OLD Nº 26

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Nยบ 26 Outubro de 2013


Revista OLD Número 26 Outubro de 2013 Equipe Editorial Direção de Arte Texto e Entrevista

Capa Fotografias

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Felipe Abreu Camila Martins, Felipe Abreu, Juliana Biscalquin, Luciana Dal Ri e Tito Ferradans Carolina Krieger Akira Cravo, Carolina Krieger, Catharina Sulleiman, Eleanor Bennett, Lúa Ocaña e Luiz Maximiano

Entrevista

Leonardo Costa Braga

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Parceiros


06

Livros

08

Nova Fotografia MIS Exposição

10

Carolina Krieger Portfolio

24

Eleanor Bennett Portfolio

36

Catharina Sulleiman Portfolio

46

Leonardo Costa Braga Entrevista

52

Akira Cravo Portfolio

64

Lúa Ocaña Portfolio

78 94 96

Luiz Maximiano Portfolio

10

52

24

36

46

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Ultrapassagem Coluna Fissuras Coluna


Esta edição da OLD está especial, um pouco mais gordinha do que o normal. No nosso 26º número temos 100 páginas de revista, com seis portfolios, dois a mais do que o nosso normal. Isso acontece para darmos reconhecimento ao premiado trabalho O Espelho do Avesso, de Carolina Krieger e para apresentar a visão apurada de Luiz Maximiano sobre os protestos no Brasil. Este número está repleto de trabalhos premiados, por sinal. Além do trabalho da Carolina temos também uma entrevista com Leonardo Costa Braga, que já teve suas fotografias premiadas nos mais importantes prêmios nacionais. Também comentamos o projeto Nova Fotografia, do MIS, que neste ano selecionou dois fotógrafos que já estiveram em nossas páginas e um que está neste momento: Luiz Maximiano. É claro que isso nos enche de orgulho e dá aquela sensação de que estamos fazendo um trabalho bem feito. Além de premiados, os trabalhos desta edição também estão internacionais. Temos colaboradoras britânicas e espanholas, trazendo ensaios muito interenssantes, de abordagens distintas: um completamente analógico, o outro plenamente digital. Uma das mais importantes famílias da fotografia brasileira também está presente nesta edição: Akira Cravo, neto de Mario Cravo Neto e filho de Christian Cravo apresenta seu portfolio com cenas do cotidiano da sua terra natal, Salvador. É muito bem ver como a fotografia segue viva e forte nesta família, com que gerações e gerações de fotógrafos talentosos.

Os livros comentados nesta edição também fogem um pouco do nosso normal. Geralmente comentamos livros brasileiros, ou que tenham um alcance fácil nas livrarias do país. Nesta edição decidimos fazer diferente: comentamos dois livros de uma das melhores jovens editoras de fotografia da Europa: Mack Books. Falamos de Casa de Campo, do espanhol Antonio M. Xoubanova, e Holy Bible, da dupla Adam Bloomberg e Oliver Chanarin. Dois projetos muito bem executados e chamativos, em especial Holy Bible, que toca em um dos temas mais espinhosos do mundo: a religião. É com esse panorama farto que te entregamos a nossa nova edição, como um presente de dia das crianças um pouco atrasado, para você ter um mês mais do que repleto de fotografias.

Felipe Abreu


School children singing, Pie Town, New Mexico / RUSSELL, LEE.


LIVROS

CASA DE CAMPO, DE ANTONIO M. XOUBANOVA

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Casa de Campo é o maior parque da cidade de Madrid. Durante muitos anos foi propriedade privada da realeza espanhola, até ser aberto ao público na década de 1930. Seu tamanho faz com que ele ainda tenha muita área verde pouco explorada, muitos caminhos a serem descobertos. Um parque deste tamanho e isolado como é o Casa de Campo atrai todo tipo de gente, com as mais variadas intenções, desde senhores em sua corrida matinal até jovens que buscam distância para beber e consumir drogas. Antonio M. Xoubanova decidiu explorar esse universo em seu livro Casa de Campo. São fotografias cruas da difícil realidade que assola a Espanha e seus habitantes. O livro impressiona pela qualidade e dureza dos retratos, que abordam de maneira direta a situação do país, usando o imenso parque como metonímia do país. Casa de Campo foi lançado pela Mack Books neste ano e já ganha grande destaque entre os fotolivros europeus. Você encontra o livro de Xoubanova em poucas livrarias de São Paulo, mas pode comprá-lo diretamente do site da Mack Books ou pela loja online Dalpine.

Disponível no site da editora Valor médio: R$ 120,00 144 páginas.


LIVROS

HOLY BIBLE, DE ADAM BROOMBERG E OLIVER CHANARIN Os conflitos dos séculos XX e XXI ocupam grande parte do nosso imaginário imagético. Imagens de guerra, de sofrimento, tem grande reverberação na mídia e estampam as primeiras páginas de jornais ao redor do mundo constantemente. Partindo deste universo imagético e da premissa de que Deus demonstra sua presença e poder através da destruição cunhada pelo filósofo Adi Ophir os fotógrafos Adam Broomberg e Oliver Chanarin mergulharam no acervo do Archive of Modern Conflict e construíram uma linha visual entre o que é dito em diversos trechos da bíblia e as imagens encontradas no Arquivo. Holy Bible é o resultado desta pesquisa, usando a editoração e aparência de uma típica bíblia de King James. O livro foi coberto de imagens de conflitos e destruição registradas pelo AMC traçando relações diretas com o texto bíblico presente nas páginas em que foram colocadas. O trabalho de Broomberg e Chanarin é bastante controverso, mas apresenta uma questão importante de uma maneira bastante direta: como a relação com a religião influência a política atual e seus conflitos e consequentemente molda a maneira que vivemos hoje. Holy Bible também é publicado pela Mack e pode ser comprado direto pelo site da editora. Disponível no site da editora Valor Médio: R$ 180,00 768 páginas

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EXPOSIÇÃO

A NOVA FOTOGRAFIA NO MIS Programa de exposições com jovens fotógrafos dá espaço e reconhecimento para trabalhos inéditos

