OLD Nº 34

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Nยบ 34 Junho de 2014


Revista OLD Número 34 Junho de 2014 Equipe Editorial Direção de Arte Texto e Entrevista

Capa Fotografias

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Felipe Abreu Angelo José da Silva, Camila Martins, Felipe Abreu, Juliana Biscalquin e Luciana Dal Ri Leandro Menezes Cássia Tabatini, Leandro Menezes, Léo Sombra, Marcus Laranjeira e Yan Boechat

Entrevista

Fernando Schmitt

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Livros

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Fronteiras Incertas Exposição

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Leandro Menezes Portfolio

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Cassia Tabatini Portfolio

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Léo Sombra Portfolio

40

Fernando Schmitt Entrevista

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Marcus Laranjeira Portfolio

60

Yan Boechat Portfolio

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Reflexões Coluna

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EDITORIAL

Neste mês em que o Brasil é o centro das atenções do mundo, nós deixamos a copa pra lá e nos concentramos no que isso pode trazer de bom para a nossa fotografia.

Nós sempre gostamos de novidades aqui na OLD. Sempre queremos ter algo novo, seja na forma da revista, na sua produção ou no seu conteúdo. Neste mês não é diferente. Pela primeira vez em três anos de atividade vamos publicar dois ensaios com nus masculinos. Esse já era um desejo da equipe há algum tempo, já que sentimos que ainda há um tabu em relação ao corpo masculino na fotografia. Mesmo se não houver um tabu, certamente há uma difuldade em se produzir trabalhos relevantes que abordem o corpo masculino em seu estado mais puro. Os dois trabalhos que publicamos nesta edição se utilizam de abordagens diferentes em relação ao corpo. Nossa capa, assinada por Leandro Menezes, tem uma relação mais sutil, mais lírica com o corpo nu. Já Cássia Tabatini, que apresenta o ensaio The Nude Project, vai direto ao ponto e despe seus personagens de qualquer pudor, em uma apresentação absolutamente objetiva do nu masculino. Além do corpo, também discutimos os possíveis limites da fotografia, tanto em nossa matéria sobre a exposição Fronteiras Incertas, no MAC, quanto em nossa entrevista com Fernando Schmitt. A entrevista, feita por email com Fernando, apresenta não só o seu trabalho fotográfico, mas seu pensamento sobre a imagem, algo essencial em sua produção. Fernando discute todas as facetas de sua criação visual, apresentando um panorama completo de sua obra.

Neste mês em que o Brasil é o centro das atenções do mundo, nós deixamos a copa pra lá e nos concentramos no que isso pode trazer de bom para a nossa fotografia. Essa repercussão já aparece nos livros que comentamos, com a edição especial da Aperture Magazine dedicada à fotografia paulistana. Acompanhando a Aperture em nossa página de livros está a segunda edição de Paloma al Aire, de Ricardo Cases. Um caso raro entre os fotolivros de sucesso explosivo. É com essa largo panorama que chegamos à nossa sexta edição no ano, sempre tentando trazer mais novidades para você. Boa leitura!

Felipe Abreu


Mayor A. W. Shackleford Shocked By Microphones / FEV 1953


LIVROS

APERTURE MAGAZINE 215 DE APERTURE FOUNDATION

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O Brasil está no centro das atenções do mundo. Seja pela Copa, pelos protestos, pela eleição presidencial que se aproxima. Todo mundo está de olho, emitindo as mais variadas opiniões sobre o nosso país. Sendo o país mais comentado do momento, nossa arte não poderia ficar de fora. A Aperture, uma das principais fundações voltadas para a fotografia no mundo, dedica sua edição de Verão à fotografia produzida em São Paulo. Trabalhos e textos de grandes figuras da nossa fotografia ocupam as páginas da encorpada publicação. Estão na publicação Caio Reisewitz - que acaba de abrir a primeira exposição de um brasileiro no ICP em Nova York -, Mauro Restiffe, Garapa, SelvaSP, Sofia Borges, Claudia Andujar e muitas outras figuras que variam entre a base da nossa fotografia e a ponta do que tem se produzido no Brasil hoje. Com textos de críticos brasileiros, a publicação promete uma profundidade e um conhecimento de causa impossível para um jornalista estrangeiro. Esse destaque é um passo importante para a fotografia brasileira e paulista, que cada vez mais ganha destaque no mundo.

Disponível no site da Aperture Valor Médio: R$ 50,00 128 páginas


LIVROS

PALOMA AL AIRE DE RICARDO CASES

Paloma al Aire foi um dos grandes hits entre os fotolivros lançados nos últimos anos. O terceiro livro de Ricardo Cases saiu em 2011 e logo se esgotou. Suas imagens fortes, coloridas, estouradas nas páginas do pequeno livro com encadernação em espiral se destacaram na prolífica cena da fotografia espanhola pós-crise. Ricardo Cases acompanhou um esporte muito específico do interior da Espanha: a corrida de pombas. Os pássaros são pintados e coloridos voam rapidamente rumo ao objetivo final. O esporte, bastante peculiar, atrai figuras igualmente peculiares, o tornando um complexo e maravilhoso espaço para produção de fotografias. Com o fim da primeira edição se imaginou que o livro ficaria perdido em algumas coleções e só seria alcançável através de preços insanamente altos em sites de leilão. Isso é o que infelizmente acontece com a maioria dos livros de fotografia de sucesso astronômico. Eles entram para o folclore fotográfico e somem das prateleiras. Ricardo Cases decidiu fazer diferente: neste mês ele lança a segunda edição de Paloma al Aire, à venda na Dalpine e em breve nas prateleiras da Livraria Madalena, em São Paulo. Assim, o livro volta a cumprir sua função primordial, de levar a obra a um número máximo de pessoas, circulando entre bibliotecas, mãos e prateleiras.

