Jornal Lampião - edição 17

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Jornal - Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 4 - Edição Nº 17 - Dezembro de 2014

Início

Política

Distrito

Saúde

Trabalho

Turismo

Cultura

Memória

Exclusivo:

Fotos: Eduardo Moreira

LAMPIÃO entrevista Fernando Pimentel, futuro governador de Minas Gerais

Bicentenário de arte e memória

<

> Turismo em Mariana Hortas urbanas além do histórico-cultural

revolução gentil e sustentável


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Dezembro de 2014 Arte: Jackie Mandarino

editorial

Para moldar o destino, a direção se toma agora Quando o futuro é esperança, é nas crianças que depositam a responsabilidade de transformar as insatisfações do hoje. Quando se cansam de esperar, o presente é o artifício da mudança, para que ao ver dos olhos, o novo esteja próximo. Como estudantes, ousamos para diversificar. Seja na linguagem dos textos ou na estética do jornal, buscamos apresentar um conteúdo dinâmico e atrativo para o leitor. Como jornalistas, a ética e o dever social nos guiam para abordar assuntos relevantes para comunidade, e verdadeiros, diante dos vários depoimentos que nos empenhamos em escutar. Aprendemos a cada entrevista, em toda abordagem, no ler e reler da apuração, com as falhas e com o retorno do bem feito. Na 17a edição do LAMPIÃO é o futuro que norteia a lida com a informação. A oportunidade de refletir o que vem além não é fazer previsões, é levantar discussões. Foi por meio da apuração que percebemos como a instabilidade política de Mariana e Ouro Preto dificulta o fazer jornalismo e atender o povo. Identificar erros é o primeiro passo para novas tentativas, assim como a notícia deve chegar à população, a administração pública deve a delicadeza de se posicionar, de

esclarecer. Se o exercício municipal evita pôr à vista, também é um problema que na Assembleia Legislativa Estadual haja deputado que computa votos, mas não apresenta pauta de projetos para a região. E é lamentável que na Câmara dos Deputados, na última legislação, não tenha sido votado nada que coloque Mariana e Ouro Preto em evidência. Após 12 anos, com nova situação partidária no governo de Minas Gerais, repórteres do LAMPIÃO estiveram com o governador eleito, Fernando Pimentel, e mostram com exclusividade o que ele pretende nos futuros quatro anos. Do golpe de 1964, o “Grupo de Onze Companheiros”, convocado para lutar pelas reformas de base do Brasil, também foi perseguido. Um dos 11, morador de Mariana, aponta na sua trajetória o reflexo do nacionalismo e comenta a reivindicação de quem pede a volta de militares ao poder. Tantas questões políticas vêm da importância de se falar sobre a própria política, do privilégio que é cobrar quando se reconhece dos direitos e entende dos deveres. Se para uma cidade funcionar é preciso que circule a economia, o turismo é uma opção quando existe herança. Monumen-

tos enriquecem o cenário e engrandecem a história, festivais ocupam as praças e rendem diárias, mas é preciso inovar. Cercada por serras, em meio à Mata Atlântica e cachoeiras, pode ser a hora de planejar o turismo ecológico. Preservar o que é natural, reconstruir trilhas e radicalizar atividades, é promover lazer e rotular roteiros de viagens. E se há herança, para preservar um legado de 200 anos não basta o passado. Transmitir por gerações a obra de Aleijadinho é uma perspectiva futura de que a memória e o produto precisam existir. Com entrevistas o LAMPIÃO pode afirmar que é o trabalho conjunto de entidades públicas e religiosas, institutos e a própria comunidade que mantém vivo o maior expoente da arte colonial brasileira. O futuro não pode ser extraordinário quando se acomoda à monotonia. Naturalizar o recorrente é dizer que está tudo bem para o que incomoda. Se patrimônio material e imaterial são formadores de identidade cultural e qualificam uma comunidade, a política molda a honra. Para um governo enobrecer e humilhar um povo basta a postura social diante das ações efetivas. Não se faz rei aquele que não preza sua majestade. Boa leitura!

Bruna Matsunaga

tirinha

Foi mal A matéria “Ensino integral: na trave”, publicada na edição 16 do LAMPIÃO, trouxe um dado incorreto. De acordo com a reportagem, os programas de ensino integral da Prefeitura de Mariana e do Governo de Minas Gerais são financiados pelo programa Mais Educação, do Governo Federal. Contudo, o programa municipal de ensino integral é financiado com recursos próprios da Prefeitura, e o ensino integral estadual recebe verbas do Estado, e não da União.

premiação

LAMPIÃO é indicado a Prêmio Aleijadinho O jornal LAMPIÃO foi indicado por voto popular ao Prêmio Aleijadinho de Responsabilidade Social, na categoria Imprensa. Promovido pela Fundação Aleijadinho, o prêmio tem como objetivo reconhecer pessoas, empresas e veículos de comunicação que prestam serviços relevantes à comunidade, com finalidade de ajudar ao próximo.

Agradecemos à população de Mariana e Ouro Preto pela confiança e à Fundação Aleijadinho pela iniciativa. Como alunos, agradecemos aos professores de Jornalismo da Ufop pela competência com que nos ensinam e pela dedicação em transmitir o fazer jornalismo. O prêmio foi entregue em 20 de novembro e o vencedor foi o Voz Ativa.

entre olhares Eduardo moreira

Nessa estrada sigo apenas Por querer da vida um tanto Trago o canto minhas penas Faço amor de todo o pranto

Duas Quadras

Rua da Virada | Adner Sena

crônica

À espera do futuro Pedro Mendonça Renatta de Castro O bebê nasceu! E agora? Como cuidar de uma nova vida? O que esperar para o futuro do novo membro da família? Expectativas, incertezas… Questionamentos que provavelmente surgirão. Certeza mesmo se tem sobre os valores e princípios que serão passados, servindo como orientação para a vida toda. Todos em volta querem dar palpites, dizer o que fazer e o que está errado. Tentativas de ajudar na concepção de um novo ser que agora terá de enfrentar os mesmos desafios que os veteranos. Ou será que sobra tempo para ter esperança de que o mundo será melhor? O que dizer das histórias que o povo conta? Se tornará um ladrão o bebê que for passado pela janela? O leite da mãe seca quando uma mulher menstruada se aproxima do bebê? Há quem diga que não se pode beijar um bebê para não causar brotoeja. Mas quem se importa? O afeto nos impede de seguir as exigências provenientes dos mitos. Talvez seja um problema querer enquadrar o bebê em sistemas pré-estabelecidos. Se há uma vontade de que seja

um mundo melhor, mais justo, a educação deve fugir ao que já existe e está dando errado. O novo deve ter espaço para que o futuro traga experiências, conflitos, perguntas e respostas diferentes. Como toda grávida, Priscila Alves Teixeira Ansaloni, 35 anos, vive alguns dilemas em relação à espera pelo futuro, que já começou. Com 13 semanas e quatro dias, três meses e uma semana, de gravidez, Priscila ainda não sabe o sexo do bebê. Se for menina o nome será Ana Ester e se for menino, Rodrigo Cezar. Havia uma expectativa de que a resposta fosse: “Queremos uma menina, vai ser nossa princesinha” ou talvez “Um menino, dá menos trabalho, é só vestir uma bermudinha e uma camiseta e tá pronto”. Nada disso. Priscila revela que tanto faz. Não tem preferência por um ou outro sexo. O importante, segundo ela, é que a gravidez se concretizou. O futuro novamente entra em questão. Priscila e o marido, Rodrigo, esperam que o filho seja íntegro, correto e que tenha caráter. Será ensinado sobre o que é certo e errado. Sobre a profissão, Priscila espera que ele siga suas

Jornal Laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto - Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Prof. Dr. JB Donadon Leal. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Denise Figueiredo Barros do Prado – Professoras responsáveis: Karina Gomes Barbosa (Reportagem), Ana Carolina Lima Santos (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editora Chefe: Marília Mesquita – Secretário de Redação: Pedro Mendonça – Editora de Arte: Renatta de Castro – Editor de Fotografia: Eduardo Moreira – Editor de Multimídia: Stênio Lima - Subeditora de Multimídia: Paloma Ávila – Repórteres: Aline Nogueira, Ana Clara Fonseca, Brunello Amorim, Daiane Bento, Danielle Campez, Dreisse Drielle, Giovanna de Guzzi, Hugo Pereira, Júlia Mara Cunha, Júlia Pinheiro, Luiza Mascari, Mateus Meireles, Matheus Maritan, Natane Generoso e Silmara Filgueiras – Fotógrafos: Eliene Santos, Endrica Fernandes, Lucimara Leandro, Maria Augusta Tavares, Núbia Azevedo, Raquel Estevão Lima e Rodolfo Dias – Diagramadores: Carol Antunes, Elis Regina Santana, Fernanda Mafia, Gabriella Pinheiro, Jackie Mandarino e Victor Hugo Martins – Revisão: Fernando Ciríaco e Geovani Barbosa – Monitoria: Pedro Carvalho – Colaboradora: Bruna Matsunaga. Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, nº 166, Centro. Mariana – MG. CEP 35450-000

vontades, independente das pressões da sociedade e sem interferência da família. Sim. Um surpreendente “Não sou eu quem escolho”. Imagina lá se a profissão importa. Se os ensinamentos de Priscila e Rodrigo forem seguidos, provavelmente esse filho será como os pais desejam. O que a grávida pondera é que seu bebê seja uma pessoa direita, que corra atrás de seus objetivos e que não dependa de ninguém. Ela garante que não será mimado e não terá tudo dado facilmente, para que aprenda o valor das coisas desde pequeno. A grávida espera que o mundo esteja melhor daqui a alguns anos para que seu filho não tenha que enfrentar os problemas que hoje são vividos pela sociedade. Que as pessoas respeitem mais as outras, que conservem melhor o meio ambiente. Será que os desejos de Priscila se tornarão realidade? Será que esse ser que ainda nem nasceu será o reflexo dos anseios de seus pais? Será que o mundo estará melhor e mais justo? Isso só o futuro poderá dizer. Mas nunca se esqueça, Ana ou Rodrigo: sua espera foi muito comemorada.

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Dezembro de 2014 Arte: Jackie Mandarino

CIDADE

Turismo requer atenção Em Mariana, setor tem potencial para novos segmentos, mas falta de capacitação e investimentos limitam roteiros Lucimara leandro

Aline Nogueira Imagine que você é um turista e está passeando por Minas Gerais, mais especificamente na Região dos Inconfidentes. Ao chegar a Mariana, além de conhecer as igrejas, apreciar a arte barroca e os casarões de arquitetura colonial, você também pode ter acesso a outros segmentos do turismo. A cidade, além de todos os atrativos histórico-culturais, é rica em belezas naturais. Mas, devido à falta de acessibilidade e de guias turísticos capacitados, poucas atividades são possíveis de serem realizadas. De acordo com a coordenadora de turismo de Mariana, Lívia Duarte, o impacto econômico do turismo na cidade ainda é baixo diante do potencial: cerca de 19% da renda do município. Mesmo sendo a mineração a principal fonte de renda da cidade, Lívia se mostra confiante no futuro do setor: “A expectativa é que consigamos alcançar resultados mais efetivos com os projetos que estamos desenvolvendo”. Ela ainda afirma que “o turismo não acontece do dia para a noite, é desenvolvido com tato e cuidado. Precisa grande atenção para desenvolver qualquer tipo de atividade.” Guias? Com o auxílio de um guia, o turista pode aproveitar mais o passeio, porém em Mariana a maioria dos denominados guias são, na verdade, monitores de turismo. Eles fizeram um curso ofertado pela Prefeitura; alguns participaram também cursos de idiomas no Pronatec. Já a profissão de guia de turismo é regulamentada e precisa de formação adequada do Ministério do Turismo (Mtur), da Embratur e outros órgãos competentes. Para 2015, a previsão é que a cidade receba um curso regulamentado de guias. O monitor de turismo Alexandre Costa de Souza participou do curso na cidade e diz que

aprendeu muito “a respeito das datas, construções históricas, esculturas, pinturas e, principalmente, sobre a arte barroca que atrai muitos turistas para a região”. Mesmo tendo muitos monitores e alguns guias pela cidade, Mariana ainda carece de profissionais especializados e que conheçam realmente a cidade e região. Apesar de ter muitas cachoeiras e lugares propícios a práticas de outros tipos de turismo, como o Pico da Cartuxa, Lívia afirma que, por falta de guias capacitados, “o turismo ecológico não é muito divulgado na cidade pelos riscos que os locais oferecem”. Alexandre também acredita que isso seja prejudicial, mas explica que falta segurança e policiamento. De acordo com Lívia, o que tem sido incentivado na cidade são as manifestações culturais. Essas são uma forma de impulsionar o turismo imaterial, já que é uma maneira de vivenciar e se apropriar da história de maneira mais dinâmica. Passeios Tendo em vista o turismo histórico-cultural, a cidade de Mariana conta com 222 bens inventariados, ou seja, passíveis de tombamento, seja em nível federal, estadual ou municipal. Dentre eles estão 19 igrejas e capelas, localizadas na sede e nos distritos, três museus, além da Mina de Passagem, do Pico do Itacolomi e do passeio de Maria Fumaça até Ouro Preto. Mas, caso você seja turista e queira conhecer outras atrações, Mariana tem turismo natural e náutico, além de projetos para incluir os caminhos da mineração na rota turística. Mariana divide com Ouro Preto o Parque Estadual do Itacolomi, com mais de 7500 hectares de fauna e flora da região. O parque que abrigou expedições auríferas e de pesquisas naturalistas no século XVII - é aberto aos turistas para

