Jornal Lampião - edição 18

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Abril de 2012

Arte: Nome dos Editores

Arte: Lucas Campos | Foto: Catarina Barbosa

Jornal - Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 5 - Edição Nº 18 - Abril de 2015

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arte: fabiano alves

Editorial

charge

Resistência e confiança Ao caracterizar uma de suas personagens, o escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald afirma que “havia nela uma desconfiança madura por tudo o que fosse trivial, fácil e vulgar”. Como a personagem, existe no LAMPIÃO uma desconfiança e luta constantes contra um jornalismo superficial: trivial, fácil e vulgar. Buscamos, como estudantes, nos integrar à população marianense e ouropretana. Visamos dar voz às suas necessidades, estimular reflexão, incitar debate, apresentar diferentes perspectivas. Na busca por esse jornalismo de qualidade, com a insistência típica e perseverante do bom repórter, o LAMPIÃO vem encontrando resistência no diálogo com algumas fontes importantes. E, sem a devida disposição ao debate transparente, a construção de nossas matérias é dificultada.

Quando fontes oficias como prefeituras e institutos não falam com nossa equipe, quem mais perde não é o jornal. A população é a maior prejudicada. Com tal obstáculo, a comunidade deixa de obter informações de interesse público, que deveriam ser garantidas por direito. Nos perguntamos o que desencadeia essa resistência. Seria a desconfiança da seriedade do nosso jornal, produzido exclusivamente por estudantes? As fontes se sentem desconfortáveis pelo que já publicamos? Ou seria mero descaso em divulgar à cidade dados de interesse público? Independente das razões, o LAMPIÃO se recusa a ser um jornal superficial, descompromissado. Continuaremos prezando pela seriedade na apuração, pela ética jornalística, pelo compromisso com o nosso leitor e com a região onde atuamos.

Por outro lado, percebemos e agradecemos a crescente confiança da população regional na equipe do LAMPIÃO. Moradores procuram nossa equipe para pedir que assuntos de seu interesse sejam abordados, por acreditar em nosso trabalho. A matéria sobre a limpeza urbana de Ouro Preto, sugerida por pessoas da cidade, é resultado do que buscamos: responder às demandas da população. Na produção de todas as edições do LAMPIÃO, evidenciamos a importância do trabalho em equipe. E ela não se limita à nossa redação. Contamos com vocês, leitores, moradores, fontes, para a produção de um jornal LAMPIÃO mais completo. Nos procurem quando precisarem. Com vocês, idealizamos um ambiente de transformação e compartilhamento, em um LAMPIÃO que ofereça cada vez mais luz.

Crônica catarina barbosa

OPINIão

Imputabilidade penal e seletividade do sistema punitivo

André de Abreu Costa Professor Assistente de Direito Penal e Criminologia do Curso de Direito da UFOP

No dia 31 de março último, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição no 171/1993 que, alterando o art. 288, da Constituição da República, torna imputáveis – responsáveis penalmente – os maiores de 16 anos, alterando a redação anterior que previa essa responsabilização a partir dos 18 anos. Para tratar do assunto, preciso fazer duas observações prévias: a) desde já, afirmo que sou absolutamente contrário a essa alteração no texto constitucional; b) minha fala – como qualquer fala – se faz a partir do meu locus de estudo e trabalho, que são as Ciências Penais, e, portanto, pode e deve ser colocada sob teste por quem me lê. Pois bem, feitas essas observações, justifico minha discordância com a mencionada alteração constitucional, se aprovada em plenário, em pri-

meiro lugar, com argumentos quantitativos. O Brasil, segundo projeção do IBGE, tem, hoje, cerca de 204 milhões de habitantes. Conforme tornou público o Conselho Nacional de Justiça, atualmente, somos a terceira nação em número de encarcerados. Em número arredondados e contando os que estão em prisão domiciliar, temos cerca de 715.000 pessoas presas. No sistema penitenciário, há um déficit de cerca de 350.000 vagas. Somemse a estes números, ainda, o fato de existirem cerca de 380.000 mandados de prisão em aberto, sem cumprimento. Os dados são grandiosos, não?! Quanto aos adolescentes, segundo o Censo Demográfico do IBGE, há cerca de 22 milhões deles no Brasil. Com dados de 2011, o Ministério da Justiça, pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, afirmava que menos de um por cento dos “crimes” praticados no Brasil o eram por pessoas entre 16 e 18 anos. Dessa forma, é possível afirmar-se, categoricamente, que o problema da criminalidade no Brasil não está nesses adolescentes. Medidas como essa que se pretende adotar com a PEC 171/1993 não estão dirigidas a elucidar as origens do problema da delinquência, nem a minimizar a seletividade do modo

como encarceramos no Brasil – e este é o segundo motivo de minha discordância. Os dados extraídos do InfoPen do Ministério da Justiça, em 2012, são claros: a maior parte de nossos presos, hoje, são jovens entre 18 e 29 anos, do sexo masculino, de cor parda ou negra, solteiros, de baixa escolarização, autores de crimes contra o patrimônio. Minha opinião sincera é de que estamos dando uma solução simplista para um problema extremamente complexo, decorrente da nossa desestruturação social e da patrimonialização do nosso Direito Penal: um estado que se dedica a punir não tem interesse em melhorar as condições concretas de vida das pessoas. E investiu mal! Um penalista espanhol, chamado Jesús María Silva Sánchez, afirma, em obra chamada a Eficiência no Direito Penal, que há duas maneiras de tornar o sistema punitivo eficiente: uma, investindo nas condições estruturais de vida social, reduzindo o espaço de sancionamento penal; outra, construindo espaços para o encarceramento da “população criminosa”, retirandoos de circulação. Por ora, ao aprovar na CCJ a PEC 171, parece que fizemos nossa escolha, não?!

Os tantos Carlos dentro dos armários Lara Cúrcio

Meu amigo Carlos disse que é meio apertado lá dentro, mas aqui fora não parece ser tão libertador com seguidores de Felicianos, Cunhas e Bolsonaros exalando seus discursos de ódio sob o pretexto da liberdade de expressão. Se lá, por vezes, é escuro e falta o ar, aqui, eles ainda insistem em respirar intolerância e expiram preconceito. Sair do armário é mesmo muito difícil com tanta gente tentando te empurrar de volta. Carlos me contou que lá dentro não tem quase nada azul. O rosa divide espaço com o jeans rasgado, as blusas de super herói e os shorts curtos. No canto esquerdo, bem enfileirados, estão os tênis e sobre eles as chuteiras e um par de saltos, brigando por espaço com os jogos de tabuleiro, videogame e os CDs de Fifty Harmony com as capas do

Guns`n`Roses. Não entendo qual a necessidade de encaixar tudo nas gavetas: cuecas, meias, blusas... cada coisa necessariamente com um lugar predefinido e separado. Carlos é uma pessoa intrigante e eu admiro isso. Gosto da ideia da ambiguidade: aquilo que pode ter mais de um sentido ou significado. Com um mesmo pano se faz uma calça e uma saia, então, qual o problema em vestir os dois? Por uma brecha entre as portas, vi as prateleiras. Estão uma bagunça. Tem caixas que ele já me mostrou uma vez. Lembro de ter visto nelas algumas fotos de quando Carlos era criança. Tem aquela de mãos dadas com uma menininha, aquela outra com as roupas da irmã mais velha e uma que adoro – Carlos nem deve se lembrar, mas fui eu quem dei o clique na máquina. Ele estava sentado sobre

uma cadeirinha dessas de escola, completamente nu. O sorriso no rosto, os gestos largos e o modo como não parecia sentir vergonha em se exibir para todos na sala me fazem pensar, até hoje, como ele parecia se sentir livre naquela época. Carlos devia ter uns quatro anos, pelo que recordo. Fazia pirraça para entrar pro banho e achava lindo posar para a câmera – na época ainda se usava o negativo e revelavam-se fotos. Hoje, meu amigo não acha mais “revelar” um verbo prazeroso. Uma das portas está emperrada há um bom tempo. Me dá agonia ver meu amigo se prender desse jeito. Pensei que por dentro seria mais fácil consertar, mas parece que a dobradiça não é muito maleável. Talvez por ser bem antiga e de tanto que as pessoas na casa de Carlos teimam pressionar aqui de fora, deve ficar difícil abrir.

Jornal-Laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto – Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza, Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Benedito Donadon Leal, Chefe de departamento: Profa. Dra. Virgínia Alves Carrara. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Denise Figueiredo Barros do Prado – Professoras responsáveis: Karina Gomes Barbosa (Reportagem), Ana Carolina Lima Santos (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editora chefe: Lívia Monteiro - Editora de texto: Lara Cúrcio - Editor de Arte: Lucas Campos - Editora de fotografia: Catarina Barbosa - Editoras de Multimídia: Isabela Porto, Luiza Souto e Marina Morgan - Repórteres: Andrezza Lima, Anna Flávia Monteiro, Bárbara Torisu, Cleonice Silva, Daniela Felix, Fábio Melo, Gabriel Campbell, Julia Cabral, Luana Barros, Rodrigo Almeida, Sandro Aurélio, Taíssa Faria, Thaís Medeiros e Thatyanna Mota - Fotógrafos: Ádrean Larisse, Fábio Pereira, Felipe Guadalupe, Francielle Oliveira, Gabriela Santarosa, João Vitor Marcondes, Laene Medeiros, Mariana Araújo e Silvia Cristina Silvado - Diagramadores: Camila Gonçalves, Fabiano Alves, Gabriela Ramos, Igor Capanema, Larissa Pinto e Letícia Cristiele - Revisão: Gabriela Santos e Ingridy Silva - Monitoria: Carolina Brito, Silmara Filgueiras e Stênio Lima - Colaboradores: André de Abreu Costa e Thiago Guedes Cunha de Moura. Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, n° 166, Centro, Mariana - MG. CEP 35420-000 lampiao@icsa.ufop.br

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arte: fabiano alves

Cidade

Melhorias a passos lentos

Moradores são prejudicados pela falta de informação em reformas do Centro Histórico de Mariana e os impactos não são amenizados felipe guadalupe

