Jornal Lampião - edição 9

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LAMPIÃO Arte: Fábio Brito | fotomontagem feita com personagens que ilustram nossa edição

Jornal Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 3 - Edição Nº 9 - Abril de 2013

54.219 habitantes

Mariana:

s a r e m ú n i e . . . s a i r ó t s hi

7 & 6 s a n i g á p . s o t i r t s i ...da vida nos d

* 3 na gi pá . .. am in rm te o nã s ra * Onde as ob gina 4 * pá .. l. ga le r se o nã a um st co e rn * Onde a ca * 8 na gi pá . .. ão aç or pl ex da o * Onde o minério está a um pass * 9 na gi pá ! os er nc si os is rr so * E no final, o que resta são os


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Abril de 2013

Edição: Arthur Gomes, Lívia Almeida e Tamara Martins Arte: Ana Luiza Batista

Editorial

Fale conosco

Encontros e desencontros Tomada pela peculiaridade do livro “A Alma encantadora das ruas”, de João do Rio, a equipe dessa edição do LAMPIÃO mostrará como a rua, metaforizada por seus moradores, vê um desconhecido e como esse desconhecido a vê. Você, leitor, será apresentado aos problemas comuns, que existem há tanto

tempo e, no entanto, ninguém se questiona porque tornaram-se invisíveis à sociedade. Além disso, o LAMPIÃO mostrará a vida nos distritos e como os seus personagens contam suas histórias. As dificuldades e alegrias, que, às vezes, passam despercebidas a um viajante. Desse modo, buscamos mostrar que, mesmo estando perto,

os distritos parecem estar longe. O olhar do outro, esse que parafraseando o grupo musical O Teatro Mágico, não nos deixa acomodar com o que incomoda. Despertar o olhar, de quem consome carne advinda de maneira irregular. O olhar sobre as obras que consumiram milhões do dinheiro público

e ainda encontram-se estagnadas. O olhar minucioso da população da cidade que está prestes a abrir as portas para a exploração do minério próximo ao centro urbano. O olhar do esquecido e daquele que é sempre lembrado. O LAMPIÃO, em uma nova editoria intitulada Olhares, quer que você enxergue além.

Rua descoberta, luz de lampião Poesia

Site: www.jornalismo.ufop. br/lampiao

Fique atento! Sempre que o símbolo ao lado estiver presente na página, não deixe de conferir mais em nossa versão online:

www.jornalismo.ufop.br/ lampiao Lá você encontrará conteúdos exclusivos relacionados a leitura de cada página. Não deixe de conferir!

Cristiane Tomaz

Ele é João, o encantado por ela Poderia ser outro, algum santo da primaz Olha para trás, atordoa a pensar na alma e enobrece É garoto, que viu passar ambulante na Direita É homem feito que construiu o mesmo lugar

“É no lampião que vou me guiar” Pensou antes de seguir pelas pedras Sempre tortas, quase belas Rastro de luz que insiste em acompanhar

Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Professora do Curso de Serviço Social da Ufop.

Rua é essência do bem, avesso de rancor Nela, existe a aura de ser lar de todos Democrática, gracejo de iluminação Passam quem passa com esmero Todos se guiam no lampejo de João

entre olhares

O olhar do amanhã...

Íris Zanetti

As asas de cera de Ícaro derreteram. Este homem não criou asas. Vestiu a infância e incorporou a pipa, feito menino travesso. Voou. Libertou-se. Saravá, Santos Dumont. Salve, Leonardo da Vinci. Como diria Mário Quintana, “todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão. Eu, passarinho”.

Para refletir sobre o tema, precisamos compreender a história da Política de Saúde no Brasil e o jogo de interesses que permeiam a trajetória dessa política. A Política de Saúde esboçada a partir da década de 1930, se expande e se consolida durante o governo militar e começa a mostrar sinais de mudança na década de 70. A Medicina Previdenciária, como ficou conhecida, foi ganhando aliados, como a Federação Nacional dos Hospitais e a Indústria Farmacêutica, que representavam os interesses privados na exploração lucrativa da saúde. Este modelo tinha como norte para suas ações o tratamento e a cura de doenças, através de procedimentos médico-hospitalares de alto custo e uso indiscriminado de medicamentos para todo tipo de tratamento. É preciso entender que essa foi uma das formas que o Estado encontrou de incentivar a industrialização, sem considerar os prejuízos sociais e à saúde, que eram causados pela medicalização. A partir de 1975 este modelo de saúde passa a ser questionado pelo Movimento Sanitário - que lutava pela democratização da saúde, criticava o conceito de saúde e o modelo de sociedade vigentes. Tem-se dois projetos em disputa, o Projeto Privatista e o Universalista do Movimento Sanitário. Com a aprovação da Constitu-

isadora bruzzi

Abriu os olhos Por eles, pupila em prontidão Pode ver sentidos incrustados Cores vivas, para João, faziam jus à nova cidade, Que nascia ali, ao lado, por suas vistas

“Tem meses que vejo adesivos nos ônibus dizendo que atendem deficientes físicos, mas nenhum até hoje me atendeu. Arrancam com o ônibus e me largam pra trás” Luciano da Silva Cipriano, morador do Bairro Santo Antônio – Pág. 4 “Você tem que dar o coração para as pessoas, caso contrário, você é um inútil” Rafael Arcanjo Santos, professor de violão – Pág. 12 “Não sei, foi uma ilusão danada. Ele tinha um histórico de vida muito triste e eu quis fazer mais do que podia, o que estava acima de mim.” Maria, detenta – Pág. 5

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A medicalização da Saude

A cidade se transforma Transformada para o garoto ali, No meio dela: da rua E das cruas calçadas, vazias, compactadas Do concreto seco e duro vão-se anos de pé de moleque

lampejos

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opinião

Mariana Borba

Sente cheiros, sabores na ponta da língua Movimento grande, cidade pacata de interior Por ali passam cavalos e marinheiros Reconhece pedras de cantaria Cantadas por antigos escravos À serventia do próprio senhor

Escreva: lampiao@icsa.ufop.br

ição de 1988 e a incorporação das reivindicações do Movimento Sanitário, esperava-se uma mudança do modelo de assistência à saúde, que privilegiasse as necessidades sociais, e que pudesse reconhecer os aspectos biopsicossociais do processo saúde- doença, e, assim, reverter o modelo médico-curativo, centrado na doença, remédio e hospitais. Contudo, o projeto de ajuste fiscal e restrição de financiamentos para as políticas sociais, nos anos 90, confronta-se com o da Reforma Sanitária, pela orientação política e econômica governamental que, mais uma vez privilegia os setores privados, levando ao subfinanciamento das políticas sociais da Saúde. Dessa forma, o conceito ampliado de saúde, que visa à promoção e a prevenção de doenças e agravos à saúde não encontra condições objetivas para se materializar. Daí, a questão da medicalização da Saúde vem à tona novamente, como, talvez, o recurso mais próximo que a população tenha para atender às suas necessidades, somado aos interesses da indústria farmacêutica e à desassistência do Estado na oferta de serviços públicos, gratuitos e de qualidade para todos, como prevê a Constituição.

Erramos Página 3: O correto na legenda da foto da matéria“Falta de estrutura nas escolas atrasa início das aulas em Mariana”é:Na Escola Municipal Wilson Pimenta Ferreira, no Bairro Prainha, faltam livros de literatura na biblioteca”. Na matéria (DES)serviço prejudica população Bens públicos sofrem com

vandalismo, no 3º parágrafo o correto é: “A Secretária de Serviços Urbanos vai abrir um processo licitatório para a compra de novas lixeiras para a região central e ruas dos demais bairros, que dispõem delas somente em escolas, praças e postos de saúde. Página 5:As informações do infográfico da

matéria “Realidade que assombra” são do Dr. Alexandre Rotondo da Silva, médico do Programa de Saúde da Família de Ouro Preto. Página 6:Na matéria “Muito descaso nenhuma solução”, o correto é : “O diretor adjunto de administração do Saae, Ronaldo Camelo”.

Jornal Laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto – Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Ednéia Oliveira. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Prof. Dr. Ricardo Augusto Orlando – Professores responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem), André Carvalho (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editor chefe: Rolder Wangler - Subeditora: Adriana Souza - Editor de Arte: Fábio Brito - Editora de fotografia: Paula Peçanha - Editora Multimídia: Núbia Cunha - Reportagem: Aline Barreíra, Ana Paula Rodarte, Bruna Matos, Caroline França, Cinthya Meneghin, Isabela Azi, Isadora Faria, Isadora Rabello, Jamylle Mol, Jessica Clifton, Jéssica Romero, Laura Ralola, Lázaro Borges, Marcelo Sena, Nara Bretas, Paulo Victor Fanaia, Rafa Buscacio e Ramon Cotta - Fotografia: Ana Carolina Meirelles, Ana Luiza nepomuceno, Alexandre Anastácio, Bárbara Costa, Isadora Bruzzi, Joyce Afonso, Laís Queiroz, Patrícia Botaro e Yumi Inoue - Diagramação: Ana Luiza Batista, César Diab, Cíntia Adriana, Filipe Barboza, Lorena Costa, Luís Fernando Braulio, Nicole Alves, Patrícia Souza, Rayana Almeida e Tuanny Ferreira- Multmídia: Luísa Carolina e Mariana Mendes - Revisão: Arthur Rosa, Lívia Almeida e Tamara Martins - Colaboradores: Íris Zanetti e Mariana Borba. Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, n° 166, Centro. Mariana - MG. CEP 35420-0


