Revista Naturalize

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EDIÇÃO O1 | DEZEMBRO 2O17

Como ser vegetariano e saudável MODA Sustentabilidade dá novo sentido a moda

SAÚDE Desodorante faz mal à saúde?

PERFIL Por fora gótica por dentro hippie


NATURALIZE Ed. 1 | Dezembro 2017 Editora: É preciso desmistificar ideias que são impostas pela sociedade. Muitas delas nos fazem muito mal e não nos damos conta. É preciso começar a ter uma consciência do próprio corpo e saber que ele interage com a natureza. Não precisamos ficar alienados e presos as convenções, existe um mundo novo lá fora para ser explorado. Nós da revista Naturalize queremos te mostrar esse mundo! Buscamos trazer ao público informações sobre o vegetarianismo e também do veganismo, mas de uma forma diferente. Vamos pensar os vários aspectos desses estilos de vida, desde a alimentação, vestuário e saúde de uma maneira leve e reflexiva. A nossa revista é a porta de entrada para aqueles que querem entender mais desse universo, de uma forma tranquila e gostosa. Não queremos fazer ninguém mudar os seus hábitos, mas sim, repensá-los. Se, por ventura, você quiser mudar, aqui você irá encontrar muitas informações. Fique a vontade para explorar essa páginas e aprender um pouquinho mais, pois conhecimento nunca é demais. Bem Vindo (a)!

BRUNA FERREIRA EDITORA

Bruna da Silva Ferreira Projeto gráfico e diagramação: Bruna da Silva Ferreira Redação: Bruna da Silva Ferreira Fotos: Nasa, Galileu, Talyta Ritti Andreia Bulegon

Nota: Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, desenvolvido pela acadêmica Bruna da Silva Ferreira como exercício de projeto gráfico-editorial para a disciplina de Laboriatório de Produção Gráfica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no semestre 2017-2. Não será distribuído, tampouco comercializado.


SUMÁRIO 04 Como ser vegetariano e saudável

08 Desodorante faz mal a saúde?

10 Sustentabilidade dá novo sentido a moda

15 Por fora gótica Por dentro hippie

19 Dicas de livros, filmes e restaurantes veganos


ENTREVISTA

COMO SER

vegetariano & saudável A nutricionista Andreia Bulegon sempre se interessou pelos alimentos e a sua preparação, tanto que fazer Nutrição foi algo que aconteceu naturalmente. Formada em São Paulo na faculdade UNIP (Universidade Paulista), ela se especializou na área de transtornos alimentares no IPQ, Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas, (SP). Trabalhou durante três anos no ambulatório do hospital, que é conhecido no Brasil como referência na área.

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Hoje, ela mora em Camboriú , SC, e trabalha na clínica Clip, onde atende em consultório. No cotidiano com os pacientes, ela vem percebendo que as pessoas estão cada vez mais buscando entender o seu corpo, a fome, a vontade e as emoções. Isso a deixa motivada, pois pode passar adiante as referências que recebeu da avó paterna, que sempre se preocupou com a saúde e a alimentação.


ENTREVISTA

O que uma pessoa que quer se tornar vegetariano precisa saber antes de fazer a transição? Quando uma pessoa parte para a vontade de virar vegetariano, a gente primeiro vai trabalhar o anterior: como essa pessoa se sente, como está o corpo dela, as necessidades, seus exames, tudo mais pra saber as necessidades nutricionais. Posterior isso, vai aos poucos introduzindo e retirando alguns alimentos. Por exemplo, eu tenho muita vontade, eu gosto muito do leite, então aos poucos, gradativamente, a gente vai tirando, se assim for a vontade do paciente. Eu quero virar um ovolactovegetariano ou lactovegetariano, então isso vai de acordo com a vontade dele. Se ele está se sentindo mal com a carne, quando come frango, come leite, come ovo. Não é nada radical de início.

Como profissional, você percebe que as pessoas estão buscando mais esse estilo de vida? Muito, cresceu muito. Pela minha experiência, de uns três anos pra cá, eu tenho percebido principalmente pela procura da retirada da carne vermelha. Quem está nesse meio sabe que quando você come a carne vermelha, você tem um desgaste muito grande para digerir todo esse alimento, não só metabólico, mas energético também. Então você tem um cansaço, fadiga, estufamento. Muita gente busca não só pela consciência do animal em si, mas pela percepção do corpo. Por exemplo, eu como carne e sinto que não estou me sentindo bem, estou me sentindo indisposto, pesado... então como faz? tiro não tiro, corto ou não corto. Muitas pessoas chegam no consultório não com a ideia de virar vegetariano, mas com a ideia de diminuir a carne vermelha, é um processo gradativo. A gente coloca uma meta: vamos tentar comer duas vezes na semana? e gradativamente, naturalmente ele vira vegetariano. Porque ele percebe que se sente muito melhor.

