Literato

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LITERATO para quem tem paixão por livros

DEZ 2017 | EDIÇÃO 01

sua carta

chegou

Embarque nessa viagem e venha desvendar o universo de Harry Potter

booktube

Escritores catarinenses saem da Internet para as livrarias

entrevista

Paula Pimenta e Gustavo Ávila falam sobre seus lançamentos


expediente editores Fernando Perosa (feeperosa@gmail.com) Pâmela Schreiner (pamela_schreiner@hotmail.com) projeto gráfico/editorial Fernando Perosa Pâmela Schreiner textos Fernando Perosa Pâmela Schreiner reportagem “Do Booktube nascem livros” produzida para a disciplina Apuração, Redação e Edição III, orientação da professora Melina Ayres ilustração de capa Emma Rose ilustração de contra-capa Jim Kay seleção e tratamento de imagens Fernando Perosa Pâmela Schreiner assessoramento Ildo Francisco Golfetto formato 270 mm x 190 mm tipografias Didot Lt Std, Caecilia Lt Std, Fine Serif, AlternateGothic2, Avenir Next LT Pro, Swis721 BlkCn BT, Cardenio Modern, Kaufmann Bt Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, desenvolvido pelos acadêmicos Fernando Perosa e Pâmela Schreiner como exercício de projeto gráficoeditorial para a disciplina de Laboratório de Produção Gráfica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no semestre 2017-2. Não será distribuído, tampouco comercializado.

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editorial Uma publicação voltada para os apaixonadxs pelo universo da literatura. Essa é a Literato. Queremos levar cultura, entretenimento e informação para quem, assim, como nós, editores, também ama ler. A Literato busca proporcionar aos leitorxs a experiência de conhecer melhor seus autorxs favoritos, explorar novos gêneros e mundos, se aprofundarem em temas relacionados ao universo literário e também promover um espaço para a socialização de opiniões, críticas e indicações dos próprios assinantes. Nesta primeira edição, você encontra uma reportagem sobre escritores catarinenses que começaram na Internet, fazendo vídeos para o Youtube. Também vamos nos aventurar por Hogwarts, o mundo do bruxinho mais querido da literatura e conhecer a série The Handmaid’s Tale, que levou o Emmy 2017 na categoria dramática. Além disso, nossa equipe bateu um papo com dois autores que estão bombando com o público infantojuvenil: Paula Pimenta e Gustavo Ávila. E as nossas seções também estão recheadas com conteúdos diversificados e preparados especialmente para você leitora e leitor.

Fernando Perosa e Pâmela Schreiner, os editores

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mundo dos livros

sumário

foto: arquivo pessoal

foto: hulu

leia ouvindo foto: Internet

Conheça os novos escritores catarinenses que estão ganhando as livrarias de todo o país. Eles começaram na Internet, fazendo vídeos sobre livros no Youtube e hoje dominam as estantes. Na foto Pam Gonçalves, autora de “Boa noite”

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das páginas para as telas

A obra campeã do Emmy 2017 na categoria de série dramática foi inspirada em um livro bem antigo, de 1985. Saiba mais sobre “The Handamaid’s Tale” (O conto da aia, em português)

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Nesta edição você vai se aventurar pela playlist do livro “Quinze dias”, criada pelo próprio autor Vitor Martins. 15 músicas para você acompanhar

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descubra o mundo conheça o autor

foto: Warner

fique por dentro

foto: arquivo pessoal

foto: Blog Anota Aí

Vamos desvendar o universo dos bruxos mais famosos e queridos não só da literatura, como também do cinema. Você vai ficar por dentro de tudo que faz o mundo de “Hogwarts” ser um lugar tão especial para os leitores

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Aqui você encontra todas as novidades do mundo da literatura. Os próximos lançamentos, traduções, adaptações e muito mais

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leitores indicam foto: Blog Ratas de Sebo

Nesta edição, temos um “conheça o autor” em dose dupla: Paula Pimenta fala sobre “Minha vida fora de série - 4ª Temporada” e Gustavo Ávila abre o jogo sobre “O sorriso da Hiena”

A estudante de Jornalismo Luiza Morfim indica um de seus livros favoritos: “Malas, Memórias e Marshmallows”, da autora Fernanda França, que é brasileira

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mundo dos livros

Do Book Tube nascem livros Jovens autores catarinenses chegaram às estantes Câmera ligada, roteiro em mãos, pilha de livros do lado. Aperta o play.

– Oi gente, aqui é a Pam! – Olá beldades! – Oi pessoal! Eu sou o Pedro. E eu sou o Hugo!

Se você, assim como a gente, também vive ligado no mundo da leitura, provavelmente leu esses bordões imaginando a voz da Pam, da Bel, do Pedro e do Hugo, ou Pedrugo. Esses quatro jovens são booktubers (pausa para explicação: booktuber é uma pessoa que fala sobre livros em um canal no Youtube) que além de compartilharem da mesma profissão, são catarinenses, melhores amigos e desde 2016, deixaram de ser apenas leitores para também escrever suas próprias histórias. A Pamela Gonçalves, mais conhecida na web como Pam, foi uma das primeiras brasileiras a criar um blog para falar sobre livros, em 2009. O “Garota It” saiu da blogosfera e virou um canal no Youtube, em 2012. Hoje, a Pam tem mais de 210 mil inscritos e seus vídeos já ultrapassaram 10 milhões de visualizações. Sua melhor amiga (Isa)Bel Rodri-

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gues publicou o primeiro vídeo de seu canal em 2014 e atualmente, conta com mais de cinco milhões de views e 138 mil inscritos. As duas têm um quadro fixo em conjunto, o “PamDeBel”, onde mensalmente escolhem um livro e fazem uma discussão sobre ele. Elas moram no sul de Santa Catarina, assim como o Pedro Pereira e o Hugo Francioni, que também são booktubers. O canal “Pedrugo” foi lançado em

foto: Pam Gonçalves no Youtube

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Três contos, quatro youtubers. Liz é uma youtuber famosa, que precisa fazer um vídeo sobre o amor, mas ainda não conhece esse sentimento. Madu vai passar as férias em Búzios e nem imagina quem vai conhecer por lá. Júlio e Ramon são dois apaixonados por livros que se conhecem no Facebook, mas são separados pela distância física. Três histórias de amor inspiradas em clássicos romances da literatura brasileira e inglesa. Será que o amor em tempos de Internet ainda desperta aquele frio na barriga? Número de páginas: 272 páginas Valor: R$ 32,90 Editora: Galera Record

foto: Galera Recor

2014 e tem mais de 140 mil inscritos, com cerca de cinco milhões de visualizações. Os quatro foram convidados pelo selo Galera, do Grupo Editorial Record, para escrever juntos um livro de contos, publicado em 2016. “O Amor Nos Tempos de #Likes” traz três histórias inspiradas em romances clássicos. A Pam se baseou em “Orgulho e Preconceito”, da autora Jane Austen; a Bel em “Dom Casmurro”, do brasileiro Machado de Assis e Pedrugo em “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. “Dividir toda tensão, agonia, angústia e felicidade foi algo muito importante e nos uniu demais”, contou Bel. Essa foi a primeira publicação dos quatro booktubers. “Acho que foi um começo incrível, porque dividimos aa pressão e a responsabilidade”, completou Pam. Foi o sucesso na Internet que atraiu a atenção da editora. Comentários como “louco para conhecer essa história” e até “nem sei sobre o que é o seu livro, mas já tô querendo” podem ser encontrados com frequência nos vídeos em que os booktubers anunciaram a publicação do “#Likes”. “As editoras querem autores nacionais, mas dão preferência por aqueles que já tem alguma comunidade na Internet. Isso é bem claro”, afirmou Pam. Ter um público consolidado é interessante comercialmente para as editoras, segundo a Agência Página 7, que cuida da carreira da booktuber. De acordo com Taissa Reis, editora e agente literária, esse é mais um argumento de negociação com as editoras, mas não é um fator determinante.

