Jornal Lampião - edição 5

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edição: leandro sena e lincon zarbietti


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Eduardo Almeida e Marcela Servano

Opinião

Editorial

Ações Solidárias No fim do ano, comemora-se um aniversário muito especial – o de Jesus Cristo. Para os que creem e mesmo para os que ão creem, o Natal é sempre um dia importante. Atreveríamos a dizer que ele é um período do ano abrangente, porque o respiramos em novembro e ele continua conosco em janeiro. Mas, Natal pode ser o ano todo ou mesmo a vida inteira. Basta olhar para os lados e ver muitas possibilidades de trabalhar voluntariamente, ajudando-nos uns aos outros sem esperar pagamento em troca. Eis o nosso mote para essa edição: as ações solidárias realizadas nas comunidades. Não tem nada a ver com religião, nada a ver com ideologias. Tem a ver com o levar o que temos e o que sabemos para o outro, que necessita da nossa bagagem. E recebermos do outro o que ele tem a nos oferecer. Assim, podemos dizer que ser voluntário é uma expressão bastante abrangente. O Lampião, nessa edição, apresenta algumas propostas para que o leitor conheça o que tem sido feito na região em nome de ações solidárias, como o estímulo para os jovens adentrarem ao universo das artes e a preparação deles

para enfrentarem o mercado de trabalho, aprendendo através da leitura, do aprendizado de línguas, da compreensão da cultura em suas vidas. Se a primeira impressão é a que fica, há quem se preocupe com o sorriso do outro, cuidando dos seus dentes e de sua saúde. Se o problema é financeiro, podese auxiliar uma pessoa ou instituição organizando-se brechós para levantar recursos, ou ainda produzindo e vendendo sabonetes e outros cosméticos; outra forma é através da música, transformando o adolescente e o jovem em profissionais da área. Pensar em solidariedade implica pensar em inclusão social: a interação pode ocorrer na sessão da narrativa de causos ( como se diz na região), dentro da biblioteca volante, nos momentos cênicos promovidos pelos jovens artistas da UFOP, nas visitas aos hospitais e às sedes da Apae e pelos esportes, ou no apoio àqueles vitimados dentro do próprio lar. Então, ofereça-se para trabalhar em alguma atividade que torne o outro, hoje, melhor do que ele se sentia ontem. O melhor da história: somos os principais favorecidos.

CHARGE

Políticas Públicas Viviane Souza Pereira

As políticas sociais possuem uma dimensão contraditória. Atendem tanto ao processo de acumulação do capital e manutenção da lógica estrutural em que vivemos quanto respondem parte das demandas dos trabalhadores. Assim, escapa às suas capacidades, desenhos e objetivos eliminar níveis tão elevados de desigualdade, como os encontrados no Brasil. A partir da correlação de forças existente na sociedade, em dados momentos históricos elas irão tender mais a um polo ou a outro. A política pública de assistência social avançou nos últimos anos. Isso é perceptível e atestado por alguns aspectos, tais como a reformulação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), em 2004, e a aprovação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que agora é lei. Porém, ainda há muito que ser feito. A distribuição dos recursos do Ministério do Desenvolvimento Social, em 2010, aponta que 91,6% são destinados aos programas de transferência de renda, divididos em 52% para o Benefício de Prestação Continuada; 35%, Bolsa Família; e 4,6%, Renda Mensal Vitalícia. Somente 2,3% do montante de recursos destina-se a Proteção Social Básica e Especial; 0,9%, ao Projovem; 0,1%, ao combate à violência sexual; e 5,1% a outras ações do Ministério. Os dados demonstram uma barreira para a efetivação do SUAS e evidenciam o compromisso assumido com a manutenção do processo de valorização do capital em detrimento do atendimento das necessidades humanas.

As expressões da questão social estão sendo enfrentadas, quase em sua totalidade, por meio de programas de transferência de renda, que respondem por grande parte da ampliação de recursos destinados à assistência social. O aumento de recursos é acompanhado de um esvaziamento da saúde e previdência social públicas, abrindo campo para a atuação dos sistemas complementares, ou seja, planos de saúde e previdência privada. Mesmo com um substancial investimento de recursos na assistência social, ela não atinge, na íntegra, a população e permanece focalizada.

Mesmo com um substancial investimento de recursos na assistência social, ela não atinge, na íntegra, a população. Neste contexto, os pobres, desempregados e empregados precariamente são estimulados a resolver seus problemas, o que evidencia a permanência de um conservadorismo característico da política brasileira. Desprovida de acesso aos direitos sociais e trabalhistas, a população é incentivada a adentrar a lógica dos “cidadãos consumidores” dos sistemas complementares privados, do empreendedorismo social e do crédito fácil. Esse quadro gera um agravamento a questão social e contribui

para assegurar o predomínio da lógica estrutural estabelecida. Desta forma, prossegue a luta da sociedade brasileira em direção à concretização de direitos sociais. O Serviço Social, profissão comprometida com a defesa da universalização da seguridade social e de uma política de assistência social capaz de assegurar benefícios e serviços de qualidade, com participação e controle da sociedade civil e enquanto responsabilidade do Estado, certamente, continuará presente nesta caminhada. A categoria precisa se mobilizar, e lutar pela ampliação e materialização dos direitos para além da legislação existente e pela universalização da seguridade social. A assistência social brasileira somente poderá ser entendida enquanto parte de um sistema de proteção social público quando este articular assistência social, saúde e previdência, garantindo o tripé da Seguridade Social. Viviane Souza Pereira, Assistente Social e Mestre pela UFJF, doutoranda em Serviço Social pela UFRJ e professora do curso de Serviço Social da UFOP.

Entre Olhares

Muito Prazer LUIZA BARUFI

Lampejos desta edição “Já aconteceu de mandarmos projetos importantíssimos para as crianças e a empresa retornar dizendo pra enviar outro projeto, que seja melhor para o marketing dela”.

Maria Zélia Ventura, diretora da Apae, sobre as dificuldades em parcerias com empresas locais. p.4

“A arte a gente não pode ensinar, a pessoa nasce com o dom. O que podemos fazer é orientar”.

Hélio Petrus, artista plástico explicando que, com experência, os alunos desenvolvem seu próprio talento. p. 6

“No Siame encontrei apoio para superar a dor e, principalmente, coragem para ir adiante com o processo”.

Rosileine dos Santos, após sofrer agressões do marido e buscar o apoio do Siame. p. 8

“Não me vejo fora dessa atividade. Só falto se precisar fazer algo muito urgente”,

Shirley de Fátima, sobre seu trabalho voluntário no Lar Santa Maria. p. 9

Convite: sente-se ao meu lado e ouça minhas histórias... Elisabeth Camilo

No banquinho da praça podemos falar de gente, de flores, de causos, de medos ou de dúvidas. Se você caminha pelas ruas e não tem quem queira lhe ouvir, conte comigo. Ouvir é uma arte e precisamos praticá-la sempre que possível. Há segredo? Conte-os, se quiser. Os segredos mudam de geração para geração e também os tenho para partilhar. Ótimo, vou conhecer seu perfil agora e isto vai ser muito agra-

dável para mim. É um poeta? Poetas existem aqui e ali, e é tão bom conhecê-los... Ah, e quem sou eu que me intrometo na sua vida sem ao menos me identificar? Sou apenas uma estudante de jornalismo. Por favor, não se sinta cobaia de mim. Você não é objeto de minha especulação. Você é minha inspiração, meu tudo neste momento... Você pode ser qualquer um, o guarda no trânsito, o comerciante à porta de seu estabelecimento, o

executivo que resolveu ajudar uma ONG, o homem que ganhou na loteria, a poesia que desejou morrer ou o atleta que acabou de receber uma medalha, mesmo sem patrocínio. Sem você, eu não vivo, eu não sou ninguém. Quem é o jornalista sem o fato jornalístico, sem a pessoa a perfilar, sem a instituição para visitar, sem a policia, sem o bombeiro, sem o político? Ele é apenas alguém sem rumo, nada mais. Por tudo isso, me convido para sentar a seu lado e compartilhar seu silêncio, sua reflexão, sua história de vida. Posso descobrir em você um talento oculto, uma pessoa mais do que especial (porque especial você já é), uma fonte oficial ou oficiosa, um amigo. Me aperte a mão. E, com esse gesto, me inclua na sua vida.

Erramos EDIÇÃO 4 - NOVEMBRO 2011 As fotos da reportagem:”Instalação de semáforos em Ouro Preto na Barra, da página 10, são de Flávio Ulhôa. A foto da matéria “Cine Inconfidentes incentivo a produção”, da página 11, é de divulgação.

Jornal laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo D Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) D Reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Giulle Vieira da Matta. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Marta Regina Maia D Professoras responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem) e Priscila Borges (Planejamento Visual) D Reportagem, fotografia e edição: Allan Almeida, Alyson Soares, Ana Malaco, André Luís Mapa, Bárbara Andrade, Beatriz de Melo, Deiva Miguel, Eduardo Guimarães, Elisabeth Camilo, Eloisa Lima, Erica Pimenta, Eugene Francklin, Fádia Calandrini, Flávio Ulhôa, Gracy Laport, Josie Oliveira, Leandro Sena, Lincon Zarbietti, Lucas Lima, Luiza Barufi, Marcela Servano, Maria Aparecida Pinto, Rayanne Resende, Yasmini Gomes D Projeto gráfico: Enrico Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mayara Gouvea, Simião Castro, Tábata Romero D Colaboração: Anderson Medeiros, Bruno Galvão, Fábio Germano D Revisão: Eduardo Almeida, Alyson Soares, Yasmini Gomes D Impressão: Sempre Editora Ltda D Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço eletrônico: jornallampiao@gmail.com. Twitter: @JornalLampiao Endereço: Rua do Catete nº 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Eugene Francklin e Maria Aparecida Pinto

gente

Voluntariado mantém escolinhas de futebol em Mariana e região Entidade conta com 75 voluntários e atende, aproximadamente, mil crianças e adolescentes com o objetivo de formar, mais do que atletas, cidadãos andré mapa

André mapa

Baseado na tese de que a prática de esportes é a principal alternativa para prevenção do envolvimento de crianças e adolescentes com as drogas e com a violência, o Instituto Marianense de Socialização pelo Esporte (IMSE) auxilia a manutenção de 15 escolinhas de futebol em Mariana e Ouro Preto. O trabalho é desenvolvido por voluntários, que atuam desde a captação de recursos para aquisição de uniformes e materiais esportivos, e treinadores, em atividades realizadas dentro de campo. “Os voluntários trabalham todos os sábados com os meninos. Além dos treinamentos, também realizamos palestras sobre como podem cuidar melhor da saúde e prevenção ao uso de drogas e álcool”, afirma o presidente do instituto, José Pereira dos Santos Neto. De acordo com o voluntário responsável pela escolinha do Guarany Futebol Clube, Marcos Eduardo Rosa, o “Brigite”, “o objetivo do instituto é contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes”. “Não queremos apenas formar atletas, mas sim pessoas que saibam o que é respeito, disciplina e trabalho em equipe”. Além das cerca de mil crianças e adolescentes, com idade entre 5 e 17 anos, que frequentam as escolinhas, muitos pais e familiares