Isso acontece somente com a carne vermelha? Principalmente com a carne vermelha. O peixe é algo que eu vejo que tem mais dificuldade, as pessoas não têm essa consciência ainda então elas: “ah, peixe não é um ser tão vivo, igual a carne vermelha”. Então é toda uma explicação, introdução do que é ser vegetariano. Muitas pessoas acham que ser vegetariano é só cortar a carne vermelha e não é só isso, você corta a carne vermelha, o frango, o peixe. “Ah, mas eu quero cortar o ovo também”, então você vai se tornar um lactovegetariano. “ah,mais quero tirar o leite e derivados”, então você vai virar um vegetariano estrito. Não vai se igual um vegano que não come e não veste nada de origem animal, mas você vai comer nada além de vegetais, as frutas, os cereais. Eu dou uma variedade de opções para ele. Gera um medo “mas eu não vou ficar muito magro,não vou ter deficiência de vitamina?” É aos poucos.

A alimentação vegetariana melhora a saúde? Muito. Lá no consultório eu trabalho muito com a parte dos chakras. Eu gosto muito dessa parte, bem na parte bioenergética. O alimento quando a gente come, ele gera um tipo de energia para nós. Não somente energia fisicamente, metabolicamente falando, mas energia dos pránas, dos chakras. Essa é uma parte para que gosta de meditar e é bem comum: quem começa da prática da ioga, da meditação, buscar esse tipo de alimentação. Eles andam meio em paralelo, dificilmente um empresário de cidade grande que não sabe meditar e não gosta dessa parte vai querer tirar a carne vermelha, para ele isso é importantíssimo. Mas quem tira se beneficia muito porque tem mais energia,sente mais vitalidade, se sente mais leve, tem mais pique para as atividades do dia a dia. Você consegue suprir todos os alimentos tirando, mesmo tirando as proteínas de origem animal, você consegue suprir todas as vitaminas que precisa no dia.

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ENTREVISTA

Não é somente a alimentação que muda, mas todo o estilo de vida. Isso. Tanto a parte emocional, a parte física e a parte da alimentação. É um conjunto. Eu não passo a simplesmente a virar um vegetariano por qualquer motivo. No consultório, a gente busca junto entender porque ele quer virar vegetariano, não pelo modismo, mas sim pela consciência mesmo. Porque senão isso não vai ser uma coisa de longo prazo, vai iniciar e daqui um tempo vai voltar para a antiga alimentação. É um estilo de vida, é uma mudança de padrão. Aos poucos vamos mudando algumas crenças e alguns paradigmas que têm em relação a alimentação e gradativamente a pessoa vai tomando consciência. Quanto mais ela vai mudando a alimentação, mais eu vou trabalhando na parte de mindfulness que atinge também na parte da alimentação que se chame mindful eating, é o comer consciente. Existem técnicas que quando você começa a prestar a atenção no que está comendo, prestar atenção no seu corpo, isso entra a parte quando você se torna um vegetariano a perceber o teu corpo, se ele está pedindo aquele tipo de alimento, se você ainda sente falta e respeitar o limite dele. Muitas pessoas iniciam o padrão vegetariano e não aguentam, não sustentam, porque ainda não era o momento dele. Não é simplesmente dizer que amanhã vai cortar a carne, é algo muito mais interno, muito mais profundo. Estamos falando de um vício, de um hábito de muito tempo. Muitas pessoas cresceram em famílias que comem muita carne e você mudar esse padrão é muito difícil. Gradativamente, nós vamos fazendo o paciente entender como ele vai se beneficiar de tudo isso.

mais delicados, tem que ter um certo cuidado. A criança tem a fase de crescimento e a fase de estirão; com a gestante temos que acompanhar todos os meses os exames, o acompanhamento que ela faz com o obstetra para ver se não tem nenhuma deficiência. Se não tiver nenhuma deficiência ela pode fazer a transição naturalmente, não tem problema. A mãe tem que suplementar o ácido fólico e a B12 para ajudar no crescimento do bebê, na formação dele, isso já natural. Mas tem muitas pessoas que não fazem suplementação e estão com os exames OK. Primeiro temos que avaliar os exames de sangue para ver se há necessidade de suplementação, se não houver, se faz a transição normalmente.

