Revista Inclua

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inclua nº 1 - julho 2019

ACESSIBILIDADE INVISÍVEL Os desafios enfrentados por estudantes com deficiência visual no Ensino Superior Público

COLCHA DE RETALHOS

UM HANDEBOL DIFERENTE Deficientes físicos praticam esporte adaptado na UFSC

UM JORNALISTA CADEIRANTE NO MUSEU A falta de acessibilidade para pessoas com deficiência nos Museus da Capital

ALEXEY SOKOLOV

Construção de uma sociedade justa é dever de todos


EXPEDIENTE inclua Edição n 1, Julho 2019 Editora: Gabriele Oliveira Projeto gráfico-editorial: Gabriele Oliveira Textos: Iraci Falavina Vera Rosa, Lucas Stank, Leon Ferrari, Gabriele Oliveira e Renan Schwingel. Imagens: Renan Schwingel, Fábio Tin, Leon Ferrari, Gabriele Oliveira, Daniel Conzi, Ringer Illustration. Unsplash, Montakasa, NSC Total, Blog Handtalk, Acervo IFSC, Flaticon, ABC, Netflix. ND online, Blog Surdo para Surdo, Youtube, Mercado Livre, Aliexpress, Loja Civiam, TSC CAD, Adequa Acessibilidade Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, criado e editado pela acadêmica Gabriele Oliveira como exercício de projeto gráfico-editorial para a disciplina de Laboratório de Produção Gráfica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no semestre 2019-1. Não será distribuído, tampouco comercializado. Seu conteúdo e suas opiniões são de inteira responsabilidade dos acadêmicos, isentando assim a UFSC e o docente da disciplina de qualquer responsabilidade legal por essa publicação.

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EDITORIAL A Revista Inclua surge através de uma experiência pessoal. No segundo semestre de 2018, participei da equipe da Coordenadoria de Acessibilidade Educacional da UFSC, como estágiaria de promoção de acessibilidade. Minhas funções eram diversas, conheci muitas pessoas com diferentes deficiências e histórias de vida. A convivência com estes alunos me fez ver a deficiência de uma maneira diferente: como uma característica daquelas pessoas, e não como um fator que deva ser sempre priorizado em relação aos demais. Pude notar em mim e nas pessoas ao meu redor atitudes capacistitas, e buscar maneiras de mudar isso. Pude notar as inúmeras barreiras físicas, técnicas e atitudinais que os alunos com deficiência ainda enfrentam. Com isto, surge a vontade de fazer algo, mesmo que meu alcance seja limitado. Algo que lembre as pessoas que a acessibilidade deve ser um tema constantemente e amplamente discutido. O propósito de uma Universidade é unir diversas faculdades para universalizar o acesso ao conhecimento. A adesão da Universidade Federal de Santa Catarina à Lei 13.409, em 2018, garante um percentual das vagas para pessoas com deficiência. Só isso não é capaz de garantir que essas pessoas tenham acesso ao conhecimento. Através da CAE e também pela experiência de criar a Incua, pude conhecer o trabalho de pessoas incríveis que lutam diariamente para garantir não só o ingresso, mas a permanência das pessoas com deficiência no ensino superior. Não só para as pessoas com deficiência que estudam na UFSC, mas para todos que trabalham para tornar a acessibilidade possível: Inclua é para vocês.

Gabriele Oliveira


sumário

conversa

SOU UMA PESSOA NORMAL!

relato

COLCHA DE RETALHOS

o que é?

COMUNIDADE SURDA

reportagem

ACESSIBILIDADE INVÍSIVEL

fotos

UM HANDEBOL DIFERENTE

dicas

REPRESENTATIVIDADE

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conversa cartola

SOU UMA PESSOA NORMAL!

A paulista Ágata Fernanda Sunega, de 17 anos, tem Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista. Ágata esta no primeiro semestre de Engenharia de Produção Mecânica. Escolheu a UFSC devido a qualidade do curso que desejava, e desde março de 2019 mora na capital.

Em relação a forma como as pessoas te tratam, você sentiu muita diferença entre o Ensino Médio e o Superior? Um pouco. Mas não num sentido ruim. As pessoas aqui me dão um apoio que eu não tinha antes. Eu consigo ser mais aberta em relação a TEA. E as pessoas também são abertas, pensam e perguntam “Como eu posso te ajudar?” “Como eu lido?”. É mais aberto do que no Ensino Médio. E aqui tem a CAE. Me sinto acolhida na Universidade. O que te fez escolher Engenharia da Produção? A parte da mecânica, gosto muito de mecânicas. Lido melhor com elas do que com pessoas. E a parte de produção me atraiu o operacional, pesquisa e logística. Como pessoa com deficiência, as pessoas costumam te ver como incapaz. De que forma você lida com isso? Às vezes. Eu sinto que agora as pessoas estão começando a pensar diferente, o que é muito bom. Ao invés de tratar diferente e tratar como se eu fosse uma criança, o que já havia acontecido antes. E mui-

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tas vezes também a pessoa só ignora. Eu tenho problema com barulho, eu sempre peço pra respeitarem isso. Eu sou uma pessoa normal como você. Mas estrondos, barulhos muito altos, não funcionam bem pra mim. E às vezes elas ignoram. Qual a experiência mais marcante que teve em sua trajetória acadêmica? No dia 2 de abril, a gente tinha uma reunião no Centro Acadêmico. Nesse dia era o Dia Mundial de Conscientização sobre Autismo, e eu já tinha comentado com os meus colegas. No dia, o curso se movimentou e todo mundo usou, que é a cor da campanha. Você se sente representada na mídia cultural? Eu não vejo muitos personagens com TEA. Vi Atypical, da Netflix. Assisti um pouco e gosteI. Representa um grau maior que o meu, mas acredito que foi tão fiel quanto possível, a nível de entretenimento. As pessoas me perguntam “você é autista, qual o seu dom?”. Mas não é assim que funciona. Nem todo mundo é igual. Eu costumo brincar que meu poder