Os treinos, aos sábados, são oportunidades de aprendizado sobre respeito, disciplina e trabalho em equipe; voluntários se revezam dentro e fora do campo

também se envolvem e participam do trabalho. “Enquanto os meninos estão em campo, fico do lado de fora tomando conta das crianças menores. Vários pais vêm cedo trazer os filhos e aproveitam para ajudar”, conta Nilza Assis Moreira, avó de um dos alunos da escolinha de futebol do Guarany. O instituto obtém recursos para manutenção das escolinhas através de convênios com o Governo esta-

dual e com a empresa de mineração Samarco. “Através das parcerias com o governo conseguimos adquirir um veículo para atendimento médico aos meninos e transporte dos voluntários. Já a Samarco patrocina a compra de materiais esportivos”, diz. Este projeto também auxilia escolinhas nos distritos de Mariana e de Ouro Preto. “Elas são importantes porque são uma forma de in-

Bazar motiva solidariedade Josie Oliveira

Atualmente, com a correria desenfreada e o imediatismo , as pessoas estão se esquecendo de gestos simples para com outro. Trocar um sorriso ou dar um abraço não fazem mais parte do cotidiano de quem vive nos centros urbanos. Mas, em Mariana, ainda é possível encontrar pessoas dispostas a ajudar o próximo sem obter alguma vantagem ou lucro. É o caso de Maria Zacarias, 58, que nasceu em Furquim, distrito de Mariana, e que na adolescência mudou-se para a cidade com seus pais e mais 13 irmãos. Em 1974, Maria casou-se, e teve quatro filhos. Sempre foi uma mulher batalhadora e durante muitos anos exerceu a função de secretária na Escola Padre Avelar e no Seminário de Teologia São José. Por problemas de saúde, ela teve que se afastar do trabalho e aguarda até hoje a sua aposentadoria. Há 18 anos, Maria possui um pensionato para estudantes no município. Maria tornou-se voluntária de um bazar, graças a um favor que realizou para uma amiga: entregar um documento ao presidente da Comunidade Terapêutica Emanuel (Coterem). Ela interessou-se pela entidade, participou de reuniões e decidiu ser voluntária. A Coterem, atualmente situada na Rua André Corsino, Centro, é uma entidade filantrópica, que se destina a atender pessoas com dependência química, oferecendo apoio psicológico, espiritual e de reintegração na sociedade. O bazar, coordenado por Maria Zacarias há um ano, recebe doações de roupas, calçados, bolsas, acessórios e materiais escolares, cuja renda é direcionada para com-

pras de materiais de construção para a nova sede da entidade, pagamentos de funcionários e despesas pessoais. Os produtos vendidos no bazar são de baixo custo variando de R$ 1,00 a R$ 5,00. Algumas lojas da cidade também fazem doações de roupas novas que costumam ser vendidas entre R$ 10,00 e R$ 20,00. Antes, o bazar era realizado na Casa de Cultura a cada três meses.

Atualmente, acontece todos os meses, durante dez dias, em um imóvel da Igreja São Francisco. Para se tornar um voluntário do bazar basta entrar em contato com Maria Zacarias pelos telefones (31) 3557-1581 ou (31) 3558-1036, ou no escritório da Coterem. O bazar irá funcionar até o dia 20 de dezembro, das 10 às 17 horas. Endereço: Rua Travessa João Pinheiro, 20, Centro. allan almeida

centivo à inclusão social e à melhoria da qualidade de vida, além de agregar valores para a socialização das crianças”, ressalta o presidente do Instituto Marianense de Socialização pelo Esporte.

Pela iniciativa, o instituto, que conta atualmente com 75 voluntários, já recebeu prêmios destinados a destaques do esporte local, incluindo o Troféu Imprensa de Mariana, e o Troféu Cafunga.

Sorrisos em hospitais Deiva Miguel

O grupo Só Riso, uma vez ao mês, visita hospitais e orfanatos de Mariana com o objetivo de levar alegria às pessoas que se encontram internadas, pacientes que, às vezes, estão em fase terminal e crianças que são criadas sem o carinho dos pais. Inspirados nos Doutores da Alegria, os amigos e palhaços Dr. Geleia, Pipoca, Moranguinho, Kisuco, Batata e Maria-Mole se uniram em torno da vontade de ajudar ao próximo. Preferem ficar no anonimato e, por isso, só usam o “nome artístico”. Eles contaram com o apoio de uma costureira, que ajudou a criar as vestimentas de palhaços, e assim nasceu o grupo, que é voluntário e não conta com ajuda financeira de nenhuma instituição. No cotidiano, os amigos estudam e trabalham, pois não têm a intenção de se sustentar economicamente com a atividade. O que os motiva a exercer esse papel é o desejo de diminuir a tensão de um paciente no hospital. “Não há um cronograma de visitas”, explica o Dr. Geléia, que relata acordar, no

final de semana, e sentir no coração que precisa naquele dia ir às visitas. O grupo é composto apenas pela família dos integrantes e duas moradoras de distritos de Mariana. Após cada encontro, eles percebem uma mudança de humor e satisfação nos pacientes e nas crianças, e dizem que o trabalho não é unilateral: o espírito de luta, a coragem e alegria das pessoas atendidas pelo grupo são contagiantes. “Só presenciando (isso) é que se sente; não há muito como explicar a sensação”, diz o Dr. Geleia. A assistente social Aparecida Custódia, do hospital Monsenhor Horta, em Mariana, diz perceber uma “melhora muito grande no estado do paciente ao receber a visita do grupo”. “Eles (os pacientes) ficam mais animados para lutar contra suas doenças”, afirma. Quem tiver interesse pelo projeto e quiser acompanhar o grupo nas visitas aos hospitais pode fazer contato através do e-mail sorisomg@yahoo.com.br. O grupo prefere ficar no anonimato, mostrando apenas seus nomes artísticos, pois acredita que trata-se de um trabalho voluntário.

Quem são os Doutores da Alegria

O lucro da venda de roupas é revertido para a manutenção da Coterem

Em 1986, nasce o projeto Doutores da Alegria, a ideia norte americana teve início com Michael Christensen, um palhaço que se apresentou em um hospital em uma data comemorativa. Neste evento, percebeu que alguns pacientes não tinham como participar da comemoração devido as condições hospitalares em que se encontravam. Ele resolveu entrar nos quartos e levar a atração aos que não podiam se deslocar. E assim o projeto se firmou e se desenvolve até os dias de hoje. Em 1988, Welligthon Nogueira foi para os EUA para integrar ao grupo. Em 1991, retorna ao Brasil para de-

senvolver o projeto. Junta-se a alguns palhaços que igualmente a ele integraram o mesmo projeto em outros países, como Alemanha e França. Naquele ano, eles realizaram a primeira visita ao Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, hoje conhecido como Hospital da Criança. Os Doutores da Alegria são uma organização civil e sem fins lucrativos. Atualmente, o grupo já realizou mais de 800 visitas, em hospitais de São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Os integrantes do projeto lutam para manter a instituição voluntária. Fonte: www.doutoresdalegria.org.br


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Ana Malaco e Beatriz de Melo

EDUCAÇÃO

Produtos das oficinas ajudam a manter Apae Em Mariana, a Apae sofre com ausência de incentivos de empresas públicas e privadas, e doações se tornam alternativa para manutenção da entidade Fotos: Eduardo Almeida

Eduardo Almeida

Na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Mariana, além de estudar, os alunos participam de diversas atividades como oficinas de tapete, artesanato, sorvete e bijuteria. “Aqui na oficina são dois turnos com quatro alunos. É prazeroso ver a vontade de ajudar que eles têm”, conta Maria Auxiliadora, que ministra o curso de sorvete na Associação. Após ficarem prontos, os sorvetes são vendidos na própria Apae e o lucro também é usado na manutenção da instituição. Os trabalhos manuais e artesanais produzidos na Associação auxiliam no desenvolvimento das crianças e jovens. Apesar da relevância do trabalho realizado na comunidade marianense, a Apae não recebe recursos suficientes para uma manutenção satisfatória e investimentos na infraestrutura ficam prejudicados. “Já aconteceu de mandarmos projetos importantíssimos para as crianças e a empresa retornar dizendo pra enviar outro projeto, que seja melhor para o marketing dela”. A afirmação da diretora, Maria Zélia Gonçalves Ventura, retrata as dificuldades que a entidade enfrenta para manter o quadro de 73 funcionários e 180 alunos atendidos pela instituição.

A diretora da Associação afirma que apesar do alto poder aquisitivo da população de Mariana, as pessoas não investem na entidade. De acordo com os dados disponíveis no site do IBGE, Mariana tem hoje um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 41.160,18, por pessoa. Para Maria Zélia, falta mais parceria também entre as grandes empresas instaladas na cidade e a Apae. “As grandes empresas da região não apoiam e, quando apoiam, limitam uma verba para ser dividida entre diversas instituições”, afirma a diretora.

Há quase uma década foi criado o serviço de telemarketing, mas o número de doações ainda é baixo Segundo Maria Zélia, “as trocas de prefeito prejudicam muito a Apae. (...) A gente depende muito do apoio da Prefeitura, porque o Governo do Estado está longe e é radical em seu apoio”. A diretora se refere ao fato do Estado ter uma verba fixa destinada à

instituição, sem flexibilidade. Para ajudar na manutenção da entidade e no atendimento aos alunos foi criado, há oito anos, um serviço de telemarketing. O número de doações é baixo, a população desconhece este trabalho apesar de quase uma década em funcionamento. Duas funcionárias são responsáveis por entrar em contato com a comunidade e atrair doações. Este serviço visa envolver os moradores, para que ajudem a instituição. “O telemarketing é um trabalho muito minucioso, porque a pessoa só investe naquilo que confia. Aqui se faz mágica com as doações”, completa Zélia. Com relação à infraestrutura da Apae, Maria Zélia destaca a falta de uma piscina para o trabalho fisioterápico. Nas instituições de apoio à criança especial, segundo ela, a piscina é algo fundamental no trabalho da reabilitação. “Temos intenção de iniciar também o trabalho de reabilitação das crianças com apoio de cavalos. Temos um espaço enorme que poderíamos utilizar para estes fins”, explica Maria Zélia. Uma van, uma Kombi e um Fiat Uno estão disponíveis para o atendimento dos alunos, os custos de manutenção e rodagem são de responsabilidade da Apae.