O MIS tem se mostrado um dos principais incentivadores da fotografia brasileira, em especial dos fotógrafos em formação. O OLD 08 museu paulista começou seu programa Nova Fotografia em 2012 selecionando seis projetos para serem apresentados em um espaço fixo do museu. A proposta do programa é trazer jovens artistas para dentro da instituição e incentivar o consumo da fotografia e reflexão sobre ela, diversificando o que está na parede, dando espaço para artistas ainda em começo de carreira. Em 2013 foram selecionados seis fotógrafos para ocuparem as paredes do museu. Entre eles Jonas Tucci, Luiz Maximiano - com ensaio publicado nesta edição da OLD - e Rafael Milani, que assim como Tucci já passou pelas nossas páginas e agora apresenta suas fotografias no MIS. A atual exposição do programa é Encontros, Encantos de Milani, que apresenta sua visão sobre a natureza de uma forma onírica e muitas vezes intimidadora. É interessante pontuar que o programa busca construir um panorama bastante plural da fotografia, com trabalhos que transitam entre diversos gêneros fotográficos, como o fotojornalismo, a fotografia de rua e a de natureza.

As 14 fotografias que Milani apresenta na exposição são um exemplo marcante da sua produção, que busca ressignificar espaços comuns ao nosso imaginário, dando uma nova aura repleta de mistério para a natureza que preenche suas fotografias. Encontros, Encantos é a quarta exposição do programa neste ano, que ainda apresentará mais dois trabalhos até o final de 2013. Após Milani, entra o trabalho Street Shot de Jonas Tucci que apresenta uma série de retratos em PB feitos nas ruas de São Paulo, com um flash forte no rosto de seus personagens. Assim o programa segue com o seu objetivo de “criar um espaço permanente para exposição de fotografias de artistas promissores que se distinguem pela qualidade e inovação do seu trabalho”, nas palavras do texto que divulga o Nova Fotografia. Se você quiser ainda dá tempo de enviar projetos para a edição de 2014 do programa. O edital segue aberto até o dia 1º de novembro. É só entrar no site do museu e pegar todas as informações necessárias. O MIS fica na Av. Europa, 158. A exposição Encontros Encantos fica em cartaz até o dia 20 de Outubro.


Rafael Milani


Carolina Krieger O Espelho do Avesso



Carolina Krieger apresenta nesta edição da OLD o ensaio O Espelho do Avesso, que acaba de ser o grande vencedor do OLD Prêmio Brasil de Fotografia. Um ensaio escuro, introspectivo 12 que caminha entre o sonho e a realidade. O trabalho de Carolina recebe atenção especial nesta edição da OLD. Além de ser apresentado aqui, também é tema da coluna Fissuras desse mês. Carolina, conte pra gente um pouco sobre sua relação com a fotografia. A minha relação com a fotografia começou na infância, a minha mãe e o namorado da minha tia viviam com uma câmera nas mãos fotografando a nossa família. A sementinha certamente foi plantada no meu inconsciente nos meus primeiros anos. Mas foi em 2009 que descobri a fotografia como forma de expressão e a possibilidade de revelar através da imagem uma realidade mais sutil, o fascinante é que tal possibilidade também provoca uma troca de descobertas entre o trabalho e eu. Além disso acho muito precioso como a fotografia intensifica o encontro com pessoas, lugares, sentimentos e memórias.

Como surgiu O Espelho do Avesso? Qual o argumento por trás desta série de imagens? O “Espelho do Avesso” surgiu de uma reflexão sobre o que chamamos de realidade. Recentemente li um trecho da auto-biografia do Jung no qual ele contava um sonho, neste sonho ele entrou numa catedral e viu um homem sentado, meditando, quando se aproximou viu que o homem na verdade era ele, o próprio Jung, e pensou: ah, então é ele que sonha comigo, não sou eu que sonho com ele. Uma bela mudança de realidade, não é? Falei sobre este trecho porque ilustra bem a ideia do ensaio. Mas, claro, houve um processo de descoberta até tal ideia se tornar clara. Neste trabalho dois pontos muito importantes foram as conversas com o Eder Chiodetto no grupo de estudos e uma carta do romance da minha irmã Isadora Krieger, através desta leitura eu descobri que “O Espelho do Avesso” partia de uma reflexão da realidade para chegar na percepção de uma unidade.


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Há uma distorção tanto do tempo quanto do espaço no seu trabalho. O que você busca aqui é construir uma nova realidade ou ressignificar a realidade em que você está inserida? Não exatamente construir uma nova realidade ou ressignificá-la, mas tentar revelar uma realidade mais profunda. A experiência que ultrapassa os pares de opostos. Podemos ver relatos desta experiência nas obras de vários autores, cito aqui alguns que li, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Hermann Hesse, Isadora Krieger, Joseph Campbell, cada um relata da sua forma, com as suas palavras, mas eu sinto que estão falando da mesma coisa. É como se a distinção existisse para suscitar a percepção de um núcleo, único e eterno.

Qual a importância do sonho e do imaginário no seu trabalho? A OLD fantasia é um dos seus motores de produção? 23 Para mim o sonho, o imaginário e a fantasia, são os motores da vida, abrem novos mundos, perspectivas. Para você a narrativa fotográfica se encerra dentro das fotografias ou cresce à partir delas? A narrativa cresce à partir delas e a partir da leitura de cada observador se torna infinita. A premiação do seu trabalho altera sua relação com ele? Você acha importante obter essa chancela? É importante como um reconhecimento, também como uma forma de viabilizar projetos, estabelecer trocas mais amplas e possibilitar uma difusão maior do trabalho. Mas a relação com o trabalho em si faz parte de outra água.


Eleanor Bennett Portfolio



Eleanor Bennett é uma jovem fotógrafa britânica, que já vem recebendo destaque com seu trabalho fotográfico, recebendo OLD diversos prêmios pela sua produção. Na OLD ela apresenta um 26 portfolio variado, um pequeno resumo da sua jovem obra. Você é muito jovem, mas já tem uma sólida e premiada carreira fotográfica. Nos conte um pouco sobre isso. Eu sou uma pessoa muito competitiva em tudo o que faço. Isso se espalha para outras áreas também, sinto que tenho que me dedicar para tudo o que faço. Fotografia é o meio pelo qual desejo me expressar, mas sinto que sempre fui uma artista. Isso está dentro de mim, no meu espírito. Sempre gostei de competir e de ser premiada, me sinto abençoada por receber prêmios de grande prestígio.