Você consegue suprir todos os alimentos tirando, mesmo tirando as proteínas de origem animal

Qualquer pessoa pode virar vegetariano? Até crianças e gestantes? A criança e a gestante são casos um pouco

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Mesmo a mulher que está amamentando pode fazer a transição naturalmente? Pode, lembrando que nós vamos acompanhar os exames, se tiver ok a gente vai substituindo. Para ter uma ideia 100g de carne equivale há uma concha de feijão. Então as vezes fazendo essas trocas inteligentes não tem problema nenhum, lógico que ela tem que ter o acompanhamento de um médico e um nutricionista para não fazer uma troca por conta própria e no final acabar se sentindo fraca e tudo mais.

O importante é sempre fazer o acompanhamento com especialista. Isso! Nunca sozinho, não por conta própria, não pegar dieta na internet e nas revistas. É uma questão muito individual, cada pessoa vai ter uma necessidade. Às vezes o que vai bem para uma pessoa não é tão bom para outra. A gente tem que estudar cada paciente de uma forma muito individual, então sempre com acompanhamento

Existe algum nutriente que a alimenta-


ENTREVISTA

ção vegetariana não supra? Não. Todos os tipos de nutrientes a gente consegue no reino vegetal. Através dos cereais, das batatas, dos feijões, das frutas, das leguminosas conseguimos suprir todas as necessidades dos pacientes.

Quais alimentos substituem as proteínas da carne? Principalmente as leguminosas: feijão, grão de bico, lentilha. Você pode consumir a quinoa em grão que é rica em B12 e proteína. As folhas, os vegetais. Muitas pessoas se preocupam com o cálcio, então consumir as folhas verdes escuras e nas sementes. Aí que entra o acompanhamento principal, porque às vezes você sabe o tipo de alimento, mas não sabe a quantidade certa.

Algumas pessoas quando viram vegetarianas ficam com anemia. Por que isso ocorre? Ou são casos específicos? Acontece que muitas pessoas que começam

a fazer a transição para o vegetariano, posterior a começar a fazer a dieta começa a fazer os exames.. Não depende da alimentação vegetariana para ter anemia, existe uma coisa de fazer toda uma anamnese para entender a rotina alimentar daquele paciente. O principal é fazer o exame antes da transição para ver se ele não tinha uma anemia prévia, porque também precisamos saber como está o intestino dele, como está a absorção desse ferro, para primeiro tratar o intestino e depois fazer a transição para o vegetariano.

Como ser vegetariano gastando pouco? Infelizmente nós temos uma questão chamada indústria. Ela acaba usando desses alimentos industrializados mais ao seu favor. Ainda temos poucas pessoas que produzem esses alimentos naturais, os agricultores é difícil a terra, o sol e tudo mais, por isso acaba se tornando mais caro porque não tem muita gente produzindo. A indústria ainda está em destaque por uma questão econômica. Precisamos de mais incentivo para os agricultores.

ENTENDA ALGUNS CONCEITOS

MINDFULNESS É um estado mental de controle sobre a capacidade de se concentrar nas experiências, atividades e

MINDFUL EATING É comer com consciência, ou seja, comer com intenção e atenção

ANAMNESE Consiste em um histórico de todos os sintomas narrados pelo paciente sobre determinado caso clínico

sensações do presente

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SAÚDE

DESODORANTE FAZ MAL A SAÚDE? Um estudo realizado na Grã Bretanha mostra que alguns componentes do desodorante podem causar problemas a saúde! Por Bruna Ferreira

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SAÚDE

Eles são grandes aliados na hora de disfarçar aquele cheiro desagradável nas axilas. Muitos carregam na bolsa e utilizam várias vezes ao dia. Claro, eles são versáteis, possuem tamanhos diferentes e podem ser cremes, roll on e aerossol. Os desodorantes e antitranspirantes já fazem parte do cotidiano das pessoas e é difícil imaginar ficar um dia sem. Mas você sabe a diferença entre eles? Os desodorantes não fazem você parar de suar. Normalmente, possuem álcool na sua composição, que tornam a sua axila um lugar desagradável para as bactérias que habitam ali. Muitos ainda tem bactericidas como Triclosan que matam esses organismos antes que eles possam se alimentar do seu suor. Já os antitranspirantes são outra história. Eles além de disfarçar o cheiro desagradável, são responsáveis por reduzir a quantidade de suor que você produz. O que possibilita que isso ocorra é o cloreto de alumínio, AlCl3. Porém, algumas pessoas após o uso, ficam coceiras, vermelhidão e inflamação na pele. Alguns pesquisadores estudam a ligação do câncer de mama com os antitranspirantes. Em janeiro de 2004, foi publicado na revista Journal of Applied Toxicology um artigo assinado por pesquisadores da University of Reading, na Grã-Bretanha (GB), em que se demonstrava a presença de altas concentrações de parabenos em tecidos retirados de tumores mamários de mulheres. A maior incidência da doença foi na região superior da área do peito, local onde normalmente o produto é aplicado e que estão localizados os nódulos linfáticos. A Anvisa, por meio da Gerência Geral de Cosméticos, declarou que ainda não existe embasamento científico entre a relação dos sais de alumínio e a incidência de câncer de mama, mas incentiva a pesquisa e a busca por esclarecimentos. Este não é o posicionamento ex-