Seja um Padrinho neste Natal Todos os anos a Apae realiza a Festa de Natal para os alunos, com direito a presépio e chegada do Papai Noel. As professoras fazem uma lista com o tamanho de roupas e calçados de cada estudante, e assumem a missão de conseguir um padrinho para cada um dos estudantes da Associação. Cabe ao padrinho o papel de presentear e fazer valer o espírito solidário que

ronda o Natal. Mais do que comprar um conjunto de roupas e um calçado, mas mostrar solidariedade com o próximo. Para se tornar um padrinho é muito fácil, você deve entrar em contato com a Apae de Mariana e solicitar algum item da lista de presentes. Procure parentes e amigos que possam dividir o custo do presente com você. A Associação atende pelo telefone (31) 3557-3758.

Aluna da Apae durante a Oficina de Tapeçaria: atividade artesanal ajuda no desenvolvimento

Sorvete também é fonte de renda para manutenção da Apae

Associação entra na rotina de alunos Eduardo Almeida

No dia 29 de setembro, alunos dos primeiros anos da Escola Municipal Prefeito Jadir Macedo, do distrito de Monsenhor Horta, visitaram a Apae em Mariana. Juntamente com funcionárias da escola, os estudantes tiveram a oportunidade de ampliar o convívio e o diálogo com

portadores de necessidades especiais leves. Para a professora de Sociologia, Ana Maria Tavares, “mais do que uma simples visita, esta etapa inicia um projeto da disciplina de Sociologia, que visa a integração entre as duas escolas”. A aproximação entre a escola e a Associação surgiu da

necessidade de discutir com os estudantes temas como respeito com as diferenças, solidariedade e cidadania. De acordo com Ana Maria, os alunos sentiram que o encontro foi de extrema importância para mostrar que as diferenças devem ser pautas de discussão em toda a comunidade marianense.

Com as mãos na massa e o registro na carteira Eduardo Almeida

Um projeto que oferece a chance de um novo aprendizado e de entrada no mercado de trabalho para os jovens. Assim é o Padaria Escola, que hoje atende oito alunos que frequentam as aulas diariamente no CRIA (Centro de Referência à Infância e Adolescência) da Prefeitura de Mariana. Entre eles está o estudante Felipe Batista, 18 anos, aluno e monitor, que há sete meses trabalha em uma panificadora da cidade. “O pro-

jeto é bom porque dá chance ao primeiro emprego, tira as crianças da rua e é uma qualificação pra gente”, conta Felipe, que hoje também ajuda a mãe na confecção de salgados e doces vendidos na feira da cidade. Durante o período de seis meses de curso, cerca de 36 receitas são ensinadas para alunos de baixa renda ou em liberdade assistida. “Além de qualificarmos esses jovens para conseguirem um emprego nas padarias da região, ainda ajudamos alguns a re-

tornar à comunidade”, informa o instrutor do curso de panificação, Douglas Fraga A Padaria Escola iniciou também uma parceria com a Apae e com a Comunidade do Figueira, para capacitar alunos especiais para que tenham oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. Atualmente, o projeto fornece cerca de mil pães por dia, que são distribuídos entre órgãos públicos da cidade. De acordo com Douglas, várias padarias do municí-

pio entram em contato com o grupo a fim de contratar jovens capacitados pelo curso. Este ano, 50 jovens já foram empregados. O curso conta com nutricionistas, que ministram aulas teóricas e práticas sobre o uso de alimentos e a forma adequada de manipulálos. Técnicos de segurança do trabalho complementam a formação com instruções sobre o uso de equipamentos de cozinha industrial. Outra iniciativa realizada pela Secretaria de Desenvol-

Alunos do projeto Padaria Escola colocam em prática receitas aprendidas durante os seis meses de curso

vimento Social e Cidadania busca atingir diferentes áreas da gastronomia. Também realizado no CRIA, o programa Cozinha Escola busca capacitar e qualificar homens e mulheres nos fazeres da culinária. Hoje, o programa tem sete alunos em treinamento que produzem diariamente almoço para 70 pessoas. O projeto funciona como vitrine para as empresas do ramo. No começo do semestre, seis alunos já estão com seu registro na carteira.

SAIBA MAIS Para participar do programa é necessário estar inscrito no Cadastro Único do Governo Federal, que mapeia famílias de baixa renda, até meio salário mínimo por pessoa, que pode ser feito na própria secretaria do CRIA, localizada na Rua 2 de Outubro, Vila Maquiné, s/nº.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Alyson Soares e Lucas Lima

extensão

População aprende novo idioma Projeto de Extensão da UFOP oferece curso de inglês de qualidade e com preço acessível, tendo grande aceitação nas comunidades em que atua Yasmini Gomes

Yasmini Gomes

Dos inúmeros projetos desenvolvidos pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) para a comunidade, o ensino de línguas é um dos que possui maior procura. Composto por 20 turmas, com adultos e crianças, o curso de inglês atende cerca de 400 alunos, tanto da UFOP quanto de Mariana e região. De acordo com o professor Ciro Medeiros, um dos coordenadores do projeto, o índice de procura por moradores de Mariana chega a ser maior que o de alunos da universidade. Segundo ele, “quem já faz algum curso superior na faculdade tem a possibilidade de fazer as cadeiras de línguas como facultativas, não sendo necessário ingressar na extensão”. O professor também falou da satisfação dos pais com o curso. Muitos pais preferem matricular os filhos no curso de extensão, em vez de escolas particulares de línguas, devido à qualidade do ensino oferecido. Segundo Ciro Menezes, o curso se destaca dos demais pela melhor formação didático-pedagógica dos professores. Os professores do centro de línguas da UFOP são selecionados por meio de prova, além de apresentarem meto-

Diferencial: aulas de inglês são ministradas por estudantes do curso de Letras; maioria dos alunos é da comunidade

dologia, darem uma aula, serem alunos do curso de Letras da universidade, tendo coeficiente de, no mínimo, sete pontos. Uma das professoras do curso, Marcelly Godinho, destacou o fato de as aulas serem todas na lín-

gua estudada, despertando maior interesse dos alunos em aprenderem. Segundo ela, “há um esforço deles em desenvolverem a aula toda em inglês, tanto debatendo os temas propostos quanto conversando sobre assuntos cotidia-

Aulas de artes circenses para crianças de Ouro Preto

nos, e eles conseguem acompanhar perfeitamente”. O valor cobrado é de R$ 170,00 por semestre, além do material, que fica entre R$ 150,00 e R$ 200,00. A universidade disponibiliza bolsas, mas no atual semestre não pode

Arte mostra como se pode cuidar do planeta Bárbara Andrade

Rayanne Resende

e

nne Resend

Fotos: Raya

Contribuir para o desenvolvimento social e humano da comunidade, utilizando a cultura e as artes circenses. Ao longo de cinco anos, esse tem sido o principal objetivo do Circo, Arte-Educação & Cidadania, um projeto de extensão do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em parceria com a Organização Cultural Ambiental (OCA), associação sem fins lucrativos formada por membros do extinto projeto “Circo da Estação”. Com aulas em Ouro Preto e no distrito de Antônio Pereira, o projeto atende em torno de 122 crianças e adolescentes de baixa renda, entre 10 e 16 anos, em situação de vulnerabilidade social. Oferece oficinas circenses, como acrobacias de solo e aérea (técnicas tecido, corda e lira), malabares e equilibrismo (em tambor, rola-rola, perna de pau, monociclos e arame baixo). O objetivo é estimular a imaginação das crianças e dos adolescentes através da arte do circo, possibilitando a elas lançarem um novo olhar sobre a realidade na qual estão inseridas, motivando novas oportunidades. Segundo o coordenador, Eduardo França, o Circo, Arte-Educação & Cidadania tem como finalidade desenvolver valores fundamentais à formação dos alunos, tais como: solidari­ edade, persistência, autonomia, criatividade, e principalmente

fortalecer o valor “escola” e, com isso, combater a evasão escolar, um grande problema hoje das comunidades na qual atua. Além das oficinas gratuitas de circo, há também o acompanhamento periódico das famílias dos alunos, articulando com os órgãos públicos, as assistências necessárias para cada caso. O acompanhamento se estende para as escolas, que são visitadas regularmente por facilitadores, que realizam reuniões com diretores e professores, além do monitoramento do rendimento escolar do estudante. Ex-aluno do projeto, Rodrigo Junior Ferreira, 19 anos, hoje é professor. “Eu cresci com as atividades do circo escola, tinha 14 anos quando entrei. Minha mãe e a direção do projeto sempre me incentivaram a continuar, a jamais desistir dos meus objetivos. Fico feliz em poder passar hoje esse mesmo carinho que recebi por parte dos meus professores”. Para se sustentar, o projeto conta com voluntários ligados às áreas de pedagogia, administração, assistência social e produção., além do apoio financeiro de empresas. Ele é aprovado nas leis federal e estadual de Incentivo à Cultura. Este ano, o Circo, Arte-Educação & Cida-

dania foi semifinalista do Prêmio Itaú-Unicef, destinado a organizações sem fins lucrativos que realizam ações socioeducativas. Apesar de não ter ganhado o prêmio, recebeu notoriedade e conseguiu chegar à penúltima fase de um concurso que contou com um total de 2.922 projetos inscritos.

Contato: Organização Cultural Ambiental Rua Randolfo Bretas, 36, Centro – Ouro Preto/MG (31) 3551-5986 E-mail: oca.ongcultural@gmail.com

atenderam a demanda. “O número de alunos aumentou bastante. Dessa maneira, não tivemos condição de abrir vagas para todas as pessoas que procuraram o curso. Porém, já estamos trabalhando por um número maior de bolsas para que toda a comunidade possa ser atendida”, conta Ciro Medeiros. A moradora de Mariana, Sara Meynard, que faz o curso há dois anos, aprova o curso. “Os professores são bem preparados e a didática usada por eles também, sem falar do meu rendimento na escola que melhorou bastante”. Além dela, os alunos que procuram o curso são crianças, estudantes do ensino fundamental, médio e superior, e até mesmo funcionários de grandes empresas, que acreditam ser importante o aprendizado da língua para o mercado. Atualmente, o curso possui turmas em Mariana, no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) e no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), e em Ouro Preto, no Instituto de Filosofia e Artes Cênicas (IFAC). As matrículas são feitas no início do semestre. Informações pelo telefone: (31) 3557-9426 ou no Centro de Extensão do ICHS, localizado no campus de Mariana.