Seu trabalho se concentra no cotidiano, no que está à sua volta. Como você começou a produzir e a buscar por este tipo de fotografia? Isso é o que está mais próximo de mim. Eu não viajo sozinha ou saio pela cidade o quanto como eu gostaria. Isso muitas vezes me deixa sozinha, com muito em minha mente, posso pegar minha câmera em um quarto vazio, o pensamento naquele momento me envolve e o título e o objetivo da imagem que pretendo capturar. Eu tenho uma preocupação constante de não ser primitiva tecnicamente, mas o pensamento se sobrepõe e eu preciso capturar aquela ideia em uma fotografia, mesmo que seja para depois a revisitá-la para a tornar melhor. Por agora o objetivo é capturar para não esquecer.


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Em alguns momentos suas fotografias encontram um abordagem mais abstrata. Quais são suas referências no momento de produzir essas imagens?

Seu tratamento de cor é bastante único e garante uma unidade para a sua produção. Como você o desenvolveu? Busco tratar a imagem da maneira que ela merece. É um objeto e porque ele deveria ser encarado como algo tedioso? Uma foto de um vestido branco + Marilyn Monroe se trona icônico. São precisos poucos elementos adicionados ou subtraídos para que você realmente consiga se focar na imagem. Acredito que nas nossas mentes nós gostaríamos de encontrar a beleza de uma maneira constante, mas se você fizer isso por muito tempo, pode te deixar maluco. Meu TOC tem um papel central em tudo o que eu faço. Fico obcecada se sinto que há algo faltando, muitas vezes não consigo parar até resolver o problema, o que me transformou numa pessoa que resolve problemas rapidamente. Tenho tanto o que melhorar em tantas áreas, isso faz com que eu não me permita descansar. Esses dias estava ajudando minha mãe a criar um site. Ela dizia que estava ótimo, mas eu não podia parar até ficar satisfeita: encontrar um bom tema, uma boa navegação. No final do processo ela percebeu a melhora, mas no começo ela não conseguia entender minha obsessão no processo.

Geralmente fine art. As vezes faço imagens abstratas que acredito que teriam grande repercussão se estivam na hora e no local certo. Estou em uma idade em que todos que conheço são artistas, todos temos idéias e nos torturamos com a busca de um pensamento original. Muito já foi feito com o abstrato, então meu objetivo com ele é enganar, trazer uma nova camada para o mundo que conhecemos. Gostaria de acreditar mais no sobrenatural do que eu acredito, me dá uma certa esperança imaginar que aquela sombra poderia se OLD tornar em um fantasma ou algo assim, porque em alguns momentos 35 trabalhos abstratos funcionam como anjos da guarda para mim. Eu acredito que todos gostariam de se consolar quando as coisas estão difíceis. Já perdi pessoas que apoiavam a minha arte e gostaria de vê-las presentes nas minhas imagens abstratas. Há um grande vazio em muitas de suas fotos. Você acredita que essa é a melhor maneira de apresentar a sua realidade? Você acredita que espaços podem construir grandes narrativas, assim como pessoas podem, em uma fotografia? Tanto gosto de imagens bagunçadas, que levam muito tempo para serem decifradas. Muitas vezes quando faço imagem com muito branco ou preto é porque quero te forçar a se concentrar no que está no restante da imagem. O vazio em qualquer cor é uma lei, você pode não perceber, mas ele atrai seu olhar e você segue seus comandos.


Catharina Sulleiman Portfolio



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Catharina Sulleiman apresenta na OLD uma seleção de seus trabalhos que lidam com o corpo e sua relação com o espaço em que está inserido. São imagens que buscam caminhos diversos dentro da fotografia, sempre conversando com outras linguagens artísticas. Catharina, pra gente começar, conte um pouco sobre seu começo na sua fotografia, sobre sua experiência até agora. Costumo dizer que a fotografia me escolheu, e por sempre estar presente, em algum momento eu já tinha o equipamento, já entendia o que enxergava, mas não sabia fotografar. Foi há sete anos, conheci meu namorado com quem estou até hoje, engenheiro e mestre em fotografia, me ensinou tudo que conseguiu (sou taurina), em 2008 larguei tudo e comecei a me dedicar inteiramente à fotografia, em 2009 nos mudamos para Londres juntos para estudar arte, lá escolhi a fotografia experimental e os processos alternativos.

Seu trabalho transita entre várias técnicas e abordagens fotográficas. Qual a importância para você dessa experimentação, desse estudo dentro da fotografia? Minha prioridade esta em conseguir executar o que imagino, em uma arte tão cruel como a fotografia, (uma das únicas em que você precisa estar presente para realizar) todo e qualquer conhecimento agrega. Sou uma comedora de informação, são horas e horas de pesquisas e testes e é esse conhecimento que me dá o suporte que preciso para construir uma imagem. Não estudei somente fotografia e os processos alternativos, estudei desenho, escrita criativa, photoshop, técnicas de restauração, fiz até uma residência de processos gráficos… Sempre estou estudando alguma mídia, no momento faço três horas semanais de xilogravura com o Bruno Oliveira.


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Esse ensaio está calcado na relação entre você e sua modelo. Como foi o processo de escolha? Qual a sua relação com ela, depois do ensaio?

Nas suas fotos o nu está sempre relacionado a um espaço, interagindo com ele. Quais as relações que você busca construir com essa troca?