Abril de 2013

Edição: Alexandre Anastácio, Marcelo Sena e Nara Bretas Arte: Filipe Barboza

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CIDADE

Licitações irregulares, obras inacabadas Auditoria aponta mau uso do dinheiro público e ações judiciais investigam construções milionárias em Mariana Marcelo Sena Estima-se que, somente em seis obras inacabadas em Mariana, a Prefeitura tenha investido quase R$ 50 milhões desde 2006, de acordo com auditoria realizada pelo Executivo Municipal em 2012. A obra do centro olímpico foi contratada por R$ 27 milhões e a Nova Prefeitura, por R$ 10 milhões. Ainda de acordo com o levantamento municipal de 2012, foram pagos, em 2008, R$ 8,2 milhões para a construção do centro de convenções, e R$ 1,1 milhão tanto para o Laticínio Municipal quanto para a Policlínica do Bairro Cabanas. Outra auditoria de 2007 já havia revelado que a passarela do Distrito de Passagem de Mariana custou mais de R$ 2 milhões. O valor total dessas obras seria suficiente para a construção de 1.520 casas populares, de acordo com pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de 2011, que apontou o custo médio de uma casa do Programa Minha Casa, Minha Vida em torno de R$ 32,5 mil. Os processos licitatórios dessas obras aconteceram entre 2005 e 2008. Das dez empresas privadas que mais receberam recursos municipais em 2008, oito respondem a ações judiciais por suspeitas de desvio de dinheiro público ou irregularidades em processos licitatórios e na execução de obras. Um exemplo de mau uso dos recursos públicos está na obra da nova sede da Prefeitura. Denominada no processo como “Novo Paço Municipal”, a obra hoje não passa de pilares às margens da Rodovia do Contorno. Foram pagos à

ALEXANDRE ANASTÁCIO

Oito anos se passaram, entre atividades e paralisações, desde o início das obras do centro olímpico de Mariana, localizado no Bairro Vila Aparecida

empresa SPEL Engenharia Ltda. R$ 4,7 milhões. Já a empresa Terra e Técnica Engenharia e Empreendimentos venceu a licitação referente à segunda fase do mesmo projeto, no valor de R$ 5,2 milhões, denominado “Centro Administrativo”. Não estão anexados ao processo o projeto básico, a planilha orçamentária, o estudo de impacto ambiental (EIA) e a licença prévia de instalação. Uma ação civil pública foi movida no Ministério Público pelo município, em 2012, para “ressarcimento de danos causados ao erário, cumulada por responsabilização por ato de improbidade administrativa” contra o então prefeito na época, Celso Cota Neto, e a empresa contratada. De acordo com o assessor técnico de Controle, Contratos e Orçamentos da Prefeitura, Leonardo Rodrigues dos Santos, é de interesse do prefeito Cel-

so Cota (PSDB) dar continuidade às obras, iniciadas em sua gestão anterior. “O Celso quer terminar as obras que começou. Infelizmente, saímos da Prefeitura antes que pudéssemos concluir tudo e as administrações posteriores não deram continuidade. Todas as licitações estavam dentro da lei”, afirmou, ao ser indagado sobre as irregularidades apontadas na auditoria. O responsável pela empresa Terra e Técnica Engenharia e Empreendimentos, Rodrigo Araujo Ferreira, disse que é vítima de perseguição política e não deveria estar sendo acusado dessas ações civis públicas. “Todos os problemas referentes à licitação eram de responsabilidade da Prefeitura. A empresa deu entrada nos documentos como manda o protocolo. A Terra e Técnica é vítima de perseguição política do exprefeito Roberto Rodrigues, autor das ações. Ele can-

celou todos os nossos contratos assim que assumiu o cargo. A Terra e Técnica recebeu parte do valor para a obra da nova prefeitura, cerca de R$1milhão. Os governos seguintes não se interessam em terminar a obra, por isso paralisamos”. A reportagem do LAMPIÃO não conseguiu localizar os donos da empresa Diminas Construções Ltda. em nenhum dos telefones informados nos processos. Através do serviço Fale Conosco, do site da SPEL Engenharia, a reportagem enviou pedido de informações sobre os processos, e até o fechamento da apuração, não obteve resposta. Os números encontrados no serviço de informações telefônicas, Telelista, também não condiziam com os contatos da empresa. VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE OBRAS NA VERSÃO ONLINE: http://goo.gl/cq5p7

O elefante olímpico Marcelo Sena A construção do Centro Olímpico de Mariana foi contratada, no total, por R$ 27 milhões. A empresa Diminas Construções e Comércio Ltda. recebeu R$ 6,4 milhões apenas para a desmontagem, transporte e remontagem das estruturas metálicas que seriam reaproveitadas do antigo ginásio poliesportivo. De acordo com os dados auditados, as medições exigidas não foram apresentadas e as cópias do documentos das empresas concorrentes não foram autenticadas, como determina a Lei de Licitações 8.666/93. Em 2013, Celso Cota reassumiu a Prefeitura e, mesmo após duas ações civis públicas e cinco ações populares contra a Diminas, R$ 1,7 milhão foi pago à empresa para obras no centro olímpico. De acordo com Leonardo Ro-

drigues dos Santos, “os valores fornecidos para a empresa Diminas, em 2013, condizem com serviços prestados em 2012 que não foram pagos”. O antigo ginásio poliesportivo, construído em 1986 na Praça Juscelino Kubitschek, foi demolido com a promessa de que um novo centro olímpico seria erguido em seu lugar. Para a presidente da Associação de Basquete de Mariana, Priscilla Tukoff, o esporte local sofre as consequências. “Nem tenho palavras para dizer como prejudica. Basta que eu lhe diga que o esporte de base morreu; que a minha equipe, que é a seleção de Mariana, treina num espaço precário; que as competições regionais são realizadas com uma despolarização hedionda e que é impossível trazer um grande evento esportivo para cá”.

Famílias vivem com auxílio moradia há dois anos ALEXANDRE ANASTÁCIO

Anexo da escola Wilson Pimenta Ferreira abriga a família de Naiara Aparecida

Nara Bretas O Programa Especial de Auxílio Moradia, em Mariana, previsto na Lei 2.591/2011, garante às famílias de baixa renda, em situação de vulnerabilidade ou risco habitacional, o direito de morar em casas

com o aluguel pago pela Prefeitura. A lei prevê o auxílio pelo prazo máximo de um ano, e que o valor anual não pode exceder R$5,4 mil por família. Entretanto, em Mariana, 12 famílias vivem com o auxílio desde dezembro de

2011, quando a cidade decretou estado de emergência por causa das chuvas. O valor varia entre R$180,00 e R$ 450,00, e é definido de acordo com o número de indivíduos e renda por casa. Hoje, existem 160 famílias atendidas

pelo programa na cidade, mas a Prefeitura não informou o valor total gasto com os alugueis. A verba municipal é repassada para o Serviço de Manutenção de Outros Serviços de Proteção Básica, do Centro de Referência de Assistência Social (Cras). A secretária de Desenvolvimento Social e Cidadania, Ivânia Perdigão, afirma que “se tem famílias há dois anos no aluguel social, e assumimos o governo há menos de três meses, temos condições de brevemente tentar solucionar estas questões”. E completa. “Enquanto não resolvermos a situação definitiva, temos que ficar com esta paliativa, que é o aluguel social”. Ivânia disse ainda que foi solicitada, em caráter de emergência, a construção de 100 casas populares, mas a obra ainda será licitada. A gari Naiara Aparecida, 23 anos, vive há cerca de dois anos com o companheiro e três filhos na antiga Casa da Sopa, localizada na Escola Wilson

Pimenta Ferreira, no Bairro São Gonçalo. A família foi direcionada ao local pela prefeitura, quando um barranco caiu de madrugada derrubando a casa onde moravam. “Falaram que iam arrumar um lugar pra gente ficar, aí ofereceram o auxílio aluguel. Só que aqui no bairro está difícil de achar casa e tenho que morar onde me ajudam com meus filhos”, conta. A coordenadora de habitação da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania, Ronilda Baeta, afirmou que a construção de uma nova casa para a

família será providenciada, uma vez que o espaço pertence à Secretaria de Educação, que solicitou o uso do local. A auxiliar de serviços gerais Gislene Dias de Oliveira, 28 anos, é beneficiada há cerca de um mês com o auxílio moradia, no Bairro São Gonçalo. Ela também vivia na antiga Casa da Sopa, com dois filhos. “A Defesa Civil tirou a gente de lá por causa do barranco que caiu. Aí a Prefeitura falou que ia me dar uma casa porque a minha estava em área de risco”, conta.

Situação de Ouro Preto Lázaro Borges Em Ouro Preto, a Lei Municipal 86/2006 garante às famílias removidas dos locais afetados pela chuva, o direito ao auxílio aluguel, enquanto novas residências não se fazem disponíveis. Devido às chuvas ocorridas em 2011, existem cerca de 140 famílias afetadas, tanto na sede como nos distritos, que estão a

ser reassentadas em Cachoeira do Campo. Entretanto, só existem 120 casas em construção e as obras estão paralisadas desde dezembro. O valor do aluguel social (R$ 350,00) é considerado pouco para os valores imobiliários de Ouro Preto. Além disso, as famílias estão sendo removidas para longe de seus locais de trabalho e estudo.


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Abril de 2013

Edição: Bárbara Costa, Isadora Rabello Arte: Lorena Costa

CIDADE

Transporte de carne é irregular em Mariana Comerciantes não cumprem normas da Vigilância Sanitária para levar o produto aos açougues

bárbara costa

Isadora Rabello Carne bovina transportada em carrocerias de caminhonetes cobertas com lona e sem refrigeração. Mesmo irregular, é dessa forma que o produto chega em grande parte dos açougues de Mariana. De acordo com as normas da Vigilância Sanitária, os veículos para transporte e distribuição de carnes devem possuir compartimentos completamente fechados e termoisolantes. Se a distância do local do matadouro até o da distribuição for superior a 100 km, o alimento deve ser transportado em veículos com câmara refrigerada a -5ºC. Mas não é o que acontece, por exemplo, em um açougue localizado no centro da cidade. “A minha carne chega em Fiat Strada, tampada com lona e o abate é feito por nós mesmos”, afirma o comerciante Antônio Gomes, dono do estabelecimento. Segundo ele, os comerciantes foram orientados pela Vigilância Sanitária da cidade sobre como proceder. Porém, a maioria, assim como ele, ainda

não providenciou o veículo apropriado. “A Vigilância nos explicou como deve ser feito o transporte. Aqui nós não temos caminhão ainda, mas estamos providenciando”, admite. De acordo com a Vigilância Municipal, os fiscais solicitam ainda ao responsável pelo estabelecimento documentos que comprovem a procedência das carnes comercializadas, através de nota fiscal, sendo recomendada a aquisição em abatedouros que recebam inspeção estadual pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) ou federal pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal). A venda de carne para a população também precisa respeitar normas de armazenamento. O produto deve ser exposto em balcão frigorífico, pendurado em ganchos de alumínio ou inox, a uma temperatura máxima de 7º C. Se for processada em locais fiscalizados, a carne é segura. Porém, Mariana não possui abatedouro municipal, o que faz com que os animais sejam abatidos em locais sem fiscalização. Se-

Ausência de luvas e carroceria aberta são algumas das irregularidades comuns no transporte de carnes em Mariana

gundo o médico veterinário Francisco de Assis, o abate e o animal têm de ser inspecionados constantemente, para evitar a transmissão de doenças. Segundo ele, “o boi, para ser abatido, tem que estar isento de doenças.” “A análise deve ser feita antes, durante e depois do abate por um veterinário. O animal é analisado quanto ao seu comportamento e é verificado se existem sinais de infecção”.