Alexandre Costa, monitor do turismo, acredita que valorização dos guias é essencial para o desenvolvimento da área

caminhadas e possui visitas guiadas tanto nas partes históricas, quanto nas trilhas e expedições. Outra vertente turística presente na cidade é o turismo náutico. Ofertado no distrito de Barro Branco, o Catamarã Dubai oferece ao turista um passeio de barco pelas águas da Represa da Fumaça. De acordo com uma das proprietárias, Maria Angela Pereira, além de incentivar o turismo náutico e rural, a proposta é também estimular o turismo imaterial, uma vez que o passeio “propõe resgatar interessantes histórias do distrito e o artesanato em pedra sabão”. A fim de incentivar o ecoturismo e incluir os distritos nas rotas turísticas, a Prefeitura de Mariana está estruturando o projeto Estrada Parque: Caminhos da Mineração, que deve começar em 2015. De acordo com Lívia Duarte, a iniciativa visa reconstruir os distritos de Bento Rodrigues, Camargo e Santa Rita

Durão de forma mais atrativa, com restaurantes, hotéis e opções mais diversificadas de visitação com guias capacitados. Também faz com que a comunidade se aproprie da história, de manter os casarões e resgatar crenças e lendas. Para expandir o turismo em Mariana, Alexandre afirma que “a cidade é muito bonita, tem muitos atrativos, mas falta divulgação”. A presidente da Associação de Guias de Turismo de Minas Gerais, Ana Maria Torres, também concorda que “a publicidade bem feita é alma do negócio, desde que esteja acompanhada de boa infraestrutura. Não vale ser um potencial turístico se não tiver investimentos que garantam bons serviços ao turista”. Já de acordo com Maria Ângela, “o turismo ecológico e rural também podem ser aproveitados, desde que haja planejamento e acompanhamento pelos órgãos competentes”.

Você sabia? Mariana tem um sítio arqueológico. O Parque Paisagístico Arqueológico Morro Santana, conhecido por Gogô, foi local de moradia e trabalho de escravos e conta a história da exploração aurífera. Segundo o professor de História do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Rio Pomba (Ifet - RP) Rafael Souza, no sítio estão “vestígios das antigas técnicas de mineração, minas e ruínas de uma companhia aurífera e da capela de Santana” Considerado um dos mais importantes acervos da mineração, o sítio está em processo de tombamento federal, mas não é indicado para visitação sem acompanhamento capacitado. O lugar é importante para a população e os turistas entenderem a presença inglesa na região e lendas como a Mãe do Ouro.

Distrito

Um aeroporto ouropretano Giovanna de Guzzi Ouro Preto, um dos principais pontos turísticos de Minas Gerais, vai ter um aeroporto construído em breve. O local escolhido é a estrada que liga os distritos de Cachoeira do Campo e Glaura, que fica a 20 km de distância da cidade sede. A estrutura vai facilitar o acesso de turistas e a locomoção dos moradores, que atualmente só conseguem chegar e sair de Ouro Preto de carro ou ônibus. Susana Alcântara, 41 anos, nascida em Glaura, é diretora da Escola Municipal Benedito Xavier, localizada no distrito, e afirma que o aeroporto é de uma “valia imensa”, pois além de aquecer a economia local, a população teria mais facilidade em se locomover, uma vez que o aeroporto mais próximo fica em Belo Horizonte, a 120 km. Ela diz que a comunidade já vem discutindo há algum tempo o assunto e acredita que há pontos negativos e positivos, mas que a população tem que se acostumar com as mudanças. A pedagoga Paula Karacy, 49, descreve a comunidade como tranquila e composta por poucas e pequenas famílias. A escola possui aproximadamente 250 alunos, mas ela espera que a construção do aeroporto amplie o número de habitantes, e consequentemente de alunos.

Ela acredita que haverá mudanças no saneamento básico, no acesso a Ouro Preto, na educação e na cultura. Ela afirma ainda que “com o progresso vem o prejuízo”. Sônia Cristina, 46, assumiu o bar que era de seu pai há mais de 20 anos e afirma que o aeroporto vai atrair mais visitantes para o distrito. Segundo ela, o impacto econômico será positivo, mas a comunidade vai perder a tranquilidade com que está acostumada. Antônio Figueiredo, 71, nasceu em Glaura e trabalha como pedreiro. Ele também acredita que o impacto econômico será positivo, mas teme que o sossego com que convive diariamente acabe. O distrito possui duas pousadas, mas a mais próxima do centro fica na estrada, a 6 km de distância do centro. Ainda há muito a se fazer em relação à infraestrutura no local, mas a população espera que a construção do aeroporto atraia mais investimentos. O aeroporto de Governador Valadares, que possui o mesmo porte do que será construído em Glaura, possui uma movimentação de 5 mil pessoas por mês. A população já discute o que pode ser feito para se preparar e receber as mudanças que estão por vir da melhor maneira possível. Paula Karacy conta ainda que não sabe como os mo-

radores vão reagir a tantos “estrangeiros” que passarão por Glaura. Trâmites A prefeitura de Ouro Preto já fez a desapropriação do local, que tem área de aproximadamente 335 mil m². Foi feito também o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) no local. De acordo com a Secretaria de Aviação Civil (SAC), o projeto existe desde 2006 e está em fase final. A licitação deve sair em breve e ainda não existe previsão de entrega. O planejamento está sendo feito para que o aeroporto receba vôos regionais. Esse projeto faz parte do Programa de Investimentos em Logística: Aeroportos e receberá verba por meio da concessão dos aeroportos de Confins (Belo Horizonte) e Galeão (Rio de Janeiro). Os gastos estipulados para a construção são de aproximadamente R$ 80 milhões. O programa de aviação regional visa uma integração eficiente e rápida que permita a mobilidade e tem como objetivo deixar 96% da população brasileira a 100km de distância de um aeroporto. Atualmente, 20% dos brasileiros vivem outra realidade. Há cidades no país onde o aeroporto mais próximo fica a 700 km de distância.

Como será? Dados disponíveis sobre o futuro aeroporto de Ouro Preto comparados com outros aeroportos regionais mineiros

Aeroportos

Terminal de passageiros

Glaura

335.700 m² *

Ipatinga Governador Valadares **

Capacidade anual

Comprimento da Pista

-

1900 m

600 m²

165.000 pessoas

2004 m

2.200 m²

182.500 pessoas

1.800 m

* Area total do aeroporto ** Após reforma em 2015

Vale a pena? Com a construção de aeroportos no interior do país, as horas de viagens diminuem, mas os preços das passagens aumentam

Trechos

Distância Km

São Paulo - Ouro Preto

624

-

11h

-

124,85

São Paulo**- Governador Valadares

900

3h

15h

365,00

158,80

São Paulo*** - Ipatinga

796

3h

13h30

378,00

Tempo

* Valores em R$ cotados em 17/11/14 para 15/01/15 ** Aeroporto de Viracopos *** Aeroporto de Congonhas

Preço*

137,22


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Dezembro de 2014 Arte: Gabriella Pinheiro

CIDADE

Lucimara Leandro

Aumento do tráfego urbano e restrições de reformas no patrimônio tombado do centro histórico de Mariana contribuem para o trânsito caótico em ruas como a Dom Silvério

O trânsito está nos planos

Melhorias na mobilidade e acessibilidade nas vias urbanas fazem parte do futuro de Mariana e das áreas tombadas Ana Clara Fonseca Ano 2070, a cidade de Mariana mantém as suas estruturas. Os casarões ainda estão cheios, bem preservados. O número de pessoas aumentou, consequentemente houve aumento no número de automóveis, mas não existem engarrafamentos; há áreas para estacionamento, sinalizações e vias de acesso. Essa seria Mariana com parte dos planos de melhoria para o trânsito. O crescimento contínuo da cidade mostrou, segundo o Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), aumento significativo de veículos, que ocorreu devido à municipalização do trânsito em 2006. Segundo o IBGE, entre 2005 e 2013, houve um aumento no número de automóveis, de 6.643 para 12.384. Em 2014, as ruas e estruturas de pedra e pau a pique das construções são as mesmas do ano de 1745. A rua Dom Silvério, localizada no centro da cidade, é parte do patrimônio

tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Marcelo Queiróz, morador da rua há 35 anos, avalia o trânsito da região como péssimo. Os barulhos são o que mais o incomodam. “Se não houver controle do trânsito, não haverá jeito de andar dentro de Mariana de carro”, explica. Outros problemas, para Marcelo, são a via de mão única e a passagem de ônibus e caminhões. Segundo o professor do Departamento de Museologia da Ufop Gilson Nunes, as ruas do centro histórico foram pensadas para acolher caminhantes, carruagens e cavalos. Hoje, grandes veículos passam vibrando e raspando o solo, causando até perturbação estrutural nos prédios, que também não foram projetados para resistir aos impactos. Porém, Gilson explica que os prédios tombados não foram congelados; há pessoas morando neles, e elas precisam

se mover por essa área. Para isso é necessário regulamentações dos órgãos competentes, como o Iphan, responsável pelo patrimônio histórico, e a Prefeitura. Segundo o Demutran, há moldes de mobilidade e acessibilidade planejados, que diminuem o impacto de veículos no centro histórico, como sinalização eficaz e intervenções físicas que devem ser estudados junto ao Iphan. O secretário municipal de Defesa Social, que responde pelo Demutran, José Luiz Furst, afirma que há intervenções implantadas para preservação do patrimônio histórico. “Estamos finalizando o projeto de Sinalização Turística, em conjunto com a Secretaria de Cultura e Turismo”. A atual administração do Demutran vem construindo projetos de melhorias de acesso das entradas na cidade e, com esse processo, há projetos de nova entrada para os bairros Cabanas e Cartuxa e novos trevos e rotatórias nos

bairros Chácara e Santana. Há projetos de reformulação da Rua do Catete e da Avenida Nossa Senhora do Carmo, na área central. São formas de possibilitar novas rotas de acesso e tráfego para facilitar o fluxo de veículos. O Secretário de Defesa Social conta que já há intensificação da fiscalização nas áreas tombadas, como proibições de estacionamento que inibam condutores a pararem na calçada. Para o professor de museologia Gilson Nunes, tem de haver uma difusão da educação patrimonial. “É preciso conscientizar a população de que ela tem um patrimônio, que não é só dela, é de toda a sociedade. A população deve ser agente de preservação”, afirma. José Furst concorda: o desrespeito à legislação prejudica o sistema viário e as autoridades, por si só, não garantem a ordem no trânsito sem a contribuição do cidadão. Procurado pelo LAMPIÃO, o Iphan não se manifestou.