Transtorno. Dom Viçoso ficou mais de um mês obstruída

Luana Barros

O centro histórico de Mariana vai ficar mais bonito. Só não se sabe quando e por qual valor. As obras em ruas bicentenárias da cidade têm valores desencontrados, prazos desconhecidos e pouca divulgação. Segundo a Secretaria de Obras da Prefeitura, os projetos de troca da fiação elétrica e telefônica aérea pela subterrânea, com instalação de lampiões, são pensados para a valorização do patrimônio e por medida de segurança, já que também há instalação de hidrantes que auxiliariam os bombeiros em caso de incêndio na área tombada. No entanto, o preço pago pelos marianeses é a falta de informação sobre os custos e o que está sendo feito. No site da Prefeitura há dois valores divulgados: um de R$ 5 milhões e outro de R$ 8 milhões. Até o fechamento do LAMPIÃO, moradores da Rua D. Viçoso tiveram o abasteci-

mento de água prejudicado e os pedestres circulavam por buracos e máquinas. Outro problema citado pelos moradores foi o perigo ao dividir espaço com motos e carros que trafegam no caminho improvisado, já que os passeios estavam ocupados pelas pedras retiradas do calçamento. A reestruturação do Centro Histórico foi dividida em duas etapas. A primeira já passa de nove meses. Segundo a Prefeitura, a obra em 11 ruas deveria ter sido entregue em janeiro deste ano. O LAMPIÃO apurou que para a conclusão desta fase ainda há quatro ruas que não passaram por nenhum tipo de modificação. Para a segunda etapa ficam as ruas mais baixas do centro, como a Rua Salvador Furtado (rua dos bancos). O assessor técnico de Controle de Contratos e Orçamento da Prefeitura, Leonardo Rodrigues dos Santos, justifica o atraso: “O projeto inicial previa a adaptação de

toda a fiação subterrânea e a manutenção das tubulações de água e esgoto. Mas ao perfurar a Rua Capitão Gomes J. de Araújo, percebemos que a rede de drenagem pluvial estava danificada.” A troca dessas manilhas foi incluída emergencialmente no projeto, que precisou ter o prazo estendido. A Prefeitura não divulgou a nova data. De acordo com a atendente Gisele Pereira, 37 anos, as pessoas precisavam se esforçar para ir de uma ponta a outra da rua. Ela faz esse caminho para almoçar no centro todo dia e reclama: “A gente teve que improvisar um lugar para passar, as máquinas não paravam. Tivemos que fazer malabarismo para seguir caminho. Nos passeios havia vários obstáculos. O passeio ficou quebrado e com pedras”. Ivone Machado, 64, desde que nasceu mora na Rua D. Viçoso e, apesar de achar as mudanças importantes, se queixa que a Prefeitura en-

tregou a obra ã empresas terceirizadas sem comunicar aos moradores o que seria feito. “Para dar passagem aos cabos de energia e telefone quebraram um pedaço do meu muro, assim como em quase todas as casas da rua. Não fui comunicada e levei um susto quando cheguei em casa e vi o que havia sido feito. Para tentar entender o que os procedimentos que têm sido feitos na rua preciso questionar os trabalhadores”, relata. O assessor técnico da Prefeitura Leonardo Rodrigues nega a surpresa. Segundo ele, durante uma semana houve vistoria, medição e fotografia de cada fachada que sofreria modificação para levar toda fiação subterrânea pelas paredes. Nesse período, os moradores teriam sido informados sobre a intervenção, mas a Prefeitura não respondeu ao LAMPIÃO como foi feita a notificação nem o motivo de alguns moradores não terem sido avisados.

Projeto PAC Cidades Históricas segue sem previsão para início e término de obras Obras religiosas

Obras políticas/culturais

8 obras R$ 25.942.098,00

10 obras R$ 32.700.000,00

10 milhoes

r$0

Largo do Santo Antônio

Casarão dos Morais

Museu Vieira Servas

Sobrado da Rua Direita

Museu da Arte Sacra

Centro Cultural do ICHS Casa do Conde de Assumar

Centro de Artesanato

Capela Santo Antônio

Capela Nossa Senhora da Boa Morte

Capela Nossa Senhora Rainha dos Anjos

Igreja Nossa Senhora das Mercês

2 milhoes

Igreja do Rosário

4 milhoes

Igreja Nossa Senhora da Conceição de Camargos

6 milhoes

Igreja Matriz Bom Jesus do Monte

8 milhoes

Igreja São Caetano (Monsenhor Horta)

tegrante da comissão do PAC, Franz Müller, hesita: “Pode ser que as reformas gerem empregos ou renda para o comércio local”. O LAMPIÃO também procurou saber sobre a acessibilidade dos patrimônios a pessoas com necessidades especiais. “Precisamos pensar nisso, mas temos dificuldades. Em um projeto de restauração uma rampa de acesso não foi aprovada pelo Iphan. Pode ser que as obras do PAC também passem por essa desaprovação.” O LAMPIÃO tentou contato via e-mail, telefone e presencialmente com o Iphan, mas não obteve resposta.

Igreja São Francisco de Assis

to do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o subaproveitamento do potencial econômico e simbólico das cidades. Mariana é tombada pelo Iphan desde 1945 e deve receber aproximadamente R$ 67 milhões do governo federal para restauros e novos museus. Não há verba municipal prevista. O patrimônio que mais receberá investimento é a Catedral da Sé, do século 18: R$ 9,5 milhões. O prédio mais novo a ser reformado é a sede da Prefeitura. Sobre os impactos sociais gerados pelas obras, o secretário adjunto de Engenharia e Arquitetura da Prefeitura e in-

Catedral da Sé

Somente seis dos 15 projetos de restauração em Mariana custeados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Cidades Históricas) estão aprovados e sendo analisados em Brasília para abertura da licitação. A previsão era de que os restauros tivessem começado em 2014, segundo o site da Prefeitura. Não há prazos de início e fim das obras em Mariana, enquanto outras cidades que integram o programa, como Ouro Preto, já tiraram os projetos do papel. O PAC visa reverter o processo de degradação do patrimônio, que tem como uma das causas, segundo o Institu-

Fonte: Prefeitura de Mariana

Associações de Mariana cobram avanços Daniela Felix

A reforma da quadra poliesportiva do Bairro Rosário foi retomada no final de fevereiro. Segundo os sites oficiais da Prefeitura e da Câmara de Mariana, a obra esteve paralizada por mais de um ano já que a GV Estruturas Metálicas LTDA, empresa que ganhou a licitação, teria abandonado o serviço. Segundo a Prefeitura, a quadra terá vestiários, pista de caminhada e academia ao ar livre. Graças à mobilização dos moradores do bairro, o Executivo ouviu os questionamentos e reclamações em relação ao término da obra. Após o pedido ter sido atendido, a comunidade reativou a Associação dos Moradores e Amigos do Rosário para amplificar a união do bairro. O projeto da nova quadra também conta com uma sede para a associação. O Rosário não é o único bairro do município que possui associação de moradores. De acordo com o presidente da Federação das Associações de Moradores de Mariana (Feamma), Benedito Alves Ferreira, existem 46 associações, sendo que a cidade possui 31 bairros e dez distritos, além de 11 subdistritos e 16 comu-

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nidades próximas a eles. Segundo Benedito, a federação capacita, treina e fiscaliza as associações, com o propósito de construir uma vida melhor para os marianenses. A Feamma se reúne com elas a cada dois meses no Centro de Convenções do município. Nesses encontros, cada uma traz suas demandas, que são discutidas, votadas, protocoladas e enviadas às secretarias correspondentes. As principais para este ano são: construções (em especial de quadras, centros comunitários e creches), inclusão digital, cursos de línguas, iluminação e segurança pública, manutenção e limpeza de estradas, coleta de lixo, tratamento das redes de água e esgoto e instalação de antenas de telefonia. O presidente da federação deixa clara a necessidade de representantes de bairros para resolver questões de interesse comum: “Se você reclama sozinho, é só um enjoado a mais. Mas se você for à Prefeitura com uma ata de uma reunião feita com a associação, com várias assinaturas, vale muito mais.” Apesar de o número de associações ter aumentado, elas ainda encontram dificuldades. Benedito assegura que das 46,

francielle oliveira

Conquista. Prefeitura retoma obras na quadra do Rosário

apenas 12 estão regularizadas, com documentos registrados e atualizados no cartório, e em dia com a Receita Federal. As 34 associações restantes possuem dívidas que chegam a mais de R$ 140 mil. Maria Paula Teixeira, vice-presidente da Associação de Moradores da Colina do São Pedro, conta que um dos maiores problemas que a associação enfrenta é o fato de não ter sede, e por isso, não consegue se reunir com os moradores. Ela também diz que o bairro não é unido e que as pessoas só se mobilizam “quando a coisa fica feia”. Já a presidente da Associação de Moradores do Alto do Rosário, Kátia Maria dos Santos Quirino, diz que Mariana está acordando,

começando a questionar: “O povo não aceita as coisas da mesma maneira de antes, mas para uma manifestação incomodar de verdade teria que ser uma paralisação geral, juntando universitarios, marianenses e associações”. Para a aposentada Sonia Maria Daher, moradora do Rosário há mais de 25 anos, as associações fortalecem e estreitam os laços de toda a comunidade, que deixa de se importar apenas com questões de interesse particular e começa a lutar por melhorias em todo o bairro. Sonia espera que seu neto de 1 ano faça uso da quadra poliesportiva, pois a precariedade do patrimônio sempre impediu que seus filhos o frequentassem.

Ouro Preto fará parte de rede de mobilizaçao nacional O município está entre os sete que foram escolhidos para compor a Rede Nossas Cidades. Segundo a responsável pelo projeto na cidade histórica, Adelaide Luiza Novaes Dias, a rede de mobilização foi fundada em 2011 e tem como objetivo criar e fazer uso de plataformas on-line que possam ajudar, direcionar e estimular o cidadão a lutar por seus direitos, tornando sua cidade um lugar melhor para viver. Para dar início ao projeto, a arquiteta de 25 anos teve que arrecadar R$ 6 mil em um prazo de 35 dias, mas a meta foi alcançada uma semana antes do previsto. Esse valor é destinado ao seu treinamento no Rio de Janeiro. Uma parcela, 13%, é repassada ao Catarse, ferramenta on-line por onde foram feitas as doações, e a quantia restante reservada ao caixa inicial da Rede Minha Ouro Preto. Ao todo, foram 142 doadores. Após o treinamento, Adelaide dará início ao processo de incubação, que consistirá na busca de voluntários para compor a rede, além do

desenvolvimento de plataformas que possam ajudar na discussão e solução de problemas apontados pelos ouropretanos. Esse processo está previsto para o início de maio, com duração de aproximadamente um ano. A idealizadora do projeto conta que as condições do transporte público e o aumento da tarifa, além da falta de diálogo entre Ouro Preto e seus distritos, foram alguns dos principais problemas apontados pelos moradores, e pretende voltar com propostas de ações para resolver questões como essas. A Rede Nossas Cidades foi contemplada com prêmio do Desafio de Impacto Social da Google Brasil. Com esse dinheiro, o movimento pretende abranger 20 cidades brasileiras e dez ao redor do mundo em até cinco anos. Os aplicativos criados pela Rede permitem que qualquer pessoa pressione o poder público e privado diretamente, através de e-mail, redes sociais ou telefone, alem de criar e discutir soluções para o municipio e vigiar espacos públicos.

