Balanco da década 2001-2010

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Este suplemento faz parte integrante do DIÁRIO AS BEIRAS de 3 de Janeiro de 2011 e não pode ser vendido separadamente

Na entrada de 2011, o DIÁRIO AS BEIRAS passa em revista os principais acontecimentos que marcaram a última década na região Centro. E destaca as figuras do ano 2010. Com o sublinhar do melhor e pior do passado, este documento ajuda a refletir um 2011 pleno de decisões e acontecimentos que se desejam de sucesso

2001 2010 UMA DÉCADA EM BALANÇO

S A Ú D E E D U C A Ç Ã O C U LT U R A P O L Í T I C A A M B I E N T E D E S P O R T O E C O N O M I A


20012010 AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE

em destaque 2001 – 14 anos depois da publicação da lei de bases do ambiente, Portugal vê finalmente aprovada uma Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Entram em reta final o Plano Nacional da Água e os Planos de Bacia Hidrográfica. 2002 – Depois de anos a fio a selar antigas lixeiras ou a transformá-las em modernos aterros sanitários, a última lixeira a céu aberto, ainda em funcionamento, foi selada, em Évora. Para chegar a esta situação ambiental foram necessários 935 milhões de euros e cinco anos e 28 dias. 2003 – É criada, em maio, a primeira empresa municipal do concelho: a Águas de Coimbra, substituindo uma estrutura de grande prestígio: os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Coimbra. Setembro de 2004 – É selada, em setembro, a célula 1 do Aterro de Taveiro, explorado pela ERSUC. Na mesma altura, entra em funcionamento a célula que atualmente está em funcionamento e que se prevê que feche, definitivamente, no último trimestre deste ano. Julho de 2005 – No dia 1 de julho, e na sequência de um processo que se iniciou pouco depois de 2000, o Governo de José Sócrates, o PSD e o CDS apresentam na Assembleia da República projetos de “Lei Quadro da Água”. A 29 de dezembro a lei 58/2005 é aprovada, estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas. 2006 – No ano da publicação oficial dos planos estratégicos para o setor das águas (PEAASAR) e dos resíduos sólidos urbanos (PERSU), o Instituto de Resíduos (a que sucedeu a Agência Portuguesa do Ambiente, em 2007) é designado como Autoridade Nacional de Resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro). 2007 – Dados oficiais apontam para que a área ardida é a menor dos últimos cinco anos. Em 2009, porém, a GNR faz “estalar a bronca”, ao denunciar a manipulação de dados. Julho de 2008 – Entra em vigor a 2.ª fase do Sistema de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior (SCE). Todos os edifícios novos, independentemente da área ou fim, são obrigados a possuir uma declaração de conformidade regulamentar. 2009 – Os líderes políticos mundiais falham o acordo em Copenhaga, para que o combater às alterações climáticas, depois de 2012.

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A água no centro do novo século Uma década que fica marcada por grandes avanços de natureza legislativa, em matéria de Direito do Ambiente, mas que não tiveram, ainda, a correspondência prática que se desejaria. No rescaldo, ficam os extraordinários avanços no que respeita à cobertura nacional por redes de abastecimento de água potável, mas também a consciencialização coletiva da relevância deste escasso e precioso bem.

Os programas Polis, de requalificação das principais . Paulo Marques paulo.marques@asbeiras.pt

Há vinte anos, Portugal era um país feio e sujo. No dealbar do novo século, abundavam os projetos e as vontades revolucionárias de inverter décadas de degradação ambiental. Desde então, muito se fez. Tudo começou – vale a pena recordar – com José Sócrates, que, como se sabe, foi o ministro do Ambiente do segundo governo de António Guterres, até ao fim do primeiro trimestre de 2002, portanto. Ao seu consulado se deve, reconheça-se, a coragem de romper imobilismos e arriscar soluções... de risco político notório, como a co-incineração de resíduos industriais perigosos Mas o atual primeiro-ministro vai ficar para sempre ligado a medidas ambientalmente tão relevantes quanto o programa de erradicação de lixeiras, o objetivo nacional de abastecimento de água e de recolha, tratamento e rejeição de resíduos sólidos urbanos e, também, os programas de requalificação ambiental das cidades, Polis – aqui com passos de “gigante”, nos casos que beneficiaram, em primeira instância, as principais cidades de média dimensão da região Centro, como as capitais de distrito (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu) e outras, como a Covilhã. Nos tempos mais recentes, embora já co-

mo primeiro ministro, há que creditar-lhe a séria aposta que tem sido feita na promoção das energias renováveis. Sistemas multimunicipais Em detalhe, pode dizer-se que a década começou da melhor forma, com o fim de linha para as lixeiras a céu aberto, em todo o país. Aqui, como noutras áreas, a estratégia passou pela criação de empresas com uma forte componente multimunicipal, mas sempre sustentadas e/ou impulsionadas pela Empresa Geral de Fomento – já então integrada, como subholding para a área dos resíduos no Grupo Águas de Portugal (AdP). Foi, de resto, a partir deste gigante económico em crescimento acelerado que muitos outros sistemas se desenvolveram e estão a desenvolver. É, desde logo, o caso do abastecimento de água e das redes de saneamento. Aos poucos, o país – e também a região Centro – foi sendo como que “retalhado” por sistemas multimunicipais. A água, diga-se, assume-se cada vez mais como fator central das políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável. Bem cada vez mais escasso, a água com qualidade já não é mais o que foi, no passado e o país (e uma boa parte do mundo) interioriza uma consciencialização muito significativa da importância de salvaguardar a água e a sua qualidade. O reverso da medalha surge,

Desenvolveu-se o tratamento de águas residuais entretanto, com os sinais cada vez mais claros de que os preços vão disparar e, também, de que grandes grupos privados olham o setor com avidez. (Des)ordenamento Mais devagar se avançou, infelizmente, nos meandros do ordenamento do território – área sempre muito permeável a fatores externos e, designadamente, ao desenvolvimento económico e à pressão imobiliária. Esta realidade afeta áreas tão diferentes como a orla costeira ou zonas ambientalmente sensíveis, algumas mesmo protegidas, onde têm vindo


AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE Arquivo-Luís Carregã

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as figuras Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

José Sócrates – A primeira década do novo século “apanhou-o” como ministro do Ambiente e poucos imaginariam quanto a sua herança haveria de marcar os anos seguintes. Para o bem e para o mal. Algumas das suas medidas haveriam de ser contestadas. Outras corrigidas. Mas nenhuma erradicada. A história dirá se a sua passagem pelo ambiente se sobreporá à liderança do país... Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

cidades médias, foram dos mais significativos empreendimentos públicos na área do ambiente Arquivo-Paulo Leitão

Arquivo-Paulo Leitão

Arquivo

Castanheira Barros – Advogado especializado em Criminologia, era, há uma década, um quase desconhecido. Fez da luta contra a coincineração em cimenteiras a sua cruzada. Fê-lo munido das suas armas – a ciência jurídica –, travando sucessivas batalhas judiciais, quer em Coimbra quer na península de Setúbal. Foi sempre perdendo. Mas, tal como no PSD, partido de que é militante, desistir não é o seu lema. E a verdade é que se, hoje, ainda subsiste algures uma réstea de interesse pelo destino dos resíduos industriais perigosos a ele se deve. Arquivo

A problemática dos fogos e a reciclagem também marcam a década a ser autorizados grandes projetos turísticoimobiliários, menosprezando a preservação das espécies e habitats. Ainda assim, o Centro não será das regiões mais afetadas, podendo mesmo dizer-se que, aqui, as áreas protegidas são ainda o garante para a proteção do que a região tem de melhor: as suas gentes e cultura, as suas paisagens e o seu património natural. Poluição no Lis e coincineração Na região Centro, porém, subsistem ainda graves problemas do foro ambiental. A erosão da orla costeira é um exemplo. Tal como é o

grave problema de poluição no rio Lis, provocado pelas descargas repetidas e criminosas dos efluentes com origem nas suiniculturas. Há, como se sabe, compromissos firmados, financiamentos garantidos e projetos em curso. Mas o problema persiste. Por fim, como não pode deixar de ser, vale a pena voltar a referir a chaga da coincineração em Souselas – que tanto mexeu e fez mexer Coimbra e a sua região, num processo político-ambiental que está longe de estar sanado, não obstante as sentenças judiciais já transitadas em julgado. Em suma, Portugal avançou muito, em ter-

mos ambientais. E, no que respeita ao Direito do Ambiente, encontra-se mesmo ao nível, quando não até à frente, da realidade de outros Estados Europeus. O problema – há sempre um problema e, em Portugal, é um problema crónico – é a dificuldade em fazer valer essas boas leis que deveriam proteger o ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos. Não obstante, no todo europeu e, sobretudo, em comparação com os países da chamada Europa Ocidental, os atrasos são ainda muito significativos. Basta atentar, por exemplo, na péssima qualidade do ar nos principais centros urbanos.

Dulce Pássaro – Depois de Elisa Ferreira, a área do Ambiente voltou a ter uma mulher como titular da pasta, no Governo. Mas, ao contrário da agora eurodeputada, a atual ministra – que é oriunda de Oliveira do Hospital, onde foi, até há pouco, membro da assembleia municipal – prima por uma discrição que roça a invisibilidade, com reflexos notórios nas cada vez maiores fragilidades, ao nível da decisão política, que o setor atravessa.