Como saber se a carne foi inspecionada?

Deve-se observar se o produto possui etiqueta ou carimbo com selo do SIF, IMA ou do Serviço de Inspeção Municipal (SIM). Se a carne for transportada em caixas, estas devem estar identificadas com código de barras dos órgãos de fiscalização. Caso haja problema, eles identificam o lote com a origem da carne e retiram de circulação.

Doenças: O consumo de carnes não inspecionadas pode ocasionar várias doenças como: tuberculose; toxoplasmose, que provoca problemas no fígado, pulmão e coração; teníase, que infecta os intestinos, causa dores, náuseas e perda de peso; salmoneloses, clostridioses, etc.

Plano promete melhorar o transporte público Paulo Victor Fanaia Os transtornos que enfrentam, diariamente, os usuários de transporte público, em Mariana, podem chegar ao fim com o Pla-

no de Mobilidade Urbana, programa iniciado em 2011 pelo Governo Federal. No processo licitatório, em junho deste ano, o plano prevê debates com a popu-

lação sobre a situação do trânsito na cidade. De acordo com o prefeito Celso Cotta, já está sendo criado um conselho municipal de transporte, e PATRÍCIA BOTARO

Usuários reclamam de pontos e ônibus lotados nos “horários de pico”

uma empresa de engenharia de trânsito foi contratada para fazer um estudo da situação de Mariana. “Esse estudo vai embasar uma proposta de transporte urbano. Vamos respeitar eixos principais, com veículos maiores, pensando no que esse estudo vai nos mostrar sobre a necessidade de trabalhar também com veículos menores nos intrabairros”, afirmou. Enquanto as mudanças não acontecem, cidadãos ainda sofrem com a má qualidade do serviço oferecido. Luciano da Silva Cipriano, morador do Bairro Santo Antônio, é cadeirante e chegou a esperar três horas por um ônibus da Transcotta, o que o ocasionou a perda de compromissos. “Já tem meses que vejo adesivos nos ônibus dizendo que atendem de-

ficientes físicos, mas nenhum até hoje me atendeu. Arrancam com o ônibus e me largam pra trás”, afirma. Ele relata, ainda, que já deixou de ser transportado em situações de emergência. “Fui ao ponto da Policlínica e não consegui o transporte porque minha cadeira (elétrica) estava descarregada. Na hora que eu mais precisei ninguém pode fazer nada por mim”. Há queixas também sobre a falta de estrutura e segurança nos pontos de ônibus, além da frota limitada e de usuários idosos pagando passagem, apesar do passe livre previsto em lei, neste caso. Em nota, a empresa Transcotta afirma que se “preocupa e zela pela qualidade do serviço prestado aos seus passageiros. Por isso, encontra-se disposta a solucionar even-

tuais reivindicações” dos usuários. Afirma, ainda, que “os atrasos são ocasionados nos ‘horários de pico’, principalmente pelos diversos ônibus fretados pelas mineradoras, o que gera um enorme congestionamento e culmina, consequentimente, na impontualidade dos veículos que realizam transporte público coletivo”. Com relação ao atendimento nos bairros distantes, a Transcotta garante que “realizou no ano passado vultosos investimentos para a aquisição de veículos novos com a finalidade de ampliar o fornecimento dos serviços de transporte coletivo nos bairros e distritos de Mariana”. A empresa não respondeu sobre o atendimento a cadeirantes e a outros deficientes.

educação

Creches em Mariana: descaso com a população

PATRÍCIA BOTARO

Bruna Mattos A dona de casa Celita Silva, 26 anos, moradora do Bairro Cabanas, peregrinou por creches procurando vaga para sua filha de três anos, sem sucesso. Como não tinha com quem deixar a criança, pediu demissão do trabalho. “Quando vou na creche eu pergunto ‘e ai vai surgir a vaga?’ E eles me respondem que não está cabendo nem mais um menino”, afirma. Atualmente, Celita conta com a ajuda de sua mãe e do pai da menina para se manter. O artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente determina que “é dever do Estado assegurar atendi-

mento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade”. Mas não é o que acontece em Mariana, onde são ofertadas 530 vagas em cinco creches nos bairros Rosário, Santo Antônio, Centro, Santa Rita de Cássia e no distrito de Passagem, informou a Secretaria de Educação, em ofício. O número ainda é insuficiente para atender a procura, e a previsão é que sejam criadas mais 170 vagas até 2016. No entanto, seriam necessárias 226. A faxineira Débora Lourenço, 25, mãe de quatro meninas, é uma das prejudicadas por não haver creche em seu bairro, Mor-

ro do Santana. Para atender a caçula, de dois anos, a solução foi arcar com as despesas pagando para uma parente cuidar da criança. A conselheira do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, Mirian Malta, confirma que a demanda por vagas é muito grande e que todos os pedidos que chegam até o Conselho são repassados à Secretaria de Educação. Ela admite também que as denúncias referentes aos pais que deixam seus filhos com os irmãos mais velhos têm ocorrido com frequência. Nesses casos, além de aconselhá-los sobre a responsabilidade deles, caso ocorra algo com a

criança, o Conselho requisita à Secretaria de Educação vaga em uma creche. De acordo com o órgão, a previsão é de que até o final de 2016 sejam construídas dez creches, sendo que as obras de duas delas já estão em fase de licitação. A previsão é de que estejam prontas até 2014. Os bairros contemplados serão Rosário e Vale Verde. A partir do ano que vem, crianças de quatro e cinco anos serão atendidas nas escolas, em horário integral. De acordo com a Secretaria de Educação, essa saída visa amenizar a situação, mas não é a solução final para o problema.

PATRÇIA BOTARO

Por não ter onde deixar a filha, Celita não consegue emprego


Abril de 2013

Edição: Aline Barreíra, Cíntia Adriana e Jéssica Romero Arte: Cíntia Adriana

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CIDADE aNA CAROLINA MEIRELLES

Uma performance do corpo preso: pequenos movimentos que libertam

Mulheres no cárcere

Elas são mães e filhas. Estão privadas da liberdade, mas contam aqui suas histórias Jéssica Romero Em Minas Gerais, atualmente 2.658 mulheres estão presas. De acordo com a CPI do Sistema Carcerário, elas têm entre 20 e 35 anos, são negras, têm baixa escolaridade e pelo menos dois filhos menores de idade. Maria e Fernanda, que usam nomes fictícios, pois preferem não ser identificadas, representam essas estatísticas. Ambas estão no presídio de Mariana. O que uniu essas duas mulheres numa cela foram as drogas. Maria, ao envolver-se com o tráfico, e Fernanda, ao furtar para manter o consumo do crack. Além delas, outras seis mulheres também estão no local.

Maria, 30 anos, é mãe de quatro filhos, e está presa há um ano por envolver-se com o microtráfico, uma fração do tráfico de drogas que é considerada nem tão organizada e poderosa quanto aos grandes grupos do país. O crime entrou em sua vida quando ela decidiu ajudar o pai de um de seus filhos, que estava preso e a convenceu a “ganhar dinheiro fácil”. Ao ser indagada se foi por amor, ela diz: “Não sei, foi uma ilusão danada. Ele tinha um histórico de vida muito triste e eu quis fazer mais do que podia, o que estava acima de mim.” Hoje, conta com alívio que no final deste ano sai do

presídio e diz várias vezes que se arrepende, pois está pagando caro, perdendo o crescimento dos filhos e a vida com eles lá fora.

“Quero ter meu filho de volta, quero muito isso.” Fernanda

Fernanda ainda aguarda julgamento, está presa há quatro meses e não sabe quando vai sair. A jovem de apenas 27 anos foi criada sob os valores da Igreja Evangélica e sempre teve casa, pai e mãe. E diz que, por causa da educação rígida, foi obrigada a sair da escola e se casar aos

16 anos. Dois meses depois estava separada. Após a separação, ela foi perseguida pelo ex-marido e, por isso, foi demitida do emprego de babá. Conta que aos 17 anos foi conhecer o mundo e conheceu “tudo de ruim”. Aos 20, engravidou, o que estremeceu ainda mais a relação conturbada com seu pai, que não aceitava o neto. Para manter o filho, trabalhou como empregada doméstica, mas os R$ 100,00 mensais que ganhava não eram suficientes para se manter e pagar outra pessoa para cuidar da criança. Não sobrava dinheiro para o leite. Sem ter como sustentar

o próprio filho, se viu sozinha e obrigada a deixar o menino com os tios, que podiam dar a ele as condições básicas para viver. Foi aí que as drogas entraram em sua vida. A dependência do crack levou Fernanda a se prostituir em troca da pedra e, pouco tempo depois, influenciada por um companheiro, roubava para sustentar o vício. Assim, ela chegou ao presídio. Enquanto me relatam suas histórias, em alguns momentos há tristeza e, em outros, sorrisos. Ambas choram pela saudade e anseiam por um futuro desconhecido, mas com a esperança de uma vida nova.

Maria tem uma neta que ainda não conhece, mas que deve conhecer no Natal, quando já estará em liberdade. Ela diz também que espera ansiosa pra sentir o gosto de comida caseira na festa. E Fernanda, já sofre por saber que vai passar atrás das grades seu aniversário, que é também o Dia das Mães. Para finalizar nossa conversa, eu pergunto o que é liberdade para elas. Maria sorri e diz que é o que para mim podem ser as coisas pequenas, mas para ela tem muito valor. Fernanda não sabe responder, concorda com a colega e diz que só sabe que liberdade é algo que ela não tem.

