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O ALGARVE NATURAL

Câmara de Alcoutim reúne-se com secretária de Estado da Habitação para resolver falta de casas no concelho

Marina Gonçalves, secretária de Estado da Habitação, foi recebida pelo presidente da Câmara e pelo executivo municipal de Alcoutim FOTOS D.R.

Marina Gonçalves visitou a vila alcouteneja e reuniu-se com o executivo municipal para discutirem a Estratégia Local de Habitação

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arina Gonçalves, secretária de Estado da Habitação, visitou a vila de Alcoutim no passado dia 28 de setembro, tendo sido recebida pelo presidente da Câmara Municipal, Osvaldo dos Santos Gonçalves, e pelo executivo municipal alcoutenejo. A visita realizou-se no âmbito do programa 1º Direito e da Estratégia Local de Habitação de Alcoutim (ELHA) e a governante teve oportunidade de visitar o Edi-

fício Habitacional da Rua D. Sancho II, com cinco fogos na sede do concelho, quatro de tipologia T2, divididos por dois pisos com entrada pela Rua D. Sancho II, e um fogo de tipologia T1, com um único piso e entrada pela rua junto ao castelo e acessível a pessoas com mobilidade reduzida. A deslocação da secretária de Estado da Habitação a Alcoutim incluiu também uma reunião de trabalho, cujo tema principal foi a Estratégia Local de Habitação e o IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação

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A governante teve oportunidade de visitar o Edifício Habitacional da Rua D. Sancho II, que inclui cinco fogos na sede do concelho

Urbana), no âmbito do Programa de Apoio do Acesso à Habitação.

Município de Alcoutim prossegue com a implementação da Estratégia Local de Habitação Identificada a insuficiência de habitação, a Câmara Municipal destacou “a importância da criação de instrumentos de apoio à criação ou reabilitação de habitações destinada aos mais jovens, num município

com uma das menores taxa de densidade populacional a nível nacional torna-se de extrema importância a criação de soluções”. O Município de Alcoutim prossegue com a implementação da sua Estratégia Local de Habitação, um instrumento estratégico que contém o diagnóstico das carências habitacionais existentes no seu território, bem como a definição de soluções que o executivo pretende ver desenvolvidas para combater as dificuldades identificadas.

O desenvolvimento da ELHA constitui um requisito obrigatório de acesso às linhas de financiamento do “Programa de Apoio ao Acesso à Habitação - 1.º Direito”, o qual visa a promoção de soluções habitacionais para pessoas que vivam em condições indignas e sem capacidade financeira para suportar o custo do acesso a uma habitação adequada. Por outro lado, equilibra a definição de uma nova política local de habitação, preparando as medidas e a respetiva ordem de prioridade.

Abertas inscrições para o III Trail “Na Rota da Perdiz” em Martim Longo Evento insere-se na programação da XIII Feira da Perdiz, que decorre em Martim Longo no fim de semana de 12 e 13 de novembro “Na Rota da Perdiz” é como se intitula o trail que decorrerá em Martim Longo, no concelho de Alcoutim, no próximo dia 13 de novembro. Organizado pela Associação de Jovens do Nordeste Algarvio – Inter-Vivos, com o apoio da Câmara Municipal de Alcoutim, o evento insere-se na programação da XIII Feira da Perdiz, a decorrer em Martim Longo no fim de semana de 12 e 13 de novembro, com o objetivo de promover as extraordinárias condições cinegéticas do concelho de Alcoutim,

e tem entrada gratuita. Com partida marcada para as 09:30, junto à piscina municipal, em Martim Longo, o passeio será pela Serra do Caldeirão com uma distância aproximada de 19,2 quilómetros. O trail terá pontos de abastecimento de líquidos, um reforço. A abertura do secretariado está marcada para as 08:30 e às 09:20 será feita a apresentação do briefing, seguindo-se o início da prova às 09:30.