GABRIELE


GABRIELE OLIVEIRA

A estudante Ágata é caloura do curso Engenharia de Produção Mecânica.

autístico é evitar pessoas. Quando vamos almoçar em grupo, eu facilmente acho lugar. Pode ser um poder, e pode não ser, né? Como a CAE influenciou a sua entrada e permanência na Universidade? O que eles vem me ajudando é em relação aos professores. Junto com TEA eu tenho um outro problema, espasmos. Eu pedi para fazer as prova separada. Alguns professores apresentaram uma certa resistência. A conversa com a CAE deixou eles mais abertos. Você mora sozinha? Houve resistência da família? Tem dois garotos que moram comigo. Um da geografia e um da oceanografia. Houve uma certa resistência por parte da minha vó. As pessoas costumam ter um estereótipo muito forte sobre as pessoas com autismo. Você tem dificuldades de socialização, ou problemas com ruídos? Eu acho que em questão de socialização, me viro bem. Me forço um pouco, não no sentido ruim, mas sim

no de testar meus limites. Eu sei, no fundo, que é algo que eu vou acabar precisando e que vai me fazer bem. Eu tenho um grau bem leve. Então não é toda pessoa com TEA que vai conseguir ser assim. Não se deve julgar, sabe? Eu já ouvi coisas do tipo “nossa, mas é só um barulhinho”, “ah, não precisa ser tão fresca”, “como assim você não vai em tal lugar por causa do barulho?” Você costuma evitar festas? Eu ando com um protetor auricular no bolso, para emergências. Só vou em festas se gostar muito das músicas, e se meu grupo for. Aí me sinto mais tranquila. Nesse primeiro semestre, já passou por alguma situação de capacitismo no curso? Sim, e foi de um amigo meu, me marcou porque eu não esperava. Havia uma festa e eu decidi ir, pois não seria nada muito grande e barulhento, ia ser pouco tempo. E muitas ouvi ele me questionar. “Você tem certeza que vai? Porque você vai ficar mal”. Eu entendo a preocupação, mas isso desrespeita a minha autonomia, é uma falta de confiança em mim.

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relato

COLCHA DE RETALHOS UNSPLASH

Estar incluído é fazer parte, é sentir-se parte. É poder ser respeitado em sua totalidade, enquanto ser humano. Branco, negro, homem, mulher. Jovem, idoso, pobre, de classe média, de classe alta, bissexual, transgênero, heterossexual, homossexual, cristão, crente, ateu, incrédulo, deficiente. A realidade é excludente, ela teima em nos fazer mínimos diante daquilo que o mundo espera de nós. Ou pelo menos, de alguns de nós. Pois como tornar iguais pessoas as quais a vida deu rumos tão diferentes? Que provêm de realidades tão distintas, de verdades tão diversas? Essas questões se impõem pela total desconsideração da nossa humanidade,em detrimento, de uma cultura de do “ter para ser”. Onde a aparência é supervalorizada, onde existe uma preocupação contínua em aparecer bem na “selfie”. De estar sendo curtido e compartilhado nas redes sociais, de ser considerado “top”. No entanto, esse falso acolhimento é uma receita infalível para tornar invisíveis às diferenças. E são elas que nos tornam únicos, inacabados, em construção, peculiares, adequadamente inadequados. Ser diferente é a qualidade do inusitado. O mundo se fez e se faz de formas, de pessoas, de fatos, de problemas e de soluções inusitadas. De ações pro-

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gramadas, mas também do mero acaso. De acertos e de erros. De confusões e conclusões. De práticas de solidariedade e de ações isoladas. Como resultado de muito planejamento ou por desespero. Tudo isso foi feito por pessoas, que a seu tempo e a seu modo emprestaram ao mundo a sua criatividade, sua curiosidade, sua impetuosidade, suas competências tornando-o uma imensa colcha de retalhos. Retalhos de sonhos, de esperança, de desejos, de frustrações, de verdades, de mentiras, de conflitos. De significados ressignificados por mim e por você, que ao admirarmos a “colcha de retalhos da humanidade”, lhe atribuímos novas cores, novas formas, novas impressões. Impressões minhas e suas, não as nossas. Junto com a dos que a costuraram antes de nós e a despeito do nosso olhar. Quando acrescentamos novos retalhos a “colcha”, com nossas atitudes cotidianas, estamos contribuindo para a um mundo menos fragmentado. Estamos fazendo um esboço de uma nova colcha, inacabada e reinventada. Sem fluidez de cores, sem tanta beleza. Renovando na “colcha” social a sua maior qualidade: a pluralidade. Se cada um de nós buscarmos adequar o seu retalho, ao retalho do outro, a colcha terá um aspecto mais leve, mais bonito. Empreste seu retalho ao mundo, costure-se aos retalhos dos outros e preencha os espaços sociais de luz, brilho, cor, respeito, solidarie-


“Uma sociedade justa ou injusta é construída por todos nós” dade, esperança. Permita-se coexistir com os muitos retalhos humanos - de humanos que a vida trouxe, traz e trará para sua vida. A colcha de retalhos é o resultado de pequenos pedaços que juntos formam um enorme mosaico estranho. Ela alegra o ambiente, de modo que o todo supera a parte, dando a oportunidade a cada “retalho” de ser um elemento inédito a composição comum. Creio que devemos admitir nossa condição de “retalhos” e parar de impor a perspectiva da nossa colcha aos demais. Assim, daremos aos outros o destaque merecido. Mas esta é uma condição difícil de ser alcançada por aqueles que jamais se veem como retalhos, tendo-se sempre como colcha. E ainda mais difícil de ser observada entre aqueles que se acostumaram à condição de retalhos e nada fazem para tornar-se parte da colcha. Uma sociedade justa ou injusta é construída por todos nós. Cabe aos pais e educadores a responsabilidade de propiciar a construção de valores que permitam redimensionar o ser humano em relação ao mundo. De inseri-lo à colcha de retalhos. De incentivá-lo a costurar-se à ela. Demonstrando-lhe que é possível ser “o retalho”, entre tantos retalhos… Que a soma dos muitos retalhos que forem usados geram uma colcha maior e, portanto, muito mais interessante que o “aquele retalho”.

