Edicao acolhimento emigrantes DB

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edição extra de acolhimento aos emigrantes’2012 www.asbeiras.pt

Domingo | 29.Julho.2012

ição distribu gratuita

Bem-vindo Bienvenu Welcome Willkommen

José Cesário Empresas portuguesas no estrangeiro vão ser recenseadas

Estórias de vida Passos da emigração contados na primeira pessoa

>Págs 4 e 6

>Págs 13 a 17

Portugal A nova vaga de emigração >Págs 8 a 12

diretor: Agostinho Franklin subdiretora: Eduarda Macário


essencial

diário as beiras | 29-07-2012

abertura

índice

04 | 06 José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas: “Estamos a recensear todas as empresas e empresários portugueses no estrangeiro” 08 Mais de 120 mil portugueses emigraram em 2011 e muitos deles são licenciados 09 Suíça, França e Angola entre os principais destinos

10 Remessas dos emigrantes voltam a crescer este ano

11 Empreendedores lusos no estrangeiro com negócios de largos milhões de euros 12 Diáspora formada na mais antiga instituição de ensino superior

13 “Acho muito bem que os jovens portugueses emigrem” 14 De emigrante nos Estados Unidos a autarca na Figueira da Foz

15 Antigos estudantes de Coimbra são empresários de sucesso em Madrid

Edição de homenagem e acolhimento aos emigrantes

16 “Já me arrependi muitas vezes de ter regressado a Portugal 17 “Todos os dias penso na hora de regressar a casa”

18 Magia do Centro afirma-se da praia à serra e estende-se a uma imensa riqueza patrimonial

19 Descobrir Coimbra do rio Mondego à Alta universitária 20 Locais paradisíacos para visitar do litoral ou interior

21 Maior feira da região em Cantanhede e ExpOH em Oliveira do Hospital

22-23 Praias e diversidade

paisagística e arquitetónica na Figueira da Foz

1 1 1 Portugal tem sido, desde o século XV, um país de emigrantes, um cenário que acabou por condicionar toda a sua história. Se nos séculos XV e XVI a emigração dirigiu-se, sobretudo, para o Norte de África e Oriente, mais tarde, em meados do século XIX, os portugueses começaram também a procurar o Brasil. Estados Unidos da América, Argentina, Venezuela, Canadá e Austrália são os destinos, fora da Europa, mais procurados ao longo do século XX. O fluxo emigratório para África também aumenta neste século, em especial para Angola, Moçambique e outras regiões da África Austral,

ASSEMBLEIA GERAL António Madeira Teixeira (presidente); José Carlos Madeira de Jesus (secretário)

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CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Pedro Miguel da Silva Teixeira (presidente); Rosinda da Silva Teixeira (vice-presidente); Patrícia Sofia Batista Pereira Forte (vogal) PRESIDENTE DO CONSELHO EXECUTIVO Ivo Magalhães DIREÇÃO DIRETOR Agostinho Franklin agostinho.franklin@asbeiras.pt SUBDIRETORA Eduarda Macário - CP n.º 1201 eduarda.macario@asbeiras.pt

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como a África do Sul, Zimbabué ou o Congo. A grande vaga de emigração ocorre, no entanto, a partir de finais dos anos 1950, e tem como destino a Europa: França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Suíça. Em menos de uma década, emigram para França, por exemplo, mais de um milhão portugueses. Os números da emigração, naturalmente, refletem-se de modo importante na evolução da sociedade lusa. A emigração portuguesa continua até aos nossos dias, embora com números mais modestos e com um caráter mais temporário e ligado a investimentos económicos, realização de esDEPARTAMENTO GRÁFICO COORDENADORA Carla Fonseca carla.fonseca@asbeiras.pt Alfredo José, Ana Vendeiro, Rui Semedo e Victor Rodrigues PROJETO GRÁFICO

A. Franklin/ P.Costa DIREÇÃO DE PLANEAMENTO E MARKETING DIRETOR Pedro Costa Ana Nunes (assist. marketing) DEPARTAMENTO COMERCIAL Ana Paula Ramos (coordenadora comercial), Anabela Cardoso, António Neves, Cristina Mota, Margarida Fernandes, Rosa Pereira, Rui Francisco e Vasco Santos

tudos e atividades profissionais qualificadas. Nos últimos anos, reflexo da crise económica que assola o país e o mundo, a emigração portuguesa volta a ganhar um novo fôlego, assumindo agora contornos e buscando novos países. Para homenagear os portugueses que um dia abalaram das suas terras natais para batalhar por melhores condições de vida, o DIÁRIO AS BEIRAS publica hoje, 29 de julho, uma edição extra que acompanhará uma ação de boas-vindas ao emigrante na fronteira de Vilar Formoso. Porque Agosto é, por excelência, o mês do regresso dos emi-

DEPARTAMENTO FINANCEIRO E ADMINISTRATIVO Carlos Fernandes (diretor) Adelaide Gaspar, Carla Santos, Cidália Santos (assinaturas) COORDENAÇÃO INFORMÁTICA Samuel Costa CONTACTOS SEDE: Rua Abel Dias Urbano, n.º 4 - 2.º 3000-001 Coimbra, tel. 239 980 280, 239 980 290, Telem: 962 107 682 fax 239 980 288, administrativos@asbeiras.pt REDAÇÃO Tel. 239 980 280, Fax 239 983 574 redaccao@asbeiras.pt

grantes, que escolhem a terra natal para passar as merecidas férias de verão, e Vilar Formoso continua a ser a maior fronteira nacional, por onde ainda chega boa parte daqueles que trabalham na Europa, em França, no Luxemburgo ou Suíça. Nesta ação de acolhimento aos emigrantes, o DIÁRIO AS BEIRAS pretende homenagear-lhes a saga, contando as suas histórias na primeira pessoa, mas também levar-lhes notícias das suas terras e sugestões para roteiros de visitas nas férias estivais que agora começam. Dora Loureiro dora.loureiro@asbeiras.pt

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saudação

Sejam muito bem-vindos A todos os nossos emigrantes que agora estão de regresso para as merecidas férias de verão quero dizer que são, hoje e sempre, muito bem-vindos. É muito importante a vossa presença no país que é de todos nós. E espero que, no vosso regresso, levem convosco a mensagem do país que somos, da nossa alegria e da nossa capacidade para atrair turistas, que podem ser os vossos vizinhos, os vossos amigos e os vossos colegas de trabalho, lá fora. Mas, acima de tudo, que levem convosco uma mensagem de esperança e de muita confiança no futuro, sabendo que estamos a tomar medidas difíceis, é certo, mas que são a garantia da solidez das nossas finanças públicas.

Estamos a recensear todas as empresas e empresários portugueses no estrangeiro José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas admite que saem de Portugal 120 a 150 mil portugueses por ano Como se articula a Secretaria de Estado das Comunidades com a política geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, vocacionada para a diplomacia económica? Há uma articulação perfeita. O senhor ministro acompanha de perto todo o trabalho que desenvolvemos e eu próprio faço questão de mantê-lo sempre informado. Temos a consciência de que a diplomacia económica é uma opção central do Ministério, mas também o é a ligação estreita às nossas comunidades, nas quais sabemos que existe uma enorme vocação empresarial. Aliás, nós temos em fase de lançamento um amplo processo de recenseamento de todas as empresas e empresários

portugueses que existem no estrangeiro. Por que emigram tanto os portugueses? Nós sabemos que os ciclos da emigração correspondem sempre aos ciclos do emprego, pelo que quando baixa a capacidade de um país de garantir pleno emprego aos seus cidadãos cresce automaticamente o fenómeno da procura desse mesmo trabalho no estrangeiro. Ora, em Portugal, esta situação é naturalmente acentuada pela predisposição da nossa sociedade para partir, para procurar novas oportunidades fora de portas. A prova é que os níveis de emigração sempre se mantiveram altos, mesmo em períodos de quase

pleno emprego, como aconteceu, por exemplo, nos anos 2000 a 2002, quando saíam do país, todos os anos à volta de 30 mil portugueses. Nada de novo, então? Eu diria que, na última década, a sociedade portuguesa adormeceu para o fenómeno da emigração e, a certa altura, pensou que já ninguém mais emigrava. Mas a verdade é que, de há seis anos para cá, saíram do país 100 mil portugueses por ano. Por isso eu digo que só pode ter havido a intenção de esconder que, na realidade, andámos a exportar taxa de desemprego. Quantos portugueses partem, em cada ano? Estamos a assistir a um mo-

vimento de entre 120 a 150 mil portugueses a saírem, em cada ano. Mas é muito difícil ter números seguros. Desde logo porque, no espaço da União Europeia, a circulação de pessoas é livre e, na maioria dos casos, quem emigra só se torna “oficial” quando se tem de registar nos serviços locais de Segurança Social – registo esse que, a posteriori, acaba por nos chegar. Depois, há o trabalho sazonal, na hotelaria, agricultura ou construção civil, que faz com que a maioria dos emigrantes não tenha qualquer contacto com serviços oficiais. E há ainda a contratação por empresas de trabalho temporário... Que controlo têm as autoridades sobre essas empresas?

Todos sabemos que as empresas deveriam fazer os competentes registos. Há, de resto, grande pressão sobre elas da parte da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Mas temos também a consciência de que isso nem sempre se verifica.

e o Reino Unido são os mais procurados. Mas, como referiu, também se nota uma procura cada vez maior de Angola enquanto que, no caso do Brasil, o fenómeno ainda não tem a dimensão dos anteriores mas é já muito significativo.