Disponível no site da editora Dalpine Valor Médio: R$ 75,00 75 páginas

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EXPOSIÇÃO

FRONTEIRAS INCERTAS: ARTE E FOTOGRAFIA NO MAC USP MAC continua as investigações sobre a fotografia e as possíveis e turvas fronteiras entre ela e as artes plásticas

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O MAC mudou de sede recentemente. Saiu da USP e foi para o hub de museus da capital paulista: o Ibirapuera. Fato que o MAC não está dentro do parque, mas está a poucos passos do Pavilhão da Bienal, do MAM e da Oca. Isso cria um glorioso programa cultural para os finais de semana da movimentada capital paulista. Parece que a mudança de sede fez bem para o MAC, que traz ótima exposições uma atrás da outra. Entre Junho e Julho o museu mergulha na exploração entre as fronteiras - se é que alguma ainda existe - entre a fotografia e as artes plásticas. O mote da exposição é uma mostra feita pelo próprio MAC nos anos setenta, que levou o museu a começar a construir o seu acervo de fotografias. Fronteiras Incertas conta com a exposição das obras adquiridas nos anos setenta e nos últimos quatro anos pelo museu. Os trabalhos setentistas funcionam como guia da exposição e criam pequenas nuvens de trabalhos que transitam pelos mesmos temas e problemáticas. As fotografias transitam por questões ligadas à cultura, política e ao próprio fazer artístico. Esse recorte curatorial constrói uma exposição que não se preocupa com um tema ou com um espaço, mas que se volta para a própria lógica da produção fotográfica e sobre o recorte criado dentro do acervo do museu.

Entre os artistas escolhidos para a mostra estão Claudia Andujar, Heiner Kielholz, David Hockney, Luiz Braga, Mario Cravo Neto, Pedro Meyer e Waldemar Cordeiro. Pela lista de nomes que ocupa as paredes do museu já se percebe claramente o caminho buscado pela curadoria. Há em todos eles uma experimentação técnica e temática muito forte, sempre buscando levar a fotografia mais longe. O curioso da exposição que fica no MAC até o final de Julho é ainda tentar encontrar uma fronteira entre fotografia e arte. Não que a ideia da exposição seja separar, com certeza a ideia é unir, mas colocar uma fronteira entre meios e suportes artísticos é um pouco anacrônico. Esse debate que começou dentro do próprio museus a mais de trinta anos ainda não parece ter acabado. A cada dia que passa, a cada novo evento, exposição, bienal, se vê a fotografia mais e mais integrada aos projetos artísticos dos mais variados ramos das plásticas. Tomara que a exposição no MAC contribua para o sumiço das já finíssimas fronteiras entre fotografia e artes plásticas. O MAC USP fica na Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, em São Paulo. A exposição fica em cartaz até o dia 27 de Julho.


Mario Cravo Neto


Leandro Menezes nwrdnss



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Em nwrdnss Leandro Menezes nos leva por uma viagem sombria entre a relação do corpo e da natureza. Suas imagens mostram o corpo integrado a uma natureza ruidosa, densa e escura. Leandro, como surgiu seu interesse pela fotografia? Chegar na fotografia foi um processo lento. Digo chegar porque de certa forma este interesse não surgiu repentinamente, me parece que lentamente tateei em busca de uma maneira de dar vazão a minhas inquietações; a fotografia em certa altura apareceu como uma possibilidade. Até então eu flanava por diferentes universos, sem me aprofundar em nenhum, mais como crítico que produtor critico naquele mal sentido que diz Montaigne: de alguém que julga determinado feito como se assim passasse a impressão de não só ser capaz de fazer o que fez o autor daquela obra, como também ser capaz de superá-lo, já que está a apontar defeitos - mas em efetivo não estava a produzir nada. Cursei faculdade de desenho industrial, na época escolhi esse curso mais pela pressão de ter que optar dentre as carreiras existentes, por essa que parecia mais agradável,

pois de certa forma era relacionada com arte, que me instigava mas não tive coragem de naquela idade me afirmar escolhendo efetivamente um curso de artes (até porque não me julgava dotado de nenhuma habilidade especial para isto), como também não me parecia uma boa escolha diante da pressão que me colocava por necessitar de um caminho que me desse estabilidade. Na faculdade conheci uma garota que me apresentou o universo da Psicanalise, e tempo depois (de resistência) resolvi me aprofundar fazendo um curso livre e consequentemente me submeti à analise. Neste período eu assistia muitos filmes, assim como ainda faço, mas nessa época era frenético, eu odiava cinema até ter contato com esse universo de filmes que trazem questões reflexivas, talvez por isso que chamam de cinema artístico. Foi então que decidi comprar uma câmera para produzir alguns curta-metragens e materializar alguns conceitos que me ocorriam com frequência, optei por uma fotográfica que produzia filmes com relativa qualidade e assim poderia também fotografar caso me desse vontade.