Cidade e patrimônio Desde 1745, Mariana é uma das cidades dependentes da atividade mineradora no Brasil. Da extração do ouro, passou à extração de minério de ferro. Com isso, a cidade não parou de crescer. A área tombada, reconhecida como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), acompanha, de forma irregular, esse crescimento da população. O professor do Departamento de Museologia da Ufop Gilson Nunes explica que a ocupação irregular formou o que se chama de tombamento da paisagem. Quando a cidade é vista do centro histórico, percebe-se em seu entorno, para além das áreas tombadas, partes ocupadas que deveriam estar, na verdade, preservadas. A ocupação irregular acaba causando impacto visual e, por algum motivo, está sendo feita indiscriminadamente.

Para o professor o problema da urbanização é uma pressão natural de alteração das construções. “Quando o imóvel é tombado, significa que ele deve guardar as características, os processos construtivos como foram concebidos”, explica Gilson. Ao enxergar o futuro da cidade, o professor Gilson Nunes acredita que as áreas para fora do patrimônio histórico são responsabilidade da Prefeitura, e por isso, o processo de preservação tem de ser feito em conjunto com o Iphan. Ele explica ainda que a mineração tem prazo de validade; as minas irão se exaurir daqui a algum tempo e o que restará da economia em Mariana serão as áreas de serviço, educação - com a presença da universidade - e o turismo. E, do ponto de vista turístico, a região só é atrativa pelo patrimônio aqui existente, aquele que nos deixou um legado.

trabalho

A preocupação é o desemprego Danielle Campez Acorda às dez da noite, toma banho, vai para o ponto onde o ônibus da empresa passa. Chega ao trabalho às 23h. O expediente vai até oito da manhã. Após chegar em casa e almoçar, dormir à tarde fica difícil com o calor. Claudiney da Silva, 44 anos, faz essa rotina há 19, que é o tempo em que trabalha na Novelis. Mas em 2015, pode não ser mais assim. Com a ameaça de desemprego e pai de dois filhos, será difícil sustentar a casa ao lado da mulher. A lista de possíveis demitidos chega a 350 funcionários. Terceirizados também podem ser afetados com o fechamento da fábrica de alumínio da multinacional americana Novelis, que opera em Ouro Preto há 80 anos. A demógrafa Kátia Nunes Campos conta que o fechamento trará consequências para o futuro de

Ouro Preto e do estado. Para ela, o maior impacto é social, com desemprego direto e indireto, afetando o comércio e pequenas indústrias. Porém, de acordo com o secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Ouro Preto, Jarbas Avellar, o desemprego não preocupa. “Se considerar os empregos gerados desde 2013, temos saldo positivo em relação aos desempregos da Novelis”, conta. Essas vagas, informa, vêm de supermercados que se instalaram na cidade. Entretanto, essas novas vagas oferecem salário muito inferior ao que os trabalhadores metalúrgicos ganham em produção. Uma das maiores preocupações dessas pessoas, além dos salários, são os benefícios que a empresa oferece. “Hoje, pagar um plano de saúde para a família com o salário de pequenas empresas é

praticamente impossível”, lamenta Claudiney. Muitos desses trabalhadores não têm escolaridade nem experiência para exercer outra função. É o caso de Agnaldo Dutra, 45, que trabalha na Novelis há 15 anos. “As empresas querem cada vez mais mão de obra jovem e experiente. Certamente vai ser difícil conseguir outro emprego.” O vereador Chiquinho de Assis alertou que a Novelis tem um compromisso com a cidade e não pode fechar os olhos para os funcionários. “As pessoas que doaram a vida defendendo seu ganha-pão não merecem receber como prêmio a demissão”, lamenta. A Novelis diz saber do impacto. “O encerramento das operações e desligamento dos funcionários será feito com respeito e dignidade”, informa. O fechamento foi anun-

Maria Augusta Tavares

Possível fechamento da Novelis inquieta centenas de trabalhadores, como Claudiney da Silva

ciado em 16 de outubro. Em 3 de novembro, a Novelis lançou o Núcleo de Apoio Profissional (NAP) para auxiliar aos trabalhadores na transição de carreira. No dia 5, os sindicalistas saíram às ruas para manifesto; no mesmo dia em audiência pública na Câmara Municipal de Ouro Preto o sindicato rejeitou a proposta de indenização da empresa. No dia 20, a Justiça do Trabalho deu liminar obrigando a Novelis a não demitir mais e anular as demissões ocorridas. No mesmo dia, a multinacional afirmou acatar a decisão.

Alternativas

O olhar da Secretaria de Turismo, Indústria e Comercio de Ouro Preto é de que um dia a mineração de ferro, assim como está acontecendo com a mineração de alumínio, vai se esgotar no município. Segundo Jarbas Avellar, a proposta da secretaria é trabalhar para suprir os desempregos da mineração. A principal aposta é o turismo. Apesar de a arrecadação do setor representar somente cerca de 4% do total do município, o turismo emprega

quase metade dos trabalhadores registrados. “O turismo será a indústria que vai suprir o desemprego de Ouro Preto agora e no futuro”, completa. Além desse setor, acredita-se que a solução para as demissões em massa está nas pequenas empresas e no comércio local (como supermercados e lojas). A própria Novelis reconhece o potencial turístico da cidade e se diz “aberta a dialogar com a comunidade e juntos identificar novas oportunidades para a região”.


Dezembro de 2014

Dreisse Drielle e Mateus Meireles Em meio à transição e a um passo de assumir o Governo de Minas, Fernando Pimentel recebe com exclusividade a equipe do LAMPIÃO para sua primeira grande entrevista concedida a um veículo impresso desde o resultado das eleições. Durante o bate-papo descontraído de mais de quarenta minutos, o político apresenta seus planos de gestão para as áreas de saúde, educação, mineração e turismo. E fala em primera mão sobre sua perspectiva de fazer parcerias com hospitais filantrópicos e universitários para ampliar o atendimento no estado. Nascido em Belo Horizonte, Fernando Pimentel foi eleito governador com 52% dos votos válidos. Durante a carreira política, foi prefeito da capital entre 2001 e 2008, sendo considerado o melhor gestor do município nos últimos vinte anos. Exerceu também o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil entre janeiro de 2012 e fevereiro de 2014. Nos últimos 12 anos não foi construído nenhum hospital estadual em Minas. Em Mariana e Ouro Preto, a população fica à mercê de instituições particulares que atendem pelo SUS. Há planos de construir um hospital na região? Não fizeram mesmo nenhum hospital estadual. Nove deveriam ser entregues. Nós vamos fazê-los. Alguns vão sair mais rápido, outros vão demorar um pouco mais. Mas a questão da saúde em Minas passa por pelo menos três iniciativas diferentes, que vão para mesma direção. A primeira é a gestão dos hospitais regionais. Construir e equipar um hospital talvez seja a parte mais fácil, apesar da demanda. O problema vem depois. Dos nove hospitais planejados pelo antigo governo, nenhum deles tem definida a forma de gestão. A nossa idéia é evitar ao máximo que eles venham para rede estadual da FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), que já tem problemas demais. Está sobrecarregada e sucateada. O caminho é o das parcerias. Onde houver uma universidade com curso de Medicina, é possível conveniar com o hospital e torná-lo universitário.

Governador eleito Fernando Pimentel apresenta planos para os próximos quatro anos e elenca pontos prioritários Quando fui prefeito, criei o programa Escola Integrada, que funciona em 90% das escolas da rede municipal. Consiste em oferecer atividades para os alunos nos contraturnos em aparelhos públicos não estatais, como igrejas. Você se convenia com as instituições e trabalha com monitores, estudantes universitários supervisionados por um professor. Podemos utilizar esse sistema em todo o estado como transição.

e, quando termina, fica o buraco. Já existe tecnologia e em algumas dessas cavas se está aproveitando o resíduo. É possível aumentar o teor de mineral do resíduo a um custo relativamente baixo, quase compatível com a mineração primária. Provavelmente o Estado vai ter que configurar um programa de estímulo ao aproveitamento de cavas antigas. Vai ser muito bom, porque reaproveita, depois remaneja aquilo para dentro da cava de novo e, daqui a pouco, recupera o território para ser ouO tempo de vida do mitra coisa, loteamentos. nério de ferro é curto - ecoMas nosso negócio é miO futuro é igual uma nomistas dizem que a mineração. Com todo o respeiescada: ninguém soneração de Ouro Preto e to ao meio ambiente, ao pabe um degrau cortando o Mariana se esgota em 30 trimônio histórico, vamos debaixo” anos. É preciso pensar em continuar fazendo mineraFernando Pimentel outras alternativas ecoção. Temos que dar um passo nômicas. Há planos para adiante e vamos dar. A genatração de outras indústrias para essas te tem uma sorte muito grande porque o cocidades? ração mineral e metalúrgico de Minas tem as Essa é uma discussão que tem que ser feita condições para dar esse passo, june temo que não tenha sido feita da forma adetar uma atividade que é mulquada. Dizem assim: ‘O minério vai acabar’. É tissecular com o que há de verdade, mas o nome do estado é Minas Gemais avançado, a produrais. Somos o grande estado minerador. Forção de conhecimento necemos minério para o mundo inteiro. Isso é científico. As universiuma característica da região em que vivemos e dades simbolizam isso. temos que trabalhar isso a nosso favor. O que Juntar as duas coisignifica isso? Não exagerar. Não podemos sas significa que se usar de forma irresponsável o território, os rea gente tiver tecnocursos minerais que temos e nem, por exceslogia de ponta para so de zelo, impedir a atividade mineral, porque fazer isso tem que ela é importante para o estado. Vai continuaproveitar de maar sendo por muito tempo e tomara que seja neira barata, efisempre. ciente, eficaz, resTem uma coisa que pouca gente sabe: na região metropolitana de Belo Horizonte temos mais ou menos 700 cavas. Quando você explora, “cava”

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peitando o meio ambiente. Exemplo: Minas tem todas as condições para se tornar um dos grandes, se não o maior polo mundial de produção de silício em grau eletrônico. Nós temos silício ao norte. E já temos tecnologia para levá-lo até o grau metalúrgico. Qual é o problema? Energia. Energia é cara, mas podemos ter um programa estadual que barateia esse custo para a indústria. Produzimos ligas metálicas que vão para o mundo inteiro. Os foguetes da Nasa levam silício daqui. Mas o passo é esse que está aqui dentro, ó (aponta o celular), o grau eletrônico. É o futuro. Estamos olhando o futuro, mas o futuro é igual a uma escada: ninguém sobe um degrau cortando o de baixo. Nesse mandato, se a gente conseguir estimular essa reflexão e chegar a um consenso em Minas é possível dar um salto, sem abrir mão do nosso papel de mineradores, respeitando tudo. Sempre escutamos que o turismo é a solução para a economia das cidades. Mas Mariana, por exemplo, ainda tem muito que caminhar. Quais os planos do governo estadual para o turismo? Fico incomodado porque não vejo a coisa ser feita da forma como deve ser. Turismo em alguns estados é natural, espontâneo. Em Minas, temos que trabalhar. Isso porque no mundo inteiro e no Brasil, as pessoas pensam em praia. Não podemos achar que porque tem Ouro Preto e Mariana - duas cidades históricas, uma que é patrimônio da humanidade - está pronto. A gente compete com as cidades históricas da Europa. Temos que, primeiro, atrair o turismo interno. Hoje, o brasileiro, com a expansão da renda da nova classe média, tem mais condição de viajar. Vamos fazer eles viajarem para cá. O estado tem que dar fortíssimo apoio para o setor de turismo, qualificar gente, fazer campanhas nacionais e internacionais e dar suporte a essas iniciativas, mas não fez isso nos últimos anos. Criaram um programa como a “Estrada Real”, mas não acrescentou nada. Que estrada é essa que nem placa colocou? Chega de inventar um negócio bonito. Coloca o pé na terra antes de fazer propaganda dizendo que a gente tem as cachoeiras mais bonitas do Brasil - e a gente tem. No Dia de Minas, a capital é transferida para Mariana. Mas a cerimônia não pode ser vista pela população pois o entorno do evento é bloqueado. O que o senhor pensa sobre isso? Isso aí é a cara desse ciclo que está acabando. Você faz um negócio bacana e bonito... Para os convidados. Uai, mas e o povo? Isso aí nós vamos mudar. Você pode ter certeza que nós vamos mudar.