Ressocialização penitenciária Aline Barreira Ressocializar o preso é inserí-lo de volta ao convívio social quando recuperado e reeducado. E isso ocorre através dos programas e projetos assistenciais oferecidos pelo sistema penitenciário. É o que prevê a Lei de Execução Penal (LEP), que proibe a violência por parte de funcionários e tem como principal objetivo a ressocialização dos detentos através do trabalho e do estudo. Em Mariana, o presídio não possui espaço físico necessário para a realização de aulas regulares e outras atividades que contribuam no processo de ressocialização. Faltam salas, computadores, cadernos e outros equipamentos e materiais que supram as necessidades dos 110 detentos, entre homens e mulheres. Para a agente penitenciária de ressocialização, Raquel Silva, é essencial que o presídio possua, em primeiro lugar, o espaço para a prestação desses serviços e, somente depois, será possível adquirir os equipa-

mentos necessários durante a reclusão. “Com a limitação do local não é possível oferecer muitas ações de aprendizado que contribuam na redução da pena, que é chamada de remição. Aqui, temos somente duas opções de serviço; lavanderia e horta”, explica a agente. Segundo o advogado Matheus de Castro, a lei é clara ao tratar da remição, no artigo 126 da LEP: “O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena na proporção de um dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar, divididas em, no mínimo, três dias. E um dia de pena a cada três dias de trabalho. É de suma importância que as instituições carcerárias ofereçam atividades que possibilitem a redução de pena para o detento”. Psicóloga do presídio há dois anos, Cristiane de Paula atende todos os detentos individualmente uma

vez por mês. Para ela, a intenção dos projetos e assistências oferecidas é fazer com que cada interno se apegue a algo que o motive. “O objetivo da ressocialização é levantar o potencial do detento, o levar a crer em algo, reforçar a capacidade de acreditar que é possível viver novamente. Nós, profissionais, temos o dever de proporcionar, pelo menos, a crença de viver em sociedade, redimido e recuperado”. Como forma de reinserção, alguns presidiários têm contato com os moradores da cidade através de uma recente iniciativa pública. Imóveis utilizados por órgãos públicos e que necessitam de reforma são o instrumento de trabalho dos detentos, que realizam pinturas e outras reparações. O fórum e a prefeitura da cidade foram alguns dos lugares que utilizaram essa prestação de serviços. Os detentos também são incentivados a participarem de processos seletivos de avaliação, como o Exame Nacional do Ensino

Médio (Enem) e provas de supletivos. A última aplicação aprovou os oito detentos que a realizaram a prova em 2012. O presídio é acessível a iniciativas da população.

Os reclusos recebem duas vezes por semana a visita de grupos religiosos que propõem a evangelização e trabalham com a reflexão da pena e das atitudes de cada preso como

indivíduo em sociedade. A instituição também é aberta a quaisquer atividades e projetos culturais que possam ser oferecidos, e recebe doação de mantimentos.

Indicadores da população carcerária feminina em MG 36.5% Não realizam atividades

4% Trabalham fora da unidade prisional

35.5% Participam dos programas de ressocialização

24% Estudam

FONTE: Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (INFOPEN )- Julho de 2012


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Abril de 2013

Edição: Caroline Fernandes, Isabela Azi, Joyce Afonso e Lais Queiroz Arte: Rayana Almeida

Onde (não) term

-especial

“Um dia cercam à beira um lote de terreno. Surgem em seguida os alicerces de uma assim que surgem as cidades, repletas de ruas, almas e gentes. Mariana nasceu por en a cidade, começam outras histórias: quem resolve seguir as estradas – ora de terra, o realidade que, às vezes, parece estar distante, escondida no seu próprio universo. Du de perto, os desafios e as vantagens de morar ao mesmo tempo tão perto e tão lon

s

n e g a s i a p as çam outr

cotidiapanhou o m o c a , a n Gerais. ma sema e Minas u d r te o n ri ra te u d in m da terior do l, a 50 k istritos e, in e d ol o o n M n a e l e M l y iv v io peJam de quem mo Cláud o tanto: a o is o c c n o , d re s p te s n é a d na do são dista tros não s planeja de Maria , é sa- Alguns egar a ou m n h e as cidade e c g p ir a e s ra s m m a a ri ra p P p , fo 718 uma das s sede. Mas s separam iro: fundado em 1 -moleque a e o é tr M -d e s a é I. m n p o II a il e V ri u d Ma é pione e ruas éculo X cinco q as praças inda no S volvem nas . Furquim rais. n o e c les, ri e tó u q is h Brasil. Su o ciclo do ouro, a alguns de nhas ntro s Ge ta e a m s c n e a in o ir : M m e te d n e te s a o d n a d fr ros d das dura ais antigo a singulari es de santos pad epois das m . Por trá m d u u , o e o i c je s s u s o s e re s H p c o arr p atriz as ruas. m mais a cidade Cada luga tos históricos e m cachoeiras de Cam isio, existe eram outr d c íp b s a u ic s n n n u , s 5 e s a C 2 m a m u o e ae ladeir rais, com stão mon esanato d a sede do os nove distritos e rt tu a a m n a o it s a o m z li m le n trito o be que de ulturais, c de Barroca, subdis istribuídas iros. Há c d e % s , 9 s e 8 a õ ç ri m ta tó e s manife resceu as e his ongado ade. Mariana c 8.031 pesso- gos, e do e o c a id e c m d a ru s d B o it s o o tr ara terd e is trit o que sep ráfido choeira assando d ção nos d lg p s a la a , , u is 0 o p u 1 ã o q 0 p is s 2 . e iv p og A e d im significa de 2000 espaço ge s- de Furqu s últimas a o o s o u o it m d d n a tr ) a s is in E a d s d G o rm tidaB os entre A palavra a um dete anham nome, iden r, tatística (I it s . Os dad – 0 E m 5 li is e e .2 ra d 5 a 1 ru fi e as para s áreas e Geogra e outras lugares g e tijolos sem pinta cional na o, esses rasileiro d inuin- ras d la p u B im p m d o as d te to p tu m o ti e to s v ças com In – Com ão casinh 0 iamen S 8 . z a o . e c s v s a ostos, pra e 0 ri p 7 p o a e ró d p e re u s s p q a a m d ri se ia” sortó éca tram o “bom d achodo- de e his nha com um café n nso nas d ra te a o in id m z u e ra d d e que te. ade tra gas, C es à le icativo hospitalid eravelmen Padre Vie lugares fogõ ero signif a , m s a e ú oel, e s rt n s o s e o o H d h e r do consid tr r udio Man nquin enho l en pesa s lá a a ia n o b C c , o o , e to s M a n n o , e a ta n d a n ri a im a om ld No e centro urb nte. Furqu , Passagem de M Durão: cada um, c a desigua e O d , s ri . m o a o it c iv tr s s o is o é expre Brumad populaçã nta Rita m pouco res nos d município brigam a ali- eira do rgos e Sa imples, compõe u a a tr o n m a d e a n c a e C d ri o , e a s s tã e a de M ais es deirante gentes s Passagem nesses loc prego e Ban almas e m e e d e d s a s distrito de aquisitivo, já que e ru suas ssibilidad er riana. os, as po n a maior pod rb u que é Ma s . o o a e d v iç ic o m rv n e ô s s n o inco, d nsão eco zados os ercorreu c s de asce p e d a O id IÃ n P u rt AM opo gem do L A reporta

E come

Fotos: Lais Queiroz

Da esquerda para direita: (1 e 2) em Monsenhor Horta, vala no asfalto obriga moradores a improvisarem pequenas pontes para entrar em casa. Segundo Osvaldo Soares, a rua em frente a sua casa está tom de água poluída há pelo menos seis anos; (3) o posto de saúde de Barroca não funciona aos finais de semana e o único orelhão do distrito está quebrado

Os problemas parecem não ter fim... Jamylle Mol “Quem sabe assim, lendo a reportagem no jornal, eles lembram que a gente também vota e aparecem de novo por aqui?”. O desabafo da dona de casa Maria Cezário, 32 anos, traduz o sentimento de abandono de quem vive nos distritos e subdistritos de Mariana. Problemas como falta de segurança, ausência de ambulâncias e médicos frequentes nos postos de saúde e precariedade na infraestrutura atrapalham o dia a dia de quem mora longe da sede do município e que, aparentemente, também está distante do olhar da administração pública. Em Monsenhor Horta, a 17 km do centro urbano, os moradores da Rua Raimundo de Assis Ventura, nos arredores da antiga estação de trem, têm que conviver com um alagamento na via que dá acesso às suas casas. A concentração de barro podre provoca mau cheiro e facilita a aglomeração de mosquitos. Segundo o comerciante Osvaldo Soares, 66, o problema existe desde que ele se mudou para lá, em 2007. “Na última eleição, o prefeito falou que iria jogar cascalho aqui para resolver o problema, mas até hoje nada foi feito”, conta. A situação de quem vive na Rua do Galho, no mesmo distrito, também passa longe da ideal. Um buraco formado na encosta da rua ameaça as bases das casas construídas no local. Para entrar em seus lares, os moradores tiveram que improvisar pequenas pontes de madeira. A obra que poderia resolver a situação, iniciada no fim do

ano passado, está parada. “Quando chove, a água se acumula nas manilhas e chega a ficar da altura dos nossos joelhos, invadindo as casas”, explica o aposentado Givaldo Calixto, 50. Para driblar os problemas no posto de saúde, a Associação dos Moradores do subdistrito de Barroca mantém, por conta própria, uma ambulância para casos de emergência. “Se a gente precisa de um remédio, não tem. O posto não abre nos finais de semana e há meses estamos sem médico. Se passar mal, como a gente faz?”, questiona o aposentado Dário João Gonçalves, 65. “Estamos praticamente abandonados”, completa José Rocha, 63. A falta de segurança é outra preocupação para os moradores dos distritos. Não há guardas ou qualquer tipo de vigilância pública nesses locais. “Vez ou outra passa uma patrulha, mas não é constante”, conta a auxiliar de enfermagem Maria Aparecida Juventino, 45 anos. Em Mariana, a ideia de separação que define a palavra distrito ganha um sentido mais evidente. Por aqui, esses nove lugares parecem pertencer a um universo próprio. As oportunidades não chegam a virar a curva da estrada que sai da cidade; elas vão diminuindo aos poucos com o rodar dos quilômetros. No entanto, quem anda pelos distritos ainda pode ver propagandas políticas pregadas na parede, escancarando números e promessas das últimas eleições. Agora, aos rostos estampados, só é preciso relembrar que a realidade não muda com os finais de outubro e que a cidade não termina onde parece.