Angola e Brasil são privilegiados, mas a Europa continua a ser o destino preferido... Eu julgo que as preferências não mudaram muito. É claro que, para isso, contam as circunstâncias que condicionam a emigração, como a geografia, a proximidade linguística e cultural, a presença de familiares e amigos e, claro, a oferta de emprego. Eu diria, portanto, que a Espanha, a Suíça, a França

Que tipo de queixas chegam ao Governo por parte destes novos emigrantes? Bom, é verdade que vão surgindo nota de alguns problemas, mais nuns países do que noutros. Problemas que não são novos mas que vale sempre a pena dar conta. Estamos a falar de situações como os incumprimentos contratuais, a pura inexistência de contratos de trabalho, casos de exploração laboral,


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perfil RJosé Cesário é secretário de Estado das Comunidades Portuguesas – pasta que já tinha ocupado no XV Governo RAos 54 anos, é licenciado em Administração e Gestão Escolar REx-presidente da Comissão Política Distrital de Viseu do PSD e antigo secretário-geral Adjunto do PSD R Deputado em várias Legislaturas, foi vicepresidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, vice-presidente da Delegação Portuguesa ao Fórum Parlamentar IberoAmericano e secretário da Mesa da Assembleia da República R Foi diretor do Sindicato de Professores da Zona Centro e fundou a Associação Nacional de Professores do Ensino Básico.

discurso direto RNos últimos seis anos tentou-se esconder que andámos a exportar a nossa taxa de desemprego R Os novos emigrantes são mais qualificados mas isso não significa maior conhecimento sobre o que os espera ROs casos mais dramáticos são os de famílias com crianças RFinalmente temos um sistema estruturado no Ensino de Português no Estrangeiro RA alternativa à propina (até 120 euros anuais) era fechar escolas RA experiência de permanências consulares com equipamentos móveis, em França e na Alemanha, é um assinalável sucesso

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salários em atraso, enfim... é sempre bom relembrar uma das maiores preocupações que surgem e que tem a ver com a necessidade absoluta de as pessoas procurarem ao máximo informar-se do que vão encontrar e assegurar-se das condições que os esperam. Esses problemas são típicos de emigração indiferenciada e o que se sabe é que os novos emigrantes portugueses são cada vez mais qualificados... Não há quaisquer dúvidas de que a nossa emigração é mais qualificada, até pelo simples facto de que a nossa sociedade é, ela própria, mais qualificada. Mas isso não significa que haja, da parte de quem emigra, conhecimento das realidades dos países de acolhimento. Isto é, aliás, um problema do país, que sempre teve muitos emigrantes mas sempre viveu uma espécie de divórcio com o fenómeno, ignorando voluntariamente tudo o que tem a ver com ele. Ora, o ato de emigrar é muito dif ícil e arriscado; encerra muitas vezes enormes dramas. Eu tenho conhecido portugueses emigrantes que, hoje, são pessoas muito bem sucedidas mas que não hesitam em contar inúmeras situações dramáticas por que tiveram de passar, no seu início. O que faz a tutela para promover a informação esclarecida dos candidatos a emigrar? Antes de mais, fazemos em permanência apelos a que toda a gente procure informar-se o mais possível, para saber não apenas tudo sobre o que lhes é oferecido mas também para conhecer a legislação e outras características dos países para onde vão. Pela nossa parte, desenvolvemos há seis anos uma campanha de esclarecimento e, agora, temos uma outra em curso. Temos na rua cartazes e desdobráveis e contamos sempre com a Internet. Procuramos também sensibilizar parceiros ativos, como as câmaras municipais e as próprias paróquias. Mas, claro, temos a consciência de que não chegamos a todos pelo que nunca estamos satisfeitos. Há casos dramáticos? Os casos piores são aqueles em que emigram famílias inteiras. Sabemos que as crianças são um enorme proble-

ma, pois os pais raramente sabem onde vão estudar e em que condições. E depois há ainda os problemas dos cuidados de saúde e da segurança social, que estão mais facilitados nos países com os quais Portugal tem hoje acordos. Sente que há, hoje, mais resistência e maiores problemas no acolhimento a emigrantes portugueses? Hoje há uma crise em todo o mundo e, portanto, as dificuldades em encontrar trabalho são cada vez maiores. É bom que se saiba que, em todo o mundo, são mais de 250 milhões de pessoas migrantes, formando, em termos económicos, a quinta potência mundial. Daí que haja, por vezes, problemas com quem recebe e, até, restrições impostas oficialmente. Mas o pior é mesmo a exploração que se verifica nalguns países onde não se esperaria, como Espanha, Reino Unido, Holanda ou Suíça. Qual a taxa de registo dos novos emigrantes? Como sabe, a inscrição nos serviços consulares só acontecem quando as pessoas precisam do primeiro documento. Quanto ao recensemaneto eleitoral, é ainda pior, pois trata-se de um ato voluntário. Ainda assim, é um facto que há aumento de registos, como há um aumento de emigração. E há consulados com altos níveis de inscrições e outros nem tanto. As mudanças no ensino de Português no estrangeiro têm sido objeto de muitas críticas. Que balanço faz das opções políticas tomadas pelo atual Governo, nesta matéria? As mudanças são as únicas possíveis para que, finalmente, tenhamos um sistema de ensino estruturado. Até aqui, o que existia era um conjunto de professores que, todos os anos, atirávamos para o terreno, cada um podendo fazer as suas experiências educativas, sem qualquer articulação. Ora, quisemos avançar com os processos de avaliação e a consequente certificação; quisemos também avançar com ações de formação generalizada e temos em marcha outros programas, como o de incentivos à leitura. Por outro lado, trabalhamos numa estratégia de integração do Português nos sistemas educativos locais – o que, nos

Estados Unidos, regista já alguns casos de sucesso. Como decorreu o processo de pré-inscrição online dos alunos? Correu muito bem e a prova é que, para o próximo ano letivo, 2012/13, temos já um número maior de alunos do que no que acabou agora. Vamos ter 57 mil estudantes (eram 55 mil) e isto só no EPE – Ensino de Português no Estrangeiro. Para além destes, vamos distribuir cerca de sete mil manuais a alunos, nos estados Unidos e no Canadá, onde o ensino é integralmente pago pelos pais e pelas autoridades locais. Considera a propina anual de 120 euros adequada? Nós temos a consciência de que precisamos de meios para esta mudança. É claro que sabemos que a pequena propina que pedimos não é uma medida simpática, mas também temos tidos muita gente a compreendê-la. Agora, com toda a franqueza, a alternativa era fechar algumas escolas e ter menos jovens a estudar português lá fora. Já está garantida a certificação das aprendizagens, no estrangeiro, pelo Ministério da Educação e Ciência? Estamos a trabalhar a fundo para que não seja apenas o Instituto Camões a proceder a tudo quanto tem a ver com as avaliações e com as certificações, pelo nosso sistema de ensino. O Ministério da Educação e Ciência tem de estar envolvido e a articulação tem de ser total comop já está a acontecer. Outro projeto anunciado foi o da descentralização das funções consulares. Em concreto, que medidas foram já tomadas e quais as que estão previstas? Temos em curso uma experiência de permanências consulares que permitem tratar de assuntos diversos fora dos consulados, através de equipamentos móveis. Esta experiência, a decorrer na Alemanha e em França, com assinalável sucesso, permite tratar de documentos como o cartão de cidadão, o passaporte, etc., aproximando ao mesmo tempo os consulados às comunidades mais isoladas. Paulo Marques paulo.marques@asbeiras.pt


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Mais de 120 mil portugueses emigraram em 2011 e muitos deles são licenciados O número de licenciados desempregados que anulou a inscrição nos centros de emprego para emigrar subiu 49,5 por cento entre 2009 e 2011 DR

números

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desempregados licenciados anularam a inscrição nos centros de emprego por terem emigrado, em 2011, contra 1.266 registados em 2009

49,5%

é o aumento da percentagem, entre 2009 e 2011, de licenciados desempregados que anularam a inscrição nos centros de emprego para emigrar

55,2%

dos desempregados que optam por emigrar têm entre 35 e 54 anos

111 Apesar de não existirem números concretos sobre a emigração portuguesa, a Secretaria de Estado das Comunidades admite que entre 120 mil e 150 mil portugueses emigraram no ano passado, confirmandose assim uma tendência dos últimos anos. As saídas de portugueses para o estrangeiro estão a aumentar, segundo os mesmos dados, para países como a Suíça, a França ou Brasil. No Brasil, os destinos procurados são o Nordeste mas também, mais recentemente, o Rio de Janeiro e São Paulo. Aliás, segundo dados da Secretaria Nacional de Justiça do Brasil, os pedidos de residência permanente por parte de portugueses aumentaram de 276.703 para 328.856 entre dezembro de

2010 e junho de 2011, tendo ainda sido emitidos muitos vistos para a realização de trabalhos temporários, estudos e pesquisas. Apesar de não existirem números concretos, os “fluxos” da emigração portuguesa sugerem que cada vez há mais trabalho temporário. Isto é, os portugueses “emigram” por determinado período de tempo e regressam. Emigração mais qualificada A emigração portuguesa é também cada vez mais qualificada e começa em faixas etárias mais novas e estendese até idades mais avançadas. Os registos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) revelam que a opção pelo estrangeiro está cada vez mais em cima da mesa dos trabalhadores

qualificados desempregados. Contudo, em valor absoluto, o número destes emigrantes não chega a 2000 licenciados O número de licenciados desempregados que anulou a inscrição nos centros de emprego para emigrar subiu 49,5 por cento entre 2009 e 2011, de acordo com os registos do Instituto de Emprego e Formação Profissional. O número de licenciados é, de facto, reduzido face ao total de trabalhadores que decidiram emigrar, mas os dados sugerem que a opção pelo estrangeiro está cada vez mais em cima da mesa dos portugueses com qualificacões que se encontram numa situação de desemprego. Dados parciais Em 2011, a emigração justificou o fim da inscrição de

1.893 desempregados licenciados (contra os 1.266 registados em 2009), de um total de 22.700 trabalhadores que deixaram de estar inscritos no IEFP porque decidiram aceitar ofertas de trabalho no estrangeiro. O presidente do IEFP, Octávio Oliveira, aconselha porém uma “leitura muito limitada” destes dados, uma vez que representam “apenas e só as anulações de candidatura a emprego realizadas pelos serviços do IEFP na sequência da declaração do próprio”. Mercado mais globalizado Para o responsável, “não é significativo” o aumento da emigração entre os desempregados inscritos que possuem uma habilitação superior nos últimos três anos em análise.