Diversidade se ensina, se aprende, se escolhe, se acolhe, se encolhe, se espicha... Diversidade se compõe se dispõe, se articula. Direito se adquire, se discute. se considera, se consolida, se renova, se perpetua, se promove. Mas, acima de tudo, direito se respeita. Quero ter respeitado o meu direito de ser aluna do curso de Direito na UFSC. De ser o retalho a completar a colcha. Não aquele que será descartado, num canto qualquer, amassado, sujo! E que me seja permitida alcançar a importância dos “tecidos especiais” que desejam compor sozinhos a colcha, me julgando imprópria para completá-la. As colchas de retalhos não são feitas de pequenas sobras de tecidos comuns? Coloridos, disformes, lisos, listrados, de bolinhas, florais... Então o que está inadequado aqui, não é o retalho, mas a colcha! Se já não se caracteriza como colcha de retalhos, por estar composta de cortes de seda, de fino algodão, de brilhos e pedrarias, deve então rever-se, reinventar-se, readequar-se. Pedir ajuda aos “retalhos humanos” que, guardados em uma gaveta solitária, aguardam o momento exato para tornar nova a colcha da diversidade humana. Direito USFC, deficiência visual.

Vera Rosa inclua nº 1

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UM JORNALISTA CADEIRANTE NO MUSEU O jornalismo é desafiador, mas é algo possível para pessoas com deficiência

Sou um cadeirante no Brasil, um desafio gigantesco, dado o fato de que o direito de ir e vir só existe mesmo no papel. Já se tornou rotina ter que decorar os lugares onde posso e não posso ir, e onde eu posso ficar sem me preocupar com possíveis quedas. Ao apurar uma pauta sobre acessibilidade nos dois principais museus na capital do estado de Santa Catarina pude ver o quanto eles ainda mantém uma parte vergonhosa de nossa história: a falta de inclusão das pessoas com deficiência. Foi no final do mês passado, meu amigo Zé Maia me acompanhou. Um dos museus visitados foi o Museu His-

“A história de todo o estado estava ali. Uma escada me separava dela” 8

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tórico de Santa Catarina (MHSC). Na pré-apuração da reportagem, encontramos um mapa interativo no site Museus BR, onde constava que o MHSC era acessível. Ao chegarmos lá a realidade foi completamente diferente. A primeira coisa que ouvimos foi “Ele não vai poder ir ao andar de cima, a gente tá sem elevador”. Ouvir isso foi desconfortante, me fez perceber que além de perder uma experiència única, havia sido enganado pela administração. A história de todo o estado estava ali, mas uma escada me separava dela, Quando o Zé subiu teve acesso a boa parte do museu. Parte que eu perdi. Ele contou que no segundo andar é necessário o uso de pantufas nos pés para a proteção do assoalho antigo. Isso me fez pensar: como uma cadeira de rodas passaria por esse piso sensível, se colocaria uma pantufa nas rodas? Uma guia informou que para que eu chegasse ao segundo andar, os policiais auxiliariam. Ao solicitarmos isso, eles informaram que a responsabilidade deles é apenas cuidar da parte externa do museu. Ninguém assumiu a responsabilidade, e quem saiu perdendo? Eu. Outro ponto que percebi nessa visita foi que não tinha nada em LIBRAS, nem em braile. Surdos não poderiam acompanhar os vídeos explicativos nos

Museu Histórico de Santa Catarina, anexo ao Palácio Cruz e Souza


MONTAKASA

monitores e os cegos não poderiam ler mais sobre o que era exposto. O áudio guia até existe, mas só pode ser acessado no site do museu. O que necessita uma conexão com internet por dados móveis, já que o Museu não fornece WiFI. Nem o banheiro eu consegui utilizar no Museu. A porta era extremamente apertada e havia uma elevação. Depois de muito tempo e um pouco de auxílio de quem estava lá, consegui entrar, e vi que o ambiente interno também não era acessível. Um banheiro que não traz problemas só para pessoas com deficiência, mas para todos. Vimos um turista alemão tropeçar na elevação da entrada e quase cair. O Museu só se posicionou depois da entrega da reportagem. Reconhecerem a falta de acessibilidade e afirmaram que há um projeto para um elevador, mas que por falta de verba ele não foi executado. Curioso

é que nos anos 70 havia um elevador no local, que foi desativado por não fornecer segurança. Ou seja, por quase 40 anos não houve nenhum projeto para que isso fosse retomado. O Museu também se defendeu alegando que faz exposições acessíveis e que tem projetos de acessibilidade. Mas acessibilidade deveria ser regra, e não exceção. Uma questão surgiu nesta pauta foi: Como tornar acessível um prédio histórico, sendo que não pode ser muito modificado? Este é grande desafio nesse tipo de obra, pois é contra a lei modificar a parte histórica de um prédio tombado, mas também fere a constituição a privação do direito de ir e vir. Nesses momentos que a ambiguidade da legislação brasileira mostra suas garras

inclua nº 1

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NSC/ DANIEL CONZI

Mas nossa apuração não teve só maus exemplos, o Museu Victor Meirelles (MVM) passa por uma reforma onde a acessibilidade está sendo considerada. Haverá banheiros adaptados e de fácil acesso, rampas de acesso tanto a casa histórica do artista que nomeia o museu quanto ao anexo, que é um patrimônio a ser preservado dos anos 1950. Terá um elevador no anexo que levará até o auditório. O áudio guia estará no local físico do museu, assim deficientes visuais poderão ouvir sobre as obras enquanto estão no museu. No fim das contas, apesar das dificuldades, sinto que preciso seguir em frente. O número de jornalistas com deficiência é muito pequeno. Quero ser muito mais do que um número nessa estatística. Quero mostrar pra outras pessoas com deficiência que é possível. E que a nossa presença nessa profissão, que observa os poderes e a sociedade num geral, é muito importante.