Encontrar uma forma de fazer a diferença é o principal obstáculo para quem quer ajudar o próximo. Foi pensando dessa forma que o Grupo Reciclinove de Arte e Cultura, criado em 2009, atuou com a conscientização ambiental por meio de atividades artísticas, promovendo, ainda, a integração entre a comunidade local e a acadêmica, em Ouro Preto e Mariana. Atualmente inativo, o Reciclinove nasceu da iniciativa do ator Henrique de Castro, formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O grupo é exemplo de como ações individuais podem motivar transformações coletivas através da arte e da educação. A proposta inicial era conscientizar a comunidade em relação à educação ambiental através do teatro e da música. Henrique se inspirou em uma peça em que atuava, intitulada “Verdejante... cidade onde o verde é muito mais brilhante”, que apresentava ao público a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e acontecia em parceria com Instituto Estadual de Floresta (IEF) e ProReitoria de Extensão (Proex), da UFOP, como projeto de extensão. Convite Após a participação nesse projeto, Henrique convidou os colegas Bruna Rosa, Jaqueline Stampone e Marina Rainho, e os músicos Ewerton de Brito (Bulinha), Samuel Torres (Ambulante) e Tamyres Maciel (Maximira), todos da UFOP, e montou o Reciclinove sem nenhum auxílio financeiro. No início, a ideia era trabalhar com todos os tipos de público, através de performances e intervenções cênicas nas ruas. Com o tempo, começaram a fazer apresentações nas empresas da região, em atividades promovidas pela Secretaria do Meio Ambiente de Ouro Pre-

to, em estabelecimentos comerciais e eventos. Contavam histórias, faziam saraus poéticos, expandindo a temática para a preservação cultural e patrimonial. O pagamento que recebiam era utilizado no processo de criação de cada integrante. Depois que começaram a atuar na ONG Grupo Auta de Souza, localizada no Morro do Santana, em Ouro Preto, conseguiram uma bolsa-remuneração da UFOP, utilizada para cobrir custos dos atores e músicos com o transporte. A ONG promove oficinas artísticas para todo tipo de público mas, principalmente, para crianças e adolescentes. Foram desenvolvidas várias atividades, como uma peça educativa sobre o Rio das Velhas, montagem de cenários, dentre outras. Uma das coordenadoras da Auta de Souza, Helen Aparecida Brandão, garante que o trabalho foi muito importante na formação das crianças. “Além de trazer a arte, que ajuda no desenvolvimento da criança, criou-se uma consciência ambiental desde cedo”. Nesse sentido, segundo Henrique de Castro, os melhores resultados vêm do trabalho com as crianças. “O retorno delas acho que é o mais gratificante, seja através de oficinas, de espetáculos ou apresentações, a sinceridade delas, a identificação com a linguagem utilizada e a espontaneidade são o melhor retorno”. Para Henrique, o Reciclinove cumpriu o papel social que os seus idealizadores planejaram: ajudar na concientização da população sobre questões sobre meio ambiente e sustentabilidade. “O Reciclinove se modificou, criou vida e saiu voando. Acho que cada um dos integrantes vai continuar com ações parecidas onde quer que estejam. Da minha parte, o nome e a proposta nunca morrerão, vou levá-los comigo pra sempre”, concluiu.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Allan Almeida, Érica Pimenta e Josie Oliveira

S A R I E D A L

I E U Q

Corredor dos artistas também produz solidariedade

eloíza leal

Luiza Barufi

RUA DOM SILVERIO

“Em certas horas, em certas ruas, surge a suspeita de que ali há algo de inconfundível, de raro, talvez até de magnífico, sente-se o desejo de se descobrir o que é...”. As palavras do escritor Ítalo Calvino, em seu livro “As Cidades Invisíveis”, também se aplicam à Rua Dom Silvério, em Mariana, que abriga o Colégio Providência, o mais antigo da cidade, e as igrejas de Nossa Senhora do Carmo, São Francisco de Assis e Nossa Senhora dos Anjos. É preciso desvendar toda a rua e descobrir, caminhando pela via de pedras, os 18 ateliês e os variados artistas que habitam o casario secular da imensa ladeira, até chegar à Igreja de São Pedro. Em cada um dos lugares, aprende-se uma lição de solidariedade. No início do Corredor dos Artistas, como é conhecida a Rua Dom Silvério, próximo à Rua Direita, está o ateliê

de Geraldino Silva e Eduardo Ramos. Além de funcionar como escola de pintura e restauração, também promove um projeto, comandado por Eduardo Ramos, que ensina educação patrimonial para crianças da comunidade do Gogô, no Morro do Santana, em Mariana. Continuando a subida, no número 122 encontra-se o ateliê do escultor e pintor Hélio Petrus, que trabalha com escultura sacra. Hélio emprega jovens aprendizes que, por um período de dois a quatro anos, aprendem a arte da escultura. “A arte a gente não pode ensinar, a pessoa nasce com o dom. O que podemos fazer é orientar e, com experiência, a pessoa vai se desenvolvendo”, explica. Mais adiante, no número 303, em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, o ateliê da artista plástica Cacá Drummond chama a atenção. No período em que as festas de fim de ano se apro-

Cidadania no Corredor dos Artistas No Natal, o Corredor dos Artistas também abriga um espaço de arte que se relaciona diretamente com a comunidade. Em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, a artista plástica Cacá Drummond ultrapassa seus limites da produção de arte contemporânea e comanda ações sociais para o desenvolvimento da cidadania em Mariana. A iniciativa começa em 2003, com palestras e oficinas em seu ateliê para alunos de escolas públicas. As visitas frequentes tinham como objetivo o uso da arte para o equilíbrio emocional de crianças e adolescentes, prevenindo o uso de drogas. Em 2004, surge a Campanha Social do Atelier Cacá

Artista Cacá Drumond promove ações sociais em seu ateliê

Drummond. A arrecadação inicial de brinquedos começa de forma mais tímida, mas já atende os distritos e subdistritos de Mariana, no período do Natal. As doações não são repassadas para instituições e, sim, diretamente às comunidades. De acordo com Cacá, a escolha pela arrecadação de brinquedos

é proposital. “É uma lógica a necessidade da criança em comer e se vestir. Mas é de extrema importância também desenvolver seu lado lúdico, para que se torne um adulto mais sensível”, afirma. A equipe atual de distribuição conta com 11 adultos e oito crianças, todos voluntários. Todo ano, as regiões

Música No coração da rua, em uma casa de janelas azuis, mora uma senhora que atende por Tia Elza e ensina teoria musical e violino para crianças, há 12 anos. A musicista Elza Peixoto, que por muitos anos lecionou de graça, hoje cobra um valor simbólico apenas para aqueles que têm condições de pagar. Em sua sala já passaram mais de 300 alunos, muitos hoje são médicos, advogados e músicos. Hoje, são 22 alunos, crianças em sua maioria. Tia Elza diz não saber viver sem seus pequenos e está sempre aprendendo com eles. “Eu tenho muita coisa para aprender ainda. Na vida a gente não sabe tudo”, ensina. Em 2009, Tia Elza realizou palestras sobre música

que são contempladas pelas doações não são avisadas. A artista faz um estudo dos lugares que não recebem doações de instituições, e acredita que o segredo de qual comunidade será beneficiada causa mais naturalidade no dia da festa. É realizada também, todo ano, a escolha do Papai Noel, que fortalece para as crianças a magia do Natal. A doação de dinheiro é rigorosamente rejeitada pela campanha. Neste ano, a campanha começou em 25 de setembro, e além de brinquedos, agregará materiais de higiene pessoal para as crianças. Em 2010, foram arrecadados 2.465 brinquedos, e em 2011, será mantida a meta de 2,5 mil doações.

em todas as escolas de Mariana e seus distritos. E é neste corredor que também encontra-se o ateliê do artista Edésio Rita de Souza, que funciona como sede da Associação Marianense de Artistas-Plásticos (AMAP). Criada em 2008, a associação surgiu com a preocupação de atender questões sociais, realizar trabalhos com escolas públicas, ser referência para pesquisa e oferecer cursos e oficinas de artes. Terminando o Corredor dos Artistas, chega-se à Igreja de São Pedro dos Clérigos. Ao olhar para a Rua Dom Silvério avista-se um pequeno corredor que se perde na primeira curva. Depois disso, só quem por aí caminhar e olhar atentamente descobrirá o magnígico encoberto: arte barroca, rococó, estilos contemporâneos, entalhes. Esculturas em pedras, arte policromada em folhas de ouro. Arte sacra. Música, violinos e sons.

As marcas do entalhe Lincon Zarbietti

lincon zarbietti

Fádia Calandrini

ximam, ela promove a Campanha Social do Atelier Cacá Drummond, além da oficina de brinquedos.

Quase no topo da Rua Dom Silvério está o ateliê de Edney do Carmo, escultor e entalhador de Mariana. Filho de marceneiro e também escultor, iniciou sua carreira em 1988. Seu trabalho é uma releitura do barroco mineiro, produzido através do entalhe em madeira de cedro, posteriormente pintado com tintas à base de água, pigmentos minerais coloridos, folha de ouro, entre outros. Em 20 anos de trabalho, Edney produziu mais de cinco mil peças, espalhadas por todo o país. Assim com o escultor Hélio Petrus, companheiro de trabalho por mais de dois anos, Edney também ensi-

na sua arte a dois jovens estagiários, assalariados, que aprendem o ofício da arte na madeira. “Eu procuro por pessoas que têm vontade de aprender, não só a prática, mas história do barroco mineiro. Entender o por quê de estar esculpindo daquela forma”, afirma. Nesta busca por pessoas interessadas na arte, Edney desenvolve o projeto Escola de Escultura, no qual, após um agendamento prévio, o artesão abre seu ateliê para escolas de todo país que visitam Mariana. A iniciativa visa ensinar a crianças e adolescentes as características da escultura barroca do século XVIII, diferenciando-a com a produzidas nos dias atuais. ca do sé


E T R A M A R I P S

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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Allan Almeida, Érica Pimenta e Josie Oliveira

IN

Fotos: allan almeida, Eloíza Elal, Fádia Calandrini, Lincon Zarbietti e Naty Torres

Elementos que movem o circuito de Passagem joão victor paglioto

Eloíza Leal

as gravuras estimulavam os bons hábitos de convivência e traziam personagens e pesonalidades da cultura brasileira, como Zumbi dos Palmares e Gilberto Gil. A idéia é reforçada através das leituras e dos contos. A professora emérita da Universidade Federal de Ouro Preto, Hebe Rola, acredita que esse tipo de iniciativa faz com que as “crianças brinquem refletindo e reflitam brincando”. Reciclado A Casa Maria Isabel, espaço dedicado a confecção de flores, também expõe sua preocupação social por meio do material reciclado utilizado durante as oficinas no local. Segundo a artesã Eunice Silva Souza, as pessoas que participam do evento normalmente não sabem que com apenas jornais, papeis e revistas são feitas flores artesanais de qualidade. “Quando vêem o resultado final do produto, surpreendem-se com sua beleza”. Isto serve de estímulo ao trabalho de Eunice e das artesãs, pois o público passa a dar

outra significado ao “lixo” produzido na sociedade. Outro aspecto relevante do evento é o resgate da memória do distrito. O comerciante e morador do local, Márcio Ferreira, afirma que as lendas de Passagem são divulgadas através da nomenclatura dos espaços, como o Bloco Boqueirão e a Maria Sabão. Ambos fazem parte da cultura local, existindo ainda hoje “estórias” da Maria Sabão que são repassadas pelas gerações, criando um traço identitário na região. Os bonecos gigantes e o “boi de Passagem”, do Bloco Boqueirão, remetem a personalidades populares e importantes da história local. As danças revelam o folclore da região e apontam aspectos sociais do passado. Desta forma, o projeto oferece um espaço para a população se divertir e, ao mesmo tempo, refletir os temas debatidos na sociedade. Revela também os mistérios e curiosidades de Passagem de Mariana, ressaltando a sua importância como distrito cultural da cidade .