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Arte: gabriela ramos

CIDADEs

Ouro Preto sofre com lixo

Sem licitação, serviço de limpeza desagrada população e vereadores são impedidos de fiscalizar os trabalhos da empresa responsável fábio pereira

ádrean larisse

Reclamações. Insuficiência na coleta e ausência de capina nas áreas públicas são queixas constantes dos moradores dos bairros Antônio Dias e São Cristóvão, respectivamente Thatyanna Mota

A equipe de reportagem do LAMPIÃO recebeu reclamações de moradores de Ouro Preto sobre os serviços de limpeza urbana. Procuramos entender como eles são feitos e apuramos que a Construtora Império LTDA é responsável, desde 2013, pela coleta e destinação do lixo domiciliar, dos resíduos da construção civil e da saúde, capina, pintura de meio fio e limpeza de vias e logradouros do município. Os servidores efetivos da Prefeitura, basicamente, limpam o centro histórico. A empresa já recebeu mais de R$ 15 milhões pelos serviços prestados, mesmo sem processo licitatório. A tentativa, em 2014, de organizar o edital para concorrência pública foi barrada pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). Enquanto isso, os moradores reclamam da qualidade e frequência dos trabalhos de limpeza. A rota feita pelos caminhões de coleta e o desconhecimento, por parte dos vereadores, do contrato da empresa geram questionamentos sobre a transparência nesses serviços. Até o fechamento da edição não tivemos resposta da Prefeitura sobre o motivo da suspensão do processo licitatório, o conteúdo do contrato com a Império e esclarecimentos sobre as mudanças no valor pago à construtora desde o início do ano. O vereador Chiquinho de Assis (PV) afirma que desde 2012 há problemas com licitações para os serviços de limpeza na cidade. Ele diz que no governo anterior a Ecosystem Serviços Urbanos ganhou a concorrência, mas o processo foi questionado. A empresa trabalhou por nove meses sem licitação e a Império assumiu os serviços, em 2013, da mesma forma. O vereador aponta a falta de chamada pública para tal dispensa: “Por que só a Império? Outras empresas talvez fariam o serviço por um preço menor”, questiona. De acordo com o gerente da unidade, Wilder Silva, a Império trabalhou para a Prefeitura com o contrato emergencial, que na Lei de Licitações tem prazo de 180 dias. Depois do período foi iniciado um acordo de dispen-

sa justificada no valor de R$ 569 mil mensais, que ainda vigora. Isso significa que a empresa trabalha na cidade, há mais de dois anos, sem ter vencido a licitação. Em 2014 a Prefeitura tentou abrir o processo licitatório, mas o TCE-MG suspendeu o edital, a partir de uma denúncia. Como o processo tramita em caráter sigiloso, não é possível confirmar os motivos da suspensão. De acordo com os vereadores Alysson Gugu (PPS) e Chiquinho de Assis, o Ministério Público barrou o edital do processo licitatório pois permitia uso de capina química. Em Ouro Preto há uma lei municipal - 324/2007, de 2013 - que estabelece normas de controle e procedimento de autorização para o uso e armazenamento de herbicidas. É preciso que as empresas apresentem um Plano de Aplicação de Capina Química e que ele seja aprovado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental (Codema). Os vereadores afirmam que foi protocolada, no ano de 2014, uma CPI para investigar as questões do lixo no município. No momento eles aguardam o Presidente da Câmara, Thiago Mapa (PP), nomear a comissão. Moradora do São Cristóvão, Jéssica Christini, afirma que a área de lazer do bairro ficou muito tempo sem limpeza. “O mato fica muito alto, sem contar que carrapatos, ratos e gambás aparecem. Estamos falando da entrada da cidade, isso é uma vergonha”, reclama. A quadra foi inteiramente limpa no dia 9 de abril, segundo Chiquinho de Assis, pela Allpex Serviços Especializados, vencedora da licitação de 2013. A empresa teve o contrato suspenso em outubro por falta de verba da Prefeitura e voltou a receber, este ano, pelos serviços de implantação e manutenção de jardins, praças e áreas de lazer. A responsável pelo Departamento de Limpeza Pública da cidade, Fabiana Cecília Barbosa, afirma que a limpeza é feita de segunda à sábado, durante o dia, e que há um cronograma, mas o roteiro sofre intervenções devido, por exemplo, à programação da Semana Santa. “Se tivesse a capina química manteríamos de três em três meses, mas tem lugar

que precisamos ir mais vezes ao mês, porque o mato cresce muito com essas chuvas”, completa. Vale lembrar que em janeiro deste ano, o Serviço de Água e Esgoto (Semae) estabeleceu rodízio no abastecimento de água da cidade devido à falta de chuvas. Capina química O uso de herbicidas parece estar no centro da controvérsia sobre a limpeza em Ouro Preto. Em março, uma caminhonete da Império foi apreendida pela Polícia Ambiental na tentativa de realização de capina química. A empresa não possuía licença do Codema para fazer o procedimento na cidade. De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, de 1998, o não cumprimento do regulamento do uso de substâncias tóxicas à saúde humana e ao meio ambiente pode gerar pena de um a quatro anos, além de multa. Segundo o gerente da Império, a Prefeitura não tinha conhecimento da irregularidade. A decisão foi tomada por ele a fim de concluir os trabalhos em tempo hábil para a Semana Santa. “Não tínhamos outra alternativa que não o herbicida. Mesmo colocando todas as equipes à frente do serviço, não ia dar tempo de fazer todo o percurso das procissões sem a aplicação”, reconhece. De acordo com o boletim de ocorrência, a Império foi multada em R$15.026,89. A empresa pretende recorrer e o prazo é de 20 dias. Em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso de herbicidas em capinas químicas nas áreas urbanas. Em nota técnica, o órgão afirma que “ficou evidente que não seria possível aplicar medidas que garantissem condições ideais de segurança para uso de agrotóxicos em ambiente urbano”. A Anvisa afirma que não há produto no mercado brasileiro autorizado para ser utilizado com essa finalidade. O gerente da Império diz que o Gramoxone foi o herbicida apreendido, porém, no boletim de ocorrência consta um galão de 20 litros do agrotóxico da marca Roundup. Wilder admite não conhecer estudos a respeito de nenhum dos herbicidas.

Coleta de lixo Além da capina química, os horários e eficácia da coleta de lixo foram questionados pela população. Uma moradora do Bairro Antônio Dias, que prefere não se identificar, relata que sente abandono e descaso onde mora, uma vez que os garis não recolhem o lixo espalhado nas ruas e os moradores não o colocam no horário.. O supervisor de coleta e limpeza urbana da Império, Leonardo Luiz Borges, pede a conscientização da população e respeito pelo trabalho do gari. “Não é todo lixo que pode ser jogado em via pública”, explica. O supervisor afirma que há coleta específica para resíduos como entulho de construção ou móveis: é preciso ligar para a empresa e fazer a solicitação. “Às vezes encontramos um sofá no centro histórico e temos que ir correndo buscar”, conta. Até o fechamento da edição a empresa não informou a rota dos caminhões para a coleta na cidade.

Média mensal paga à Império desde 2013

R$613427,65 R$604342,53* R$577862,61

*Média calculada com valores dos meses de janeiro, fevereiro e março. Fonte: Site da Prefeitura de Ouro Preto

A Prefeitura informava que no dia 23 de março o valor pago, desde janeiro, à Construtora Império era de R$ 1.743.175,16. No dia 30 de março o valor diminuiu para R$808.005,27. Já no dia 9 de abril era de R$1.813.027,61.Até o fechamento da edição a Prefeitura não esclareceu as mudanças.

Feiras reaproveitam tudo Gabriel Campbell

As feiras na cidade de Ouro Preto acontecem ao ar livre. Legumes, frutas e verduras vendidos ficam expostos ao sol e à chuva, o que interfere na qualidade e durabilidade. Após essa degradação, não são comercializados nos outros dias, garantem os feirantes da cidade. Como alternativa, muitos comerciantes encontram alguns meios para reaproveitar esses alimentos vendidos nas bancas. Uma dessas formas é a doação que, ao chegar ao destino, deve passar por um processo de seleção para não prejudicar a saúde de quem ingere os alimentos. Nem tudo o que

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sobra pode ser utilizados para consumo humano.. Alguns feirantes fazem parceria com o asilo Lar São Vicente, em Ouro Preto, no bairro Cabeças, lugar para onde vai o que não é vendido. Aos domingos, o motorista do asilo, Cirilo Victório, recolhe as doações de caminhão. Segundo ele, não são todas as barracas que contribuem, porém a ajuda é suficiente. “Têm dias que a gente faz duas viagens”, reforça. O feirante Gonçalo Rodrigues da Silva, conhecido como Juca, também faz doação para o Lírios do Campo, que trata de pessoas dependentes químicas, no bairro Santa Cruz, e para o Grupo

do Silêncio, em Maracujá, distrito de Amarantina. Juca usa seu próprio caminhão para fazer o transporte dos alimentos A gente quase nunca compra esse tipo de alimento, além disso, temos suco natural sempre. Geraldo Sales

que restaram de sua barraca a esses lugares. Quando os produtos estão ruins para consumo humano, o comerciante os utiliza para alimentar os porcos de sua própria criação. O presidente do lar, Geraldo Sales, afirma que os ali-

mentos doados ajudam muito no orçamento e na alimentação de quem vive no lugar. “A gente quase nunca compra esse tipo de alimento. Além disso, temos suco natural sempre.”. Conforme o presidente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esteve no abrigo e orientou sobre o que pode ser aproveitado e o que deve ser descartado. Os alimentos hortigranjeiros não acarretam problemas à saúde do ser humano. Segundo a nutricionista Sônia Maria de Figueiredo, os riscos são pequenos. Sônia diz que o mais importante é ter alguém treinado para fazer a limpeza e o armazenamento do que é recebido, pois os

produtos podem vir com vermes e bactérias. A nutricionista recomenda que esses alimentos sejam acondicionados em geladeira por por no máximo três dias em temperatura de 10°C. Normas sanitárias A Anvisa recomenda que os alimentos in natura sejam embalados em sacolas plásticas que ainda não foram utilizadas ou em sacolas reutilizáveis. O coordenador da Anvisa de Ouro Preto, Carlos Alberto Chagas, diz que o recomendável seria que todos levassem sua própria sacola para evitar que o dono da venda tenha que fornecer uma que polui o meio ambiente.

Entretanto, o uso indiscriminado de sacolas plásticas é um problema que ocorre nesses espaços, o que contribui com a poluição do meio ambiente. Feirante há 41 anos, Juca reclama que os gastos com esse material são altos e, por isso, reduzem o lucro. Ele compra 120 kg de sacola a cada semana, o que gera um custo de R$800 ao mês. Segundo Carlos, a vigilância tem que ir às feiras uma vez ao ano fazer vistoria e não há uma monitoração constante. “Temos somente cinco fiscais para alimento”, afirma. “O ideal seria termos 22”, complementa. A fiscalização vai ao local somente em situações de denúncia.

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Arte: gabriela ramos

distrito

Cafundão enfrenta descaso e falta de infraestrutura Assentamento de Cachoreira do Brumado passa por dificuldades sem saneamento básico, pavimentação e iluminação pública francielle oliveira

Taíssa Faria

O cenário é humilde, a estrada é de chão batido, sem postes de iluminação. As casas são pequenas e simples. As cercas são improvisadas como varal de roupa. Essa é a realidade do Assentamento do Cafundão, que foi criado em 1995 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e abriga pouco mais de 20 famílias em situação precária. O sustento vem do pequeno plantio e principalmente dos produtos artesanais de pedra-sabão. Emancipado em 2001, o assentamento se localiza em Cachoeira do Brumado, distrito de Mariana. O Cafundão começou com 12 famílias e com o passar do tempo esse número foi se expandindo. Contudo, a melhoria na infraestrutura e no planejamento de obras não andou de forma igual ao crescimento na quantidade de pessoas. O artesão Adão de Oliveira, presidente da Associação de Moradores do Cafundão, reclama: “A Prefeitura quase nunca nos ajudou, não temos saneamento básico na maioria das casas e muito menos fossas sépticas. Também não temos asfalto. Estão nos prometendo isso há quase três anos e quando chove é quase impossível chegar de carro.” Outro problema é que as crianças que moram no lugar não têm área de lazer ou algum tipo de projeto volta-

do para elas. Em meio aos trabalhadores artesãos, meninos e meninas brincam em um grande amontoado de resíduos da confecção das panelas. Os restos são uma montanha de pó de pedra-sabão, prejudiciais à saúde segundo a estudante de medicina, Raíssa Chades. Sobrinho de Adão, Nilton Oliveira, diz que a Prefeitura tinha um projeto de fazer um centro comunitário para o Cafundão, mas as obras estão paradas e no momento só existem paredes erguidas. “A gente queria esse centro comunitário para poder receber melhor as pessoas que sempre nos visitam”, lamenta. Adão não sabe se acredita que algo vá melhorar no assentamento, mas afirma que tem fé: “Quem sabe um dia, né?”. Procurada pelo LAMPIÃO, a Prefeitura de Mariana não respondeu às críticas. Mesmo com os muitos problemas a serem resolvidos, Nilton afirma que nunca trocaria suas terras para morar na cidade. “Sei que temos muitas dificuldades, mas jamais sairia daqui. Foi aqui que minha família se ergueu e aprendi tudo o que sei com o meu pai, e passei para os meus filhos.” Nilton garante também que prefere lugares mais calmos, com os cantos dos pássaros. “Não me daria bem em cidade, é muito estressante”, diz. A alegria de Nilton parece ser a dos outros moradores, mesmo com