clusivo do órgão brasileiro, a Fundação Câncer Susan G. Komen, (USA) e o BreastCancer.org também se posicionaram da mesma forma. O toxicologista Philip W. Harvey, em entrevista ao WebMD, se posiciona contrário ao pensamento das Fundações. “Esses químicos estão sendo aplicados diretamente, todos os dias, por uma quantidade enorme de pessoas e os efeitos da exposição a longo prazo na saúde são, basicamente, desconhecidos”, argumenta. Em 2007, e posteriormente, em 2009, novos estudos apontando a relação entre o câncer de mama e os químicos foram publicados, citando a habilidade dos químicos em acumular no corpo e imitar (ou pelo menos amplificar) os efeitos do estrogênio. No comércio, algumas marcas populares começaram a lançar produtos sem alumínio com preços acessíveis, mas para aqueles que não quiserem continuar o uso do produto, existe uma receita caseira com bicarbonato de sódio. Basta misturar com água e passar no local, dura o dia todo e não deixa- cheiro algum. Se quiser, pode adicionar alguma essência natural.

Demonstrava a presença de altas concentrações de parabenos em tecidos retirados de tumores mamários de mulheres

Lista de marcas sem alumínio: 1 – Adidas Ice Dive masculino 2 – Adidas Fair Play masculino 3 – Nivea Energy Fresh 4 – Adidas Pure Lightness 5 – Adidas Fruity Rhythm 6 – Nivea Fresh Natural 7 – Nivea Sensitive Pure

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MODA

Sustentabilidade dá novo sentido a moda O veganismo deu um passo à frente e está mudando o jeito de pensar o vestuário Por Bruna Ferreira e Paula Miranda

A

mesa é uma confusão de linhas de costura, novelos de lã, fuxicos, agulhas de crochê coloridas e flores de tecido estampadas. As mulheres ao seu redor “fuxicam” entre si, ajudando umas as outras no intricado passar de fios. A conversa animada, o cheiro de café recém-coado e o bolo de cenoura com coco, acorda todo mundo numa segunda-feira às nove da manhã para fazer crochê. Algumas dessas mulheres estão concentradas seguindo o trabalho e as mãos velozes da professora Luiza Juraci, que tricota com experiência. Estão ali para aprender e para ensinar. Logo levarão o conhecimento para suas comunidades. Este é o Encontro de Saberes, que ocorre toda primeira segunda-feira do mês na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no marco do EcoModa que está em sua 11° edição. O projeto, criado com a intenção de fazer exposições, palestras e oficinas relacionados à moda sustentável, busca conforme sua coordenadora, a professora do Departamen-

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to de Moda da UDESC, Neide Schulte “disseminar conhecimento para a comunidade”. Professora de sustentabilidade na moda, vegana e mãe, Neide busca colocar seu ideário em prática, procurando recursos para fazer moda gerando menos impacto. O primeiro passo foi abolir as matérias primas de origem animal. Historicamente, a moda utiliza tecidos como o couro, a lã, a seda e a pele. Pode parecer impossível eliminá-los do nosso consumo, mas estilistas e grandes nomes da indústria da moda estão paulatinamente mudando este cenário. A experiência da estilista Lilly Sarti nos mostra essa tendência. Dona de uma grife que leva o seu nome, Lilly aboliu em 2016 um dos segmentos mais lucrativos da sua marca: as peles. Em entrevista para a revista de moda Vogue conta: “Quando lançamos a marca, pele era sinônimo de glamour e queríamos ser parte desse universo – por isso, fazia sentido ter essas peças nas coleções”. A mudança não acontece do dia para a noite, demanda todo um processo que bus-