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Para você, o quanto é importante trabalhar com o corpo na fotografia? Como surgiu o conceito do ensaio nwrdnss? Este é o segundo de um conjunto tríptico. O conceito geral me surgiu como uma busca por representar o desenvolvimento do ser humano no decorrer da história, bem como as fases que passa o indivíduo em seu amadurecimento; na maneira como reagimos aos estímulos externos, como lidamos com nossas fantasias e a própria afirmação sobre quem somos. É na verdade bem auto-biográfico. A primeira “Mms” fase traz um ser que busca se moldar ao meio, copiar as formas que encontra a sua volta, se camuflar de modo que se pareça imperceptível e seguro diante do olhar do outro. Uma frágil segurança por um alto preço ( o de existir estaticamente apostando na segurança), um ser primitivo que abdica da possibilidade de explorar seus sentidos e o entorno, representa a troca da liberdade e novos estímulos pela ilusória proteção oferecida pelo conservadorismo. “Nwrdnss” é a segunda fase desta série, quando o individuo passa a tomar consciência de si mesmo e passa com isso a questionar sua existência, travar esse conflito ao decorrer das resistências que surgem desta percepção, é uma fase que aparenta uma explosão silenciosa de energia, um tormento sutil que expõe todas as fragilidades e inseguranças. Todos os personagens aparecem sozinhos, mas a cena é preenchida por essa sensação de conflito. O interessante foi perceber que todas as pessoas que aparecem como modelo nestes ensaios de certa forma também estavam vivenciando uma sensação parecida, de transição, de inquietação.

Nesta sequencia o corpo é o elemento fundamental, trato o corpo como representante de um discurso abstrato e portanto incensurável sobre quem somos. Acredito que o corpo é o reflexo de nossos pensamentos, nossas emoções estão contidas em nossos músculos, na postura que estabelecemos, no modo como nos movimentamos... No começo me veio uma ideia; de que no fundo temos o corpo que desejamos, o corpo é facilmente mutável de acordo com o modo de vida que levamos, a maneira como nos alimentamos, atividades que realizamos. Além do que estamos em constante mutação de células, 21 ainda assim mantemos um certo padrão de formação que acredito (abdicando de padrões estéticos sociais) nos agradar. Penso que a riqueza é proporcional a diversidade, meu fascínio é intimamente relacionado com as distintas novas percepções e sensações que posso descobrir durante minha vida, neste ponto a individualidade é muito valiosa, é onde cada um guarda as características de ser diferente de todos que existem sabe? Mas tende-se sempre a padronizar as diferenças, classifica-las, homogeniza-las, o que acaba gerando uma monotonização do mundo. Se você pega um monte de cores em tinta e mistura o resultado tende a ser uma massa acinzentada né? No mais decidi pelo corpo nu por transparecer essa entrega do individuo, essa sinceridade em se mostrar sem esconder nada, como um discurso íntimo de alguém que revela tudo que pensa. Como também pela ausência de qualquer índice que represente uma temporalidade ou qualquer objeto que remeta a ideias culturais atuais. É uma tentativa de estabelecer dialogo com o que existe de mais primitivo em nós.


Cassia Tabatini The Nude Project



Como surgiu The Nude Project? The Nude Project é uma abordagem direta e crua sobre o nu 24 masculino. Cássia Tabatini fotografou jovens britânicos nus, entregues à imagem. Cássia, nos conte como começou sua relação com a fotografia. Acho que por que meu pai tinha uma câmera , tipo formato médio e fez fotos lindas da minha irmã mais velha, quando éramos muito crianças, logo na sequência essa câmera se quebrou mas essas fotos em P&B, eu as guardava numa caixinha, pra mim era uma preciosidade, depois com 11 anos, meu avo me deu uma camerazinha kodak, fiz muitas fotos minhas e dos meus amigos, mas essa era muito ruim, que você via no visor, não era o frame final, acho que me desmotivou um pouco, mais que eu não tinha nenhuma fonte de renda pra revelar meus filmes…. Mas eu enxergava a fotografia como meu maior hobby, sempre sabia que iria continuar fotografando, quando comecei cursar a FAAP, com 17, comprei uma pentax k1000, fui estudar na FOCUS, em São Paulo, dai comecei a fotografar as bandas que eu ia assistir, ia com um amigo ele filmava e eu fotografava, época analógica… dai, não parou nunca mais …