Condições. O ateliê de confecção de artesanato, precário e improvisado, reflete problemas do local

os semblantes cansados. Mas apesar de haver disposição da mão-deobra, o local de trabalho precisa de grandes reparos na estrutura e de mais espaço para guardar os produtos de pedra-sabão, além de um local adequado para refeições e necessidades básicas. Ajuda na gestão Na tentativa de capacitar os artesãos do Cafundão e torná-los empreendedores, a Incubadora de Empreendimentos Sociais e Solidários

da Universidade Federal de Ouro Preto (Incop) fez um mapeamento no ano de 2012 em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para colaborar com o assentamento, melhorando a produção e venda dos produtos feitos de pedra-sabão. “A Incop é um programa de extensão baseado no conceito da economia solidária e consiste em uma forma de produção, consumo e distribuição focada na valorização do ser humano e não apenas do capital”, afir-

ma a professora e coordenadora do projeto, Francisca Diana Vieira. O programa tem como objetivo apoiar o crescimento de pequenos empreendimentos. A incubadora busca suprir as carências no desenvolvimento de uma nova associação, informa Francisca. “Como por exemplo, ajudamos nas dúvidas de gestão, produção, organização e divulgação do trabalho realizado. Por enquanto só fazemos visitas, ainda estamos na fase de ganhar a confiança dos moradores, acrescenta.

Produtos de pedra-sabão vão além do valor econômico; conhecimento é passado de pai para filho francielle oliveira

Técnica. Adão de Oliveira modela utensílios a partir de rocha

O ofício de produzir panelas e artesanatos de pedra-sabão está na família de Adão de Oliveira há quase 300 anos. Eles garantem, convictos, que vão continuar o legado e querem passá-lo para outras gerações da extensa família. Nilton de Oliveira, sobrinho de Adão, conta que seus três filhos já sabem as técnicas de como produzir e manusear os artefatos de pedra-sabão. Ele afirma que se depender do artesanato nenhuma família do Cafundão passará necessidade. “Esses nossos produtos são nossa moe-

da corrente, é deles a certeza de que nunca iremos passar fome”, afirma o trabalhador. Além das tradicionais panelas, as formas de pizza, cumbucas e pilões também estão entre as especialidades dos artesãos do Cafundão. Em menos de uma hora, um pedaço de rocha é transformado em utensílio doméstico pelas mãos hábeis. O artesão destaca que há quatro anos as panelas eram feitas exclusivamente à mão, assim, o número era menor em comparação ao que produzem atualmente. “A gente de-

morava muito para fazer as panelas, precisávamos de mais paciência ainda, mas graças a Deus hoje a situação é bem diferente”, diz. Hoje em dia, com a ajuda de máquinas, os artesãos Adão e Nilton conseguem fazer entre 100 e 150 panelas por semana. “Em questão de poucos dias já não temos mais nenhum produto em nosso estoque. Eles são vendidos muito rapidamente”, conta o artesão. Os produtos são encomendados e comercializados em feiras rurais e de agricultura, a partir de R$ 50.

saúde

Câncer de mama: tratamento distante Bárbara Torisu

Acordar às quatro da manhã e viajar até Belo Horizonte fez parte da rotina de Rita de Cássia Miguel de Oliveira. A moradora do Bairro Santa Cruz, Ouro Preto, fez tratamento de câncer de mama entre maio e julho de 2007. Chegou a ir à capital quase todo dia, um percurso de aproximadamente 200 km. A cidade histórica ainda não possui o suporte completo para os pacientes fazerem o tratamento de câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Somente a rede particular tem radioterapia e cirurgia oncológica, porém a quimioterapia não é oferecida, e não há previsão para que isso ocorra. O Ministério da Saúde determina que as pessoas diagnosticadas com câncer devem receber o tratamento completo, desde o diagnóstico até a

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reabilitação. Como o município não tem estrutura completa, a Prefeitura de Ouro Preto oferece o transporte para fazer os atendimentos gratuitos, como no caso de Rita, nos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) e nos Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia, em Belo Horizonte. De acordo com a secretária de saúde Sandra Guimarães, a própria secretaria realiza a marcação das consultas e dos exames nas unidades especializadas. Em Mariana, a cidade de referência para o tratamento de câncer também é Belo Horizonte. Segundo a coordenadora de Serviços de Regulação da Secretaria de Saúde, Helga Gonzaga Teixeira, os pacientes que precisarem do atendimento oncológico devem procurar os postos de saúde da cidade, para que a marca-

ção das consultas seja feita. A recomendação é que a mamografia, exame que detecta o nódulo, seja feita anualmente, a partir dos 40 anos. Esse tipo de câncer é o segundo mais comum no mundo e é o mais recorrente entre as mulheres. No ano passado, a estimativa é que aproximadamente 57 mil novos casos tenham sido registrados. Já o índice de mortalidade corresponde a 12,1 mortes para cada 100 mil mulheres, entre os anos de 2014 e 2015, conforme com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). De acordo a ginecologista e obstetra Cristina Abreu, a cirurgia na mama é muito invasiva, e a importância de detectar o tumor cedo é evitar que uma grande parte do órgão seja retirado. Isso impede também que a autoestima das pacientes seja afetada. O diagnóstico do tumor em es-

tágio inicial, menores do que dois centímetros, pode aumentar em até 95% as chances de cura. A detecção do nódulo pode ser feita pelo autoexame, exame clínico e mamografia. Com o objetivo de incentivar as mulheres a fazer o exame, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais, em parce-

ria com o Ministério da Saúde, disponibilizou a Unidade Móvel de Mamografia, um caminhão equipado com mamógrafos que vai cirucular pelas cidades do estado e atender de forma gratuita as pacientes. Nesta primeira visita, o caminhão ficou em Ouro Preto e em seguida foi para Mariana,

onde atendeu entre os meses de fevereiro e abril. O próximo destino é a cidade de Araguari, no Triângulo Mineiro. O projeto pretende percorrer todo o país ao longo do ano. Em 2016, o Caminhão Rosa, como é conhecido em Minas Gerais, deve voltar à Região dos Inconfidentes.

Números do Caminhão Rosa Mariana

Ouro Preto

Dias de atendimento

13

27

Capacidade diária de exames

120

120

Capacidade total de exames

1560

3240

Exames realizados

742

1298

Total de mulheres entre 50 e 69 anos

4097

6144 Fontes: Senso do IBGE 2010 e Secretaria de Estadado de Saúde

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Abril de 2015

Arte: Igor capanema

Laene Medeiros

do jogo ! volte para o início mês .

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A renda média por habitante em Mariana é de R$641,84 e em Minas Gerais é de R$749,69, de acordo com os dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil de 2010. Em Mariana, a cesta básica custa em média R$301,14, ou seja, pelo menos 46,91% da renda per capita são usados apenas com alimentação.

De acordo com os moradores de Mariana, o que está mais pesando no “bolso” nos últim gia elétrica e a gasolina. A luz em Minas Gerais aumentou 18,8% em fevereiro. A alta servi do repasse do Tesouro Nacional e os custos com a compra de energia. Além disso, a Agênc gia Elétrica (Aneel) anunciou em março o acréscimo nas bandeiras tarifárias. Em vigência, passou de R$3 para R$5,50 para cada 100 kWh (quilowatts-hora).

Não

Para saber o preço da cesta básica e de outros produtos, o LAMPIÃO realizou uma pesquisa em oito supermercados diferentes: três em Mariana, um em Ouro Preto e quatro na região metropolitana de Belo Horizonte.

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Volte

Renda e preços

Já o aumento nos postos de gasolina foi motivado pelo reajuste do Imposto sobre Cir rias e Serviços (ICMS). Em Belo Horizonte e região metropolitana, o preço médio do litro de R$3,31, de acordo com pesquisa do site Mercado Mineiro de fevereiro e março de 1015 ço médio é de R$3,66 (34 centavos a mais que na capital).

Marianó

Pão em

A cidade é o tabuleiro, as empresas e os comércios s movimento de cada peça da economia pode fazer tu

Mariana

está mais caro que

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uma casa !

em

V olte

Se em todo Brasil a alta no preço dos alimentos assusta, em Mariana não é diferente. A estudante Letícia Miranda, 20, diz que “as compras da semana davam em média R$60 e agora chegam a R$150”. Já o administrador Marcelo Alves de Souza, 47, avalia que “o preço dos produtos em Mariana chega a ser 15% maior que em Ipatinga”, cidade onde morava antes.

No Brasil, o jogo econômico enfrenta uma crise, causada pelo atual conte rios setores. Em 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas (IBGE). Além disso, as famílias consumiram menos, se comparado a 2013, o ce de crescimento da atividade mineradora (8,7%) caiu em comparação com 2 Grandes ou pequenas, várias cidades brasileiras estão sentido as consequê e a queda do preço do minério de ferro têm causado muitas demissões. A to final de março, o menor valor desde maio de 2009. Em 2013, o minério cheg altos preços dos aluguéis, agora registra queda de até 70% na procura por loc do supermercado, da energia elétrica e da gasolina são outros fatores que pesa

Demissões V ocê foi demitido. V olte ao início do

jogo !

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três casas !

desempregado .

V olte

Empresas pagam salários aos funcionários que, por sua vez, gastam com moradia, alimentação, roupa, lazer e outros. Mas, se essas empresas demitem muitas pessoas, elas vão deixar de consumir, diminuindo a receita de comerciantes da região, que também vão começar a desempregar. Esse encadeamento se chama “multiplicador de renda negativo” e ocorre principalmente quando uma grande empresa desemprega. E é o que está acontecendo em Mariana. Empreiteiras e terceirizadas estão demitindo em massa e desestabilizando a economia da cidade.

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afetaram o

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V olte

Segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2014 foram demitidos 7.757 funcionários e admitidos 5.379 (variação de -2.378). O setor que mais desempregou foi a construção civil (3.823), seguido de serviços (1.939) e do comércio (1.535). Em 2013, o índice de admissões superou em 3.176 o número de demissões e a construção civil admitiu 4.668 pessoas. Na região (Mariana, Ouro Preto, Itabirito e Diogo de Vasconcelos), os desligamentos somam 28.607 só no ano passado.

Veio

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V olte

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Mineração

Franquias

O sindicato Metabase Mariana homologou ano passado 320 demissões das mineradoras de Mariana. De janeiro a março de 2015 esse índice é de 83 pessoas, 20% a mais que no mesmo trimestre do ano anterior. Segundo Ronilton de Castro Condessa, diretor secretário do sindicato, as mineradoras não estão em crise e continuam produzindo normalmente, mas, por causa da queda do preço do minério de ferro, optam por cortar gastos para manter os altos lucros e fazem isso diminuindo o quadro de funcionários. “A Vale não está em crise, mas provoca crise na cidade”, acrescenta o diretor.

