OLD Nº 65

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expediente

revista OLD #número 65

equipe editorial direção de arte texto e entrevista

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu, Paula Hayasaki e Laura Del Rey

capa fotografias

Alexandre Pottes Macedo Alexandre Pottes Macedo, Andrea D’Amato, Antônio Emygdio, Estefania Gavina e Paulo Savala

entrevista email facebook

Eder Chiodetto revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold

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índice

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livros

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plana festival int. de publicações

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alexandre pottes macedo

exposição

por tfólio

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antônio emygdio por tfólio

estefania gavina por tfólio

eder chiodetto entrevista

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andre d’amato por tfólio

paulo savala por tfólio

reflexões coluna



carta ao leitor

Tenho um gosto especial por edições que conseguem unir diversas lógicas e aspectos da fotografia, sem que tudo vire uma bagunça. Em nosso Nº 65, acredito que conseguimos trazer trabalhos diferentes, mas que não perdem a conexão entre si, criando uma experiência da leitura das mais agradáveis. Temos os trabalhos de Alexandre Pottes Macedo e Paulo Savala, que estão, vamos dizer assim, no território da fotografia de rua, o trabalho de Antônio Emygdio, que constrói uma tipologia pós-desastre de Mariana, o trabalho de Estefania Gavina, que lida com memória, surrealismo e fotografia vernacular e o projeto Futuro do Pretérito, de Andre D’Amato, que lida com diferente visões de um momento na história

de uma família. Todos estes trabalhos estão ligados pelo afeto, pela construção de histórias potentes e por uma visão complexa do fazer fotográfico. Além destes cinco incríveis trabalhos, temos uma entrevista com Eder Chiodetto. O curador e editor foi o entrevistado da nossa edição de Nº 4. Depois de 6 anos, Eder volta para contar as novidades. Esta edição também marca um novo período para a OLD. Até o final de 2017 iremos testar uma periodicidade bimestral, para trazer edições mais completas e caprichadas para você. Espero que goste da novidade!

por Felipe Abreu

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livros

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EVIDENCE

de Larry Sultan e Mike Mandel

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Source, revista irlandesa de fotografia, apontou Evidence como um dos 10 melhores fotolivros da história. Não é para menos. Lançado em 1977 por Larry Sultan e Mike Mandel, o livro revolucionou a lógica de produção de impressos em fotografia, trazendo uma série de imagens de arquivo ressignificadas e montadas em uma sequência totalmente única. Se isso parece algo relativamente comum nos dias de hoje, Evidence foi o grande precursor deste projeto. Esgotado a muitos anos e com uma primeira edição com valores astronômicos, este grande clássico da fotografia foi relançado recentemente pela D. A. P. e agora pode ser adquirido por valores consideravelmente mais acessíveis. Com certeza é uma adição valiosíssima à sua biblioteca. 

Disponível no site da Artbook valor R$ 130 92 páginas 6


livros

SOBRAS

de Geraldo de Barros

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eraldo de Barros é um dos grandes nomes das artes visuais do século XX no Brasil. Sua produção com fotografia e, especialmente suas intervenções em seus negativos, são de uma potência impressionante. Neste ano, quase uma década depois de sua morte, a editora francesa Chose Commune publica o livro Sobras, dedicado justamente a estes experimentos com cortes e intervenções em negativos fotográficos.O livro, apresenta a última grande produção de Geraldo, já no final de sua vida. Sobras está em pré-venda neste momento, com lançamento previsto para Abril. Apesar do preço salgado, o livro vale a pena por ser o primeiro lançamento internacional dedicado ao autor e por ter edição da equipe da Chose Commune, trazendo um novo ritmo ao trabalho.  Pré-venda no site da Chose Commune valor R$210 124 páginas

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exposição

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A PLANA SE PREPARA PARA O FIM DO MUNDO Agora Plana Festival Internacional de Publicações e não mais Feira Plana, o festival sai do MIS e chega na Bienal com nova energia e tema apocalíptico

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ão 150 expositores de três continentes e projetos que variam entre zines, pôsteres, prints e livros ocupando o Pavilhão de Bienal e interpretando o tema “fim do mundo”. A Plana cresceu, mudou e parece mais forte do que nunca, trazendo uma seleção incrível de participantes, uma infinidade de lançamento e uma programação paralela impressionante, tudo isso com uma certa distopia envolvida, convidada pelo tema escolhido para esta edição do evento. Entre os dias 17 e 19 de Março a Plana apresenta sua 5ª edição, dessa vez como um festival e não uma feira,

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apresentando assim uma proposta mais plural, que não se concentra apenas na venda de livros, zines e afins. Entre os destaques desta nova proposta estão as conversas com Paulo Nazareth, Laerte Coutinho e o lançamento / performance / exposição de Sofia Borges para seu livro The Swamp. Entre os 150 expositores, cabe destacar a forte presença latina, que – esperamos – possibilite o tão importante intercâmbio com nossos vizinhos, algo que, curiosamente, muitas vezes não acontece. Além das editoras latinas, também estarão publicadores

dos EUA, Canadá e Europa. Entre estes, destaco a Caravan, iniciativa que une fotógrafos de cinco diferentes países e a Issue Press, que traz sua produção focada em risografia. Além das visitas internacionais, também teremos um super time brasileiro, com destaques para a Madalena, Fotô Editorial, Vibrant, Pingado Prés, entre muitos outros. 