The Nude Project surge quando ele já estava acabado, foi a seleção das fotos que eu tinha feito desses meninos entre 2007 e 2011, mas o primeiro nu, foi em 2004, do meu amigo Lucas, foi um dia inteiro fotografando, não são simples retratos, digo simples por que foram feitos muito rapidamente, cada um , cerca de 20 minutos ,mas são tão especiais. Dessa seleção, existiram vários momentos que esse trabalho tomaria forma e se tornasse algo como uma exposição, que a gente quase fez na Kinsgate gallery, em 2008, mas o tema não foi aprovado, curado pela Kiki Mazzuchelli, depois não lembro como, quando estava retornando ao Brasil, alguém mostrou o projeto, uma apresentação pro Amilcar, que estava fazendo uma curadoria de publicações pro festival porn, e me convidou pra fazer parte, ele foi inicialmente impresso pra isso, a ideia dos textos e o relesse são do meu amigo e curador Pablo Leon de la Barra, que me ajudou muito no desenvolvimento do projeto inteiro…. Depois dessa feira, ele fui lançando independente, e gosto muito que o único jeito de comprar era nessas festinhas de lançamento. Agora ele tem cópias na galeria Nacional do Maia e também na Duo do Emeric Glayse, em Paris, essa semana ainda, comecei a produzir o segundo “ the nude project” ou a parte 2, mas ele tem um formato diferente, não faço ideia de quando ele vai tomar forma, ainda.





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Quais são os papéis da curiosidade e do desejo na produção destas fotografias? Meu único momento de curiosidade foi quando fotografei uma serie de meninos que era como que eu chamava de new dandies, ícones do dast london, conseguir captar um momento em que eles mesmo sem roupas e suas afetações, ficassem tão notáveis quanto, mostrando ainda toda sua essência. O desejo é ter no final um trabalho documental, que mais me deixa feliz é pensar nessa coleção da uma década ou duas ou sei lá quanto e ter esse documento do retrato masculino, de uma época e de um lugar. Como você pensou a construção estética dos seus nus? Pensei em tirar de cada um que eles quisessem ser ali na hora, sempre teve essa conversa antes, como você quer ser fotografado, mas nunca teve muita encenação, são eles mesmos, do jeito que eles imaginaram o retrato com as opções que eles me deram.

Para você, o nu masculino ainda é tabu na fotografia? Depende em que meio, na fotografia artística, acho que não… na moda depende do meio em que vai ser publicada, na propaganda, no Brasil talvez, por que aqui se vende imagens de mulheres sexy. Não sei direito responder por que é uma zona vasta, e muito ampla pra quem seria tabu, etc… Claro que em países machistas é mais comuns a imagem da mulher nua do que do homem… Existem muitas mídias que publicam e exploram o retrato masculino e nus hoje em dia, ainda assim a maioria são feitas por homem, ou de homem para homem, no meu caso me sinto um pouco marginalizada por isso...

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Leo Sombra Portfolio



O portfolio de Leo Sombra se concentra na exploração de técnicas alternativas dentro da fotografia analógica. Suas imagens exploram limites técnicos e visuais da fotografia com 32 filme. Leo, nos conte sobre a sua história com a fotografia. Eu comecei a fotografar por incentivo de um amigo por volta de 2005 que já trabalhava no ramo a algum tempo, eu achava muito bonita as fotografias dele e queria fazer o mesmo também só pra ter essas imagens comigo. Depois de algum tempo comprei uma Pentax para fotografar nos dias de folga do trabalho no centro de São Paulo e me envolvi completamente com a fotografia, foi amor a primeira vista. Logo em seguida fiz curso de pinhole e a fascinação por revelar e fazer câmeras dura até hoje em dia.

Suas fotografias contam com técnicas diferentes, pouco usuais. Essa experimentação é importante para você? É muito importante sim, eu agradeço muito ao digital. Depois de alguns poucos anos fotografando com filme eu fui transitar pelo digital que na época era muito caro, final das contas: a câmera digital quebrou, junto com a Pentax que já vinha com defeito a algum tempo. Eu não tive escolha, pra não ficar parado resolvi treinar o olhar fazendo pinhole, ganhei um lote de papel fotográfico vencido e fui juntando um grande material. Sempre fui curioso e adorava inventar coisas para acrescentar na fotografia. Foi onde veio a idéia da polaroid: Desde criança a minha ansiedade me matava, até hoje sofro com isso e fotografar com papel demorava um certo tempo até revelar. Foi onde a polaroid acabou com a ansiedade e eu via todos os resultados na hora.


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A apresentação final de parte das suas imagens revela o processo com o qual elas foram feitas. Essa forma de incluir técnica e estética é central no seu trabalho? Igual a um grande elenco de um filme quero que todos ganhem crédito no final, o que foi feito para fotografar ou passou na imagem vai fazer parte dela, a imperfeição as manchas de digital a parte que não revelou a moldura jogada fora serve de suporte e conta um pouco da história por trás daquela fotografia. A questão da estética é de não interferir em nada na imagem, deixar ela ser o que ela é.

Leo, para você há algum limite na fotografia? Você busca testar esses limites com o seu trabalho? Não há limites, eu canso muito rápido das coisas que faço, então isso é um bom motivo pra eu está sempre a procura de invenções adaptações e testes para futuros trabalhos.