Da esquerda para a direita: (1 Senhora do Rosário em Padre


Abril de 2013

Edição: Caroline Fernandes, Jamylle Mol, Joyce Afonso e Lais Queiroz Arte: Rayana Almeida

mina a cidade...

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VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES NA VERSÃO ONLINE: http://goo.gl/anksm

a casa. Depois de outra e mais outra...”. Segundo João do Rio, na crônica “A rua”, é ntre montanhas, modestamente escondida entre suas ladeiras. Mas onde (não) termina ora não – que saem do centro urbano em direção aos distritos, se depara com outra urante uma semana, o LAMPIÃO percorreu esses distritos, ouviu histórias e conheceu, nge do centro da cidade.

mada por poças

Permanecem as tradições... Isabela Azi Gente acolhedora, ruas tranquilas e artesanato por toda parte. Essa é a impressão quando se chega a Cachoeira do Brumado, distrito com aproximadamente 2,8 mil habitantes, localizado a 27 km da sede. Logo na entrada, as placas saltam aos olhos e convidam o visitante a conhecer as fábricas de pedra sabão, as lojas de artesanato e a cachoeira. Ao descer pelas ladeiras de asfalto novo – feito no começo desse ano – é fácil identificar em qual casa mora um artesão. Os tapetes pendurados nas garagens, prontos ou em fase de produção, não negam que ali é a tradição que fala mais alto. Fazer tapete é quase uma regra nas famílias de Cachoeira. Antigamente, era na infância que se aprendia a tecer, mas hoje o interesse pelo artesanato tem diminuído. A artesã Maria do Carmo Silva, 47 anos, conta que aprendeu com a mãe, aos sete anos de idade, e orgulha-se: “Eu criei três filhos, construí minha casa e comprei meu carro fazendo tapete. Se algum dia eu parar, vou adoecer. Quero ficar velhinha fazendo tapete”. Turismo Em Cachoeira, a produção de tapetes e panelas é alta e as lojas estão cheias de produtos artesanais, mas os compradores não chegam até lá. A artesã Mirene Ulhôa, 61, diz que uma das alternativas é revender as peças para lojistas de Mariana. “Tem artista aqui parado, porque era o turismo que sustentava. As pessoas pararam de visitar e o artista para de produzir”, acrescenta. Para o artesão Edeir Eleutério, é possível viver tranqui-

lo só de artesanato, mas para isso é preciso buscar possibilidades de venda fora de Mariana. Edeir, que trabalha com pedra-sabão há vinte dois anos, vende as panelas que produz em todo o Estado de Minas Gerais, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. “É um ciclo: se o turista é bem recebido, ele vai querer visitar o distrito, conhecer a cachoeira, divulgar o lugar e atrair compradores para os artesãos daqui”, explica. Segundo a Coordenadora de Turismo de Mariana, Lívia Castro, a diminuição no número de turistas tem sido percebida no município todo e o Centro de Atenção ao Turista (Cat) pretende realizar uma pesquisa de satisfação dos visitantes e consolidar um plano de turismo receptivo na sede para conseguir levar os turistas para os distritos. Educação Além do artesanato e das panelas de pedra, o distrito destaca-se pela educação. A Escola Estadual Dona Reparata obteve as melhores notas, entre as escolas públicas de Mariana, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2011. Nas turmas de quinto ano a nota alcançada foi 6,1, enquanto a média do município foi 5,1. Já no nono ano a nota foi 5,4 enquanto a média de Mariana, 3,9. Para a Supervisora da Escola, Jeneci Magalhães, 43, o bom êxito se dá pela participação ativa da família na vida escolar, pela totalidade do quadro de funcionários moradores de Cachoeira do Brumado e por serem, na maioria, efetivados. “Ainda é uma correria atrás de melhorias, porque sempre queremos um resultado mais positivo”, acrescenta.

... e, sobretudo, as memórias Caroline França Quem está acostumado com a agitação dos centros urbanos surpreende-se com a calmaria que envolve Furquim e Padre Viegas. A vida de quem mora nesses distritos não é marcada somente pela tranquilidade, mas também pela amizade que todos mantêm, pelas memórias, pelos “causos” contados de pais para filhos e, ainda, pela hospitalidade. “Aqui todo mundo é amigo de todo mundo. Um está sempre ajudando o outro. É como se fosse uma família só”, comenta a telefonista Maria Marta Dutra, 61 anos. Nascida e criada em Furquim, afirma que não se mudaria de lá de jeito nenhum. “Pra gente que mora na roça é muito difícil quando você troca a paz de um lugar igual Furquim por Mariana”. A relação de confiança estabelecida entre os moradores permite que a comerciante Iraci Vidigal, 65, mantenha, até hoje, o uso da caderneta para anotar as compras dos clientes. O estabelecimento comercializa de tudo um pouco, de mantimentos até materiais de construção. A ideia de aumentar a variedade de produtos surgiu a partir da demanda. “Pelo

menos serve a pessoa na hora que está precisando”, diz. As lembranças dos tempos antigos não escapam à mente de quem sempre viveu por lá. A Estação Ferroviária Furquim servia não só como ponto de encontro dos casais de namorados, mas também como meio de adquirir jornais e revistas. Sua restauração foi uma das condições para que a Alcan Alumínio do Brasil Ltda. implantasse uma pequena hidrelétrica no distrito. “Pra gente ter a lembrança daquela estação que a gente conheceu, eu pedi que eles restaurassem”, conta o aposentado Prisco de Souza, 76. Padre Viegas Uma das festas de maior destaque em Padre Viegas é a comemoração do aniversário da banda Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus, que este ano completa 123 anos. A procissão que parte da sede e vai até à Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde é celebrada uma missa, compõe a parte religiosa da celebração. Há, ainda, um almoço para toda a comunidade e a apresentação do “bandão”,

que é formado por bandas convidadas. Para o contramestre Geraldo Gomes, a banda abrilhanta as festas. “A gente está sempre fazendo apresentações tanto aqui na comunidade como fora”, conta. Para a telefonista Geralda Maria Gonçalves, 57, o distrito é como se fosse um bairro por ser tudo muito próximo. “O pessoal sai daqui para poder trabalhar. A diferença é que aqui não tem um meio para as pessoas sobreviverem”. Apesar de ter nascido e sido criada no distrito, morou quatro anos em Mariana. “Eu voltei pra cá porque é melhor. Eu gosto é de ficar aqui”, afirma. Nos tempos em que o aposentado Geraldo Cornélio, 85, cozinhava carvão, havia poucas moradias. “Agora aqui mudou. Só a quantidade de casa que fez aqui, foi muita”. É a mesma impressão que o aposentado Francisco Moreira, 84, tem. “Agora estou achando que aqui tem mais gente de fora”, observa. Para ele, o local é muito acomodado, o que atrai outros moradores. “Aqui, graças a Deus, não tem acontecido coisas igual acontecem nessas grandes cidades. É muito tranquilo”.

Fotos: Joyce Afonso

1) Prisco Macário de Souza sente saudades do tempo em que os jovens escutavam as histórias contadas pelos idosos em Furquim; (2) sede da Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus e do coral Nossa e Viegas; (3) Mirene Ulhôa faz questão de enfatizar que é muito difícil viver só de artesanato, em Cachoeira do Brumado


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Edição: Jessica Clifton, Laura Ralola, Patrícia Botaro e Rafa Buscacio

Abril de 2013

Arte: Patrícia Souza

MEIO AMBIENTE

Mina Del Rey: a concretização de um destino a olhos nus

Prevista para 2014, a reabertura da mina já é uma evidência; prefeito Celso Cota afirma não conhecer o projeto da mineradora Vale Laura Ralola Abril de 2011: A reativação da Mina Del Rey, na zona urbana de Mariana, é anunciada pela segunda maior empresa mineradora do mundo, Vale S/A. A mineradora também comunicou, na época, que um processo licitatório interno iria definir a empresa terceirizada responsável, inclusive ambiental e socialmente, pelo empreendimento. Os impactos embutidos na reativação ameaçam a qualidade de vida dos moradores de Mariana que temem a poeira, poluição do ar, falta de água e crescimento desordenado da cidade. A falta de informações efetivas atentou a população que, em audiência pública realizada em 2011, se mostrou desfavorável à mineração em área urbana. A Vale, no entanto, não detalhou informações sobre os impactos socioambientais e formas de operação na mina. Dois anos depois, é impossível não indagar o porquê da falta de transparência. Em nota ao LAMPIÃO, a mineradora disse que “o processo de arrendamento não foi concluído e prossegue em seus trâmites internos”.