PASSAGEM DE MARIANA

Cultura e diversão enfeitam a principal ladeira de Passagem de Mariana. O projeto “Hoje é dia de Passagem”, idealizado em 2010 pelos artistas da região, reúne, mensalmente na Rua Eugênio Eduardo Rapallo, várias expressões artísticas com o objetivo de entreter o público, valorizar e promover a cultura e identidade do distrito. Quem se beneficia com a iniciativa é a população, que se diverte e aproveita as estruturas para expressar-se e desenvolver várias atividades ao longo do percurso. O corredor cultural abriga seis espaços: Ateliê Brincante, Bloco Boqueirão, Casa de Godofredo, Casa Maria Isabel, Espaço Lunática e Espaço Maria Sabão. Durante o evento, são desenvolvidas diferentes ações, dentre elas, literatura, dança, produção de brinquedos, reciclagem, artesanato, música e realização de um cortejo. Todas ocorrem simultaneamente, pois o objetivo é fazer com que as pessoas desfrutem ao máximo as

atrações. O músico Xisto Siman afirma que esse ambiente “promove o intercâmbio cultural”, sendo prazeroso cantar as composições produzidas por ele, que misturam vários ritmos. O evento, além de divulgar o trabalho dos artistas do distrito, possui caráter social, e demonstra preocupação com temas relacionados ao meio ambiente, cidadania e lutas raciais. Para que o público reflita sobre esses assuntos, são utilizados objetos e frases na decoração dos espaços. Tais como setas com cores indicativas de tipos de materiais recicláveis e cartazes com os dizeres “Jogue o lixo no lixo!” ou “Ame a vida, respeite o planeta, seja parte do meio ambiente”. Monitora do espaço Osquindoteca, uma biblioteca comunitária, Tatiana Costa explica que as imagens desenhadas e coloridas pelas crianças baseiam-se nos temas referentes as edições do evento. No mês de novembro foi discutida a “gentileza” e “consciência negra”, assim

Em busca de integração cultural A Rua Eugênio Eduardo Rapallo, antiga Rua do Comércio, em Passagem de MaBloco tradicional de Passagem de Mariana: Criado em 2002, desfila no Carnaval com uma charanga, bonecões feitos de material reciclado e o famoso “Boi da Passagem”. Também colore as ruas de Passagem no evento “Hoje é dia de Passagem” com o cortejo “Segura o boi”. Biblioteca comunitária Osquindoteca: Nasceu em uma garagem, em 2009, e vem se tornando uma referência cultural para o distrito. Atualmente, possui cerca de quatro mil livros em seu acervo. Oferece algumas atividades de incentivo à leitura, como o empréstimo de livros, a Janela Filosófica, a Rádio Osquindoteca e oficinas de contação de histórias. A Osquindoteca funciona de segunda à sextafeira, das 8 às 17h30.

riana, apresenta um conjunto de espaços destinados a expressões culturais diversas que, além do benefício socioEspaço Maria Sabão: Destinado a expor a arte reciclada. O nome é uma homenagem à lendária Maria Sabão, personagem do imaginário local. Inaugurado na primeira edição do “Hoje é dia de Passagem”, em agosto de 2011, é parte integrante da programação. Oferece exposições e desfiles de roupas recicladas, performances, oficinas e degustação de pratos com ingredientes “reciclados”, como cascas de frutas. O espaço funciona somente nos primeiros domingos da cada mês. Ateliê Brincante: Destinado à criação de espetáculos cênicos, esse foi o local no qual inspirou-se o espetáculo “De Malas Prontas”, apresentado durante a programação do Festival de Inverno de Mariana e Ouro Preto, em 2011.

cultural à população do distrito, pode contribuir para atrair visitantes e destacar o distrito no contexto do turis-

mo cultural nas cidades históricas de Mariana e Ouro Preto. Conheça alguns desses espaços:

Casa Maria Isabel: Surgiu através da idéia “dentro de cada um de nós existe uma flor”. É o lugar onde são criadas flores de material reciclado, como rede, retalhos de pano, garrafas pet, caixas de maçã ou de ovos, papel, jornal, meia calça, latinhas de refrigerante e tantos outros. Funciona às quartas e quintas-feiras, das 13 às 16 horas, e abre suas portas para visitantes e para a confecção das flores. Sede da Associação Cultural Clube Osquindô – Casa de Godofredo: Criada em 2008, é um espaço destinado à realização de atividades artístico-culturais, especialmente para a comunidade. Com uma agenda contínua, integra apoio a palestras e oficinas para as escolas públicas de Passagem de Mariana, aulas do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA/UFOP), de Tai Chi Chuan e oficina de dança de salão. Abriga exposições de artistas locais e da região. A Casa de Godofredo funciona de segunda à sexta, das 9 às 18h. o es com

Gracy Laport

Companhia Lunática: Criada em 2002, é “um espaço aberto a novas experiências, que abriga e promove projetos de vivências, criação, formação e difusão artística”. Assume a missão de colocar projetos, talentos e pessoas em constante movimento e comunicação. No local funcionam o escritório de produção, o estúdio de gravação, o Quintal-Teatro para espetáculos artísticos e o Café-Bar, que funciona apenas no evento “Hoje é dia de Passagem”. Funciona de segunda à sexta-feira, das 8 às 18 horas.

Do que a meninada

mais gosta Eloíza Leal e Gracy Laport

O Lampião conversou com os alunos da Escola Municipal Passagem de Mariana e descobriu o que mais chama a atenção da garotada no Circuito Ladeira das Artes. Davison Silva de Paula, 11 anos, vai à Osquindoteca quase todos os dias. Adora ler quadrinhos e livros. Desde que começou a frequentar o espaço, em outubro deste ano, já leu cerca de 13 exemplares. Para ele, “podia ter um dia marcado para cinema no circuito”. Carlos Eduardo de Oliveira Raimundo, 9 anos, vai à Ladeira das Artes aos domingos do “Hoje é Dia de Passagem”. Aprendeu a fazer brinquedos de materiais recicláveis e adora ler contos. Gosta muito da Osquindoteca e queria um espaço maior com mais mesas para as pessoas sentarem e lerem.

Alexia Bruna, 9 anos, frequenta os espaços desde 2009. Participa das oficinas de artesanato para confecção de brinquedos e flores recicláveis. Gosta de ler histórias de castelos e princesas. O último livro que leu foi “Robbin Hood”. Sibely Farias, 10 anos, costuma frequentar todos os espaços diariamente. Gosta mais da Osquindoteca, onde aprendeu a fazer dobraduras de papel. Na última edição do ano do “Hoje é Dia de Passagem”, fez parte da apresentação de dança do espaço Maria Sabão. “Gostaria que tivesse um parque de diversões no espaço cultural”. Stella Maria D’ângelo, 9 anos, aprendeu a fazer fantoche e chocalho na oficina de brinquedos, que é ministrada por sua mãe. Diverte-se com as brincadeiras e adora ler revistas em quadrinhos.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Fádia Calandrini e Luiza Barufi

assistência

Siame, a quebra do silêncio

O Serviço Interprofissional de Atendimento à Mulher atua através dos campos jurídico, psicológico e social em apoio a mulheres que sofreram agressão fotos: Rayanne Resende

Rayanne Resende

Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, realizada em 25 estados brasileiros, revelou que a cada dois minutos cinco mulheres são espancadas no Brasil. A violência contra a mulher ainda é um fato frequente no cotidiano brasileiro. O medo continua sendo a principal razão para evitar a denúncia dos agressores. Mas, ainda há uma pequena parcela que desconhece seus direitos e, principalmente, as assistências oferecidas pelos órgãos gover-

namentais e não-governamentais. Em Ouro Preto, o Serviço Interprofissional de Atendimento a Mulher (Siame), implantado pelo Poder Judiciário, em novembro de 1996, oferece atendimentos jurídico, psicológico e social gratuitos. Em 15 anos, mais de três mil mulheres foram atendidas em casos de separação litigiosa, violência doméstica e pensão alimentícia. Em 2007, considerando o crescimento da demanda e a relevância do serviço prestado à comunidade de Ouro Preto, a juíza de direito idealizadora do serviço, Dra. Lúcia de Fátima Magalhães, constitui o Instituto Siame, como autonomia administrativa e financeira. No local, a mulher vítima de violência doméstica é acolhida por uma equipe de voluntárias, composta pela advogada Rosemar Nascimento Silva Niquini, pela assistente social Maria Assis SIAME – Serviço Interprofissional de Atendimento a Mulher End.: Praça Cesário Alvim, 50, Barra, Ouro Preto Tel.: (31) 3551-6245 siame.op@hotmail.com

Sede do Siame, em Ouro Preto

Oliveira Miranda e pelas psicólogas Andrea Trad Allevato e Maria Aparecida Alves. Durante o acolhimento, a equipe escuta a vítima e a orienta sobre os procedimentos a serem tomados. Além da orientação, a mulher recebe acompanhamento durante todo processo. Rosileine dos Santos foi agredida fisicamente pelo ex-marido, em 2008, e procurou o Instituto para receber ajuda. “Foi um momento muito difícil da minha vida, perdi totalmente o chão. No Siame encontrei apoio para superar a dor e, principalmente, coragem para ir adiante com o processo”, contou. Aprendizado Além das assistências prestadas, o instituto oferece oficinas artesanais às mulheres atendidas. “A inserção nas oficinas possibilita, além da troca de experiência, um espaço terapêutico e acolhedor, gerando também o aprendizado de um novo ofício”, afirmou a presidente do Siame, Rosemar Niquini. Parte da manutenção do instituto é viabilizada através da comercialização dos produtos das oficinas. Mensalmente, a entidade também conta com doações da comunidade e com o repasse de multas pelo Juizado Especial de Ouro Preto. A casa onde está localizada, na Barra, é cedida pela Universidade Federal de Ouro Preto, que além do imóvel também disponibiliza luz e internet. A presidente do Siame informa que, embora o instituto já esteja constituído juridicamente, “ainda não foram firmados convênios com as três esferas do governo”.