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OLD ENT

FERNANDO


TREVISTA

O SCHMITT


Fernando é professor, pesquisador, curador e fotógrafo. Sua produção, tanto teórica quanto fotográfica, versa sobre o que se pode chamar de Limite dentro da fotografia. Suas imagens sempre fogem da abordagem óbvia, sempre buscando novas visões dentro da produção fotográfica. Você, como muitos fotógrafos, migrou de uma graduação em jornalismo para a fotografia. Como foi esse processo? Quando você decidiu se dedicar à imagem? Na verdade a primeira graduação que iniciei foi a de Filosofia e então migrei para a Publicidade e depois para o Jornalismo por conta da fotografia e do cinema. Ou seja, a fotografia veio antes do jornalismo. Meu pai era um fotógrafo amador que havia feito cursos no Fotocineclube Bandeirantes no período em que moramos em São Paulo na década de 70. Cresci no meio de revistas de fotografia, 42 sessões de projeção de slides e filmes super-8. Até laboratório preto e branco no banheiro tivemos. Acho que isso direcionou um desejo específico pelas imagens. Aos 16 anos peguei um livro e fiz uma primeira incursão autodidata pela fotografia e quando terminei o serviço militar resolvi voltar a ela. Na época os únicos cursos que tinham fotografia eram os da Comunicação Social. Sou jornalista sem nunca ter sido. Em um post escrito para o 7 você diz “fotografo coisas. Gosto de pensar que, nas coisas, fotografo as pessoas que lhes pertencem”. Como surgiu seu interesse por essa abordagem visual? Acho que essa abordagem sempre esteve em mim, mas há pouco tempo tornou-se consciente. Há um desejo singular, uma habilidade de projeto e de construção, uma necessidade de uso e de posse que faz as coisas existirem e participarem de nossas vidas. Sempre tive uma relação muito estreita com as coisas. Acho que as coisas

carregam pistas sobres as pessoas que as fizeram ser, que as usaram, que depositaram nelas memória e afeto. Acho as coisas possuem mais as pessoas do que o contrário. Então acho que as coisas estão repletas das pessoas, portanto investigá-las, tecer relações com elas, é alcançar algum pedaço do humano. Eu coleto e guardo muitas coisas, meu trabalho atual diz respeito a essas coleções. Meu pai dizia que meu avô dizia ‘quem guarda o que não presta sempre tem quando precisa’. Sigo a tradição da família. Você acredita que um objeto contém mais potencial narrativo do que uma pessoa? Para mim o objeto, a coisa, tem tanto potencial narrativo quanto a pessoa, no fundo ele tem potencial narrativo porque tem a ver com a pessoa. Não estabeleço uma hierarquia, mas gosto das coisas porque elas me permitem imaginar as pessoas. Seu Instagram (@fximiti) é um dos meus favoritos entre os fotógrafos. Como você vê a ferramenta? Como uma válvula de escape para uma produção diária? Como um ensaio em constante construção? Penso o Instagram mais como um diário público do olhar. Gosto da liberdade para postar aquilo que vejo e fico curioso para saber como isso afeta as pessoas que me seguem. Também me interesso em observar a efemeridade das imagens, elas duram pouco mais, pouco menos que 24 horas. Tem um quê de borboleta. Colorem a vida por um tempo curto depois caem em um arquivo cada vez mais inalcançável. Acho que o Instagram é um gigantesco museu de entomologia parecido em estrutura com a Biblioteca de Babel do Borges. As fotografias estão lá, há uma esperança de que sempre estarão, mas quem de fato as vê. E, se não são vistas, elas vivem? Estão à espera de reviver? De vez em quando alguém se aventura em gavetas mais profundas e ressuscita uma ou outra. Enquanto


o arquivo não se extingue de todo há possibilidades. Aprendi com minha grande amiga e parceira de trabalho Fabiana Bruno a amar e percorrer os arquivos. Hoje penso um trabalho com minhas imagens do Instagram, não um ensaio, mas quero fazer alguma coisa com elas. Seu trabalho consegue ao mesmo tempo manter uma linha temática coerente e transitar entre temas e estilos visuais variados. Essa é uma preocupação constante na sua produção? Como costumam nascer seus novos trabalhos? Gosto de pensar minha linha temática como uma investigação sobre o fotografar. Algo como fotografar a fotografia. E de modo geral os projetos nascem dessa investigação de modo muito intuitivo. Inicio a ação sem mesmo saber o que estou fazendo e vou me dando conta aos poucos de que as escolhas que fiz seguem um rumo específico que então tento aprofundar. Na série que chamei ‘Dinheiros’ (hoje acho esse título meio inadequado) comecei brincando com a lente macro sobre as imagens de cédulas e em um dado momento percebi que a imagem me olhava de volta, como se eu houvesse restaurado alguma vida àquela imagem, àquele personagem. Por um tempo pensei no efeito caricato, na distorção, num ator que encarna um personagem. Depois me dei conta que se tratavam de retratos. Uma pessoa, para virar efígie de cédula, primeiro foi retratada em pintura ou fotografia, depois essa imagem vira uma gravura em metal na técnica de talho doce para então gerar a cédula impressa. Hoje acredito que, nesse trabalho, retratei as pessoas originais. Eu, que não sou um retratista, que fotografo coisas, estava fazendo retratos atravessando por fotografia camadas de imagem e de tempo.

