Minha Cidade

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Minha Cidade O INTERIOR DE SC EM REVISTA

Agriculltura familiar

A base econômica da cidade é uma prática passada de pais para filhos

DEZEMBRO 2017 · ANO 1 · Nº 1

Anitápolis Cultural As festas típicas da cidade e uma entrevista com um dos moradores mais antigos do município

Belezas Naturais As mais belas paisagens de Anitápolis para descansar e visitar


Editorial Ah! Minha querida Anitápolis!

E

scutar essa exclamação vinda de meu pai toda vez que chegamos a cidade já é quase que sagrado. Desde criança visitar Anitápolis me gera um enorme prazer; misto de felicidade por estar onde meu pai e meus tios viveram a infância, e curiosidade por conhecer o cenário das diversas histórias contadas pelo meu avô. O carinho por essa charmosa cidade que fica há 95 km da capital catarinense, vem de herança de minha família paterna. Eles, que saíram do município em 1968 para buscar melhores oportunidades, voltam sempre que podem para matar a saudade. E motivos para voltar não faltam, as belezas naturais, as festas típicas, e diversos passeios não só nos atraem constantemente de volta, como chamam atenção de turistas de todo o Brasil. Para a primeira edição da Revista Minha Cidade, eu escolhi Anitápolis não apenas pelo imenso carinho que sinto por ela, mas também pelos diversos atrativos que a fazem uma encantadora cidade do interior de Santa Catarina. As reportagens produzidas foram para que você, leitor, conheça um pedacinho cidade, e se apaixone, como eu, pela querida Anitápolis. Eliza Della Barba

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Sumário Conheça Anitápolis

Cultura, tradições, economia, história e as suas mais belas paisagens.

Interior cultural

Belezas do interior

4 | As manifestações

10 | Ao pé da Serra 14 | Descanso em

culturais de Anitápolis

6 | Memória Viva

meio a natureza

Oportunidades do campo

História da cidade

15 | Agricultura familiar:

21 | Momentos marcantes

uma prática passada de pais para filhos

do município

Minha Cidade | N°01 | Dez.2017 | 3 Foto: Homero Della Barba


Interior Cultural

As manifestações culturais de

Anitápolis

A

cidade de Anitápolis tem em sua história aspectos marcantes que se apresentaram no desenvolvimento de outras esferas da sociedade. Exemplo disso são as manifestações culturais do município. As festas exaltam acontecimentos como a imigração alemã, a agricultura, e a religião. Um dos eventos mais prestigiados na cidade é a Festa de São Sebastião, promovida pela igreja Católica do município e ocorre dentro do salão paroquial. Ela acontece todos os anos no mês janeiro próximo às festividades do dia do Santo Mártir, 20 de janeiro, e atrai fiéis e turistas.Diversas atrações são feitas como: Procissão, Novenas, Baile e Show, Almoço típico, venda de pães, bolos e cucas coloniais. Para valorizar as origens e os valores dos agricultores de Anitápolis, foi criada A Festa do Colono.

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Foto:Nelio Bianco


Fotos: Prefeitura de Anitápolis

Sua primeira edição foi realizada nos dias 12 e 13 de setembro de 1981. Desde a data, todos os anos no mês de setembro acontece a festa que mobiliza a cidade e atrai turistas. Ao longo dos anos O evento recebeu diversos nomes como: Festa do Peixe Manso e Hinerfest (Festa do Frango), porém o nome que ela ficou conhecida foi Festa Do Colono. A cada ano o evento vem se destacando. Sendo realizadas atividades diferentes a cada nova edição, com o intuito de atrair a presença dos moradores do município, dos turistas e em especial dos agricultores. As atrações típicas e sempre presentes nas festas são: o encontro e apresentações de grupos folclóricos, exposições de produtos e animais, Baile, Desfile Colonial.

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Interior Cultural

Memória viva João de Almeida Coelho, ou João do Lírio como é conhecido por todos, é um dos moradores mais antigos de Anitápolis. Nascido em 1936, filho de Lírio de Almeida Coelho e Laura Gomes Coelho, ele presenciou de perto o crescimento do município e acontecimentos que marcaram a história da cidade. Seu João, aos 81 anos, se dedica em cuidar da família e em estar sempre comprometido com Anitápolis, sendo hoje essas duas atividades suas maiores alegrias.