O “#Likes” foi um projeto idealizado pelo selo Galera, que entrou em contato com a Página 7 para que convidasse booktubers a adaptarem romances clássicos. Essa é uma das estratégias utilizadas pela agência para selecionar novos talentos, além do recebimento de manuscritos originais e projetos elaborados pela própria empresa. As editoras também acompanham eventos nacionais, blogs, resenhas de booktubers e pedidos de leitores. “Recebemos muitas dicas de autores por meio das redes sociais e sempre fazemos uma pesquisa para saber mais sobre cada indicação”, disse Thiago Mlaker, editor do selo Verus, do Grupo Editorial Record. Outra Tati maneira de descobrir novos Bel Pam Pedrugo escritores é através de e-books A galera de Santa Catarina faz sucesso no booktube! Prova disso é publicados na Amazon e na que o canal da Pam é o segundo maior do Brasil, ficando atrás apeWattpad, plataformas onde nas de Tati Feltrin, do TLT, que tem cerca de 258 mil inscritos. Grande amadores/independentes poparte dos booktubers ainda não chegou aos 100 mil inscritos, marca dem disponibilizar suas histójá ultrapassada pela Bel e pelo Pedrugo. rias online.

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É o último verão de Analu perto de casa. A dificuldade de se entender com seus pais, que divergem da escolha de curso da filha, e as comparações com o irmão gêmeo, o “favorito”, a deixam cansada de tanta hipocrisia e da cobrança de todos e só quer aproveitar suas férias com os amigos. Porém, lembranças ruins a assombram. Murilo, sua grande paixão e primeira decepção amorosa, está de volta com o sorriso cafajeste e novas promessas. De um lado, o futuro na incrível cidade de São Paulo; do outro, os amigos, a família e um amor traiçoeiro que ao mesmo tempo machuca e envolve. Número de páginas: 304 Valor: R$ 34,90 Editora: Galera Record

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foto: Gaera Recor

Quando perguntados sobre a maior dificuldade que tiveram para escrever os seus primeiros livros, a cobrança, o tempo e a falta de confiança foram alguns dos motivos destacados. “É bem complicado se livrar da síndrome do “tudo que eu faço tá ruim”, principalmente porque eu sabia que as pessoas que me acompanhavam estavam esperando algo legal”, disse Bel. Para Pam, o impasse para começar a escrever foi aceitar que ela era capaz de fazer isso. “Eu tinha muito medo da recepção dos inscritos. Como eu sempre falo do livro dos outros, a responsabilidade seria muito maior”, desabafou. Já Gustavo, autor de “O sorriso da hiena”, conciliava a escrita com o trabalho em uma agência de publicidade e só conseguia se dedicar ao livro nos finais de semana e de madrugada. Ele chegou até a tirar férias e se isolou em um sítio por 20 dias, sem Internet, para terminar a história. Depois de terminar o livro, Gustavo precisou enviar o manuscrito para várias editoras, porém só recebeu respostas negativas quanto à publicação. Em 2015, ele decidiu publicar a obra de forma independente e foi muito bem recebido pelos leitores. Para as meninas esse processo foi mais fácil: a Galera tinha o projeto e as convidou para escrever. Toda a divulgação de “O sorriso da hiena” foi feita por meio da Internet. O livro foi enviado para canais literários, responsáveis por popularizar a obra entre os leitores. “Acho que o melhor canal de comunicação com os leitores são eles, sem dúvida nenhuma”, destacou Gustavo. Em 2017, o escritor lançou o livro com a Verus e segundo ele, a tiragem inicial foi de 5000 exemplares. “É importante que o autor crie uma base de fãs e tente chegar até seu público, seja por publicação independente, escrevendo em blogs, e-books, enfim”, disse o editor Thiago. Você pode conferir as sinopses dos livros da Pam no box ao lado.

Alina sempre foi uma boa aluna, boa filha, boa menina, até mesmo considerada nerd. Na graduação, resolveu cursar Engenharia da Computação e para isso, sai da casa dos pais. Deixando a antiga Alina para trás, sua vida muda drasticamente. Além de festas, bebida e azaração, uma página de fofocas é criada na internet, e mensagens sobre abusos e drogas começam a pipocar. Alina não tinha como prever que seria tragada para o meio de tudo aquilo,nem que teria a chance de fazer alguma diferença. Número de páginas: 240 páginas Valor: a partir de R$ 32,90 Editora: Galera Record

foto: Gaera Recor

Desafio em dose dupla: escrita e publicação


Santa Catarina como plano de fundo “Próximo destino: amor”, “Boa noite” e “Uma história de verão” são tramas publicadas pela Pam, que propositalmente se passam em Santa Catarina. “Eu coloquei o estado como cenário de todas as minhas narrativas e fico puxando sardinha para cá o tempo todo”, salientou a escritora. Sua primeira publicação, o “#Likes”, tem como cenário a capital catarinense, assim como “Uma história de verão”. Já “Boa noite” conta a história de Alina, que acabou de entrar em uma universidade inspirada no campus da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) localizado em Palhoça. “Eu usei minhas experiências na faculdade, mas precisava que a protagonista mudasse para uma cidade universitária. Então usei as características de Pedra Branca, mas eu estive lá só uma vez [risos]”, lembrou.

Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2017, a Pam e mais três autoras nacionais (Carol Christo, Melina Souza e Babi Dewet) lançaram “Uma viagem inesperada”, uma coletânea de quatro contos inspirada nas personagens femininas dos quadrinhos da “Turma da Mônica”. O convite para participar do projeto partiu da Editora Nemo, do Grupo Autêntica. “A pressão foi enorme! Caramba, é o Mauricio de Sousa! Eu sinceramente não acreditei. Não acredito até hoje, pra falar a verdade”, vibrou Pam. E novamente a escritora “puxou sardinha” para o estado e levou Denise para um acampamento na Serra Catarinense. As outras personagens também conheceram novos destinos: Mônica foi para a Coreia do Sul, Magali para Paraty, no Rio de Janeiro e Marina para Londres, na Inglaterra.

foto: Pam Gonçalves no Youtube

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foto: Bel Rodrigues no Youtube

Recepção e reação dos leitores na Internet Foi na Internet que os leitores manifestaram sua opinião sobre os livros. O “#Likes” tem mais de 4,5 mil leitores no Skoob e possui 4,1 estrelas (de cinco), com base em 927 avaliações. Nesta plataforma, quem leu a publicação pode postar resenhas, comentários e críticas. “Essa foi a parte [as críticas] que mais me deixava nervosa! Mas foi tranquilo. Tudo depende de como você lida com as opiniões, é importante saber separar e ouvir as críticas construtivas”, relatou Bel. Gustavo também acompanhava a rede social. “Eu lia as críticas, no começo, a maioria era positiva, então isso motivou, deu um ânimo inicial, começar levando paulada seria complicado”, completou. “O sorriso da hiena” conta com mais de 8,4 mil leitores e está avaliado em 4,3 estrelas, baseado em 1557 críticas. Com “Boa noite” não foi diferente; são mais de 6,1 mil leitores e 4,3 estrelas, de 1412 avaliações.

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“Os leitores realmente se empenharam. Acompanho as marcações no Instagram, links de resenha, Skoob, Goodreads e os e-mails que me mandam”, disse Pam. O momento mais esperado pelos inscritos nos canais/leitores é o lançamento, onde podem conversar com os autores, comentar o que acharam dos livros e até tirar satisfação com um escritor por ter matado o seu personagem favorito ou separado o casal que todo mundo adorava. “Foi a oportunidade de ver cada um “resenhando” o livro pessoalmente ou falando de alguma experiência pessoal”, disse Pam. No lançamento do “O sorriso da hiena” em São Paulo, Gustavo ouviu o relato de um pai que estava desde às 10h esperando com a filha para conhecê-lo. Detalhe: a sessão de autógrafos só começava às 16h. “Acho que você ter algum significado para essas pessoas que esperam 2h literato | dezembro de 2017 | edição 1


David sofreu um grande trauma na infância, quando seus pais foram brutalmente assassinados e ele foi obrigado a assistir. Já adulto, ele quer descobrir se é uma pessoa má pela experiência traumática repetindo com outras famílias o que aconteceu com a dele. William, um respeitável psicólogo infantil, é convidado por David a acompanhar as novas vítimas e a influência desse episódio na vida delas. Mas é possível justificar o mal quando há a intenção de fazer o bem? Número de páginas: 266 páginas Valor: R$ 34,90 Editora: Verus

completou Pam. Embora existam críticas nesse sentido, as autoras preferem focar no lado positivo: o crescimento da porcentagem de jovens leitores no país.