Muitos dos que moram em Mariana dependem dos postos de trabalho nessas empresas e entendem que a atividade mineradora é importante para o país. O questionamento é, na verdade, onde e como a extração será feita. Para a socióloga e integrante do movimento civil Mariana Viva, Giulle da Mata, é necessário discutir os limites da atuação da mineradora. No Bairro Vila Maquiné, vizinho à mina, é notável a preocupação dos moradores que temem a desvalorização de seus terrenos, além das preocupações unânimes que se intensificam em um local tão próximo à mineração: nuvens de poeira e contaminação das nascentes de água da região. Às vésperas da reativação anunciada pela empresa, as informações não foram cedidas, mas quem chega perto da mina vê os preparativos para o projeto sendo tocados a todo vapor. Do outro lado da cerca é possível enxergar os caminhões circulando pelas tão cobiçadas montanhas. Montes de terras acinzentadas entram em conflito com a paisagem verde de um lugar onde a

ANA CAROLINA MEIRELlES

“Foge minha Serra vai, deixando no meu corpo e na paisagem, mísero pó de ferro, e este não passa”. Drummond

água é abundante, de qualidade e brota até do chão da estrada. Uma área até então destinada à recuperação ambiental pela Vale. A extração só pode acontecer, no entanto, com autorização do poder público. O prefeito Celso Cota afirma ainda não

conhecer o projeto da Vale. De acordo com ele, somente depois de ter o projeto em mãos será possível fazer um laudo para entender melhor quais serão os impactos e, assim, decidir, juntamente com a população, o destino da mina. À sociedade ci-

vil cabe a cobrança e a pressão contra a falta de informações da mineradora. VEJA MAIS FOTOS E OUÇA A ENTREVISTA COM CELSO COTA NA VERSÃO ONLINE: http://goo.gl/cq5p7

PATRIMÔNIO

Igreja Mercês de Baixo permanece fechada patrícia botaro

Rafa Buscacio Há oito anos, a Igreja Nossa Senhora das Mercês dos Perdões, conhecida como Mercês de Baixo, localizada no Bairro Antonio Dias, está fechada para restauração. Em 2005, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) começou a reforma, recuperando o telhado e o forro, segundo o chefe do escritório técnico, João Carlos de Oliveira. A prioresa da Arquidiocese, Efigênia do Sacramento, conhecida como Dona Nenzinha, afirma que desde 2011 a obra está parada por falta de verba. Segundo ela, é preciso terminar a pintura interna e externa, arrumar os forros das naves laterais e do cemitério, e as portas laterais. Em fevereiro último, foram disponibilizados pelo Iphan R$ 240 mil para concluir a obra, porém, segundo Dona Nenzinha, o orçamento das empresas de restauração é superior à verba. Enquanto isso a restauração segue parada. Mesmo assim, ela afirma que a previsão de entre-

ga será em setembro deste ano. A Igreja fechada é uma perda não só para turistas, mas, principalmente, para os moradores que costumavam frequentar as missas e novenas. Dona Conceição dos Santos, moradora da Rua das Mercês, onde está localizada a Igreja, comenta que o atraso nas reformas das igrejas faz com que a maioria delas fiquem fechadas por muitos anos, o que resultando na perda do que já foi restaurado. Segundo o Atlas Digital da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc-MG) a Igreja das Mercês de Baixo foi construída entre os anos de 1740 e 1773, a autoria do projeto é desconhecida e sabe-se que o risco da capela-mor, de 1742, é de Aleijadinho. Dentre as inúmeras peças que compõem o acervo da Igreja, merecem destaque três, atribuídas ao Mestre: São Pedro Nolasco, São Raimundo Nonato e um crucifixo. Em 1939, a Igreja sofreu uma restauração geral e foi tombada em setembro do mesmo ano.

A necessidade de reforma é visível na parte externa da igreja Mercês e Perdões (Mercês de Baixo)

CIDADE

Idosos sofrem com precariedade em saúde pública Jessica Clifton Segundo o censo realizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,59% da população marianense está acima dos 60 anos. Esta parcela enfrenta diversas dificuldades, como a falta de médicos e o abandono pela família. Contrariando o que consta no Estatuto do Idoso, não há um médico geriatra que atenda pelo Sistema Único de Saúde (Sus) na cidade.

O atendimento aos idosos é feito por um clínico geral e, quando necessário, ocorre encaminhamento para outro especialista, o que, em muitos casos, é demorado. “Já fiquei quatro anos esperando para fazer um exame de vista, e geralmente espero de três a seis meses para conseguir fazer exames”, reclamou a aposentada Ivete Terezinha da Silva, 73 anos, que aguardava atendimento na Clínica Previne. Nos casos mais complica-

dos, como algumas cirurgias e exames, os pacientes são levados para cidades da região com maior estrutura, sendo incômodo o deslocamento de Mariana para poder receber tratamento. Na cidade, há uma única casa de repouso, o Lar Comunitário Santa Maria, que abriga atualmente 61 idosos e possui fila de espera. Segundo a técnica de enfermagem, Ângela Magalhães, a maioria é deixada no lar porque a família não tem tempo para

cuidar da saúde dos entes da terceira idade, que necessitam de cuidados especiais. Para a nutricionista que já trabalhou no atendimento específico aos idosos, Érika Martins Grada, o principal problema, não só em Mariana, mas no país todo, é o abandono e a falta de participação da família, fatores que podem gerar um quadro de depressão. Para reverter essa condição de abandono, há o programa Recria-

vida, da Prefeitura, que oferece fisioterapia preventiva, terapia ocupacional, oficina da memória, oficina de artesanato, teatro, hidroginástica, coral, caminhada, organização de festas e viagens. Atualmente, são atendidos cerca de 500 idosos, que ao encontrarem outras pessoas da mesma idade, estabelecem laços de amizade fazendo com que os participantes que se sentiam deprimidos, comecem a se sentir vivos novamente.


Abril de 2013

Edição: Ana Paula Rodarte, Ana Nepomuceno, Isadora Faria e Ramon Cotta Arte: Luís Fernando Braúlio

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Cidadania

Sorrisos sinceros interessam

Solidariedade e carinho formam a receita de fundação que cuida de portadores de necessidades especiais em Mariana ana nepomuceno

Ramon Cotta Grama bem cortada, paredes bem pintadas, bancos coloridos e brinquedos bem cuidados, assim é a Comunidade da Figueira, localizada no Bairro Chácara, em Mariana. Cheguei lá e sentei para esperar o atendimento. Durante essa espera, a cada pessoa que passava ao meu lado, eu recebia abraços, beijos, apertos de mão, um sorriso, um “tá beleza?’’. Percebi naquele momento que não conseguiria talvez um grande depoimento para a reportagem sobre aquele lugar, e sim uma das expressões mais especiais que os humanos possuem: gestos repletos de carinho. Carinho. Sentimento mais visto na Comunidade. Sempre que perguntava às funcionárias o que elas faziam, primeiramente falavam “dar carinho’’ e, depois, a função que realizavam. Isabel Maria da Silva, que trabalha há nove anos no local, foi uma das que respondeu que sua função é ser carinhosa e depois cuidar da higiene dos usuários. “Eu aprendo aqui com eles o que é o amor. O abraço é o remédio’’. Amor, artesanato, teatro e música são alguns dos remédios utilizados para integrar cada vez mais as pessoas com algum tipo de deficiência à sociedade. Desde 1990, a Figueira funciona em Mariana, e conta, atualmen-

Isabel Maria da Silva, funcionária da Comunidade, adotou Arlinda que frequenta a escola regular de manhã e participa das atividades da Figueira à tarde

te, com 57 usuários que passam o dia na Comunidade, realizando atividades. A Prefeitura de Mariana é responsável por pagar a folha salarial da instituição, mas que necessita de doações de alimentos, produtos de limpeza, ou apenas uma visita. A coordenadora Neuza Elena de Oliveira Melo enfatiza que a população pode visitá-los. “A sociedade tem que conhecer a beleza, a alegria e a inocência

que são os usuários. Esse contato com eles leva a gente a ver as nossas deficiências, aquilo que a gente deveria estar fazendo e eles fazem’’, conta. Lá, você encontra, além de demonstrações de amor ao próximo, gente que quer contar história e te conhecer. “De onde você é?’’ “o que faz?’’ eram perguntas que eu respondia o tempo todo. A manifestação de querer conhecer e receber o ou-

tro é presente. Denize Diva dos Santos, 41 anos, deficiente visual, foi uma das que fez questão de contar a sua vida. Disse que se sente útil lá e seu hobby é cantar. “Meu maior sonho é ser irmã de caridade e trabalhar na Figueira ou com crianças’’, revela. Denize ama rezar e disse que cerca de duas horas do seu dia são dedicadas para orações. “Rezo não só pra mim e para a

Nunca é tarde para dançar Isadora Faria Quando soube do Projeto Rosários, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que oferece aulas de balé gratuitas para a comunidade, pensei em poder reviver todo o charme dessa dança que ficou guardada na préadolescência. A experiência foi válida e confesso que depois de tantos anos, o corpo não é mais o mesmo e não reage da mesma forma. Balé na fase adulta é uma boa opção para quem procura uma atividade física. Os alongamentos são demorados e exigem força de vontade para seguir até o final. Assim como eu, muitas meninas da turma também passaram por aulas de balé quando crianças e, agora, estão tendo a chance novamente de voltar a dançar. As duas amigas, Marina Magalhães e Dreisse Drielle, ambas de 19 anos, estudantes de Jornalismo, estão frequentando as aulas desde janeiro desse ano e pretendem levar o projeto adiante. Animadas com o balé, disseram que gostariam de fazer apresentações futuramente. Sem preconceitos E o grupo não é restrito somente ao gênero feminino. O estudante de Educação Física, Daniel Filipe Gonzaga, 22, também está na turma. A escolha em fazer as aulas, além do fato de serem gratuitas, foi para melhorar a sua postura corporal. Sua colega de curso, Rafaela Rezende, 23, que participa das aulas de balé e das de danças folclóricas, relatou estar sentindo uma diferença muito grande, pois jogava rugby e agora tem dificuldades para se acostumar com os movimentos mais leves da dança. Criado em 2009, o Rosários é um projeto de extensão da Ufop idealizado pela professora do curso de Educação Física, Ju-

Isadora faria

As turmas de balé possuem capacidade para 30 alunos, dentre estudantes da Ufop e membros da comunidade

liana Bergamin. A partir do grupo de dança folclórica, ela criou as aulas de balé para atender ao pedido da comunidade, que mostrou interesse para esse tipo de dança. Dessa maneira, começaram as aulas de balé destinadas não só aos alunos da Universidade, mas para todos os moradores de Ouro Preto e região, com idade acima de 15 anos. No começo, as turmas eram pequenas, mas com o tempo a demanda vem aumentando consideravelmente. Hoje, há uma lista de espera para frequentar as aulas e a duração é de um ano de atividade física prática. A professora ressalta os benefícios do balé que são a melhora da flexibilidade, através dos alongamentos, e a correção da postura,

além de adquirir uma consciência corporal. Já o grupo de danças folclóricas é formado somente por alunos da Ufop. O Rosário de Danças faz apresentações na cidade, em escolas, asilos e espaços públicos, pois também busca a interação com os cidadãos. No ano passado, o grupo se apresentou no 1º Encontro Nacional Universitário de Dança Folclórica, em Fortaleza (CE), que esse ano ocorrerá em outubro, em Ouro Preto. Também participará da abertura do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, na mesma cidade, no feriado de Corpus Christi, no dia 30 de maio. O Rosários de Danças estuda as manifestações culturais, folclóricas e populares,

com o intuito de levar esse conhecimento até as pessoas através da dança, nas apresentações e oficinas que proporciona.