A Flávia…Estávamos no mesmo lugar ao mesmo tempo, havia 20 pessoas para serem fotografadas e eu a escolhi, mas ela não estava lá para ser fotografada. Estávamos no Gemini, um cinema desativado em São Paulo, depois de 15 minutos da proposta negada ela me procurou - Nunca fiz, mas posso tentar. Nós fomos para uma escadaria (imagem “Espaços Vazios”), úmida, fria, sem absolutamente nenhuma luz, cheia de insetos, iluminei com uma lanterna, eram pausas eternas na escuridão, eu dizia no escuro: - Estou aqui. E a Flávia, nua, com uma coragem inenarrável respondia: -Escorreu uma lágrima, tem problema? Depois desse primeiro ensaio desenvolvemos um relacionamento artístico de respeito e carinho. Entendi mais tarde que as imagens acompanharam uma fase de transformação e mudanças na vida da Flávia, sempre houve da parte dela uma entrega incondicional ao meu processo criativo, e ela estava mesmo vivendo uma espécie de “libertação”. Nas palavras dela : “Esse primeiro ensaio me possibilitou libertação emocional, contato com o meu corpo e minha imagem que eu não imaginava. Além disso, houve uma descoberta da minha beleza e minha autoestima aflorou culminando com o encontro com meu namorado que é fotógrafo e se apaixonou primeiramente pelas imagens e depois por mim.”

Acredito que uma imagem não deva ser totalmente desfragmentada pelo artista, a leitura vem muito da historia pessoal de cada um e não pode ser imposta, quando entendi a seriedade disso percebi que posso criar conscientemente ate certo ponto, ate chegar o momento OLD onde tudo passa a ser orgânico e eu perco os por quês, e é nesse 45 momento que a imagem acontece. Ha muitos motivos para as escolhas de aqui ou lá, mas também não ha nenhum… Muitas vezes associamos o nu à sensualidade ou ao erotismo. No seu trabalho vejo que há uma relação diferente, de fragilidade, de exposição. Você buscar negar esse estereótipo relacionado ao nu em seu trabalho? Não há intenções diretas de negar ou afirmar alguma coisa, nunca tive uma regra de não mostrar ou mostrar essa ou aquela parte do corpo, a prioridade e’ o que esta dentro. O nu para mim, sempre foi, como imagem, o mais perto que eu consigo chegar da alma, da essência do ser humano, o corpo tem que contar uma historia e acredito que eu só alcanço isso distribuindo a atenção na imagem, acontece naturalmente. Quando o erotismo entra na leitura não sobra muito espaço para outras coisas. Algo para ser visceral não precisa de vísceras a mostra. Esse é o desafio.


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LEONARDO C


TREVISTA

COSTA BRAGA


Leonardo Costa Braga tem um trabalho muito interessante, em que ele lida com os limites entre a representação e a realidade, com a nossa facilidade em assumir que a fotografia é um documento fiel de um fato passado. As fotografias do artista mineiro - mais um da brilhante geração de fotógrafos do estado - estão sempre flertando com novas linguagens, novos objetivos. Para conhecer mais sobre sua história e seu trabalho, conversamos com ele por email. Leonardo, conte pra gente sobre seu começo na fotografia. Na década de 70 minha mãe produzia muitas fotografias da família e eu ficava observando qual o motivo daquela experiência no seu próprio ato de fotografar e depois no significado que aquilo produzia na nossa vida. O processo racional e intuitivo que envolvia a minha mãe me tocava bastante e me identifiquei muito com todo aquele OLD 48 processo do ver e de ser visto, de re-ver ou ser revisto procurando encontrar algo que não tinha sido percebido até então na dinâmica da vida. Eu achava estranho e ao mesmo tempo instigante este diálogo que a fotografia proporcionava com o presente, o passado e o futuro, além de ser uma re-apresentação do que tínhamos vivido mas que ainda parecia estar vivo de uma outra maneira no álbum fotográfico . Mesmo criança, para mim já existia toda uma invenção da realidade, um discurso próprio de como minha mãe queria narrar a vida que ela percebia, acreditava e construía para a gente através também das imagens. Como eu era muito ligado no livre pensar isto me levou na adolescência a começar a fotografar, escrever poesias e tocar instrumentos musicais com este sentido da invenção da realidade. Seus trabalhos já foram premiados diversas vezes e fazem partes de coleções nacionais de fotografia. Como isso motiva sua produção? Você produz algo pensando especificamente em prêmios ou editais?

Isso na verdade me desmotiva como pessoa porque qualquer tipo de premiação que a avaliação seja através da competição em processos criativos subjetivos é uma falsidade para a valorização do trabalho. Por outro lado me motiva porque preciso trabalhar, ganhar alguns jogos, para depois poder falar deles de uma maneira que proponha novos caminhos para a valorização da obra artística nestes processos sociais. Ganhar prêmios tem um valor para o mercado, para a carreira do artista, uma função prática de remuneração para o trabalho, mas pode ser um grande engano se for contextualizado no aspecto do valor da obra. Claro que produzo pensando em prêmios e editais, até porque parte da sobrevivência financeira de um artista vem destes setores. O problema é que a maioria dos artistas se acham muito inteligentes e na verdade somos os bobos da corte, porque em geral estes editais não tratam com dignidade as necessidades do artista, mas mudar os processos de uma corte leva muitas gerações, por isso é importante cada artista ir repensando a função da sua arte nestes aspectos sociais e econômicos. No Brasil, os organizadores de prêmios e editais culturais, como empresas, governos e curadores, precisam urgentemente envolver mais os artistas na elaboração dos regulamentos dos mesmos, para que a cada edição possa se ter uma evolução do processo. Para você, qual o papel da realidade dentro da fotografia? E dentro do seu trabalho? O que a gente chama de realidade é um discurso social de alguma maioria de pessoas em qualquer que seja o setor da vida. Temos uma enorme dificuldade de encarar como real o que minorias ou apenas uma pessoa diga que é real. Então precisamos primeiro perguntar se o que estamos chamando de real seja relativo ou absoluto, se cada um está inventando o seu real e apenas sabendo posicioná-lo em discursos de poder de maiorias ou minorias. A fotografia se abriu totalmente para este embate na atualidade até


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Qualquer tipo de premiação que a avaliação seja através da competição em processos criativos subjetivos é uma falsidade para a valorização do trabalho.