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em destaque novembro de 2000 – Lançada a primeira pedra para a construção do Centro de Artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz, num projeto do arquiteto Luís Marçal Grilo, que havia de ser inaugurado a 1 de Junho de 2002, tendo-se convertido num pólo de atração e projeção do concelho a nível regional e nacional. Outubro de 2002 – A Escola da Noite instala-se na Oficina Municipal do Teatro de Coimbra, a aguardar a conclusão da obra do Teatro da Cerca de São Bernardo. Mais tarde, a infraestrura do Vale das Flores seria ocupada pelo Teatrão.

A década de Santa Clara-a-Velha Submerso durante quatro séculos, o mosteiro medieval de Coimbra alimentou polémicas e acabou por reunir consensos em torno da melhor forma para a sua conservação e devolução à cidade. Um ano depois de abrir portas, é o “melhor” museu português.

Janeiro de 2003 – Coimbra Capital Nacional da Cultura teve início com um programa a três tempos: a exposição “Escultura de Coimbra: do Gótico ao Maneirismo” abriu na Sala da Cidade; na Casa da Cultura inaugurouse uma outra exposição, sobre Miguel Torga, integrada no projecto “A Rota dos Escritores”; no TAGV apresentouse a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Yaron Traub e acompanhada ao piano por Pedro Burmester.

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Abril de 2003 – Constituição do Jazz ao Centro Clube (JACC), a partir de Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, no âmbito de Coimbra Capital Nacional da Cultura. Junho de 2003 – A Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, onde estão sepultados os primeiros reis de Portugal, passa à categoria de Panteão Nacional. Setembro de 2003 – Os Rolling Stones atuaram no renovado Estádio Cidade de Coimbra, num concerto considerado como um dos maiores de sempre em Portugal. Abril de 2005 – No dia 25, um concerto de José Mário Branco inaugurou o Teatro Municipal da Guarda, um edifício construído no centro da cidade, num investimento de 10 milhões de euros. O processo de requalificação começou em 1992, mas a abertura ao público só aconteceu em abril de 2009 Junho de 2005 – Morre, no POrto, onde vivia, Eugénio de Andrade, o poeta nascido no Fundão e que estudou em Coimbra. Abril de 2009 – Abertura ao público do projeto patrimonial e museológico de Santa Clara-a-Velha, na margem esquerda do Mondego, em Coimbra. Outubro de 2010 – Dois concertos que trouxeram milhares de pessoas ao Estádio Cidade de Coimbra. Bono Vox e os irlandeses U2 foram monumentais.

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. Lídia Pereira lidia.pereira@asbeiras.pt

A década que, em Coimbra, quase teve início com mais uma das inúmeras ocasiões perdidas para a cidade – Capital Nacional da Cultura 2003 –, foi marcada, indelevelmente marcada, por um projeto que, está provado, tem tudo para se afirmar dentro e fora do país: depois de 400 anos submerso pelas águas do Mondego, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha renasceu em todo o seu esplendor e acaba de ser considerado o “melhor” museu português pela Associação

Portuguesa de Museologia. Isto depois de ter conquistado outras importantes distinções, de que são exemplo o Prémio Internacional AR&PA 2010, atribuído pela Junta de Castela e Leão, e o Prémio Europa Nostra, na área da conservação e restauro, entregue em junho último em Istambul, na Turquia (no âmbito da Capital Europeia da Cultura). Aberto ao público em abril de 2009, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha está a aproximar-se dos 100 mil visitantes. De então para cá, num processo em que o enquadramento científico, nomeadamente na área da arqueologia – Santa

Clara-a-Velha é hoje o mais importante “sítio” medieval da Europa –, tem sido de um rigor absoluto e reconhecido, os 7,5 milhões de euros financiados pelo Programa Operacional da Cultura serviram para construir uma “cortina” para contenção das águas e lançar um concurso internacional para a valorização da ruína e espaço envolvente (arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez), com o restauro da igreja e claustro, escavações arqueológicas e a construção de um edifício de raiz para o Centro Interpretativo. Mas a década da cidade em termos


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patrimoniais conheceu outras marcas importantes: a intervenção no Pátio da Inquisição, com a instalação do Centro de Artes Visuais (arquiteto João Mendes Ribeiro) e a construção do Teatro da Cerca de São Bernardo (arquiteto Luís Durão) ; a instalação do Pavilhão de Portugal (arquitetos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura); a primeira fase do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra no Laboratório Chimico (arquitetos João Mendes Ribeiro, Carlos Antunes, Désirée Pedro) – a que, infelizmente, acabou por corresponder o “limbo” interminável do Museu Nacional da Ciência e da Técnica. Museu Machado de Castro Outro caso paradigmático é o da requalificação profunda no Museu Nacional de Machado de Castro (Gonçalo Byrne), cuja abertura total irá acontecer apenas em 2011. Realce ainda para a requalificação da Casa das Caldeiras (João Mendes Ribeiro, Cristina Guedes) e também a intervenção e inauguração da Casa da Escrita (João Mendes Ribeiro). Para a década que agora irá iniciar-se anunciam-se igualmente projetos marcantes, de que são exemplo a intervenção no Convento de S. Francisco (Carrilho da Graça) ou a segunda fase do Museu da Ciência da UC no Colégio de Jesus (arquitetos Carlos Guimarães, Luís Soares Carneiro). Oficina e Teatro da Cerca No que respeita a novos equipamentos culturais – que a cidade reclamou anos a fio –, a década, não sendo pródiga, acabou por não desiludir: à Oficina Municipal do Teatro de Coimbra – a acolher O Teatrão –, juntou-se depois, num processo que, à semelhança de outros na área cultural, não teve nada de pacífico, o Teatro da Cerca de São Bernardo – onde reside e programa A Escola da Noite. E, muito recentemente, numa vocação anunciada para as áreas da música e da dança, o Auditório do Conservatório de Música de Coimbra, magnífico espaço a oferecer condições técnicas até agora inexistentes na cidade. De novos ou requalificados equipamentos culturais reza ainda parte substancial da década cultural na região Centro. Década que, recorde-se, acaba por ficar para a história do país como aquela em que se estruturou uma rede de equipamentos culturais, a que falta agora igual empenho em termos de densificação e coordenação programática.

Mas, no que ao Centro respeita, essa não parece ser a regra: do Centro de Artes e Espetáculos (CAE) da Figueira da Foz – agora a acolher em residência e programação a Vórtice Dance – ao Teatro Municipal da Guarda – dinamizado a um nível de qualidade artística que não é muito vulgar na nossa realidade quotidiana –, a dinâmica cultural associada a espaços e equipamentos conhece outros exemplos de referência, como o Teatro Viriato, em Viseu, com a Companhia Paulo Ribeiro, ou o Novo Ciclo, em Tondela, com a ACERT. De volta a Coimbra, na área da música, para lá da confirmação e afirmação de projetos e carreiras como a de Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) e dos Sean Riley and The Slowriders ou do terminus de outros que deixaram marcas profundas, como os Belle Chase Hotel, a década fica para os anais como aquela que assistiu ao nascimento e desenvolvimento de um projeto centrado na divulgação e na pedagogia: a Orquestra Clássica do Centro, agora instalada e a programar o Pavilhão de Portugal. CAV e CAPC As artes visuais, continuam a marcar dois projetos fundamentais: os Encontros de Fotografia/Centro de Artes Visuais (sob a tutela carismática de Albano Silva Pereira) e o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (até há muito pouco dirigido por Victor Dinis e agora sob a coordenação de Carlos Antunes). Mas, nos anos mais recentes, também o cinema – para lá do cineclubismo – assumiu um protagonismo fundamental. Para além da afirmação do festival Caminhos do Cinema Português, dois nomes ganharam relevo e reconhecimento: António Ferreira, realizador de Coimbra, instalou-se em Casconha, Cernache, com uma produtora que tem feito filmes para o mundo; Jorge Pelicano, realizador da Figueira da Foz, assumiu-se com dois trabalhos – “Ainda há pastores?” e “Pare Escute Olhe” – no mundo português do documentário. De entre as personalidades que Coimbra e o Centro “deram” ao país em termos culturais, destaque ainda para António Filipe Pimentel, antigo pró-reitor para a área do Património da Universidade de Coimbra e professor do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da UC, que “saiu” da direção do Museu Grão Vasco, em Viseu, para assumir os destinos do mais importante projeto museológico nacional: o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

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as figuras DB-Luís Carregã

Centro de Artes Visuais (Coimbra) DR

Paulo Furtado – Nasceu para a música, em Coimbra, com os míticos Tédio Boys. Cresceu, depois, em projetos como os Wraygunn. Mas é como The Legendary Tigerman que o homem do blues e estilo singular se afirmou na década. A confirmar, os dois últimos discos: “Masquerade” (2006. Nortesul/ BMG) e “Femina” (2009. EMI). DR

Teatro Municipal da Guarda DR

João Mendes Ribeiro – O arquiteto de Coimbra marcou, definitivamente, a década com uma obra a estender-se igualmente à cenografia, que tem exercido com alguns dos maiores nomes das artes do palco em Portugal, de Olga Roriz a Ricardo Pais. Na arquitetura, a sua marca fica em projetos com a importância das Celas da Inquisição (CAV), do Laboratório Chimico ou da Casa das Caldeiras. DB-Luís Carregã

DR

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Museu Machado de Castro

Jorge Pelicano – Transformou-se, desde que deu a conhecer o seu primeiro trabalho – “Ainda há pastores?” –, num dos nomes cimeiros do documentário português. O jovem realizador da Figueira da Foz confirmou talento e arte no mais recente “Pare Escute Olhe”.