A Plana Festival Int. de Publicações ocorre no Pavilhão da Bienal entre os dias 17 e 19 de Março. Mais informações em www.feiraplana.org


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ALEXANDRE POTTES MACEDO Pura Dura Beleza

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lexandre traz para as páginas da OLD a sua visão do interior do Pará. As imagens do ensaio falam de uma rudeza na beleza natural e construída na região, um processo de construção visual baseado em cores fortes, quentes, debaixo de um sol que racha. Nesses fragmentos de vida apresentados por Alexandre vemos um ritmo próprio de movimento e de organização urbana, que envolve decadência, natureza e cotidiano, todos com sua beleza própria.



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Alexandre, como começou seu interesse pela fotografia? Começou com minha esposa, ela tinha uma Pentax que ela ganhou do pai dela. Quando começamos a namorar, ha uns 17anos, comecei a brincar com a câmera dela e peguei o gosto pela coisa. Logo comprei uma Nikon FE com uma lente 50mm e comecei a fotografar. Meu primeiro trabalho foi um casamento de um amigo que indicou outros amigos e que outros me indicam até hoje. Na época trabalhava exclusivamente com design gráfico e logo comecei a oferecer o serviço de fotografia para alguns clientes. O fotojornalismo veio em seguida, fiz alguns ensaios, publiquei em algumas revistas mas não sou jornalista e vi que meu

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interesse era mais para a fotografia documental, percebi que estava interessado nas relação, no oque estava por traz do fato, jornalisticamente falando. Nos conte sobre o desenvolvimento da série Pura Dura Beleza. Esta série foi feita durante duas viagem a trabalho como cinegrafista para uma produtora que estava fazendo um documentário sobre projetos de uma ONG no estado do Pará. Foi minha primeira vez nesta região e pude visitar vários lugares distintos como uma comunidade quilombola isolada no norte do estado a produtores de cacau na cidade de São Felix do Xingu. Uma realidade muito diferente da minha no interior de São

Foi nesse interesse que começou a formar o ensaio, nos pequenos detalhes e contrapontos da beleza com o rústico. Paulo. No começo não tinha nada elaborado como ensaio, fui fotografando o que me chamava a atenção o que tornava aquela realidade tão diferente da minha. E foi nesse interesse que começou a formar o ensaio, nos pequenos detalhes e contrapontos da beleza com o rústico. Como foi seu contato com as pessoas apresentadas nesta série e suas realidades? Que histórias mais chamaram a sua atenção? Uma história que me chamou a atenção e que deu o nome da série foi a de um menino que encontrei na


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casa de um produtor de cacau. Ele tinhas uns 10 anos, risonho, estava comendo uma laranja sanguínea, aquela que tem o centro vermelho, coisa mais linda. Ele tinha acabado de corta-la com uma destas grandes facas de açougue, só que a faca estava toda enferrujada. Aquela cena me chamou a atenção, era uma mistura de beleza, ingenuidade, brutalidade, simplicidade, rusticidade. Era uma beleza simples, do que tem que ser feito, do fazer, do viver com que tem. Outra cena que me marcou é do senhor Quilombola tomando banho no rio. Tinha acabado de chegar na comunidade quilombola, numa viagem de mais ou menos 3h de barco no norte do estado. Quando este homem chegou na margem do rio, com toda a calma do mundo e começou a se lavar sentado no pequeno tra-

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piche. Então ele se levantou e ficou parado um tempo olhando para o rio, como se o rio esperasse por ele e em seguida entrou na água. Cenas como estas grudam na cabeça. Você trabalha bastante com vídeo e produção de documentários. Como esta experiência interfere na sua criação fotográfica? O vídeo veio como uma necessidade de expressão da fotografia. Tinha muitos momentos em que a foto não era que eu queria e como agora todas as câmeras também filmam, o caminho para começar filmar foi relativamente rápido. Com mais dois colegas, a antropóloga Janaína Welle e o jornalista João Correia Filho criamos o coletivo Mó Documental onde nós três focamos em projetos documentais usando o audiovisual. Hoje

muitas vezes a foto pode vir como um complemento de um projeto de vídeo ou o contrario. É o caso do nosso último documentário “O lar que nos habita” que trabalhamos o vídeo como fotografia e agora queremos expandir o projeto acrescentando um ensaio fotográfico. Mas confesso, muitas vezes fico na dúvida, fotografo ou filmo. Quais os desafios e interesses de fotografar uma realidade diferente da sua? Eu gosto de fotografar gente e seus dramas, isso me move ir a outros lugares. Quero conhecer as pessoas e experimentar estas realidades e o mais engraçado é que, por ser tímido a minha maior dificuldade esta em criar estas relações. Pode ser que por isso mesmo eu queira fazer isso. 