MODA

ca conquistar o público, que tem a compra motivada não só pela matéria prima da roupa mas por diversos fatores: necessidade, desejo, impulso. O Brasil abriga a quarta maior indústria de vestuário no mundo, com um faturamento de 182 bilhões de reais por ano, conforme reportagem da revista Galileu. Para Neide cada vez mais as pessoas estão buscando sua identidade através da vestimenta. O vegano, cujo respeito aos animais vai além da sua exclusão na dieta alimentar para compreender todos os aspectos daquela vida, por exemplo, estão preocupados em transmitir sua ideologia através do que vestem. Se o tecido de uma camiseta tem ou não origem animal é pertinente, mas o impacto ambiental que uma vestimenta provoca também é um aspecto a ser considerado. Neide esclarece que para o vegano é fundamental a consciência de todos sobre as consequências que a moda gera no ecossistema. “Às vezes não usamos algo de couro, mas não nos damos conta que a calça jeans comum, principalmente a barata, pode estar poluindo vários rios, matando muitos peixes. Não é só o couro ou a pele, mas sim todo o impacto que o vestuário causa.” A rede global Water Footprint Network, líder em avaliação do uso da água no planeta, calcula que para produzir 1kg de uma roupa feita de algodão, são usados em média 10.000 litros de água. Ou seja, uma calça jeans comum gasta cerca de 8.000 litros. Estamos falando apenas de uma calça jeans. Imagine uma produção em grande escala, como ocorre com o fastfashion. Além da quantidade de água usada, ainda é preciso considerar os químicos na hora do tingimento, que muitas vezes são tóxicos e jogados indevidamente em rios, contaminando a água e as pessoas que a utilizam.

Na Ásia Central, o Mar de Aral, que já foi o quarto maior lago do mundo em volume d’água, alcançou apenas 10% do seu tamanho original em 2007. A causa desse “encolhimento” é a irrigação de algodão na região. A agricultura familiar é um exemplo de produção sustentável. Em Florianópolis, o Ateliê Nara Guichon abriu as portas em 1983 e recicla anualmente 500 quilos de redes de pesca para confecção. Seus trabalhos utilizam apenas o algodão orgânico, proveniente da Natural Fashion, que consome 90% menos de água durante o cultivo, sem uso de agrotóxicos e outros produtos químicos. De acordo com Nara, seus clientes em geral são de classe médio alta que tem o poder aquisitivo para comprar uma echarpe de estamparia natural que custa 195 reais, mas queixa-se: “O perfil do cliente ainda não é o que gostaríamos, ou seja, clientes conscientes de que a moda é uma das indústrias mais poluidoras do planeta”. Alguns especialistas discutem sobre a moda ser a segunda indústria mais poluidora do planeta, mas não existe um consenso nem números absolutos para figurarem a dimensão desse impacto. Entretanto, é reconhecido que a indústria têxtil está no escopo dos ambientalistas

Foto tirada por satélite do Mar de Aral, na Ásia Central, em 1989 comparado a 2008, em estado avançado de desertificação

NASA

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MODA

Uma roupa produzida sustentavelmente geralmente é mais cara, tanto por causa da matéria-prima diferenciada quanto pelo trabalho manual. Seu processo não segue a mesma lógica que das lojas de departamento. Por isso é difícil popularizar a moda vegana. “Converso com o cliente frente a frente explicando que nosso produto apesar de um pouco mais caro sai muito mais barato, levando mensagem de respeito a todas as formas de vida”, afirma Nara. Para Lilly Sarti, depois que aboliu o uso da pele, houve um aumento de vendas e um consequente barateamento do produto: “A cadeia produtiva ficou mais fortalecida e, no fim, o preço final das roupas também foi impactado – quando você tem mais volume, consegue uma negociação melhor com os fornecedores”. Outra possibilidade para minimizar o impacto da indústria do vestuário é o reaproveitamento. Muitas pessoas doam suas roupas para brechós ou instituições de caridade. Neide Schulte está estudando maneiras de absorver o volume de roupas que em um cenário diferente vão parar em aterros sanitários: “Fui identificar os resíduos da indústria têxtil aqui em Florianópolis e estava vivendo com um volume gigantesco de roupas usadas, doadas. A gente não tem aqui como absorver isso.” E é com essas roupas e retalhos de fábricas que iniciativas como o Banco de Vestuário ajudam a comunidade fazendo com que a sobra de produção possa suprir a falta de agasalhos, roupas de cama, colchas, cobertores, artesanatos, etc. Além da ajuda, eles também fazem confecções para venda. Luiza Juraci, profes-