porque a ciência, a filosofia, a antropologia e as religiões estão diminuindo as suas distâncias por causa desta mesma pergunta. Portanto, para mim, o papel da realidade na fotografia foi inventado por um determinado grupo em uma determinada época e está sendo reinventado por outros grupos na atualidade, então isto é sempre mutável em relação a um tempo, um espaço e a contextos sociais. No meu trabalho a realidade é o processo do trabalho como um todo, envolve o ser em todas as suas percepções e experiências anteriores ao disparo da máquina, o personagem do artista em si e o produto que chamamos de imagem, mas para mim não tem nada a ver com tendências dizendo que fotografia é...

ganhei o Prêmio Pierre Verger em 2009 e o trabalho Homogenia começou a circular em exposições, publicações e galerias, ouvi de diferentes pessoas, como artistas renomados, curadores, galeristas e amigos que deveria basear minhas pesquisa com imagens em trabalhos que trouxessem a linguagem do Homogenia. Mas para mim não teve sentido ouvir aquilo porque sabia que a minha pesquisa com fotografia tem haver com uma representação da existência particular que cada experiência pode trazer para cada trabalho.

A fotografia está cada vez mais imersa dentro da arte contemporânea e a estrutura argumentativa é um elemento muito importante dentro desse cenário. Você acha que os fotógrafos devem apostar em construir argumentos cada vez mais complexos e precisos ou devem confiar especialmente na força de suas imagens?

Para os temas e técnicas não tem limites, mas a fotografia em si tem vários limites e isto é o que me interessa redescobrir. Porque a máquina é cheia de limites, a história fotográfica também trabalha muito com limites, o suporte hoje se expandiu bastante mas mesmo assim trazia limites bem claros, a minha personalidade sempre foi muito atraída pelos limites.

Depende de como eles querem viver a experiência da fotografia consigo mesmos e com as diversas vertentes que ela se aplica. Se você vai num lugar e as pessoas estão falando francês o mais simples é falar a língua delas se quer um resultado mais imediato, mas se não estiver esperando nada com isto pode apenas falar a sua língua estrangeira e ver o que acontece. Independentemente da analogia, saber escrever sobre o que representa as suas imagens é interessante para o artista conhecer mais sobre o próprio trabalho e ajuda a compreender significados da imagem que por vezes passam despercebidas aos espectadores.

Você busca quebrar ou lidar com esses limites no seu trabalho?

Seu trabalho tem uma variação grande de linguagens e técnicas. O quanto é importante essa experimentação para você? Esta experimentação é a minha pesquisa com fotografia. Quando

Leonardo, para você a fotografia tem algum limite para seus temas ou técnicas?

Busco ir além destes limites tanto no processo do trabalho quanto no produto final, na minha relação cotidiana com o que vivo, percebo ou vejo e qual relação isto tem com os limites das linguagens possíveis para a imagem como representação da invenção da vida.

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Akira Cravo Portfolio



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Akira Cravo apresenta seu portfolio fotográfico na OLD, repleto das cores da Bahia. Assim a família Cravo chega à sua quarta geração de artistas, a terceira de fotógrafos. Com certeza uma das famílias mais importantes da fotografia brasileira. Você vem de uma família de grande tradição artística e fotográfica no Brasil. Como foi a decisão de seguir o mesmo caminho? Quando surgiu o seu interesse pela fotografia? Eu cresci em um ambiente criativo em meio a texturas, imagens e cores, me deixei seduzir pela beleza e por todo universo que a fotografia e as artes plásticas podem criar. Tive acesso a livros e pessoas que sempre pude considerar como arte viva. Esses elementos funcionaram como ponto de partida para que eu seguisse por esse caminho, em meio a essa atmosfera desde muito pequeno pude experimentar e desenvolver os ofícios de fotógrafo e escultor. O interesse pela fotografia surgiu mais a fundo um pouco antes do falecimento do meu pai, daí então, senti a vontade de desenvolver mais, e de me expressar por essa forma artística.

Seu ensaio constrói um registro do cotidiano baiano, focado na cidade. Como foi o processo para encontrar essa abordagem? Como foi a edição deste material, até chegar neste recorte? O processo para encontrar essa abordagem veio naturalmente ao longo do minha curiosidade pela fotografia e pelos locais onde se via a Bahia de verdade e a cultura do povo que vive aqui. Sempre tirei muitas fotografias, para selecionar foi difícil por conta da quantidade de material que produzo, tive a sorte de contar com o apoio do Emanoel Araújo, que me ajudou a escolher o conjunto de fotografias e foi o curador da minha exposição: “A Natureza Humana”.


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Salvador é seu lugar favorito para fotografar? Que temas mais te instigam a produzir?

Seu trabalho conta com cores fortes, vivas. Qual o papel das cores na construção da sua narrativa fotográfica?

Gosto muito de fotografar Salvador, atualmente meus trabalhos estão concentrados aqui na Bahia, mas tenho vontade de desenvolver trabalhos pelo mundo, morar em outros lugares absorver novas culturas e conseguir imprimir o meu olhar.

O papel das cores é sempre mostrar o que é real em qualquer que seja o lugar, gosto de fotografar o colorido da Bahia, as cores são oferecidas aos olhos, estão facilmente alí, por conta do povo, das culturas e das festas populares com caráter regional, o papel das cores é ressaltar a beleza do povo Seu ensaio está bastante calcado na presença humana e em sua ações, mas poucos dos seus personagens tem o rosto visível. Porque você optou por esta construção? Como você acha que o anonimato dos seus personagens ajuda a construir o seu ensaio? Isso segue uma estética pessoal que escolhi optar, mas não foi de propósito, não tirei a foto com a ideia de que teria que esconder necessariamente os rostos, aconteceu de forma natural. As pessoas que estão nas fotos são representantes do povo na construção da imagem, são fotografias do cotidiano da Bahia do século XXI.

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Lúa Ocaña Rainstorming



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Lúa é uma fotógrafa espanhola, que trabalha exclusivamente com filme. Ela nos apresenta seu ensaio Rainstorming, uma série de imagens oníricas, em um PB contrastado e ruídoso.