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ANTÔNIO EMYGDIO Arqueologia De Uma Tragédia

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ntônio encarou o maior desastre ambiental da história do Brasil e um dos maiores do mundo. Em Mariana, ele buscou os pedaços de vida deixados para trás na lama. Essa coleção de objetos encontrados conta parte da dureza e da velocidade da destruição causada pela Vale/Samarco. Cada objeto fotografado lembra uma vida que foi inconsequentemente destruída pela atrocidade que varreu Mariana.



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Antônio, nos conte sobre a produção de Arqueologia de uma tragédia. A produção foi bastante amadora, fiz tudo sozinho. Procurei alguns guias na região, mas no fim decidi ir sozinho aos locais afetados. Na época eu morava no Rio. Tirei uma semana de férias em dezembro de 2015 e fui de carro para lá. Fiquei em Ouro Preto porque os hotéis de Mariana ainda estavam lotados com os desabrigados da tragédia. Perguntando para moradores, cheguei a Bento Rodrigues e a Paracatu de Baixo, e tive sorte que não estavam impedindo a entrada naqueles dias. Mais tarde passaram a impedir a entrada porque muitas pessoas estavam saqueando o que havia sobrado das casas. Fiquei um bom tempo sozinho nas

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localidades, fotografando com calma. Foi uma experiência até mística em certo sentido, estar sozinho em meio ao silêncio daquela destruição. É impressionante como somos pequenos diante da vida. Tudo pode mudar em muito pouco tempo. Você lida com tema de forte valor documental através de uma abordagem mais subjetiva. Como se deu o processo de construção da estética / abordagem deste trabalho? Esse tipo de fotografia é de um desafio enorme. Diferentemente de uma reportagem jornalística, eu entendo que a fotografia documental deve se aprofundar mais no tema e buscar criar no leitor um sentimento mais profundo e duradouro. E isso

Minha vontade era que o leitor, ao ver tal objeto, pudesse, por um momento, se colocar no lugar da pessoa atingida. é dificílimo, ao menos para mim, no estágio de aprendizado em que me encontro. Gosto muito de abordar a dimensão humana dos acontecimentos. Mais que as dimensões políticas ou econômicas, me interessa o seu impacto imediato na vida das pessoas. Naquelas primeiras semanas, pouco importava para um morador saber quem havia sido o culpado pela tragédia ou se as leis ambientais (e sua aplicação) são frouxas. Também não importava a análise sócio-econômica sobre a dependência da economia da região da atividade exploradora de minerais.


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O que importava para a pessoa é onde ela iria dormir, o que iria vestir, a falta do cachorro de estimação, companheiro de anos, que morreu no acidente, as fotos de família que ela perdeu, seus pertences que ficaram soterrados...Nesse sentido, achei que fotografar os objetos deixados forçosamente para trás seria uma abordagem menos agressiva às vítimas e poderia criar uma ligação com o leitor, uma vez que esses são objetos de uso do dia a dia de qualquer família. Minha vontade era que o leitor, ao ver tal objeto, pudesse, por um momento, se colocar no lugar da pessoa atingida. Escolhi o agrupamento em dípticos para criar uma relação estética entre objetos que não necessariamente possuem uma relação funcional. Achei que chamaria o leitor para analisar as fotos por mais

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tempo e fazer suas conexões pessoais. Quais foram os principais desafios durante a produção desta série? Um dos problemas era o pouco tempo que possuía. Não seria possível aprofundar a história possuindo um tempo de menos 1 semana. Um trabalho documental de qualidade, de impacto, demanda tempo, aprofundamento, confiança das pessoas e uma sensibilidade do fotógrafo que só é adquirida com mais tempo de envolvimento no assunto, com as pessoas e com o local. O maior desafio, entretanto, acho que foi a edição do trabalho. Para mim, ainda é difícil fazer uma edição consistente, na qual eu consiga me desvincular do sentimento presente no momento da fotografia. Ser frio para cortar imagens que são boas, mas que não se encaixam

no ensaio. Por outro lado, pedir para outra pessoa editar pode levar a um resultado distante daquilo que você buscava. Acho que o jeito mesmo é aprender com a experiência... Outro desafio, para um fotógrafo amador, é como encontrar um veículo que queira expor um trabalho desses. Faltam no Brasil publicações fotográficas e o interesse da mídia jornalística é por um viés mais fotojornalístico para preencher suas páginas imediatamente, espaço que já é ocupado pelos fotógrafos de seu staff. Nesse sentido, a Revista OLD é um oásis no deserto. 