E du ar d o r

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Em Mariana, há instituições que já têm ensino integral, mas sofrem com falta de verba e espaço. Como contornar a situação? A escola em tempo integral é um sonho antigo. É um desafio enorme porque só vamos dar um salto no ensino fundamental e médio quando conseguirmos garantir tempo integral na rede. Isso é complicado, porque se o adotamos de uma hora para outra, é necessário dobrar a rede física e o corpo docente. Mas já avançamos bastante, chegamos a um estágio em que o desafio é a qualidade, que só vamos alcançar quando tivermos mais tempo para dedicar ao ensino e ao aluno da educação básica. No infantil já é assim. E como vamos fazer para oferecer ensino integral a todos? As escolas que serão construídas já serão assim. É necessário um modelo de transição.

Um novo horizonte para Minas

Arte: Victor Hugo Martins

o m

Como é o caso da Ufop... Isso. É bom para a faculdade, para a comunidade e para o estado porque você divide as despesas de custeio com a União. Não podendo ser assim, tentemos a rede filantrópica. Vamos fazer uma reforma dos convênios e acordos com os hospitais filantrópicos para reforçá-los. A segunda vertente do problema é extensiva ao Brasil. A atenção básica da saúde pública está razoavelmente resolvida. Não está uma maravilha, mas caminha bem. Temos que agradecer ao Mais Médicos, programa inovador da presidenta Dilma. Dos 18 mil médicos vindos para o Brasil, temos em Minas cerca de 1500. Só que o segundo momento do atendimento está mal resolvido. É onde entra o especialista. Prometi criar centros de especialidades médicas. E somos ambiciosos, queremos estar em cada uma das 77 micro-regiões da saúde. Assim, nenhum mineiro estará a mais de 80km do atendimento especializado. Construir os centros não é um problema grande, mas colocar médicos neles, sim. E não é necessário criar um novo centro em cada lugar. Em muitas cidades já há esse tipo de atendimento, sem suporte do estado. A terceira vertente é assegurar a todo o território mineiro pronto-atendimento. Por incrível que pareça, até hoje não temos atendimento de urgência e emergência, o SAMU. A cobertura é de apenas 28%. Isso é um absurdo. O governo federal dá o equipamento e ajuda no pagamento dos salários. O SAMU só não atende todo o estado porque não foi prioridade nos últimos 12 anos. Agora vai ser.

Política


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POLÍTICA

Arte: Fernanda Mafia

Dezembro de 2014

FALTA APOIO D

Ouro Preto e Mariana contam com pouca representat Mateus Meireles

representatividade da região. Durante os últimos quatro anos, nenhum desses deputados federais apresentou em Brasília qualquer projeto que beneficiasse especificamente as duas cidades, deixando-as à mercê de proposições generalistas que, de alguma forma, agraciassem a região. Exemplo dessa situação é o Projeto de Lei 798/2011, apresentado por Paulo Abi-Ackel (PSDB), um dos cinco mais bem votados de Ouro Preto e Mariana no último mês de outubro. O PL, que atualmente aguarda parecer do relator na Comissão de Cultura, dispõe sobre a obrigatoriedade de as instalações de distribuição de energia elétrica de ruas das cidades que tenham setores de valor histórico, especialmente os tombados pelo Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional (Iphan), serem subterrâneas.

Sai ano, entra ano e algumas coisas não mudam. Do 13º salário recebido em novembro, que serviria para pagar as contas atrasadas, não sobrou nem o cheiro. O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) se juntam à lista de material escolar dos filhos e exigem jogo de cintura do trabalhador. Se 2015 começa com cara de déjà vu, não é diferente na Câmara Federal dos Deputados e Assembleia de Minas, mesmo depois das últimas eleições. Os cinco deputados federais mais bem votados em Mariana e Ouro Preto já exerceram mandatos anteriores. Na instância estadual o panorama é semelhante: apenas um novato, Thiago Cota (PPS). Apesar de experientes, os políticos deixam a desejar quanto à

Câmara reconhece os Matheus Maritan Primeira capital de Minas Gerais, a cidade de Mariana carrega em sua história leis municipais que vigoram no país até hoje. Recentemente, a Região dos Inconfidentes conseguiu eleger um deputado estadual para representar as demandas da população na Assembléia. Embora as cidades de Mariana e Ouro Preto apresentem históricos de instabilidade política, os eleitores esperam que as promessas e expectativas para construir um futuro melhor não virem frustação. O caminho do município que abriga mais de 58 mil habitantes, empresas de grande porte e campi universitários, será traçado também com os 12 partidos que representam os 15 vereadores da Câmara Municipal. Bruno Mól Crivelarri, do PSDB, foi eleito vereador em 2012 e assumiu no ano passado a presidência da Câmara Municipal de Mariana, até dezembro. Militante político há quase 20 anos, Bruno ressalta que o futuro de Mariana é muito promissor, mas também muito preocupante. Um dos maiores desafios que a cidade deverá enfrentar, segundo ele, é a habitação. O vereador explica que devido às mineradoras, Mariana cresceu muito nos últimos 50 anos. A atividade de extração do minério trouxe benefícios enormes para cidade, mas também um prejuízo: a superpopulação. A cidade de Mariana não está preparada para receber essa quantidade de pessoas, afirma Bruno. Além disso, outras atividades devem ser estimuladas para suprir o futuro esgotamento do minério, uma das maiores fontes de renda do município. O vereador acrescenta que o minério poderá durar duas safras e a questão já está sendo discutida na Câmara. “Um diálogo com as mineradoras, com o governo estadual, com a Prefeitura e com a sociedade civil será feito, para juntos podermos traçar um caminho”, completa. Para melhorar a questão da moradia, o vereador citou um projeto incipiente de expansão urbana, que será lançando junto com o Poder Executivo. Uma área com 20 milhões de metros quadrados foi apropriada e será transformada em lotes para serem financiados por meio de programa habitacional. A proposta ainda não foi levada para Câmara e aguarda aprovação. O local será próximo ao bairro Colina e se estenderá até o Ribeirão do Car-

mo. Bruno diz que o projeto é o primeiro passo para tentar minimizar o impacto das invasões, já que os bairros irregulares crescem desordenadamente, sem saneamento básico e sem infraestrutura. “A medida não irá resolver o problema, mas será um pontapé inicial.” No dia 3 de novembro a Câmara Municipal de Mariana revisou o Plano Diretor, documento responsável por regularizar e planejar o espaço urbano e rural do município. Em Mariana ele envolve o crescimento urbano, sócio-econômico e espacial da cidade. Para Bruno, o plano limitava muito as edificações na cidade, porque as construções eram restritas e podiam ocupar apenas uma determinada parte do solo, sendo uns dos motivos para aquecer o mercado imobiliário da cidade. Com a revisão, mais de 10 mil pessoas que estavam com obras irregulares poderão regularizá-las e dar continuidade à construção ou venda do imóvel. Outra visão Para o vereador Cristiano Silva Villas Boas (PT), que participa dos movimentos comunitários desde cedo, ao imaginar o futuro da população nos aspectos do turismo, infraestrutura e acessibilidade, Mariana poderia ter avançado mais. Ele cita o exemplo do transporte público, alegando que a empresa responsável não atende bem a população, falta acessibilidade nos ônibus e não há cumprimento do Estatuto do Idoso. Além disso, a cidade de Mariana ainda sofre com a falta de água. Outra crítica de Cristiano é sobre a questão da moradia. Para ele, a população enfrenta sérios problemas com construções irregulares, o que ocorre por causa do elevado preço de alugueis e da falta de opção que a população enfrenta. “Espero que futuramente tenhamos uma gestão mais preparada e preocupada em resolver esses problemas que vão se refletir no futuro”, ressalta o vereador Cristiano. Questionado se a gestão atual da Câmara está preparada para enfrentar os desafios da cidade, Cristiano diz que os vereadores têm acompanhado bastante as ações, mas são poucas as iniciativas do Executivo. Alguns projetos são enviados, mas são paliativos. Um exemplo foi a aprovação do projeto que penaliza pessoas que desperdiçam água. Cristiano diz que a medida é importante, mas não resolve o problema.

Alagoinhas (BA)

Rio de Janeiro (RJ)

Bom Sucesso

Sete Lagoas

Viçosa/Urucânia Belo Horizonte

Mariana Mariana

desafios

De onde vem os ca

Thiago Cota

14.196 votos Rodrigo de Castro

4.763 votos Padre João 1.749 votos Reginaldo Lopes

George Hilton

1.493 votos

953 votos

Paulo Abi-Ackel

Carlos Henrique

869 votos

840 votos

Alencar da Silveira Jr 772 votos Rogério Correia

Deputados Federais

407 votos

Deputados Estaduais

João Leite

Dados extraídos do site do Tribunal regional eleitorial (TRE)

363 votos

Aprenda mais para fiscalizar Daiane Bento A Prefeitura é a sede do Poder Executivo do município; é comandada por um prefeito e dividida em secretarias de governo, como educação, saúde ou meio ambiente. O prefeito conta com o gabinete, que o auxilia em decisões, ou toma as próprias, dependendo do tipo de demanda. É por meio dessa instituição que políticas públicas para saúde, educação, habitação e outras áreas que influenciam no bem-estar e qualidade de vida da cidade são elaboradas. Porém, a Prefeitura não governa uma cidade sozinha e depende do apoio da Câmara Municipal, assim como dos governos estadual e federal. Estes últimos auxiliam com repasses de verbas, convênios e assistências de toda natureza. Já a Câmara possui três funções básicas: a primeira é ser o órgão que constitui o Poder Legislativo da cidade e deve discutir e criar as leis municipais; a segunda trata do papel de fiscalizar a execução das políticas públicas locais, representando os interesses da sociedade junto aos órgãos públicos; e a terceira constitui o controle externo que a Câmara Municipal exerce com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado ou dos Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. Giro pelo passado Em 2009, Mariana passou por um conturbado momento político: oito trocas, resultando em cinco prefeitos diferentes. Foi o que aconteceu em três anos, até que Celso Cota, ex-prefeito da cidade, fosse eleito novamente. A situação ocorreu por conta de acusações de irregularidades como compra de votos, ilega-

lidades na prestação de contas de campanha e desvio de recursos públicos. Isso resultou na paralisação de obras, projetos e captação de recursos para a conservação do centro histórico da primeira capital mineira, reflexos que podem ser vistos até hoje em alguns prédios históricos de Mariana. A vizinha Ouro Preto começou a sofrer de uma situação parecida no final deste ano. No dia 6 de novembro o então prefeito da cidade, José Leandro, teve o registro da candidatura cassado por irregularidades nas contas públicas de sua gestão realizada no final dos anos 80 e dessa forma, nem o vice-prefeito poderia se apresentar ao cargo. O presidente da Câmara Léo Feijoada assumiu a prefeitura da cidade, e em menos de 48 horas destituiu seis dos 15 secretários municipais. Além disso, liberou o estacionamento de veículos na Praça Tiradentes, bem no Centro Histórico de Ouro Preto, que estava proibido desde 2013. Enquanto o segundo colocado, Júlio Pimenta, esperava a documentação do TRE que o permitiria assumir a prefeitura, no dia 14 de novembro Zé Leandro e o vice-prefeito, Chiquinho Xavier, retornaram a seus cargos. A mudança aconteceu após o ministro Gilmar Mendes, do Tribunal Superior Eleitoral, decidir mantê-los nos cargos até o julgamento. Com tantas promessas e perspectivas para um futuro em que Mariana seja uma cidade melhor, contrastando com a instabilidade política que ela e a vizinha Ouro Preto vivem, é necessário aprender e entender seu funcionamento. Exerça seu poder de cidadão acompanhando e cobrando efetivamente seus representantes públicos.