As novidades da galera para o próximo ano A Globo comprou os direitos de adaptação de “O sorriso da hiena” no começo de 2016. A emissora tem dois anos para decidir se vai ou não produzir algum material audiovisual. Já na literatura, Gustavo planeja terminar seu próximo romance ainda neste ano e adiantou que será mais um thriller, com a volta do detetive Artur. A Pam e a Bel também têm lançamentos programados para 2018: a Bel ainda não revelou nada sobre o livro, mas a previsão é para o primeiro semestre. Sua melhor amiga acabou de publicar “Uma história de verão” e a coletânea “Turma da Mônica Jovem: Uma Viagem Inesperada”. Ela já está trabalhando em um novo projeto da Galera, que vai transformar heróis clássicos em heroínas dos tempos atuais. edição 1 | dezembro de 2017 | literato

foto: Pedrugo no Youtube

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foto: Verus

na fila para falar com você por três minutos é incrível”, contou emocionado. Ainda sensibilizado, Gustavo mencionou outra história marcante. No seu livro, o detetive Artur Veiga possui Síndrome de Asperger, um transtorno no desenvolvimento que se manifesta por alterações na interação social, na comunicação e no comportamento. O autor recebeu mensagens de três mães com filhos que têm a síndrome, elogiando a publicação. “A mãe gostou de ver uma história em que alguém com Asperger pode fazer qualquer coisa. Ela viu que a filha poderia ser o que ela quisesse. Receber esse feedback é inacreditável”, concluiu. Mas nem só de críticas positivas vive um escritor. A Pam e a Bel lançaram o seu primeiro livro na mesma época em que vários youtubers figuravam na lista de mais vendidos de plataformas como Veja e Publish News. Grande parte destas publicações são autobiografias, não consideradas como literatura por muitos críticos. “Muita gente caiu de paraquedas no vídeo que anuncio o livro e vieram cheios de comentários odiosos”, contou Bel. “Eu precisei ficar martelando que o livro não era uma biografia, mas sim ficção e tinha uma pegada diferente”,


das páginas para as telas

THE HANDMAID’S TALE foto: Hulu

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Num futuro não tão distante (isso assusta, você já vai entender), uma república extremista é instaurada nos Estados Unidos da América. A liberdade deixa de existir. Homossexuais são julgados e condenados. O país retrocede. Cidadãos criminosos são fuzilados e seus corpos são exibidos em praça pública. Acabam com as universidades. Jornais, livros, revistas, filmes, tudo isso acabou. E o pior de tudo: as mulheres são tratadas como objetos e perdem TODOS os seus direitos. A democracia terminou. Deu para imaginar? É nesse cenário que se passa “The Handmaid’s Tale”. A “República de Gilead” é um estado teocrático e totalitário, localizada no antigo território dos EUA. As mulheres foram divididas legalmente em categorias: as esposas, que são casadas com os Comandantes deste Estado e possuem várias regalias (menos os seus direitos civis); as aias, que são as mulheres mais jovens e tem como única função a procriação (já que são as últimas férteis que restaram) e as martas, que são trabalhadoras domésticas e geralmente mais velhas. A história é focada e narrada por Offred, que tem 33 anos. Antes da república, ela era casada e tinha uma filha, que foi tomada pelo novo governo. Agora ela pertence ao Comandante Fred (por isso o nome Offred - “do Fred”, em português). Ela foi obrigada a se tornar uma aia, é estuprada sempre que está em período fértil e nunca mais recebeu notícias de sua família. Basicamente a sinopse é essa. Mas o universo é muito mais complexo, assim como os edição 1 | dezembro de 2017 | literato

série A série foi criada por Bruce Miller e a primeira temporada foi exibida em 2017, pela plataforma de streaming Hulu. Foram 10 episódios de aproximadamente 52 minutos e a segunda temporada já está em produção. A adaptação é protagonizada por Elisabeth Moss (Mad Men), no papel de Offred e o elenco ainda é composto por nomes conhecidos do público, como Alexis Bledel (Gilmore Girls), Joseph Finnes (American Horror Story) e Yvonne Strahovski (Chuck). A série ganhou seis prêmios Emmy, incluindo o de melhor série dramática e melhor atriz em série dramática (Moss).

foto: Hulu

A produção que ganhou o prêmio “Emmy” de melhor série dramática. Só isso. Uma das estatuetas mais cobiçadas da televisão. Esse foi o grande feito de “The Handamaid’s Tale” (“O conto da aia”, em português) em sua temporada de estreia. Poucas obras conseguem isso. Mas a série não possui um roteiro original; ela foi baseada no livro de mesmo nome da autora canadense Margaret Atwood, publicado em 1985. Mais de 30 anos depois, a adaptação televisiva conquistou o público e a crítica.

temas que a autora Margaret Atwood aborda (lembrando que o livro foi publicado em 1985). Subjugação da mulher, regimes políticos extremistas, preconceito e religião são alguns pontos recorrentes na história. Já deixo o aviso aqui: a série tem cenas BEM fortes, inclusive de estupro. Essa é uma produção que, principalmente se você for mulher, vai te deixar com raiva, não espere algo positivo. E o pior de tudo é que essa história não parece tão surreal assim.

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foto: Rocco

livro “O conto da aia” foi lançado em 1985 pela escritora canadense Margaret Atwood. A obra ganhou o prêmio “Governador Geral” no ano em que foi lançada e o primeiro “Arthur C. Clarke” em 1987. Já foi adaptada para o cinema, em 1990 e em 2017 ganhou uma série de TV de mesmo nome. A edicação brasileira foi relançada pela Rocco em 2017, em parte pelo sucesso da série. O livro e a série não possuem grandes diferenças, apenas alguns detalhes. Na adaptação podemos conhecer o ponto de vista e bagagem histórica de outros personagens, inclusive o que aconteceu com Moira e Luke, dois personagens muito importantes para a protagonista, enquanto a obra original é narrada somente por Offred.

segunda temporada As gravações para a próxima temporada da série já estão em andamento. Já sabemos algumas coisas sobre o segundo ano da série; serão 13 capítulos, três a mais que no primeiro ano, a Elisabeth Moss revelou em uma entrevista que a trama será ainda mais sombria, o produtor execxecutivo Bruce Miller adiantou que as martas terão um destaque maior e que vamos ficar sabendo mais sobre a história da tia Lydia e Alexis Bledel vai voltar na próxima temporada. Mas algumas perguntas ficaram sem respostas... Offred é levada pelos guardas no final do último episódio. O que aconteceu com ela? Luke e Moira conseguiram fugir para o Canadá, mas como eles estão por lá e o que vão fazer para tentar salvar June (nome real da Offred, na série)? Como Serena (esposa do Comandante Fred) conhece a filha de June? O que aconteceu com Ofglen? É, são muitas questões, mas “The Handmaid’s Tale” tem 13 episódios para respondê-las. Que a segunda temporada seja fantástica como a primeira. Under his eye.

foto: Hulu

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Quinze dias No Leia Ouvindo dessa edição, trazemos uma playlist de “Quinze Dias”, livro de temática LGBT do youtuber e ilustrador Vitor Martins, lançado em 2017, pela Globo Alt, selo da editora Globo. Vitor é booktuber, agenciado pela Agência Página 7 e é também o responsável pela capa do livro. Felipe, 17 anos, não vê a hora das férias de julho chegarem. A convivência com os colegas na escola é complicada, ainda mais quando se é o alvo de todas as piadas. Felipe é gordo e deixa isso claro logo nas primeiras páginas: “eu sou gordo. Eu não sou “gordinho” ou “cheinho” ou “fofinho”. Eu sou pesado, ocupo espaço e as pessoas me olham torto na rua”. As tão aguardadas férias seriam o refúgio de todo esse sofrimento, mas ele não contava com sua mãe para acabar com seus planos de passar todo esse período assistindo séries na Netflix

e vendo vídeos inúteis na Internet. O casal do apartamento 57 vai viajar e não quer deixar o filho Caio, 17 anos, sozinho em casa, então pedem à Rita, a mãe de Felipe, que o acolha em sua casa.Caio e Felipe eram melhores amigos na infância, adoravam nadar juntos na piscina e brincar de sereia. Conforme foi crescendo, Felipe foi ficando com vergonha de seu corpo e se afastou de Caio, embora seu amor por ele, como amigo, tenha se transformado em um crush. Vitor contou em seu canal que montou uma playlist no Spotify para ouvir enquanto escrevia o livro, com quinze músicas que remetem à história e o ajudavam a entrar no clima durante o processo de escrita. Pegue seu celular, leia o QR code ao lado e entre de cabeça no mundo de Quinze Dias ouvindo a playlist do próprio autor!