Centro de Artes e Espetáculos (CAE), na Figueira da Foz

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em destaque novembro de 2002 – É inaugurado, dia 17, o Estádio Sérgio Conceição, em Taveiro. Uma homenagem a um dos jogadores de Coimbra com maior projeção internacional.

setembro de 2008 – António Marques (prata) e Paulo Fernandes (ouro) conquistam as primeiras medalhas para Portugal na edição de Pequim dos Jogos Paralímpicos.

setembro de 2003 - No sítio do velho “Municipal”, é inaugurado, dia 27, o Estádio Cidade de Coimbra, que viria a acolher o Euro’2004.

julho de 2009 – Vasco Gervásio faleceu, aos 65 anos, vítima de doença prolongada. O adeus a uma glória da Académica, que foi o segundo jogador com mais jogos pela Académica, a seguir a Miguel Rocha, tendo sido também dirigente do clube.

julho de 2004 – No Estádio da Luz, Portugal perde com a Grécia a final do Euro’2004, a 4 de julho. outubro de 2004 – O presidente da Académica João Moreno não resiste à doença e acaba por falecer. maio de 2005 - Apesar da derrota (4-0) nos Açores, a Naval termina em 2.º lugar na Liga de Honra e consegue a subida à Liga, pela primeira vez na história do clube.

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março de 2006 - As mulheres da Escola Agrária de Coimbra conquistam o campeonato nacional de râguebi feminino. O coroar de uma época em grande para a equipa das “charruas”.

fevereiro de 2010 – No estádio de Alvalade, a Naval vence o Sporting por 1-0, com golo de Fábio Júnior, aos 64 minutos. Um golo que deixaria os figueirenses na 8.ª posição da Liga. agosto de 2010 – A 1.ª jornada da Liga 2010/2011. A Académica vence, no Estádio da Luz, o Benfica, por 2-1, com um “chapeu” de Laionel, já com dois minutos de descontos... e a jogar com menos um. dezembro de 2010 – Horácio Antunes, presidente da AFC, candidata-se à presidência da FPF.

Uma década que mudou instalações e instituições Foram muitos os ilustres do desporto que partiram na última década. Dez anos marcados uma autêntica revolução no que diz respeito às infraestruturas na cidade de Coimbra, mas não só.

. Bruno Gonçalves bruno.goncalves@asbeiras.pt

Sobre os últimos 10 anos, entre vitórias, derrotas, alegrias e tristezas, muita coisa mudou na região, principalmente nas instituições e nas infraestruturas. O início da década, com Campos Coroa na presidência da Académica, fica marcado pela chegada de João Alves a Coimbra. O homem que viria a virar uma página importante na história recente do clube. Consequência dessa chegada, o ano de 2002 foi talvez o que mais marcou os amantes do futebol em Coimbra. Após várias épocas de altos e baixos, a Académica regressava ao principal escalão do futebol português. Costuma dizer-se que a cidade tem mais magia na altura da Queima das Fitas... e talvez tenha sido isso mesmo que fez com que a Académica conseguisse a subida de divisão, à última jornada, em plena festa académica. Os estudantes, no verdadeiro sentido da palavra, ou não, festejaram por toda a cidade, o fechar de um ciclo de mais de uma década de 2.ª Divisão, em que as exceções foram as épocas de 1997/1998 e 1998/1999. Em virtude do início das obras que deitaram abaixo o velho estádio do Calhabé, nasceu

em Taveiro o Estádio Sérgio Conceição, onde a Académica viria a jogar a época 2002/2003. Não foi um ano fácil e não fora um golo de Paulo Adriano, à última jornada, e a Académica tinha regressado à Liga de Honra. Um jogo de nervos, em que todos ficaram 90 minutos agarrados aos rádios de bolso. Certamente que também poucos se terão esquecido da vitória da Naval, em jogo a contar para os quartos-de-final da Taça de Portugal, em pleno Estádio de Alvalade... frente ao Sporting, numa altura em que os figueirenses militavam ainda na Liga de Honra. Viriam a “cair de pé”, no Estádio das Antas. Novo estádio em Coimbra Já com João Moreno na presidência, 2003 marca o início de uma nova era para a Briosa. É a inauguração do Estádio Cidade de Coimbra e, depois das enchentes do Calhabé... e do Sérgio Conceição, são cada vez menos os adeptos a lotar um estádio de 30.000 lugares. É impossível falar de 2004 sem pensar na última vitória do campeonato nacional pela Secção de Rugby da Académica. Uma das mais antigas e prestigiadas equipas da modalidade no país. No entanto, à distância de meia-dúzia de anos, poucos se lembrarão de algo mais do Arquivo

A subida à I Liga foi um marco na história da Naval

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AMBIENTECULTURADESPORTOECONOMIAEDUCAÇÃOPOLÍTICASAÚDE Arquivo

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as figuras Arquivo-Rogério Neves

Aprígio dos Santos – Desde 1992, há 19 anos, que Aprígio dos Santos dirige os destinos da Associação Naval 1.º de Maio. Nos últimos anos viveu vários momentos marcantes sendo, certamente, o que mais anos perdurará na história do clube a subida à então 1.ª Divisão Nacional, na época 2005/2006. Desde essa altura que a associação dirigida por Aprígio Santos se mantém no principal escalão do futebol português. Arquivo

O Euro’2004 trouxe uma revolução nas infraestruturas futebolísticas do país. Coimbra ganhou um estádio novo, inaugurado em 2003 que o Euro’2004. Coimbra, Aveiro e Leiria acolheram a mais importante competição futebolística alguma vez realizada em Portugal. As cidades, os cidadãos e principalmente as autarquias, foram obrigados a um grande esforço para que Portugal voltasse a colocar-se no mapa dos grandes eventos. Nalguns casos, ainda hoje o estão a pagar. José Eduardo Simões Em Coimbra há ainda a recordar o falecimento de João Moreno, presidente da Académica. José Eduardo Simões, até então presidente interino, foi depois o escolhido para próximo presidente, num processo eleitoral que o opôs a Maló de Abreu. A meio da década, mais propriamente no verão de 2005, foi na Figueira da Foz que se festejaram com empenho as vitórias do futebol. A Naval subiu pela primeira vez à Liga, com Rogério Gonçalves ao comando, coroando da melhor forma a dedicação de dirigentes empenhados... mas de um em particular: Aprígio dos Santos. Coimbra inaugurou as duas principais infraestruturas da década, o Pavilhão Multidesportos – que depois veio a ganhar o nome de Mário Mexia, que faleceu em 2009 – e o Complexo de Piscinas Olímpicas. Em 2006, as mulheres da Escola Superior Agrária de Coimbra sagram-se campeãs de râguebi e a cidade acolhe o 20.º campeonato

Ouro e prata paralímpicos Os Jogos Paralímpicos de Pequim, em 2008, ficam na memória. Afinal, Portugal conquista as medalhas de ouro e prata na prova de boccia BC1. Melhor, as medalhas vêm para a região Centro. Paulo Fernandes (Vale de Cambra) e António Marques

(Penacova) pintam o pódio a vermelho e verde. Os 12 meses de 2009 revelaram-se negros para a Académica. Não pelos resultados desportivos, mas pelos nomes que viu partir. João Mesquita, Vasco Gervásio, Isabelinha, Mário Mexia, Guilherme Luís e Cagica Rapaz deixaram a Briosa de luto. Sobre o último ano, muito haveria a dizer: destaque para o 8.º lugar em que a Naval terminou a Liga, a melhor classificação de sempre, e para o grande arranque da Académica na época 2010/2011.

Arquivo

Arquivo

do mundo de ginástica acrobática, reunindo cerca 720 participantes. Em 2007, nasce uma insfraestrutura há muito esperada pela Académica: a Academia Briosa XXI, nos campos do Bolão.

O Euro’2004 e a consolidação da Briosa na I Liga em destaque

Ticha Penicheiro – A melhor basquetebolista portuguesa de todos os tempos é natural da Figueira da Foz e tem levado o nome da cidade ao mundo. Ticha é a jogadora da WNBA que fez mais assistências em toda a história da Liga, liderando também nas assistências por jogo. Detém ainda o recorde de maior número de roubos de bola num jogo, com 10, entre outros títulos, nomeadamente o de campeã de Portugal na longínqua época de 1992/93. Agora, de regresso ao seu país natal, está atualmente no Algés. Arquivo-Luís Carregã

António Marques – Desde sempre ligado à competição de boccia, António Marques viveu um dos momentos mais altos com as duas medalhas de prata nos Jogos Paralímpicos de Pequim, na modalidade de boccia. O atleta, natural de Penacova, participa em competições internacionais de boccia desde 1986, e foi o capitão da equipa nacional durante mais de 10 anos. Entre outras distinções, foi agraciado com o Prémio Carreira da Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes.

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Fevereiro de 2001 – A farmacêu-

Base tecnológica substituiu ind

tica Bluepharma adquiriu a Bayer de Coimbra. Especializou-se na fabricação de genéricos e patentes de medicamentos.

As fábricas tradicionais de têxteis e cerâmica foram substituídas por empresas de nova ger

em destaque

Maio de 2002 – O Instituto Pedro Nunes, constituído em 1991 pela Universidade de Coimbra, cria a incubadora de empresas, de onde saíram dezenas de projetos de base tecnológica.