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Foto: Eliza Della Barba


Onde o senhor nasceu em Anitápolis e como era a cidade naquela época? Nasci no Rio da prata, depois morei na comunidade do Maracujá, depois na do Povoamento, e com 9 anos fui morar na Praça de Anitápolis. Quando chegamos aqui deveria ter 25, 30 casas. Não tinham ruas naquela época, onde é a praça hoje, era antes tudo capoeira. Ali era o pasto de todo o povo; tinha vaca leiteira, tinha criação de gado, de porco. A praça só foi melhorar quando o prefeito Lindolfo Beppler assumiu. Foi quando essas criações foram tiradas dali, e ela foi organizada como uma praça mesmo. Onde o senhor trabalhou? No começo trabalhei 2 anos na agricultura com meu pai. Com 12 anos de idade eu fui para a sapataria aprender a fazer sapato e trabalhei como sapateiro durante 12 anos, fiz sapato para o município inteiro. Depois arrumei emprego na Serraria, trabalhei como serrador durante 9 anos. Era um trabalho pesado; muitas vezes virei o dia trabalhando, só saía quando os peões carregavam o caminhão, aí eu ia pra casa tomar um banho, e voltava para serraria. Aí embarcávamos no caminhão para ir ao Estreito, em Florianópolis, descarregar a carga.

emprego está garantido.” Ele levou mesmo a sério [risos]. Eu aceitei o emprego e comecei a trabalhar na administração e mais tarde fui chefe de departamento pessoal. Ali eu trabalhei durante 30 anos.

Como conheceu a sua esposa, Dona Inácia de Melo Coelho? A Inácia morava na comunidade do Rio do Ouro aqui em Anitápolis. Um dia ela apareceu lá na sapataria pra comprar um sapato. Quando a vi, eu falei “Essa morena vai ser minha!.” na frente de todo mundo [risos]. Depois dali começamos a conversar, tínhamos o mesmo grupo de amigos, e em seguida começamos a namorar. Casamos em 1952, já somos casados há mais de 60 anos. Tivemos uma filha. Hoje tenho 2 1960 nós netos e já tenho até bisneto.

“Em tínhamos 7.000 habitantes em Anitápolis. Já em 1970 nós tínhamos 6.000 habitantes. Hoje se tivermos 3.500 pessoas é muito.”

E como foi trabalhar na prefeitura? Foi por conta de uma brincadeira que eu fiz com o Antônio David, que era candidato a prefeito na época. Eu falei assim pra ele “Alemão, se tu ganhar essa eleição e não me der um emprego nessa prefeitura, eu te mato!” [risos]. Ele simplesmente riu e não disse nada. Eu já estava estourado, cansado de ficar dia e noite trabalhando pesado. Aí, ele ganhou a eleição e quando faltava uma semana para assumir, ele mandou me chamar e falou pra mim “Não me dissesses que se eu virasse prefeito e não te desse um emprego tu ias me matar? Pois não precisa me matar, que o teu

Quais foram os acontecimentos que mais marcaram a história de Anitápolis? O Núcleo Colonial de Anitápolis Quando ele começou, lá por 1907, grande parte dos imigrantes eram da Alemanha, que vieram fugidos da crise, da fome. Assim que chegaram eles foram colocados em casas e era dado um terreno para agricultura, algumas famílias não sabiam cultivar, não tinham essa prática. Então eles começaram a sair do Núcleo e foram para outras localidades do estado, trabalhar em minas, tecelagem. Eu presenciei a época que eles já estavam indo embora. Anitápolis teve muita evasão durante o tempo, começando pelos imigrantes, como o senhor bem disse, e hoje a própria população está saindo da cidade. Por que o senhor acha que isso está acontecendo? Em 1960 nós tínhamos 7.000 habitantes em Anitápolis. Já em 1970 nós tínhamos 6.000 habitantes. Hoje se tivermos 3.500 pessoas é muito. Essa saída de pessoal, hoje em dia, é porque não tem trabalho aqui. A prefeitura põe ônibus para levar os estudantes para Minha Cidade | N°01 | Dez.2017 | 7


as faculdades em Florianópolis, é dado esse apoio para a formação dos jovens. O problema é que não temos retorno. Eles se formam e vão trabalhar fora. Aqui não tem campo de trabalho para eles. Nós gastamos esse dinheiro dando oportunidade de estudo, mas o retorno não fica.