Artesanato, terapia e nova fonte de renda através das oficinas Desde 2005, o Siame oferece às mulheres vítimas de violência doméstica a oportunidade de participarem de oficinas artesanais. O objetivo é que as atividades sejam tanto um espaço de terapia quanto de aprendizado para uma nova fonte de renda. Mulheres que não são atendidas pelo Siame também podem participar. Hoje, 50 pessoas estão envolvidas nas oficinas. As mulheres que recebem o atendimento do Siame não pagam pela prática das oficinas. Para as demais é cobrada uma taxa mensal de R$10,00, exceto o curso de costura, que custa R$ 20,00. Nas oficinas são ensinadas a arte do ponto cruz, vagonete, crochê, tricô, costura, bordado, pintura e reciclagem. As aulas ocorrem de segunda a sexta, entre as 13 e 17h, na sede do instituto. As professoras, a maioria voluntária, recebem ajuda para o transporte. Maria da Glória Leocádio, pro-

fessora voluntária, explica que, ali, “as mulheres encontram um local de distração, amizade e principalmente de apoio”. A dona de casa Maria Tita de Jesus concorda. “Depois que aposentei não aguentava mais ficar em casa, precisava sair, relaxar, ser feliz”, comenta Dona Tita, forma carinhosa como é chamada pelas amigas da oficina. Ela trabalhou por muitos anos na limpeza das ruas de Ouro Preto e, hoje, encontra no Siame seus momentos de descontração e lazer. Uma das dificuldades para manter as oficinas é a compra dos materiais utilizados. O instituto necessita de doações de linhas, tintas, pincéis, tecidos e agulhas, assim como de jornais velhos, papelões, e caixas (materiais utilizados nas aulas de reciclagem). As peças desenvolvidas nas oficinas ficam expostas em uma sala do instituto para comercialização e apreciação da comunidade.

As atividades oferecidas são também uma forma de terapia para as mulheres

Mariana oferece apoio social em dois centros de referência Eugene Franklin

Após o lançamento da Política Nacional da Assistência Social, em 2004, o Ministério do Desenvolvimento Social designou aos municípios brasileiros a criação dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). O prazo estabelecido para o cumprimento dessa medida foi de até 10 anos. Para a adequação à norma designada pelo Ministério, o município de Mariana criou duas unidades do CRAS. Uma situada no Bairro Colina e outra, no Bairro Cabanas, como informa a coordenadora da Secretaria Municipal de Assistência Social, Daniele Avelar. Segundo ela, “os municípios de médio porte, como é o caso de Mariana, que possui cerca de 50 mil habitantes, devem ter no mínimo dois CRAS instituídos”.

Além dessas unidades fixas, o município conta com duas equipes que realizam trabalho de busca local nos bairros e distritos. Os Centros de Referência se planejam de acordo com a realidade local. No município, o CRAS utiliza o Bolsa Família como indicador dos grupos a serem assistidos, e atua através do cadastramento e do acompanhamento das famílias que tenham vulnerabilidade devido à fatores sociais, como insegurança alimentar, violência, dentre outros. Proteção O CRAS também realiza a distribuição de cestas básicas aos usuários do Bolsa Família, promove reuniões permanentes com as pessoas assistidas e campanhas de conscientização.

A assistência social na cidade é dividida em duas frentes de trabalho: proteção básica e proteção especial. Entre os centros que realizam trabalhos de proteção básica estão o Recriavida, que presta assistência aos idosos, e o Centro de Referência à Infância e Adolescência (CRIA). Dentre as ações desenvolvidas na frente de proteção especial está o Centro de Referência Especial de Assistência Social, que recebe casos encaminhados pelo CRAS e realiza o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Também apoia a Casa de Passagem, que abriga crianças e adolescentes em situação de risco social, e realiza a abordagem dos moradores de rua, na tentativa de encaminhá-los a abrigos disponibilizados pelo próprio município.

Governo federal estrutura política de assistência social no país Eugene Franklin

A Política Nacional da Assistência Social foi lançada há sete anos pelo Governo Federal para dar diretriz ao atendimento do setor em todo o território nacional. Para regulamentar os serviços foram criados os Módulos de Operações Básicas (MOB) . De acordo com a lógica trabalhada através de módulos, houve a divisão da assistência social em dois campos de atuação: proteção social básica e especial. A básica utiliza-se de vários programas para prevenir a violação dos direitos dos cidadãos, na tentativa de preservar seus vín-

culos familiares e comunitários. Nesse campo, estão inseridos os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Já o campo especial atua no atendimento de famílias que já tiveram os seus direitos violados, seja por violência, perda de vínculos familiares, exploração infantil, dentre outros agravantes sociais. Essa ação é desempenhada pelos Centros de Referência Especial de Assistência (CREAS). A criação da Lei 145, que instituiu essa política, aconteceu através da intervenção da Conselho Nacional de Assistência Social.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Eloiza Lima e Yasmini Gomes

Literatura

Biblioteca sobre rodas na comunidade Com atividades itinerantes, o Ponto Volante de Cultura leva lazer, informação e tecnologia para os bairros de baixa renda e distritos de Mariana DIVULGAÇÃO

baixa renda seja feito de forma mais prioritária. “A ideia é pensar na melhor forma de atendimento às localidades, por meio de um balanço sobre quais bairros e distritos são mais acessíveis e onde obtemos melhores resultados”, avalia. O Ponto Volante de Cultura também oferece cursos que superam os limites do caminhão. O de Introdução à Informática e Software Livre existe desde 2008 e já formou mais de 200 jovens e adultos da região. Nele são ofertadas oito vagas por cada temporada de três meses, com duração total de três horas por semana. O curso e o material didático são gratuitos, e para a próxima turma as vagas já estão preenchidas.

Alyson Soares Leandro Sena

O Ponto Volante de Cultura é uma iniciativa que leva arte, literatura e jogos educativos para diversos bairros e distritos de Mariana. Tratase de um caminhão adaptado com baú, que abriga uma biblioteca com mais de três mil livros, além de jogos e materiais de oficinas. Também são realizadas apresentações artísticas de acordo com a demanda de cada local. O projeto do Sesi-Mariana foi aprovado, por meio de um edital do Ministério da Cultura, para a criação dos pontos de cultura, propostos por entidades que desenvolvem ações de impacto sociocultural em suas comunidades. Até julho de 2011, já foram cadastrados mais de três mil pontos em todo o território nacional. O gerente do Sesi-Mariana, Nilson Ros, informou que todos os distritos da cidade já receberam o Ponto Volante. A equipe de visitas é formada por, no mínimo, três pessoas: o motorista e dois monitores, que são voluntários. Existe um roteiro em que, a cada dois meses, três locais são visitados paralelamente. Já existem pedidos de comunidades para que essa visita aconteça novamente. Nilson Ros informa que a prioridade é levar o Ponto Volante a locais que ainda não receberam as atividades. Os pedidos de visitação geralmente são feitos por es-

A prioridade é levar o projeto a locais que ainda não receberam as atividades

Durante um dia, o distrito de Padre Viegas pôde aproveitar as atividades educativas desenvolvidas pelo Sesi-Mariana

colas ou por associações comunitárias, que procuram o Sesi-Mariana por telefone, e-mail ou pessoalmente. A partir daí, caso haja o oferecimento de uma estrutura necessária para os profissionais, como banheiros, água e energia elétrica, a visita será agendada. O gerente do Sesi relata que a maior parte do púbico é infantil, isto porque as escolas lideram os pedidos

para marcação de visitas do projeto. Mensalmente é feito o Ponto na Praça, atividade em que são realizadas inúmeras apresentações culturais, como contação de histórias, encenações com a presença de palhaços, entre outras atrações. Estes eventos acontecem em lugares pré-selecionados, como praças ou ruas movimentadas. O último Ponto na Pra-

ça foi no dia 3 de dezembro, na Praça dos Ferroviários de Mariana, das 14h30 às 20h30. Visitas Até o dia 17 de dezembro, o caminhão do Ponto Volante de Cultura irá percorrer as comunidades de Águas Claras, às segundas-feiras; Furquim, às terças e quartas; e o Bairro Morro do Santana, em Mariana, às quintas e sextas. Além da biblioteca volante, o

projeto possui sessões de cinema, com acervo próprio, e um xadrez gigante, em que as crianças movimentam as peças com as duas mãos. Este ano, o Sesi-Mariana recebeu a doação de cerca de mil livros para a biblioteca itinerante. Segundo a supervisora técnica do Centro de Cultura, Silvia Marques, ano que vem o projeto será reestruturado para que o atendimento às comunidades de

Já o curso de Técnicas Básicas de Áudio e Produção Musical tem duas turmas já formadas e possui horários flexíveis, com possibilidade de atendimento individual. Este curso é pago, e as vagas estão abertas. Mais informações sobre o projeto através do telefone (31) 3557-1041 e no site www.sesimariana.com.br.

Aldravistas, tecedores Uma horinha de prosa das artes e do saber

para transformar o dia Josie Mantlila

Marcela Servano

O Aldravismo é um movimento de intelectuais marianenses que propõe interpretações inusitadas de eventos cotidianos. Com 12 anos de existência, os “aldravas” têm trabalhado com projetos de incentivo à leitura em escolas, universidades e associações culturais da região. Dentre eles, destacam-se: Ponto de Leitura, Poesia Viva e Oficinas de Haicas (artes plásticas com poesia em telas), todos voltados para a valorização da leitura. O Ponto de Leitura é a atividade mais antiga desenvolvida pelo grupo de escritores e poetas, e começou há mais de 15 anos, antes mesmo de o movimento ter se forma-

do. Surgiu por uma iniciativa dos professores e poetas José Benedito Donadon Leal, Hebe Rôla e da artista plástica e poeta Andréia Leal. Inicialmente, eles iriam ler poesia para as crianças, visando estimular o gosto pela leitura. Com o surgimento do movimento Aldravista, o projeto ganhou forma e novos membros, os poetas Gabriel Bicalho e José Silva Ferreira. Hoje, o Ponto de Leitura está consolidado na cidade e nos distritos. É desenvolvido com os integrantes do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) e com alunos da Formação Inicial Continuada (Fic), na Escola Municipal Chico SeMarcela SERVANO

Projeto permite aos alunos conhecer técnicas de pintura

verino, pela professora Claydes Ricardo. Segundo ela, a inclusão do projeto serviu para instigar os alunos, além de ser um divisor de águas no aprendizado. “Os estudantes descobriram a beleza e a força das palavras”, afirma. Foram produzidas 32 telas pelos próprios alunos, além de um livro que está em busca de patrocínio para ser publicado. As atividades do projeto, que incluem oficinas de poesias haicas e leituras de livros, são ministradas pelo professor José Benedito Donadon e pela artista plástica Andréia Leal. Premiação Outra iniciativa do movimento aldravista é o Poesia Viva, que tem como objetivos a doação de livros de literatura para comunidades sem acervo e o incentivo à leitura na família. Em 2009, o projeto venceu o Prêmio Viva Leitura, de incentivo à literatura, concedido pelos ministérios da Educação e da Cultura. Para Andréia Donadon Leal, essas atividades ajudam no surgimento de novos escritores em Mariana e na região, pois as publicações não se limitam à sala de aula.