Para Octávio Oliveira, a saída de trabalhadores para o estrangeiro tem sido constante nos últimos anos e é também resultado de um mercado de trabalho cada vez mais globalizado. “Mesmo em momentos de crescimento da economia nacional foi significativo o número de anulações por motivo de emigração”, refere o presidente do IEFP. Emprego sazonal “A própria emigração tem hoje uma componente de sazonalidade, sendo normal o aproveitamento de excepcionais oportunidades, com remunerações e condições interessantes”, acrescenta Octávio Oliveira. A divulgação de ofertas de emprego no espaço europeu e a cooperação dos serviços

públicos de emprego tem sido, de resto, uma das prioridades na União Europeia, reforçou. De acordo com os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional, a maioria dos desempregados que optam por emigrar têm entre 35 e 54 anos (55,2%) e possuem habilitações escolares ao nível do ensino secundário (24,3%). Entre os grupos de profissões com mais trabalhadores a emigrar, estão os operários, artífices e trabalhadores similares (20,4% do total), pessoal dos serviços de proteção e segurança (12,3%) e os trabalhadores não qualificados dos serviços e comércio (10,5%). Dora Loureiro dora.loureiro@asbeiras.pt


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Suíça, França e Angola entre os principais destinos ção mais qualificada, como acontece com o Canadá e a Austrália, que têm fluxos migratórios periódicos para gente muito qualificada, aos quais nem sempre é fácil aceder. Geração dos 50 também emigra O que está a mudar também é a idade dos emigrantes. Hoje, a geração que tem 40 e 50 anos também passou a arriscar, indicam os dados disponíveis sobre a emigração a arriscar. “A grande diferença é que, até há meia dúzia de anos, não havia uma pessoa de 40 ou 50 anos a emigrar e hoje vêem-se várias. Como se vê pessoas que partem com a família toda atrás e como se vê muita gente qualificada, muita gente com cursos superiores que vai procurar oportunidades lá fora”, destaca José Cesário. Imigração diminui Nestes países, a maior parte do emprego é conseguido nas atividades tradicionais, como sejam a hotelaria, construção civil e limpezas. A crise económica e consequente aumento do desemprego também se faz notar na imigração. “Hoje, porque não há empregos, não há praticamente pessoas a entrar em Portugal vindas do exterior”, admite o governante.

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111 Suíça, França e Angola são os principais destinos dos novos emigrantes, cujo número está a crescer devido ao desemprego e às dificuldades económicas e inclui já pessoas de 40 e 50 anos. Apesar de ser impossível obter dados específicos sobre o número de emigrantes – já que a circulação de pessoas é livre na União Europeia –, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, admite que o número tem aumentado com o crescimento das dificuldades económicas em Portugal. Os indicadores nesse sentido são dados pela administração dos consulados e abertura de novas contas, que indicam que há um aumento grande da emigração. Os novos emigrantes têm algumas diferenças em relação às chamadas vagas convencionais. A começar pelos destinos, que agora incluem Angola como um dos principais países para onde os emigrantes portugueses se dirigem. Os principais destinos são Suíça, França e Angola, locais procurados por oferecerem oportunidades de emprego, mas começa também a haver portugueses que procuram emprego no Brasil. As instituições brasileiras, de resto, confirmam o aumento de pedidos de vistos por parte de portugueses. Pontualmente há emigra-


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Notas na emigração RA taxa de desemprego em Portugal ultrapassa os 15%. As expetativas para 2012 e 2013 não apontam melhorias, com o crescimento previsto do PIB português a rondar os -3%. Face a este cenário, a emigração é uma alternativa para cada vez mais jovens.

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Remessas dos emigrantes voltam a crescer este ano Banco de Portugal indica que os emigrantes portugueses enviaram 822,4 milhões de euros para o país nos primeiros quatro meses deste ano. As remessas foram as mais altas desde 2002

R As engenharias e os profissionais de saúde, como os enfermeiros, são alguns dos empregos mais procurados a nível mundial. Em Portugal, 20% do total de licenciados corresponde a profissionais de engenharia, uma média muito acima da generalidade internacional. Também os enfermeiros portugueses beneficiam do facto de serem formados num dos poucos países em que têm formação superior. RO Reino Unido, Suíça e França são os que mais contratam profissionais de saúde portugueses. Recentemente, a Alliance Française fez mesmo uma campanha de recrutamento em Portugal, tendo levado mais de 700 enfermeiros para terras gaulesas. RNo Brasil, a procura de engenheiros, designers e de arquitetos tem sido muita, numa altura em que se prepara o acolhimento do Mundial de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016. O país tem sido o destino de muitos portugueses RO Canadá, um dos países com melhor nível de vida do mundo, necessita de profissionais ao nível dos técnicos de saúde, hotelaria, engenheiros e informáticos. O problema é que o visto nem sempre é fácil de obter

111 As remessas de emigrantes portugueses voltaram a aumentar, após a quebra sentida em anos de crise, como 2008 e 2009, e depois de praticamente terem estagnado no último ano. Os dados divulgados pelo Banco de Portugal mostram que os emigrantes portugueses enviaram 822,4 milhões de euros para o país nos primeiros quatro meses deste ano, o que que é o valor mais alto registado na última década e representa um aumento de 17,6% face ao período homólogo de 2011. Em valores absolutos, os emigrantes já não enviavam tanto dinheiro para Portugal desde 2002 O “boom” verificado este ano nas remessas mostra que a nova vaga de emigração,

dos últimos anos, não se tem traduzido num grande aumento do dinheiro que os emigrantes enviam para Portugal. Emigrantes e destinos diferentes Contudo, os emigrantes continuam sempre a mandar as suas poupanças para Portugal, mas essas remessas têm crescido a ritmo mais lento do que o da saída de portugueses em busca de trabalho ou de uma vida melhor no estrangeiro. Entre 2010 e 2011, as remessas aumentaram apenas 4,6 milhões de euros, para somar 2,430 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal. Os especialistas adiantam

várias explicações para esta diferença entre o aumento da emigração e o menor valor das remessas enviadas pelos emigrantes. Desde logo, o emigrante de hoje é diferente dos que emigravam no passado. Muitos deles são mais jovens e qualificados e não tem o objetivo claro de manter uma família em Portugal, para regressarem mais tarde. Depois, as dúvidas sobre a estabilidade da banca nacional estarão a levar alguns a preferir fazer aforro no estrangeiro. Acresce que a crise está também a atingir destinos fortes de emigração e alguns países dificultam a saída de dinheiro. No entanto, as atuais dificuldades do país podem

As remessas enviadas este ano pelos emigrantes representam um aumento de 17,6% face ao período homólogo de 2011

1 Aumentaram as remessas vindas de Angola e da Suíça, por exemplo

2 Da Alemanha vieram menos sete milhões de euros

estar na origem da inversão de tendência que se está a registar este ano, ou seja, é possível que exista um reforço do sacrif ício de quem está fora, numa tentativa de ajudar os familiares. Remessas de alguns países aumentam De qualquer modo, aumentaram as remessas de Angola, que em 2009 estava no 6.º lugar da lista das principais origens das remessas e em 2011 chegou ao 3.º lugar. No último ano cresceram também as quantias enviadas da Suíça, mas, em contrapartida, o início da crise espanhola fez regressar largos milhares de portugueses e da Alemanha deixaram de vir sete milhões de euros.


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Empreendedores lusos no estrangeiro com negócios de largos milhões de euros COTEC Portugal distingue os portugueses que, pela sua capacidade empreendedora e inovadora, se notabilizam fora de Portugal

distinções

Com mais de 30 anos de experiência na área social, Isabel Santos Melo tem dedicado a carreira a apoiar pessoas vulneráveis e com deficiência, sendo fundadora do Grupo Mentaur, que presta serviços residenciais a adultos com dificuldades de aprendizagem, saúde mental e necessidades complexas. Isabel Santos Melo (Reino Unido, 57 anos)

111 A COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação quer dar o exemplo dos empresários lusos que triunfaram em mercados externos. O que é mais um argumento a justificar que a associação tenha lançado o “Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa”. Na última edição do prémio, Isabel Santos Melo foi galardoada com o prémio, tendo sido também atribuída uma menção honrosa a Cristóvão Fonseca. O prémio foi entregue pelo Presidente da República no Palácio da Cidadela, em Cascais, numa iniciativa da COTEC Portugal que pretende celebrar os portugueses que, pela sua capacidade empreendedora e inovadora, se notabilizam fora de Portugal

nas suas atividades. “Tenho a certeza que muitos de vós, que têm conseguido vencer em economias exigentes e diferenciadas, poderão também ser fonte de inspiração para outros e contribuir para o desenvolvimento do nosso país”, frisou Filipe de Botton, presidente do júri. De resto, o responsável não deixou de enaltecer a importância para Portugal dos empreendedores na diáspora, como são os 141 candidatos a esta 5.ª edição do Prémio Diáspora. Exemplos de sucesso empresarial na diáspora No discurso de encerramento, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirmou a importância deste “reencontro de portugueses”. por con-

tribuir para “estreitar os laços entre portugueses separados por geografias longínquas” e servir o propósito de “a todos mobilizar para o desenvolvimento de Portugal”. Como exemplo dessa mobilização, o Presidente da República apontou a aposta de João Mena de Matos, vencedor da edição anterior deste prémio, que após essa distinção decidiu implementar o Centro de Treino Avançado para Equipas Médicas em Portugal, um projeto que representa um investimento de 15 milhões de euros. Para o Presidente da República uma economia exige “a força dos empreendedores para a sua renovação, através de actividades inovadoras que impulsionem o crescimento económico e a produtivida-

de, e que sejam geradoras de emprego”. Perante o sucesso destes empresários, a COTEC entende que os empreendedores portugueses na diáspora podem ajudar as empresas portuguesas, através dos seus contactos e como agentes facilitadores e assim contribuírem para o crescimento das exportações, considera Filipe de Botton. Dados testemunham vitalidade Os exemplos de empresários lusos de vários setores de atividade que vingaram em mercados além fronteiras não param de crescer. E a importância destes empresários está bem patente nos volumes de faturação, bem como no número de postos de trabalho que criaram.