Playlist

foto: GloboAlt

01. WILD - Troye Sivan 02. What's It Gonna Be? 03. Shine - Years & Years 04. Reflections - MisterWives 05. Obi Wan - Wolfie 06. Kiss U - Ayelle 07. Genghis Khan - Miike Snow 08. Forever - HAIM 09. Second Chance - Peter Bjorn and John 10. Houdini - Foster The People 11. Weight of Living, Pt. II - Bastille 12. Work This Body - WALK THE MOON 13. Take That - CRUISR 14.Royalty - Conor Maynard 15. Talk Too Much - COIN foto: Freepik

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leia ouvindo

A playlist de Vitor Martins para


descubra o mundo

ilustração: Kazu Kibuishi

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Se você nasceu depois dos anos 2000, é muito provável que você já tenha ouvido falar da saga Harry Potter, uma série de livros escrita pela autora britânica J. K. Rowling, e que, posteriormente, foi levada para as telonas em oito filmes produzidos pela Warner Bros. edição 1 | dezembro de 2017 | literato

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No dia 26 de junho deste ano, o primeiro livro da série, Harry Potter e a Pedra Filosofal, completou vinte anos desde o seu primeiro lançamento, no Reino Unido em 1997. Quem vê o sucesso da autora hoje pode não imaginar que, poucos anos antes da publicação, ela estava passando por uma fase difícil. Após o nascimento da ideia para Harry Potter, ela se casou, teve uma filha, se separou, perdeu a mãe e enfrentou graves problemas financeiros e uma depressão. “Eu tinha fracassado imensamente. Tinha saído da faculdade há sete anos e meu casamento tinha acabado, fazendo com que eu me tornasse uma mãe solteira e desempregada. Eu era tão pobre quanto é possível ser no Reino Unido sem ser morador de rua”, declarou em entrevistas. J. K. conta que tudo começou num trem no trajeto entre Londres e Manchester, em 1990, quando teve pela primeira vez a ideia para a história. “Do nada, a ideia de Harry simplesmente apareceu na minha mente. Não sei dizer o porquê ou o que causou isso. Mas vi a ideia de Harry e a escola de bruxaria[Hogwarts] muito claramente. De repente, tive a ideia básica de um garoto que não sabia quem era, que não sabia que era bruxo até que recebia um convite para uma escola bruxa. Nunca ficara tão animada

com uma ideia”, contou J. K. No trem, ela não tinha nenhum material para escrever, então repassou a história em sua cabeça várias e várias vezes até ter meios físicos para escrever. No entanto, foi só no final de 1995 que J.K. terminou o primeiro manuscrito da história. Porém, antes de se tornar o maior fenômeno mundial da literatura infantojuvenil, o livro de J. K. Rowling foi recusado por mais de dez editoras. A Bloomsbury foi quem aceitou publicar o livro, porém sugeriu que a escritora usasse as iniciais ao invés do primeiro nome, por achar que leitores do sexo masculino pudessem ter preconceito em relação a um livro escrito por uma mulher. Como só tem um nome próprio, Joanne, ela resolveu acrescentar a letra “K”, tirada do nome de sua avó favorita, Kathleen. Nasceu, assim, J. K. Rowling. A tiragem inicial foi de apenas 1000 cópias, das quais 500 foram doadas à bibliotecas, mas posteriormente foram necessárias várias reimpressões, pois, de acordo com dados de 2009, o primeiro livro da saga é o 5º livro de ficção mais vendido de todos os tempos, com aproximadamente 107 milhões de cópias. Todos os livros da série juntos já venderam aproximadamente 450 milhões de cópias mundialmente.

foto: Warner

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O impacto provocado pela saga é notável e foi alvo de diversas pesquisas. O relatório da Kids and Family Reading Report e da editora estadunidense da saga, Scholastic, aponta que 51% dos leitores de Harry Potter, entre 5 e 17 anos, não liam livros por lazer antes de conhecerem a história. Houve então um aumento no hábito de leitura das crianças. Os livros se tornaram importante ferramenta no estímulo à leitura, sendo usados em escolas e, inclusive, no ambiente familiar. Preconceito, censura, corrupção, maldade, valores humanos como a amizade e o amor são alguns exemplos de temáticas que podem ser abordadas com as crianças a partir da série. De acordo com pais e com os próprios filhos, o desempenho na escola melhorou após a leitura da série. No mercado editorial, a série trouxe mudanças em relação ao tratamento das editoras com livros infantis e infantojuvenis, anteriormente deixados em segundo plano. O número de páginas das publicações também aumentou, devido à boa aceitação que Harry Potter e a Pedra Filosofal teve, com mais de duzentas páginas, número que era considerado grande para um livro desta faixa etária. Na história, o jovem Harry Tiago Potter é um órfão que vive com seus tios e primo, Valter, Petúnia e Duda, respectivamente, na Rua dos Alfeneiros, número 4. Ele dorme no armário embaixo das escadas e é maltratado por todos da família. Mas tudo muda em seu aniversário de 11 anos, quando o jovem Harry descobre que é um bruxo. É através de Rúbeo Hagrid que Harry começa a conhecer de fato quem é, quem foram seus pais e todo o mundo mágico que foi escondido dele ao longo de toda a sua vida. Nessa reportagem, nós vamos te levar para o mundo mágico de J. K. Rowling e de Harry Potter. Embora muitos só saibam das três escolas de magia citadas nos livros (Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, na Escócia, Instituto Durmtrang na Suécia ou Noruega e Academia de Magia Beauxbatons no Sul da França), a autora revelou depois do lançamentos dos sete livros, em 2016, que existem outras escolas de magia espalhadas pelo mundo. No total, edição 1 | dezembro de 2017 | literato

foto: Pinterest

Brasão de Hogwarts contém elementos das quatro casas da escola

são 11, porém, nessa ocasião ela revelou mais 4: Mahoutokoro, a menor de todas, localizada na ilha vulcânica de Minami Iwo Jima, no Japão, Uagadou, na África, a maior do mundo, Ilvermorny, na costa leste dos Estados Unidos e Castelobruxo, a escola brasileira, que, de acordo com o texto da autora, está escondida nas profundezas da floresta tropical. Apesar de termos várias escolas de magia, a que mais conhecemos é Hogwarts, que é mostrada em detalhes nos sete livros e é a escola do personagem principal, Harry Potter. Hogwarts foi fundada por volta de 993 d. C., por duas grandes bruxas Helga Hufflepuff (Lufa-Lufa) e Rowena Ravenclaw (Corvinal) e por dois grandes bruxos, Godric Gryffindor (Grifinória, em português), Salazar Slytherin (Sonserina). A diretora, Professora Minerva McGonagall, se reporta ao Ministério da Magia britânico, que administra a escola. Os alunos são divididos em quatro casas, que levam os sobrenomes de seus fundadores: Corvinal, Grifinória, Lufa-Lufa e Sonserina. A divisão acontece depois de uma seleção, que é feita pelo Chapéu Seletor, um artefato mágico enfeitiçado com as características do bruxo fundador da casa. Durante o banquete de abertura, que acontece no começo de cada ano escolar (em Setembro), os estudantes do primeiro ano são chamados em ordem alfabética e o Chapéu é colocado sob suas cabeças. Então, quando um aluno é selecionado para aquela casa, é porque o chapéu identificou nele características que o ligam àquela casa.