idade ter reconhecimento pela nossa participação na construção da cidade é muito bom. Eu sempre participo das reuniões, fiz a bandeira do município, então é muito gratificante ser reconhecido. Eu nasci e me criei aqui, e não quero sair daqui nunca. Anitápolis é tudo pra mim.

Ao longo dos anos a cidade cresceu muito, E como foi fazer a bandeira do município? se modernizou, e o senhor acompanhou tudo Eu tinha a ideia da bandeira, mas não sabia isso. Qual foi a melhora mais marcante do estilo desenhar. Aí, estava um dia sentado tomando de vida de antigamente para o de hoje? chimarrão com o Valdir Stipe e lembrei que ele Em vista do que eu conheci, hoje não tem nem desenhava muito bem. Na hora sugeri de fazermos comparação. Eu fui ver um caminhão a bandeira e começamos ali mesmo, com 12 anos, por que não tinha. [risos] em uma folha de cartolina, a desenhar “Eu nasci Meus pais levavam os produtos pra o brasão, as ferramentas, a enxada, e me criei vender em Santo Amaro da Imperatriz, o machado e o martelo. Aí depois aqui, no lombo de cavalo. Eles saíam daqui de decidimos as cores, branco, verde e e não quero madrugada e só chegavam quase dois vermelho. Até hoje me criticam pelas sair daqui dias depois no destino. Cada mês era cores por serem iguais a do fluminense uma viagem, tinha muita dificuldade. [risos]. Mas cada cor tem sua razão: nunca. Hoje é muito melhor, tudo é bem mais o branco que representa a ordem, o Anitápolis fácil, acessível verde das matas e o vermelho da raça é tudo do povo. E até hoje é essa a bandeira pra mim.” O que falta evoluir em que temos. Anitápolis? O que falta aqui é uma grande indústria, isso O senhor lembra de uma história marcante iria fazer o nosso povo renascer e querer ficar por do município? aqui. Isso iria absorver muita mão de obra, gerar mais Para trazer a luz elétrica era preciso fazer uma dinheiro pro município. cooperativa e precisava também ter um certo número de cadastrados nela, então era sempre o casal que E o que o senhor mais gosta na cidade? se cadastrava. Eu fui a sétima pessoa a ser sócio da O que eu mais gosto daqui é o sossego. Não cooperativa de luz de Anitápolis. Antes a gente tinha precisamos fechar uma porta, pôr grade em casa. a luz pela Usina, que hoje é desativada, mas a luz era Aqui ninguém rouba. Hoje em dia o que as pessoas mais fraca que uma vela, então usávamos lampião mais sofrem nas cidades é com a violência, é pela de querosene. Quando fizeram toda a instalação da questão da segurança. Aqui é tranquilo. Às vezes luz elétrica pela cooperativa, foi uma alegria. No eu estaciono o carro na rua e quando vejo deixei a dia que a luz seria ligada, aconteceu um evento, e chave na ignição, e ninguém leva. [risos] até o governador do estado Ivo Silveira estava aí para a inauguração, só que quando foram ligar, o A prefeitura de Anitápolis fez no dia 18 transformador queimou [risos]. de outubro uma homenagem à memória viva da cidade. E entre os homenageados estavam o Como foi a infância do senhor em Anitápolis? senhor e a Dona Inácia. Qual foi o sentimento de Eu fui a escola e naquela época, se já sabia receber esse reconhecimento? ler e escrever já estava bom. A nossa infância era Foi muita emoção, alegria! A gente nessa diferente do que é hoje. Eu olhava o brinquedo 8 | Dez.2017 | N°01 | Minha Cidade