POLÍTICA

Dezembro de 2014

Arte: Fernanda Mafia

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DO LEGISLATIVO

tividade na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal

cientista político e historiador Antônio Marcelo Jackson não se surpreende com esse panorama. “O número de eleitores das duas cidades é insuficiente para a eleição de um deputado federal ou estadual com pauta exclusiva para região. A situação deficitária de Ouro Preto é um agravante. O interesse fica restrito à mineração, cuja arrecadação é destinada ao governo federal”, explica. Jackson alerta que é comum confundir a importância histórica dos municípios com a econômica. “Mesmo se considerarmos a mineração, carrochefe da região, Congonhas teria maior relevância.” A solução, segundo ele, seria investir efetivamente no turismo. “Vereadores, prefeitos e deputados estaduais devem se unir para que o projeto de mercado turístico seja reformulado.” (Leia mais na página 3).

Essa carência continua na esfera da Lei Orçamentária Anual Federal. Nem sequer uma emenda parlamentar foi aprovada em prol da região. Na Assembleia de Minas, 25 projetos de lei e outras proposições foram apresentados com o foco em Mariana e Ouro Preto na última legislação pelos quatro deputados mais bem votados, já que Thiago Cota é novato. Do total, sete são para a primeira e 18 para a segunda. Entre eles está o projeto de lei 390/2011, de autoria de Alencar da Silveira Jr (PDT), que aguarda votação. Ele dispõe sobre a instalação de um aeroporto no município de Ouro Preto (Leia mais na página 3). O deputado estadual mais representativo foi Durval Ângelo (PT) com nove projetos e o menos foi Carlos Henrique da Silva (PRB), sem nenhum. O

ampeões de voto? COMO ACOMPANHAR OS POLÍTICOS NA INTERNET Rio de Janeiro (RJ)

Baixo Gandu (ES)

Governador Valadare

s

Juiz de fora

Sete Lagoas

Belo Horizonte Ibirité Urucânia

Mariana

Ouro Preto

Ouro Preto

Thiago Cota Alencar da Silveira Jr

10.400 votos

Durval Ângelo

5.341 votos Paulo Abi-Ackel

3.607 votos

Dreisse Drielle Com a internet, ficou ainda mais fácil acompanhar tudo o que os políticos eleitos fazem. É possível consultar as propostas, conferir os orçamentos, acompanhar os projetos de lei em andamento ou aprovados, e muito mais. No site da Assembléia de Minas (www.almg.gov.br), por exemplo, é possível conhecer mais sobre os deputados mineiros, além de saber quais são suas propostas, endereço dos gabinetes, entre outros. É possível também consultar os relatórios fiscais, as verbas indenizatórias e as despesas com pessoal.

1.174 votos

O site da Câmara dos Deputados (www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa) também disponibiliza diversas informações sobre os políticos, como principais propostas, discursos, dados pessoais, endereço e e-mail do deputado. Além disso, há diversos dados no Portal da Transparência, que informam o orçamento da Câmara, os valores gastos com os deputados, obras em andamento e muito mais.

Júlio Delgado 1.897 votos

Adalclever Lopes Gabriel Guimarães 1.279 votos

Outra importante ferramenta de consulta é o Portal Minas Transparente (minastransparente.tce.mg.gov.br/) que permite que você realize pesquisas informando o assunto desejado (educação, saúde, etc.) e mostra os dados e os orçamentos do município que você pesquisou.

1.555 votos

Toninho Pinheiro 2.780 votos Padre João 1.772 votos

Carlos Henrique

Para acompanhar outros gastos e informações sobre obras em execução ou finalizadas acesse o Portal de Tribunal de Contas da União (portal2.tcu.gov.br/) ou o Portal do Tribunal de Contas do Estado que deseja consultar. Demais consultas podem ser realizadas nos sites das câmaras e das prefeituras municipais.

692 votos

Mariana na Assembleia

Rodolfo dias

Matheus Maritan e Daiane Bento Mesmo com todo o histórico político da família, o deputado estadual recém-eleito Thiago Cota garante não ter pretensões pessoais para o futuro político. Ele assegura é ter muito orgulho em representar a Região dos Inconfidentes. Pensando no futuro próximo, conta como imagina Ouro Preto e Mariana: “Acredito que as cidades estão caminhando para se tornar cidades com grande qualidade de vida, e falo isso com a propriedade de quem há muito tempo percorre diversos municípios do estado”.

Além de “filho da nossa terra”, como ele próprio se intitulou durante a campanha, é também filho de Celso Cota, que exerce o terceiro mandato como prefeito de Mariana, e neto do ex-vereador, eleito por três vezes, Altivo Cota. Nasceu em 1985 e cresceu na cidade, onde estudou no Co-

légio Providência e na escola Dom Viçoso. Aos 18 anos começou a trabalhar na loja de autopeças da família e viver a rotina de ir todos os dias a Belo Horizonte para estudar Direito na Faculdade de Estudos Administrativos (Fead), onde posteriormente realizou uma especialização em gestão de negócios. No decorrer do curso mudou-se definitivamente para a capital mineira. Quando formou-se, trabalhou na Associação Brasileira dos Municípios (ABM) e depois montou o próprio escritório de advocacia. Em 2010 passou a trabalhar como diretor técnico na Ruralminas, uma entidade do Governo do estado de Minas Gerais, e após 3 anos e 6 meses, retirouse do cargo para começar a candidatura a deputado estadual pelo PPS. Thiago recebeu o LAMPIÃO sentado na sala de jantar da família, em Mariana, onde contou-nos um pouco dessa nova experiência e do seu papel no futuro da re-

gião. “Os dois municípios devem continuar sendo administrados com seriedade e de forma competente”, ressalta o deputado. Ele acrescenta que “manter a parceria das duas cidades na administração e caminhar juntos nas demandas para o estado é o mais importante”. Ligação essa que também vemos no momento político conturbado pelo qual Ouro Preto está passando. Há pouco tempo Mariana sofreu com as inúmeras trocas de prefeitos. Atualmente é Ouro Preto que passa por essa instabilidade, com a indefinição sobre o mandato de Zé Leandro (leia mais ao lado). Thiago, aliás, tem o prefeito cassado de Ouro Preto como um de seus modelos políticos, assim como um de seus conselheiros na campanha. Mesmo reconhecendo a legalidade do processo aberto pela oposição contra Zé Leandro, o deputado acha que retirar um prefeito do cargo deve ser a última opção. E afirma que “a voz das urnas deve ser sempre respeitada, porque a população é quem sabe o melhor para si mesma”.

Jornada eleitoral Thiago realizou uma campanha embasada no poder da juventude em trazer o novo, e não concorda com o número absurdo de partidos existentes. Para ele é necessário mudar esse sistema e implantar uma nova política, não melhor ou pior que a antiga, apenas diferente. Thiago afirma que esse “novo” é algo que a região necessitava e que ele enxerga como ponto principal para sua eleição. Porém, polêmicas e boatos surgiram durante o período eleitoral, como o suposto pagamento de cabos eleitorais para usar adesivos com seus anúncios, com valor médio de R$ 600. O deputado assegura não ter conhecimento dos boatos e acrescenta: “Fico triste por algumas pessoas quererem denegrir a imagem dos outros, e ao invés de partirem para o campo de ideias, utilizarem mentiras”. Thiago conta que todo o dinheiro utilizado na campanha foi recebido por doações (acompanhe mais detalhadamente www.tre-mg.jus.br). O orçamento final, que ficou em

um valor próximo a 1,15 milhão, contou com doações de empresas e pessoas físicas, variando de R$100 mil a R$100.

Futuro Existem diversos problemas a serem solucionados para que essa visão de futuro, em que a região possua uma melhor qualidade de vida, se concretize. Thiago cita o saneamento básico, a saúde, o fortalecimento do esporte e do turismo, que segundo ele “terá um papel principal no desenvolvimento do estado, que atualmente sobrevive da mineração e do agronegócio”. De um lado Thiago Cota afirma ter um agradecimento enorme por poder ser o deputado da região e promete trabalhar para suprir as expectativas da cidade. Do outro lado, a população de Mariana e Ouro Preto, responsável por quase 25 mil dos 65 mil votos que o elegeram em 37° na colocação geral, observará a valorização e cumprimento das demandas sociais reivindicadas, do mesmo modo que depositou grande confiança nele, ou no sobrenome Cota.


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Política

Arte: Victor Hugo Martins

Dezembro de 2014

Onze em defesa do país A luta nacionalista de um grupo marianense que se uniu a favor do Brasil e foi reprimido pelo golpe militar de 64 Luiza Mascari Em novembro de 1963, o então Deputado Leonel Brizola convocou os brasileiros a se organizarem para lutar pelo Brasil e se opor aos iminentes golpes a que o país estava vulnerável. Ele buscava reunir pessoas em várias cidades para formar uma rede que discutisse e defendesse o que ele chamou de conquistas democráticas do povo brasileiro. Brizola desejava construir um grupo armado, que se espalhasse por todo o território brasileiro defendendo as propostas das reformas de base, que reestruturava vários setores econômicos e sociais do país, e se levantasse contra aqueles que desejavam depor o presidente João Goulart. “Um grupo de 11 companheiros pode parecer pequeno... no entanto pequeno é um simples tijolo e é exatamente com pequenos tijolos reunidos, somados, interligados, cada um com sua função e adequadamente dispostos, que se fazem as construções e se completam os grandes edifícios de concreto armado”, escreveu em sua Proposta de Organização dos ‘Grupos de Onze Companheiros’ ou ‘Comandos Nacionalistas’. Em Mariana, um grupo diversificado de pessoas aten-

deu ao chamado de Brizola e se reuniu para debater questões importantes da política nacional. Estudantes, ferroviários, operários e até militares faziam parte do Grupo na cidade. Dos 11 companheiros marianenses só dois ainda estão vivos e apenas um ainda mora na cidade, o advogado Derly Pedro da Silva. Derly explica que o grupo teve pouco tempo para se organizar antes do golpe militar, em março de 1964, e que isso abafou as pretensões de expansão. O objetivo inicial de Brizola era que cada um dos Um grupo de 11 companheiros pode parecer pequeno... no entanto pequeno é um simples tijolo e é exatamente com pequenos tijolos reunidos (...) que se fazem as construções” Leonel Brizola

11 companheiros deveria formar outro grupo, envolvendo, assim, um número muito maior de pessoas. Após o golpe, o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que era responsável por controlar e re-

Derly Pedro da Silva: história viva Quem passa desavisado pela Rua da Glória dificilmente vai reparar na pequena placa que indica o escritório do advogado Derly Pedro da Silva, e mesmo quem se atenta ao retângulo de metal talvez não conheça a história do senhor que se senta atrás da grande mesa de madeira onde trabalha. Derly nasceu em Mariana no dia 29 de junho de 1942 e viveu quase toda sua vida na cidade. Quando criança, frequentou a Escola Estadual Dom Frei Manuel da Cruz, e diz ter profunda gratidão

primir manifestações contrárias ao governo, interveio e levou os integrantes para prestar depoimentos na delegacia de Mariana. Durante quase dois dias eles ficaram detidos, respondendo a interrogatórios constantes. “Começaram a fazer uma tortura, não chegou a ser uma tortura física mas psicológica, para que nós disséssemos onde estavam enterradas as armas que Brizola tinha mandado”, conta Derly. Só que, segundo ele, ainda não havia armas, elas de fato seriam mandadas se o golpe tivesse demorado um pouco mais para acontecer mas, depois da proibição de reuniões de cunho partidário, os Onze pararam de se reunir. Nessa mesma época, eles também responderam a processo na Auditoria Militar de Juiz de Fora e foram obrigados a viajar várias vezes para essa cidade. Segundo Derly, “muitos marianenses batiam palmas quando saíamos, ‘dessa vez eles vão e não voltam mais.’” Essa rejeição vinha da crença de que eles eram um grupo comunista, o que era extremamente mal visto, principalmente nos núcleos mais tradicionais da sociedade. Na dissertação de mestrado “Grupos de Onze: a es-

querda brizolista (1963-1964)” Tânia dos Santos Tavares explica essa rejeição: “A rápida proliferação dos Grupos de Onze em todo território nacional deu-se em pleno evento da Guerra Fria e pós Revolução Cubana, o que alimentou o imaginário conservador da sociedade que caracterizou a organização brizolista como comunista”. De acordo com o estudo, setores de direita civil e militar, a imprensa opositora e a Igreja Católica se opuseram a todos aqueles que apoiavam as reformas de base e se identificavam com a ideologia antiamericana. Derly nega o rótulo e diz que na verdade eles eram nacionalistas, lutavam pela pátria e defendiam os direitos da nação. Porém, ele também destaca que a situação poderia ter tomado proporções bastante inesperadas se os objetivos iniciais de Brizola tivessem sido alcançados. “Se os Grupos de Onze tivessem tido mais tempo para se organizar, acredito que o Brasil poderia ter passado por uma situação igual a que viveu o Vietnã. Quando João Goulart recebeu a notícia do golpe, os navios americanos já estavam prontos para invadir o Brasil se houvesse uma resistência. Se tivesse prepara-