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foto: Pottermore

foto: Clipartix

Grifinória é a casa que abriga os bruxos corajosos, bravos, ousados e companheiros. As cores oficiais são vermelho e dourado, o animal símbolo é o e corresponde ao elemento Fogo; Lufa-Lufa é a casa que valoriza a lealdade, a paciência e o trabalho duro. Os Lufanos são os alunos conhecidos pela sua gentileza e amizade. As cores oficiais são amarelo e preto, o animal símbolo é o texugo e corresponde ao elemento Terra; Sonserina é a casa que seleciona os bruxos ambiciosos, espertos e engenhosos. As cores oficiais são amarelo e preto, o animal símbolo é o texugo e corresponde ao elemento Água; Os alunos chegam na escola através do Expresso de Hogwarts, uma locomotiva com feitiços de invibilidade que transporta os alunos da Estação de King’s Cross, na Plataforma 9 3/4 (nove três quartos), em Londres, até a estação de Hogsmeade, que fica nas proximidades. Ser buxo envolve proteger o segredo da existência da magia, então, para acessar a plataforma em

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questão é necessário que o bruxo atravesse a parede entre as plataormas 9 e 10, chegando enfim ao Expresso. O trajeto até Hogwarts é feito de duas maneiras: os alunos do primeiro ano atravessam o lago de barco, enquanto que o restante vai em carruagens. No começo, os bruxos puro-sangues, que têm toda a linhagem da família bruxa, não quiseram aceitar o uso de um artefato trouxa (não bruxo), o trem, no transporte de seus filhos; no entanto, isso acabou quando o Ministério da Magia determinou que os alunos só podem chegar na escola através do Expresso. O terreno em que Hogwarts está localizada é muito grande e é protegido por Hagrid, professor e Guardião das Chaves e das Terras de Hogwarts, que cuida das chaves, dos jardins e dos terrenos da escola, da decoração em ocasiões festivas e ainda executa tarefas especiais para o diretor e professores da escola. O castelo abriga as salas de aula, salas de professores, cozinha, dormitórios, salões comunais das casas, entre outros. Além do castelo, há ainda o campo de quadribol e o lago negro. O campo, que possui 150 metros de comprimento por 55 de largura, é usado para treinos e jogos de quadribol entre as casas da escola. As equipes em Hogwarts são mistas e o jogo precisa de sete jogadores, divididos em três artilheiros, dois batedores, um goleiro e um apanhador. Os batedores se ocupam dos balaços, o goleiro faz a defesa, os artilheiros tentam fazer gols e o apanhador é o responsável por apanhar o pomo de ouro. No quadribol são usadas três tipos de bolas: dois balaços, uma goles e um pomo de ouro.

PLATAFORMA 9 ¾

Corvinal é a casa que valoriza o conhecimento, criatividade, a inteligência e a sabedoria. São os Corvinais que tiram as melhores notas, e são muito estudiosos. O azul e o bronze são as cores oficiais, o animal símbolo da casa é a águia e corresponde ao elemento Ar;

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foto: Warner

O balaço é uma bola feita de ferro, com vinte e cinco centímetros, enfeitiçada para perseguir indiscriminadamente os jogadores. É tarefa dos batedores manter os balaços o mais longe possível de sua equipe e tentar direcioná-los para a equipe adversária. A goles é a bola usada para marcar o gol num dos três arcos; cada gol vale 10 pontos. Por fim, o pomo de ouro, uma bola com asas e muito veloz, é que geralmente decide o placar do jogo, que só termina quando a bola é apanhada e dá 150 pontos para a equipe que conseguiu capturá-la. Existem diversas equipes de quadribol ao redor do mundo, inclusive equipes que representam seus países, o que possibilitou a criação da Copa Mundial de Quadribol, em 1473. Falando agora de outra parte da escola, chegamos ao lago negro, localizado ao sul do castelo. Nele são encontrados uma lula gigante, uma colônia de sereianos, seres parecidos com sereias mas com aparência de répteis e cabelos humanos, e também os grindylows, classificados como demônios aquáticos, com chifres e pele verde-clara, que se alimentam de peixes. É através desse lago que os alunos do primeiro ano chegam e é por ele que os alunos que se formam, no sétimo ano, deixam a escola. Ainda, nesse mesmo lago foi realizada uma das tarefas do último Torneio Tribruxo, que aconteceu entre 1994 e 1995. O Torneio Tribruxo é uma espécie de campeonato que reúne alunos das três escolas de magia da Europa: Hogwarts, Durmstrang e Beauxbatons. O cálice de fogo (que dá nome ao quarto livro da saga) escolhe um campeão de cada escola para participar das três tarefas que definirão quem é o novo Campeão Tribruxo. A edição de 1994-1995 foi recheada de problemas causados por magia das trevas que não edição 1 | dezembro de 2017 | literato

serão abordados aqui para não estragarmos a surpresa de quem ainda não leu os livros ou assistiu os filmes. Porém, podemos adiantar que os campeões das escolas foram: Viktor Krum pela Durmstrang, Fleur Delacour pela Beauxbatons, e Cedrigo Diggory e Harry Potter por Hogwarts, devido à interferência externa no cálice de fogo. PS: aproveite aqui a deixa pra ir logo conhecer essa saga, que está crescendo, com o lançamento de mais 5 filmes protagonizados por Newt Scamander, a franquia Animais Fantásticos e Onde Habitam. O primeiro filme dos cincos filmes foi lançado em novembro de 2016, pela Warner Bros, arrecadando mais de 812,5 milhões de dólares de bilheteria. O enredo do filme se passa em 1926, em Nova Iorque, aproximadamente 70 anos antes dos acontecimentos dos sete livros que envolvem o bruxo Harry Potter. Newt é um famoso magizoologia britânico e ao entrar em território norte-americano, ele deixa alguns animais e criaturas mágicas fugirem de sua maleta, causando problemas com o Congresso Mágico dos Estados Unidos (MACUSA). A continuação de Animais Fantásticos e Onde Habitam teve seu título revelado no dia 16 de novembro. No final do primeiro filme, o bruxo das trevas Gerardo Grindelwald foi capturado pelo MACUSA, porém, escapou e começou a reunir seguidores, que em sua maioria não sabem o real objetivo dele: exaltar os bruxos de sangue-puro e dominar todos os humanos não mágicos. É a primeira aparição do já conhecido professor Dumbledore, que procura seu ex aluno Newt Smanader para tentar deter os planos de Grindelwald. Bom, se você ainda não conhece esse universo, corre que dá tempo :a continuação será lançada no segundo semestre de 2018.

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fique por dentro fique por dentro ilustração: Intrínseca

Com sucesso de filme, livro Extraordinário é relançado pela Intrínseca

Lançado no Brasil em 2013, o livro Extraordinário, da estadunidense R. J. Palacio, recebe nova edição nesse mês de dezembro, em comemoração ao lançamento do adaptação da história para as telonas. Extraordinário narra a história de um menino com aparência incomum. August Pullman, o Auggie, nasceu com uma deformidade facial grave e somente agora, as 10 anos, vai frequentar a escola pela primeira vez, pois antes tinha aulas particulares em sua residência. Nessa idade, ingressar na escola é um passo grande para todas as crianças, mas para Auggie é ainda maior devido à sua aparência, que faz com que ele deseje até mesmo ser invisível para não ser

notado e receber os olhares de curiosos. Na escola, a recepção dos colegas de classe e de corredor é mista, mas todas o afetam de alguma forma, sendo boa ou ruim. Adaptado para as telonas e estrelado pelo por Julia Roberts, a mãe, e pelo jovem ator Jacob Tremblay, o livro foi relançado pela Intrínseca numa edição comemorativa, com um novo posfácio da autora, depoimentos sobre o impacto da mensagem da história na vida das pessoas envolvidas na produção e fotos dos bastidores das gravações. Além disso, o relançamento traz cenas exclusivas da adaptação cinematográfica. O filme estará em cartaz em cinemas em todo o Brasil a partir do dia 07 de dezembro.