Os dados da 4.ª edição do prémio permitiram concluir que os empreendedores candidatos empregam mais de 60 mil colaboradores e apresentavam um volume de negócios global da ordem dos 4,5 mil milhões de euros, segundo a COTEC Portugal. Para Filipe de Botton, presidente do júri da última edição destes prémios, “o projeto da COTEC visa dar um impulso às relações entre Portugal, a diáspora portuguesa e os países de acolhimento da mesma pelo mundo. Os vencedores das anteriores edições deste prémio são representantes de elevado valor nos países em que se encontram inseridos e têm projetado o nome de Portugal e dos portugueses nos vários setores e mercados em que se encontram”, destaca.

Com mais de vinte anos de estudo no mundo artístico e das belas artes, Cristovão Fonseca é um autor-realizador que cofundou a empresa de produção de documentários e filmes Les Films de l’Ódyssée, estando actualmente envolvido na criação da Oito TV, um canal para a diáspora portuguesa. Cristóvão Fonseca ( França, 35 anos)


12 | especial | edição extra acolhimento aos emigrantes’2012

diário as beiras | 29-07-2012

Diáspora formada na mais antiga instituição de ensino superior Aumento do número de emigrantes permite aumentar a diáspora portuguesa no estrangeiro. Universidade de Coimbra é um dos principais pólos de formação

Candidatura a património mundial da Unesco tem como principal pilar a diáspora

DB-Luís Carregã

111 Não é um mito dizer que “os portugueses continuam a seguir a rota das caravelas” mas já é um mito dizer que é o espírito aventureiro dos portugueses que os está a empurrar para o mundo. Os últimos dados apontam para que, fora do país, sejam mais de cinco milhões os portugueses que emigraram em busca de uma vida melhor. E, perante a crise que tem marcado o país nos últimos anos, a tendência é para este número aumentar de forma significativa. França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo e Espanha continuam a ser a preferência dos portugueses, mas há quem olhe agora para novas paragens, o que permite falar no rejuvenescimento da diáspora portuguesa. Ou seja, a globalização económica deu origem a uma globalização laboral mundial. Brasil, África (com Angola e Moçambique nas preferências) e Estados Unidos da América são alguns dos territórios apetecíveis para muitos dos portugueses. Este aumento de emigrantes tem levado a aumentar a diáspora portuguesa. Um dos estudos sobre a diáspora portuguesa refere que grande parte dos nossos emigrantes são da região Norte e Centro. Muitos deles ainda tentaram, primeiro, a sua sorte em Lisboa, mas pouco tempo depois optaram por viajar para outras regiões do globo, estando espalhados pelos “quatro cantos do Mundo”. Dimensão internacional Importante em todo este movimento tem sido as universidades. E, principalmente, a Universidade de Coimbra. A mais antiga instituição de ensino superior portuguesa levou a que muitos portugueses fossem obrigados a deslocar-se das suas terras natais até à cidade de Coimbra para aqui concluir

destaque RA globalização eco-

nómica deu origem a uma globalização laboral mundial. Brasil, África (com Angola e Moçambique nas preferências) e Estados Unidos da América são alguns dos territórios apetecíveis para muitos dos portugueses R U m dos pilares da

candidatura de Coimbra a Património Mundial da Unesco (que já foi entregue) é a sua diáspora RA dimensão nacional e internacional da Universidade de Coimbra é reforçada pela formação de elites para um espaço pluricontinental e pela importância da cidade como centro de produção e irradiação cultural R Investigadores form a d os n a U n ive rsidade de Coimbra começam a ser reconhecidos a nível nacional e internacional R O crescimento do

número de alunos estrangeiros a estudar em Coimbra revela a imagem positiva dada no exterior pelos alunos formados naquela que é a mais antiga instituição de ensino superior portuguesa

os seus estudos superiores. Em muitos casos, houve quem tivesse preferido permanecer na cidade onde estudou, mas outros houve que procuraram o sucesso na capital ou do outro lado da fronteira. A sua importância é tal que um dos pilares da candidatura da cidade a Património Mundial da Unesco (que está a decorrer) é a sua diáspora. A dimensão nacional e internacional é reforçada pela formação de elites para um espaço pluricontinental e pela importância da cidade como centro de produção e irradiação cultural. Se as Faculdades de Direito e Medicina são por excelência um dos polos difusores do saber conimbricense, juntaram-se depois as Ciências e as Letras. Aliás, nos últimos anos, tem sido nas ciências que o nome da cidade tem dado sinais da sua abrangência. Investigadores formados na Universidade de Coimbra começam a ser reconhecidos a nível nacional e internacional, o que leva a que este polo de ensino seja muito procurado por estrangeiros. Sinal disso mesmo tem sido a crescente procura de alunos estrangeiros para a participação no programa de cooperação e mobilidade Erasmus. Este crescimento revela a imagem positiva dada no exterior pelos alunos formados na mais antiga instituição de ensino superior portuguesa, levando mesmo o antigo consul de Portugal em Benguela, Alexandre Leitão, a considerar que o prestígio da cidade “é bem maior no estrangeiro do que em Lisboa”. “No estrangeiro, não me canso de ilustrar o potencial do meu País”, referiu no texto de opinião publicado na última edição de aniversário do DIÁRIO AS BEIRAS, publicada a 24 de março último. António Alves antonio.alves@asbeiras.pt


edição extra acolhimento aos emigrantes’2012 | especial | 13

29-07-2012 | diário as beiras

“Acho muito bem que os jovens portugueses emigrem” Radicado nos Estados Unidos, em New Bedford, Pedro Cura vem duas vezes por ano a Portugal. Mas não põe a hipótese de regressar de vez DB-Pedro Agostinho Cruz

estórias de vida

Pedro Cura emigrou para os Estados Unidos em 1974

111 A história dos emigrantes portugueses escreve-se com sangue, suor e lágrimas. A nova geração, porém, na sua maioria altamente qualificada, parte com emprego garantido e bem remunerado. Pedro Ribeiro Cura, 63 anos, foi para New Bedford em 1974, cidade onde cerca de 80 por cento da população é portuguesa ou luso-descendente. “Embarcou” numa vaga de emigração de pescadores oriundos da freguesia de S. Pedro, Figueira da Foz. Inicialmente, trabalhou na indústria têxtil, mas rapidamente se mudou para as pescas. Naquela cidade do estado de Massachusetts, Pedro Cura é um dos armadores portugueses, detendo sociedade em duas embarcações de pesca. Os cinco empregados são portugueses, três dos quais figueirenses – dois de S. Pedro e um de Tavarede. Antes de partir à conquista do sonho americano, o natural de S. Pedro cumpriu serviço militar em Angola, na guerra do ultramar, durante 26 meses. Antes disso, porém, concluiu o curso industrial. Hoje, a sua prole já vai na terceira geração de emigrantes. Ou melhor, os netos já nasceram americanos. E os filhos preferem a terra firme. “Não conheço ninguém de S. Pedro emigrado em New Bedford cujos filhos se dediquem à pesca”, afirma. Mas há coisas que nunca mudam: “sinto a falta do oxigénio da minha terra e do iodo deste mar”. É por isso, e para conviver com os poucos familiares que vivem na sua terra natal e com amigos, que Pedro Cura vem a Portugal duas vezes por ano. Mercado da saudade “Enquanto puder, vou continuar a vir duas vezes por ano, uma a seguir ao Natal e outra no verão”, assevera o emigrante figueirense, que nos recebeu na sua casa, em S. Pedro. Ressalva, no entanto, que “está fora de causa

destaque RPedro Cura vem a Portugal duas vezes por ano uma a seguir ao Natal e outra no verão REm New Bedford cerca de 80 por cento da população é portuguesa ou luso-descendente RAté o pão que a família consome é feito numa padaria portuguesa RPedro Cura é um dos armadores portugueses de New Bedford , detendo sociedade em duas embarcações de pesca RSer lusitano naquela parte do mundo, assim como noutras, “é sinónimo de prestígio, pela sua força e capacidade de trabalho”, afirma Pedro Cura

regressar de vez”. Porquê? “Gosto muito desta terra, mas também gosto muito dos Estados Unidos, onde tenho a minha família, que também não que voltar”. A resposta é elucidativa. De resto, “vive” Portugal todos os dias naquela cidade costeira norte-americana, que tem o maior porto de pesca da união. Em New Bedford, “até a água que a tripulação bebe é portuguesa”, pormenoriza

Pedro Cura. Aliás, só a carne, o peixe e outros produtos perecíveis são “Made In USA (Fabricado nos Estados Unidos)”. “Até o pão que consumimos é feito numa padaria portuguesa”, realça. A música e as notícias também são portuguesas – existe uma rádio que emite em português. Na América, convive, sobretudo com portugueses e americanos. De resto, ser lusitano naquela parte do mundo, assim como noutras, é sinónimo de prestígio, pela sua força e capacidade de trabalho. Património genético “Quando os portugueses chegam ao aeroporto do país para onde emigraram, apetece-lhes logo trabalhar”, ilustra Pedro Cura. Esse é o passaporte que abre as portas da integração, do respeito e da admiração à diáspora lusitana. A nova geração de emigrantes tem portanto a vida mais facilitada, fruto do trabalho dos seus antecessores e, também, da formação académica que levam na bagagem. Pedro Cura não encontra drama na sugestão de alguns governantes portugueses que apontam o caminho da emigração como forma de encontrarem lá fora o que não têm cá dentro – emprego. “Estou plenamente de acordo que os jovens portugueses devem emigrar, para enriquecerem os seus conhecimentos e porque a situação económica em Portugal não vai melhorar tão cedo”, argumenta o emigrante da Figueira da Foz. A seu favor está a capacidade de adaptação dos portugueses, realça. Por outro lado, se forem para os Estados Unidos, frisa Pedro Cura, encontrarão uma sociedade “mais humana, onde não há diferenças no trato entre classes sociais, profissionais ou económicas”. Jot´ Alves jot.alves@asbeiras.pt