Mesmo com a crise, M atenção de muitas redes fam sas franquias gera novos pos concorrência com o comér dade é carente de novos em

O sindicato está promovendo uma campanha contra essas demissões com o objetivo de “trazer a comunidade para a luta” e de tentar dialogar com as empresas. Em nota, a Vale afirmou que demite abaixo da média das indústria mineradora e que está buscando otimizar e simplificar seus processos para “garantir o retorno desejado para seus acionistas”.

A assessoria das Casas B tabelecimento será aberto a acordo com o SINE-Marian funcionários que passarão p próximos meses.

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A vance

uma casa !

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casas !

Subway e Casas Bahia sã de lojas interessadas pelo me lanchonete foi inaugurada e peras do feriado de Carnava cionários para a temporada.

Abriu

uma

franquia na cidade e conquistou muitos clientes .

A vance

três casas !

Laene Medeiros

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14/04/15 14:26


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Abril de 2015

Arte: Igor Capanema

Laene Medeiros

casas !

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com aluguel mais

no centro .

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imóvel para alugar

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Novas lojas estão chegando na cidade.

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casas !

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qualidade dos seus

estão mais caros .

V olte

três casas !

Francisco Xavier, professor de economia da Ufop, diz que para mudar a situação a região deve investir em suas “vantagens comparativas”, além do minério de ferro. Mariana possui muitos privilégios, mas “faltam ideias inovadoras. As pessoas só querem investir nas mesmas coisas: mercearia, padaria. E por isso, há uma grande carência de serviços e entretenimento aqui”, explica.

V olte

ria das Casas Bahia disse que o eso será aberto até o fim do ano. De o SINE-Mariana, a loja já admitiu 18 que passarão por treinamentos nos ses.

do frete

REVÉS

Casas Bahia são exemplos recentes essadas pelo mercado marianense. A oi inaugurada em fevereiro, nas vésdo de Carnaval, e contratou 18 funa a temporada.

Se por um lado o consumidor da região ganha mais uma opção, por outro, os comerciantes locais sofrem com a concorrência. Rommel Sampaio, dono do supermercado Estrela da Barra, em Ouro Preto, diz que a chegada do EPA causou queda de 17% nos negócios. Segundo ele, outros 9% de redução são motivados pelo atual cenário econômico: “O custo operacional subiu muito. A energia elétrica, por exemplo: em dezembro eu pagava 5,5 mil e hoje pago 7,4 mil reais.” Só nos últimos dois meses o Estrela da Barra demitiu três funcionários.

Preço

Prefeitura

Para os comerciantes de Mariana, a crise representou queda de até 50% nas vendas. Geralda Pereira, artesã, reclama: “Não estamos vendendo nada. As pessoas só compram comida porque não tem outro jeito”. Para minimizar as consequências dessa instabilidade, lojistas estão demitindo funcionários. É o caso do Comercial Zacarias, localizado no centro, que mandou embora a única contratada. “É pesado ficar com mais uma pessoa. Eu e minha família damos conta de tudo”, conta Denise Zacarias, dona do estabelecimento.

subiu e os produtos

determina corte de

om a crise, Mariana tem chamado uitas redes famosas. A chegada desgera novos postos de trabalho e boa com o comércio local, já que a cie de novos empreendimentos.

na sua

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Queda no comércio

Em Mariana e Ouro Preto, os valores altos dos alimentos e a falta de concorrência acabam fazendo com que muitos procurem cidades vizinhas para fazer as compras. Edson Marcos Vieira, 67 anos, é uma dessas pessoas: “É mais barato comprar fora do que aqui”. Essa carência levou a rede de supermercados EPA a abrir uma loja em Ouro Preto. “Foi uma das nossas melhores inaugurações. Alguma coisa no mercado daqui não atendia os consumidores”, avalia o gerente da unidade, Nei Costa.

Vendas

P reço

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Concorrência

mercearia caíram .

minério caiu e a

nas despesas

elo atual contexto político e pela retração de investimentos produtivos em vácresceu apenas 0,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística rado a 2013, o que resultou em queda de 1,8% no setor de comércio. E o índimparação com 2013. do as consequências dessa crise. Em Mariana (MG), a economia desacelerada missões. A tonelada do minério caiu 47% em 2014 e chegou a 51 dólares no o minério chegou a 160 dólares. Com esse cenário, a cidade, conhecida pelos procura por locações. Além disso, o aumento dos preços de produtos básicos atores que pesam no orçamento final e preocupam o consumidor marianense.

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omércios são as casas e você é o peão. Neste jogo, o de fazer tudo mudar

P reço

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públicas .

Andrezza Lima e Fábio Melo

Já que a oferta aumentou e os preços abaixaram, famílias que antes moravam em bairros afastados estão se mudando para imóveis mais próximos ao centro da cidade.

é locatário e

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arrecadação pode

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Preços mais baixos e maior oferta de imóveis para aluguel também são consequências das demissões nas mineradoras e empreiteiras de Mariana. Segundo a Imobiliária Vila do Carmo, a queda na locação começou em outubro de 2014 e chegou a 70% em março deste ano. E de acordo com a AW Imobiliária, esse índice caiu “apenas” 20%. Apesar da queda brusca na procura, os valores dos aluguéis ainda estão dentro do valor de mercado. A explicação é que os preços de locação em Mariana eram superestimados. “As pessoas queriam aproveitar a vinda de muitas empresas, estudantes e comerciantes para cá. Mas isso ocorreu de maneira negativa e os valores ficaram muito altos”, diz Liliane Junia, auxiliar administrativa da Vila do Carmo.

teve que abaixar o

barato .

rodada !

A guarde

A Prefeitura de Mariana foi procurada pela reportagem do LAMPIÃO, mas não concedeu nenhuma entrevista. No dia 13 de abril, em coletiva, o Prefeito Celso Cota declarou que a arrecadação do município poderá cair até R$70 milhões neste ano e a determinação é que todos os órgãos da administração cortem no mínimo 30% das despesas. Segundo o prefeito, a queda no preço do minério gera um “efeito dominó” no município, que tem 85% de sua arrecadação provenientes dos impostos sobre a mineração.

V ocê

quatro

Oferta de aluguéis

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Avance

osto sobre Circulação de Mercadomédio do litro da gasolina comum é março de 1015. Em Mariana, o pre-

casas !

cara em abril. Pague 5,93% a mais na sua conta.

olso” nos últimos meses são a enerro. A alta servirá para cobrir o corte disso, a Agência Nacional de Ener. Em vigência, a bandeira vermelha

Declaração da Prefeitura

as compras

fora da cidade e economizou .

A vance

uma casa !

duas casas !

uma casa !

14/04/15 14:26


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Abril de 2015

Arte: letícia cristiele

TURISMO

Principais atrativos ecológicos

Gruta da Lapa Macaco Doido

MINAS

Candeia e das Pedras

X

Rainha

São Bartolomeu

Santa Rita

X

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Gota de Minas

Fonte do Bem Querer

X

Jejê Ouro Ferraria Cachoeira do Campo Gruta da Igrejinha

X X X X X X

X X X X X X

10,00 15,00 10,00 5,00 15,00 5,00

Pocinho Gruta da União

Tabuões

Namorados

Três Pinos

*

Estação Ecológica do Tripuí*

Parque Natural Municipal das Andorinhas

Floresta Estadual do Uaimií*

Fazenda da Brígida

Parque Estadual da Serra do Itacolomi

Parque Arqueológico do Morro da Queimada*

Areas urbanas

Área de Proteção Ambiental Cachoeira das Andorinhas

Horto Botânico e Vale dos Contos

Monumento Natural Municipal Nossa Senhora da Lapa

Cachoeiras

Gruta

Cascata

Castelinho Falcão

Toninho

Não tivemos retorno do Instituto Estadual de Florestas (IEF) sobre os dados dessas reservas

fotos: mariana araújo

Riqueza inexplorada Potencial turístico de Ouro Preto pode ser melhor aproveitado; falta preparo Rodrigo Almeida Sandro Aurélio

Roteiros. De cima para baixo: vista da Cachoeira da Candeia, rapel na Cacheira das Pedras e trilha para Cachoeira do Castelinho

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Daniel e Cintya vieram de Brumadinho (MG). Giovane, seu filho e alguns amigos, de Belo Horizonte, assim como Álvaro e os colegas da faculdade. Cada um desses personagens vão a Ouro Preto por um motivo: turismo ecológico. Segundo especialistas, a cidade tem potencial para ser um dos principais pólos do ecoturismo no Brasil, mas suas cachoeiras, chapadas, picos e trilhas não são explorados. Uma das poucas localidades que atrai turistas pelas suas belezas naturais é o distrito de Lavras Novas, vilarejo recheado de pousadas, passeios e restaurantes. O LAMPIÃO se propôs a fazer um levantamento das riquezas naturais de Ouro Preto e Mariana. No entanto, muita coisa ainda não pode ser visitada pela falta de infraestrutura e planejamento. Andamos por boa parte do município e constatamos que muitas atrações naturais ainda estão intocadas. À esquerda da estrada para o distrito de Santa Rita de Ouro Preto se encontra a Cachoeira do Falcão. Daniel da Silva e Cintya Silva visitam a atração pela primeira vez. Segundo o casal, o acesso é difícil, pois “a trilha é bastante íngreme, porém a água limpa que forma uma pequena piscina natural fez tudo valer a pena”. A cachoeira é uma das mais visitadas nos fins de semana de sol. Também na região, no subdistrito da Chapada, a 9 km de Lavras Novas, está a Cachoeira do Castelinho, que tem esse nome devido à formação rochosa que lembra a de um castelo. Giovane Gomes acampou com o filho de 9 anos e com mais quatro amigos, todos da capital mineira. Ele afirma que o lugar é “extremamente aconchegante e ótimo para refrescar a mente”. Bruno Maeda é professor de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e diz conhecer boa parte das riquezas naturais da região. Para ele, o diferencial do lugar é fazer pequenas escaladas e também pular de algumas pedras.