Seu ensaio constrói um clima que foge da realidade, que fica entre o sonho e o pesadelo. Como você desenvolveu essa estética?

Lúa, como foi seu começo na fotografia? Quando surgiu seu interesse pela área?

Partindo da premissa de que tudo o que emerge de um mesmo ponto mantém algo em comum entre si, esta origem criadora, reuni esta coleção de imagens. Meu olhar é a origem, um ponto subjetivo de como sinto diferentes espaços e detalhes daquilo que me rodeia. Nestas imagens a visão através da câmera transcende o racional para passar ao etéreo e é neste mundo onírico, neste universo intangível, que estas fotografias se encaixam uma ao lado da outra, capturas de um mesmo caminho que percorri algumas vezes, com ritmos diferentes, sem perceber que já era solo conhecido. O tempo entre a produção de cada uma dessas fotografias deixa de ser um problema para a junção destas imagens dentro do mundo imaginário em que estão inseridos. Aqui impera o emocional, o sensível sobre o sensorial, o que transmite a fotografia, mais do que o conteúdo real que ela mostra. O discurso visual destas fotografias está vivo, vai e vem, é quase labiríntico, com cantos escuros, lúgubres, infestados de nostalgia e eco. Com uma essência atemporal, não sabemos se se trata de realidade ou sonho, de passado, presente ou futuro.

Minha primeira lembrança da fotografia é a da minha tia com a sua câmera Nikon analógica fotografando a minha infância. Assim, nunca senti a fotografia como um elemento externo e, de repente, não sei muito bem como, minha vida foi invadida por completo. Se tivesse que definir um ponto para o começo da minha produção criativa com fotografia seria o inverno de 2004. Foi nessa época em que entrei pela primeira vez em um laboratório, revelando e ampliando minhas fotografias. Desde então a fotografia foi presença constante na minha vida.


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Rainstorming funciona como uma coleção de imagens, retiradas dos seus seis anos de trajetória fotográfica. Quando surgiu esse projeto? Como foi o processo de edição até chegar nesse recorte? Rainstorming é talvez meu único projeto que começa no fim, o começo foi o seu final. Normalmente minha coleções surgem a partir de uma ideia, um conceito, um clique inicial e se desenvolvem de forma mais ou menos controlada a partir daí. No caso de Rainstorming a união entre as imagens já estava presente, só que não foi visível para o meu olhar durante os anos, assim em Setembro de 2011, depois de uma viagem à Florença com a minha mãe na qual se arrebentou a única câmera que tinha comigo e vendo as terríveis conseqüências de dias de viagem perdidos procurando uma nova câmera para a substituir tomei a decisão de repensar o papel da fotografia na minha vida. De volta à Barcelona me fechei em meu quarto por alguns dias, tentando descobrir o que estava acontecendo comigo. De repente eu era incapaz de aproveitar alguns dias de férias sem ter minha câmera comigo... Não precisava fotografar toda a viagem, mas precisava saber que tinha a câmera pronta, em mãos. Cheguei a uma conclusão: entre a minha imensidão de filmes haviam dois tipos: os que clicava pensando em projetos concretos e os que clicava no meu dia a dia sem pretensão alguma de criação consciente. Os primeiros haviam sido analisados e dissecados em várias ocasiões, mas o que acontecia com os outros? Porque nunca tinha dado uma relevância criativa para eles? Se algo era claro era

que era a mesma pessoa que os disparava, então partindo desta primeira conclusão, cheguei à segunda: parar completamente. Decidi de maneira convicta a não fazer mais nenhuma imagem até ter revisado todo o material que já tinha feito até aquele momento, não deixei um filme sequer sem ser examinado minuciosamente. Me movendo mais por instinto do que por parâmetros claros comecei a selecionar fotografia por fotografia até ter uma coleção de cerca de cinquenta imagens, depois disso as coloquei lado a lado e OLD desta seleção fiz um recorte mais preciso, retirando as imagens 77 que não criavam conexões com as suas vizinhas. Assim chequei a Rainstoming, uma espécie de retrospectiva daquilo que estava ali mas eu não tinha percebido antes, imagens que vão de 2007 a 2012, tomadas em diferentes momentos vitais em diferentes localizações, mas que no final possuem a mesma essência, o mesmo caminhar. As imagens de Rainstorming me parecem ser construídas em camadas, há a imagem, o ruído, a sujeira, a digitalização. O quanto contar com todas essas camadas é importante para o resultado final do ensaio? Não há exceção: todos os meus projetos ou série fotográfica são feitos com material analógico, normalmente em filme 35mm e às vezes Polaroid. Neste caso o processo de compilação das imagens foi essencial para chegar ao resultado final, por isso não tive o cuidado de tirar o pó dos negativos, não pretendia dar uma limpeza a essas imagens que não as pertencia.


Luiz Maximiano ProtestsBW



Luiz Maximiano tem um trabalho que flerta constantemente com o fotojornalismo. Suas imagens acompanham grandes OLD acontecimentos sociais, sempre com uma visão muito próxima 80 dos acontecimentos. Na OLD, Maximiano apresenta suas fotografias do protestos que tomaram o Brasil nos últimos meses. Luiz, conte pra gente como começou sua relação com a fotografia. Aos 25, fui morar em Amsterdã, Holanda, onde fiquei por 7 anos. Fazia 2 anos que tinha me formado em publicidade na ESPM, em São Paulo, e trabalhava na área de marketing mas não conseguia gostar disso. Ao chegar em Amsterdã para trabalhar numa ONG, eu decidi comprar uma câmera e comecei a fotografar apenas por hobby. Fui ficando cada vez mais fascinado com a fotografia até virar uma obsessão. Comecei a sonhar com uma carreira como fotojornalista e passei a planejar uma viagens/reportagens. Gastei todo meu dinheiro nisso e fui para alguns lugares interessantes, como Zimbábue, Egito e Índia. Fui aprendendo a fotografar durante essas viagens. Em 2007, ganhei um prêmio importante na Holanda

dado a um jovem talento, o Canonprijs. Era como se eu fosse o novo talento do ano no fotojornalismo holandês. Isso me deu confiança para buscar uma carreira na fotografia ainda com mais afinco e abriu várias portas. Seu trabalho está muito ligado ao documental e ao fotojornalismo. Como surgiu esse interesse? Quais os trabalhos mais marcantes que você fez nessas áreas da fotografia? No início essa era minha referencia maior. Queria ser Sebastião Salgado. Claro que na medida que fui conhecendo mais sobre fotografia, passei a desejar criar minha própria voz, meu próprio estilo. Hoje isso já evoluiu bastante e eu estou mais próximo do retrato, mas jamais abrirei mão da reportagem, da luz natural, do “momento decisivo”. Isso eu ainda considero a área mais nobre da fotografia. É uma pena ser a mais desvalorizada.