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diário as beiras | 29-07-2012

estórias de vida

Alberto Ferreira queixa-se da falta de qualidade dos governantes portugueses

De emigrante nos Estados Unidos a autarca na Figueira da Foz O ex-emigrante apostou na aquicultura e foi um dos primeiros a converter as salinas em tanques de peixe 1 1 1 Alberto da Cruz Ferreira, 56 anos, natural de Anadia, reside em Lavos, onde casou, há 36 anos. Naquela localidade, exerce o cargo de presidente da Assembleia de Freguesia, tendo-se candidatado, nas eleições autárquicas de 2009, pelo movimento independente Lavos Vai ou Racha, liderado pelo carismático José Elísio, presidente da junta. Viveu nos Estados Unidos dos 14 aos 27 anos, tempo suficiente para ganhar dinheiro para se estabelecer em Portugal, quatro anos depois do regresso à pátria. Conserva, porém, a dupla nacionalidade. Na ilha da Morraceira, na Figueira da Foz, Alberto Ferreira transformou sal em peixes. Milagre? Não. O ex-emigrante apostou na aquicultura e foi um dos primeiros a converter as salinas

em tanques de peixe. “Tenho boas recordações dos Estados Unidos. Foi lá que vivi a minha juventude e aprendi a ser homem”, afirma Alberto Ferreira. E “foi lá que ganhei dinheiro para derreter em Portugal, mais do que investir, porque aqui não há respeito por quem investe”, acrescenta. Dá como exemplo a mortandade de peixes, durante as obras de substituição da Ponte dos Arcos: “a culpa morreu solteira, apesar de terem matado várias toneladas de peixe. Muitas promessas, mas nenhuma delas foi cumprida”. Contudo, o ex-emigrante não se arrepende de ter trocado o mosaico cultural policromático americano pelo bucólico quotidiano lavoense. “Não me arrependo porque em Portugal, apesar de tudo, somos um cantinho

do céu”, explica. No entanto, atira: “os nossos governantes não conseguem vender o clima e o sol. Portugal podia ser a Florida da Europa, mas não temos tido bons governantes. Só se interessam com os seus tachos e protegem-se com as leis que fazem, enquanto nos Estados Unidos são todos iguais perante a lei”. Os anos da mãe Invariavelmente, Alberto Ferreira sobrevoa o Atlântico para aterrar em Nova Jérsia. Vai à terra do “Tio Sam” por razões estritamente familiares: “vou lá sempre em fevereiro, para os anos da minha mãe”. Nunca se sentiu tentado em comprar apenas o bilhete de ida? “Nunca pensei ficar lá porque gosto muito de Portugal, embora não se ganhe, aqui, muito dinheiro”, garante. Por outro

lado, continua, “a América também já não é o que era. Mas quem lá tem emprego e a vida organizada, continua a ser muito melhor do que Portugal”. Pensa em português ou em americano (inglês)? “Depende das alturas. Há muitas coisas que penso como um americano. Por exemplo, nos Estados Unidos, quando se decide ser empresário, temos de ter conhecimentos sobre o ramo de atividade, ou então aprendemos. Em Portugal, qualquer um investe sem ter conhecimentos. Neste caso, penso como um americano”, responde. O seu primeiro emprego na América foi nos Supermercados Seabra, de empresários portugueses, naturais de Seia. Pouco tempo depois, estabeleceu-se por conta própria, na restauração. Por falar em negócios, o an-

tigo emigrante afirma que “a aquicultura já teve melhores dias. Agora luta-se por sobreviver”. Mas parar é morrer e os tanques de robalo e dourada de Alberto Ferreira transbordam vida. “Já estou a pensar em reformular o investimento, apostando em espécies diferentes. Gosto daquilo que faço”, adianta. Acerca da nova vaga de emigrantes, o autarca de Lavos aconselha: “se fizerem lá fora a vida que fazem aqui, mais vale não emigrarem, porque aqui ainda têm a família. Lá fora, têm de trabalhar, trabalhar e trabalhar. Só ao fim de semana é que se pode ter um bocado de convívio, mas em casa de amigos ou da família – não se pode andar a comer nos restaurantes todos os dias, como aqui”. Jot´ Alves jot.alves@asbeiras.pt

destaque RAlberto da Cruz Ferreira viveu nos Estados Unidos dos 14 aos 27 anos, tempo suficiente para ganhar dinheiro para se estabelecer em Portugal R O ex-emigrante não se arrepende de ter trocado o mosaico cultural policromático americano pelo bucólico quotidiano lavoense R Ainda hoje vai frequentemente a Nova Jérsia, por razões estritamente familiares


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29-07-2012 | diário as beiras

DR

estórias de vida

Antigos estudantes de Coimbra são empresários de sucesso em Madrid O restaurante Frangus é propriedade de dois irmãos que estudaram em Coimbra. Em junho, o projeto – que faz parte da cadeia Rei dos Frangos, com sede em Leiria –, foi distinguido com o prémio “Empreendedorismo Inovador” na Diáspora Portuguesa, atribuido pela COTEC 111 Cláudio Schulz foi estudante de Engenharia de Minas na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e chegou a ser presidente da Assembleia Magna da AAC. Foi em 2004, numa época em que os projetos para o futuro eram ainda tão incertos. Hoje, com 32 anos, o antigo dirigente associativo, natural de Tomar, é um empresário de sucesso em Madrid. Tudo começou em 2006. “Vim para Espanha para fazer uma formação em SAP e acabei por ter ofertas de trabalho para cá ficar. Como as coisas em Portugal já não andavam muito bem e a diferença de salário era considerável, decidi arriscar”. E arriscou bem. Nesse ano desempenhou funções de consultor certificado em SAP em diferentes organizações nomeadamente no El Corte Ingles. No entanto, Claudio Schulz quis

ir mais longe e, em 2011, juntamente com irmão (também antigo estudante de Coimbra) e as respetivas namoradas, deu início a um projeto seu. Graças a uma parceria com o Rei dos Frangos, com sede em Leiria, Cláudio e o irmão Carlos (master em Comércio Internacional), Sónia Gregório (psicóloga) e Lúcia Carvalho (consultora MediaNet) abriram o restaurante “Frangus”, um conceito take away de comida portuguesa. “Havia muitos portugueses a comentar que a coisa que sentiam mais falta cá era de um bom frango assado. Então decidimos falar com o Rei dos Frangos em Portugal para fazer uma parceria e abrir cá um conceito similar ao existente em Portugal”, conta. Duas lojas inauguradas em 2011 O caminho não foi fácil. “Fizemos um estudo de

mercado e levámos espanhóis a Portugal para que pudessem provar a nossa comida. Não foi propriamente uma tarefa fácil e ouvimos muitas vezes as expressões “isso é impossível”. A verdade é que conseguimos”, afirma o empresário. Em abril do ano passado foi inaugurada a primeira loja. Cinco meses depois, foi aberto um segundo restaurante “Frangus” também na capital espanhola. Matar saudades da comida portuguesa Nos restaurantes de Madrid, o frango é o principal produto, mas há outros pratos tipicamente portugueses como o bacalhau, o caldo verde e os pastéis de nata, que passaram a fazer as delícias dos espanhóis, mas também de muitos portugueses residentes em Madrid. “O projeto tem corrido bastante bem. Teve, desde

o início, muita aceitação na comunidade portuguesa, mas também tem tido na comunidade espanhola e nas comunidades PALOP q u e v i v e m e m M a d r i d ”, adianta Claudio Schultz. Prémio “Empreendedorismo Inovador” A parceria, que começou a ser planeada com o Rei dos Frangos em 2010, foi distinguida no passado mês 6 de junho com o prémio “Empreendedorismo Inovador” na Diáspora Portuguesa, atribuído pela COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação. O prémio, entregue pelo Presidente da República, Cavaco Silva, visa premiar e divulgar publicamente cidadãos portugueses que se tenham distinguido pelo seu papel empreendedor, inovador e responsável nos países de acolhimento e que constituam exemplos de integração efetiva nas correspondentes economias .

Pa r a C a r l o s e C l a u d i o Schulz, a emigração não é algo de novo: também o pai de ambos rumou, em tempos, para a Venezuela à procura de melhores oportunidades. No entanto, para estes irmãos, o facto de viverem ao lado de Portugal faz com que não se sintam tão longe do país onde cresceram. Ainda assim, no final do ano passado, os dois fundaram, juntamente com outros três amigos, um centro de apoio a jovens portugueses que pretendem dar início a novos projetos em Espanha. O JET (de “Jovens Empreendedores Portugueses”) quer juntar jovens, ideias e empreendedores. “Queremos dar a conhecer oportunidades em Espanha e ajudar a quem quer montar negócio”, afirma Claudio Schulz. Patrícia Cruz Almeida patricia.almeida@asbeiras.pt

destaque RGraças a uma parceria com o Rei dos Frangos, com sede em Leiria, Cláudio Schulz, o irmão Carlos e as respetivas namoradas abriram o restaurante “Frangus”, um conceito take away de comida portuguesa REm cinco meses, abriram o segundo restaurante RNo final do ano passado, os dois irmãos fundaram, juntamente com outros três amigos, um centro de apoio a jovens portugueses que pretendem dar início a novos projetos em Espanha


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DB-J.A.