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ESTEFANIA GAVINA

This Could Have Been Good

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stefania Gavina, artista argentina radicada em Campinas, é um dos pontos de energia no interior paulista. Sua criação visual é de uma potência impressionante e, além disso, Estefania faz grandes esforços para unir e mobilizar a comunidade artística na sua cidade. Em This Could Have Been Good, ela explora as possibilidades da colagem, da fotografia e do realismo fantástico. As imagens criadas são ao mesmo tempo divertidas e intrigantes, nos mostrando não só a lógica construtiva da autora, mas também as incríveis possibilidades de justaposição e sobreposição de imagens fotográficas.



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Assim tento questionar a eterna Estefania, como começou seu interesse pela fotografia? Meu interesse começou quando percebi que conseguia me expressar muito melhor por meio da fotografia do que pelas minhas pinturas. As emoções em 2003 borbulhavam na minha cabeça de grávida (de meu segundo filho Caetano, depois tive mais dois) e só conseguia representar meus desejos atrofiados por meio das imagens fotográficas. Minha primeira série foi com uma bola de isopor branca que deixava no chão, ou entregava às pessoas que cruzava na rua, em Sousas, Campinas. Foi um lindo romance com a fotografia, mas agora sinto vontade de voltar meu trabalho para a colagem e o desenho.

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Nos conte sobre a criação de This Could Have Been Good. Há muito tempo coleciono fotografias antigas de diversas origens: achadas na rua, trocadas ou até mesmo entregues na minha porta por catadores de lixo com quem criei vínculos. Meu primeiro contato foi em 2013 com J.B. , enquanto nós dois procurávamos objetos abandonados dentro de uma casa que estava sendo demolida na cidade de Campinas. Ele me alertou da quantidade de fotografias que achava na rua. Assim começou nossa parceria. Em 2015, minha avó materna morreu e voltei da Argentina com uma mala cheia de fotografias de família. Minha mãe ia jogar tudo fora (assim como fazem muitas famílias que têm mães minimalistas). Peguei

insatisfação humana, do que poderia ter sido melhor. tudo e coloquei numa grande mala, inclusive algumas rasgadas por ela que consegui resgatar do lixo, junto com papéis de arquivo inglês muito antigos que serviam para colecionar selos postais. Você partiu de um grande acervo de imagens para produzir estas colagens e construir a narrativa da série. Como foi feito o processo de seleção das imagens? Como você pensou a narrativa desta série? A partir dos pedaços das imagens rasgadas por minha mãe, comecei o trabalho de juntar partes, de uma forma


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livre, procurando escutar as ligações secretas das imagens. A partir disso, surgiu a ideia de recriar um álbum de família, desta vez com páginas soltas, para montar histórias fictícias (surrealistas) sobre aquilo que gostaríamos de ter sido. Esse processo me permitiu continuar rasgando fotografias para construir pela ausência, por meio das sobras, uma outra memória para essas imagens. Encontrei no verso de uma das imagens a frase escrita por minha avó materna This could have been good (tudo poderia ter sido melhor), que dá o título ao trabalho. Assim tento questionar a eterna insatisfação humana, do que poderia ter sido melhor. A fantasia e o surrealismo estão bastante presentes nesta série. O que mais te fascina neste tipo de constru-

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ção visual? O que mais me fascina é a desconstrução mental, provocar o desconforto na hora de olhar e tentar decifrar o que significam essas colagens. Por que elas se juntam? As imagens têm emoções próprias? Elas carregam uma história na metade delas, ou a historia só começa quando se juntam a outras? Você trabalha com imagens vernaculares, de arquivo e com intervenção em fotografias. O que mais te interessa neste processo de apropriação, de atribuição de novos significados a uma imagem? Me interessa primeiro de tudo resgatar e decodificar essas imagens para trabalhar com elas. Sinto que estou sempre reciclando objetos, emoções, lembranças. Quando me encontro

frente a um grande arquivo, tenho uma estranha sensação de ambigüidade, desconforto e curiosidade ao mesmo tempo. Meu trabalho com imagens vernaculares, nasce da inquietação de fazer uma reflexão na direção de como tornar, revalorizar as fotografias amadoras ordinárias atribuindo a elas também o seu peso de memória. A pretensão do projeto no qual estou trabalhando é na construção de um grande arquivo descartadas no lixo, para dar um destino poético às imagens. »

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EDER CHIODETTO OLD entrevista