Para mim o objeto, a coisa, tem tanto potencial narrativo quanto a pessoa, no fundo ele tem potencial narrativo porque tem a ver com a pessoa. Não estabeleço uma hierarquia, mas gosto das coisas porque elas me permitem imaginar as pessoas.


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Você atua como fotógrafo, professor, curador. Quais são as diferenças e complementos entre produzir, ver, criticar e curar fotografia? Ser professor, fotógrafo e, às vezes, curador produz em mim uma sensação confusa e indefinida de incompletude. Costumo dizer que meu território é o entre. Um território movediço e lamacento onde tudo se mistura. No fundo o ‘entre’ não te permite ser o melhor fotógrafo que poderias ser, nem ser o melhor professor ou curador, mas há uma fertilidade que não existe em outro lugar, apenas entre uma coisa e outra, ali brotam coisas que me interessam. Tento explorar esse território e cultivar sobre este substrato. Um amigo professor me disse outro dia que queria deixar mais que um legado de alunos. Parece que ser só uma coisa é pouco. Mas ao mesmo tempo ao transitar entre muitas atividades corre-se o risco de ser apenas superficial. Corro esse risco e me debato todos os dias com essa contradição. Como a troca com seus alunos influencia seu trabalho? A troca com os alunos é de longe o maior estímulo que tenho pra dar aulas, pensar cursos e preparar os encontros dos grupos de estudos. Você se obriga a estudar, organizar, sistematizar aquilo que as vezes nasce apenas como intuição. Meu trabalho se alimenta nesse movimento, pois transitar no conhecimento gera outras intuições que acabam virando fotografia. Como você vê o ensino e a pesquisa em fotografia no Brasil? Ainda há muito a melhorar? Estamos no caminho certo? Não acredito em caminho certo, mas gosto de ver no cenário atual pesquisadores sérios e competentes produzindo dentro e fora de instituições de ensino, muitos grupos de estudo em plena atividade, cursos livres de todas as naturezas, publicações e plataformas online

dedicadas à reflexão sobre as imagens e à visibilização de trabalhos, grupos focados em questões específicas como fotolivros nas redes sociais. Em pouco mais de vinte anos, passamos da escassez à abundância. Só acho difícil dar conta de tanta informação. Mas, de qualquer modo, prefiro lidar com o excesso a garimpar migalhas. Para você, há um limite na fotografia? Se sim, qual seria ele? Qual a importância de um fotógrafo buscar trabalhar próximo a esse limite, sempre o forçando cada vez mais? A gente é que inventa os limites, de uma certa forma precisamos deles para organizar o mundo. Mas é saudável reconhecê-los precários e provisórios sempre. Adoro os trabalhos que desafiam os limites que empurram e dissolvem fronteiras, que põem em cheque o que penso. Mas ao mesmo tempo me comovo com o que chamo ‘emoção classe média’, com fotografias que habitam os cantos desimportantes ainda não explorados dentro dos limites. Gosto de experimentações velhas que buscam novos resultados previsíveis, de fotografias documentais clássicas que se dedicam ao que ainda não foi visto, de trabalhos que não transbordam emoções exacerbadas, mas destilam uma percepção acurada do simples e do banal.

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Marcus Laranjeira Metropolis



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Metrópolis é uma visão embaralhada, sufocante, da capital paulista. São linhas que se unem e se separam sem maior aviso. Uma série de sobreposições que falam muito bem sobre como é a vida na cidade de São Paulo. Marcus, como começou sua relação com a fotografia? Eu tinha apenas quatro anos quando meu pai me deu uma câmera fotográfica. Nessa época ela era um brinquedo, mas eu já ficava encantado com o processo e o resultado. Aos seis anos a minha relação com a imagem deixou de ser com a fotografia, passou a ser com a pintura. Pintei a primeira tela com seis anos, a segunda com sete, pintei bastante até a adolescência. Eventualmente a fotografia também reaparecia. Depois, um “desvio de conduta” me tirou da arte e me levou à computação e posteriormente à matemática. Mesmo assim, paralelamente, eu estudei pintura e fotografia. Em 2008, quando terminava a faculdade de matemática, durante o seu curso de história, estudando os renascentistas, veio o “clique” e percebi

que estava no lugar errado. Comecei a planejar a minha volta à arte. Em 2010 já trabalhava com fotografia, em 2011 abandonei o trabalho em Tecnologia da Informação para me dedicar somente à fotografia. Como surgiu o ensaio Metropolis? A imagem de abertura veio num insight. Corri para os meus arquivos e fiz a montagem da dupla exposição tal como havia imaginado. Percebi que apesar de ser uma imagem impossível, era uma imagem reconhecível, confortável. Revirei os meus arquivos, mas não encontrei outras imagens que estivessem conectadas com a primeira, então fui para a rua buscá-las.