Regulamentação As secretarias do Meio Ambiente e do Turismo, Indústria e Comércio de Ouro Preto correm para se adequar à demanda turística sem que ela prejudique esses patrimônios naturais. De acordo com a turismóloga da Secretaria de Meio Ambiente, Simone Fernandes, “algumas dessas atrações ainda não são adequadas para receberem visitas. Um estudo está sendo feito para mensurar se esses lugares suportam um volume constante de visitação”. Ela diz que o processo é lento e se assemelha à criação de um plano de manejo, estudo responsável para implantação de unidades de conservação ambiental. “Esse trabalho é importante porque, em alguns lugares, já houve depredação por visitação desordenada”, completa. Outro empecilho é o fato de alguns desses patrimônios estarem localizados em propriedades privadas. Por ser uma cidade patrimônio imaterial da humanidade, muitas pessoas do ramo vendem apenas o centro histórico, deixando de lado uma atividade que pode ser bastante rentável e ao mesmo tempo educativa.” Paula Reis

O diretor de Turismo da Secretaria Municipal de Ouro Preto, Fausto de Castro, concorda e ainda diz que houve muitos problemas no passado, pois as duas entidades pouco dialogavam. De acordo com ele, a Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio vai abrir uma licitação, ainda sem data, para que esse estudo de viabilidade e pontencialidade turística seja feito. Para a proprietária da agência Ouro Trip, Paula Reis, falta incentivo da Prefeitura no que diz respeito à comercialização de roteiros turísticos. Segundo ela, “por ser uma cidade patrimônio imaterial da humanidade, muitas pessoas do ramo vendem apenas o Centro His-

tórico, deixando de lado uma atividade que pode ser bastante rentável e ao mesmo tempo educativa”. De acordo com Fausto de Castro, “existe interesse da Prefeitura em fomentar a atividade na região, tanto que já há uma divulgação por parte da Secretaria.” Mas ele completa dizendo que enquanto não houver estudos que endossem a implantação segura e sustentável da atividade, é melhor que a situação permaneça como está. Aventura A região também oferece variadas possibilidades para os interessados em turismo de aventura. Conhecida como subproduto do ecoturismo, essa modalidade cresceu muito nos últimos anos no Brasil e o território ouro-pretano é um local procurado para a prática de rapel, mountain bike, escalada, trekking, exploração de cavernas. Os instrutores de rapel Flávio Bolfim, Simone de Oliveira e Zenom dos Santos levaram um grupo de cerca de 30 pessoas, todas da região metropolitana de Belo Horizonte, para fazer rapel na Cachoeira das Pedras. Eles contam que uma vez por mês organizam passeios de aventura que incluem tirolesa e escalada. Outra modalidade que tem crescido muito na região é o mountain bike. O Iron Biker, por exemplo, é a maior competição do gênero no Brasil e ocorre em Minas Gerais desde o início, em 1993. As provas sempre foram disputadas anualmente e com a largada em algum ponto da Região dos Inconfidentes e chegada em Belo Horizonte. Mariana foi eleita a sede oficial do Iron Biker durante quatro anos (2013 - 2016). Em 2015 os marianenses poderão acompanhar a competição que será realizada nos dias 18, 19 e 20 de setembro. As inscrições se esgotaram em oito horas. VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE TURISMO NA VERSÃO ONLINE: http://goo. gl/cq5p7

15/04/15 14:05

A


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Arte: letícia cristiele

cultura Fábio Pereira

Capoeira na luta contra a invisibilidade Grupos buscam força para manter viva a tradição cultural no município Cleonice Silva

Embalados pelo som do berimbau, pandeiro e agogô, o grupo de capoeira angola Oxá Lufã compõe a roda onde a cultura afrodescendente é expressada. O projeto reúne pessoas de diferentes perfis e gêneros. Negros e brancos gingam sob a harmonia de canções características. Uma mistura que visa integração, reconhecimento e valorização da capoeira em Mariana. Professora do Departamento de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), Kassandra Muniz ressalta a necessidade de parceria e a invisibilidade da capoeira local. Segundo ela, apesar de ser uma cidade em que quase 70% da população é negra, a valorização dessa cultura pelo poder público ainda é pouca. O Oxá Lufã, atualmente, tem 15 alunos. A equipe se apresenta às sextas-feiras na Praça Gomes Freire, Jardim de Mariana, como é conhecida. De acordo com Mestre Damião, coordenador do grupo, esse encontro se tornou uma tradição. Kassandra diz que o movimento que acontece no jardim é extremamente importante: “É um lugar de visibilidade, e essa é uma forma de dizer ‘estou aqui trazendo esse aspecto da cultura negra para a cidade’”. A professora considera que é uma das maneiras de manter vivas na cidade questões da cultura negra por meio de iniciativa das pessoas, e não do poder público. Incentivo e valorização Mestre Damião fala sobre as dificuldades que enfrenta desde que criou o grupo, em 1978. Por não receber verba de instituições públicas ou mesmo privadas, os componentes ainda não têm uniformes. Quando surge convite para apresentações em outras cidades, cada um tem que assumir os próprios gastos. O mestre reclama: “Muitas vezes tenho

que viajar sozinho ou até mesmo desistir, porque o grupo não tem renda própria e falta incentivo da Prefeitura”. Para se manter, a equipe já se estabeleceu em diversos lugares como oficina mecânica, espaço de escola de samba, oficina de lanternagem, olaria, casa de amigo e fábrica de tecidos. O sonho do Oxá Lufã é obter apoio financeiro da Prefeitura e ter as apresentações do grupo incluídas no calendário de festividades da cidade. O coordenador de cultura do município, José Luiz Papa, diz que o maior apoio que a Secretaria de Cultura e Turismo pode dar é a valorização da expressão, mas não a assistência financeira. Acho difícil que algo tão vivo da cultura negra seja apagado da história do Brasil. Mesmo com a discriminação e violência vamos persistir e continuar criando arte e cultura em cima de resistência.” Kassandra Muniz

Questionado sobre a inclusão de eventos que deem espaço para a prática da capoeira, José Luiz afirma que o grupo precisa fazer um projeto para passar pela Câmara dos Vereadores e garante: “Não temos portas fechadas para ninguém que nos procura. A capoeira é um trabalho rico e tem que ser valorizado, mas a iniciativa de se organizar precisa partir do grupo”. O coordenador afirma que não há na cidade nenhum grupo de capoeira registrado e informa que para que esse registro aconteça, eles precisam construir diretoria, estatuto, Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), certidão negativa, certidão de Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e débitos trabalhistas. Segundo ele, “a Prefeitura tem suas leis e não pode simplesmente pegar um recurso e entregar sem

que haja um registro documentado”. Afirma que a Secretaria de Cultura e Turismo juntamente com a prefeitura, procura fazer o melhor dentro do possível e estão trabalhando para que as manifestações culturais que são desenvolvidas em Mariana não sejam interrompidas. Para Kassandra, ao exigir dos grupos de capoeira o mesmo nível burocrático de grupos de maior estrutura, o Executivo impede que essa cultura cresça e se faça presente na cidade. Por trabalhar com questões afroculturais, Kassandra é uma referência em estudos e debates relacionados à luta pela igualdade racial. Ela acredita que a arte da capoeira não irá se perder ao longo do tempo. “Quando uma prática cultural visibiliza o que tem de negritude, é óbvio que vai sofrer preconceito e discriminação, mas vamos persistir e continuar criando arte e cultura em cima de resistência.” Integração Com o objetivo de promover o desenvolvimento de crianças e adolescentes e integrá-los à sociedade, existe um projeto apoiado por órgãos públicos. Aluísio Augusto Anselmo, conhecido como Mestre Amendoim, é instrutor de capoeira no Centro de Referência à Criança e ao Adolescente (Cria). O projeto recebe o patrocínio da Secretaria do Desenvolvimento Social da Prefeitura de Mariana e apoio da Secretaria de Cultura e Turismo. O Cria é um espaço socioeducativo com ênfase em cultura, arte, esporte e inclusão digital. Com uma média de 30 alunos entre seis e 18 anos, a turma existe há quase três anos e sempre participa de eventos na região, também já foi convidada para se apresentar em cidades do estado como Ibiá, Uberlândia e Betim. Aluísio afirma que para viagens com os alunos sempre tem apoio da Prefeitura e também dos comerciantes do município.

Mestre. Damião comanda rodas de capoeira em busca de reconhecimento da atividade

Uma vida de batalhas e vitórias Damião Cosme Leonel, o Mestre Damião, desde garoto tinha o sonho de se tornar capoeirista. Na vida adulta, dividia o tempo entre o trabalho e a capoeira. Quando viajou para o Rio de Janeiro, conheceu Mestre Paulo Braz, que percebeu seu talento e o ajudou a se tornar professor. Damião emocionado, conta que passou por muitos obstáculos para vencer o preconceito por ser negro e capoeirista: “Cheguei a Mariana na época da repressão. Tive que correr várias vezes dos policiais que chegavam e batiam com o cassetete nas minhas costas e diziam que eu estava trazendo a marginalidade pra cidade”. Damião diz que sofreu quando trouxe a capoeira para Mariana. “Fui visto como malandro. Cabelo rastafári longo, as pessoas falavam que eu era marginal. Tive que confrontar para mostrar a diferença, mas o ideal sempre foi mais forte que os obstáculos.” Um dos objetivos de Damião é levar a capoeira angola às crianças de escolas públicas e particulares

da cidade e distritos. O amor ao que faz é tanto que diz: “Eu não vivo da capoeira, mas eu vivo a capoeira”. Já morou em Manaus, onde foi reconhecido por seu trabalho e recebeu salários como capoeirista. Em uma de suas viagens pelo Brasil, estava fazendo apresentação de rua, no Paraná, e teve a oportunidade de se apresentar com o músico jamaicano de reggae Jimmy Cliff. Também morou no Paraguai, onde teve chance de desenvolver a capoeira, mas disse que desistiu para buscar seu valor em Mariana. A luta pela valorização de seu trabalho como capoeirista começou nos anos 70. Desde então, batalhou muito e percorreu uma longa trajetória para chegar à categoria de mestre em 1984. Ganhou troféus e medalhas participando de campeonatos e diz que se deu muito bem em questões como equilíbrio, flexibilidade e reflexo no jogo da capoeira. VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE CAPOEIRA NA VERSÃO ONLINE: http://goo. gl/cq5p7

Eles são coadjuvantes nas livrarias locais joão vitor marcondes

Thaís Medeiros

O número de livrarias no Brasil é insuficiente para o tamanho da população. É o que indica a pesquisa divulgada pela Associação Nacional de Livrarias (ANL) em 2014. Segundo a ANL, o Brasil possui 3.073 livrarias para seus 5.570 municípios. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) recomenda uma relação de 10 mil habitantes por livraria, no entanto, no país esse número é de 54 mil habitantes por livraria. Situação semelhante vive Mariana. Com uma população estimada pelo IBGE em 58.233 habitantes, a cidade tem apenas três livrarias, que dividem seu espaço com outros serviços: a Papelaria e Livraria Riscos e Rabiscos, a Livraria da Sé e a Casa Letrada. De acordo com a funcionária da Riscos e Rabiscos, Patrícia Arlinda da Costa, o estabelecimento existe há 20 anos e sempre funcionou como um conjunto de papelaria e livraria. Ela ressalta que a procura por livros tem crescido consideravelmente e que uma vez que não se encontre o exemplar desejado é possível encomendá-lo. A Livraria da Sé, por sua vez, também existe há

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20 anos e vende apenas livros religiosos e de autoajuda. Embora se intitule livraria, a loja vende todos os tipos de artigos religiosos e, segundo a funcionária Rosângela Araújo Santos, ainda que exista uma procura por livros escritos por padres famosos, eles não são os artigos mais vendidos. Já a Casa Letrada foi aberta em janeiro deste ano, oferecendo produtos de papelaria, informática, livraria e presentes. A seção destinada aos livros ainda é pequena, mas de acordo com a vendedora Amanda de Oliveira, existe a possibilidade de encomendas e a intenção de ampliar o espaço. Em todos os casos o que se percebe é que não existe uma livraria que venda exclusivamente livros. Os espaços são divididos com outros tipos de produto e as opções limitadas. Para a farmacêutica Flávia Miquilino, “a falta de livrarias e diversidade de conteúdo realmente são problemas. Livrarias menores acabam não tendo todos os livros que queremos e também há a questão do preço, bem mais caros do que pela internet.” Flávia acha o ambiente de uma livraria muito prazeroso e conta que as lojas maiores

Demanda. Mesmo com pouco espaço no mercado de Mariana, livros têm aumento de vendas

são bons locais para pesquisar lançamentos e novos autores. No entanto, para a farmacêutica, a diferença nos preços e a maior opção de títulos fazem com que comprar pela internet seja uma opção mais interessante em Mariana. Segundo o coordenador de cultura da Prefeitura, José Luiz Papa, a existência de mais livrarias na ci-

dade não seria algo que necessariamente incentivaria a leitura, mas seria bem-vindo. Para ele a correria cotidiana pode inibir o número de leitores e a existência de livrarias traria mais oportunidades de leitura. Segundo pesquisa do Sindicato Nacional de Livros (Snel) e do Instituto de Pesquisa Nielsen, no primeiro trimestre de 2015 a venda de livros

em livrarias aumentou em 3% e o faturamento em 1,65%. Ainda assim, esse crescimento ficou abaixo da inflação. O preço médio do livro também caiu 1,3%. VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE COMPRA DE LIVROS NA VERSÃO ONLINE: http://goo.gl/cq5p7

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Arte: CAMILA GONÇALVES

João vitor marcondes

cultura

E o tempo levou...

