificação, os cristãos fazem uma estar em qualpequena penitência durante 40 dias quer lado, nas onde praticam algumas restrições. superfícies plástiEsta quarentena, coloca-nos a toCélulas Natural killer • cas ou metálicas, dos, católicos e não católicos, de nas roupas, nos quaresma! Simplesmente não saFalar em alegria em tempo de perdigotos! Res ínfima de grande bemos se durará “apenas” quarenta pandemia pode parecer um concapacidade contagiante, mutante e dias! Gregos e Troianos declararam tra-senso, mas não é! A tristeza mortífera! Mesmo os mais cépticos tréguas para os rituais fúnebres de enfraquece o nosso sistema imutêm de se render à evidência de que Heitor, filho de Príamo. Que bom nitário. Conservar o bom humor é algo de muito sério se passa quando seria o armistício, ou melhor ainda, extraordinariamente importante um ringue de patinagem se transa rendição do corona vírus em pleno para manter a saúde física e psíquica. forma em morgue, quando abrem domingo de Páscoa! Porém, temos A psico-neuro-endócrino-imunohospitais de campanha um pouco de estar preparados para que não logia é uma ciência que estuda as por todo o lado, quando a escassez seja assim. interacções entre o comportamento de meios obriga os profissionais de Já vimos que não podemos ene os sistemas nervoso, endócrino e tristecer porque isso imunológico. Em 1987 um conjunto diminui a capacidade de investigadores, Stone A., Cox D., imunitária. Também Valdimarsdottir e outros publicaram não podemos engorum artigo revolucionário intitulado dar porque criamos “Evidence that secretory IgA antimais problemas body is associated with daily mood”, de saúde! Ao ficom o resultado de estudos cientícar em casa tanto ficos que comprovam que o humor tempo, o frigorífico positivo está associado a um melhor torna-se uma granfuncionamento imunitário - medido de tentação! Mais pela secreção da imunoglubina A - e, ainda, o armário das vice versa, que o humor negativo gulodices recheaestá associado a um pior funcionado de chocolates, mento. bolachas, pipocas O nosso corpo tem uma espécie e batatas fritas! A de exército de defesa natural - os grande e sedutora Cauch potato • televisão, oferece fillinfócitos T - que são originados na medula óssea. Partem depois mes e séries sem fim! em direcção ao timo, onde sosaúde a escolher quem tem maiores Presos em casa sem horários, nem frem um processo de maturação, probabilidades de viver. Devido aos rotinas, estão criadas as condições diferenciando-se nas seguintes níveis de disseminação atingidos, perfeitas para nos transformarmos células guerreiras: T-helper, muito a Organização Mundial de Saúde num cauch potato - literalmente importantes para a produção de declarou no passado mês de Maruma “batata-sofá”, expressão angloanti-corpos; T-supressores, que ço o estado de pandemia. A origem -saxónica para designar uma pessoa finalizam a constituição desses mesetimológica da palavra elucida: do preguiçosa que passa o tempo todo mos anti-corpos; e T-natural killer, grego pan - tudo ou todos - e dea comer em frente à televisão. que desenvolvem uma actividade mos - povo. De supetão recebemos citotóxica. São células exterminatodos, sem excepção, uma ordem doras: combatem infecções virais e inaudita: fique em casa! E suprimiatacam as células tumorais. Estudos mos os convívios, abstemo-nos do científicos provam que nos estados contacto físico e lavamos as mãos depressivos a produção de células T freneticamente. É a chamada quadiminui. Portanto, toca a investir no rentena: reclusão de indivíduos bom humor para manter um sistema sadios durante o período de incuimunitário valente! bação da doença, contado a partir Talvez o leitor se pergunte como da data do último contacto com um é que é possível manter o bom hucaso clínico ou portador, ou da data mor com o actual estado de coisas. em que esse indivíduo sadio abanAgachamentos • Fecharam as escolas, as fábricas, donou o local em que se encontrava as lojas, os centros comerciais, os a fonte de infecção. A palavra surrestaurantes, os cafés, as fronteiras. ge em Veneza na época medieval, Que podemos fazer então? O Cancelaram-se os concertos, os esquando para conter o surto da peste exercício físico é uma óptima opfotos d r

ção. Se praticado com alguma intensidade e regularidade, tem benefícios a ambos níveis: mantém-nos fisicamente em forma e produz endorfinas, conhecidas como as hormonas da felicidade. Existem muitas aplicações e vídeos na internet com rotinas fáceis de seguir em casa. Aqui fica uma sugestão da minha prática diária que se pode realizar num espaço físico exíguo:

Flexões de braço •

3 séries (ou mais) sem descanso e a toda a velocidade de: 50 agachamentos / 30 tesouras / 20 flexões; 3 Saudações ao sol - Surya Namaskar - se treino de manhã; ou 3 saudações à lua - Chandra Namaskar - se treino ao fim do dia.

que também os olhos cedam ao peso da gravidade, entregando todo o peso do corpo à mãe-terra. Permaneça assim pelo menos 5 minutos. Realizar uma prática de meditação Tesouras • sentada após o relaxamento é também muito benéfico.

Saudação à Lua - Chandra Namaskar •

É evidente que temos de ser responsáveis e de nos manter informados; contudo, o contínuo bombardeamento de notícias calamitosas pode ter muito más consequências. Aqui ficam alguns truques para preservar a sua saúde psíquica: reduza o tempo de informação das notícias a uma vez por dia, utilizando fontes fidedignas; saia do circuito do “lixo corona” das redes sociais; enquanto lava as mãos, com a frequência e o tempo recomendados, aproveite para enumerar e agradecer mentalmente por todas as coisas boas; quando o telemóvel tocar, não atenda imediatamente, utilize esse som para se lembrar de respirar profundamente 3 vezes e ... agradeça! Está vivo!

Saudação ao Sol - Surya Namaskar •

Estas sequências de asanas de yoga podem ser praticadas nas suas versões mais simples para principiantes, ou incluir variações mais arrojadas, se já se tem mais experiência. Para terminar, pode alongar um bocadinho e seguidamente relaxar em savasana: deite-se num tapete no chão, de barriga para cima, com os braços ao longo do corpo e as palmas das mãos também viradas para cima. Coloque um cobertor por cima, para não arrefecer, e uma almofadinha de olhos ou um lenço, para reduzir a luminosidade e deixar

Meditação •

Talvez tenha chegado o tempo do ócio criativo e dos prazeres serenos: ler, escrever, desenhar, tocar um instrumento musical ou, simplesmente, contemplar... o azul do céu, o desabrochar das flores, as feições de um ente querido. Em resumo: não desperdice nem um bocadinho o lado bom desta quarentena! l


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