A voluntária Shirley Batista conta histórias para os idosos Allan Almeida

Nada melhor do que aquela conversa entre amigos. Sentar ao redor de uma mesa e falar sobre tudo o que agrada e traz um pouco de alegria. Isso é o que a servidora pública Shirley de Fátima Batista, voluntária do Lar Santa Maria de Mariana, faz pelos idosos que ali moram. Uma vez por semana ela vai ao Lar e passa cerca de uma hora com os idosos. Entre os assuntos preferidos estão histórias da região, folclore, lendas e estórias infantis. Eventualmente, Shir-

ley monta uma roda musical para reelembrar as canções do passado. Tudo começou quando ela mudou-se para Mariana, há mais de 10 anos. Junto a um grupo de amigas fazia visitas corriqueiras ao Lar. A partir daí veio o desejo de fazer algo a mais pela obra comunitária desenvolvida. Na época, a coordenadora do Lar, irmã Inocenta del Valle, sugeriu que Shirley lesse revistas para os idosos. Só que isso não atraía a atenção deles. Então, ela começou a contar histórias que eles se

interessavam em ouvir. Além de promover um resgate da memória, o trabalho de Shirley leva descontração, conforto e afeto. Em meio à correria do diaa-dia, Shirley não dispensa ou substitui a visita aos seus “meninos”, como trata carinhosamente os idosos. “Não me vejo fora dessa atividade. Só falto se precisar fazer algo muito urgente”, ponderou. Shirley enxerga o voluntariado como uma atividade séria que requer dedicação. “É um compromisso enorme. Essa iniciativa (de ser um voluntário) tem que brotar de dentro de você, nascer do amor ao próximo e não fazer apenas por fazer”, justifica. Atualmente, o Lar conta também com outras atividades comunitárias. São apresentações de bandas musicais, um acompanhante em visitas ao jardim do Lar (mais voltado aos cadeirantes), cortes de cabelo, manicure e pedicure, jogo de dominó, dentre outras. O espaço é aberto para novos voluntários. Os interessados em colaborar podem procurar a coordenadora, Irmã Inocenta Del Valle, na sede do Lar Santa Maria, Praça Dom Oscar, 31, Bairro São Pedro, em Mariana.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Flávio Ulhôa e Gracy Laport

Saúde

Geração de empregos e saúde bucal para Ouro Preto e região Fundação Sorria mantém fábrica de sabonetes e cosméticos que gera recursos para manutenção de projeto de assistência odontológica ã crianças Flávio Ulhôa

conta com a doação de pessoas físicas e jurídicas, mas está a cada ano aumentando sua produção em busca da autossustentabilidade. A entidade possui vários títulos, certificados e prêmios, como o reconhecimento oficial da UNICEF e o Prêmio Nacional em Saúde Fundação ABRINQ, pelos Direitos da Crianças. Mas, esse reconhecimento não é o que mais deixa os funcio-

nários orgulhosos. Segundo o superintendente da fundação, Francisco Galdino, não há nada mais gratificante do que trabalhar em uma instituição sem fins lucrativos. “O que mais me deixa feliz não são os prêmios nem a remuneração financeira, mas sim saber que estou acontribuindo para que essas crianças possam ter um sorriso digno e saudável”, pontuou.

Tratamento e prevenção

Criança atendida pelo projeto recebe escovação assistida: medida essencial para garantir a manutençao da saúde Flávio Ulhôa

Reconhecida e premiada em todo país, a Fundação Projeto Sorria elaborou um sistema para gerar renda para ser investida no próprio projeto. Para isso, foi criada uma fábrica de sabonetes que, além de gerar empregos, garante milhares de sorrisos saudáveis. Trabalham hoje na Fundação 48 funcionários registrados, entre dentistas, auxiliares de dentista, administradores, secretários, funcionários da fábrica de sabonetes e vendedores. A idéia de autossustentabilidade no caso de organizações sem fins lucrativos, como a Fundação Sorria, consiste em arrecadar recursos financeiros, produzindo algum produdo que possa ser comercializado. Todo a renda arrecadada é utilizada para pagar os funcionários e garantir os recursos necessários para manutenção do projeto.

Segundo o presidente da entidade, Aluízio Fortes Drummond, muitas pessoas podem doar trabalho, tempo e dedicação, mas sem dinheiro dificilmente se consegue um resultado relevante. Colaboradores Seguindo essa lógica, a fundação contou com a colaboração da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto para criar uma fábrica de sabonetes e cosméticos, batizada com a marca Pérola Ouro Preto. Instalada nas dependências da Novelis, outra colaboradora, a fábrica produz uma tonelada em produtos que são vendidos para hotéis, pousadas e empresas de grande e médio porte. Segundo o coordenador de vendas da fundação, Felipe Vilela, o produto está concorrendo em igualdade com qualquer empresa

do ramo. “O fato de ser uma instituição sem fins lucrativos pode abrir portas para nosso produto, mas se o preço e a qualidade não atenderem as exigências, perdemos para a concorrência”, explicou. A fábrica tem seis funcionários, entre farmacêuticos e operários treinados. Trabalham, também, cinco estudantes da UFOP dos cursos de química industrial, engenharia de produção e farmácia. A farmacêutica e coordenadora de produção da fábrica, Maria do Pilar, disse que muitos estudantes têm dificuldades de encontrar um estágio, já que há burocracia para contratação. Assim, a fundação oferece oportunidades, revezando a cada três meses os estagiários. A Fundação Projeto Sorria ainda não se mantém sozinha, levando em consideração o orçamento de R$ 90 mil do projeto. Por isso,

Iniciada em 1978, pelo dentista Aluízio Drummond, a Fundação Projeto Sorria já atendeu cerca de 20 mil crianças e jovens, entre zero e 18 anos, na prestação de assistência odontológica a jovens de baixa condição socioeconômica, promovendo a saúde com uma dimensão renovadora de integração social. Atualmente, são atendidas pelo projeto mais de sete mil crianças, em 11 unidades espalhadas pelas comunidades mais carentes da região de Ouro Preto. Os tratamentos vão desde a prevenção à cárie até casos específicos, como ortodontia (aplicação de aparelhos para correção da arcada dentária). As crianças assistidas recebem atendimento periódico durante todo o tratamento. Segundo o dentista Rodrigo Vieira Gomes, há crianças que chegam ao projeto com graves problemas de saúde bucal, sem nenhuma noção de higiene. Após receberem os devidos tratamentos, são educadas para manter a boca saudável. O projeto conta com um programa de escovação assistida, em que as crianças são registradas e recebem semanalmente instru-

ções de auxiliares odontológicas para manter a boca higienizada. A eficiência do programa é comprovada pela queda do número de crianças com cáries na região das unidades atendidas pelo projeto. “Muitas crianças da região estão participando da escovação assistida. Meus filhos e sobrinhos estão incluídos e nunca mais tiveram problemas com a saúde bucal”, afirmou Célia da Silva, moradora do Bairro Pocinho, em Ouro Preto, e mãe de uma das crianças atendidas. Para contribuir com a Fundação Sorria, entre no site www. fundacaosorria.org.br

Como participar Para se cadastrar no projeto é necessário que os responsáveis providenciem os seguintes documentos: • Cópia de comprovante de residência; • Cópia do comprante de renda; • Cópia do RG e CPF; • Cópia da certidão de nascimento • Foto 3x4 da criança. E levar as crianças à sede que se localiza na Rua Antônio de Albuquerque, 180, Pilar, Ouro Preto Telefone: (31) 3551-5079

esporte

Bom de Bola, melhor na assistência social Divulgação

Érica Pimenta

Implantado em 2005, no distrito de Padre Viegas, Mariana, o projeto “BomBom: Bom de Bola, Melhor na Escola” surgiu da vontade de um aposentado, Antônio Gonçalves, falecido em 2010, que buscava uma atividade para ocupar o tempo ocioso, agregando exercício físico e autoestima. Os familiares de Antônio buscaram na escola de Padre Viegas o primeiro apoio. Inicialmente, o projeto contava somente com o futebol como atividade esportiva para as crianças, dando origem ao nome do projeto. O programa começou a caminhar e dar resultados. Conquistou mais voluntários e assumiu novas proporções, passando a atender, além das crianças, toda a comunidade de Sumidouro, nome popular desse distrito. Conquistou vários prêmios, dentre eles, o “Pontos de Leitura 2008”, do Ministério da Cultura, e o “Brasil Esporte e Lazer de Inclusão Social”, do Ministério do Esporte, cuja premiação aconteceu em Brasília, no ano de 2009, em cerimônia com o Presidente Lula.

Criador do projeto, Antônio Gonçalves, durante treino com o filho Neimar, em 2005. O aposentado nem imaginava as proporções que o projeto tomaria

Atualmente, possui parceria com a Unimed Inconfidentes, que apoia o projeto adquirindo brindes artesanais confeccionados por mulheres da comunidade, a partir de garrafas PET. A Samarco é outra parceira que, com a política de patrocínio social, apadrinha o BomBom há três anos. O poder público contribui, também, cedendo o espaço na Escola Municipal de Padre

Viegas e financiando gastos com energia elétrica. Segundo Neimar Gonçalves, filho do senhor Antônio Gonçalves, “o projeto começou pequeno, com a questão do futebol, mas está caminhando com a ajuda do voluntariado de Padre Viegas. Mas, ainda é necessário mais envolvimento da comunidade”. Do BomBom já surgiram duas

pequenas empresas: uma de artesanato e outra de treinamento, inclusão digital e informática. Conforme observa Neimar, “o projeto está gerando renda e um pensamento empreendedor na comunidade”. Para Vanessa Lourenço, que passou de estagiária a proprietária da empresa de informática que presta serviço ao projeto, “é muito importante pensar e trabalhar para

o desenvolvimento das crianças e adultos, proporcionando formação e incentivo a novas ideias.” Atualmente, além do esporte, esse programa social agrega outras atividades, como artesanato, aulas de música, teatro, sala de leitura e inclusão digital. Quem quiser fazer contribuições deve entrar em contato acessando o site: www. projetobombom.com.br.