O novo livro do John Green O autor John Green, conhecido muldialmente pelo sucesso de “A culpa é das estrelas”, lançou recentemente um novo livro, chamado “Tartaguras até lá em baixo”. A obra foi publicada no Brasil pela editora Intrínseca e o preço de capa é R$ 34,90. O livro vai mostrar a jornada de Aza Holmes, uma adolescente de 16 anos que vai ao resgate de um milionário que desapareceu, já que a recompensa para quem encontrá-lo é gigante. Enquanto isso, a garota precisa lidar com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Esse é o livro mais pessoal do John Green até então; você vai encontrar referências à vida do autor ao longo de toda a leitura. foto: Intrínseca

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foto: divulgação

Ela gosta de finais felizes e escreve livros cor-de-rosa. Seu sobrenome remete a uma comida bem picante, mas ela é uma pessoa extremamente doce. A mineira Paula Pimenta já estudou Jornalismo, Publicidade, Música e até Teatro. Mas a sua paixão mesmo é contar histórias. Em 2001, ela mostrou que realmente nasceu para isso, publicando o livro “Confissões”, com vários poemas. Sete anos depois, nós conhecemos a Fani, no livro “Fazendo meu filme” (FMF), que logo virou uma série. Foi com essa obra que a Paula consagrou seu nome no mercado editorial. E ela não parou mais. Vieram mais três volumes

do “Fazendo meu filme”, que ganhou uma série derivada, chamada “Minha vida fora de série”, com quatro livros (até o momento - a Paula já revelou que a saga não termina por aí!), duas coletâneas de crônicas, o “Apaixonada por palavras” e o “Apaixonada por histórias”, versões em quadrinhos da sua primeira série, o FMF e três livros que trazem clássicas princesas da Disney para os tempos modernos. Ela também fez participações em obras com outros autores. Muita coisa mesmo! A autora esteve em Florianópolis para o lançamento do “Minha vida fora de série - 4ª temporada” e eu fui bater um papo com ela.

Após um traumático término de namoro, Rodrigo e Priscila seguem seus caminhos separadamente. Enquanto ela parte rumo à Nova York para tentar uma nova vida, Rodrigo quer esquecer tudo que passou e viaja para o Canadá, onde encontra os irmãos. Mas algumas lembranças são difíceis de apagar, e deixá-las para trás é muito mais complicado do que ele poderia imaginar. Será que novos amores teriam o poder de curar seu coração? Ou ele precisa confrontar de vez o passado para finalmente se libertar? Descubra nesta nova e emocionante temporada d e Minha vida fora de série. foto: divulgação

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conheça o autor

paula pimenta em uma entrevista fora de série


Saindo de Florianópolis, a gente vai um pouco mais longe, para o Canadá. Você fez um intercâmbio com leitoras né? Como foi essa experiência? Nossa, foi muito legal! Foi exatamente para fazer pesquisa para esse livro e eu tive muitas ideias, muita inspiração. E é legal que essas leitoras acompanharam o processo criativo, elas viram como aconteceu, iam nos lugares, me viram fazendo anotações, foi bem interessante. Então a gente vai poder fazer um pouco de turismo nesse livro novo? Com certeza! Quem ler viajar também para Toronto, para Vancouver e para Nova Iorque. E agora eu tenho uma pergunta que, provavelmente, é a que a maioria dos leitores faria para você. Nós já tivemos uma trilogia inspirada em filmes, outra em séries. E a próxima, vai ser sobre música, sobre o que? Então, tem uma personagem do “Fazendo meu filme” 4 que é a Cecília, uma menina apaixonada por livros e a Cecília vai ganhar um livro só para ela. Eu já comecei a escrever esse livro, mas eu ainda não sei quando ele vai ser lançado. Eu acho que o “Minha vida fora de série” 5 vai ser lançado antes. Vai ter um pouco de metalinguagem nessa próxima trilogia que você publicar? Sim, vai ser mais ou menos como eu fiz com a Priscila no “Fazendo meu filme”. Eu tirei ela do “Fazendo meu filme” e fiz um livro para ela. Agora isso vai acontecer com a Cecília também.

E Paula, você tem um personagem favorito dos seus livros? Nossa, isso é muito difícil! Eu amo todos! Mas a Fani, por ter sido a minha primeira protagonista, acho que ela é mais queridinha. O “Fazendo meu filme” 4, que foi a finalização é meu livro favorito. Foi a minha primeira série né e eu acho que eu dei para a Fani o melhor final feliz que eu poderia dar. Então é um livro que me marcou muito e que me deixou muito satisfeita com a série inteira. Você também é uma leitora assídua né? Quais são seus livros favoritos de outros autores, que você indicaria? Bom, eu vou indicar um livro que me marcou muito, que foi “O Diário da Princesa”, da Meg Cabot, que foi lendo “O Diário da Princesa” que eu vi que os meus diários também tinham muita história para contar, que até dariam livros. Então “O Diário da Princesa” eu indico para todo mundo, porque é um livro bem fofo. Como jornalistas, às vezes bate um bloqueio criativo e não conseguimos escrever mais nada. Isso também acontece com você? Às vezes eu tenho sim. Às vezes eu estou em um capítulo que tá emperrado, que não vai de jeito nenhum. Então têm duas coisas que eu faço. Primeiro eu tento reler tudo, desde o começo, porque às vezes lendo tudo, eu meio que recupero o entusiasmo e aí o livro vai. Outra coisa que eu faço é distanciar um pouquinho do livro, ver um filme, assistir a uma série ou ler outro livro mesmo, para eu sair um pouco daquela história, me inspirar um pouco. Geralmente eu vejo uns filmes bem fofinhos, uns livros também, para me deixar suspirando e eu voltar com aquele humor para o livro.

foto: divulgação

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a paula não foi para o canadá sozinha. várias leitoras conheceram junto com ela a cidade que mudou a vida do rô

O quarto livro do “Minha vida fora de série” é narrado pelo Rodrigo. Eu gostaria que você nos contasse se foi diferente escrever um livro inteiro da perspectiva de um garoto. Não foi muito diferente exatamente por isso. Eu já vinha colocando os meninos para narrarem alguns capítulos. O Leo em “Fazendo meu filme” e o próprio Rodrigo. No “Minha vida fora de série” 2 e 3 ele participou bem ativamente de alguns capítulos. Então eu só tive que desfocar da Priscila um pouco, porque ela costumava dominar a cena e deixar o Rodrigo contar a própria história dele. Como é encontrar esses fãs que tanto te adoram? Eu sei que para mim, como fã, é uma alegria enorme. É muito gratificante, porque nesse momento que eu sei exatamente, sabe, pela alegria, pelo entusiasmo, ou então às vezes tem gente que não gostou da história e vem brava (risos). Então assim, é exatamente nesse momento que eu sinto o retorno mais verdadeiro. Quando me falaram na Internet é uma coisa né. Mas quando eu vejo a emoção das pessoas, é muito gratificante. Você pode nos contar um pouco sobre o seu próximo lançamento? Bom, o próximo que eu vou começar a escrever vai ser o novo da minha série de princesas modernas. Eu já escrevi a Cinderela, a Bela Adormecida e a Pequena Sereia, atualizando né, colocando nos dias de hoje. Agora eu vou fazer isso com mais uma princesa, que eu ainda não revelei qual é, em breve vou revelar. E “Fazendo meu filme em Quadrinhos” 4 também será lançado.