As aulas de balé são gratuitas e abertas para a comunidade. Interessados podem se inscrever na Secretaria do Ginásio Poliesportivo da Ufop. Horário das aulas Balé: Terças e Quintas 9h às 10h e 14h às 15h Danças Folclóricas: Terças e Quintas 8h às 9h, 14h às 15h e 17h às 18h

Comunidade, e sim para o mundo inteiro. Até pra quem eu não conheço’’. Na conversa, Denize conta que encara bem a sua deficiência. “Problema todo mundo tem, se um ajudar o outro tudo se resolve’’. Com certeza, Denize, talvez a pior deficiência de uma sociedade seja a falta de amor. Interessados em ajudar ou marcar uma visita devem ligar para 3557-2179.

Descaso com o Cria Ana Paula Rodarte Quem passa pelo entorno do Centro de Referência da Infância e Adolescência (Cria), na Vila Maquiné, percebe que o local foi “abandonado” pelo poder público. Portas de vidro fechadas com madeira e piscina com água esverdeada é o que se vê por ali. Das 300 vagas oferecidas em oficinas para jovens de sete a 21 anos, só 50 são utilizadas atualmente. Hoje, o Cria conta com apenas um professor para as aulas de educação física e percussão. No segundo semestre de 2012, foram oferecidas, de acordo com o site da Prefeitura de Mariana, oficinas de: música; trabalho; dança; percussão; vigilância patrimonial; esportivas; e reforço de português, matemática e inglês. Em fevereiro último, a Prefeitura anunciou que o espaço havia sido reativado. Segundo a Coordenadoria de Comunicação Social, “o evento marcou a retomada oficial dos projetos”. Informou ainda que “a seleção dos profissionais, professores e monitores que irão desenvolver as atividades no setor já estão (sic) em andamento e, em breve, todas as oficinas, atividades e serviços prestados estarão funcionando de maneira integral para atender os marianenses”. Não foi informado quando as atividades serão normalizadas. Para a professora de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Marta Maia, que desenvolveu um projeto de extensão no Cria, a mudança na coordenação do órgão afeta a permanência dos jovens. “Percebe-se que essa inconstância levou a uma inconstância do próprio público. Essa mudança inibe a participação dos jovens, pois a confiança acaba sendo minada”.


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Abril de 2013

Edição: Bárbara Costa, Caroline França, Isadora Faria e Lázaro Borges Arte: Tuanny Ferreira

Cultura

A luta dos filhos de Chico Rei pela liberdade Com criatividade e união, jovens criam formas de se fazer e pensar a cultura na Região dos Inconfidentes Luis Bocchino / Arquivo coletivo muzinga

Integrantes da Rede Fora do Eixo e do Coletivo Muzinga durante a segunda edição do Grito Rock Ouro Preto, realizada no carnaval de 2013

Lázaro Borges Para produzir cultura é necessário ter muito dinheiro e apoio político? Nem sempre. Um grupo de jovens mostra que com criatividade, flexibilidade, otimização de recursos e união é possível fazer cultura de forma independente. Há três anos começava o Coletivo Muzinga – nome do filho do ex-escravo Chico Rei – formado por jovens de Ouro Preto e Mariana, com idades entre 18 e 32 anos. É mais um ponto de uma rede de coletivos nacio-

nais Fora do Eixo, que se organiza de acordo com os princípios da economia solidária e do fazer cultura como plataforma para a intervenção na vida cotidiana. Os coletivos são espaços de trocas. Um músico que tem um estúdio e precisa divulgar o seu trabalho faz parceria com outro que pode fazer esta divulgação. Os músicos podem tocar de graça em um festival, obter visibilidade e circulação em outros eventos nacionais. Assim, se estende a rede de colaboração entre artistas e coletivos, o que

torna importante a organização de festivais. Em Ouro Preto, já são dois no calendário anual: o Grito Rock, que ocorre em fevereiro, durante o Carnaval, e o Festival Pepita de Artes Integradas, em dezembro. Para o dramaturgo Juliano Mendes, guitarrista do grupo Galanga, que já se apresentou com o grupo Muzinga em outros eventos da Rede pelo país, o coletivo serve como grande incubadora para experiências culturais, além de ser um ambiente em que muitos descobrem os

caminhos que desejam seguir na produção artística. A gestora de mídia, Rafaella Rocha garante que “o bom da região é que aqui há espaço para se trabalhar todas as mídias, o audiovisual, a música, as artes plásticas e cênicas, etc”. Ela diz que os planos para o futuro são grandes, incluindo a aquisição de uma Casa Coletiva, como as que já existem em outras cidades onde o Fora do Eixo atua, para ampliar as experiências de trocas e dar vazão aos anseios culturais do público local.

Hip hop com gingado brasileiro Caroline França A junção da cultura “hip hop” com a cultura brasileira tornouse marca registrada do “Flash Boys Crew”. Tendo o gosto em comum pela dança, os amigos Jonas de Souza, 27 anos, e Leonardo Campelo, 28, fundaram o grupo em 2005. A proposta também tinha o objetivo de inovar o cenário artístico de Mariana com novas coreografias. Apesar de ser uma cultura estrangeira, Jonas ressalta que tanto as músicas que utilizam quanto as danças que produzem para os shows são uma mistura entre o “hip hop” e os ritmos brasileiros. No Carnaval deste ano, o grupo ministrou uma oficina ao público da terceira idade, fundindo o ritmo com o forró. “A gente já faz isso há mais de cinco anos. A gente mistura o Brasil com o hip hop”, diz Jonas. Financeiramente, o grupo – que é composto por mais seis rapazes – se mantém com o cachê que recebe em apresentações. Para Leonardo, “a dança é uma arte, é uma cultura e tem que ser valorizada”. O local de ensaio é cedido pela Escola de Bailados de Mariana, localizada no Bairro Estrela do Sul. O diretor Carlos Pires conta que a escola surgiu a partir de um projeto social feito em parceria com a Prefeitura e, mesmo quando se tornou particular, houve preocu-

pação em manter não só o caráter filantrópico, mas também o apoio à cultura. “Reconhecemos o talento deles (Flash Boys Crew)”, afirma Pires. Jonas dá aulas de “street dance” há sete anos e é o único que tem a dança como fonte de renda. Leonardo também já foi professor, mas prefere dan-

çar por diversão. Atualmente trabalha como eletricista e, segundo ele, a profissão lhe dá maior estabilidade financeira, além de oferecer outros benefícios. O “breakdance” faz parte da cultura “hip hop”, que engloba, ainda, o MC (Master of Cerimonies), o DJ (Disc-Jockey), o rap e o grafite. O modo de se vestir

também está ligado à manifestação artística e se destaca entre os “B-boys” (praticantes de breakdance). Tales Henrique, 19, conta que quando começou a se vestir com calças largas e bonés com aba reta, seus avós estranharam. “Hoje a visão dos meus avós mudou, achavam que era coisa de malandro”. Bárbara Costa

O grupo Flash Boys Crew ensaia três vezes por semana na Escola de Bailados de Mariana

Crônica

Missa de domingo isadora Faria Em um domingo desses, era fim de tarde, o céu azul com o sol se pondo compôs um cenário agradabilíssimo, não só aos olhos, mas a todos os sentidos do corpo. Estava descendo a Rua do Ouvidor, e eis que olho para o meu lado direito e a iluminação da Igreja São Francisco de Assis me chama a atenção. Os sinos começam a tocar e percebo uma movimentação de pessoas entrando na Igreja. Me aproximo e vejo alguns turistas tirando fotos em frente ao largo. Eles acabam se misturando aos fiéis que passam correndo para não perder o horário da missa. Não tiro a razão deles em estarem ali fotografando, a arte é encantadora. Como diz Drummond, no poema São Francisco de Assis, “Seu frontispício me basta”. Não preciso dizer mais nada. Escuto ao fundo o canto do coral da Igreja, que serve de trilha para as cenas que presenciava: duas senhoras, com cabelos brancos e de braços dados, caminham em direção a porta da igreja. Um menino, de uns cinco anos, correndo e chamando a mãe para andar depressa. Escuto a voz do padre dando início ao culto religioso. Resolvo entrar. Quase que uma experiência única em minha existência, confesso a você, leitor, que se esforça para ler esses parágrafos, que se as contas não me falham, esta é a terceira vez que frequento uma missa, e a primeira de domingo. E estava tão lotada que não havia mais lugar para sentar. E o calor? Pensei no porquê de não colocarem alguns ventiladores ou até mesmo um ar condicionado, mas por um instante havia me esquecido que estava dentro de uma das igrejas mais antigas do país, tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Tive vergonha de pensar tamanho disparate. Voltei a prestar atenção nos dizeres do padre. De repente, um sino, bem agudo, começa a tocar e todos, automaticamente, se ajoelham. Naquele momento, depois do susto que levei com todos ao meu redor se abaixando, não sabia se fazia o mesmo ou se permanecia em pé. Logo vi algumas pessoas que não se mexeram e percebi que não seguir a todas as regras não é pecado. E todos acompanhavam a leitura da Liturgia e respondiam ao padre, sincronicamente: “Amém!” e “Graças a Deus!” Um pouco mais à frente estava um idoso, também em pé. Quando o sininho tocou ele não se ajoelhou, mas não por recusa ou por conta da idade, apenas estava sem lugar. Bom, se eu, que tenho meus 20 e poucos anos, estava procurando uma brecha na parede para apoiar-me e descansar um pouco as pernas, imagina ele? O engraçado é que haviam muitas pessoas mais novas, bem mais novas, sentadas naquela Igreja. Todos podiam ver os que estavam em pé por falta de assento. E, mesmo assim, a caridade, ou a própria educação, que a mãe ensina desde criança para ceder o lugar aos mais velhos, pelo menos eu, ao alcance dos meus olhos, não presenciei. Só fiquei imaginando como seria bonito de ver. E como seria a reação desse senhor, talvez diria: “Amém.” E todos em coro responderiam: “Graças a Deus!”