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Como você buscou construir narrativas através da dupla exposição? Como foram escolhidas as imagens que formariam as duplas? A primeira imagem ficou na minha cabeça como a imagem impossível, mas reconhecível e confortável de São Paulo. Fui ao centro de SP buscar, intuitivamente, cenas que tivessem o mesmo potencial. Eu dividi o processo criativo em duas partes. No primeiro momento eu tirei as fotos e vi se ali havia um potencial. Minha câmera não faz dupla exposição, por isso eu fiz as fotos e depois trabalhei a dupla exposição no computador. Esse processo foi difícil, porque às vezes o encaixe que eu havia imaginado não acontecia. Então, num segundo momento, surgiu a ideia de usar um pedaço de acetato grudado no LCD da câmera, onde eu, após tirar a primeira foto, desenhei as linhas de força que me interessavam. Quando encontrava a cena que encaixava com alguma que havia tirado, eu grudava novamente o acetato e compunha a foto a partir das linhas de força da cena a ser capturada com as linhas de força adquiridas. Algumas vezes eu fiquei com o acetato guardado comigo por meses, muitas vezes até incomodado na busca pelo par, mas paciente, até encontrar a cena que ia compor com aquela.

Metropolis busca a construção de uma nova realidade urbana? Não é o ensaio que busca uma nova realidade urbana. A própria cidade de São Paulo, diariamente, oferece uma nova realidade urbana: uma realidade caótica, desorganizada, concreta e áspera. O ensaio busca mostrar esse caos de uma maneira poética, mas sem deixar de chamar à atenção ao concreto áspero privilegiado pelas construções desordenadas. Algumas das imagens de Metropolis são opressoras, sempre com o enquadramento cheio de informação. Você vê nossos grandes centros urbanos desta forma? Sim! Muito. O crescimento desgovernado traz esse aspecto opressor, e a sobreposição das imagens é na verdade uma fotografia da sobreposição urbana. Arquitetura sobre arquitetura, construção sobre construção. Há muito pouco espaço para circulação saudável, árvores se tornaram escassas, espaços de convivência praticamente não existem. É impossível andar pelos grandes centros e não se sentir oprimido pelos edifícios amontoados, construções remendadas, e puxadinhos provisórios, que se tornam permanentes.

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Yan Boechat Angola



Qual a sua relação com o local e com os personagens que você fotografou? 62

Os registros em preto e branco de Yan Boechat mostram uma vida dura em Angola. Uma vida em que nada parece fácil, mas mesmo assim ainda há esperança e alegria. Um ensaio que fala da vida, mas principalmente do futuro. Yan, nos conte sobre seu começo na fotografia. Minha relação com a fotografia tem sido de idas e vindas. Tirei minhas primeiras fotos na adolescência, quando ganhei uma velha Ricoh do meu pai. Fotografei um tempo e acabei parando porque a máquina quebrou. Quando entrei na faculdade de jornalismo, novamente, voltei a fotografar. Dessa vez a relação foi mais duradoura. Passei praticamente todos os anos da faculdade fotografando e enfurnado no laboratório. E ai, novamente, parei. Foi só há 10 anos que voltei a fotografar com frequência e a estudar novamente fotografia. Nesse meio tempo fui pro digital, abandonei os filmes e, no meio do caminho, voltei a me apaixonar pelos filmes, sem, no entanto, abandonar o digital.

Estive em Angola para fazer uma reportagem para o jornal Valor Econômico. Sou repórter de texto por profissão. Tenho ganho a vida assim há quase 20 anos. Passei cerca de 10 dias em Angola fazendo matérias sobre brasileiros que largaram tudo no Brasil para tentar fazer a vida por lá em uma espécie de sonho angolano e sobre empresas brasileiras atuando no país. Angola é um dos maiores produtores de petróleo do mundo - o maior da África -, membro da Opep e com um crescimento econômico de dois dígitos há alguns anos. Há muito dinheiro por lá. Mas, apesar disso - ou por conta disso - o país ainda tem dificuldades para se recuperar de uma guerra civil brutal que o devastou por quase 30 anos. A paz só chegou a Angola há pouco mais de uma década e a imensa iniquidade social e econômica permanece viva, principalmente nas grandes cidades, como Luanda, a capital. Minha intenção na viagem foi tentar retratar esses personagens, as pessoas que ainda não conseguiram se beneficiar das imensas riquezas desse país que tem uma relação tão íntima com o Brasil. Estima-se que mais de 60% da população negra que chegou até aqui como escravos tenha vindo de Angola.