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“Quero mostrar para outras pessoas com deficiência que é possível” Jornalismo UFSC, deficiência física

Lucas Stank


o que é?

O QUE É COMUNIDADE SURDA? A classificação de surdez como deficiência no campo dos estudos surdos foi deixada para trás já há algum tempo, fazendo com que a academia passasse a ver os surdos como um grupo identitário, com características próprias, afastando a ideia de que haveria uma ânsia de cura. Entretanto, ressalta-se: o pensamento social movido pelo senso comum pode agrupar surdos em um “bloco” único, mas eles não são todos iguais. Assim como qualquer outra pessoa, possuem interesses e facilidades diferentes; existem surdos, por exemplo, que não sabem a língua de sinais e acabam utilizando a língua oral. O que constitui, então, a identidade surda? Viver uma realidade sem som é um fator condicionante para que as experiências visuais se tornem mais relevantes ainda. Karin Strobel, surda, doutora em Educação pela UFSC, graduada em Pedagogia, define como comunidade surda “Um grupo de pessoas que vivem num determinado local, partilham os objetivos comuns dos seus membros, e que por diversos meios trabalham no sentido de alcançarem estes objetivos”.

Texto por

Iraci Falavina

Ela relatou uma experiência em seu aniversário: seu namorado a levou para um jantar que deveria ser romântico; porém a iluminação limitada a velas dificultou a leitura labial e Strobel não conseguia se concentrar em seu namorado por se distrair com os movimentos de um violinista. Além do destaque para os elementos visuais, a identidade é construída por situações exclusivas pertencentes aos surdos; uma pessoa ouvinte e outra não ouvinte possuem percepções diferentes da música (sendo este um artefato preferencialmente ouvinte), por exemplo. Os padrões de comportamento acabam criando vínculos íntimos entre os membros da própria comunidade, por isso, há uma tendência de que haja mantimento da vida social entre surdos. Existe uma dificuldade entre os ouvintes de compreender a diversidade presente entre os surdos; é comum tentar entender a realidade de outro a partir de sua própria visão. Porém, aplicar uma “lente” sua sobre uma outra cultura pode embaçar a visão dos fatos.

BLOG1 HANDTALK inclua nº 11


O QUE É PCD? Muitas vezes, ao nos depararmos com uma pessoa com deficiência, surge a dúvida de como se referir a ela. Uma dúvida muito comum e compreensível, pois além da falta de informação, usar o termo incorreto pode causar algum constrangimento. O termo oficial atualmente é “pessoa com deficiência” (PCD). Mas, durante a história muitos outros termos oficiais existiram. Na constituição de 1934 encontramos os termos “aleijado, incapacitado, defeituoso e desvalido”. Na Constituição de 1937, surge o termo “excepcional” e somente através da Emenda Constitucional n° 12 de 1978, apareceu o termo “pessoa deficiente”. A Constituição de 1988, trouxe o termo “portadores de deficiência”. Somente em 2009, na Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que foi promulgada no Brasil pelo Decreto n° 6949/2009, trouxe a nova nomenclatura oficial: pessoa com deficiência. Ao longo dos anos muitas foram às formas de denominar as pessoas com deficiência, desde as mais

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Texto por

Gabriele Oliveira

pejorativas como aleijado ou defeituoso, até mesmo portador, que é um erro de interpretação, pois uma deficiência nunca poderá ser portada, já que não é um objeto que se pode portar ou não. A denominação oficial “pessoa com deficiência” demonstra que a deficiência faz parte do corpo e, principalmente, humaniza a forma de tratar. Ser “pessoa com deficiência” é, antes de tudo, ser pessoa. A terminologia certamente é importante para evitar preconceito e certos constrangimentos. Mas vale lembrar que antes de qualquer sigla ou deficiência existe uma pessoa, que tem nome e sobrenome, e é pelo seu nome que deve ser chamada. O conceito de “pessoa com deficiência” ainda é um conceito em construção, e a discussão terminológica é muito ampla. O importante é sempre lembrar que a deficiência é uma característica humana, por isso, cabe a nós entender a potencialidade da figura humana, que vai muito além de um corpo físico.

Ser pessoa com deficiência é, antes de tudo, ser pessoa.


reportagem

ACESSIBILIDADE INVISÍVEL Os desafios enfrentados por estudantes com deficiência visual no Ensino Superior Público Renan Schinwguel e Gabriele Oliveira

FLATICON

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“Os professores do curso se espantavam quando os viam em sala de aula” Imagine entrar na Universidade após muita dedicação e estudo para ser aprovado no curso que sempre sonhou, e não conseguir acessar o conhecimento a que tem direito? Ou então, enfrentar o despreparo das pessoas para lidar com suas necessidades? Essa tem sido a realidade frente a qual se deparam muitos estudantes com deficiência visual. “Eu trabalhei com pessoas cegas que cursaram Fisioterapia, e todos tinham o mesmo discurso: de que os professores do curso se espantavam quando os viam em sala de aula”. O relato é da professora Ivani Cristina Voss, coordenadora de Ações Inclusivas do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Licenciada em Educação Especial, Ivani acredita que ainda existe a crença de que as pessoas com deficiência visual só podem fazer determinados cursos. “Isso tem a ver com os mitos que cercam essa deficiência, principalmente a cegueira. Como por exemplo, acreditar que a pessoa vive no escuro, algo que ficou muito marcado na mente das pessoas”. Contrariando o estereótipo, o estudante Gustavo Espindola, 20 anos, está na terceira fase do Bacharelado em Fí-