OLD 81












OLD 92


Você está apresentando na OLD um ensaio sobre os recentes protestos no Brasil. Como ocorreu o processo de desenvolvimento dessas imagens? Fui às ruas para observar este fenômeno, como fotógrafo mas também como cidadão. Claro que o lado fotógrafo pesou mais. Acho que tinha tantos fotógrafos pois existe um sentimento muito forte de que estávamos vivendo um capítulo importante no nosso país e é um privilégio passar por isso e documentar o processo. Tento não ter um julgamento de valor sobre todos os elementos envolvidos neste processo. Eu só pensava em documentar. Seria minha contribuição junto com a de dezenas ou centenas de fotógrafos que estavam lá. Temas de forte teor político ou social muitas vezes trazem problemas para o fotógrafo, para transmitir sua visão sobre o fato sem parecer tendencioso. Como você buscou este equilíbrio neste trabalho? Eu apenas estava ali. Tenho minhas opiniões sobre tudo o que ocorreu e da forma como ocorreu mas quando estava ali fotografando, tentei apenas documentar sem me envolver tanto. Sempre vai haver situações em que você se envolve um pouco mais por ser mais próximo do objeto que está fotografando. Neste caso, sempre senti que o que estava acontecendo era grande demais para tentar julgar e entender facilmente. O jeito era documentar como se eu fosse um gringo aqui, da mesma forma como fiz em outros países em situações semelhantes.

Para você qual foi o papel da mídia independente na cobertura dos protestos? Você acha que essa atuação pode transformar a maneira com que a mídia tradicional os apresenta? A mídia independente deu voz a muita gente excluída do processo de captação e condução da notícia. É independente no sentido de não ser parte do “establishment” da grande mídia mas eu acho que oferece o seu viés também. Tem um agenda que difere do resto mas não deixa de ter uma agenda. É mais um viés no meio de outros. Ninguém consegue ser 100% objetivo. É impossível, embora o modelo de transmitir conteúdo ao vivo sem edição seja mais próximo deste “100% objetivo”. O que acontece é que no momento que você escolhe o que quer por no quadro, você já não está sendo 100% objetivo e já está editando. Por isso que, no fim do dia, não acho que a mídia independente seja o futuro ou mesmo a panaceia do jornalismo. É apenas um jeito novo, graças à tecnologia, mas os problemas e desafios de se praticar o jornalismo vão estar aí diante desta mídia independente e talvez serão até maiores visto que o ruído é maior.

OLD 93


Ultrapassagem por Tito Ferradans

Mesmo com tantos apetrechos que podem incrementar nossa visão, nossos olhos já são bem incríveis. Um problema é que, a partir de certa idade, é comum o enrijecimento das membranas do olho, causando presbiopia. A consequência mais notável da presbiopia é que ler e escrever se tornam tarefas muito mais cansativas, uma vez que é preciso aplicar muito mais força nos olhos para conseguir focar aquelas letrinhas pequenas tão próximas. A solução são os óculos de leitura, que tem como função tornar visíveis detalhes mais próximos dos olhos. A intensidade da correção óptica de quaisquer óculos segue um padrão: aqueles numerozinhos que todo mundo chama de “grau”, mas ninguém sabe a medida, são dioptrias. Não vou entrar nos detalhes matemáticos e físicos dessa conta, mas é relativamente simples. Ok, e como é que os óculos de leitura e essas tais de dioptrias entram na fotografia? Sabe aquele filtro estranho, que parece uma bolha de vidro, e que muita gente chama de filtro macro? Então, ele também atende pelo nome de close-up - ou dióptro - e funciona de forma idêntica a um óculos de leitura para a sua lente fotográfica. Close-ups são lentes auxiliares que podem ser compostas de um único elemento óptico ou dois elementos (são os chamados “acromáticos”).


Assim como os óculos, close-ups são classificados de acordo com sua força, em dioptrias. Temos valores de +0.25 até +10. Um closeup é sempre colocado em frente a uma lente e o seu efeito é “limitar” a distância atingida com o foco no infinito. O “novo infinito”, é bem mais próximo e representa a máxima distância focável, podendo ser calculada de acordo com a intensidade do filtro. A matemática é bem simples, mas precisamos definir duas variáveis. MaxF = máxima distância focável, medida em metros S = força do close up MaxF= 1/5 Dá pra entender daí que quanto maior a força do close-up, mais próximo é seu foco máximo. Existem então duas conseqüências muito óbvias. A primeira é que não dá para fazer foco em nada além da distância calculada. A segunda é que as marcas de foco existentes lente não indicam as distâncias corretamente. Seria necessário fazer uma proporção adequada ao novo infinito da lente, mas isso não é fundamental. É só ir ajustando no olhômetro mesmo pra ver quando tá em foco. Para cenas próximas, uma boa técnica é fazer foco no infinito e movimentar a câmera até que o assunto entre perfeitamente em foco. Sua movimentação não deve passar de uns poucos centímetros. A aparência do filtro, aquela bolha de vidro, muitas vezes bastante acentuada, já indica onde ele vai pecar: a curvatura do centro estará perfeita e tudo que for fotografado naquela parte do quadro vai apresentar grande qualidade de imagem, mas conforme vamos para as bordas e cantos da fotografia, não é preciso muito esforço para notar a intensa aberração cromática e perda de definição. E o que os dióptros de dois elementos, ou acromáticos, têm de tão especial? Esses surgiram voltados para aplicações que necessitavam de grande qualidade ainda que a curtíssimas distâncias – por exemplo, microscópios, ou lentes de cinema – e,