Setembro de 2003 – É inaugurado o

Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

Museu do Vinho da Bairrada. A parceria da Câmara de Anadia com a Comissão Vitivinícola é o símbolo dos novos tempos da economia em redor do vinho, como o enoturismo, mas respeitando a tradição.

Janeiro de 2005 – A farmacêutica Labesfal, com sede em Campo de Besteiros, Tondela, é vendida por Joaquim Coimbra à multinacional Fresenius Kabi, líder na produção de medicamentos para terapêutica intravenosa.

Fevereiro de 2005 – Parceria entre a Turistrela e a Vodafone para a estância de Esqui da Serra da Estrela, que passa a ter o nome da operadora de telecomunicações. Abril de 2005 – É inaugurado o Centro Comercial Dolce Vita Coimbra, integrado no complexo residencial Studio Residence e equipamentos desportivos. A Bluepharma é um dos maiores exemplos de sucesso. Nascida no início da década, afirmou-se depois de comprar a Bayer de Coimbra Setembro de 2005 – Entra em funcionamento, em Cantanhede, o Biocant – Centro de Inovação em Biotecnologia. A inauguração da segunda fase, por José Sócrates, ocorre em 2010.

Abril de 2006 – Abre o Forum Coimbra, o maior centro comecial da cidade, que passa a ser um verdadeiro pólo dinamizador da margem esquerda.

Outubro de 2006 – Entra em laboração a nova linha de engarrafamento da fábrica do Licor Beirão (Lousã), em simultâneo com a renovação da imagem da marca. Em junho de 2006 havia falecido o fundador, J. Carranca Redondo.

. António Rosado antonio.rosado@asbeiras.pt

Economia em Coimbra e na região Centro rima com comércio e consumo, mas também com empreendedorismo e produção industrial. Qualquer que seja a perspetiva, a última década foi marcante para a economia deste território. Surgiram as grandes “catedrais de consumo” em todas as sedes de distrito e outras cidades secundárias, consolidaram-se três grandes grupos empresariais (nos distritos de Leiria e Viseu) e afirmaram-se outros tantos gigantes exportado-

res, com sede em Mangualde (Peugeot-Citroen), Cacia/Aveiro (Vulcano-Bosch Termotecnologia) e Figueira da Foz (Soporcel). Logo no início da década, a Portucel adquiriu a Papéis Inapa e a Soporcel (fábrica de celulose localizada na Leirosa), formando o maior grupo produtor europeu de pasta branca de eucalipto e de papéis finos não revestidos. Em 2004, a Semapa adquiriu a maioria do capital deste grupo iniciando um novo ciclo onde se atingiu um volume de negócios superior a 600 milhões de euros e o terceiro lugar das empresas exportadoras portuguesas.

Mesmo ao lado labora a Celbi (Celulose Beira Industrial), também de pasta de papel e integrada no grupo Altri. Desde 2000 foi considerada oito vezes pela revista Exame a melhor empresa do setor. Com um volume de negócios anual de 140 milhões de euros, fez um investimento de 350 milhões este ano, o que lhe permite duplicar a produção. Paralelamente foi construída uma central termoelétrica a biomassa florestal, pertencente à EDP-Produção Bioelétrica, enquanto a cidade via concluída a empreitada de prolongamento do molhe norte do porto de mercadorias e pesca.

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Bosch-Vulcano investe nos painés solares Mais a norte, em Cacia/Aveiro está instalado o líder europeu e terceiro produtor mundial de esquentadores: a Bosch-Vulcano afirmou-se ao longo da década na conceção e fabricação de caldeiras a gás e painéis solares. Exporta mais de 100 milhões de euros. No distrito de Viseu, em Mangualde, a Peugeot-Citroen, consolidou nos últimos anos a sua presença em Portugal. Depois de um momento difícil ocorrido há cerca de dois anos devido à quebra de procura do setor automóvel, em que foi necessário despedir meio milhar de trabalhadores, a laboração retomou a velocidade cruzeiro.

Outubro de 2008 – Abertura do Centro de Negócios de Ansião, instalado no Parque Empresarial do Camporês, que inclui o Estúdio 33 do mágico Luís de Matos. Junho de 2009 – José Sócrates inaugura a fábrica da espanhola Pescanova em Mira, empreendimento de aquacultura que custou 140 milhões de euros. Julho de 2010 – Cavaco Silva, inaugura novas instalações da Celbi (Figueira da Foz). Um investimento de 350 milhões de euros que permite à fábrica de pasta de papel duplicar a produção.

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A Estância Vodafone da Serra da Estrela é um pólo de dinamização da Beira Interior

Três grupos empresariais Com uma atividade mais diversificada no


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dústria tradicional

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ração. Também o comércio tradicional sucumbiu perante os grandes centros comerciais.

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Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

Paulo Fernandes – O presidente da Altri (PSI 20) recebeu das mãos de Cavaco Silva a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Agrícola Comercial e Industrial. O ato decorreu este ano na Figueira da Foz, nas instalações da fábrica Celbi, celulose do grupo onde foram aplicados 350 milhões de euros. É o maior investimento industrial da década na região Centro. DB-Gonçalo Manuel Martins

Cada um na sua área , os edifícios do Forum Coimbra e do Biocant, em Cantanhede, contribuiram para o desenvolvimento das respetivas cidades

mercado, os grupos empresariais Lena (Leiria), Martifer (Oliveira de Frades/Viseu) e Visabeira (Viseu) são outros exemplos de afirmação da década. Nascido junto às margens do Lena, o grupo com sede em Leiria adotou o nome do rio local mas projetou-se a nível global, alicerçado em empreitadas de concessões rodoviárias, barragens, hospitais e escolas. Avançou depois para o Ambiente e Energia, Automóveis, Turismo e Serviços e Comunicação. A Martifer surgiu como especialista em estruturas metálicas e progrediu para as energias renováveis. Tem 18 fábricas, sete delas no estrangeiro. Entrou na Bolsa em junho de 2007. No mesmo distrito, o grupo vizinho Visabeira tem três décadas de existência, mas foi nos últimos dez anos que a sua estrutura empresarial se consolidou de forma a avançar para a internacionalização. Cresceu na área da instalação de redes de Telecomunicações, evoluindo para a Energia, Turismo e Imobiliário. O Hotel Montebelo e o Palácio do Gelo (ambos em Viseu) são disso exemplo. Forum, Dolce Vita, Vivaci, Alegro... Ao ser inaugurado em abril de 2008, o Palácio do Gelo Shopping integrou um ciclo de aberturas de grandes centros comerciais que marcaram a década na região. Também em abril, mas um par de anos antes, em 2005 e 2006, surgiam em Coimbra, respetivamente, o Dolce Vita (integrado no complexo do Estadio Municipal) e o Forum Coimbra. Em outubro de 2007 aparecia o Forum Castelo Branco, cidade onde se instalou também outro complexo comercial com a insígnia Allegro. Na Guarda, há cerca de dois anos abriu o Vivaci e já este ano, em março, o Grupo Sonae concluiu o Sierra de Leiria, mais recente e maior do que o Sierra (Serra) da

Covilhã, que abriu portas no longínquo mês de novembro de 2005. No litoral, a cidade da ria foi a sede de distrito que iniciou esta vaga de inaugurações de grandes centros comerciais, ainda no final do século XX, como foram os casos do Aveiro Forum e do Glicínias Shopping. A Figueira da Foz não se deixou ficar para trás e também nessa altura avançou com o Foz Plaza. Leiria esperou 15 anos por um shopping Mais a sul, Leiria esperou 15 anos para ter um centro comercial de nova geração depois de ver gorado o projeto comercial integrado na requalificação do topo norte do Estádio Magalhães Pessoa. Nesta cidade também ficou por concretizar a vertente comercial do Cinema City, que abriu portas em fevereiro de 2007, constituindo-se como o maior complexo de cinemas da região. Uma outra unidade Cinema City, do grupo SIMO-Sociedade Imobiliária de Cinemas, chegou a estar anunciado para os primeiros anos da década nos terrenos da antiga Fábrica Triunfo em Coimbra, mas revelou-se um projeto falhado. Pelo contrário, esta foi foi a década das incubadoras. A do Instituto Pedro Nunes (IPN), associada à Universidade de Coimbra, foi a que obteve maior protagonismo, até porque ganhou (2010) o prémio de melhor incubadora de base tecnológica do mundo, concorrendo directamente com outras 50. Surgiram também a incubadora grupUnave (Aveiro) e o Biocant (Cantanhede). Com mais dificuldades em arrancar está a incubadora D. Dinis (Leiria), associada ao Instituto Politécnico de Leiria. De regresso a Coimbra, em 2006 foi constituído um núcleo de competências para gerir o projecto do iParque, uma área de 30+70 hecta-

res (duas fases) em Antanhol, vocacionada para receber empresas integradas em quatro clusters fundamentais: Ciências da Vida e da Saúde, Biotecnologia, Telecomunicações, Multimédia e Novas Tecnologias.O capital é detido maioritariamente pela câmara municipal e pela agência de desenvolvimento Coimbra Vita. A primeira fase já deveria estar concluída, mas a obra atrasou-se. Deverá ser uma obra emblemática da segunda década do milénio. Outro eixo de desenvolvimento, com os olhos postos em mercados internacionais, é a vitivinicultura.Em duas regiões demarcadas – Bairrada e Dão – a aposta tem sido na fabricação de vinhos de qualidade mundial, em que diversas casas rurais e caves competem com as adegas cooperativas. Com o trabalho de casa feito ao longo dos últimos anos, as exportações de vinho nacional em 2010 deverão atingir os 600 milhões de euros. O enoturismo e as “rotas do vinho” completam a oferta. Serra da Estrela aposta no ski Outra fileira económica da região que se consolidou na primeira década do milénio, foi o turismo de habitação, de charme e rural. No território da Beira Interior este investimento está a ser feito em redor dos destinos de montanha e neve. A Serra da Estrela passou a contar, desde 2005 com a Estância Vodafone, assumindo-se desde essa altura como verdadeiro domínio de esqui para os, cada vez mais, portugueses que revelam interesse pela modalidade. São nove pistas, com um total de 7,7 quilómetros. Sem reunir condições infraestruturais para competir com outras estâncias da Europa, consegue dar alguma resposta ao mercado interno, desde que os acessos estejam desimpedidos para chegar ao topo.