estórias de vida

Manuel Gil passou a maior parte da sua vida em França

“Já me arrependi muitas vezes de ter regressado a Portugal Quando despiu de vez o uniforme militar, o buarcosense deixou o mar e faz-se à estrada, a caminho de Paris 111 Manuel Eduardo Gil Mascarenhas tem 68 anos. Natural de Buarcos, Figueira da Foz, o antigo pescador fez vida em França, de 1969 a 2003. Fomos falar com ele no campo de petanca, jogo importado da Gália, onde passa as suas tardes. O exemigrante conta rápido a sua passagem por terras gaulesas. “Emigrei porque via muita gente daqui a emigrar”, esclarece. Mas, quando a história é contada na primeira pessoa, nunca se é mais um. Foi em Buarcos onde iniciou a sua vida laboral, cedo, muito cedo, como era timbre naqueles tempos. Tendo nascido no seio de uma comunidade piscatória, é claro que só podia fazer-se ao mar. Primeiro na sardinha e depois no bacalhau. A epopeia na Terra Nova foi alternada com o serviço militar. É que nos

idos anos da ditadura o Estado Novo dispensava-se particular importância à captura do “fiel amigo”, enquanto o país combatia o inimigo em África. Em ambas as “guerras” havia fortes possibilidades da vida naufragar. Ainda assim, havia quem preferisse “combater” marés e tempestades nas águas agitadas e geladas dos mares do norte, tantas vezes os mares da morte. Manuel Gil era um guerreiro destemido que se livrou de ir para a guerra ultramarina mas que “combateu” por entre os blocos de gelo. O campo de batalha era a costa do Canadá, onde só os mais bravos (pescadores) lutavam para sobreviver ao frio, no meio das brumas. Desses tempos restam as memórias que os egrégios avós contam aos seus netos, em terra firme,

no conforto do lar. “Conseguia licenças de nove meses para a pesca do bacalhau. Depois, voltava ao quartel”, conta. E assim andou durante três anos e meio. Quando despiu de vez o uniforme militar, o buarcosense deixou o mar e faz-se à estrada, a caminho de Paris. Em Buarcos ficou a mulher à espera que a cegonha chegasse da capital francesa. “Quando emigrei deixei cá a mulher grávida”. Mas não perdeu o nascimento do primogénito. Quando regressou a França, voltou para a oficina de automóveis onde um conterrâneo de lhe arranjou emprego poucos meses depois de ter chegado.

vil. “Nas obras públicas”, faz questão de realçar. Meses depois, mudou-se para a oficina onde trabalhava o seu conterrâneo, mas só ao fim de semana. O emigrante não tinha descanso. “O patrão gostava de mim e deu-me emprego a tempo inteiro”, afiança. Haveria de regressar ao seu segundo empregador na terra dos queijos, mas só alguns anos mais tarde. Entretanto, trabalhou cinco anos numa fábrica de suportes para lâmpadas, onde um acidente de trabalho o deixou sem um dedo e outro ficou inutilizado. Decidiu, então, regressar à oficina, como pintor de carros. E ali ficou até regressar a Portugal.

Pintor de carros O primeiro trabalho que Manuel Gil encontrou em França foi na construção ci-

Descanso do guerreiro Quando lhe perguntámos se já se arrependeu de ter regressado a Portugal, Manuel Dias

não hesita: “já me arrependi muitas vezes. Vim com aquela ideia dos amigos que deixei cá e que as coisas tinham mudado. Mas cheguei à conclusão que fiz mal regressar. Só não volto para França porque, com esta idade, já não conseguia adaptar-me”. Um dos dois filhos, o mais novo ficou lá. O mais velho veio com ele. Agora, Manuel Gil passa as tardes a treinar e a jogar petanca, atleta dedicado que participa em torneios. No jogo da vida, sempre pouco propício a prognósticos antes da partida, chega rapidamente à conclusão que o descanso do guerreiro é mais do que merecido. “Já trabalhei muito. Tive uma vida cheia de trabalho. Agora, só quero descansar”, remata. Jot´Alves jot.alves@asbeiras.pt

destaque

R “Só não volto para França porque, com esta idade, já não conseguia adaptar-me”, afirma o ex-emigrante R O primeiro trabalho que Manuel Gil encontrou em França foi na construção civil. “Nas obras públicas”, realça. Meses depois, mudou-se para a oficina


edição extra acolhimento aos emigrantes’2012 | especial | 17

29-07-2012 | diário as beiras

“Todos os dias penso na hora de regressar a casa” Paulo Almeida, natural de Anadia, emigrou aos 32 anos. Acabou por seguir os passos dos pais, também eles ex-emigrantes no Canadá DR

estórias de vida

111 Ainda pensou duas vezes antes de partir para o Canadá. A distância era demasiado grande e era necessário pesar os pós e os contras. Paulo Almeida tinha 32 anos, mas as perpetivas de conseguir emprego num Portugal sempre em crise pesaram mais na decisão de atravessar o Atlântico. A madrugada em que partiu, deixando para trás uma vida, uma família, um lar, ficar-lhe-á para sempre marcada na memória. Ainda hoje, volvidos 11 anos, a despedida custa. Paulo é solteiro e não tem filhos. Mas os anos passam e o que mais o inquieta é saber se voltará a ver os pais. “As marcas do tempo são terríveis e o amanhã é tão incerto…”, afirma. Filho de emigrantes Se vale a pena? “É um projeto de vida. Desde que vim para o Canadá

nunca me faltou trabalho [Paulo é supervisor numa empresa de manutenção de edif ícios]. Mas é uma vida solitária e todos os dias penso na hora de regressar a casa, a Portugal”, adianta. O Canadá não lhe era um país totalmente desconhecido: Paulo Almeida viveu a adolescência em Toronto com os pais, também exemigrantes. E, apesar de ser menos aventureiro, acabou por seguir os passos do pai. Manuel Almeida não se conformou com o país cinzento da época não coincidia com a juventude dos seus 25 anos e à cor que queria dar aos seus sonhos. “Tinha que partir para dar uma vida melhor à minha família. Sabia o risco que estava a correr”, recorda. Naquele tempo – na década de 60 – a emigração estava sobretudo direcionada para França. Os portugue-

ses partiam das aldeias, com a ajuda dos “passadores” a quem tinham de pagar o dinheiro que tinham e que não tinham. Naquela altura, dava-se o salto, para que a vida não fosse a mesma, para contrariar o destino, para vencer a miséria. Assim o fez, corria do ano de 1967. Manuel Almeida ainda trabalhou em França alguns anos, mas a greve geral de Maio de 68 fê-lo regressar. Ainda esteve em Portugal quatro anos, altura em que seria pai pela primeira vez. Mas deixaria o filho, com pouco mais de um ano, e rumou para o Luxemburgo. Voltaria na noite da Revolução dos Cravos em Abril de 1974. Bastariam dois meses para voltar a pegar na bagagem. Desta vez, atravessou o Atlântico e emigrou para o Canadá. Durante mais uma década, ele trabalhou numa empresa de metalurgia e a mulher num hotel. Tiveram, em 78,

a segunda filha. “Devo muito àquele país. Tenho o que tenho, graças ao que consegui lá. Não foi fácil, mas não me arrependo. Sei que dei uma vida boa aos meus filhos e nunca lhes faltei com nada”. Paulo confirma. Nunca lhe faltou nada. Faltou-lhe a ausência de oportunidades que acabaria por encontrar no Canadá. Do lado de lá do Atlântico, há duas coisas que custam suportar: os invernos rigorosos, com temperaturas negativas e nevões. E, claro, a saudade daqueles que o mar separa e que são aqueles que nos dão afeto, ainda que estando distantes. Paulo Almeida já visitou a família, em Anadia, este ano. “Foram cinco semanas fantásticas”. Mas mal colocou o pé, de novo, em Toronto e ligou à família, confessou, melancólico: “já estou a contar os dias para regressar a casa”.

discurso direto RÉ um projeto de vida. Desde que vim para o Canadá nunca me faltou trabalho [Paulo é supervisor numa empresa de manutenção de edifícios]. Mas é uma vida solitária e todos os dias penso na hora de regressar a casa, a Portugal.

Paulo Almeida


18 | especial | edição extra acolhimento aos emigrantes’2012

diário as beiras | 29-07-2012

Magia do Centro afirma-se da praia à serra e estende-se a uma imensa riqueza patrimonial Dos longos areais com que a natureza lhe bafejou a costa à magnificência da mais alta montanha de Portugal continental, passando por um património edificado e imaterial de exceção, o Centro tem tudo para oferecer aos seus visitantes. Nestas páginas, apresentamos sugestões para conhecer melhor a região 111 A região Centro tem tudo. A frase (feita), usada à exaustão pelos diversos responsáveis a quem tem sido entregue a promoção turística do Centro, é absolutamente exata. Com a diversidade cultural e paisagística do seu território, o Centro proporciona uma quantidade infinita de cenários de pura beleza. A dimensão e diversidade de um território que é o verdadeiro coração de Portugal, proporcionam momentos únicos, onde a surpresa acontece sempre. Como sugerem os responsáveis pela dinamização turística da região, visite museus e monumentos, contacte locais do conhecimento erudito ou as mais genuínas manifestações da

cultura popular. Aprecie a forma como o homem, desde tempos imemoriais, se foi relacionando com o vasto território que faz os seis distritos do Centro, da serra à praia. Caminhe pelas ruas dos centros históricos ou surpreenda-se com as intervenções de grandes mestres da arquitetura. Percorra os lugares por onde passaram escritores ou grandes vultos da história pátria. Conheça as lendas e o modo de vida de gente simples e acolhedora. Aproveite para comprar peças artesanais que mostram bem a maestria e o sentido artístico com que foram moldadas. Maravilhe-se com paisagens e horizontes sempre diferentes e parta à descoberta de um país, a um tempo único e múltiplo, na

diversidade extraordinária com que a natureza e a ação do homem dotaram este território ao centro. Paisagem e gentes únicas Da beleza da paisagem das serras às águas límpidas dos rios – o Mondego, o Zêzere, o Tejo ainda, a oferecerem paisagens únicas, preservadas e magníficas –, que permitem sossego e tranquilidade. Os mesmos que se podem encontrar nas muitas e de qualidade praias fluviais ou parques naturais. Depois há a costa, com extensos areais e paisagem envolvente, da Costa de Prata à Nazaré, passando, claro está, pela Figueira da Foz, a rainha das praias, das dunas e das típicas casas coloridas, com um mar a perder de vista na forte

influência atlântica que muito moldou Portugal. Os mais aventureiros, podem partir de mochila às costas para descobrirem tanto da região e das particularidades de que é feita: de Viseu, as serras do Caramulo, Montemuro, Freita e Arada que escondem um património cultural e paisagístico imenso. Em Aveiro, a Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, com o birdwatching para os genuínos amantes da natureza. A pé ou de bicicleta, não há que perder as espécies daquela importante zona húmida. Mas também pode, simplesmente, caminhar pela praia e contemplar a beleza do extraordinário sistema dunar. Em Arganil, a paisagem protegida da Serra do Açor,

de uma beleza deslumbrante. Ou a Reserva Natural Parcial da Mata da Margaraça, mas também o esforço compensado no cume da Fraga da Pena. E a Estrela, com os seus vales, lagoas e paisagens magníficas, intactas e únicas. Do Vale Glaciar do Zêzere a joias como o Vale do Rossim ou a grandiosa Nave de Santo António. Mais a sul, o Geopark Naturtejo e Parque Natural do Tejo Internacional exige uma visita: Rota dos Fósseis, Rota das Aldeias Históricas, Rota dos Abutres, Rota dos Veados... E o deslumbramento das Portas de Ródão ou o extraordinário genuíno de Penha Garcia e de Monsanto. E a hospitalidade única das gentes das terras da Beira.