Abril de 2013

Edição: Cinthya Meneghin, Isabela Azi e Yumi Inoue Arte: Nicole Alves

PERFIL

Do

Cinthya Meneghin Que Ouro Preto é uma cidade histórica, todo mundo sabe, mas será que todos conhecem a cidade pelo olhar de seus moradores? Foi o que o LAMPIÃO foi buscar. Após a revolução liderada pelo bandeirante Felipe dos Santos, em 1720, uma queimada deu nome ao atual bairro conhecido como Morro da Queimada, que ficou desabitado. Foi novamente ocupado em 1934, por quatro morado-

o

Isabela Azi “Somos carentes, mas somos viventes”. Com apenas uma frase, a funcionária de Serviços Gerais da Guarda Municipal de Mariana, Lilia Francisco, 63 anos, define o sentimento de quem vive no Bairro Santo Antônio, também conhecido como Prainha”. A sensação de abandono que habita o local não está presente apenas nas reclamações dos moradores, mas também no trecho do Ribeirão do Carmo que parece cada vez mais poluído, na caixa d’água que está suja e esquecida, na violência e falta de policiamento, que preocupam os moradores. O acesso ao bairro é por uma única rua – a Antônio Olinto. Após passar por ela, a próxima é a Rua Rosário Velho, onde de fato começou Mariana, com a chegada dos bandeirantes paulistas no final do Século XVII. A casa número dois é a primeira construção habitada da cidade, que também foi Câmara, presídio feminino e local de refino de ouro. Ao final de uma ladeira, a Igreja de Santo Antônio - que dá nome ao bairro - pode ser vista lá no alto. Nela, foi celebrada a primeira missa da cidade, no dia 16 de julho de 1696, pelo capelão da Bandeira, o Padre Francisco Gonçalves Lopes.

Dona Vera e sua filha Conceição na casa que pertence à família, uma das primeiras do bairro

nho. A cumplicidade entre os moradores e as belas paisagens, como, a vista do Pico do Itacolomi, as ruínas e moinhos do período colonial. Coronéis e seus escravos praticavam a mineração no local, por isso, foi o principal lugar a ser povoado e considerado o berço de Ouro Preto. Então, por que não levar os turistas para os topos de Ouro Preto? As propriedades históricas estão escondidas pela grande quantidade de mato e de casas construídas desordenadamente, isso ocorre devido a falta de investimentos. O bairro foi abandonado com sua história. De acordo com o presidente da Associação de Moradores, Walmir Hiláio Jesus, 52 anos, o seu objetivo é fazer um trabalho de conscientização dos moradores, com a prefeitura, para receber os turistas. Mostrar a eles as comidas típicas do lugar, como o café com rapadura, a beleza natural e o povo acolhedor que são algumas das características do local. Dessa forma, o bairro deixaria de ser visto essencialmente como uma moldura do quadro de uma cidade chamada Ouro Preto, em que a sua pintura é constituída somente pelo centro histórico.

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que saiba dominar os meninos de hoje, porque está difícil”, conclui. Cinco minutos de caminhada separam a Rua Rosário Velho do centro de Mariana. No entanto, quando se trata da atenção recebida pelos moradores, a distância parece ser muito maior. A ânsia para que sejam vistos e, principalmente, ouvidos é latente a qualquer um. O que eles querem é atenção, melhorias para o bairro e segurança. Mas quando questionados se querem sair dali a resposta é otimista: “Enquanto Deus quiser, vou ficando por aqui”, afirma Geraldo.

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P o r um caminho de pedras e grama alta o “visitante” chega ao ponto mais elevado do bairro, onde fica a Igreja. De lá, a vista é de casas e de gente. Gente (in) visível, gente engasgada, gente que quer falar. Aos 82 anos, Geraldo Liberato conta que o bairro já melhorou muito, desde que se mudou para lá, há cinquenta e cinco anos. Para ele, a creche, a escola e a policlínica são os principais avanços. “Precisa melhorar muita coisa aqui; nós pagamos impostos de coisas que não existem. A água não é tratada e a única coisa resolvida é o lixo”, acrescenta. Geraldo acredita também que o tratamento da água e a implantação de uma rede de esgosto eficiente teriam impacto positivo na saúde dos moradores. Para Lilia, os problemas vão além da água. “A Prainha está jogada às traças. Precisam olhar a caixa d’água [do bairro] e fazer um quebra-molas nessa rua, porque aqui esta cheio de carros”, afirma. A moradora refere-se à Rua A, via de acesso à policlínica e outros pontos importantes. Não são apenas os problemas estruturais que incomodam os moradores. A violência e as drogas têm sido um dos maiores desafios enfrentados por aqueles que vivem no Santo Antônio. Para Geraldo, a falta de policiamento é um agravante. “O fiscal (sic) tem medo daqui. É preciso uma pessoa que entenda do assunto e

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O Ribeirão do Carmo (canto direito) foi um dos primeiros locais de exploração de ouro em Mariana

Ouro Preto como você nunca viu

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Santo Antônio: o bairro quer falar

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VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE O BAIRRO NA VERSÃO ONLINE: http://goo.gl/kNOkB

res, entre eles a família de Vera Marta Jesus Matos, que chegou no local aos três anos com os pais. Hoje com 82 anos, é viúva há três de Aristides Gonçalves de Matos e junto aos seus filhos, nunca mais deixou o lugar. O terreno comprado pelo seu pai foi ocupado por sua família de sete filhos, 14 netos e 10 bisnetos, sendo que a maioria deles vive em casas construídas em torno da matriarca, formando a vila da família de Jesus Matos. Histórias sobre como era o Morro da Queimada quando ela chegou e de como construiu a sua vida no bairro, são lembradas com carinho. O local não possuía luz, nem água encanada e para todo o lado que se olhava viam-se resquícios de construções antigas, como os muros de pedras perfeitamente encaixadas e também pelos muitos trilhos espalhados ao longo do morro, utilizados para transportar o ouro extraído pelos escravos. O Morro da Queimada, como os outros morros de Ouro Preto, sofre preconceito, pois é vinculado ao tráfico de drogas, assaltos e estupros. Esses lugares dificilmente são visitados, e acabam por se tornar excluídos da cidade. A verdadeira história está lá, onde se pode degustar a real comida mineira, aquela simples, mas feita com muito amor e cari-

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Edição: César Diab e Fábio Brito Arte: César Diab

olhares

Vidas que inspiram as ruas

Texto: Ramon Cotta Fotos: Isadora Bruzzi

Quem passa di ariamente pela em Ouro Preto Rua São José , conhece José , Gomes, de 10 anos. Nasceu 2 no distrito de Botafogo e qu jovem mudou ando para a cidade ouro-pretana. lhou como ga Trabarçom no restau rante Pompéu Hoje, aluga o Trivell. espaço debaix o da sua casa uma farmácia. pa ra “Aprendi a vi ver com o po povo que me vo . O ensinou tudo o que eu sei” , conta.

Maria José Chaves Batista trabalha há trinta e seis anos no Zé Pereira, em Mariana. Grupo caricato bastante conhecido na cidade, conta com 116 bonecos, entre eles per sonagens marianenses conhecidos. Cada boneco demora uma semana para ficar pronto, caso tenha sol. Maria ajuda nas caricaturas e costuras das roupas e resume sua profissão de forma sim ples: “É muito amor que eu tenho pelo o que faç o”.

Fernando César Ferreira tra balha há vinte anos na feira de Pedra Sabão, em Ouro Preto. Ele conta que seu trabalho é dep endente do movimento de turistas na cidade . Por dia, faz dez peças e demora cerca de um a hora para cada objeto. O feirante sonha em ter um espaço fechado para garantir a sua segurança , já que são os próprios comerciantes que têm que pagar um vigia. “Tenho sorte na vida porque nasci com talento e aprendi tudo sozinho”.

Rafael Arcanjo Santos é professor de violão e tem cerca de 60 alunos, mas com um diferencial: não cobra nada. Professor apos entado, além de conhecer muito sobre a histó ria de Mariana, é um apaixonado pela música e já aos 14 anos fazia serenata pela cidade. Toca sempre na região e até se apresentou em repúblic as estudantis. Sobre as aulas gratuitas, ele diz: “Você tem que dar o seu coração para as pess oas, caso contrário, você é um inútil”.

A vida do tímido Maestro “Angu”, como é conhecido em Ouro Preto, é um mistério, mas o que todo mundo sabe é a sua paixão pela música. “Angu” toca gaita e sur do na Banda do Alto da Cruz e ajuda todos os dias no tradicional bar Barroco carregando cai xas e realizando compras. “Amo a cidade por ser patrimônio histórico’’, disse.

nde 45 anos, ve , o rt e b o R raça Pedro Lúcio irmão, na P u se e le e e cinco tados por , há vinte quadros pin to re P ro u ceber em O glês para re in Tiradentes e d o c u os um po conta que e s o anos. Fala ir e g n ue, stas estra mpram e q o c is a bem os turi m e r para são os qu pouco valo o ã d s americanos o ir pintura, , os brasile lento para ta infelizmente o r te e dar. Quero lém d as obras. A is: “Vou voltar a estu ma Pedro quer inas”. haria de M fazer Engen

André Luiz Cotta há trinta e cinco anos é pipoqueiro em Mariana, e ven de cerca de 300 sacos por final de semana. A curiosidade por “Maria Fumaça” o fez aprend er a construir réplicas a partir de material recicl ável. Conta que através dessa arte a sua vida pes soal melhorou. Mas e a pipoca, Seu André, é boa? “As pessoas não reclamam, não”.

E lá estava “Futeco”, na Rua das Flores em Ouro Preto, com a sempre presente camisa do Cruzeiro. O nome verdadeiro é Valder da Silva, mas é conhecido por todos como “Futeco”, o cruzeirense. Foi pipoqueiro há muitos anos e lavava carros na cidade. Não perde nenhum jogo e garante que nunca brigou por causa de futebol. Tem camisa, boné, chaveiro, tudo do time querido. Perguntei para o “Futeco” porque ele ama tanto o Cruzeiro e ele foi categórico: “É o melhor que tá tendo”.

“Sou filho de Mariana”, assim se define Geraldo Zuzu Magela. É guia turístico e grande questionador sobre a política marianense. Sua paixão pela cidade começou aos oito anos, quando tomava conta de carros e, a partir disso, despertou para o patrimônio que a cidade possui. É artista plástico, foi consultor cultural do jornal O ESPETO, um dos fundadores do Sindicato dos Guias de Turismo e presidente da Associação dos Artistas Marianenses.


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