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Eder Chiodetto é uma das figuras centrais do universo fotográfico no Brasil. Seja como editor, curador, professor, Eder esteve presente em pontos de virada marcantes na história da nossa produção visual. A primeira entrevista da OLD com Eder foi em nosso Nº 4, em 2011. Seis anos depois, temos muito assunto para colocar em dia: nova sede, novos projetos, editora, livros recém lançados e muito mais. Como está a vida na nova sede? Que mudanças vieram com este novo espaço? A mudança principal é a abertura da Fotô Editorial, nossa editora, que é uma consequência direta do trabalho de acompanhamento feito nos grupos de estudo há sete anos. A gente tem uma média de sessenta fotógrafos que participam dos grupos de estudo e chegou um ponto em que

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parte destes trabalhos já estavam bastante prontos para ir para o mundo. Como a gente sabe como é complicado encontrar espaços para expor, conseguir editais e aproveitando o boom dos fotolivros, sentimos que era o movimento natural a fazer para começar a apresentar estes trabalhos. Este processo uma decorrência muito natural dos grupos, quase que uma pressão natural que veio de dentro deles para que a gente começasse a publicar. Tanto que nossos quatro primeiros lançamentos são de participantes dos nossos grupos e a grande maioria dos nossos lançamentos previstos também tem origem nos grupos. Além da editora, também estamos expandindo o programa de grupos de estudo e workshops, trazendo novas estruturas e objetivos. A Fabiana Bruno traz um trabalho mais focado no processo de escrita, tere-

mos uma série de convidados que trazem novos pontos de vista sobre a fotografia e novas visões sobre textos clássicos, ampliando bastante nosso horizonte de ação. Qual a importância de termos um processo de formação de artistas / fotógrafos no Brasil? Como estes centros de discussão podem enriquecer nossa produção artística? Acredito que este crescimento de grupos de estudo e formação e da sua importância é um sintoma do formato de produção contemporâneo. À medida em que vamos nos individualizando cada vez mais, construindo relações predominantemente virtuais ou à distância, acabamos também criando um movimento de rebote, que à partir deste modelo de produção solitária acaba criando a necessidade do encontro, da troca presen-

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cial. Minha experiência nos grupos de estudo é muito intensa, vejo como é importante este encontro entre os participantes, criando um nível de diálogo muito mais intenso do que pelas redes, com espaço para a dúvida, o erro, a reflexão. Também acaba se criando um espaço para o sonho coletivo. Como estamos falando de produção autoral, de arte, de pesquisa, também estamos necessariamente falando de autoconhecimento. Quando a pessoa chega e começa a expor seus projetos, suas ideias, seus temores, seus desejos, a gente passa a ter uma relação humanizada e a fotografia às vezes acaba sendo uma mera desculpa, criando um caráter terapêutico muito forte, também. A gente fotografa à partir dos traumas, das obsessões, dos desejos e quando discutimos isso eu sempre busco entender o que a pessoa está buscando

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representar, qual é a maneira mais legítima de representar visualmente estes processos. Neste sentido, da fotografia como uma ferramenta para representar sentimentos e obsessões, temos uma visão de que a maior função do fotógrafo hoje é contar histórias, construir narrativas e não só fazer boas fotografias. O que você acha dessa linha de pensamento? Eu acredito que o objetivo final da produção fotográfica é encontrar uma legítima tradução do seu desejo de representação. Saber o que é legítimo, genuíno é que a grande questão. Porque nós temos referências, teorias, pontos de vista sobre determinados assuntos, ideologias e tudo isso entra nesse processo de criação sensorial, até que se encontre um equilíbrio e se encontre este formato final de re-

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presentação. Então, temos uma busca por uma estética, uma narrativa, uma boa história, mas é sobretudo a busca por um espelho, no qual você consiga se ver refletido da forma menos distorcida possível. Meu trabalho como curador, editor ou orientador é de auxiliar o artista a entender que entre o desejo de representar e a representação há sempre um foço, é impossível trazer para a matéria aquilo que você idealiza. O artista vai sempre ter este embate com a matéria, no sentido de moldá-la a tal ponto que ela fique o mais próximo possível daquilo que ele idealiza. Quando materializada, a obra pode estar muito próxima daquilo que o artista pensou, mas como a obra do artista não é para ele, mas sim para o mundo, cada pessoa que entrar em contato com esta obra pode levá-la para um lugar que ele nunca imaginou antes.

Voltando à Fotô Editorial, gostaria que você contasse sobre a estrutura da editora. Somos três sócios: Elaine Pessoa, que faz a produção executiva, Fabiana Bruno, que pensa junto comigo o conceito dos trabalhos e a escrita dos textos, e eu, que entro também com um aspecto mais forte de edição. Aliás, está sendo uma experiência incrível escrever alguns dos textos a quatro mãos, ao lado da Fabiana. É a primeira vez que consigo escrever dessa forma com alguém e está sendo ótimo. Em relação à estrutura dos lançamentos: por que duas coleções distintas? Vocês terão mais linhas dentro da editora? Eu não queria fazer uma editora para só lançar nomes consagrados. A gente vai ter mais pra frente alguns lan-