sora convidada do último Encontro de Saberes na Udesc, já trabalhou 10 anos no Banco em Porto Alegre e afirma “a economia solidária em mês ruim fatura 150.000 reais. Mês de final de ano dobra, bem mais. O produto tem que ter muita qualidade, o produto tem que ser muito bem supervisionado”. A popularização das lojas de departamento reinventaram o modo de produção e consumo. Enquanto que uma peça simples de uma grife custa cerca de 500 reais, um modelo parecido na Renner está custando 50 reais. Esse é o fast fashion. Em suma, tornou a moda acessível ao público e vestir-se conforme a tendência não é mais exclusividade da classe média alta. A cada três semanas as coleções são renovadas e descartadas, porém essa produção rápida e em em larga escala, gera resíduos e impactos no meio ambiente. Como as roupas que usamos não são biodegradáveis, ficam nos aterros 200 anos ou mais contaminando o solo e o ar, como mostrado no documentário The True Cost. Os impactos podem ter grande escala tanto para a natureza como para a população. Em abril de 2013 o mundo conheceu o lado obscuro do glamour. A capital de Bangladesh, Dhaka, foi palco de um terrível acidente, o desabamento de um prédio de três andares que vitimou mais de 1.300 vidas. Nesse prédio funcionava a fábrica de vestuário Rana Plaza. Os funcionários já haviam relatado as más condições do local como as rachaduras e as infiltrações, mas nada foi feito a respeito e eles foram forçados a continuar

O Mar de Aral, que já foi o quarto maior lago do mundo em volume d’água, alcançou apenas 10% do seu tamanho original em 2007

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GALILEU

MODA

MODA VEGANA: EXISTE? seu trabalho nessas condições. Este não é um caso isolado. Enquanto as vítimas do Rana Plaza eram retiradas dos escombros, outro edificio que abrigava uma fábrica de confecção na capital bangladesa pegava fogo, matando oito pessoas. Além de trabalhar em péssimas condições, essas pessoas ganham em média USD 2 dólares (o equivalente a 6,35 reais) por dia para fazer longas jornadas de trabalho, sendo submetidas há inúmeras privações como, por exemplo, ver a família. O documentário The True Cost, relata a história de Shima, que é obrigada a deixar seu filho, Nadia, na aldeia com seus pais, pois não tem como garantir boas condições para ele na cidade. Ela o vê duas vezes ao ano.

Infográfico ilustra as etapas de produção de uma roupa, desde a plantação da semente do algodão até chegar ao consumidor.

O veganismo é um estilo de vida ético que tem ganhado recente popularidade. Diferente do vegetarianismo, que rejeita o insumo animal apenas na sua dieta alimentar, os veganos militam a favor da integridade e dignidade de todos os seres sencientes, aqueles que sentem e que, portanto, podem sentir dor. Seus seguidores começaram questionando o modo de produção: “Qual a origem que gera menos impacto?”, pois, para a professora Neide Schulte, tudo gera impacto, entretanto para se pensar de forma ecológica é preciso avaliar esses impactos de forma a minimizá-los ao máximo. “A chave está na informação, na preocupação do usuário de querer saber de onde vem, o que é que está vestindo.” Não é uma tarefa fácil.

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MODA

Faça o teste. Pegue qualquer embalagem no supermercado e tente descobrir exatamente como aquele produto chegou as suas mãos. De quem compraram a matéria-prima? Qual foi o volume d’água usado na produção? Quais são as condições de trabalho daqueles que a produziram? Por quantas mãos o produto passou até chegar a sua? É praticamente impossível responder. As empresas não são obrigadas a divulgar essas informações. Em nosso país, a Sociedade Vegana Brasileira (SVB) criou um selo para tentar localizar as empresas que buscam mapear o trajeto de seus produtos e tem especial cuidado com o impactos ambientais e sociais em sua produção. O selo é dado por produto, não por marca, levando-se em conta que muitas praticam o veganismo apenas em etapas específicas da produção. “Considera-se produto vegano aquele que não contém em sua composição nenhum ingrediente de origem animal e durante cujo desenvolvimento (e durante o desenvolvimento de insumos usados para a fabricação do produto) nenhum animal foi usado em qualquer teste ou experimentação”, esclarece a SVB em seu site. Para possuir o selo, são necessárias informações sobre fornecedores e demais participantes da toda a cadeia produtiva, comprovando que a matéria prima fornecida é vegana, e o pagamento de uma taxa por produto. Apesar de não ser obrigatório o uso do selo, ainda é um atestado oficial de qualidade e autenticidade. Entretanto, a burocracia e a tarifa anual de licenciamento acabam desencorajando as empresas a adquiri-lo. Dificilmente vamos encontrar uma produção 100% vegana, pelo menos não agora. Talvez no futuro seja possível produzir uma roupa total-

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mente vegana, que contemple todas as etapas de produção, todas as vidas envolvidas e com o meio ambiente, respeitando tudo e a todos. Por enquanto esta é apenas um ideário.