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Como foi a experiência de estar imerso em uma nova realidade? O que mais te marcou nessa experiência? Estar em países ou locais em que a realidade é tão distinta da nossa é um dos maiores prazeres que tenho na vida. Tenho especial interesse por áreas que passaram ou passam por transformações recentes como guerras, revoluções ou mudanças rápidas de regime. Me interessa ver como essas sociedades se readaptaram ou tentam se readaptar após momentos de grande ruptura. Em Angola, apesar de a guerra ter terminado em 2002, as feridas ainda estão muito abertas, a sociedade ainda está buscando uma maneira de se reestruturar. Não é uma tarefa fácil, em nenhum lugar. Mas especialmente lá, em que uma das principais armas da Unita, a guerrilha financiada pelos EUA, era forçar a população rural a se deslocar para a capital, parece ainda mais complicado. Luanda, quando estourou a guerra civil, em 75/76, tinha pouco menos de 400 mil habitante. Pouco mais de 10 anos depois a população já era 10 vezes maior. Hoje são quase 6 milhões de pessoas - parte considerável delas vivendo sobre o antigo aterro sanitário dos anos coloniais - tentando a sorte por lá. Apesar disso, as pessoas tentam levar a vida da melhor maneira que podem. O Brasil, por conta da língua e dos laços econômicos estreitados nos últimos anos, exerce incrível influência por lá. Fiquei muito impressionado como nós ainda temos muito da cultura angolana, principalmente na culinária e na música, e como eles agora são influenciados por nós.

A sua fotografia busca o registro, a denúncia, a transformação? Meu trabalho fotográfico é essencialmente documental. Me interessa mostrar a realidade que me rodeia, que presencio ou o que simplesmente me toca. Mesmo considerando que o conceito de realidade seja algo tão subjetivo, procuro retratar o que vejo sem grandes grandes aspirações conceituais. Sou um fotojornalista não necessariamente interessado nas notícias quentes. Apesar de admirar - muitas vezes sem entender - não tenho capacidade para desenvolver outro tipo de fotografia que não seja documental, que não retrate o que vejo com o mínimo de influência de minha parte. Então, creio eu, que minha fotografia busca muito mais o registro do que a denúncia ou a transformação Para você, há algo que a fotografia não deva mostrar? Não, de maneira alguma. A fotografia deve mostrar tudo, absolutamente tudo. Principalmente o que seja importante ou toque um fotógrafo, independente do assunto, da força das imagens, dos personagens fotografados.

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REFLEXÕES

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“Fotografío luego soy” responde Fontcubierta na Câmara de Pandora. Fotografar e ser fotografado transformou-se em caminho para a construção do sujeito por toda parte. Fotografar dá sentido para a realidade do indivíduo.


COLUNA

CENAS DE CASAMENTOS

Surpreendido por duas fotografias do casamento dos meus pais sobre a caixa de som comecei a pensar sobre a cena toda. Cada um deles retratado sozinho dentro de suas molduras recortados um do outro pelo fotógrafo pelo meu olhar fotográfico fotografando. No segundo seguinte já fazia um retrato de um amigo... Cadeira de balanço 4x5” chapa pano preto e branco. Depois, recordações de casamentos por aqui e longe muito longe lá do México. Imediatamente me lembrei desta foto em Coyoacán... Todos indo eu olhando minha timidez meu desejo de retratos ligação com as pessoas mediado pela prata e pela gelatina. Por que fotografar? “Fotografío luego soy” responde Fontcubierta na Câmara de Pandora. Fotografar e ser fotografado transformou-se em caminho para a construção do sujeito por toda parte. Fotografar dá sentido para a realidade do indivíduo. Sempre que faziam fotos emprestavam cachorros para parecerem mais nobres e importantes. Ofereciam uma falsa imagem do que eram e uma verdadeira imagem do que gostariam de ser de como queriam ser vistos. Assim R. Avedon comentou os retratos dos personagens de sua família quando ele era pequeno. Ora pois possibilidades múltiplas de refletir sobre os retratos... Construção de auto imagem para si e para os outros. Caminho que permite o diálogo simbólico entre as pessoas. Memórias sentimentos subjetivação. A fotografia de casamento ocupa um lugar fundamental na cerimônia de casamento. O ritual que dá significado e sentido para nossas vidas foi materializado na foto. O casamento, por ser um ritual, precisa ser fotografado. A magia da foto atualiza resignifica esse

processo simbólico. Neste mundo a imagem ocupa um lugar central substituindo o ritual por uma superfície de papel ou eletrônica. Perdemos aquele sentido e às vezes não ganhamos outro. A atualização substitui o processo e ocupa o seu lugar. Mais importante que as cenas de um casamento são os registros imagéticos dessas cenas. Conversando com a viúva de um fotógrafo de casamentos descobri que ele fazia trinta e seis fotos três filmes na sua Rolleiflex não perdia uma foto. Hoje a quantidade reforça a ideia de longevidade. Milhares 73 de fotos garantem um futuro mais iluminado. Efemeridade efemérides epifanias as fotos não revelam a realidade dos fotografados mas suas fantasias. As fotos nos revelam as fantasias dos fotógrafos seus medos sua realidade. Um espelho do mundo. Quando nos vemos em fotos que fizemos de casamentos revivemos um ritual pelo avesso na contra-mão. Voltamos a nos encantar e a vida segue normalmente, tanto para casados quanto para solteiros.

Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.


INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA ILUMINAÇão e fotografia de produto (still life)

culinária: fotografia e produção

Fotografia de Arquitetura e Interiores

31 de maio e 1 de junho

14 e 15 de junho

21, 22 E 23 DE JUNHO

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Guilherme Bergamini


Turf Cutting / Annaverna, CO / 1940


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