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çamentos nessa linha, mas ele não é o foco central da Fotô. Assim, temos a Coleção Ensaios Fotográficos e os livros customizados, que entendemos que precisam de elementos específicos de estrutura e direção de arte, que não caberiam no formato da coleção Ensaios. Gostamos da ideia de lançar novos autores nessa coleção. A editora tem um conselho, que tem que aprovar todos os projetos que serão lançados. Não queremos lançar um livro só porque ele está financiado ou algo assim. Queremos lançar livros nos quais a gente acredita, dentro de um sistema de edição em que o autor dialogue com a gente. Os que chamamos de customizados ou personalizados, são livros que precisam ser maiores, ganhar outro formato ou pensar em um livro como objeto, como o Nimbus, da Elaine Pessoa. Por isso entendemos que

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era importante ter essas duas linhas distintas dentro da editora. Também teremos uma terceira linha, que será lançada neste ano, que serão os textos teóricos. Estamos fechando com dois autores, que ainda não posso revelar, mas teremos uma grande surpresa! O site da Fotô está aberto para receber novas propostas de livros. Como está sendo esta experiência? Tem chegado muita coisa boa por lá? A gente já recebeu cerca de dez projetos via site desde o lançamento. Nenhum com muita força, mas ainda estamos analisando três que parecem ter uma qualidade maior. A ideia é poder entrar em contato com o autor, falar que temos interesse no projeto, mas que ainda é necessário um desenvolvimento do trabalho e, se houver interesse, trazer o autor para dialogar com a gente por aqui e

depois de um tempo termos a chance de publicá-lo. Gostamos muito de ter esse canal aberto, é uma ótima chance de conhecer novos trabalhos, até porque a editora não é restrita ao que é produzido nos grupos. Gosto muito da ideia da editora como forma de ampliar meu campo de pesquisa. Já recebemos projetos de Fortaleza, de Recife, de Porto Alegre, criando um radar sobre o que está sendo produzido no Brasil inteiro. Você trabalhou como editor de fotografia na Folha de S. Paulo, como curador, como editor, entre outras funções dentro do universo fotográfico. Quais são as diferenças que você percebe nessas áreas? Alguma te atrai em especial? Se eu for analisar mesmo, eu sou um editor. Acho que este processo começou nos 20 anos em que trabalhei para a Folha. Foi ali que eu comecei

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a me interessar por edição, pensando relação entre imagens, claro que um contexto jornalístico, mas já foi um início claro deste processo, buscando a imagem pontual, que tivesse uma estética atrativa, que chamasse a atenção do leitor, e uma grande carga de informação. Buscar este equilíbrio entre informação e estética foi um exercício muito radical que fiz por muito tempo lá e acho que, de alguma forma, é isso que eu continuo fazendo, seja como curador, professor, quando escrevo, a essência mesmo é essa. Acho que sou um editor que aliou o prazer pela pesquisa à edição. Vejo que são áreas porosas, que estão sempre trocando informações. Não acho que eu faça várias coisas diferentes. Elas podem ganhar roupagens diferentes, mas partem sempre desse meu diálogo com as imagens.

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Então, temos uma busca por uma estética, uma narrativa, uma boa história, mas é sobretudo a busca por um espelho, no qual você consiga se ver refletido da forma menos distorcida possível.

Para finalizar, gostaria de saber se você acha que o fotolivro é o melhor suporte para a fotografia. Eu acho que o livro é, para qualquer artista, mas principalmente para o fotógrafo um marco muito forte, ele é o grande cartão de visitas de um autor e muitas vezes pode superar uma exposição. O fotolivro, especialmente como a nossa geração pensa ele, como um objeto ativo, um suporte não só para as fotografias, mas para o conceito das fotografias, é de

grande importância. A lógica de trabalho criada pela aproximação entre fotógrafo, diretor de arte e gráfica, quando bem executada, faz com que o livro passe a ter uma capacidade de transmissão de códigos muito mais enfática do que antes. Uma exposição bem construída também tem essa característica, mas o livro tem a vantagem da perenidade. De fato, não dá pra pensar em ter uma carreira autoral como um fotógrafo se você não tiver como objetivo ter um livro. 