destaque RO Centro, com a diversidade cultural e paisagística do seu território, proporciona uma quantidade infinita de cenários de pura beleza RVisite museus e monumentos, contacte locais do conhecimento erudito ou as mais genuínas manifestações da cultura popular RCaminhe pelos centros históricos ou surpreenda-se com as intervenções de grandes mestres da arquitetura


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Descobrir Coimbra do rio Mondego à Alta universitária A cidade oferece-se a quem a quiser conhecer, numa dádiva construída de pedras e sentimento. Dos templos aos projetos de recuperação patrimonial 111 Quem quiser conhecer Coimbra, conhecê-la de verdade, começar a amá-la e preparar-se para um encontro íntimo com a cidade, tem de ouvir o dedilhar tocado pelo génio de Carlos Paredes na guitarra que parece ter sido talhada para cantar “Verdes anos”. Aos primeiros acordes, fica desvendada a alma da cidade e os forasteiros prontos para um encontro que há de consumar-se em lugares como a Biblioteca Joanina [da Universidade de Coimbra] ou as ruínas de Santa Clara-a-Velha. Ou a margem do Mondego, a ver o casario subir a encosta até à colina sagrada que alberga as raízes milenares da cidade que se diz dos estudantes. Numa Coimbra onde é necessário começar por fazer o roteiro dos muitos e magníficos templos – das fundadoras Santa Cruz e Sé Velha até às igrejas anexas aos colégios que pontificam na rua da Sofia, passando por Santa Clara-a-Nova, sob a égide majestosa de Isabel de Aragão, a Rainha Santa de Portugal, mas também a Sé Nova, nascida “capela” do grandioso Colégio de Jesus, a igreja da Misericórdia (com o museu anexo), a capela de S. Miguel (da Universidade de Coimbra) ou o Mosteiro de Celas –, que ao longo dos séculos lhe foram moldando a alma, os passos dos seus visitantes não podem deixar de seguir logo depois para Santa Clara-a-Velha. Marcas patrimoniais e o pavilhão dos dois Pritzker O mosteiro medieval que, em ruínas e submerso pelas águas do Mondego, marcou o imaginário de gerações inteiras serve agora de pano de fundo ao contraste profundo com a paisagem que hoje domina todo o espaço entre o Rossio de Santa Clara e o velho Choupalinho, integrado no Parque Verde do Mondego como Praça da Canção. Projeto estruturante na preservação e valorização patrimonial, mas também na dinamização pedagógica, cultural e turística, Santa Cla-

ra-a-Velha tem-se afirmado dentro e fora do país. E tem conquistado cada vez mais visitantes. Mas a cidade patrimonial oferece outras marcas fundamentais, algumas renascidas pela intervenção de uns quantos dos mais importantes arquitetos portugueses da contemporaneidade e que importa conhecer. Da profunda intervenção concretizada no histórico Pátio da Inquisição – com a instalação no antigo Colégio das Artes, que depois deu lugar às celas da Inquisição, do Centro de Artes Visuais (agora, infelizmente, encerrado por via dos erros de julgamento a que a crise tem dado cobertura) e a construção do Teatro da Cerca de São Bernardo –, ao Parque Verde do Mondego, onde pontifica o Pavilhão de Portugal (obra assinada pelos dois portugueses vencedores do Pritzker: Siza Vieira e Souto Moura), mas também ao centro histórico e à Alta universitária – área candidatada a Património da Humanidade – com o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra instalado no Laboratório Chimico, o Museu Nacional Machado de Castro, cuja reabertura total se anuncia para muito breve mas pode e deve-se visitar o criptopórtico romano, a Casa da Escrita ou a Casa das Caldeiras. De entre todas estas possibilidades, para além dos parques e jardins da cidade – dos quais há a destacar o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, o Choupal imortalizado na voz dos poetas que o cantaram, mas também o Jardim da Sereia/Parque de Santa Cruz –, e do Museu Municipal de Coimbra, com todas as suas valências, uma referência particular à Torre de Almedina, com o percurso sugerido e explicado da velha muralha da cidade. De portas abertas desde abril de 2009, após um processo de requalificação iniciado em 1992, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha afirmou-se como marca estru-

turante do turismo cultural e patrimonial em Coimbra. De então para cá, o mais importante “sítio” medieval da Europa, tem sabido construir-se como núcleo interpretativo de um património riquíssimo, num rigor absoluto e atestado pelas distinções nacionais e internacionais que, entretanto, foi recebendo. Uma das mais preciosas joias da museologia portuguesa A reabertura total daquela que é uma das joias mais preciosas da museologia nacional está para muito breve. A intervenção profunda conduzida pelo arquiteto Gonçalo Byrne e em “plano” há quase duas décadas, reforça a magnificência do espaço, mas também o esplendor de um espólio a estender-se em património e coleções fundamentais para a história da escultura, mas também da arquitetura e da arte em Portugal. Os cinco anos passados desde a abertura da primeira fase do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra – um dos projetos estruturantes da contemporaneidade da histórica escola, no emblemático Laboratório Chimico herdado da intervenção pombalina na reestruturação do ensino em Portugal –, têm-se revelado um sucesso junto do público, mas também de organismos nacionais e internacionais, que já o distinguiram. O espaço do antigo Colégio das Artes, no Pátio da Inquisição, é emblemático por duas diferentes ordens de razões. Desde logo, porque “resulta” de uma história rica contada nas duas décadas (1980/2000) em que aconteceram os Encontros de Fotografia de Coimbra. Mas também porque, com a instalação do Centro de Artes Visuais (2003), Coimbra ganhou mais um espaço magnífico para as artes (agora, espera-se que apenas temporariamente, encerrado). Lídia Pereira lidia.pereira@asbeiras.pt

Arquivo-Carlos Jorge Monteiro

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diário as beiras | 29-07-2012

Locais paradisíacos para visitar do litoral ou interior DR

111 Para quem está de férias na região Centro, o difícil é mesmo escolher entre as muitas opções. Do litoral ao interior, são inúmeras as propostas para um dia bem passado, entre paisagens deslumbrantes e as mais genuínas tradições. No litoral, as belas praias e areais desenhados na costa convidam. O areal da Figueira da Foz, o surf no Cabedelo, o pitoresco da Praia da Tocha ou da praia de S. Jacinto, as belezas da Murtinheira e de Quiaios (Figueira da Foz), do Palheirão (Cantanhede), da Praia de Mira, da Costa Nova, em Aveiro, ou, mais sul, as praias do distrito de Leiria. Mas para quem viajar pelo interior é também obrigatório uma paragem pelas praias fluviais de águas límpidas. E não faltam praias fluviais com recantos paradisíacos, em quase todos os concelhos do Centro. Beleza infinita nas aldeias do xisto As 24 aldeias do xisto, distribuídas por 14 concelhos da região Centro, são territórios de enorme beleza que oferecem infinitas possibilidades de lazer. Ao longo dos últimos anos, as 24 aldeias foram alvo de um programa de requalificação que lhes permitiu adquirir potencial humano de desenvolvimento, transformando-se em polos de atração turística dinâmicos que possibilitam a criação de uma nova base económica. Este trabalho teve sempre como objetivo primeiro a melhoria da quali-

dade de vida das populações, sem esquecer a recuperação das tradições, a valorização do património arquitetónico construído, a dinamização das artes e ofícios tradicionais e a defesa e preservação da paisagem. Encaixadas nas serras, abençoadas pela frescura das florestas e dos rios, as aldeias do xisto fazem reviver as tradições em saberes e artes que nunca se esquecem e que ago-

sugestões RAnimação nas praias fluviais Aldeias do Xisto: RAcontece magia, dias 4 e 5 de agosto, nas praias fluviais de Açude Pinto (Oleiros) e das Rocas (Castanheira de Pera), com momentos únicos proporcionados por dois mágicos de Luís de Matos Produções R Na Praia Fluvial de Açude Pinto (Oleiros) há música ao vivo todas as sextas-feiras à noite, em agosto. R Em Figueiró dos Vinhos, nas praias fluviais de Ana de Aviz e de Fragas de São Simão, decorre a iniciativa Verão em Ação’12

ra renascem. São o cenário ideal para um passeio ou um piquenique, ou, para os mais aventureiros, para a prática de desportos mais radicais. Nas aldeias pode apreciar o belíssimo património recuperado, as paisagens deslumbrantes, as piscinas e praias fluviais e, claro, os restaurantes e bares que servem o melhor da gastronomia regional. À espera da visita Todas as aldeias do xisto merecem uma visita e em cada uma delas encontram-se pormenores únicos. Neste roteiro, pode passar pela aldeia do Candal. Aninhada na Serra da Lousã, a aldeia de Candal ergue-se numa colina voltada a sul. Estrategicamente colocada junto à estrada nacional, que liga Lousã a Castanheira de Pera, a aldeia está habituada a receber visitantes. Estes são recompensados após a subida das ruas inclinadas, quando do miradouro observam a belíssima vista sobre o vale. Não muito longe, situada na vertente oriental da serra da Lousã, o Gondramaz distingue-se pela tonalidade do xisto. Até o chão que se pisa é exemplo da melhor arte de trabalhar artesanalmente a pedra. Esta é, aliás, uma terra de artesãos cujas mãos hábeis criam figuras carismáticas que são marca da serra e que levam consigo o nome do mestre e da aldeia além-fronteiras. Dora Loureiro dora.loureiro@asbeiras.pt