claro, acabaram ganhando versões para o mercado fotgráfico. A função do segundo elemento óptico é justamente de corrigir a aberração cromática e perda de definição causadas pelo primeiro elemento. O ganho na qualidade da imagem é incrível, assim como o aumento dos preços! Através do uso desses filtros, abre-se um mar de possibilidades como, por exemplo, usar uma daquelas super-teles, que falamos um tempo atrás, para fazer imagens “macro” sem a necessidade de chegar tão perto do assunto fotografado, e driblando sua limitação de foco mínimo! O ângulo de visão reduzido da lente, combinado com o “novo infinito” proporcionado pelo close-up acabam resultando em um fator de ampliação do assunto. Outra coisa muito curiosa que é possível através de close-ups parciais (metade do filtro é vazada, sem vidro algum), é ter foco em distâncias completamente diferentes numa mesma imagem. Orson Welles utilizou bastante essa técnica em vários de seus filmes para OLD conseguir foco simultâneo em personagens que estão em primeiro 95 plano e em personagens bem afastados da câmera. Pronto, agora você já sabe o que fazer quando sua câmera estiver com a vista cansada, se recusando a focar objetos realmente próximos!

Tito é fotógrafo de vídeo e vive a testar todas as (im) possibilidades que câmeras e lentes lhe oferecem. Você pode saber um pouco mais de suas peripécias em tferradans.com/ blog


Fissuras por Ágata

O avesso das imagens

“O mistério do destino humano é que somos fatais. Nós temos a liberdade de cumprir ou não nosso fatal. Enquanto que os seres inumanos, como a barata, realizam o próprio ciclo completo, sem nunca errar, porque eles não escolhem. Mas de mim depende eu, vir livremente ser o que fatalmente sou. Sou dona de minha fatalidade e, se eu decidir não cumpri-la ficarei fora de minha natureza especificamente viva. Mas se eu cumprir meu núcleo neutro e vivo, e então, dentro de minha espécie estarei sendo especificamente humana.” Na página 124 do livro “A paixão segundo G.H.”, Clarice Lispector coloca a fatalidade como um elemento essencialmente humano. A falta de predestinação e as possibilidades de escolha fazem do viver uma areia movediça. Podemos escolher seguir em frente e, consequentemente, sermos sugados pelo solo até o desconhecido, ou nos paralisar no confortável conhecido. Em ambos os casos o risco está presente. Na história de G.H., essa reflexão é provocada quando ela se depara com uma barata dentro do armário. A partir desse encontro, faz um mergulho dentro de si, já que aquele ser inumano e asqueroso a coloca em contato com seus medos e tormentos, escavando o que há de mais interno. Carolina Krieger


Tal movimento gera insegurança, mas pode também promover a libertação. A liberdade, por sua vez, é curiosa e fascinante, e vivê-la é uma questão de escolha. Assim, a barata colocou G.H. no mais alto grau da introspecção. Em um diálogo interior que revelou fragilidades pessoais da condição humana, libertando-a para cumprir um desejo legítimo, ao esmagar aquele ser asqueroso. Ou para dar vazão àquela parte desconhecida do homem que se esvai com o esgotamento da linguagem. Alguns momentos do fazer artístico podem cumprir a mesma função da barata de Clarice e G.H. Podem ser o catalizadores dos desejos e aflições internas, devolvendo-os ao mundo como obra. Sabemos, entretanto, que esses momentos são difíceis de serem explicados, mensurados, compreendidos, até percebidos e - para a tristeza de quem se interessa por pesquisar o processo criativo quase impossível de ser mapeado. Nos parece ser algo construído e acumulado ao longo do tempo que, por alguma razão, vem à tona, desencadeando uma série de ações norteadoras para a obra. “O Espelho do Avesso”, ensaio de Carolina Krieger contemplado no último Prêmio Brasil de Fotografia, vem endossar essa ideia. Foi ela quem nos indicou o vínculo entre a barata de Clarice e seu trabalho, dando uma pista da possível relação entre a palavra e a imagem dentro de seu processo. Durante a produção do ensaio, a fotógrafa conta que vivia uma fase nebulosa, em que sentia que ainda havia algo a ser descoberto sobre suas imagens. Um trecho do romance “Memórias da Bananeira”, escrito por sua irmã, Isadora Krieger, indicou o que ela estava procurando: a costura de seu trabalho, ou, nas palavras dela, “a percepção da unidade”. O texto dizia: “Quando vimos um cão correndo na beira, na beira do mar e na sua, sim, ela existe dentro de nós, é na beira que a contemplação começa, é na contemplação que começa a brecha, e a brecha, termina onde? E se eu te disser que nunca termina? E se eu te disser mais, disser que o nunca termina parece muito com a vez que vimos um cão correndo na beira, quando o mar virou ouro

molinho, todo derramado, respingando dourado aqui e ali, quando vimos o fogo junto com a água, o acima com o embaixo, o lá longe com o cá perto, quando nos vimos com patas e vimos o cão com pernas, tudo misturado, quando vimos o acontecer tão imenso que o esticar nem sequer existia, absurdo e natural, assim.” O que vemos aqui é que Carolina encontrou nas palavras da irmã a atmosfera de suas imagens. Um encontro entre palavra e imagem ou entre imagem e palavra que, como ela diz, caminham juntas em seu processo de criação. Ao nos aproximarmos de suas fotografias, somos sugados. Em meio à escuridão, somos puxados para o interior da cena e nos embrenhamos, junto de Carolina, no desconhecido. Para nós, em especial, o imenso desconhecido do processo criativo que, vez ou outra, nos possibilita descobrir apenas pequenas pontas de enormes icebergs, ou neste caso, descobrir que no avesso de algumas imagens podemos encontrar as palavras.

Ágata é um coletivo multidisciplinar, um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para a investigação do processo criativo e da expressão artística.

OLD 97


Mande seu portfolio para revista.old@gmail.com


Annete Owatari


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