Teresa Mendes – Na liderança do Instituto Pedro Nunes há uma década, atingiu este ano o plano internacional mais elevado quando a instituição conquistou o primeiro lugar mundial entre as incubadoras de base tecnológica. A professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia continua empenhada em “transformar as ideias que surgem da investigação em negócio e levá-las até ao mercado”. Sobre a mais emblemática empresa que nasceu no IPN, afirma: “o que eu costumo dizer a brincar, mas muito a sério, é que a Critical Software ajudou mais a Incubadora do que a Incubadora ajudou a Critical Software”. Arquivo-Carlos Jorge Monteiro

Paulo Barradas – É o líder da Blupharma, empresa de Coimbra apostada no desenvolvimento e fabricação de medicamentos genéricos que tem feito um caminho de sucesso exportando 80 por cento da sua produção. A empresa que, em 2001, adquiriu a fábrica da Bayer/Coimbra cresceu, ampliou as instalações e triplicou a capacidade de produção (um bilião de unidades). Está envolvida na investigação de um potente fármaco contra o cancro.

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em destaque 2001 – A Universidade de Coimbra é fechada a cadeado durante uma semana contra os cortes orçamentais. Em dezembro, a assembleia magna regista a participação de mais de duas mil pessoas, a maior desde a crise de 1969. outubro de 2002 – Depois de ter sido reeleito no início do ano, reitor da Universidade de Coimbra Fernando Rebelo demite-se em outubro. 2003 -–Seabra Santos é eleito à primeira volta, com 70 por cento dos votos. Em outubro, o país chora a morte de Ferrer Correia, reitor honorário da Universidade de Coimbra. 2004 – O ano é fértil em contestações estudantis devido ao aumento das propinas. Em Coimbra, um dos momentos mais tensos acontece no Pólo II, quando os estudantes impedem a reunião do Senado. A polícia de intervenção, que o reitor Seabra Santos prometera nunca chamar, carrega. Resultam vários feridos e a detenção de um estudante.

A revolução necessária em todos os setores do ensino Cortes orçamentais, aumento do valor das propinas, lutas estudantis. Os primeiros 10 anos do milénio foram de transformações profundas no ensino superior. A Universidade de Coimbra conseguiu modernizar-se e apostou na internacionalização. A década foi também de contestação intensa às políticas encetadas pelo Ministério da Educação. Em 2008, Portugal assistiu a uma das maiores manifestações de sempre da classe docente.

2005 – Novas regras para os horários dos docentes e aulas de substituição geram controvérsia. 2006 – Em 2006-2007, a Universidade de Coimbra dá início ao Processo de Bolonha. Começam a funcionar os mestrados integrados em Psicologia e em Engenharia Informática. 2007 – O estatuto da carreira docente que o Ministério da Educação aprova solitariamente, é um dos fatores que levam milhares de professores (e sindicatos) a manifestarem-se. 2008 – Nuno Viegas Nascimento morre depois de uma vida dedicada à obra de Bissaya Barreto. outubro de 2008 – No dia 3 uma má notícia na Figueira da Foz. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior determina o encerramento compulsivo da Universidade Internacional. 2009 – Novo Regime Jurídico impõe alterações estatutárias de fundo: a eleição de novos diretores para as faculdades (ou de presidentes, para as unidades orgânicas dos politécnicos); a criação de um Conselho Geral, aberto a personalidades externas, com poderes alargados, que incluem, por exemplo, a eleição do reitor. 2010 – Isabel Alçada anuncia o encerramento de 701 escolas primárias. O Presidente da República promulga o diploma que regula o apoio do Estado aos estabelecimentos do ensino particular e cooperativo.

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Um dos momentos mais tensos acontece no Pólo II, q . Patrícia Cruz Almeida patricia.almeida@asbeiras.pt

É com a Universidade de Coimbra fechada a cadeado que começa a primeira década do milénio. Em novembro de 2001, os estudantes decidem encerrar, durante uma semana, as portas da instituição universitária contra os cortes orçamentais. A contestação é de tal ordem que, um mês depois, mais de dois mil alunos participam na maior assembleia magna desde a crise estudantil de 1969. Foi nos Jardins da Associação Académica de Coimbra, no mandato presidido por Humberto Martins. Relações tensas Os primeiros anos da década são marcados, também, pelas relações tensas com os reitores da universidade. Primeiro Fernando Rebelo: os estudantes exigem a sua demissão caso não se coloque ao lado da luta estudantil contra os cortes orçamentais anunciados na altura pelo Governo. “Não trabalho sob chantagem ou ameaças”, disse o então reitor. Em outubro de 2002 anuncia a sua demissão. Dois anos depois, nova hecatombe: um grupo de estudantes interrompe a cerimónia da abertura solene das aulas na universidade de Coimbra. Os cadeados voltam a fechar a Porta Férrea. A contestação dura todo o ano, mas um dos momentos mais tensos acontece em Outubro, no Pólo II, quando os estudantes tentam

impedir a reunião do Senado. A polícia de intervenção, que o reitor Seabra Santos prometera nunca chamar, carrega. Alguns estudantes ficam feridos e um deles é detido Começa o braço-de-ferro entre o reitor e os alunos. Nesse ano, Seabra Santos é reiteradamente afrontado, mas não cede: não põe os pés na Queima das Fitas nem na tomada de posse de qualquer dirigente estudantil. As relações com a direção-geral seriam pacificadas mais tarde, em 2008, durante o mandato de André Oliveira. É nesse ano, a 8 de março, que Portugal assiste a uma das maiores manifestações da classe docente. Em causa a alteração do estatuto da carreira docente, a burocratização do trabalho dos professores ou aumento do número de horas de trabalho. Mário Nogueira é o rosto mais mediático da contestação contra as políticas levadas a cabo por Maria de Lurdes Rodrigues, titular da pasta da Educação. Um ano antes, em 2007, tinha vencido folgadamente a eleição para a liderança da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), tornando-se o novo secretário-geral da maior estrutura sindical de docentes. É também em 2007 que a Parque Escolar inicia a sua atividade, tendo como objetivos de concretização a intervenção em 332 escolas até 2015. As obras incluem quatro escolas no distrito de Coimbra – Escola Secundária de Infanta D. Maria, Quinta das Flores, que inte-

gra o Conservatório de Música, Dr. Joaquim de Carvalho, na Figueira da Foz e Escola Secundária de Montemor-o-Velho. Grandes mudanças O ano de 2007 marca também o início de uma revolução no ensino superior: Portugal é um dos países empenhados na adoção das transformações propostas na Declaração de Bolonha, que a subscreveram em 1999. Bolonha surge do reconhecimento da necessidade de empreender esforços conjuntos para desenvolver um espaço europeu de ensino superior coeso e coerente. No ano letivo de 2006-2007, a Universidade de Coimbra dá início ao Processo de Bolonha. Começam a funcionar os Mestrados Integrados em Psicologia e em Engenharia Informática. No dia 3 de outubro de 2008 uma má notícia chega à Figueira da Foz. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior determina, por despacho, o encerramento compulsivo da Universidade Internacional da Figueira da Foz (UIFF) e do Instituto Superior Politécnico Internacional – estabelecimentos de ensino superior privado cuja entidade gestora é a SIPEC. A política educativa tem, no decorrer do ano de 2009, algumas importantes mexidas. A primeira a merecer amplo destaque é a que institui o princípio da escolaridade obrigatória de 12 anos – ou a permanência obrigatória na escola, até aos 18 anos –, para todos os estudantes que


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Seabra Santos – Os dois mandatos de Seabra Santos notabilizaram-se no suporte da excelência, no reforço da aproximação à sociedade e ao tecido empresarial envolvente, na modernização e rejuvenescimento dos quadros de topo da instituição, na aposta na internacionalização. A sua nomeação para a presidência do Conselho de Reitores das Universidades Portugueses foi um sinal de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Arquivo-Gonçalo Manuel Martins

quando os estudantes impedem a reunião do Senado. Foi em outubro de 2004 Arquivo

Mário Nogueira – Foi o rosto mais mediático da contestação contra as políticas levadas a cabo por Maria de Lurdes Rodrigues, titular da pasta da Educação. Em 2007, Mário Nogueira venceu folgadamente a eleição para a liderança da Federação Nacional dos Professores (Fenprof ), tornando-se o novo secretário-geral da maior estrutura sindical de docentes. Arquivo-Rui Semedo

A contestação dos professores aos sucessivos ministros da educação foi uma constante tenham ingressado no 7.º ano de escolaridade neste ano letivo Vivem-se também momentos decisivos de mudança no ensino superior. Em causa a operacionalização do novo Regime Jurídico do setor, que impõe alterações estatutárias de fundo: a eleição de novos diretores para as faculdades (ou de presidentes, para as unidades orgânicas dos politécnicos); a criação de um Conselho Geral, aberto a personalidades externas, com com-

petências e poderes alargados, que incluem, por exemplo, a eleição do reitor. No Instituto Politécnico de Coimbra, as eleições dão muito que falar, com vários processos em tribunal e a intervenção do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Depois de muitas polémicas, Rui Antunes assume, finalmente, a presidência do politécnico. A década é também marcada pela evolução do ensino profissional. De acordo com os da-

dos do Ministério da Educação, quase um terço dos estudantes do secundário encontram-se a frequentar o ensino profissional: mais do que o triplo em relação há dez anos. Mas, no domínio da qualificação não há, como nunca houve, soluções instantâneas. O ano de 2011 trará uma nova mudança: a partir do início do ano letivo de 2011/2012, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa será aplicado no sistema educativo e nas escolas portuguesas.