Sucesso até a década de 1980, antigos cinemas de Mariana e Ouro Preto reduzem as exibições de filmes Thaís Medeiros

Localizada no coração de Mariana, a construção simples e “quase acanhada” poderia passar despercebida não fosse a longa fila de pessoas que se estende do número 22 da Frei Durão até o início da Rua Santana. É dia de Mazzaropi e todos querem garantir seu ingresso. Não há dúvidas de que esse não será um “abacaxi”, afinal Mazzaropi não faz filmes ruins e, honestamente, não há muito mais o que fazer na pacata e aconchegante cidade. Então, todos vestem as melhores roupas para ir ao cinema. As moças, sempre bonitas e arrumadas, atraem a atenção dos rapazes, mas é bom que ninguém ouse se beijar durante o filme, pois aquele não é o lugar para tal desfrute. Os pobres namorados devem se conter ou encontrar uma forma de passar despercebidos no escurinho, senão serão convidados a se retirar como os outros baderneiros de plantão. É bom também não começar o filme antes que Bady Salim Mansur, um dos mais assíduos frequentadores do cinema, chegue. Pelo menos era assim nos dias de glória do antigo Cine Teatro de Mariana, atual Sesi. Hoje, tudo isso são apenas histórias. Histórias de uma cidade pequena, em uma outra época, que se mantêm vivas na memória daqueles que frequentavam o cinema de Mariana, e reunidas pela historiadora Elodia Honse Lebourg em um trabalho produzido para o Sesi de Mariana em 2008.

Segundo Elodia, o Cine Teatro foi inaugurado em 1935, com sessões diárias. Os filmes normalmente ficavam em cartaz por menos de uma semana e houve casos de exibições de um único dia. Isso nunca chegou a ser um problema, pois a população não era grande o suficiente para encher várias sessões e os filmes muitas vezes voltavam a ser exibidos. De acordo com o atual gerente do Sesi, Nilson Ros Chagas, esse movimento aconteceu até a década de 1970 quando o cinema fechou e o prédio ficou abandonado, até ser reaberto pelo Sesi em 1993. Apesar de toda a facilidade que há hoje, da comodidade de assistir a um filme em casa, as sensações que uma sala de cinema te desperta são inomináveis.” Nilson Ros Chagas

Atualmente o local funciona como um espaço multimeios e já não conta com sessões regulares de cinema. Ainda assim, existe atendimento às demandas de grupos específicos, principalmente escolas. Nesses casos, há “sessões fechadas, num intuito claro de apoio didático pedagógico”. No caso das sessões abertas, Nilson destaca dois projetos: o Panorama Sesi de Cinema Contemporâneo e o Ponto Volante de Cultura. O Panorama Sesi aconteceu pela primei-

ra vez no ano passado e atraiu um público de 1600 pessoas em 18 sessões. No entanto, Nilson salienta que o festival ocorreu em período de férias escolares, o que diminuiu significativamente o movimento. Para este ano ele espera uma média de 200 pessoas por sessão e um total de 3 a 4 mil pessoas no evento, que será realizado entre 26 e 31 de maio, exibindo apenas filmes nacionais. O Ponto Volante de Cultura, por sua vez, é um caminhão biblioteca que roda os distritos de Mariana e Ouro Preto, levando sessões públicas e gratuitas de cinema. Essas sessões costumam ser direcionadas para um público infantojuvenil e, por serem abertas, exibem filmes de censura livre. Além disso, Nilson destaca que existe cobrança da população por um cinema comercial, especialmente por parte das pessoas mais velhas. Para o fotógrafo Élcio Rocha, que vendeu amendoim durante 13 anos na porta do antigo cinema, as sessões diárias fazem muita falta. De acordo com ele, o cinema era um ponto de encontro e um lugar de socialização. Assistir a filmes era um evento que envolvia amigos e famílias e, na opinião de Élcio, atualmente a cidade possui público suficiente para manter um cinema comercial. Para Nilson, falta às pessoas de Mariana a oportunidade de vivenciar uma sessão de cinema tradicional. “Apesar de toda a facilidade que há hoje, da comodidade de assistir a um filme em casa, as sensações que uma sala de cinema te desperta são inomináveis.”

O declínio das locadoras Thaís Medeiros

Observar as prateleiras cheias, admirar os cartazes e escolher um filme para alugar era um ritual comum até o fim dos anos 2000. Era necessário aguardar algum tempo pelos últimos lançamentos e, às vezes, havia grandes listas de espera pelos títulos mais concorridos. Ainda assim, frequentar videolocadoras fez parte do cotidiano de vários brasileiros por muito tempo. Hoje, ao entrar na Video Place, localizada no Jardim de Mariana, quase não se percebe que ali funciona uma locadora. É preciso passar por várias mesas e por um self-service para encontrar as tímidas prateleiras, que mantêm os poucos filmes restantes. Enquanto isso, as mesas costumam estar cheias de pessoas que comem e bebem com os amigos, ignorando completamente os DVDs ali existentes. Segundo a União Brasileira de Vídeo (UBV) entre 2003 e 2005 havia quase 14 mil videolocadoras no Brasil. Em 2012 esse número caiu para 4 mil, apresentando uma redução de 71%, e hoje é inferior a 2 mil. Em Mariana a situação não é diferente. A cidade possui, hoje, apenas duas locadoras que dividem seu espaço com outros produtos. De acordo com o proprietário da locadora Mundo Virtual, Diego Marques, a procura por filmes era maior durante os primeiros anos do comércio, inaugurado em 2006 na Praça da Sé. “Locadora hoje em dia é para quem gosta de filme mesmo, pra quem tem

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No Cine Vila Rica...

Em Ouro Preto a situação é diferente. O Cine Teatro Vila Rica funciona sob a administração da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) desde 2004 como um projeto de extensão. Segundo o bolsista Moisés Mota, “a extensão tem por obrigação dialogar com a comunidade e é esse o papel do cinema. Ele leva para a sociedade a sétima arte como contrapartida à acolhida dos ouro-pretanos à academia”. Atualmente o Cine Teatro, em conjunto com sua empresa de gestão financeira, a Fundação Educativa Ouro Preto (Feop), enfrenta dificuldades na compra de filmes do circuito comercial. Por isso, o cine teatro tem exibido apenas mostras gratuitas de filmes não comerciais. A partir de abril, o Cine Vila Rica iniciará um programa de fomento ao cinema que conta com quatro projetos, divididos em dois núcleos. O primeiro inclui os projetos Conversando Cinema e Cinema Itinerante e o segundo o Cinema com a Escola e Produção Audiovisual. A produção deste ano será feita especificamente com alunos da rede pública. “Iremos produzir roteiros e curtas com essas crianças, apresentá-las à sétima arte e ao processo de produção audiovisual”, conta Moisés. VEJA OUTRAS INFORMAÇÕES SOBRE CINEMA NA VERSÃO ONLINE

JOÃO VITOR MARCONDES

prazer em vir, olhar a capa, ter mais opções de escolha.” Diego ainda conta que os aparelhos de Blu-Ray têm fomentado o negócio, pois as pessoas com acesso a essa tecnologia gostam de assistir a filmes com uma qualidade melhor de imagem e som. Ainda assim, além dos aluguéis de filmes, a Mundo Virtual trabalha também como lan house, bombonière e papelaria. “Hoje em dia para a locadora funcionar, ainda mais aqui que o mercado é pequeno, tem que trabalhar com outros serviços agregados”, afirma.

Reestruturação De acordo com o artigo “A mudança no mercado de videolocadoras sob a perspectiva da ecologia das populações organizacionais”, dos pesquisadores Luciano Ferreira da Silva, Meire dos Santos Lopes e Paulo Sérgio Gonçalves de Oliveira, a história das videolocadoras no Brasil tem seu início em 1981 e “na primeira metade da década de 1980, esta novidade passou de artigo de luxo para um equipamento indispensável nas salas de estar da classe média”. Até encontrar seu declínio por volta de 2010, tendo que se associar à venda de outros produtos para permanecer no mercado. Segundo o pesquisador de audiovisual, cinéfilo e diretor de cinema Alex Vidigal, o surgimento do processo digital, a partir de 2000, reinventou as formas de distribuição e acesso ao material audiovisual. Plataformas como Youtube e distribuidores de torrents são

Diversificação. Para se manter, estabelecimento também funciona como restaurante

exemplos de como se tornou fácil e cômodo ter acesso a conteúdos cinematográficos, o que contribuiu para o declínio das locadoras. Essa facilidade de downloads gratuitos e sites com uma variedade cada vez maior de conteúdo fazem com que pagar uma taxa média de três a quatro reias por filme se torne uma opção menos atrativa. Não custa lembrar que esse tipo de download gratuito, em geral, é criminoso - a famosa pirataria digital. Para Alex, que frequenta locadoras até hoje, ainda existe um mercado de aluguel de filmes, mas ele exige diversidade. As locadoras tiveram que se reinventar com o tempo e já não podem ser pensadas como um lugar que ofereça um único produto. Muitas têm oferecido cursos voltados para o cinema e a TV, por exemplo; outras viraram espaços culturais. Além disso, o professor define as pratici-

dades proporcionadas pelos downloads e serviços de streaming – que permitem a transmissão de arquivos audiovisuais instantaneamente sem a necessidade de baixá-lo – como uma “facilidade ilusória”. Isso ocorre, porque, ao contrário das locadoras em que há um prazo definido para a devolução do filme, esses serviços oferecem a possibilidade de manter vários arquivos baixados no computador e, por essa garantia, adiar o momento em que se assistirá ao filme. Alex conta também que já presenciou casos em que conteúdos que estavam disponíveis no Netflix, serviço de streaming mais conhecido e popular no Brasil, foram retirados do site. “As pessoas têm que perceber que serviços de streaming são como locadoras, só que você não sabe em qual momento os filmes vão deixar de estar disponíveis ali.”

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Arte: CAMILA GONÇALVES

CULtura

Bracher: insólito e tempestuoso Com a necessidade de ser intenso, artista plástico consagrado revela a própria natureza ao contar sobre sua vida e criações GABRIELA SANTAROSA

Anna Flávia Monteiro

“Eu sou essa pincelada”, ele declara com firmeza, enquanto folheia as páginas de um pesado livro que conta a trajetória de sua vida e mostra com a face iluminada o quadro que sintetiza sua própria natureza – é a transcendental Vila Rica através de seus olhos na obra “Paisagem de Ouro Preto”, de 2005. Dentre os tons terrosos e escuros, usufruindo da intensidade que aprecia, Carlos Bracher se encontra nas linhas da cidade que tanto ama. Ao ouvir suas muitas memórias, é possível compreender a naturalidade em criar de Bracher. Em meio a músicos e pintores em Juiz de Fora, seus primeiros anos se passaram num lugar onde criar era natural e inevitável. A efervescência da casa dos pais era tamanha que acolhia pessoas de fora, configurando-se como ponto de refúgio e organismo vivo. “As pessoas se sentiam seduzidas por aquele casarão. Eu nunca vi nada igual”, conta. A “casa dos olhares”, como a chama com carinho, nutria os personagens que nela viviam, dois deles essenciais para a construção do artista que Bracher se tornou. “Que responsabilidade ter vivido com aqueles dois gigantes”, lembra. Décio e Nívea Bracher foram guias culturais e artísticos de influência ímpar na vida do artista, incentivando-o desde bem novo a descobrir o seu próprio modo de expressão na arte. Ao pintar os perfis dos irmãos, o fascínio pelos personagens se concretiza num ato definitivo de amor. “Décio era um leque dos saberes, todos eles – o sujeito mais puro que conheci. Já Nívea era a essência da arte, era a ternura personificada.” As mãos sobem ao peito e ao rosto, como se precisassem tornar visível a saudade dos dois, falecidos há pouco mais de um ano.