ção e armamento para lutar, ia morrer muita gente.” Este ano, 50 anos após o golpe, milhares de pessoas foram às ruas pedir a volta da intervenção das Forças Armadas no país. O principal motivo é a insatisfação com o resultado das eleições presidenciais e a crença de que o período de liderança militar no Brasil trouxe avanços e deQuem pede isso (intervenção militar) é porque não viveu 64” Derly Pedro da Silva

senvolvimento além de melhorias em áreas como educação e saúde e honestidade dentro dos governos. Muitos dos que pedem essa intervenção também defendem a idéia de que o Golpe “salvou” o país do comunismo e que o atual governo brasileiro, principalmente na figura da Presidente Dilma Rousseff, colocou o Brasil de novo em risco. Essas manifestações causaram grande repercussão nos meios de comunicação e redes sociais. Derly se lembra do período da ditadura com muita tristeza e fala sobre as manifestações a favor da interven-

ção militar: “Quem pede isso é porque não viveu 64”. Ele conta que alguns de seus companheiros não abandonaram a luta contra os militares e sofreram perseguições nos anos seguintes ao golpe. No livro “Direito à Memória e à Verdade”, que contém dados sobre pessoas perseguidas, torturadas e mortas nos 21 anos da ditadura militar no Brasil, há registros de outros marianenses que lutaram em defesa da democracia. Entre eles, Carlos Antunes da Silva, acusado de organizar o Grupo dos Onze na cidade. Carlos também foi preso em 1964 e faleceu em 1970 em decorrência de “coma hepático, hepatite crônica e tuberculose pulmonar” que, segundo testemunhas, foram causados por “danos físicos permanentes que resultaram das torturas a que foi submetido na época da prisão”. Outro nome citado é o de Helber José Gomes Goulart, acusado de participar da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma guerrilha urbana, e assassinado em 1973 em São Paulo. Seus restos mortais foram encontrados em uma cova indigente no distrito de Perus, transferidos para Mariana e sepultados no cemitério de Santana em 1992.

Rodolfo Dias

por seu fundador, Padre José Dias Avelar: “Agradeço imensamente e não esqueço dele. Padre Avelar permitiu que o filho do pobre, do ferroviário, do pedreiro, do alfaiate, pudesse conseguir alguma coisa na vida.” Derly se formou no ginásio e no curso de contabilidade, profissão que permitiu que ele ingressasse na Faculdade de Direito em Conselheiro Lafaiete. Durante a graduação, ele continuou morando em Mariana e enfrentava viagens diárias em uma kombi para frequentar as aulas. “Fiz o curso superior com muita luta e muito sacrifício, levando minha própria marmita...” Derly afirma que participava ativamente de manifestações estudantis a favor do povo e das lutas por melhorias. Assim, para ele, fundar em

1963 o Grupo dos Onze em Mariana foi uma escolha natural para quem já estava engajado nas propostas esquerdistas da época. Já advogado, ele ingressou na carreira política e por duas vezes foi eleito vereador da cidade. Foi vice-prefeito no primeiro mandato de Celso Cota em Mariana, mas decidiu abandonar a política depois do assassinato do ex-prefeito João Ramos em 2008. “O que aconteceu foi uma barbaridade. Depois disso resolvi me afastar.” Casado, pai de dois filhos, também advogados, e com um casal de netos, Derly fala com pessimismo sobre o futuro. “A gente espera pelo melhor, mas do jeito que estamos indo, meus bisnetos vão ter bastante dificuldade, pois infelizmente estamos caminhando para o pior.”

Entre o exílio e o acolhimento Luiza Mascari Rua das Flores, número 177. Este é o endereço, em uma das muitas ladeiras de Ouro Preto, que rece-

berá a partir de 2015 escritores estrangeiros perseguidos e ameaçados em várias partes do mundo. Nesta casa, destinada a pesquisadores visitantes na cidade, a Uni-

Rodolfo Dias

Após reforma, casa de pesquisadores da UFOP receberá escritores refugiados

versidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em parceria com a Rede Internacional de Casas de Refúgio (ICORN) e com o PEN Clube do Brasil, criará um espaço para abrigar aqueles que tiveram sua liberdade de expressão oprimida nos países de origem. “Os escritores são muitas vezes os primeiros alvos de ameaças e perseguição. Através da sua escrita, eles dão voz a pensamentos, ideias, debates e críticas, e divulgam para uma ampla audiência”, explica a carta de apresentação do ICORN. Ainda segundo a carta, o fato de estas pessoas exercitarem o direito à liberdade de expressão as torna mais vulneráveis à censura, assédio, prisão, violência e morte. Para ser encaminhado a uma das casas de refúgio, o escritor deve enviar um pedido para o ICORN, que o encaminha o PEN Internacional, onde será avaliado de acordo com a gravidade e urgência do caso. Porém, para ser aceito, o autor não pode ter se envolvido em lutas armadas e a persegui-

ção que sofre deve estar ligada apenas a suas obras. História de lutas Ouro Preto já foi cenário de importantes movimentos de luta contra a opressão, como a Inconfidência Mineira. Seus integrantes também sofreram perseguição e exílio. Dentre eles, muitos escritores e poetas, como Inácio José de Alvarenga Peixoto, Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. A escritora e professora da Ufop Guimomar de Grammont acredita que, por Ouro Preto ter essa relação muito forte com os movimentos de liberdade, é a cidade ideal para receber os escritores refugiados no Brasil. “Por ter um histórico de luta e muitos estudantes, Ouro Preto tem uma reflexão forte na área da política e por isso é uma cidade que sem dúvida acolherá bem esses escritores.” A casa será a primeira do projeto Casa de Refúgio Brasileiras (Cabra) e a pioneira na América Latina. O nome apontado como primeiro morador é o do dramaturgo, poeta e romancista chadiano Koulsy La-

mko, exilado de seu país desde 1983. Lamko já vive em uma casa de refúgio no México e morou em outros seis países, como Costa do Marfim, França e Ruanda. O coordenador de assuntos internacionais da Ufop, professor Carlos Magno de Souza Paiva, explica que o refugiado poderá ficar na casa por até quatro meses e que o escritor será inserido nas atividades da universidade e também receberá alimentação durante esse período. Para o ICORN, o tempo ideal para permanência dos escritores em um país é de dois anos e para conseguir alcançar esse objetivo a Cabra continua em busca de outras parcerias na cidade. Guiomar explica que é importante o envolvimento da comunidade com esse projeto: “Espero que a sociedade de Ouro Preto acolha muito bem essas pessoas, porque elas precisam de muito afeto. Sofreram maus tratos e chegam com medo, com muita angústia. É preciso que seja um acolhimento bastante afetivo para que elas possam superar o que sofreram.”


Dezembro de 2014 Arte: Gabriella Pinheiro

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Sustentabilidade

O verde no lugar do cinza

Hortas urbanas resignificam lugares vazios e refletem nova maneira de pensar a alimentação e o uso do espaço público Raquel Estevão Lima

Hugo Pereira A ocupação de espaços ociosos da cidade com o cultivo de ervas e alimentos resgata costumes culturais ligados à agricultura e à saúde, e estimula o contato com a natureza e o convívio entre as pessoas. Em Ouro Preto, começam a germinar hortas a partir da vontade de pessoas que propõem melhorar a sociedade, dando outros sentidos a lugares inutilizados do quintal, da rua ou de uma escola. A estudante do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Sara Barbosa é voluntária em algumas hortas. “Quando se fala em retorno, a primeira coisa que vem na mente é material, dinheiro, status. Mas o retorno que tenho pessoalmente é ideológico, saber que estou cumprindo minha missão na Terra. Estou contribuindo para o bem-estar das pessoas, com mudanças na educação e nos hábitos alimentares”, comenta. Com a finalidade de conectar as pessoas que já participam de atividades agroecológicas, Sara criou a página

“Agroecologia Ouro Preto” no Facebook. Agroecologia pode ser entendida como ciência, filosofia, movimento social e prática em que a abordagem da agricultura se integra a aspectos agronômicos, ecológicos, antropológicos e socioeconômicos, com o princípio do uso racional dos recursos naturais. No grupo estão produtores de hortas, pesquisadores e voluntários. Eles compartilham apostilas técnicas de cultivo, teorias sobre agricultura familiar, agronegócio, medicina alternativa, fotos das ações nas hortas e propõem trocas de alimentos e sementes. Sara explica que a estrutura do grupo é autogestionária, ou seja, as pessoas se voluntariam espontaneamente a contribuir do modo que quiserem e não há hierarquia. “Estou indo com o intuito de aprender, para que um dia possa aplicar na minha casa e em outras escolas. A horta é um local onde me exercito fisicamente e mentalmente, não tem como ficar parado”, diz Anthony Dias, voluntário na horta da Escola Dom Velloso. O morador do bairro Bauxita, Fernando Six, mantém

Anthony Dias, voluntário na horta da Escola Dom Velloso, espera ser multiplicador das práticas agroecológicas aprendidas no local

uma horta em casa e acha que o costume está se perdendo. “Nossos avós plantavam, hoje em dia não se faz mais, vivemos na correria, estressados. Além de comer alimentos saudáveis, mexer na terra é uma terapia.” Ele também acredita que assim não ajuda as indústrias que contaminam o solo. Raquel Estevão Lima

Aproveitando garrafas pet, horta vertical é opção para o plantio em lugares pequenos

Semear o amanhã Na escola estadual Dom Velloso, situada no bairro Pilar em Ouro Preto, o biólogo e professor de ciências Adriano Zito e o professor de português Anderson Freitas, que tem formação na área de educação ambiental, decidiram repensar a utilização de uma área nos fundos da escola que servia como depósito de lixo durante anos e criaram uma horta comunitária, consequentemente um lugar que possa ser pedagógico nas atividades com alunos. “A ideia aqui é também criar outra postura, outras atitudes, outros pensamentos, buscando outra sociedade que não seja a do agronégocio, da monocultura dominante, do uso excessivo de agrotóxicos. A gente tenta trabalhar a relação harmoniosa com a natureza, sem usar venenos, adubos químicos, sem matar os bichos”, reitera Adriano.

A limpeza do local durou cerca de cinco meses. Foram retiradas três caçambas de entulho, entre carteiras, computadores, madeira e tijolos. Hoje a horta conta com doze canteiros onde cultivam alface, mostarda, almeirão, couve, repolho, tomate, jiló, beterraba, brócolis, cebolinha, pimentão e algumas ervas medicinais como babosa, hortelã, manjericão, alecrim . Complementando a produção de alimentos, Anderson tem observado a melhora do comportamento dos alunos. “A sala com muitas crianças às vezes fica um ambiente tenso e desagradável. Quando o professor sai com os alunos, principalmente em um espaço com natureza, se percebe uma resposta imediata. Eles fazem as coisas, propõem atividades e temos um resultado diferenciado também na sala de aula, com mais respeito, harmonia e conciliação.”

Na Escola Estadual de Ouro Preto, conhecida como Polivalente, situada no bairro Bauxita, o professor de geografia Bruno Reggiani e a professora de educação física Ana Zanoti, projetam uma horta na escola para fazer atividades com os alunos e revitalizar um local que já foi usado para cultivar alimentos nos anos 80 e que se encontra abandonado pelo estado. A Secretaria Municipal de Agropecuária conta com um viveiro onde são produzidas mudas de hortaliças, que são distribuidas para a população, mediante cadastro feito no local. É necessario o documento de identidade ou CPF. O viveiro fica na Rua Dom Helvécio, Bairro Cabeças, na antiga Febem. Informações pelo telefone 3559-3210.