Ferrer Correia – Em 2003, a Academia e a cidade ficam de luto com a morte de Ferrer Correia, o catedrático de Direito que fica na história, sobretudo pela sua ação enquanto reitor (1976-1982), nos anos conturbados do pós 25 de Abril. A morte de António Arruda Ferrer Correia, que era reitor honorário da Universidade de Coimbra e que presidiu à Fundação Calouste Gulbenkian, justificou uma segunda edição do DIÁRIO AS BEIRAS, a única em 2003.

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em destaque Janeiro 2001 – A população de Souselas boicota no dia 14 as eleições presidenciais e os boletins de voto são rasgados. Tudo por causa do processo de co-incineração. Março de 2001 – A Ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, cai, no dia 4. O acidente causa 60 mortos. Jorge Coelho, ministro, e Luís Parreirão, secretário de Estado, demitem-se. Janeiro de 2002 - No dia 30, assinatura da consignação da obra de reestruturação do Estádio Municipal de Coimbra, com vista ao Euro’2004, no valor de 35 milhões de euros.

Região Centro à beira de um ataque de nervos Amor e ódio. Os dois sentimentos ilustram bem a última década em termos políticos na região. Santana Lopes saiu da Figueira da Foz e Carlos Encarnação entrou em Coimbra. Mas foi José Sócrates que, da Covilhã, dominou politicamente… o país. Arquivo-Rui Semedo

Novembro de 2003 - Os primeiros-ministros de Portugal e Espanha abrem dia 7 os trabalhos da 19.ª Cimeira Ibérica no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz. Maio de 2004 - Três anos depois do previsto e cerca de 20 milhões de euros a mais, o primeiro-ministro Durão Barroso inaugura no dia 30 a Ponte Rainha Santa. Agosto 2005 – As chamas entram dia 22 na cidade de Coimbra. Os prejuízos materiais são elevados e presidente da câmara e governador civil trocam acusações sobre a forma de combate. Santana Lopes e Durão Barroso, dois pesos pesados do PSD Novembro 2006 – Cavaco Silva inaugura dia 26 o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental, entrada poente do Parque Verde e Ponte Pedro e Inês, obras do Polis Coimbra. Outubro 2007 – Morre Fausto Correia. O eurodeputado socialista faleceu no dia 9 aos 55 anos vítima de ataque cardíaco e deixa de luto Coimbra, região Centro e o país. Setembro 2008 – Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal, sabe dia 12, pelo secretário de Estado, que Coimbra perde a sede da nova estrutura para Aveiro. Setembro 2009 - No dia 27, a hegemonia do “centrão” para a Assembleia da República é quebrada. Serpa Oliva, pelo CDS-PP, e José Manuel Pureza, do BE, são eleitos. Dezembro 2009 – No dia 2 começam a ser levantados em Serpins os carris na Linha da Lousã para instalação do novo Sistema de Mobilidade do Mondego. Outubro 2010 – O presidente da sociedade Metro Mondego, Álvaro Maia Seco, bate dia 17 com a porta magoado com o Governo. Dois meses depois foi o presidente da câmara, Carlos Encarnação.

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. António Alves antonio.alves@asbeiras.pt

A teimosia da coincineração. José Sócrates foi aluno do ISEC no final da década de 70 do século passado. Há quem diga que esta sua passagem pela cidade dos doutores não correu da melhor forma, levando-o a ter um comportamento dúbio para a cidade onde obteve o primeiro diploma do ensino superior. Um comportamento que o levou, no início desta década, a ter um braço de ferro com o poder socialista do município, liderado por Manuel Machado. A escolha da cimenteira de Souselas para aí proceder à queima de resíduos perigosos foi o primeiro sinal desta relação amor-ódio com a cidade. Nem a aprovação em Assembleia da República da suspensão do processo demoveu o ministro do Ambiente da altura de avançar. O mesmo ministro que, no início desta década, decide colocar a cidade de Coimbra na lista dos municípios do Programa Polis. Ponte que quase não deu passagem A década começa com o arranque de uma das obras há muito reclamada pela cidade: Ponte Europa (agora baptizada de Ponte Rainha Santa Isabel). O ministro de então, Jorge Coelho, garantiu que passados 700 dias e sem qualquer tipo de derrapagem financeira a estrutura permitiria a passagem entre as duas margens do rio Mondego. Só que a ponte apenas ficou pronta em 2004. Três anos depois do previsto e um buraco financeiro de mui-

tos milhões de euros. A inauguração contou com a presença de Durão Barroso, primeiroministro que pouco tempo depois deixava o cargo para assumir a presidência da Comissão Europeia. Pesos-pesados da social-democracia O sucessor de Durão Barroso foi Santana Lopes. O advogado que, até final de 2001, ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz. O seu mediatismo tirou a cidade da letargia em que vivia, mas o que é certo é que desde a sua saída o município figueirense nunca mais conseguiu recompor-se financeiramente. Sai Santana Lopes na Figueira da Foz, entra Carlos Encarnação em Coimbra. Nas eleições que, em Dezembro de 2001, ditaram a saída de cena de António Guterres, o antigo deputado, governador civil e secretário de estado da Administração Interna conquistou a primeira de três maiorias absolutas para o município de Coimbra. A construção do Estádio Cidade de Coimbra, o projeto Eurostadium e as novas vias marcaram, pela positiva, o primeiro mandato de Encarnação que, antes de se recandidatar em 2005, quis ter do Estado um sinal positivo para a realização do Metro Mondego. Apesar do concurso ter sido lançado no tempo de Santana Lopes, o novo primeiro-ministro José Sócrates decidiu anulá-lo e reformular o projeto. A entrada em cena do especialista Álvaro Maia Seco deu o impulso necessário para que as obras arrancassem. O

que aconteceu no final de 2009. Mas, menos um ano depois e perto de 100 milhões de euros gastos, as obras no canal Serpins-Alto de São João (Coimbra) vão parar… porque não há dinheiro para continuar o projeto. O anúncio levou, primeiro, à demissão de Álvaro Maia Seco como presidente do Metro Mondego e, dois meses depois, à saída da presidência da câmara de Coimbra de Carlos Encarnação. Ambos agastados pela forma como o governo de José Sócrates tratou este assunto. Se, com António Guterres, o peso político de Coimbra tinha alguma força, a entrada no poder de Durão Barroso e, posteriormente, de Santana Lopes esmoreceu essa importância. Mas foi com José Sócrates que o declínio se acentuou. Uma situação a que não foi imune a morte de Fausto Correia. Desde então, e tirando alguns casos esporádicos – Paulo Mota Pinto (PSD) e Paulo Campos (PS) –, Coimbra e região ficaram arredados dos corredores do poder. Liderar a partir de Viseu A derrota socialista nas autárquicas levou a que o cadeirão da Associação Nacional de Municípios Portugueses passasse a ser ocupado por um autarca social-democrata. Fernando Ruas, presidente da câmara de Viseu, foi o escolhido. A sua eleição, confirmada após os atos eleitorais de 2005 e 2009, deu um novo dinamismo ao órgão representativo das câmaras municipais de todo o país, tendo sido


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Arquivo

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as figuras Arquivo

Carlos Encarnação – Quebrou a hegemonia socialista na câmara de Coimbra. Foi durante os seus mandatos que o concelho melhorou em termos de acessibilidades e infraestruturas desportivas. Para o fim ficou a cereja no topo do bolo: a recuperação do Convento de S. Francisco para um centro de congressos. Saiu no final do primeiro ano do terceiro mandato, agastado com a política do Governo. Arquivo-António Alves

A construção de uma ponte nova sobre o Mondego, em Coimbra, foi decidida por António Guterres, que visitou as obras antes de se demitir mesmo uma voz incómoda contra o Governo. Fosse ele do PSD ou, mais ainda, do PS. “Dinossauros” e novos valores A limitação dos mandatos dos presidentes de câmara e junta de freguesia não permitirá a recandidatura de alguns dos autarcas em funções há alguns mandatos. Os chamados “dinossauros” da política autárquica vão ter, desta forma, de deixar o seu lugar. Jaime

Soares (Vila Nova de Poiares), José Marques (Oleiros), Fernando Costa (Caldas da Rainha) e Ivo Portela (Tábua) são alguns dos exemplos. Mas, como em tudo na vida, alguns nomes eleitos recentemente começam a despontar. Paulo Júlio (Penela) e Luís Leal (Montemoro-Velho) merecem um lugar de destaque em termos autárquicos. Em termos políticos, o Partido Socialista já conta com nomes como Paulo Campos (secretário de Estado das Obras

Públicas), Óscar Gaspar (secretário de Estado da Saúde) e Valter Lemos (secretário de Estado do emprego e Formação Profissional). Do lado do PSD, José Manuel Canavarro (antigo secretário de Estado da Educação e atual responsável pelo Gabinete de Estudos do PSD) aumentou a sua influência. Tudo isto numa década onde também começou a despontar o nome de José Manuel Pureza – atual líder da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda.