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DB-Luís Carregã

Maior feira da região em Cantanhede e ExpOH em Oliveira do Hospital

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1 1 1 A XXII Expofacic cresceu este ano mais dois dias. O certame decorre até ao próximo dia 5 de agosto e, por isso, tem como novidade o facto de ser a maior. São várias as razões que levaram os responsáveis autárquicos a tomar esta decisão, a mais forte das quais tem a ver, fundamentalmente, com a circunstância de o feriado municipal se ter assinalado a uma quarta-feira, o que, aliado à necessidade de cumprir a tradição de o evento abranger dois fins de semana, acabou por ser determinante na definição da datas de início e encerramento deste ano. Por outro lado, o facto de Expofacic 2012 passar de 10 para 12 dias vai ao encontro das expetativas da generalidade dos expositores, particularmente das empresas, que todos os anos têm vindo a solicitar com muita insistência o alargamento do período de realização do certame, por forma disporem de mais tempo para promoverem os seus produtos e serviços e assim rentabilizarem o investimento na montagem dos stands e todo o trabalho logístico inerente. Além disso, também teve influência na decisão de prolongar o evento o facto de assim ser possível visitálo durante alguns dias de agosto, uma vez que o encerramento será no dia cinco desse mês, um domingo, o

que é de molde a satisfazer o interesse de muitos milhares se emigrantes do concelho e da região que normalmente marcam férias para essa altura do verão. Para além da valorização da feira de atividades económicas, que contará mais uma vez com a participação de empresas de todo o país, são de destacar o cartaz de espetáculos de nível internacional e as tradicionais e incontornáveis tasquinhas, sem esquecer a presença as inúmeras manifestações de cultura popular e a “Aldeia de Portugal” constituída por espaços de divulgação de vários municípios portugueses, que apresentam aí elementos representativos da sua oferta cultural, turística e gastronómica. No que diz respeito à área agrícola, esta vai continuar ter algumas novidades ao nível da exposição de animais e o habitual picadeiro será utilizado não só para exibições dos cavalos em exposição como para competição, nomeadamente concursos de saltos e de outras modalidades equestres. Concertos para todas as idades O programa dos concertos musicais, completado com uma programação paralela de DJ, começou com a atuação de David Carreira, Diego Miranda e Ana Free. Pedro

Abrunhosa e Mónica Ferraz, Buraca Som Sistema e Mastiksoul e Tony Carreira. Hoje atuam Jorge Palma & Friends e Micaela e amanhã Richie Campbell . A primeira “estrela” estrangeira a atuar na Expofacic é Pablo Alborán, a 31 de agosto, num espetáculo onde participa também a dupla alemã de electrohouse Booka Shade. Mariza (1 de agosto), Paulo Gonzo e Amor Electro (2), Boss AC e Pete Tha Zouk (3), são outros artistas presentes. No sábado, 4 de agosto, é outro dia grande deste programa musical, com a atuação do inglês Mika. Na mesma noite está também programada a subida ao palco do duo Tim Royko & Cosmo Klein. Cabe aos Xutos e Pontapés encerrar a feira no dia 5. O programa de espetáculos de DJ inclui, entre outros, Pedro Tabuada, Rui Maia, Miguel Rendeiro, Rita Mendes, Fernando Alvim, John Waynes e Moullinex. ExpOH anima Oliveira do Hospital Noutra cidade do distrito de Coimbra, Oliveira do Hospital, o Parque do Mandanelho é também o palco da terceira edição da ExpOH – Feira Regional de Oliveira do Hospital. Assumindo-se como a grande mostra de promoção da

riqueza e das potencialidades do concelho de Oliveira do Hospital nas áreas económica, social, desportiva e cultural, o certame realiza-se entre os dias 28 de julho e 5 de agosto, mantendo o objetivo de se tornar um evento de referência para a região da Beira Serra. O cartaz do palco principal mantém a qualidade e ecletismo que caracterizaram as edições anteriores, com a novidade da final do concurso “Soltem Talentos”, responsável por uma das noites de maiores sucesso da edição de 2011, passar agora a ter honras de encerramento de cartaz. Outras novidades da programação passam pela realização do III Encontro de Concertinas de Oliveira do Hospital, iniciativa iniciada em 2010 mas que integra a ExpOH pela primeira vez; e pelo acolhimento ao programa da TVI “Somos Portugal”, que será transmitido a partir do recinto da feira no dia 5 de agosto. Mickael Carreira atua a 3 de agosto e os Expensive Soul no dia 4. Mantém-se também a programação do Palco 2, por onde passarão grupos do concelho e que proporcionará animação a quem decidir jantar na feira, já que está instalado junto à restauração. O preço dos bilhetes oscilará entre os dois e os três euros, registando-se três noites com entrada gratuita.


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Figueira da Foz

diário as beiras | 29-07-2012

Praia da Leirosa

Praia de Quiaios

Praia da Cova Praia de S. Pedro

Ténis de praia

Figueira da Foz

Rota das Salinas Mosteiro de Seiça


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29-07-2012 | diário as beiras

Feira de Maiorca

Praias e diversidade paisagística e arquitetónica na Figueira da Foz Durante os meses de verão não faltam motivos para uma visita ao concelho da Figueira da Foz. Das praias à serra, a oferta turística é vasta

Carroças de Maiorca

Paço de Maiorca

111 Verão é sinónimo de praia, mas também convida a mergulhar na natureza e no património arquitetónico, histórico e cultural. O concelho da Figueira da Foz oferece ambas as coisas. Começando pelo mar, de norte para sul, Quiaios abre as portas a cerca de 20 quilómetros de praias. Nesta dádiva da natureza, o Oceano Atlântico tem como companhia o Cabo Mondego, a Serra da Boa Viagem, as dunas e as matas nacionais. É a única estância balnear fora da sede do concelho com unidade hoteleira (Quiaios Hotel, de quatro estrelas). Buarcos é a freguesia com praias que se segue, fazendo fronteira (invisível) com o extenso areal da Figueira da Foz. Depois de atravessar a Ponte Edgar Cardoso e a Ponte dos Arcos, S. Pedro também sabe receber com os braços abertos. É ali, no Cabedelo, onde se encontra a “capital” do surf do Baixo Mondego. Seguindo viagem, a Costa de Lavos e a Praia da Leirosa, respetivamente, são as praias situadas mais a sul do concelho. Seja qual for a escolha, todas as freguesias com praia oferecem diversidade paisagística e locais de interesse turístico. Para quem também gosta de férias culturais e de espetáculos, o Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, o Casino Figueira, o museu e a biblioteca municipais são os sítios certos. Há ainda as diversas exposições de artes, patentes em vários espaços da cidade, para visitar. Na época balnear, a noite na cidade da foz do Mondego despede-se com a chegada do dia, tendo o Bairro Novo como ponto de encontro de várias gerações de notívagos.

a vida dos povos que ali habitavam. Naquela localidade do norte rural do concelho encontra-se uma necrópole megalítica, que se estende por quase 13 quilómetros, descoberta pelo fundador do museu municipal da Figueira da Foz, Santos Rocha. O dólmen das Carniçosas, a fonte/ lavadouro, a igreja, o coreto, a casa do pintor Mário Augusto e a Casa da Renda são os principais pontos de interesse, além da contemporânea broa de Alhadas.

nam a Serra da Boa Viagem, que se sente protegida pela guarda avançada – o Cabo Mondego. Local de lazer e de miradouros com vistas para todos os lados, o “pulmão” da cidade guarda “tesouros” geológicos, ecológicos e histórico-arqueológicos. Do seu cadastro histórico salienta-se o trabalho realizado pelo regente florestal Manuel Alberto Reis, em prol da florestação da serra e da planície dunar que se prolonga para norte.

Seiça e o seu património religioso e arquitetónico A Rota de Seiça, a sul, enche o olhar de paisagens verdes. E quando o sol raia e aquece a terra, a sombra das centenárias árvores servem de porto de abrigo, sob as quais também se fazem piqueniques. Mas Santa Maria de Seiça (Paião) é conhecida pelo seu património arquitetónico, históricos e religioso. Naquela bucólica povoação foram geradas lendas e histórias que o mosteiro e a capela octogonal testemunharam.

Rota temperada com sal A Rota das Salinas, na margem Sul, é mais antiga das rotas interpretativas do concelho. Os visitantes são convidados a visitar o processo natural e artesanal de transformação das águas do Atlântico no sal certificado da Figueira da Foz. Esta rota inclui visitas ao Núcleo Museológico do Sal e à Salina do Corredor da Cobra, propriedade da câmara. Já agora, aproveite para visitar as explorações piscícolas da ilha da Morraceira e degustar a especialidade dos três restaurantes de Armazéns de Lavos - a enguia.

Viagem pré-histórica A Rota do Megalitismo, na Serra das Alhadas, dá a conhecer a pré-história e revela

Com vistas para o concelho As investidas do Oceano Atlântico não impressio-

Uma vila singular Na Rota de Buarcos descobre-se uma vila que nasceu do mar. Com profundas raízes piscatórias, Buarcos tem para ver ruas e vielas, os restos do castelo de Redondos e um conjunto arquitetónico cujas peças têm vida por dentro - as pessoas, valioso património daquela localidade que há de conservar a sua identidade para lá de todas as reformas administrativas. Em Buarcos respirase o Atlântico e degusta-se a gastronomia local, rica em pescado, com a praia a seus pés e a Serra da Boa Viagem e o Cabo Mondego nas suas costas.

A riqueza de Maiorca Os campos do Mondego dão-lhe cor e vida, e as serras que a rodeiam exibem quadros naturais, qual galeria ao ar livre e puro, com o castelo de Montemor-o-Velho a impor-se no horizonte próximo, guardador de histórias e de lendas longínquas. A Rota de Maiorca exige, todavia, uma paragem no seu valioso património arquitetónico, com o Paço de Maiorca e o Palácio Conselheiro Branco a destacarem-se do conjunto. Por sua vez, o Castro de Santa Olaia, a estrada manuelina e a Ponte do Arco convidam a um olhar pausado sobre a povoação e a sua envolvente paisagística.


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