Foto:Eliza Della Barba

dos meus amigos, chegava em casa e fazia igual pra poder acompanhar eles [risos]. Não se tinha brinquedos como hoje, e o que tinha era muito caro. Brincávamos muito de carretilha, descíamos morro abaixo de carrinho, íamos pescar. Era uma vida saudável. De onde saiu o apelido de “João do Lírio? Meu pai, Lírio de Almeida Coelho, trabalhou muito tempo como zelador aqui do Colégio de Anitápolis. E criou um vínculo muito forte com as crianças do colégio e com a própria cidade. Todos conheciam o Seu Lírio, ou o tio Lírio como as crianças chamavam. E aí eu fiquei como João do Lírio, que seria João filho do Seu Lírio [risos]. Foto:Eliza Della Barba

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Belezas do interior

Ao pĂŠ da

Serra

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Cercada por montanhas e matas, Anitápolis é rica em belezas naturais. A Serra Geral é uma referência quando se trata das exuberâncias naturais, sendo ela um dos cartões postais mais fotografados do município.

Foto: Homero Della Batba Minha Cidade | N°01 | Dez.2017 | 11


F

loresta de Araucária, área de Campos e a Floresta Pluvial Atlântica constituem a diversidade dessa Serra, que tem 17.300 hectares e ocupa regiões do Centro-sul do Brasil. Em Anitápolis ela se localiza aproximadamente a 25 quilômetros do centro, onde pode-se praticar o montanhismo. O Morro do 50, que fica no interior da cidade, recebe muitos aventureiros e montanhistas. Ele possui 721 metros de altura e seu cume fica a 1.680 metros do nível do mar. Ele, juntamente com o Campo dos Padres que faz divisa com os municípios

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de Santa Rosa de Lima e Urubici, atraem os visitantes em busca de trilhas e belas paisagens. Em Anitápolis, a Serra Geral tem como característica suas formações rochosas e vales que potencializam a presença de cachoeiras. Os rios que cortam o seu território também chamam atenção pelas límpidas águas. Destaque para as quedas dos Rios: Povoamento, da Prata, Maracujá, Branco e do Meio Serrinha. Além disso, há trilhas para jeep cross e motocross, especialmente em Bela Vista, Santo Antônio, Serra da Garganta e Vermelho.

Foto: Homero Della Barba


Calor Outro ponto muito visitado é a Cachoeira da Usina (acima), recanto natural distante 500 metros da sede municipal. Famosa por ser uma antiga usina hidrelétrica, foi transformada em área de lazer com infraestrutura para preparo de refeições, lanches, churrascos. Ela possui formações de piscinas naturais próprias para banho de adultos e crianças.

Frio O clima da região varia, tendo ocorrência de geadas ou até neve no inverno e temperaturas médias entre 15 graus e 25 graus durante o resto do ano. Anitápolis fez parte, em 2013 das 126 cidades a registrar neve, entre os dias 22 e 25 de Julho. Além desse episódio, em 1990 houve uma nevasca que marcou a história da cidade (ao lado). A neve cobriu todo o município, deixando o Morro do 50, completamente branco.

Fotos: Evandro Meireles (topo) e João Carlos Della Barba (acima)

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Belezas do interior

Descanso em meio a natureza O município de Anitápolis tem mais de 10 opções de pousadas para quem quer conhecer, aproveitar as belezas da cidade e descansar em meio a belas paisagens naturais

Pousada Encantos da Serra

Alimentação: almoço com comida caseira, e janta a base de massas caseiras (lasanha pizza e sopa). Café da manhã é colonial. Oferece: banho de rio e cachoeira, açudes, caminhada e trilha ecológica (trilha dos índios), visitação a Serra Geral, cancha de bocha, mesa de sinuca, piscina, campo de futebol e passeio de cavalo Localização: Estrada Geral Serrinha, 13 km do Centro Contato: (48) 3256-1260 ou (48) 984950613

Pousada Weiss

Alimentação: café da manhã Oferece: Wi-fi, atendimento bilíngue (alemão), acesso direto ao centro da cidade. Opções de 13 apartamentos completos e 7 quartos com banheiro comunitário Localização: Rua Gonçalves Junior, Centro, em frente a praça municipal Contato: (48) 3256-0109