Inscrições são obrigatórias e limitadas a 200 participantes As inscrições são obrigatórias e limitadas a 200 participantes, podem ser feitas online

no site: https://www.crono.aaalgarve.org/ eventos/iii-trail-na-rota-da-perdiz Na XIII Feira da Perdiz estarão presentes empresas e associações do sector. O visitante poderá disfrutar de um leque variado de atividades, como fauna viva, animação musical, exposições de espécies cinegéticas, concursos, artesanato, entre outras. Nas tasquinhas será possível degustar diversos pratos típicos da gastronomia da região nesta época do ano, com destaque para os pratos à base de caça. Os interessados em mais informações devem contactar os emails desporto@cm-alcoutim.pt e intervivos.actividades@gmail.com ou os números de telemóvel 969 090 833 e 964 472 576.

Participantes terão oportunidade de desfrutar da beleza das paisagens da Serra do Caldeirão FOTO D.R.


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Alcoutim é um território Chamam-lhe o “Paraíso Cinegético”, onde a caça é importante na gestão sustentável

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fauna e a flora, juntamente com os recursos hídr icos, fora m ing red ientes du ra nte milhares de anos para o desenvolvimento de comunidades humanas. Na pré-história o homem caçava para sobreviver. Com a invenção da agricultura na pré-história recente, no período neolítico, as comunidades humanas tornaram-se sedentárias, fixando-se em povoados e começaram a produzir e a cuidar dos seus próprios alimentos. A caça, que representava o alimento incerto, passou a ter um papel secundário, mas sempre complementar na alimentação humana, tornando-se uma ferramenta de gestão do território, necessária na proteção das plantações, das populações e dos

animais domésticos. A vila medieval de Alcoutim tornou-se sede de concelho em 1304, pelo foral passado por D. Dinis, e foi até 1836 o maior concelho do Algarve, ano em que perdeu a freguesia de Cachopo para Tavira. Mantendo-se atualmente como um dos maiores em território com cerca de 577 kms2, representando 12% da área total do Algarve. O seu território caracteriza-se por terrenos xistosos pobres do ponto de vista agrícola, acidentado e marcado pelas várias ribeiras que o atravessam e pelo vale do Guadiana que lhe serve de fronteira com Espanha. Tem características que atraíram populações e levaram à fundação de mais de uma centena de pequenas aldeias, aliciadas pelos seus recursos naturais como a fauna, a flora e os

minerais do subsolo. Ao longo dos séculos a sua população dedicou-se maioritariamente à agricultura e à pastorícia, tendo na caça, na pesca, na apicultura, na recoleção de cogumelos e plantas silvestres um bom complemento à sua dieta alimentar. A caça, sobretudo à perdiz, ao coelho e à lebre teve épocas de grande importância, sobretudo para aqueles que passaram fome e por necessidade tinham de recorrer à caça para sobreviver. Episódios destes podem, ainda, ser escutados da boca dos residentes mais idosos, que recordam tempos difíceis, mas onde a caça era abundante e utilizavam técnicas hoje em desuso ou proibidas. Eram as armadilhas, os cães treinados diariamente no campo, o caçar com um pau ou o caçar em grupo à perdiz escalfada.

A caça foi sempre um recurso importante em Alcoutim A caça foi sempre referida como um recurso importante em Alcoutim. Em tempos foi praticada por caçadores semiprofissionais que caçavam todos os dias durante largos meses do ano e que vendiam caça para ganharem o sustento da família. Os almocreves antigos e as carreiras de há algumas décadas encarregaram-se de levar a caça para ser vendida e consumida nos grandes centros urbanos do litoral e até para Lisboa chegou a ser enviada. Conta-se que vinham caçadores de outros concelhos instalar-se no concelho de Alcoutim durante as temporadas de caça com o propósito de caçar todos os dias e com isso realizarem negócio. Nos finais do séc. XIX também o Rei D. Carlos

foi atraído pela fama desta terra em abundância cinegética, sobretudo para realizar jornadas de caça às lebres nas chadas do Pereiro. Hoje, os tempos são outros, Alcoutim luta contra o despovoamento e a desertificação, aproveitando todos os recursos para melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. A atividade cinegética tem uma importância vital nos territórios rurais. É inegável a importância da caça na gestão do ecossistema agrícola, sobretudo na componente biótica que diz respeito aos organismos vivos, onde o homem tem um papel ativo na organização e gestão dos recursos. A economia da caça, em Alcoutim, reflete-se nos empregos diretos e indiretos, como por exemplo a fonte de receitas de dormidas e comidas e o aumento do número de visitantes que atrai ao con-


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rico em biodiversidade do território.