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sica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo a Coordenadoria de Acessibilidade Educacional (CAE-UFSC), entre os 33 alunos com deficiência visual matriculados na instituição, ele é o único nesta área. A Universidade oferece a todos os alunos com deficiência um atendimento especializado que inclui estagiários de promoção de acessibilidade, monitores para determinadas disciplinas, tradução de materiais, transcritor/ledor de materiais e auxílio em deslocamentos dentro do campus. Estes serviços são disponibilizados de acordo com o caso de cada aluno. Gustavo possui retinose pigmentar, doença que acarreta a perda progressiva da visão. Nas disciplinas que solicita Gustavo conta com a presença de um transcritor ou monitor. Na disciplina Cálculo I, por exemplo, ele conta com o apoio de Lidiane Camini, graduanda da sétima fase de Licenciatura em Matemática, que o auxilia. Lidiane é estagiária de promoção de acessibilidade da CAE e o acompanha duas vezes por semana. Para ler os textos das disciplinas, ele utiliza o software NonVisual Desktop Access (NVDA).

RENAN SCHWINGEL

Bolsista do Setor de Acessibilidade Informacional adapta mais de três textos por dia.


BARREIRAS TÉCNICAS

BARREIRAS TÉCNICAS Voltado à inclusão dos deficientes visuais, os softwares de leitura de tela transformam informações visuais de computadores em áudio. Porém, a maioria dos ledores de tela que contam com recursos avançados são pagos, podendo chegar a custar mais de U$ 2.000 dólares - cerca de quatro mil reais. O software usado por Gustavo é o NVDA, um open source, ou seja, totalmente gratuito e que pode ser modificado para receber melhorias. O NVDA não faz a leitura de fórmulas e sentenças com notação matemática. “Ele não diferencia um X elevado ao quadrado de 2x. Para o programa é a mesma coisa”, explica Lidiane. Por esse motivo, Gustavo usa uma lupa eletrônica para interpretar as sentenças, contando ain-

da com a ajuda de alguns professores que as enviam por mensagens de voz. Mas os desafios não param por aí, Lidiane conta que, por exemplo: “O professor de cálculo digita as listas num software específico de matemática, que possui um limite no qual ele pode aumentar a espessura do traço. Em outros programas, como no Word, não tem os caracteres matemáticos suficientes para cálculo.” Tanto o software quanto a lupa eletrônica são disponibilizados todo semestre pelo Setor de Acessibilidade Informacional (AAI), localizado na Biblioteca Universitária. Este setor é responsável também pela adaptação dos conteúdos destinados a todos os estudantes com deficiência da instituição.

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No caso do Gustavo, o setor alega que a dificuldade em adaptar as fórmulas e sentenças está na falta de uma pessoa capaz de configurar o software para lê-las corretamente. O servidor administrativo do setor, Douglas Raulino, explica que seria necessário atuar em conjunto com a Superintendência de Governança Eletrônica e Tecnologia da Informação e Comunicação da Universidade (SETIC), para pensar em soluções. “Eles entendem de programação, aí teria que ver se mudam alguma coisa no software. Talvez eles já tenham isso em mente, só que a gente ainda não conversou” Para adaptar os conteúdos solicitados pelos estudantes, o Setor de Acessibilidade Informacional conta com seis bolsistas. Devido a alta e crescente demanda - causada pela adoção da Universidade a Lei à Lei 13.409 em 2018, que destina um percentual das vaga para pessoas com deficiência - algumas vezes é necessário que cada um adapte mais de três textos por dia. No Laboratório de Tecnologia Assistiva do IFSC, essa dificuldade também é sentida. “O aluno usa até sete livros em uma disciplina. É preciso transformar tudo isso em PDFs acessíveis. Não é simplesmente escanear, tem um tratamento em cada uma das páginas do livro. É tempo e dedicação de um profissional”, explica Ivani. Na UFSC, para a adaptação do material, o primeiro passo é o envio feito com antecedência por parte do professor da disciplina.. A prioridade é dada pela ordem de envio e necessidade do aluno. A pedagoga em Educação Especial, Patrícia Muccini, enfatiza que o esforço não é unânime. “Tem estudantes com defici-

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ência que ainda não têm os textos da primeira semana de aula, porque alguns professores não enviaram”. Patrícia trabalha no setor desde 2015, e espera por uma postura mais consciente no futuro. “A principal expectativa é que se torne uma demanda institucional. Que os docentes e demais setores entendam que as pessoas com deficiência fazem parte da comunidade acadêmica”. Os desafios no acesso ao conteúdo por parte dos alunos não se restringem às demoras no envio do material. Patrícia ressalta que os recursos vindos do governo federal através do Programa Incluir, criado em 2005, diminuíram nos últimos anos. Os cortes têm inviabilizado a aquisição de novas ferramentas de acessibilidade informacional, sendo que a solicitação feita no início do ano ainda não foi atendida. A pedagoga explica que, para evitar que mais alunos sejam prejudicados pela falta de investimentos, foram estabelecidos critérios para o empréstimo de equipamentos de acessibilidade. Os graduandos de baixa renda com deficiência visual são os primeiros da lista.

ACERVO IFSC

Produção de livros acessiveis no L ABTA , no campus IFSC Palhoça.