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o pai de uma personagem tem uma vinícola e a Paula se inspirou em um local real que ela conheceu no Canadá

outro lugar que aparece no livro é o Toronto Zoo e o Rodrigo passa por uma situação bem delicada por lá

o cartão postal do país também está no livro, quando o Rô e a Juliette visitam as Catarátas do Niágara

a CN Tower aparece bem rápido no livro, mas a Paula e as leitoras deram uma passada pelo local

fotos: @paulapimenta no Instagram

E as suas séries e livros favoritos, poderia nos contar quais são? Bom, livro foi o que eu falei, “O Diário da Princesa” acho que é um dos meus favoritos. E série, a que eu mais amei na vida se chama “My So Called Life” (Minha Vida de Cão, em português), que é uma série bem antiga, mas acho que ainda dá para encontrar na Internet. Eu recomendo para todo mundo. Só teve uma temporada e foi a série de estreia Claire Danes e do Jared Leto. Então assim, é muito fofo ver os dois bem no começo da carreira e é uma série que me marcou muito. Eu gostaria que ela tivesse continuado por muito tempo.

outro lugar que elas visitaram foi a Galeria de Arte de Ontario, que fica no centro de Toronto

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Publicação independente abre portas de editora Gustavo Ávila publicou seu primeiro livro, O sorriso da hiena, de forma independente, em 2015, e depois de muito divulgar na Internet em canais literários no YouTube, conseguiu uma editora e o relançou em junho de 2017, pela Verus. Nasceu em 1983, em São José dos Campos - São Paulo, mas hoje vive em Florianópolis. Foram mais de três anos escrevendo seu primeiro livro, que ainda antes do relançamento teve seus direitos de adaptação comprados pela Rede Globo. Atualmente, ele escreve o seu próximo romance. foto: divulgação

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conheça o autor Como foi o processo de escrita do livro “O sorriso da hiena” (OSDH)? Foi demorado no começo porque como eu conciliava com o trabalho na publicidade, eu escrevia só de madrugada ou final de semana. Quando eu comecei a escrever eu não tinha realmente o objetivo de ser escritor, comecei porque eu vi que na literatura eu podia colocar as ideias que eu tinha em histórias que eu gostaria de contar, foi escrevendo que eu vi que eu gostava de literatura. Depois que comecei eu vi que queria transformar isso em profissão. Qual foi a parte mais difícil de todo o processo? Acho que criar os personagens. Quando você está escrevendo é muito difícil não deixar os personagens iguais uns aos outros, você acaba colocando o que você conhece, coisas da vida, que você lê, então o cuidado para não deixar parecido com outro, trejeitos, jeito de falar acho que foi o maior desafio da história. Como foi o processo de publicação independente do livro, o começo mesmo? Resolvi publicar independente porque não consegui nenhuma editora. Eu fiquei uns dois anos procurando editora e eu buscava os e-mails das pessoas e dos editores no LinkedIn. Mas não aparecia o e-mail, então eu chegava no Google e colocava “@ nome da editora” e aparecia um nome. Se o e-mail não voltava, era aquele, se voltava eu tentava até não voltar. Se as editoras forem olhar hoje na caixa de entrada deve ter uma mensagem minha lá (risos), eu mandei pra muitas editoras. E como foi a recepção desses e-mails? Muitas pessoas responderam, foram bastante gentis, muitas outras não responderam. Eu entendo, é uma correria, muitos querem publicar, mas não dá pra ficar chateado quando não respondem. Depois de todo esse tempo tentando publicar eu consegui uma editora que propôs uma parceria, uma co-produção: eu pagava uma parte e eles entravam com outra parte. Eu pesquisei as edições deles e não eram muito caprichadas, o valor que eu ia entrar era um pouedição 1 | dezembro de 2017 | literato

co alto. Então resolvi eu mesmo publicar, na agência de publicidade que eu trabalhava tinha todo mundo que eu precisava. A parte de criação fez a capa, uma amiga minha que é revisora fez a revisão, outra fez a diagramação, o cara da produção gráfica negociou com as gráficas; todo mundo se juntou, a publicação foi muito coletiva. Aproximadamente, qual foi o valor total que foi investido na edição independente? Bom, eu nunca fiz os cálculos especificamente, mas por cima eu acho que gastei no total uns R$ 8.000,00, com divulgação e impressão. Como foi a divulgação da edição independente? Foi praticamente 100% com canais literários no instagram e booktubers. Eles são muito responsáveis pelo livro ter alcançado o que alcançou, se não fosse eles, não digo que não teria alcançado, mas com certeza teria demorado mais. Depois que eles começaram a falar foi bem rápida a venda, a divulgação. Eles ajudaram muito e eu acho que o melhor canal de comunicação com os leitores são eles, sem dúvida nenhuma. E Skoob e Goodreads, como foi? As pessoas foram fazendo críticas? Eu acompanhei bastante o Skoob, agora não to acompanhando mais muito porque tá muito corrido, voltei a trabalhar na publicidade, senão olhava toda hora. Tinha pedido demissão para poder me dedicar só na literatura no começo do ano passado, em maio, fiquei mais ou menos um ano e meio parado, só que dinheiro acaba e livro não dá muito dinheiro (risos). Voltei, consegui um esquema de trabalhar em agência em meio período, trabalho à tarde e escrevo de manhã. Mas o Skoob ajudo muito, eu lia as críticas, no começo a maioria era positiva, então isso motivou, deu um ânimo inicial, começar levando paulada seria complicado. Mas tem crítica negativa, não tem jeito, não tem como agradar todo mundo. Mas tem que transformar a crítica negativa em algo construtivo, tentar melhorar.

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Em Março de 2016, você já estava vendendo uma segunda leva de independentes. Até aquela época, quantos exemplares você já tinha vendido? Uns 300 exemplares, mais ou menos, eu tinha feito 500. Deu um problema sério. Quando mandei pra gráfica mandei sem prazos, tranquilo, dei o prazo que a gráfica precisava para que fizesse bem feito. Aí chegaram os livros em casa, várias caixas, fui todo feliz abrir. Na hora que eu abri tava horrível. Sem mentira, exemplares que você abria a capa e tinha outra impressa no verso, tinha página colada de forma invertida. Eu fiquei muito triste. Falei com meu amigo que estava negociando, a gráfica recolheu tudo e fizeram de novo. Aí veio de novo, melhor mas muitos com erros ainda. Depois disso entrei em discussão com a gráfica, mandei fotos pro meu amigo e ele mandou pra gráfica de novo. E o como você resolveu isso? A gráfica, pra resolver isso, propôs que eu ficasse com os livros que recém tinham chegado e com os outros que já tinha mandado e, assim, eu não pagaria o restante pelo trabalho. O lado bom é que ficou um preço muito mais baixo e assim eu consegui ter um preço de venda mais baixo, mais competitivo, isso ajuda muito o autor independente, porque o nosso preço pra produzir é muito caro. Eu tive “sorte” de ter vindo errado, a segunda vinda deu errado mas alguns exemplares dava pra salvar ainda, enviar de graça (booktubers, sorteio), tive um preço menor, consegui investir em publicidade. Como você conseguiu agenciamento literário e depois conseguiu a publicação pela Verus? Antes de publicar independente eu tentei uma agente literária, para facilitar o processo, conseguir uma agente, que eu conhecia (por pesquisa) eram as agentes Luciana Vilas-Boas, Lucia Riff (Agência Riff) e Marianna Teixeira Soares. Com a Luciana até tive retorno mas não rolou mais contato, com a Lucia não tive retorno e a Marianna não tinha mais espaço pra atender autores. Mas fiquei sabendo do trabalho de leitura crítica que ela faz, onde

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você manda teu original e eles dão um relatório sobre o livro. Ai como resolvi publicar de forma independente eu mandei o livro pra uma leitura crítica, funcionando como uma edição pra mim. Eu publiquei, começou a vender e eu sempre mantive contato com ela, mandei a edição independente. Um tempo depois a Mariana falou que estava trazendo outra pessoa pra ajudar a agenciar os autores e que se ela conseguisse a nova agente ela me agenciaria. Então a Luciana foi pra agência e ela me agenciou. Ela quem conseguiu o contrato com a Verus. Engraçado que a Luciana entrou na Agência, me agenciou, e logo saiu, recebeu outra proposta. Até quando a Globo tem os direitos de O sorriso da hiena? Eles têm dois anos pra decidir se vão fazer algo ou não. Se decidirem fazer eles têm mais cinco anos pra fazer algo. O maior motivo de ter vendido foi pela divulgação que o livro teria. Quando a agente foi atrás de vender direitos pra adaptação, tinha duas interessadas; a Globo pagaria metade do que a outra pagaria, eu avaliei prós e contras e escolhi a Globo pela visibilidade que o livro teria, mesmo tendo uma remuneração inferior. Como foi encontrar os leitores nos lançamentos? Foi inacreditável porque eu estou muito no começo ainda, eu sempre interagi pela internet e é muito bom receber essas mensagens. Três mães de filhos com [síndrome de] Asperger me mandaram mensagens e uma falou que a filha tem a síndrome e gostou de ver uma história em que alguém com Asperger pode fazer qualquer coisa [em O sorriso da hiena, o detetive Artur tem a síndrome] e a mãe viu que a filha poderia ser o que ela quisesse. Receber esse feedback é inacreditável. Tem alguma história em especial? Pessoalmente a primeira experiência foi em São Paulo, eu tinha parado de fumar mas tive uma recaída de tão nervoso. Fiquei nervoso com a expectativa de ter muitos ou de não ter literato | dezembro de 2017 | edição 1