Pousada Sítio Rei Arthur

Alimentação: café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta Oferece: contato direto com a natureza, piscina, áreas de descanso, lago pesque e solte, trilha, cachoeira, pomar. Opções de chalés independentes de até 4 pessoas Localização: Estrada Geral Rio da Várzea, Zona Rural Contato: (48) 99155-8864 ou 3256-0395 Fotos: Pousada Sítio Rei Arthur e Pousada Encantos da Serra

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uma prĂĄtica passada de pais para filhos

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Oportunidades do campo

Agricultura familiar


T

odos os dias às 5:00 da manhã Osni Meyer (47), e sua esposa Zenaide (47), já estão de pé. O trabalho exige que acordem cedo diariamente. Ordenhar as vacas, alimentar o gado, cuidar do aviário e da agricultura, além dos afazeres da casa e em outros locais da propriedade. Esse é o dia-a-dia típico de quem trabalha com a agricultura familiar. Eles são donos de um imóvel de 46,6 hectares, considerado pelo sistema nacional de cadastro rural como pequena propriedade. Ele se localiza em Barra Gaspar no município de Anitápolis, que fica aproximadamente a 3 quilômetros da sede da cidade. Casados há 25 anos e pais de três filhos, o casal sempre trabalhou com agricultura familiar, herdando a prática de seus pais e avós que também trabalhavam no campo. É atrás da charmosa casa da família que este trabalho acontece. Dois galpões são destinados Foto:Eliza Della Barba

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somente para o gado, um para a alimentação e outro para a ordenha. Neste, 5 ordenhadeiras tiram leite das 33 vacas. Depois de retirado, ele vai diretamente para o resfriador que o mantém fresco. No sistema adotado pela família, as vacas são ordenhadas duas vezes ao dia, a primeira às 06:00 e a última às 18:00. Duas vezes por semana a empresa de laticínios instalada em Anitápolis vai até a fazenda para levar o leite, o que gera aos Meyer uma renda mensal. Todo esse trabalho feito pela família é o retrato da economia de Anitápolis, que baseia-se na agricultura hortifrutigranjeira e na atividade leiteira, sendo aproximadamente 90% do rebanho do município de gado Jersey. Além do destaque da agricultura familiar, a cidade é hoje uma das maiores produtoras de brócolis-ninja e chuchu do Estado de Santa Catarina, e também conta com diversos aviários.


Superando dificuldades A agricultura familiar é geralmente passada de geração em geração. Porém houve um tempo que a família Meyer quase desistiu do trabalho ensinado pelos pais. Foi em 1997 que o casal viveu um período difícil; com apenas uma vaca e com a venda reduzida do seu plantio de hortaliças, não viam outra alternativa a não ser sair de Anitápolis. “Nessa época nem teto tínhamos, a propriedade não era nossa ainda. Estávamos quase indo embora quando surgiu a oportunidade de fazer um aviário, então resolvemos confiar e arriscar.” explica Zenaide. A indústria de frangos Macedo, atualmente adquirida pela JBS, oferece o sistema de integração. E foi através dessa parceria que a família Meyer reergueu os seus negócios. Esse sistema tem a empresa de maior porte como integradora e esta fornece ao criador, o integrado, as aves, a ração, a assistência técnica e se responsabiliza pelo abate e

pela comercialização. Já o criador investe com as instalações, os equipamentos, o aquecimento, a água e a a mão de obra. A família possui dois aviários com cerca de 15 mil pintos em cada. A ração é diferente em cada estágio de crescimento das aves; o primeiro tipo de ração é a inicial que fortalece os animais, a segunda ração é a de crescimento, e a terceira é a final, que faz a engorda dos frangos. Além do cuidado com a ração, os Meyer possuem ventiladores e aquecedores quem mantêm a temperatura dos animais. “No inverno nós ligamos o aquecedor e no verão nós usamos o ventilador em dias muito quentes. Na fase em que eles estão pequenos, a temperatura tem que ficar entre 30 graus a 32 graus, quando maiores suportam até 28°graus”, explica Zenaide.