Arquivo-Luís Carregã

Encarnação marcou a década em Coimbra

Fausto Correia – Faleceu como eurodeputado em Bruxelas e deixou órfão o PS Coimbra que, desta forma, se viu privado de um forte candidato à câmara em 2009. A sua morte simbolizou também a perda da importância política da região, principalmente nos corredores do tão falado Bloco Central. Apesar de alguns nomes terem despontado na segunda metade da década, nenhum mostrou ter a força e a influência que Fausto Correia tinha junto dos principais partidos portugueses. Coimbra e a região perderam muito com o seu desaparecimento. Arquivo

Arquivo

Serpa Oliva foi eleito deputado e quebrou a hegemonia do “centrão”

José Sócrates - Pode gabar-se de ter conseguido a primeira maioria absoluta para o PS. O engenheiro, formado no ISEC, que no tempo de Guterres se começou a evidenciar, acabou por ser a maior desilusão para a região que o viu crescer para a política. O Polis amenizou um pouco uma tempestade que começou com a co-incineração, com alguns dos traçados inscritos no Plano Rodoviário Nacional e, mais recentemente, com a questão do Sistema de Mobilidade do Mondego (Metro Mondego).

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em destaque dezembro de 2002 – O Centro Regional de Oncologia de Coimbra (CROC/ IPO) é o primeiro hospital da cidade a transformar-se em SA. novembro de 2003 – No primeiro ano em que inicia o programa de transplantação, o Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos HUC realiza 24 transplantes de coração, número nunca antes alcançado por nenhum centro em Portugal. abril de 2004 – É lançado o concurso público internacional para o novo Pediátrico de Coimbra. Com um prazo de execução de dois anos e meio, previa-se que a obra estivesse concluída em 2008. Espera-se ainda que possa ser inaugurado no início de 2011. dezembro de 2006 – Os HUC realizam o maior número de transplantes cardíacos e renais. Após muitos protestos, é encerrada a maternidade da Figueira da Foz e os partos passam a ser realizados em Coimbra. A medida é do ministro Correia de Campos e leva ao fecho das maternidades que realizam menos de 1.500 partos por ano. abril de 2007 – Agostinho Almeida Santos anuncia a sua demissão da presidência do conselho de administração dos HUC, em protesto contra as reduções orçamentais. Correia de Campos nomeia para o lugar Fernando Regateiro, então presidente da ARS, que é substituído por João Pedro Pimentel. janeiro de 2008 – O fecho do SAP de Anadia, a contestação popular e a morte de uma criança antecedem a demissão de Correia de Campos, no dia 30. 2009 – Chegada do México, a gripe A causa alarme entre os portugueses. Depois das quarentenas e das máscaras, foi a corrida às vacinas, que acabaram por sobrar. agosto de 2009 – O Tribunal Administrativo de Coimbra indefere uma providência cautelar da Faculdade de Medicina de Coimbra, que contestava a reestruturação interna dos HUC. outubro de 2010 – Mais um passo de sucesso na telemedicina do Pediátrico de Coimbra, programa liderado por Eduardo Castela. É inaugurada a ligação das consultas de cardiologia pediátrica e fetal com o Hospital Baptista de Sousa, em Cabo Verde. novembro de 2010 – O Orçamento do Estado 2011 não contempla verbas para a construção da sede do Instituto Nacional de Medicina Legal, em Coimbra. É presidido por Duarte Nuno Vieira, que revolucionou os serviços médicolegais portugueses na última década.

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Fusão de serviços e hospitais marca a década Os anos são marcados por uma sucessão de reformas profundas no setor, desde os centros de saúde aos hospitais psiquiátricos. A justificação é comum: controlar os custos e garantir a sustentabilidade do SNS. No final da década anuncia-se o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

. Dora Loureiro dora.loureiro@asbeiras.pt

Em Coimbra, o final da década traz consigo o anúncio da fusão de três unidades hospitalares – Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro Hospitalar de Coimbra e Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra –, dando lugar à criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). A intenção do Governo surge plasmada no Orçamento do Estado para 2011, em meados de outubro de 2010, e dois meses depois é aprovado em Conselho de Ministros o decreto-lei que regulamentará a fusão das três unidades hospitalares, um processo complexo que, sob a tutela da ministra da saúde, Ana Jorge, irá marcar o próximo ano. A anunciada fusão apanha quase todos de surpresa e colhe manifestações de apoio, mas também de alguma prudência e desconfiança. Evitar a duplicação de serviços e de recursos humanos e rentabilizar melhor os meios disponíveis são os argumentos do Governo. Mas a fusão e concentração de hospitais é anunciada, no decreto-lei aprovado em Conselho de Ministros a 16 de dezembro de 2010, para várias unidades da região Centro. O decreto-lei determina ainda a integração dos hospitais de Leiria e Pombal, que passam a integrar o Centro Hospitalar de Leiria – Pombal; os hospitais Infante D. Pedro (Aveiro), Visconde Salreu (Estarreja) e Distrital de Águeda passarão a estar reunidos no Centro Hospitalar do Baixo Vouga e o Centro Hospitalar Tondela-Viseu resultará da fusão dos hospitais Cândido de Figueiredo (Tondela) e São Teotónio (Viseu). De hospitais SA a EPE A década fica marcada por uma sucessão de reformas profundas nos serviços de saúde. A justificação é comum a todas as alterações: controlar os custos e garantir a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saú-

de (SNS). De resto, nunca como nos últimos anos foi tão discutido o financiamento e sustentabilidade do SNS, criado por António Arnaut. Assim, muitas das reformas no setor da saúde passam pela concentração de serviços e recursos humanos, como foi o caso da extinção das sub-regiões. Uma das primeiras reformas da década é a introdução da gestão empresarial nos hospitais públicos. O primeiro passo foi dado no final de 2002 pelo ministro Luís Filipe Pereira, no Governo PSD-CDS/PP, com a transformação do estatuto jurídico de 31 hospitais do setor público administrativo em sociedades anónimas (SA), medida que desencadeou fortes protestos no setor da saúde e no plano político. Contra, invocaram-se os receios da privatização dos hospitais; a favor, os benefícios da introdução de regras que permitissem agilizar a gestão num setor burocratizado, como o estatal, com o objetivo final de reduzir o défice do SNS. Mas em 2005, o ministro Correia de Campos transforma os hospitais SA em EPE (Entidades Públicas Empresariais): um dos objetivos é afastar o estigma da eventual privatização de serviços de saúde públicos. Contudo, anos volvidos, a derrapagem financeira dos hospitais EPE continua a ser notícia. Em Coimbra, o Centro Regional de Oncologia/IPO, dirigido, então tal como agora, por Manuel António Silva, foi o primeiro hospital a ver o seu estatuto jurídico alterado para SA, seguindo-se depois o CHC e os HUC, já como EPE. HUC passa a EPe com turbulência Os HUC adotam o estatuto de EPE a 1 de setembro de 2008, mas nem todos concordam com as alterações e, antes e depois, ocorrem demissões. Antes, em abril de 2007, o então presidente do conselho de administração, Agostinho Almeida Santos, demite-se, por considerar que as reduções orçamentais com-

A construção do novo Pediátrico de Coimbra começou

Nos HUC, Agostinho Almeida Santos foi substituíd prometem uma “gestão rigorosa e eficaz”. É conhecida a sua oposição à transformação do hospital em EPE. Almeida Santos é substituído por Fernando Regateiro, que transita da ARS Centro e sob a direção do qual se concretiza, no ano seguinte, a passagem dos HUC a EPE. Na sequência da alteração do estatuto jurídico é desencadeado alguns meses depois, em 2009, o processo de restruturação interna do hospital, que conta com a oposição de alguns médicos e leva mesmo a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra a instaurar uma providência cautelar contra os HUC. O argumento para instaurar a ação é a defesa da qualidade do ensino médico e a oposição às mudanças é liderada por Castro e Sousa e Carlos Oliveira, entre outros nomes. A contestação dura alguns meses, durante os quais a providência cautelar é indeferida e Carlos Oliveira perde para Santos Rosa as eleições para a Faculdade de Medicina de Coimbra.