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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: Bárbara Andrade e Deiva MIguel

Artesanato

Mulheres são referência em distrito Habilidades, esforços e criatividade são características que se destacam entre as integrantes do grupo Arte, Mãos e Flores, localizado em Antonio Pereira Beatriz de Melo

Beatriz de Melo

Costura e bordado estão entre as especialidades do grupo

Em outubro de 2005, um grupo de mulheres se organizou para formar uma equipe de artesanato em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto. Após participarem de uma oficina de patchwork (trabalho manual que utiliza retalhos), durante o Festival de Inverno daquele ano, as mulheres resolveram unir forças e criatividade para trabalhar com costura e bordado. Formou-se a primeira equipe do grupo que, um ano depois fundava a Associação das Artesãs Arte, Mãos e Flores, de Antônio Pereira. Mais que segurança financeira, a organização surgiu para promover a união, capacitação e realização profissional em busca do crescimento e desenvolvimento da comunidade local.

A artesã Antônia de Queiroz Luz está na associação desde o início e conta que a equipe, hoje, está menor. “Quando a gente começa a trabalhar é tudo muito difícil. As pessoas foram saindo, até que ficaram apenas dez mulheres”. O grupo chegou a ficar dois anos sem lucro algum. Por isso, muitas artesãs não conseguiram continuar com esse trabalho, pois precisavam daquela renda. “A gente tirava dinheiro do próprio bolso pra comprar matériaprima,” conta Célia Antunes dos Passos, presidente da associação. Em 2008, a Samarco iniciou parceria com o grupo de artesãs por meio do Programa Comunidade Cidadã, que forneceu apoio financeiro para a compra de máqui-

nas e matérias-primas, como linas, lãs e tecidos. A partir de então, a situação começou a melhorar. Segundo Dona Antônia, o lucro não é grande, mas a satisfação é enorme. Atualmente, seis pessoas trabalham na sede da associação, porém, há outras que trabalham em casa. Segundo a presidente, o foco do grupo está no artesanato, e a associação já é o ponto de referência local sobre o assunto. O que não falta é esforço para ensinar, explicar e ajudar. Em função da demanda, três oficinas estão planejadas para os próximos meses. A professora de Lavras Novas, Dulce Magalhães, irá ensinar técnicas de artesanato para, no mínimo, 40 pessoas iniciantes e ainda irá ministrar um curso avançado

para outras 12 interessadas. Atualmente, a associação passa por um desafio. Desde sua fundação, a sede está instalada em um espaço da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, que na época estava em desuso. No início, o lugar havia sido cedido por tempo indeterminado. Com a troca do pároco em 2009, estabeleceu-se um contrato de comodato que valia por dois anos. O contrato venceu em outubro e, de acordo com a presidente, o pároco não ofereceu possibilidade de acordo. A associação terá quatro meses para se mudar. A presidente não sabe o que fazer para arrumar outro local. Elas não encontram um espaço adequado nem para alugar. “É um absurdo fechar por falta de espaço”, conclui.

Música

Educação musical muda vida de estudante Yasmini Gomes

Yasmini Gomes

“A música não deve simplesmente ser escutada. Ela deve ser sentida, tanto com o coração quanto com a alma”. É dessa forma que Mariana Meireles, 20, define a música em sua vida. Aluna de flauta do Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelo das Mercês, ela afirma que sua vida mudou depois de começar a estudar música. Destinado à educação musical, o conservatório existe desde abril de 2010 e oferece 13 cursos, eles instrumentos de corda e sopro, além das aulas de teoria. Seus alunos estão entre crianças e adultos de Mariana e região. A concretização desse espaço se deu a partir da inicia-

tiva de seus diretores, professores, regentes e integrantes da Orquestra e Coro Mestre Vicente, uma associação civil, sem fins lucrativos, que se propõe ao estudo e a difusão da música. Os alunos pagam um valor simbólico mensal de R$ 10,00, mas o que devem cumprir é com a frequência e dedicação às aulas. Ao ingressar no conservatório, o estudante pode escolher aulas de canto, flauta doce e transversal, clarinete, violão, violino, violoncelo, piano, percussão. Os encontros são semanais, e além disso há classes de história da música, percepção musical, musicalização, canto coral, que são obrigatórias.

A equipe de professores é composta por profissionais formados na área. De acordo com Mariana Meirelles, os professores são muito habilitados e transformam as aulas em uma atividade atrativa e de fácil aprendizado, principalmente para quem não tem conhecimento musical. “As aulas são excelentes. Os professores são capacitados e passam as matérias de forma lenta, de maneira tal que os alunos que nunca tiveram contato com a música consigam acompanhar o ritmo”, contou. Segundo Mariana, antes de entrar para o conservatório, ela nunca teve coragem de procurar aulas de flauta, devido aos preços elevados, e

“Celeiro” de músicos Eugene Francklin

O distrito de Passagem de Mariana, localizado a cerca de quatro quilômetros de Mariana, é o mais antigo do município. Caracteriza-se pela formação constante de músicos na própria comunidade. Essa formação se deve pela presença das centenárias bandas São Sebastião e Santa Cecília. Essas sociedades musi-

cais, surgidas no final do século XIX, da vontade dos moradores apoiados pela assistência da própria comunidade, formam os músicos de Passagem com aulas gratuitas. “A iniciativa sempre foi de pessoas apaixonadas pela música”, afirma o presidente da Sociedade Musical Santa Cecília, José Luis Papa. Uma das personalidades mais notórias de Passagem é MARIA APARECIDA PINTO

Ensaio da Associação Musical São Sebastião, em Passagem

o integrante da banda São Sebastião, Firmino Assunção. Ele tem 84 anos, sendo mais de 70 dedicados à música, através de atividades como músico da fanfarra e professor de aprendizes na corporação. “Aqui é um celeiro de músicos”, afirmou. O interesse músical passa de pai para filho, como herança. É comum as famílias do distrito terem ao menos um de seus membros tocando nas bandas. Os músicos mantêm essa arte como uma paixão, sem visarem o lucro. Muitas das pessoas que compõem as associações musicais conciliam a atividade com o trabalho diário. De acordo com José Luis Papa, é essencial a existência dessas bandas em Passagem, pois elas proporcionam o crescimento pessoal e profissional de muitas pessoas nelas inseridas. Pelas bandas passaram músicos e compositores de renome que contribuíram para manter a tradição de “celeiro musical” do distrito, como João Cavalcanti, fundador da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João Del Rei.

por não ter tanto domínio do instrumento. “Tinha medo de procurar outras escolas de música, pois de onde venho o preço das aulas é muito elevado”. Mas, a paixão pela flauta falou mais alto e a fez superar seus próprios receios em não ser aceita em uma escola de música. “Minha paixão pela música é enorme e sempre tive vontade de estudar flauta, mas tinha receio de não ser aceita. Porém, no Conservatório fui bem recebida, e os professores acreditam muito na capacidade dos alunos em aprenderem”. Ela também falou da importância sociocultural do conservatório na formação de uma geração de novos

Aulas de flauta transversal são oferecidas no conservatório

profissionais da música, assim como daqueles que não se profissionalizam, mas continuam na área. “É bom saber que existem pessoas que continuam a manter a música popular brasileira viva”. Ela pretende concluir o curso e se formar tanto na

flauta doce quanto na transversal. “Estudar música traz alegria, ajuda a desenvolver o cérebro e explora a criatividade musical do intérprete. Música é uma forma de vida e todos deveriam ter um pouco dela em suas vidas”, concluiu, empolgada.

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1 (?) D`água: lenda marianense. 2 Relativo a cultura. 3 (?) Preto: bairro. 4 “(?) Espírita de Mariana: desenvolve o projeto “Só Riso”. 5 (?) Preto: cidade. 6 Aquela que faz algo espontaneamente, por vontade própria, sem constrangimento ou obrigação. 7 Limpa com água. 8 A princesa Isabel em relação a Dom Pedro I. 9 A de Mariana não recebe tratamento. 10 Forma poética de origem marianense. 11 Alto (?): bairro. 12 Escolheu através de voto. 13 Afeição profunda. 14 (?) Aparecida, atual presidenta e uma das fundadoras do CAMAR. 15 Universidade Federal de Ouro Preto. 16 “(?), olhe, escute”: inscrição de placa de cruzamento ferroviário. 17 (?) Rica: antigo nome de Ouro Preto. 18 Colaborou com o banco de sangue. 19 “Grupo (?): Centro de tratamento de dependentes químicos. 20 A do mestre Ataíde é a escultura. 21 Estabele-

cimento de caridade, onde se recolhem crianças, velhos, mendigos, inválidos etc. 22 Associar (-se), juntar (-se) ou reunir (-se) em grupo. 23 Embalagem reciclável de refrigerante. 24 A arte de Alphonsus Guimarães. 25 (?) Real: foi criada pela Coroa portuguesa no século XVII com a intenção de fiscalizar a circulação das riquezas e mercadorias que transitavam entre Minas Gerais - ouro e diamante - e o litoral do Rio de Janeiro - capital da colônia por onde saíam os navios para Portugal. L

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MARIANA, DEZEMBRO DE 2011 Edição: André Luís Mapa e Rayanne Resende

Congado E

Lincon Zarbietti

m meio a pedras, asfalto, poeira, o branco do Congado canta seu teatro musical, lutando contra o progresso materialista que apaga as culturas do interior. Também conhecido como Congos, o festejo do Congado é uma tradição que se destaca em Minas Gerais, São Paulo e Goiás, formada por uma comunidade qu e

incorpora personagens de reis, rainhas, coroados, portas-bandeiras, juízes, capitães, alferes, dançantes, acompanhantes, cantadores, caixeiros formando, assim, uma Guarda de Congo, responsável por reverenciar o seu santo protetor. A identidade do congado é brasileira. A partir da África, são 500 anos de história, desde a viagem no Atlântico, construída por lutas e conquistas. A rapidez da informação, o “canibalismo” das metrópoles, o enfraquecimento das culturas interioranas, tudo isso faz com que o Congado tenha que se adaptar a um novo mundo. Entretanto, qualquer adaptação necessária há de ser feita pelos próprios congadeiros a partir da tradição e das raízes, da espiritualidade recebi-

da na irmandade. O finca-pé na dança sabe ser forte, quer entrar na Terra, fixar suas raízes culturais para nunca mais serem arrancadas. O beijo nas bandeiras dos santos, o levantamento do mastro, o andor que visita as casas da comunidade... tudo isso é a crença na perenidade do movimento. O Congado é passado de pai pra filho, com muita dedicação, conservando as vestes e os instrumentos tradicionais. A criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência. As fotos desta página mostram a Festa do Congado de Santo Antônio do Salto, em outubro de 2010, que procura aproximar a cultura e a comunidade, reunindo diversos grupos da região e levando o feste-

jo e a fé para dentro das casas, dentro das famílias. O congado é dança, é ritmo, mas, acima de tudo, é força que preserva a cultura, que une comunidades, que resiste ao tempo!

FOtos : Lincon Zarbietti

“Foi seu pai que me ensinou Bate o pé só com sete gunga menino E segura essa goma Tá caindo fulô Lá no céu, lá na terra Tá caindo fulô”


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