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ANDREA D’AMATO

Futuro do Pretérito

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projeto de Andréa D’Amato, que contou com a colaboração de seus irmãos e de sua mãe para realizá-lo, trabalha a partir de três cadernos: todos contendo as mesmas imagens, mas compondo histórias e silêncios diferentes entre si. A proposta da artista lida diretamente com o observador e as conexões que ele pode ou não fazer a partir dos três cadernos de memórias e das certezas que lhe faltam. “Futuro do pretérito é um tempo verbal que faz a mediação entre o que foi, o que poderia ter sido, o que é e o que será”. texto por Laura Del Rey



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As diferentes possibilidades de se Nos conte sobre o desenvolvimento de Futuro do Pretérito. A bem da verdade é que o “Futuro do Pretérito” não nasceu como projeto, foi uma ação proposta por mim, uma dinâmica que envolveu meus familiares em uma tentativa de restabelecer (de alguma maneira, se é que isso é possível) a memória de meu pai (afetada por uma doença que nos abalou muito). A ideia era simples, separei algumas fotos do álbum da minha família, montei três cadernos com as mesmas imagens e entreguei um para minha irmã, um para meu irmão e outro para minha mãe. Pedi que eles escrevessem ao lado de cada fotografia as recordações que as imagens evocavam, e em um determinado dia

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nos juntamos - na presença de meu pai - para falar das lembranças. Foi curioso e divertido perceber como as memórias ora se encontravam e ora se distanciavam completamente. A princípio, para mim, isso era apenas parte de um processo. Foi a insistência de amigos (o que seria dessa vida sem amigos?) que fez com que eu assumisse como um trabalho. Demorou até um tempo para eu realmente me convencer disso. Você está lidando com memória e com a percepção da memória por diferentes pessoas neste trabalho. O que te interessou nesta abordagem? O que mais te surpreendeu neste processo? A memória é esse lugar improvável, cheio de lacunas que muitas vezes

contar uma mesma história aguçam minha curiosidade. preenchemos de acordo com o nosso bel prazer. Os lapsos, encontros e desencontros da memória me surpreendem. E as diferentes possibilidades de se contar uma mesma história aguçam minha curiosidade. De certa maneira, “Futuro do Pretérito” foi inspirado no texto “Dez proposições acerca do futuro da fotografia e dos fotógrafos do Futuro” de Maurício Lissovsky. Em uma passagem Lissovsky enuncia que “toda fotografia está grávida de sonhos” e continua: “Todo achado em uma imagem de arquivo é um olhar correspondido que atravessa eras, o reencontro de um


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porvir que o passado sonhara e que somente nossos sonhos de futuro permitem perceber.” Acho que é isso, as fotografias e os sonhos de futuro me interessam. Futuro do Pretérito foi lançado no final do ano passado pela editora Quelônio e foi listado como um dos melhores livros do ano pela Zum. Como foi o processo de produção dos livros? Como está sendo a recepção do livro? Gosto de chamar o “Futuro” de livrinho, acho que o diminutivo combina com o projeto, por ser mais íntimo, pequeno mesmo. Sempre gostei do pequeno, grandes ambições não me atraem, sou da simplicidade. Isso não significa que eu não trabalhe com afinco nos meus ideais, apenas não tenho pressa, sou extremamente persistente, insistente e dedicada.

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Mas o “Futuro do pretérito” é assim, pequeno no tamanho, no número de páginas, na tiragem (são apenas 100 exemplares). Antes mesmo de nascer como livro, e muito antes de possuir um título, o trabalho já tinha assumido esse formato. A publicação da editora Quelônio manteve as principais características do proposta original. Claro que algumas adaptações foram necessárias. Desde quais fotos eliminar (a proposta original continha mais imagens) até onde e como incluir os créditos e o texto de apresentação (assinado pela Fabiana Bruno). Tudo, absolutamente tudo foi intensamente discutido com a equipe da Quelônio (obrigada Silvia, Bruno, Maria Helena e Marcelo) e para isso não nos preocupamos com prazos, as coisas foram acontecendo e sendo decididas em seu tempo. Acho

que isso foi bem importante para o resultado final. Sobre a recepção ... Sou novata nas publicações, este é o meu primeiro livro, não sabia que era tão gostoso sentir que o trabalho já não pertence mais a você e ainda fico admirada ao perceber como as histórias contada pelos meus familiares expandiram e tornaram-se outras. 

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A Passos Largos

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aulo Savala explora os caminhos entre luz e sombra nos centros urbanos brasileiros. Suas imagens, sua fotografia de rua, recortam corpos e prédios escondendo rostos e criando novas formas em cada cena apresentada. Ao lado das imagens, Paulo traz o texto como outra ferramenta expressiva, que participa ativamente da construção de sentido do ensaio. Dessa forma, Paulo expande os limites de sua fotografia, trazendo novas possibilidades para cada fotografia criada.



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O anonimato é a manifestação da Paulo, como começou sua relação com a fotografia? Quando eu era bem pequeno meus pais tinham uma câmera muito simples, uma Kodak instamatic 177 x. Eu ficava fascinado com a sua mecânica. Lembro de ficar brincando com ela e fuçando no diafragma com um lápis. Ainda guardo ela, toda rabiscada. Nos conte sobre a criação do ensaio A Passos Largos. Parti da ideia da necessidade que o corpo tem de um tempo de suspensão, de uma fenda que se abre. E busquei no cotidiano o que chamo de “rituais que transcendem o imediatismo da vida”.