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as figuras Arquivo

Correia de Campos – Ministro da Saúde por duas vezes, nesta década, Correia de Campos, natural de Torredeita (Viseu), lançou uma série de reformas no setor, de que são exemplo a criação de taxas moderadoras nas cirurgias e internamento, a concentração das maternidades e o encerramento dos SAP. Demitiu-se a 30 de janeiro de 2008, após a forte contestação popular em Anadia, onde acabou por morrer uma criança que foi transferida para um hospital de Coimbra. Arquivo-Luís Carregã

do por Fernando Regateiro Além de Agostinho Almeida Santos, que acaba por solicitar a reforma antecipada em janeiro deste ano – a seis meses da data da sua jubilação –, também Carlos Oliveira, presidente da Comissão Oncológica e diretor do Gabinete de Apoio à Investigação dos HUC, se demite destes cargos, por discordar da separação dos serviços de radioterapia e oncologia, incluída na restruturação interna. Saúde mental e centros de saúde A década fica também marcada pelo Plano Nacional de Restruturação da Saúde Mental, que teve na linha da frente Coimbra. A 13 de dezembro de 2007 os três hospitais psiquiátricos do distrito de Coimbra fundem-se: os hospitais psiquiátricos de Sobral Cid (Coimbra), do Lorvão (Penacova) e o Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes (Soure) unem-se e dão origem ao atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (CHPC), uma das unidades que agora irá também integrar, novamente

Arquivo-Luís Carregã

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u em 2005, para ficar concluída no início de 2008. Hoje ainda se espera saber a data da inauguração, que deverá ser em breve

Presidente da ARS, João Pedro Pimentel

Passagem dos HUC a EPE teve “baixas”

por fusão, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Em Coimbra a reforma dos serviços de saúde mental é liderada pelo médico Fernando Almeida, que preside ao conselho de administração do CHPC, e consubstancia-se numa das primeiras experiências de fusão de hospitais e serviços. No âmbito da reforma, na cidade os serviços de urgência de Psiquiatria são concentrados num único serviço, que passa a funcionar apenas nos HUC e é assegurado por médicos de vários hospitais. Na saúde as reformas também são profundas nos cuidados de saúde primários, culminado com a constituição dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), e incluem a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, cuja necessidade é unanimemente reconhecida.

do novo Hospital Pediátrico de Coimbra atravessou a década e provocou mesmo pedidos de demissão de responsáveis do hospital. Instalado num edifício velho, sem condições, o Pediátrico reivindicava há muito um novo edifício. Depois de muitas discussões em torno do plano funcional, as obras começam em 2005, para terminarem no início de 2008, mas hoje, o novo hospital, o primeiro pediátrico a ser construído de raiz em Portugal, embora praticamente concluído, ainda não entrou em funcionamento. Pelo meio ficam problemas nas obras – como o lençol de água encontrado na zona das fundações – e no financiamento, que atrasam alguns anos a conclusão do hospital. O presidente da ARS Centro, João Pedro Pimentel, e a presidente do conselho de administração dos CHC, Rosa Reis Marques, anunciam agora a sua inauguração para o início deste ano.

À espera do novo Pediátrico A discussão em torno da construção

Manuel Antunes – O diretor do Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra criou o único centro de responsabilidade integrada em Portugal, durante mais de uma década. Cedo se destacou pela produtividade – no centro realizam-se cerca de 1.600 cirurgias ao coração por ano – e pela ausência de listas de espera. Nesta década avançou com o programa de transplantação cardíaca, realizando cerca de dois terços dos transplantes cardíacos feitos em Portugal. Faltam ainda os anunciados transplantes pulmonares. Arquivo-Carlos Jorge Monteiro

Jeni Canha – Soube dar voz, como ninguém, aos alertas para os maus tratos a crianças, num trabalho persistente que desenvolve há muito mas que ganhou maior visibilidade na última década. Médica e professora da Faculdade de Medicina, coordena o Núcleo de Estudo da Criança de Risco do Hospital Pediátrico de Coimbra.

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Figuras do ano 2010 cisões políticas, económicas e financeiras”. Noutra perspetiva, o prelado considerou que qualquer alteração às leis laborais deve ter em conta “a dignificação do trabalho e não o contrário”. Sobre o encerramento da fábrica Delphi, deslocalizada para Castelo Branco e provocando 321 despedimentos, o bispo exortou a comunidade a “não ficar de braços cruzados e ajudar as pessoas a aproveitarem todas as oportunidades para as relançar na linha do trabalho”. Cristina Robalo Cordeiro – Uma das vice-reitoras da Universidade de Coimbra, integrada na equipa de Seabra Santos, teve uma atividade constante e mediática durante 2010. Assumiu-se como candidata a reitora, em eleições marcadas para fevereiro, enfrentando nas urnas João Gabriel Silva. É a primeira mulher a candidatar-se a este cargo numa universidade tradicional, mas que tem lidado bem com os ventos de modernidade.

Aida Rechena – A diretora do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, localizado no antigo Paço Episcopal de Castelo Branco, deu um novo fôlego cultural àquele território. Como investigadora das questões de género na museologia portuguesa, refrescou os estudos sobre a matéria, depois de ter apresentado um mestrado em museologia sobre os “Processos museológicos locais. Panorama museológico da Beira Interior Sul”.

Helder Roque – O diretor do Hospital Distrital de Leiria, que chegou a ser falado no ano anterior como possível candidato à autarquia, recusou outros voos e manteve-se de pedra e cal nas suas funções. Os resultados de gestão chegaram no fim do ano: o Hospital de Santo André (HSA) supera a média nacional na maior parte dos indicadores económico-financeiros, revela um estudo do Banco de Portugal. Ao mesmo tempo o HSA regista, nos mesmos exercícios, desde 2007, uma atividade assistencial também crescente.

D. Manuel Felício – O bispo da Guarda teve, ao longo do ano, diversas intervenções em defesa dos mais desprotegidos da diocese, culminando com uma esclarecida e vigorosa mensagem de Natal, em que aponta, como uma das causas da crise, “os jogos de interesse que continuam a fazer-se nas costas do povo, envolvendo sobretudo de-

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Raul Castro – À terceira foi de vez. O presidente da Câmara de Leiria foi eleito no final de 2009 para tentar alterar as regras de gestão de uma autarquia asfixiada em problemas financeiros. Perante as dificuldades, o autarca tem vindo a prometer empenho em concretizar “soluções partilhadas” para a construção, por exemplo, dos novos centros educativos e para a integração do município numa nova empresa pública que permita investimentos no saneamento. Com clarividência, não hesita em defender a extinção da Leirisport, empresa municipal que gere as infraestruturas desportivas do concelho, considerando-a “o maior problema” da autarquia.

José eduardo Simões – O presidente da Académica viu-se envolvido, durante seis meses, num julgamento em que foi confrontado com 11 acusações de crimes de corrupção. Nas alegações finais, o Ministério Público pediu para que os donativos – alegadamente ilegítimos – que foram entregues à Académica, revertessem para o Estado, mas não fez nenhum enquadramento penal. A leitura do acordão está marcada para 31 de janeiro. Entretanto, o presidente da Académica tem mantido a equipa em patamares competitivos na Liga, mesmo confrontado com as dificuldades em substitutir o treinador Jorge Costa, que deixou o clube.

Jaime Ramos – O antigo governador civil de Coimbra tem feito obra na Fundação ADFP – Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional. No final do ano destacou-se por ser o porta-voz do movimento Cívico de Miranda e Lousã, acérrimo defensor da reposição do ramal ferroviário, cujas obras o Governo resolveu suspender por dificuldades financeiras. Depois de mobilizar autarcas e forças vivas dos três concelhos que eram servidos pelo comboio, promoveu uma marcha lenta na autoestrada que congregou todas as atenções do último dia do ano.

Luís de Matos – Sem o mediatismo que os programas regulares na televisão portuguesa lhe conferiram em anos anteriores, o mágico com raízes em Coimbra teve tempo para concluir, ao fim de quatro anos, as instalações do estúdio 33 que fez crescer em Ansião. Estas instalações passaram a ser

um dos espaços tecnicamente mais bem equipados para espetáculos ao vivo e gravação de programas de televisão. Prosseguiu com o seu ciclo de programas na TV Galicia e surpreendeu, no final do ano, ao assinar um contrato com a cadeia britânica BBC para uma série de programas a serem emitidos neste mês de janeiro. “Esta mini série de cinco especiais assinala o momento em que BBC1 traz a magia de volta às noites de sábado, pela primeira vez, em quase duas décadas”, sublinhou o mágico.

André Vilas Boas – Foi uma grande surpresa quando, com pouco mais de 30 anos e vindo quase diretamente da equipa de adjuntos de José Mourinho, o jovem nortenho chegou a Coimbra para treinar a Académica, substituindo Rogério Gonçalves. Em pouco mais de meio ano, provou ser um caso sério de capacidade de liderança, conhecimentos tecnico-táticos e, acima de tudo, intuição futebolística. Não admirou, pois, uma primeira abordagem, pelo Sporting, e, no final da época, a mais do que esperada abordagem certeira, de Pinto da Costa. No Porto, lá está André a mostrar o que vale.

Paulo Campos – Caído Mário Lino em desgraça e substituído o ministro da importante pasta das Obras Públicas, Transportes e Comunicações por um politicamente nulo docente universitário, apenas uma personalidade transitou: Paulo Campos, secretário de Estado de um e de outro, homem de crescente intervenção política e partidária, inclusivamente, em Coimbra e no seu distrito – de onde é, de resto, originário (do concelho de Oliveira do Hospital). Foi ele que fez avançar a rede viária no distrito e, ao mesmo tempo, que ajudou a eleger Mário Ruivo, derrotando Victor Baptista, na Distrital do PS. Mas é ele, também, um dos muitos socialistas mudos no triste processo do Metro Mondego.


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