Imagem à esquerda As zonas de caça turísticas de Alcoutim representam 35% das existentes em toda a região algarvia Imagem ao centro O caçador é um apaixonado pelo campo, pelos animais e pelas atividades do mundo rural Imagem à direita Alcoutim é conhecido por ser um paraíso cinegético, onde a caça à perdiz é rainha, mas também ao coelho, à lebre, ao javali e ao veado FOTOS D.R.

celho. Destaca-se também o reflexo na gastronomia tradicional, os pratos de caça como por exemplo a açorda de perdiz, a canja de perdiz, o javali estufado, a lebre com feijão branco, o ensopado de lebre ou o coelho frito, que associados a outros produtos da terra, podem ser degustados nos restaurantes do território. Nas últimas três décadas houve uma grande evolução na forma de gerir os recursos cinegéticos, passando o território de Alcoutim a estar 85% em regime cinegético ordenado, onde existem 15 reservas turísticas que abrangem 23.798 hectares e 38 zonas de caça associativas com uma área de 23.727 hectares e duas reservas de caça municipais com uma área de cerca de 1.700 hectares. As zonas de caça turísticas de Alcoutim representam 35% das existentes em

toda a região algarvia e as associativas 14%. Estes números refletem bem a importância do setor neste concelho, conhecido por ser um paraíso cinegético e onde a caça à perdiz é rainha, mas também ao coelho, à lebre, ao javali e ao veado. Mas é importante que se perceba que a atividade cinegética faz parte da identidade do mundo rural, que sempre existiu e sempre as comunidades rurais souberam gerir o ecossistema de forma sustentável. É necessário voz ativa na defesa do mundo rural, é necessário debater de forma honesta e esclarecida para que não sejam tomadas decisões, por quem tem poder e legitimidade para tal, com base no desconhecimento e no preconceito. Defender a caça é defender a valorização do ecossistema agrícola e a biodiversidade, é defender o mundo

rural na sua essência e interligação com a natureza, é combater o despovoamento, o abandono e a desertificação, é entender a natureza e compreender a essência humana.

A caça é praticada com paixão, mas também com comprometimento com a natureza O caçador é acima de tudo um apaixonado pelo campo, pelos animais e pelas atividades do mundo rural. A caça é gestão cinegética, é gestão do ecossistema, é preservação dos habitats e valorização das formas tradicionais de habitar o mundo rural. A caça é uma forma de turismo, quer no ato em si como nas caminhadas e contemplação dos animais em estado selvagem, quer na convivialidade e sociabilização que proporciona. Uma

boa gestão cinegética faz sementeiras e constrói charcas para armazenamento de água para que não falte comida e água aos animais. É fundamental fazer uma gestão correta dos matos, abrir caminhos que entre outras utilidades permitem a prevenção e o combate aos incêndios. A gestão cinegética é uma preocupação permanente com o equilíbrio entre exploração agrícola, exploração cinegética e manutenção da biodiversidade. No fundo, é a preocupação e o assumir de responsabilidade entre o equilíbrio da exploração da natureza pelo ser humano e os demais seres vivos que partilham o território. A caça é praticada com paixão, mas também com comprometimento com a natureza e tem de ser respeitada como ferramenta de gestão do mundo rural e da biodiversidade. No

território de Alcoutim esta gestão tem permitido atrair populações de veados vindos de Espanha, que aqui encontram condições para se desenvolverem, recuperando esta espécie no território depois de estar completamente extinta. Outras espécies têm aumentado neste território, como a águia de bonelli, a abetarda, a barriga negra, a raposa, o javali, os saca rabos, etc. Com maior mediatismo e exemplo máximo deste trabalho de recuperação de espécies selvagens e da estreita colaboração entre ICNF e caçadores temos o lince ibérico. A reintrodução dos primeiros linces no território do Baixo Guadiana aconteceu em 2015, em Mértola, concelho limítrofe de Alcoutim situado a norte. Alcoutim precisa deste recurso natural que assume grande importância na manutenção das suas populações!


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