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Qual o papel do texto na construção da narrativa deste ensaio? Para você ele tem a mesma importância que as fotografias? Fotografia e texto são ferramentas de interpretação de realidade e reconstrução. Onde você sintetiza e expressa como se sente no mundo. No caso desse ensaio, o texto escrito vem para esclarecer a forma como vejo as coisas. E a tentativa de sublimar a força poética das imagens. Quase todas as pessoas apresentadas na série tem seu rosto escondido. Para você, este anonimato é essencial? O anonimato é a manifestação da desconstrução da identidade. Esse momento não revelado. É o cair para

desconstrução da identidade. Esse momento não revelado. dentro. Para você, a rua é uma fonte infinita de inspiração? A rua é um lugar por onde se circula, de encontro, de resistência, de conflito e de choque. E também onde habitam outras realidades não codificadas. 


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O calor consumado em poucos minutos, aquece, me faz sonhar, em poucas tragadas nĂŁo estou mais aqui. Volto, continuo. Regresso silenciosamente.

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Continuo na jornada frenética que a matéria exige; desperto-me. De peito aberto e a passos largos, bato perna por aí. Paro, respiro, continuo. Sinto o suor percorrer todo o meu corpo. Com o peso da comida de um dia, a mão inchada, os dedos vermelhos e cansados, busco na sombra uma religião.

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Fofoco, e até mesmo cochicho ao pé do ouvido de Deus, esse que me abandonou, mas com quem eu insisto em compartilhar um balcão de bar. Sem medo de me molhar, mergulho na obscuridade, um mergulho solitário. Com o olhar vazio e sem culpa, vou escapando.

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FOTOJORNALISMO II AINDA EXISTE UMA MISSÃO? No passado recente o fotojornalismo “desocultava” a realidade. Logo depois passou a construí-la, ou seja, muito do conhecimento do mundo que temos na atualidade foi moldado pela produção dos fotojornalistas. Agora existem outras possibilidades abertas pelas mudanças ocorridas no campo da técnica, da forma, da estética. Podemos notar, inicialmente, que o controle é maior. Na cobertura dos conflitos armados, por exemplo, o fotojornalista tem que submeter-se

Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.

à censura rigorosa dos governos para ter acesso às áreas “privilegiadas” da zona de guerra. As informações são peneiradas e apenas uma parte ganha a luz. Já não existe mais a missão, a verdade ou o “desocultamento” da realidade. Na outra ponta desse processo de ocultação dos fatos temos a massificação dos aparelhos que permitem a tomada de imagens sem o controle dos aparatos estatais. Muitas das imagens que ganharam destaque nos últimos anos foram geradas por celulares superando as barreiras do controle de informação. Abu-Ghraib talvez seja o caso mais conhecido. De saída, a proximidade com o real é maior e sem censuras institucionalizadas. Porém, a mesma massificação dos aparatos fotográfi-

cos conectados às redes sociais que nos aproximam de eventos significativos acaba também por produzir um distanciamento uma vez que o excesso de imagens acaba por afogar o leitor de informações imagéticas sob toneladas de megapixels. Outro “movimento” do fotojornalismo atual é o deslocamento de algumas crenças. Ele saiu do campo da missão, da verdade e tem se movido em direção à arte, à estética. A primeira sensação que essa ideia pode nos causar é a de que tudo se dissolveu. Não existe mais a ética, a verdade ou o real. Sim, é possível. Prefiro crer, contudo, que o fundamental é estarmos atentos para as mudanças e deslocamentos sem nos esquecermos que os movimentos internos são os essenciais. 

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coluna

reflexões

Muitas das imagens que ganharam destaque nos últimos anos foram geradas por celulares superando as barreiras do controle de informação. 111


MANDE SEU PORTFÓLIO revista.old@gmail.com Fotografia da série My Sweet Paradise, de Fabrício Bambratti. Ensaio completo na OLD Nº 66.





URBAN Photo A

stage from whic

Since 2011, URB

TOTAL PRIZ

€ 4,

+ INTERNATIO + PUBLICATIO + OTHER PRIZ

MAIN PRIZE

ww


Awards looks for talent and quality both among professional and amateur photographers, offering them an international

ch to get noticed. The highest placing photos in the competition will take part in series of ”travelling” photography exhibits.

BAN exhibits were held in Italy, Germany, Poland, Hungary, Latvia, Slovenia, Croatia, Cyprus, Ukraine and Colombia.

ZE VALUE

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ONAL EXHIBITIONS ON ZES

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2 SECTIONS ABOUT URBAN PHOTOGRAPHY » SECTION #01

THEMED PHOTOS

7 thematic areas: Street Photography / Architecture / Social City / Urban Art / Transport / Green Life / Visions

» SECTION #02

PROJECTS & PORTFOLIOS

For sets of photos with Urban Photography subject: thematic portfolios, photojournalism and storyboards (sequences of images that tell a story)

ww.urbanphotoawards.com





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