Essência. Bracher mergulha na cidade de Ouro Preto para reinventar-se em suas obras

Num curta produzido por Olívio Tavares de Araújo no final da década de 80, as impressões dos irmãos sobre Carlinhos, como o chamavam, é igualmente sincera e afetuosa. Nele, Décio diz de modo muito vivaz que vê o irmão como alguém que pinta sem pensar e apenas transborda na tela. Já Nívea desenha a imagem de um operário. Carlinhos é a ausência de fadiga diante da tela, aliando o talento ao labor. “Ah, a morte... ela não mata todas as coisas”, compartilha num sorriso sereno o operário visceral à minha frente. A gratidão para com a casa que o criou se arrasta até Ouro Preto, descoberta pelo artista em 1964 quando veio para a cidade com a irmã. Ao se deparar com a magnitude do lugar, Carlinhos cai de quatro, como ele mesmo

conta. As linhas das ruas e casas brincaram com a curiosidade do artista, que se interessou imediatamente por cada aspecto do que via. “A cidade dos mistérios”, define, como se a impressão tivesse sido cunhada na mente no primeiro contato e permanecido intacta até então. Foi no Carnaval de 1971, em passagem pela cidade, que Bracher decidiu ficar. Deixar definitivamente o ponto de origem em Juiz de Fora foi um passo difícil, dado aos tropeços, mas com uma certeza intuitiva que não o deixou mudar de ideia. Junto com a esposa Fani, também artista plástica, e apoiado pela família, Bracher iniciou outra vida nas ruas tortas de Ouro Preto. A casa era o preço de um Fusquinha, recorda, nostálgico. A ideia inicial era permanecer por dois ou três anos e

decidir como seria depois. A família Bracher completa, orgulhosamente, 44 anos de morada provisória em Ouro Preto. Falar sobre a cidade com Carlinhos significa entrar em cômodos repletos de calor e cor de sua essência. Se portar diante de uma tela para retratar qualquer cenário ouro-pretano é perigosamente fácil, como ele mesmo garante, e culpa a beleza inevitável do lugar. Tal característica é observável em suas obras. Os olhos barrocos do artista reinventam a realidade, recriam o que veem e tal processo resulta numa representação, para ele, eterna. A cidade, como o próprio tom da voz entrega, é sua menina dos olhos. Quando discorre sobre seu processo de criação, Bracher é firme ao declarar que não é o pintor do bonito. A beleza da qual corre atrás é confusa e dramática, como diz, a beleza contemplativa e não a decorativa. Não dispensa a presença da música no momento da pintura. Pelo contrário, ela torna-se tão importante quanto a própria tinta. A necessidade de ser complexo se torna recorrente e a prioridade é a emoção – se a arte não for intensa, não for um grito, ela não é nada. “É preciso ser insólito e tempestuoso. Eu tenho que pintar como um louco”, sorri, apaixonado. Em 57 anos de carreira, foi há pouco que Bracher se reconheceu dentro do status de artista. Despreocupado, confidencia que falar mal de si mesmo é um exercício diário. Carlinhos, Carlinhos... Faço ecoar Drummond, que declarou ter se encontrado com Minas ao se deparar com seus quadros. Sim, faço par ao mineiro dos mineiros e me comovo junto a ele e a tantos que leram uma história em cada um de seus traços. Dizem que o artista é o último a se assumir. Gratidão pelo momento de Carlinhos ter chegado.

GABRIELA SANTAROSA

O costume da oração guardado no museu Júlia Cabral

Walter Firmo, 77 anos, fotógrafo e jornalista carioca premiado internacionalmente, visita Ouro Preto há 47 anos. Sem pressa, disse já ter vindo à cidade cerca de 50 vezes, desde 1968. Durante uma das viagens, veio relembrar a Igreja Nossa Senhora do Carmo e ficou curioso com o prédio aberto logo ao lado. Descobriu que o espaço era o Museu do Oratório, que o deixou maravilhado. Anos depois, o LAMPIÃO encontra Walter visitando o local novamente, um tesouro discreto. “Ele é escondido, as pessoas não conhecem. Tem que haver um tipo de publicidade ali na Praça Tiradentes, mais eficaz, mostrando o que vocês têm.”, ele diz. Em um espaço movimentado diariamente, o museu é pouco conhecido entre turistas e moradores da cidade. A coordenadora geral do Museu do Oratório, Vanessa Gonçalves de Vasconcelos, diz que “muitas vezes as pessoas que moram na cidade não têm conhecimento, infelizmente, do patrimônio que elas possuem.” Isso se deve, na visão dela, mais a uma tradição de descaso em relação às riquezas culturais do que à falta de propaganda. Segundo a coordenadora, a divulgação do espaço e de suas ações é feita pela assessoria de imprensa, além de cartazes distribuídos nos murais públicos. O museu é gerido pelo Instituto Cultural Flavio Gutierrez (ICFG) e também faz parte do Sistema de Museus de Ouro Preto, que engloba os outros 12 museus da cidade. “A gente elabora ações em conjunto. A estratégia do sistema é de, a partir de um museu, você conseguir a divul-

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gação de todos. É como um guardachuva”, explica Vanessa. De acordo com o site do museu, são recebidos mais de 50 mil visitantes por ano, uma média diária de cerca de 137 pessoas. O Museu da Inconfidência, a poucos metros de distância, registrou uma média anual superior a 133 mil visitantes por ano, quase três vezes mais que o Museu do Oratório. Ainda assim, a administração do espaço acredita que a visitação do museu é alta. Já a Igreja Nossa Senhora do Carmo, do outro lado do museu, tem uma média de 124 visitantes por dia, mais baixa. Muitas vezes as pessoas que moram na cidade não têm conhecimento, infelizmente, do patrimônio que elas possuem” Vanessa Gonçalves de Vasconcelos

O presidente da Associação de Guias de Turismo de Ouro Preto (AGTOP), Nelson Marcos da Silva, 64, afirma que um dos motivos para a falta de ouro-pretanos nos museus da cidade são os preços altos e a falta de conhecimento sobre gratuidades. “O que precisa fazer na cidade é uma campanha de que o museu, antes de ser do turista, é nosso. Se fizer uma pesquisa com a população, ninguém sabe que dia se entra no museu de graça.” Ele acredita que os atrativos e ações culturais são divulgadas quase somente em pontos turísticos, o que não atinge a população. Ele afirma que há mais de um ano não recebem material sobre os museus de Ouro Preto.

Ainda segundo ele, mais da metade dos grupos de turistas que são indicados a visitar o Museu do Oratório deixam de ir depois de passar pelo da Inconfidência, já que este apresenta uma sala somente com oratórios. Além do tema repetido, os valores das entradas também desmotivam os turistas, afirma Silva. No Museu da Inconfidência, por exemplo, paga-se R$10,00 em uma entrada inteira e no do Oratório R$5,00. Indicação Adriano Lima, 18, e Paulo Rocha, 23, paraenses, dizem que apesar das pessoas serem receptivas para repassar informações, falta propaganda dos pontos turísticos e informações sobre as localizações. Thaís Lopes, 55, de Itabirito, já veio a Ouro Preto algumas vezes mas nunca visitou o Museu do Oratório, que descobriu através de uma reportagem na televisão em 2013. Eva do Carmo é vendedora da Feira de Pedra Sabão e sempre trabalhou em Ouro Preto. Ela lida com turistas todos os dias e diz que tanto moradores quanto viajantes parecem não saber da existência do museu. Ela já o visitou e o indica para quem passa pela feira. “Tem muita coisa que eles não sabem onde fica. Às vezes perguntam o que tem mais para visitar além das igrejas, e a gente vai indicando.” Segundo Eva, falta informação sobre o espaço. “A mesma importância que tem o Museu da Inconfidência, o Museu do Oratório também tem. Os dois contam a história da cidade, da região.” Até o fechamento desta edição, não nos foi informado o valor gasto pelo museu com publicidade.

Relíquias. Em Ouro Preto, peças narram história da devoção católica

Por dentro da coleção de oratórios

Inaugurado em 1998, o museu reúne um acervo único de 162 oratórios e 300 imagens datados entre os séculos 17 e 20. O oratório é um objeto religioso que recria um altar particular. Todas as peças do museu são brasileiras e, principalmente, de Minas Gerais. A coleção conta parte da história da cidade, trazendo peças com influências barrocas, rococós e neoclássicas, que remetem à cultura e hábitos do ciclo do ouro. Neste período, a exportação do ouro era a principal atividade econômica do país e Ouro Preto, um dos principais garimpos. A particularidade do acervo já o levou longe. Ele já fez parte de exposições itinerantes dentro do Brasil e até no exterior, em países como França, Itália e Espanha.

Além disso, o museu recebe visitas escolares, um público-alvo do museu, segundo a coordenadora, e desenvolve projetos de ação educativa para os alunos da rede pública de ensino de Ouro Preto. Também é realizada a Série de Concertos, com um programa de música instrumental apresentada dentro do museu, com entrada franca para moradores de Ouro Preto. Localizado no adro da Igreja Nossa Senhora do Carmo, e a poucos metros da Praça Tiradentes, o Museu do Oratório fica aberto todos os dias, das 9h30 às 17h30. É gratuita a entrada para estudantes, professores, ouro-pretanos e guias de turismo, com comprovação. Mais informações podem ser obtidas pelo site museudooratorio.org. br ou pelo telefone 3551-5369.

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Arte: larissa pinto

io prietár o r p m episão te lico, n r uma nova rb ú p o o ç o o espa pichação: p ão o seu sup . n , e d a s ia d á na ci igo Grafite & da cotidiana te do dia a d t s e e t grafi stram ão par no art s da vi ade. “O acci Ramos e, os espaço o notados, s ro Preto mo d i l a n sã Ou red ton ssa fi para e lia Maria An uro, uma pa as vezes nem e Mariana e recados. s o d a i t m cr ui sd em Ce foram ia”, explica da arte. Um ades que m des barroca s e transmit d a i e g e i r ) c v i e a v o s ext a da nem cidad , as p stão v set gia da ão bem à vid as históricas âneo, que e o foto l ( o o m r d e t lva belez dem t empo a Si as Se fun ecidas pelas para o cont d . istin e s r t a C m h algu paço Silvia Recon de são am, outras têm es a d m e i é c b d m a a so como que ta e pens Às vezes in u q o o prir. ue nã uco d um po ocuram cum ocais q l r a m r t e s s pr feito , mo ovocar aços urbano telas, é r p e , d z m ve esp o. orde silênci na. Em ns nos rter a Subve as mensage pem com o de arte urba s que mum re rom funçõe , mas semp bastante co am po encant fite é um ti a r Og

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grafite: Thiago Alvim com Mô Maiê

grafite: Oco Sapiens

grafite: BSA

Ensaio

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