GABRIELE OLIVEIRA

BARREIRAS ATITUDINAIS A falta de conhecimento sobre as necessidades das pessoas com deficiência é um dos principais potencializadores do capacitismo, forma de discriminação na qual pessoas com deficiência são tratadas como incapazes de gerenciar suas vidas, trabalhar, cursar uma universidade, namorar, administrar a casa, etc. No Ensino Superior, esse preconceito é percebido nas barreiras atitudinais que dificultam a trajetória dos estudantes. O estudante Victorino Enhama Mbala Elima, 37 anos, possui deficiência visual-cegueira e está na quinta fase de Serviço Social na UFSC. Natural de Angola, perdeu a visão aos 16 anos devido a um acidente. “Ajudar faz parte das nossas relações enquanto seres humanos. A gente vive um ajudando o outro. Quando você nega a ajuda de uma pessoa, independentemente da deficiência, isso configura um tratamento, no mínimo, desleal com a espécie.” Muitas vezes as barreiras atitudinais não se dão com atitudes evidentes

Charge exposta no mural do Setor de Acessibilidade Informacional

de preconceito. Muitas vezes são ações que podem parecer boas intenções. Exemplo disso é acreditar que a pessoa com deficiência tem a obrigação de amar e/ou superar a sua deficiência. “Eu não me aceito cego, também não me conformo, mas eu procuro conviver com isso. Mas como não há outra saída, não há como voltar a ser quem eu era, eu me calo”, afirma Victorino. Outra forma comum da prática do capacitismo é quando uma atitude simples e cotidiana é super valorizada ao ser realizada por uma pessoa com deficiência, como, por exemplo, frequentar a escola. A professora Ivani relata que esse pensamento ainda é muito presente na trajetória escolar das pessoas com deficiência. “Não importa se o aluno não cumpre as tarefas básicas em sala de aula, se ele é responsável ou não. As pessoas discursam de que ele estar ali é um exemplo da vontade de viver, de superação. É preciso entender que as pessoas com deficiência não carregam essa missão de ser um exemplo”

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A ACESSIBILIDADE É POSSÍVEL “Nossa preocupação é o aluno entrar, fazer o curso, passar nas disciplinas, e terminar. Essa é a nossa proposta.” Com esse pensamento a professora Rosemy Nascimento, 54 anos, assumiu a coordenação do Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar (Labtate), em 2017. O laboratório está localizado no Centro de Ciências Humanas da UFSC, e produz conteúdos acessíveis para pessoas com deficiência visual, como mapas e esquemas táteis. A metodologia do LabTate está presente em outras instituições, como a parceria feita com o Instituto Benjamin Constant, centro de referência nacional na área da deficiência visual Além das coordenadoras, o Labtate conta com dois bolsistas pagos, quatro voluntários e um monitor da disciplina de Cartografia Tátil. São alunos de graduação, mestrado e doutorado que contribuem para a produção dos materiais e atualização do site. Apesar do esforço em manter o laboratório ativo, atualmente a equipe enfrenta obstáculos que dificultam suas atividades. “No último edital para solicitação de compra de material, eu não fiquei entre os selecionados, não fomos considerados importantes. Então, tem algum ruído aí, como que eu faço material adaptado se eu não consigo comprar material básico?” Mesmo diante das incertezas quanto ao amparo financeiro para o seu funcionamento, o Labtate se mantém funcionando. A diversidade de materiais acessíveis presentes no

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espaço faz jus aos objetivos do laboratório, entre os quais se destacam a construção de um centro de referência em cartografia tátil e a promoção de pesquisas sobre o tema. A demanda dos mapas acessíveis surgiu em 2011, com a chegada da aluna Sabrina Mangrich de Assunção, 30 anos, que tem deficiência visual – cegueira. Seu ingresso no curso de Bacharelado em Geografia da UFSC deu origem ao Projeto Sabrina, para o qual a equipe desenvolveu técnicas de produção de mapas destinados ao Ensino Superior, promovendo assim, o acesso da aluna aos conteúdos da graduação. “A nossa prerrogativa é: a pessoa com deficiência vai ter o mesmo recurso didático do aluno que enxerga”, conta Rosemy. Rosemy reforça que, para que a acessibilidade seja colocada em prática, não se pode atuar sozinho. “Tem que ter o engajamento de todos, coordenação do curso, departamento, professores envolvidos, profissionais, e a reitoria. Isso não pode ficar desconectado”. Sabrina, que concluiu o Bacharelado em 2015 e a Licenciatura em Geografia em 2018, atualmente está no Mestrado e demonstra satisfação com o legado construído até então. “Eu me sinto feliz. Também é uma responsabilidade minha, de fazer o meu melhor. E saber que futuramente outras pessoas vão se beneficiar com isso.”

RENAN SCHWINGEL

A mestranda Sabrina mostra o esquema tátil do ciclo da água, produzido no Labtate.


Atualmente o Labtate está confeccionando um mapa tátil do campus da Universidade, visando assim diminuir as dificuldades de locomoção encontradas por estes alunos. Cada um dos centros terá um mapa de mobilidade, com escala ampliada e mais detalhamento, possibilitando uma melhor compreensão dos elementos que o compõe. Para que a ideia seja colocada em prática, a CAE fornecerá ao laboratório materiais como cola, barbante e papel, que estão em falta. Mesmo com recursos limitados, Rosemy mostra-se otimista com a continuidade dos projetos. “Se você ficar pensando, você vai perder um longo tempo. Então faça. Você tem que fazer!”

“A pessoa com deficiência vai ter o mesmo recurso didático do aluno que enxerga”

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EQUIPAMENTOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA NA UFSC

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MÁQUINA BRAILLE

LINHA BRAILLE

Permite que o estudante escreva em Braille, como uma máquina de datilografia.