Clima

Calor afeta qualidade de vida Júlia Cunha A mudança ainda é pequena: menos de 1ºC, mas já é sentida. As frequentes variações de temperatura dos últimos anos afetam diferentes setores, como a agricultura e a água. O LAMPIÃO traça um panorama da situação em Mariana e a conclusão é que se não houver cuidado com os mananciais, a cidade pode ficar sem água no futuro. De acordo com o site Mudanças Climáticas (www.mudancasclimaticas.andi.org.br), a temperatura na região Sudeste deve subir de 3 a 6ºC no futuro. Esse aumento, segundo os cientistas, se deve ao desmatamento da Floresta Amazônica, responsável por fornecer à atmosfera cerca de 20 bilhões de litros de água por dia. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Observatório Clima (Seeg), em 2013 houve um aumento de 29% do desmatamento da floresta, que gera a diminuição da evapotranspi-

ração e, consequentemente, a falta de água sentida nas regiões mais populosas do país. Em Mariana, dos 11 mananciais que abastecem a cidade e os distritos, nove vão precisar de ampliação do sistema de distribuição em 2015, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA). Porém, segundo o diretor executivo do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana (Saae), Valdeci Fernandes, os mananciais usados para abastecimento de água são suficientes para suprir a demanda da cidade. “O que nos preocupa, neste momento, é o desperdício de água”, garante. Desde setembro, o Saae tenta realizar um fornecimento igualitário nos bairros da cidade, principalmente nos que estão em pontos mais altos do município. A medida precisou ser tomada devido à estiagem e ao baixo nível dos reservatórios. “Parte das nascentes estão bem protegidas com presença de mata ciliar, mas outras estão com a fon-

te seca devido às muitas queimadas ocorridas durante o ano. Essas terão que ser recuperadas”, aponta Valdeci Fernandes. Para diminuir o desperdício, foi aprovado pelo prefeito Celso Cota, a lei nº2.930 que visa controlar o uso não racionalizado de água. Os moradores que estiverem lavando calçadas e automovéis e molhando as ruas continuamente, nos períodos de estiagem - de agosto a outubro - serão notificados pelos fiscais do Saae e poderão ter o abastecimento de água cortado por até 48 horas, além de pagar multa de 20 Unidades Fiscais do Município, sendo que cada unidade equivale a R$1,89. Nos distritos de Mariana, a população também sofre com a falta de água. “Nas roças as nascentes estão ficando secas. Quando vem a chuva pouca coisa tem se recuperado. Orientamos os agricultores que cerquem as nascentes para evitar pisoteio de gado e para que com o tempo

o lençol freático volte a produzir água”, explica o agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Ronaldo Venga. Queimadas Outra consequência do aumento da temperatura é o crescente número de queimadas, que causam danos à saúde das pessoas, dos animais, prejudicam a colheita e a qualidade da água. De janeiro a novembro de 2014 foram registrados cerca de 60 incêndios em Mariana, segundo dados do Monitoramento de Queimadas e Incêndios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que prejudicaram os manaciais da região. De acordo com o analista de áreas de queimadas do instituto Fabiano Morelli, “a temperatura contribui para o estresse da vegetação deixando-a mais suscetível à propagação do fogo, além de ajudar na emissão de gases que causam o efeito estufa”.

Agricultura Na região, uma das atividades agrícolas mais frequentes nessa época do ano é o milho, que necessita de luminosidade e calor. Porém, como alerta o engenheiro agrônomo Ronaldo Venga, a quantidade de chuva em outubro - período ideal para plantação - não foi suficiente; “É recomendado o plantio até 15 de outubro e esse atraso vai prejudicar a colheita e as vendas”, aponta.

O gerente do Varejão da Estação, José Carlos Sena, comenta que o aumento da temperatura afeta a qualidade de alimentos e eleva os preços. “O jiló, o pepino, as folhosas, o quiabo, a vagem, chegam a ficar 30% mais caros”, afirma. As frutas, como banana, mamão, melancia, maçã e laranja, também são afetadas pelas ondas de calor e estiagem. “O limão chega a ter aumento de até 60%”, aponta.

Consequências do aumento da temperatura

Setembro Foi o mês mais quente do planeta desde 1880

Nove Mananciais de Mariana terão de ampliar sistema de distribuição em 2015

0,72°C Acima da média do século XX foi a temperatura em setembro

3° a 6°C Será o aumento de temperatura do Sudeste no futuro

30%

Percentual de aumento das verduras por conta do calor

60% É quanto o limão fica mais caro devido à estiagem


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Dezembro de 2014 Arte: Elis Regina Saraiva

MEMÓRIA

Relatos de raros ofícios Por trás de paletós, retratos e uma enorme paixão, dois homens costuram e revelam grandes histórias Endrica Fernandes

Endrica Fernandes

Há mais de 60 anos o alfaiate Gildésio e o retratista Márcio desempenham suas profissões com o mesmo entusiasmo e disposição, mas sem a certeza de que elas continuarão a existir

Júlia Pinheiro D. Páscoa Um quarto escuro que despertou a curiosidade de uma criança no início da década de 50. Hoje com 67 anos, Márcio Eustáquio de Souza relembra minuciosamente o que lhe fez se interessar pelo ofício de retratista. “Eu tinha sete anos e observava o meu irmão junto ao meu pai, que era fotógrafo. Eles entravam em um quarto escuro da nossa casa. Até que um dia eles esqueceram a luz acesa e resolvi entrar”. Seu Márcio conta que após descobrir o que o pai e o irmão faziam no cômodo escuro, começou a revelar as primeiras fotografias sozinho. “Eu fazia tudo direitinho e aos poucos a imagem se formava. Era um momento mágico”. Ele afirma, convicto, que o exercício da profissão de re-

tratista “é tudo. A cada imagem que faço e fotografia que revelo penso que ainda tenho muito a aprender”. Em seguida, seu Márcio chama Emanuel, seu auxiliar há cerca de 25 anos. “O Manel trabalha conosco há mais de vinte anos e faz de tudo. Ele é mais do que um colega de profissão, é um grande amigo.” Bastante tímido, Emanuel Heleno da Silva, o “Manel”, conta sobre o prazer de trabalhar ao lado do chefe. “Comecei na loja como pedreiro e com o tempo acabei desenvolvendo atividades relacionadas à fotografia. Grande parte das coisas que eu sei aprendi com ele”, aponta sorridente para seu Márcio. A Marezza Photo funciona há 15 anos na Avenida Salvador Furtado, em Mariana. Por dia, a loja revela e amplia

de duas a três mil fotografias. “Em épocas como o Natal, a loja fecha no horário habitual, por voltas das 19h. Porém, eu continuo aqui sozinho, trabalhando”. Ele também conta sobre a cautela que tem ao exercer a atividade. “Sempre trato a fotografia como algo extremamente pessoal. Eu e Manel revelamos todas as fotografias que passam por aqui, e os clientes confiam no nosso trabalho. Como eu mesmo digo: Vejo mas não olho!” Sobre ser retratista, seu Márcio acredita que exercer o ofício atualmente faz a diferença. “Para mim é mais do que uma profissão, é uma paixão. Uma fotografia significa milhões de palavras. E pela qualidade do nosso atendimento, temos um diferencial”, diz emocionado.

Nos fundos da loja, um acervo demonstra o tamanho da afeição de Márcio Eustáquio pela fotografia. “Coleciono há muitos anos. Eu tenho aproximadamente 400 equipamentos, entre câmeras e filmadoras”. Se o raro ofício de retratista, que revela negativos com sensibilidade e precisão, permanecerá no futuro, seu Márcio afirma: “Prosseguirei até quando puder”. Linhas, cortes e agulhas… Por trás de uma janela, o elegante manequim permanece estático e oferece um simpático sorriso por quem passa pela calçada. No pequeno cômodo localizado na rua do Pilar, número 108 em Ouro Preto, Gildésio Raimundo Santos, mais conhecido como “Gil alfaiate” desenvolve seu

ofício com prazer e orgulho: é o único alfaiate em atividade na cidade. Seu Gil exerce a profissão há 68 anos. Hoje, com 80, relata que desde os 12 começou a desenvolver atividades de alfaiataria. “Eu era o único filho homem da casa e minha mãe era viúva. Resolvi abrir mão dos estudos e comecei a trabalhar como alfaiate. Nunca mais deixei a profissão”. Em meio a réguas de escala, tesouras, fitas métricas e uma antiga máquina de costura, Gil ressalta a ausência de profissionais em atividade. “Hoje em dia não se encontram mais alfaiates. Atualmente não trabalho no mesmo ritmo de antigamente, mas ainda assim gosto de exercer a minha profissão. Ser alfaiate é a minha paixão.”

Sobre a clientela, Gil afirma que apesar das roupas “vindas da China”, seus clientes não abrem mão de vestir paletós sob medida. “Eles escolhem o tecido e eu tiro as medidas.” Após explicar os procedimentos de elaboração das peças, ele mostra um livro. “A maioria dos nomes que estão anotados aí são de clientes que já faleceram”, relata. A respeito da perspectiva do futuro em relação à profissão de alfaiate, Gildésio Raimundo acredita que não existirão mais profissionais atuando no ramo. Mesmo assim, o homem de sorriso acanhado afirma que permanecerá no ofício enquanto puder. “Enquanto eu estiver em condições, mesmo que pouco, continuarei trabalhando. Não podemos parar, não é?!”

SAÚDE

Doar órgãos é amar o próximo Ilustração: Bruna hayashi matsunaga

Natane Generoso A única certeza que temos na vida é a morte. Mas com ela também podemos salvar vidas. Assim funciona a doação de órgãos, que pode ser feita tanto em vida quanto depois da morte. O passo mais importante para ser um doador é avisar a família dessa escolha. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, 56% das famílias autorizaram a doação. Esse número ainda é pequeno, em vista das milhares de vidas que poderiam ser salvas se houvesse um diálogo entre os familiares. Tanto é que o MS lançou em setembro a campanha para aumentar a adesão das famílias. Segundo o MG Transplantes, no ano de 2013 foram realizados 2.292 transplantes, em Minas Gerais, a grande maioria na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O maior número de doações foi de córneas. Contudo, segundo o médico do trabalho e clínico geral Rodrigo Miranda, 39 anos, em Mariana e Ouro Preto não é possível fazer a cirurgia de remoção devido à distância e à falta de equipamentos adequados para realizar o processo. A cidade mais próxima é Belo Horizonte. De acordo com o médico, existe um protocolo com três passos fundamentais para se realizar a cirurgia de remoção. O primeiro é que a família autorize o procedimento; o segundo é consta-

O sangue pode ajudar

O que pode ser doado? Órgãos

Tecidos Fígado

Rins

Pele

Cartilagem

Tecido ósseo

Válvulas Cardíacas

Coração

Pâncreas

Sangue do cordão umbilical Córnea

Medula óssea

Pulmão

Doação em vida Doação após a morte

tar a morte encefálica (feita por dois médicos diferentes); e o terceiro é que a equipe que faz a remoção dos órgãos seja diferente da que detectou a morte encefálica, por questões de ética médica. Morte encefálica A doação de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão ou tecido de receptor por outro órgão ou tecido saudável de um doador, vivo ou morto. O transplante é um tratamento que pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de muitas pesso-

as. Quando é constatada a morte encefálica, a família é informada sobre o possível doador. A partir da autorização a cirurgia é feita de forma gratuita, sendo de responsabilidade do hospital o fechamento do corpo. A morte encefálica é definida a partir da ausência de todas as funções neurológicas. É a definição legal de morte. Isso significa que, como resultado de severa agressão ou ferimento grave no cérebro, o sangue que vem do corpo e supre o cérebro é bloqueado e o cérebro morre. Suas principais causas são: traumatismo crânio encefálico;

acidente vascular encefálico (hemorrágico ou isquêmico); encefalopatia anóxica e tumor cerebral primário. Renato Lopes Moreira, 34 anos, é técnico em Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e sempre pensou em ser doador de órgãos, acreditando que essa deveria ser a escolha de todos. Natural de Viçosa (MG), Renato informou sua decisão à família, que lida naturalmente com sua escolha. A postura é diferente de 147 famílias mineiras que em 2013 não permitiram a doação, de acordo com dados do MG Transplantes.