ENTENDA ALGUNS CONCEITOS


PERFIL

POR FORA GÓTICA

por dentro hippie Por Bruna Ferreira

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PERFIL

Talyta mostrando suas peças de roupas que lembram cadáveres no desfila do OCTA Fashion 2014

Cabelos em tons de cinza na altura dos ombros, a boca cor marrom nude, sobrancelhas bem marcadas, piercings nos lábios e no septo, alargadores na orelhas, tatuagens nos braços, coxa e entre os seios; e unhas enormes em formato de garras. Esse é o estilo de Talyta Andreza Ritti, paranaense de 24 anos, que se mudou para Florianópolis com 7, e nunca mais foi embora. Formada em moda pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) em 2014, trabalhou a morte como obra de arte em seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). A inspiração veio do seriado Hannibal, pois para Talyta as mortes do seriado eram muito artísticas. A ideia era causar um desconforto. “As minhas roupas eram para imitar partes de um cadáver, trabalhando com a musculatura do corpo, com a pele” comenta. No ensaio fotográfico, as modelos eram carecas e usavam lentes de contato brancas, para que as suas personalidades não interferissem, pois “cabelo e olho são coisas que remetem muito a personalidade e alma” argumenta. Sua personalidade marcante e a forma diferente de ver as coisas a caracterizam desde a adolescência. Aos 14 anos decidiu virar vegetariana pois não achava correto escravizar os animais para depois se alimentar “como se eles fossem um objeto, porque eles são seres vivos”. No começo foi meio difícil já que a sua mãe, Maria Augusta Nicoladelli, não apoiava a mudança e dizia: “eu não vou cozinhar para ti, se vira”, recorda. Mas aos poucos foi mudando, começou a comprar carne de soja e cozinhar para a filha, pois tinha medo que ela tivesse alguma deficiência de proteínas. Esse medo é muito comum entre as pessoas, conta a nutricionista Andreia Bulegon, mas ele é irracional já que “todos os tipos de nutrientes a gente consegue no reino vegetal através dos cereais, das batatas, dos feijões, das frutas e das leguminosas conseguimos suprir todas as necessidades”, esclarece.

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Virar vegana foi algo que aconteceu naturalmente. Mas o veganismo é muito mais que cortar carnes, ovos e laticínios; é todo um processo de desconstrução do que é considerado natural pela sociedade. “O veganismo não é uma religião, não existe um livro de regras, cada pessoa encontra a sua forma”, diz Talyta. Há três anos ela encontrou a sua maneira de ser vegana, apesar de às vezes dar ‘uma escorregada’ com os laticínios, “eles são muito agradáveis ao paladar” se defende. Um hábito que introduziu no seu cotidiano desde muito jovem foi ler os rótulos dos produtos, o que lhe permite reconhecer os ingredientes de origem animal e vegetal. Ela alerta que alguns leites de soja tem vitamina D adquirida de animais, então “teoricamente o leite é de soja, mas não é vegano”. Manter o estilo vegano e a sua personalidade gótica não é uma coisa muito barata. Desempregada, Talyta tenta burlar essa condição comprando em brechós e mantendo seu guarda roupa com peças doadas. “Eu tenho uma amiga que foi para a Itália oficialmente, ela não queria levar tudo, então ela me doou muita coisa”. Por não reinvestir dinheiro para indústria, ela não se preocupa se está vestindo algo de couro ou de algodão, pois suas roupas são de


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segunda, terceira mão. Uma das poucas peças que têm de couro em seu guarda roupa é um coturno comprado ainda na adolescência, antes de virar vegetariana. As maquiagens veganas proporcionam looks mais leves e naturais, coisa que a Talyta quer distância: “eu prezo por um look mais pesado”. No Brasil, ela tem dificuldade de encontrar maquiagens que atendam a sua expectativa. A solução é comprar maquiagens no exterior. Talyta importa muitas maquiagens da marca de cosméticos Kat Von D Beauty, que recentemente mudou a sua linha para vegana, mas ela acaba ficando desanimada com os impostos que são cobrados pelos produtos. “Eu comprei dois produtos dela e o que paguei de imposto foi quase metade do que comprei”, queixa-se. No cotidiano da casa, Talyta tem dificuldades de manter o estilo vegano. Ela mora com outras três pessoas: Ana Ritti, a irmã; Eduarda Vieira, a cunhada e Raul Stahnke, o namorado.