Dispositivo acoplado ao computador que configura as informações em linhas de texto em Braille, para controlar a navegação.

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TECLADO COLMEIA

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Facilita a digitação para estudantes com alguma limitação da coordenação motora fina, pois há delimitação física de cada letra do teclado.

REGLETE Permite a escrita em braille. Escreve-se da direita para a esquerda. 6

SCANNER

LUPA ELETRÔNICA

Permite adptar material (texto ou livro, por exemplo) através do computador, para que seja lido por um software.

Permite mudanças de contraste e pode aumentar uma imagem em até 36 vezes. 7

MOUSE ESTÁTICO DE ESFERA

TECLADO DE ALTO CONTRASTE

Auxilia no controle do cursos e no clique na tela do computador.

Auxilia as pessoas com baixa visão a digitar a partir do contraste de cor e ampliação de letras.

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CRÉDITOS: 1 LOJA CIVIAM 2 ADEQUA ACESSIBILIDADE 3 TSC CAD 4 LOJA CIVIAM 5 LOJAS AMERICANAS 6 SHOPPING DO BRAILLE 7MERCADO LIVRE 8 ALIEXPRESS

20 julho 2019


fotos

UM HANDEBOL DIFERENTE

Fotorreportagem

Quem vê a bola na quadra pensa que é um jogo comum de handebol, esporte criado pelo alemão Karl Schelenz em 1919, no qual os jogadores usam mais as mãos do que os pés. Porém, a bola na quadra vai ser usada por jogadores que não podem contar com suas pernas para jogar. É um jogo de handebol em cadeira de rodas. Modalidade adaptada no Brasil em 2005. O HCR - como é chamado - pode ser praticado em grupos de 4 (HCR4) ou 7 jogadores (HCR7) em cada time. Essas duas formas de jogar se diferenciam quanto à quadra usada e tempo de sets, por exemplo.

É no ginásio 3 da Universidade Federal de Santa Catarina, nas terças e sábados, que o HCR ganha vida e praticantes como um projeto de extensão do curso de Educação Física da Universidade. A atividade faz parte do Projeto de Sábado, que oferece aos deficientes físicos oportunidades de experimentar novas práticas e interagirem entre si. Desde 1996, os sábados no Campus Central da UFSC são de inclusão e esporte. O Projeto de Sábado oferece aos deficientes físicos oportunidades de experimentar novas práticas e interagirem entre si.

Leon Ferrari

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AS BALIZAS O handebol em cadeira de rodas segue, basicamente, as mesmas regras do convencional. A principal adaptação do HCR é a altura da baliza, que é 40 centímetros menor. Para isso, são colocadas placas de metal na parte superior das traves.

A CADEIRA IDEAL Na prática, a cadeira e o atleta devem ser um só. Ela precisa ser adequada para que ele possa ter mais estabilidade e obter seu desempenho máximo. As cadeiras usadas no Handebol são mais leves do que as para a locomoção cotidiana.

MUITO ALÉM DA COMPETITIVIDADE

22 julho 2019

As regras e especificidades da modalidade não são tão importantes comparadas ao objetivo pela qual ela foi adaptada: promover a inclusão social dos atletas. Como em qualquer outro esporte coletivo, a união e o trabalho em equipe são fundamentais. Os deficientes físicos podem interagir entre si e com toda a comunidade através da prática do HCR.


QUEM DÁ SEU TEMPO PARA INCLUIR Julia Morais, estudante de Educação Física da UFSC, é bolsista do Projeto de Sábado. É uma das pessoas que faz tudo acontecer: carrega as cadeiras, vai atrás de bolas, joga para completar os times. E faz tudo isso com um sorriso no rosto. Para ela tudo é um aprendizado - tanto profissional, quanto pessoal. “Tenho aprendido inclusão de uma forma diferente: não são só eles que têm que se adaptar a nós, mas nós também podemos nos adequar às necessidades deles.”

NÃO É MAMÃO COM AÇUCAR Jogar handebol já não é uma tarefa fácil, imagina em cima de uma cadeira de rodas. A prática exige muita força dos atletas, assim como pensamento rápido e estratégia. Mas tudo isso vale a pena. O sentimento de enfrentar e superar seus limites traz uma sensação de autosuperação. Perceberse capaz faz muito bem para a autoestima.

AQUI TODO MUNDO JOGA Pessoas sem deficiência também podem participar. É uma ótima atividade para se colocar no local do outro - tornar-se empático a uma realidade que não é sua. Também é incrível para que os jogadores deficientes possam exercitar-se e interagirem com a comunidade. Na fotografia, estão as pernas com total mobilidade da coordenadora do projeto - a Professora Doutora Bruna Seron do curso de Educação Física. Por que você não vem jogar também?

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dicas

REPRESENTATIVIDADE Todo mundo tem aquele filme favorito, que já assistiu várias vezes. Ou o livro que você lê em todas as férias. Quem nunca passou o fim de semana maratonando todos os episódios daquela série nova? E antes mesmo da tão famosa Netflix, quem aqui já deixou de sair de casa para assistir o final daquela novela – mesmo sabendo que iria ser reprisada no dia seguinte. O entretenimento é essencial em nossas vidas, pois esta diretamente relacionado ao bem-estar que sempre buscamos. E claro, não dá para negar que o conteúdo audiovisual é uma das principais fontes de entretenimento da atualidade. Quem nunca correu para o Youtube quando o tédio bateu, não é mesmo?

Não é por acaso que até 2020, 80% dos conteúdos que vão circular pela internet serão audiovisuais. Além de entreter, esse formato também pode ser utilizado como informativo. Em pleno século XXI, e por toda essa importância, não dá mais para fechar os olhos para a diversidade e a necessidade de representatividade. É preciso mostrar a realidade das pessoas com deficiência. Aqui seguem dicas de série, filme, livros e canais do YouTube que mostram essa realidade, discutem temas importantes e dão protagonismo para as questões das pessoas com deficiência.