Foto:Eliza Della Barba

“Nessa época nem teto tínhamos, a propriedade não era nossa ainda. Estávamos quase indo embora (...) então resolvemos confiar e arriscar.”

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A vida na fazenda ainda atrai A evasão das cidades do interior de Santa Catarina vem aumentando ao longo do anos. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada em agosto desse ano, 99 cidades catarinenses perderam moradores, sendo elas de sua maioria do Oeste do Estado. Essa realidade é consequência da falta de oportunidades nas cidades pequenas. Mas diferente de muitos jovens moradores do interior, os filhos de Osni e Zenaide Meyer, Cleyton (23), Cleber (20) e Samuel (15), querem continuar em Anitápolis e seguir os passos dos pais.

“Eu gosto de ficar aqui. Quero fazer uma família, continuar o trabalho dos meus pais’”, afirma Cleyton. Ele é o mais velho dos filhos e nunca pensou em sair da cidade. Já Cleber, que estuda Agronomia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entende a realidade de quem sai de sua cidade em busca de melhores condições vida. “Eu sei que hoje é difícil se manter no interior, mas gostaria de permanecer em Anitápolis. Para ter mais estabilidade, pretendo passar em um concurso público e ao mesmo tempo ajudar a manter a fazenda através das técnicas que eu aprendi no curso de Agronomia”, explica ele.

Foto:Eliza Della Barba

“Eu gosto de ficar aqui. Quero fazer uma família, continuar o trabalho dos meus pais”. 18 | Dez.2017 | N°01 | Minha Cidade


História da cidade

Momentos marcantes do município Foto:Arquivo pessoal

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F

oi início do Século XX que o governo federal teve conhecimento das terras há 95 quilômetros de Florianópolis. Essas terras tinham a missão de acolher imigrantes europeus que vinham em busca de uma vida melhor no Brasil, assim foi fundado em 1907 o Núcleo Colonial Anitápolis. Ele foi dividido em 32 secções: Rio do Meio, Rio do Ouro, Rio da Prata, Rio dos Pinheiros, tendo todos recebidos nomes de rios. O chefe do Núcleo era o engenheiro-agrimensor Cisenando Mattos, que orientava os trabalhos dos imigrantes, além de demarcar e distribuir terras. Em 1910 foram construídas as primeiras ruas do núcleo e um galpão para acolher imigrantes, este ficava onde hoje se localiza o prédio da Prefeitura Municipal de Anitápolis. Um ano depois, já em 1911, os imigrantes começaram a ser dirigidos ao núcleo. Eles vinham principalmente da Alemanha, mas haviam imigrantes de diversos países como: Romênia, Rússia, Tchecoslováquia, Inglaterra, Espanha, Finlândia. As embarcações de imigrantes vinham do Rio de Janeiro até Florianópolis, e da Ilha eles eram levados até Anitápolis por carros de boi ou ainda carretas puxadas por mulas. A viagem levava em média 3 à 4 dias. Em geral os que vinham, tinham uma situação financeira razoavelmente boa e traziam em suas bagagens livros, louças finas e instrumentos musicais. Em 1915 começou a fracassar a tentativa de colonizar Anitápolis. Os conflitos com os indígenas, a falta do conhecimento no cultivo das terras e o difícil acesso á região montanhosa foram alguns dos motivos que levaram muitos imigrantes a irem embora do núcleo. Estes eram em sua maioria operários e mineiros e por isso deixaram a cidade para ir em direção às minas de Orleans e Criciúma, na região Sul do Estado. Em 1918, o Governo Federal criou no município o Patronato Agrícola. Este funcionava como uma Colônia Correcional que abrigava jo-