Nenhum deles é vegetariano ou vegano e não possuem a intenção de vir a ser. “Santo de casa não faz milagre”, brinca. Ela já influenciou muitos amigos a mudar o estilo de vida ou pelos menos a pensarem no assunto. Em casa, Talyta começou a fazer a separação do lixo orgânico do reciclado, pois pretende fazer uma composteira para, no futuro, montar uma horta vertical, mas não tem muito apoio dos demais habitantes. “Ah, eu coloquei o lixinho lá e falei: ‘Oh, vou começar a separar’ e ninguém falou nada”. Uma das características dos moradores é a falta de diálogo. Um casal não interage com o outro. “A Ana e a Eduarda vivem trancadas no quarto” conta. Outro problema se gera na hora de comprar produtos de limpeza. Quando ela vai ao supermercado opta pelas marcas que causam menos impactos ambientais e pelo sabão em pedra, porém, quando outro colega vai às compras não tem a mesma preocupação e acaba comprando as marcas mais baratas e um produto que a Talyta detesta: o detergente. “A espuma faz muito mal ao meio ambiente”, alerta. Um sonho que Talyta pretende realizar um dia é ter a sua casa própria e ela já consegue visualizar alguns detalhes da residência: “Eu quero ter uma máquina de lavar em que dê para reutilizar a água da lavagem para molhar o jardim ou o quintal”. Além disso, ela quer ter uma horta orgânica e abolir o uso de detergente e outros produtos que afetem o meio ambiente. Enquanto o sonho não se torna realidade, ela se adapta a realidade da casa. Um costume que adquiriu é o de tomar Kefir: uma colônia de bactérias e fungos com baixo teor alcoólico. A Talyta preparar com água filtrada e açúcar mascavo e o cheiro “lembra massa de pão”, conta. O armazenamento é um pouco

As maquiagens veganas proporcionam looks mais leves e naturais, coisa que a Talyta quer distância: “eu prezo por um look mais pesado”

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PERFIL

Ambos com um estilo único, chamam a atenção por onde passam e nos fazem sentir em um filme de época

“Eu quero ter uma máquina de lavar em que dê para reutilizar a água da lavagem para molhar o jardim ou o quintal”. complicado, ele precisa ficar em um local sem luz e deixar um pano como tampa, para possibilitar a troca de ar. Na sua geladeira tem dois potes com as bactérias e fungos se proliferando, eles estão para doação. “Você não compra, você ganha um potinho de bactérias” comenta. O seu namorado, Raul, não estranha o seu jeito contraditório de ser. Juntos há cinco anos, eles chamam a atenção por onde passam. Com um estilo que lembra os anos 20, ele mais parece um personagem de filme de época. Ele não é vegano, mas respeita a opção de Talyta e sente orgulho de sua parceira. A Talyta não se importa com a opinião de terceiros, decidida, ela só quer ser feliz!

Talyta é mulher de muitas contradições e não se importa com a opinião alheia, decidida busca aquilo que acredita

18 | DEZ 2017 | Ed. 1 | NATURALIZE


INDICAMOS

Filmes

Restaurantes Se você está pela Grande Florianópolis e anda com dificuldade para encontrar aquele cantinho aconchegante com aquela comidinha vegana que você tanto gosta. Calma, que nós da Naturalize temos uma ótima dica para você! O Seu Vagem é o primeiro bar vegano do Brasil. Criado pelo empresário Eric Lorensatto, está localizado na Pedra Branca, Palhoça. Com ingredientes de origem vegetal, oferece uma variedade de pratos brasileiros típicos de boteco como feijoada com liguiça vegana e legumes, acarajé, moqueca, coxinha (de soje, palmito jaca, brócolis ou shimeji) e muito mais. Os pratos custam a partir de R$ 8,50, o mais pedido pelos clientes é a torre de beringela, feita com beringelas à milanesa, shitake, cebola, purê de batata e molho de tomate.

Livros Alimentos Para a Vida foi escrito pelo Dr. Neal Barnard e detalha as suas conclusões com base em anos de pesquisa médica sobre como as dietas ajudam a prevenir doenças. Este é um dos melhores livros veganos em torno de fatos sobre a saúde. Ele acredita que uma dieta vegana, baseada em grãos integrais, legumes, verduras e frutas é a dieta mais saudável para os seres humanos.

Através do mundo da moda, o documentário The True Cost pensa sobre as roupas que usamos e as pessoas que as fabricam. Em meio a realidade industrial, o preço das roupas estão diminuindo há decadas, enquanto que os custos ambientais e humanos só aumentam. O documentário ainda aborda as consequências danosas desse consumismo: o esgotamento dos recursos naturais, o uso de pesticidas e sementes modificadas geneticamente para manter a produção de algodão alta o suficiente para atender a demanda da produção, a consequente poluição do meio ambiente e problemas de saúde decorrentes dessa poluição. Qual o impacto dessa indústria da moda? Quem realmente para o preço pelas nossas roupas?

NATURALIZE | Ed 1 | DEZ 2017 | 19


EDIÇÃO O1 | DEZEMBRO 2O17

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