ABC/RINGER ILLUSTRATION

THE GOOD DOCTOR 24 julho 2019

A série de TV estadunidense mostra a história de Shaun Murphy, um jovem médico com autismo, que se muda do interior, para começar a trabalhar como residente de cirurgia em um famoso hospital. Além dos desafios da profissão, Shaun precisa provar sua capacidade a seus colegas e superiores.


THE FUNDAMENTALS OF CARING O filme conta a história de Ben, um escritor que sofreu grandes perdas em sua vida. Ao entrar em uma profissão que muda suas perspectivas, Ben conhece seu primeiro cliente,Trevor,. O jovem de 18 anos possui distrofia muscular; e tem uma boca bem afiada Juntos, eles embarcam em uma viagem por todos os lugares mais bizarros do país.

NETFLIX

MENTIRA PERFEITA

O FILHO ETERNO

A escritora Carina Rissi prova mais uma vez que o seu forte é contar boas histórias, com ritmo acelerado e repletas de paixão, humor e reviravoltas. O spin-off de Procura-se um marido, conta a história de Júlia e sua paixão por Marcus, Cassini, um jovem irritante e cinico, que perdeu o movimento das pernas após um acidente.

Nessa incrivel obra nacional, o escritor Cristóvão Tezza expõe as dificuldades, inúmeras, e as saborosas pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down. Aproveita as questões que aparecem pelo caminho nestes 26 anos de seu filho Felipe para reordenar sua própria vida.

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VAI UMA MÃOZINHA AI? Com mais de 156 mil inscritos, o “Vai uma mãozinha aí?” é considerado o maior canal sobre pessoas com deficiência do Brasil, dividindo espaço com um perfil no Instagram (40 mil seguidores) e uma página no Facebook (10 mil curtidas). A estrela do canal é Mariana Torquato, moradora de Florianópolis. A jovem, hoje com 26 anos nasceu sem o antebraço esquerdo, resultado de um medicamento ingerido por sua mãe durante a gestação. No canal, a jovem manezinha debate os direitos já alcançados e os que ainda estão longe de chegar aos deficientes do país.

Os videos do seu canal trazem títulos que atraem pessoas com deficiência ou não, como “O quê aconteceu com o meu braço?”, “Deficiente faz sexo?”, “Recado para a Vogue” e “João Dória e as crianças defeituosas”. Até hoje, o mais acessado foi a história de seu próprio “bracinho”, como ela mesma carinhosamente o chama. Mariana trata com muito bom humor e consciência de assuntos que a sociedade faz serem delicados, mas que deveriam ser expostos com maior naturalidade para não serem vistos com tanta estranheza por quem não tem deficiência.

ND ONLINE/ FLAVIO TIN

26 julho 2019


+YOUTUBERS MUNDO ASPERGER Selma Sueli Silva é mãe de Victor Mendonça, e ambos fazem o canal, que discute como é viver com autismo. Entre os temas abordados nos vídeos estão sexualidade, terapias, comportamento e até literatura. YOUTUBE

LÉO VITURINNO Assuntos do momento como séries, decoração, filtros e aplicativos para tirar as melhores fotos tudo em LIBRAS (com lengendas). Viturinno também discute no canal a importância da inclusão e mitos e verdades sobre surdez. BLOG SURDO PARA SURDO

VIAGEM ACESSÍVEL Débora Pedroso, é carioca, mora na Flórida (EUA) e adora viajar. Em seu blog e canal de YouTube, faz posts dizendo se as cidades que visita estão realmente adaptadas e acesssíveis para pcds. Pedroso ainda faz relatos de como é andar de avião, entrar no mar e ter o próprio carro. YOUTUBE

CACAI BAUER A vaidosa baiana Cacai Bauer tem 22 anos. Com mais de 8 mil inscritos em seu canal do YouTube, ela tem conquistado fãs por todo o País e influenciado na luta contra o preconceito. Cacai é a primeira youtuber brasileira com Síndrome de Down. O POVO ONLINE

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DICAS ACESSÍVEIS UNSPLASH

1) Sempre que quiser ajudar uma pessoa com deficiência, pergunte se ela deseja ajuda e qual a melhor maneira de proceder.

6) Ao conversar com uma pessoa que apresenta dificuldade na counicação, peça a ela que repita ou escreva, respeitando o ritmo de sua fala.

2) Não se apoie na cadeira de rodas. Isso pode causar incomodo à pessoa com deficiência.

7) Quando o surdo estiver acompanhado do intérprete, fale diretamente com a pessoa surda, não com o intérprete.

3) Ao conduzir uma pessoa cega, ofereça seu braço para que ela segure. Não agarre-a. Informe os obstáculos. Num corredor estreito, por onde passa só uma pessoa, coloque o braço para trás para que a pessoa cega continue seguindo você.

8) Nunca movimente a cadeira de rodas sem antes pedir permissão. Quando parar para conversar com alguém, lembre-se de virar a cadeira de frente, para que a pessoa também possa participar da conversa.

4) Sempre que se ausentar do local onde há uma pessoa cega, informe-a.

9) O cão-guia nunca deve ser distraído. Evite brincar com o cão, pois a segurança de uma pessoa pode depender de seu alerta e concentração.

5) Para ajudar uma pessoa cega a sentar-se, você deve guiá-la até a cadeira e colocar a mão dela sobre o encosto, informando se esta tem braços ou não.

10) Ao conversar com uma pessoa em cadeira de rodas, caso a conversa seja prolongada, sente-se para ficar no mesmo nível de seu olhar.


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