Ao ler uma história em que alguém com Asperger pode fazer qualquer coisa, uma mãe viu que a filha poderia ser o que ela quisesse.

ninguém. Mas foi incrível. A maioria do público é jovem e feminino, 14 e 15 anos. Um homem que estava sentado perto da poltrona e falou que estava me esperando com a filha desde às 10h, e o lançamento era só às 16h. Uma menina fez o pai dela vir de Campinas e é muito louco ver esse carinho das pessoas se deslocando e tal. A única coisa ruim da sessão de autógrafos é que é pouco tempo de atendimento pra cada pessoa. É muito louco você ver isso, a história tá escrita, começa no livro mas cada um que lê cria uma interpretação. Às vezes a pessoa vê algo que você não pensou ao escrever. Acho que você ter algum significado pra essas pessoas que esperam 2h na fila pra falar com você por 3 minutos é incrível. Você pode falar um pouquinho sobre o título do livro? Mas sem dar spoilers, claro! Normalmente as pessoas interpretam muito que a hiena sorri, a risada como uma coisa boa, edição 1 | dezembro de 2017 | literato

só que pesquisando a fundo mesmo, já foi revelado que não é uma coisa boa esse som que ela emite. Então o título foi justamente para mostrar que às vezes a gente vê que algumas pessoas estão gostando de fazer algo, mas que no fundo elas não conhecem ou não estão gostando daquilo. Às vezes a gente até julga muito quando vê algum crime, algum ladrão, a gente chama de “vagabundo”, diz que “tem que morrer mesmo”, “tem que linchar mesmo”. Tudo bem a gente querer justiça, só que às vezes a gente não sabe porque a pessoa fez isso, pode não ter sido uma escolha. Óbvio que tem gente que escolhe fazer algo ruim, mas muitas pessoas fazem aquilo porque foram criadas naquele ambiente, não tiveram oportunidades. As suas únicas opções são aquelas que são dadas a você. Dizem “ah, mas tem pessoas que nasceram no mesmo meio e conseguiram fazer algo diferente”, mas cara, é muito difícil, é uma coisa louvável sair disso e ter uma escolha diferente. A gente tem que julgar um pouco menos e entender um pouco mais, sabe. O que você gosta de ler? Que autores te inspiram? Eu leio romance policial mas eu adoro Mia Couto. Eu não costumo ler muitos livros do mesmo autor, nunca tive fixação por um, leio autores picados, livros diferentes, mas Mia Couto me prendeu. Li vários livros dele. Eu não leio mesmo romance romântico. Eu tô lendo muito Philip Roth, eu li o primeiro dele o “Homem comum”, é excelente. E pra finalizar, pra quando podemos esperar uma nova história sua? Eu estou escrevendo, quero terminar no final desse ano. Tinha falado que ia escrever até o final de 2016 mas tô com um problema de disciplina (risos). Por isso que eu vim trabalhar aqui (S7 Coworking). Eu comecei em casa e os três primeiros meses foram ótimos, acordava cedinho, escrevia. Mas depois de um tempo eu comecei a distrair, é horrível trabalhar em casa e não ter prazo. O prazo dá disciplina, é bom ter alguém cobrando porque aí você faz. Ter prazo é a melhor coisa.

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leitores indicam

Malas, memórias e marshmallows

O livro que eu indico é da escritora brasileira Fernanda França, “Malas, Memórias e Marshmallows”. É um livro que foi lançado no ano de 2012 pela editora Rai, por ser um pouco mais antigo e de uma editora pequena, é difícil de se encontrar nas livrarias físicas. Precisei procurar ele online para garantir o meu exemplar. Esse é o primeiro livro (de dois) que conta a história de Melissa Marini Moya. Melissa é uma jovem de 23 anos que sonha em conhecer o mundo e é apaixonada por gatos. Formada em jornalismo, ela recebe uma surpresa de seu chefe bem no dia do seu aniversário: está demitida. Arrasada com esse acontecimento, ao voltar para casa conhece seu novo vizinho, Theodoro Brasil - e seu cachorro Funk -, e por culpa de pequenos incidentes dentro de um elevador, eles acabam se tornando amigos. Enquanto Mel acredita que sua vida está arruinada, o destino mostra que “às vezes o fim de algo pode ser apenas um novo começo”, e quando ela menos espera algo muito melhor começa a acontecer. Após ser “traída” pelo seu chefe ela descobre que teve uma reportagem vencedora de um prêmio muito importante, mas que não foi dado à ela os créditos. Para compensá-la por esse erro, seu chefe decide convidá-la para viajar com ele para o Uruguai, para de fato ser recompensada pela matéria de sucesso que

fez, porém nada sai como o planejado. E então, quando Mel acha que mais nada de ruim poderia acontecer, a vida mostra que após a tempestade, aparece o sol. Melissa recebe de Theodoro, aquele seu vizinho que se tornou um grande amigo, um grande presente: uma proposta para fazer um tour pela América - mais precisamente pelos Estados Unidos - e escrever sobre essa viagem para a agência onde ele trabalha. Mas nisso tudo tem um detalhe, como o nome do projeto é “América sobre rodas” ela deve fazer todo o tour de carro, conhecendo e escrevendo sobre pequenas e grandes cidades. Melissa então decide embarcar nessa aventura e já começa pelo Uruguai, aproveitando a passagem que ganhou de seu ex-chefe e passa seis meses fora de casa. Durante esses seis meses muitas coisas acontecem: Mel conhece e escreve sobre muitas cidades dos Estados Unidos, faz grandes amigos e descobre que por trás de todo o carinho que sente por Theo, pode haver algo mais profundo do que amizade e gratidão. O livro é recheado de surpresas e sumiços (especialidades de Theo), incluindo uma gravidez inesperada - duas na verdade -, uma traição inacreditável e uma cena de filme na Disney. Só lendo o livro dá para explicar todas as sensações que ele nos proporciona. Posso afirmar que vale a pena, ao mesmo tempo em que é engraçado,

foto: Freepik

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também é emocionante e muito útil - servindo de guia turístico para quem pretende conhecer a “América sobre rodas”. A história e os personagens são muito reais e nos fazem entrar no “mundo” deles com muita facilidade. A diagramação do livro também é linda. A capa é bem ilustrada com objetos e paisagens que fazem parte da história e cada capítulo do livro recebe o nome da cidade pela qual Melissa vai passar naquela parte da história, além de vir na parte superior um desenho simbólico e uma breve explicação da cidade e seus principais atrativos. Mas como falei no início, esse livro é apenas o primeiro da história de Melissa Moya, então o final dele deixa uma certa curiosidade para saber o que acontecerá com ela no próximo livro. O segundo volume tem o nome de “Bolsas, Beijos e Brigadeiros” e é mais fácil de ser encontrado em livrarias. Apesar de ser de outra editora, ele é tão bonito quanto. Eu indico àqueles que são fãs de um romance mais chick lit, viagens e surpresas. O mais legal é que a escritora, Fernanda França, é brasileira, o que me fez gostar ainda mais de ler esse livro. Sinto muito orgulho em ver escritoras nacionais escrevendo histórias tão boas e que merecem cada vez mais espaço e reconhecimento no mundo da literatura.

ao mesmo tempo em que é engraçado, o livro também é emocionante e muito útil, servindo de guia turístico

foto: Blog Ratas de Sebos

ssoal : arquivo pe

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Luiza Morfim estuda Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina. Ela está na quinta fase. Sua área preferida é o telejornalismo, mas ela também sonha em trabalhar em uma editora. É fã de carteirinha da autora Paula Pimenta e apaixonada por livros de romance e chick lit.

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LITERATO para quem tem paixĂŁo por livros


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