vens infratores do Rio de Janeiro. As turmas contavam com 200 jovens com idade de 11 a 18 anos. Com o Patronato, vieram os seus administradores, que também dirigiram o Núcleo, com uma equipe de feitores, diretor, professores, cozinheiros, médicos, farmacêutico, dentista, guardas, conselheiros e vigias. Havia um horário para aulas teóricas, práticas e trabalho na agricultura. Ao final dos estudos todos os jovens aprendiam um ofício, que eram completados no Patronato de Passa Quatro, em Minas Gerais. Após o Combate da Garganta, em 1930, e o fechamento da escola agrícola, o núcleo passa por grandes dificuldades. Não havia linha telefônica e o único meio de comunicação era a agência postal que fora instalada em 1910. Somente no início da década de 70 que Anitápolis teve uma nova fase de desenvolvimento. A estrada da garganta que antes era a única ligação litorânea entre o Sul e o restante do país é substituída por um novo traçado; A SC 407 agora passa pela comunidade de Rio Branco e vai até Rancho Queimado. Essa rodovia corta o município fazendo a ligação entre a BR 282 e os demais municípios Foto: Arquivo pessoal

Comemoração da Independência do Brasil no dia 7 de setembro de 1942 20 | Dez.2017 | N°01 | Minha Cidade


do Vale do Braço do Norte.

Construção da Estrada A estrada do Rio Branco, entre a localidade de Rio dos Pinheiros e Anitápolis, e a estrada de Florianópolis à Lages, na altura de Rancho Queimado, foi construída pelo então Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA), com a colaboração do Govemo do Estado de Santa Catarina e da Prefeitura Municipal de Anitápolis. Ela começou a ser feita em 25 de agosto de 1966 e terminou em dezembro de 1968. A estrada foi feita com a finalidade de substituir a antiga e promover um melhor acesso ao município de Anitápolis. Ela foi construída na gestão do delegado regional do INDA em Santa Catarina, Clodorico Moreira, tendo sido administrada e executada sob a orientação de João Della Barba administrador do Núcleo Colonial de Anitápolis.

Foto: Arquivo pessoal

Construção da Estrada do Rio Branco Foto: Arquivo pessoal

Nome da Cidade

O nome Anitápolis foi dado em homenagem a grande heroína Anita Garibaldi, que nasceu em Laguna, Santa Catarina. Ela lutou na Revolução Farroupilha, na Batalha dos Curitibanos e na Batalha de Gianicolo, na Itália. Anita foi homenageada em Santa Catarina com o nome de duas cidades: Anita Garibaldi e Anitápolis.

Municípios limítrofes: Alfredo Wagner, Bom Retiro, Urubici, Santa Rosa de Lima, São Bonifácio, Águas Mornas e Rancho Queimado. Área: 542,38 km² População: 3.251 habitantes (estatística IBGE 2017) Altitude: 430 m Construção da Estrada do Rio Branco Minha Cidade | N°01 | Dez.2017 | 21


Hino de Anitápolis No cenário de vales e montes, Com exemplo de luta e de fé, O imigrante apontou horizontes, Que mantém nosso povo de pé. Estribilho: Anitápolis terra querida Tua gente é o que tens de maior Teu passado de lutas vencidas Ilumina um futuro melhor. Plantações, pecuária e madeira, Vão cobrindo teu chão sempre mais, E já vai ampliando as fronteiras A riqueza dos teus minerais. Nas alturas dos montes que temos, Será sempre difícil chegar. Entretanto é de lá que podemos, Um futuro melhor contemplar. Letra e Música do Maestro: José Acácio Santana

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Expediente

Foto:Evandro Meireles

Minha Cidade

O interior em Revista Edição Nº 1 Dezembro de 2017 Editora: Eliza Della Barba Projeto gráfico-editorial: Eliza Della Barba e Ildo Francisco Golfetto Textos: Eliza Della Barba Imagens: Eliza Della Barba, João Carlos Della Barba, Homero Della Barba, Prefeitura de Anitápolis, Evandro Meireles, Nelio Bianco, Pousada Rei Arthur e Pousada Encantos da Serra. Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, desenvolvido pela acadêmica Eliza Della Barba como exercício de projeto gráfico-editorial para a disciplina de Laboratório de Produção Gráfica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no semestre 2017-2. Essa revista não será comercializada.

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DEZEMBRO 2017 · ANO 1 · Nº 1

Foto: Homero Della Barba


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