Não é possível doar sangue em Mariana. Duas vezes ao ano alunos de medicina da Ufop fazem o procedimento em Ouro Preto. Segundo a técnica em Enfermagem do Trabalho Ione de Fátima Lima, 53, quem quer doar preenche um questionário, necessário para evitar a transmissão de doenças a quem recebe o sangue. O cadastro é feito no Centro de Saúde da Ufop, na Bauxita. Caso o sangue seja requisitado, o doador recebe transporte gratuito para a coleta na capital. Pode doar quem tem entre 18 e 60 anos; pesa mais de 50kg; tem parceiro fixo; não usa medicação contínua; não fez cirurgia recentemente; não fez tratamento odontológico ou tatuagem há menos de seis meses . No Hemominas são feitas avaliação psicológica e triagem. O doador, antes da coleta, deve se alimentar bem e não pode beber nem fumar. Só pode ter relações sexuais com proteção. Deve estar descansado. Maiores informações pelo e-mail ionelima@saude.ufop.br ou pelo telefone 3559-1250.


Dezembro de 2014 Arte: Elis Regina Saraiva

cultura

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Eduardo Moreira | Núbia Azevedo

O futuro de Aleijadinho Celebração do bicentenário quer mais cem anos de preservação Silmara Filgueiras Em 2014 é celebrado o bicentenário de morte do maior artista colonial brasileiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. De forma especial, há o cuidado de criar estratégias para assegurar os bens culturais deixados por ele. Em Ouro Preto, entidades e moradores buscam maneiras de preservar a herança material e imaterial deixada pelo escultor, entalhador e arquiteto ouropretano, enquanto historiadores asseguram que são também o trabalho conjunto e o conhecimento repassados para novas gerações que manterão o legado de Aleijadinho. Hanseníase, lepra, escorbuto ou uma doença que deforma o corpo. Marcado por diferentes histórias, a enfermidade que lhe rendeu o codinome Aleijadinho é um conflito que põe em prova a trajetória do artista. “Há controvérsias. Ninguém consegue definir o que ele tinha. O médico que fez a exumação do corpo não falou qual o tipo de doença. Ele viveu muito tempo pra ter hanseníase”, conta o guia turístico Paulo Marcio da Rocha. O sepulcro que guarda os restos mortais de Aleijadinho, junto ao altar de Nossa Senhora da Boa Morte, na Matriz de Antônio Dias, é para os admiradores a certeza de que a doença não o impossibilitou de construir um rico legado de grandes e significativas esculturas e conjunto arquitetônico do período colonial que atraem a atenção de milhares de pessoas. Responsabilidade Parte das esculturas de Antônio Francisco Lisboa está no Museu de Aleijadinho, na Paróquia Nossa Se-

Oportunidade Segundo o chefe do escritório técnico do Iphan, João Carlos Cruz de Oliveira, a comissão também é parte fundamental na criação de uma referência institucionalizada para reconhecer o que é parte da produção do escultor, como forma de as-

segurar o estilo genuíno e sobretudo resguardar e manter o controle do acervo de Aleijadinho. Essa preocupação se deve ao fato de que na época os artistas não tinham o hábito de deixar marcas pessoais que identificassem autoria. Sobre a memória imaterial, a historiadora e assessora de cultura da Secretaria Municipal de Turismo de Ouro Preto Deolinda Alice dos Santos acredita que o melhor caminho para se preservar a memória de Antônio Francisco Lisboa é pela educação. Deolinda se dedica a dar palestras para as comunidades de Ouro Preto e região sobre preservação, com o objetivo de valorizar, reconhecer e divulgar a diversidade cultural do estado. “Um povo sem raiz, sem história, perde a referência e é muito fácil de ser dominado”, pontua. O dia 18 de novembro, morte de Aleijadinho, foi Instituído como o Dia do Barroco, pela Lei 20.470/2012, que garante a relevância da carga cultural de Aleijadinho, não somente para Ouro Preto mas no cenário nacional. Momento para reverenciar a cultura popular e assegurar o conhecimento às futuras gerações, a data é a oportunidade de manter a memória de Aleijadinho por mais centenas de anos. O Cônego Luíz Carlos Carneiro, presidente do Museu de Aleijadinho, aposta no aperfeiçoamento por meio do projeto político-pedagógico para atender melhor as escolas da cidade e os visitantes. Para ele, só é possível pensar no futuro com uma obra conjunta e a conscientização da necessidade de preservação desse patrimônio que pertence à humanidade.

Silmara Filgueiras Guiada pela tradição e pelas expressões artísticas, Mariana mostra a riqueza local por meio de bonecos gigantes, carnaval de marchinha, procissões, congado, artes plásticas e bandas de música. Porém, para a arte acontecer é preciso investimento. A geração de músicos e bandas independentes, os festivais e as apresentações de projetos sociais, para planejarem o futuro e construir um

nome no cenário da cidade, se deparam com algumas dificuldades. Com interesse pela música desde a infância, o integrante do Grupo Seis no Samba Reginaldo Vilela conta que enfrenta obstáculos devido à insuficiência de investimentos, falta de apoio e a desvalorização da categoria. Segundo ele, a banda tem gastos altos na compra de instrumentos musicais de qualidade e na produção de shows. O grupo que

existe há quase seis anos apresenta shows em bares e festas da cidade e região, além de participações importantes, como no carnaval da cidade, feito pela Prefeitura.“O grupo é um hobby que está tomando caráter profissional”, afirma. Como músico, Reginaldo reconhece a importância do intermédio de um produtor musical para apoiar e promover o grupo e explica que dessa forma as dificuldades poderiam ser amenizadas.

nhora da Conceição, no bairro Antônio Dias, em Ouro Preto. Este importante local, que guarda a exposição permanente do conjunto artístico, acarreta a responsabilidade de garantir a transmissão da história aos visitantes, na forma oral e no cuidado com as peças. O museu garante que todas as obras sejam submetidas a cuidados como higienização e reparo de pequenos danos, sendo restaurações que exijam cuidados mais específicos submetidos a órgãos especializados. Em agosto, o Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) instituíram a Comissão Especial de Assessoramento sobre a obra de Antônio Francisco Lisboa, como forma de ressaltar os trabalhos de preservação. Essa comissão reúne profissionais capacitados nos âmbitos artísticos, tecnológicos e jurídicos, com o objetivo de criar métodos para realizar levantamentos documentais sobre o artista, bem como atualizar e consolidar sua biografia e sustentar estudos para não perder a dinâmica de preservação. O Iphan e o Ibram fiscalizam os profissionais especializados que atuam na restauração da coleção disponível e o Corpo de Bombeiros atua na fiscalização, prevenção e combate de incêndio.

Legado do artista inclui a Igreja São Francisco de Assis, projetada por ele

Arte apesar dos desafios Núbia azevedo

Grupo Seis no Samba, fundado em 2008, dribla falta de investimentos e de apoio para fazer shows

O produtor cultural Luciano Almeida diz que o investimento de grande carga na cidade é de fato na realização de festividades tradicionais. “Os investimentos [da Prefeitura] são pautados em eventos, não em uma política cultural propriamente dita e os patrocínios são voltados para o turismo, não para a comunidade. Há algumas ações que são voltadas para a população, mas política de investimento, pensada, não há”, conta. O coordenador da Secretaria Municipal de Cultura, José Luiz Papa, afirma que “a cidade possui capital cultural diversificado e é de grande importância auxiliar os artistas para que se possa manter a tradição”. Ele pontua que neste ano foram gastos R$ 41 mil com cada banda, além de citar gastos com na a sede da Associação Marianense de Artistas Plásticos (Amap) e com a realização do Encontro Internacional de Palhaços e a 8ª Mostra de Bonecos. Alternativas Produtor na Cia. Navegantes de Marionetes, Luciano indica que há outros meios para captação de recursos, como parcerias locais, circulação de espetáculo, pré-agenda para contratações de festividades importantes na cidade, editais de empresas privadas e projetos federais e estaduais de incentivo à cultura. Em 2013 a companhia foi contemplada em um edital do Governo

do Estado pelo projeto Cena Minas, que seleciona, anualmente, projetos de grupos e realizadores de teatro, dança e circo de Minas Gerais. Luciano explica que o investimento é por meio de recurso direto, ou seja, o dever dos participantes é na entrega de um produto final. A Cia. Navegantes foi contemplada na categoria de manutenção de espaço, que além de abrir o Ateliê Catin Nardi para visita de turistas e comunidade, implantou a primeira oficina da Escola de Teatro de Bonecos. Fruto do investimento, os oficineiros produziram o espetáculo lançado na 8ª Mostra de Bonecos, o Organista: Cenários Históricos de Minas. José Luiz Papa, da Secretaria de Cultura, afirma apoiar os artistas da cidade, desde os tradicionais às bandas independentes. “A cultura tem o poder de crescimento. As bandas que estão iniciando tem o mesmo potencial artístico das que tem mais tempo de carreira. Porém é necessário organização e as pessoas têm que procurar se profissionalizar para que a Prefeitura possa também fazer sua parte”, explica. A incerteza do futuro em fazer arte é um desafio a que todos os artistas estão sujeitos. A escassez dos recursos diretos, a desvalorização que as bandas de garagem enfrentam e a falta de apoio profissional dificultam o processo artístico. A alternativa que Luciano aponta é a ação colaborativa entre os grupos para manter viva a cultura local.


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Dezembro de 2014 Arte: Carol Antunes

ENSAIO

Brunello Amorim (Texto) Eliene Santos (Fotos) É o leve movimento da Terra em torno de si mesma que faz o tempo passar. Você nem sente, mas o tempo passa sim. E passa assim. O tic-tac do relógio na madrugada marca o pensamento vazio de quem vislumbra o futuro. Marca também o vazio da cabeça daquele que sente saudades do passado. O relógio torna-se, portanto, o objeto mais material e palpável que marca a passagem do tempo. Como diz Mário Quintana: “o relógio de parede é o mais feroz animal doméstico”. A passagem do tempo, essa coisa paradoxal que aterroriza e atormenta muita gente. A criança quer crescer logo. Passa, tempo! O adulto quer voltar a ser criança. Volta, tempo! Bem-aventurado o Peter Pan que viveu na Terra do Nunca, eternamente criança. Será? O natural é a passagem do tempo. O ideal é que ele passe da melhor forma possível. O especial são as marcas que ficam com o passar dos dias, semanas, meses e anos. O tempo nunca para e nem precisa. Marca-se o tempo, por que não fotografar cada momento da vida e não se esquecer de que tudo passa? Sempre passa. Ah, a cachoeira! Ainda bem que a água continua límpida. Tudo bem que entre uma estiagem e outra o volume diminui. Todavia, continua sendo o melhor lugar de ir, correr, brincar, nadar e parar para descansar na pedra. Passa, tempo. E passou... É bom que o tempo passe. Faz uma música com o tic-tac do relógio e verás como pode soar bem o movimento de rotação da Terra. É que junto com as rugas e os cabelos grisalhos de um músico vem o amadurecimento. Apesar dos pesares, o desafio continua e a vida prossegue, música por música, como um belo concerto de orquestra. Ora, a beleza da jovem miss agora só amadureceu. Nenhum problema com o envelhecimento. É assim que acontece, não é? Afinal de contas, em cada ruga encontra-se uma beleza. A beleza também vem de dentro pra fora. E que beleza ver o tempo passar e relembrar com serenidade o quão proveitoso foi a juventude. E aí imagine você agora, com quase um século de vida. O sorriso continua no rosto. Como é bom envelhecer. Como é bom compreender e aceitar o natural. Ainda bem que temos as fotos para relembrar os tempos saudosos. Forma de marcar a passagem do tempo. E passou!

Fotos de cima para baixo: Amadeu da Silva, aos 39 e aos 82 anos Stela Gomes Chaves, aos 20 e aos 94 anos Líria Toffolo, aos 17 e aos 62 anos Thais Ester Gonçalves, aos 3 e 14 anos, e Thalia Aparecida Gonçalves, aos 5 e 16 anos


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