Card Player Brasil Digital - 1

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ANO 4 - N.43

ERIK SEIDEL O HOMEM QUE MAIS GANHOU DINHEIRO EM TORNEIOS DE POKER JOGAR POKER DEVE SIM SER CONSIDERADO UMA PROFISSÃO SAIBA POR QUÊ

OS GIGANTES ESTÃO DE VOLTA: COMEÇAM AS NOVAS TEMPORADAS DO BSOP E DO LAPT O QUE NÃO FAZER EM UM SIT’ N GO

USANDO AS ESTATÍSTICAS COM INTELIGÊNCIA

O NOVO REI DO PEDAÇO



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eXpedieNTe diretor executivo renato lins editor bruno Nóbrega de sousa Tradução rodolfo moraes Farias projeto Gráfico e diagramação Thiago Fosk diego bittencourt Webmaster bernardo benevides conteúdo Web Karen dias Jornalistas marcelo souza Gabriel rubinsteinn Fotógrafo bruno mooca colunistas Nacionais andré “dexx”, christian Kruel, diógenes malaquias, luan estradioto, Felipe mojave, Geraldo campêlo, pedro Nogueira, raul oliveira, rodrigo seiji colunistas internacionais alan schoonmaker, david apostolico, dusty schmidt, ed miller, Jeff Hwang, John Vorhaus, matthew Hilger suporte / sac Heliana de souza rosilene soares endereço raise editora ltda rua pirapetinga, 176, serra cep 30220-150 - belo Horizonte - mG Tel.: (31) 32252123 impressão Gráfica del rey distribuição dinap

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O DESAFIO DE SE REINVENTAR

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á passa da meia-noite enquanto escrevo este texto. Na redação da CardPlayer Brasil, eu e mais três pessoas lutamos contra o tempo e o cansaço para fechar mais uma edição. Mas dessa vez é diferente. Depois de quatro anos seguindo um padrão editorial similar ao da nave-mãe americana, decidimos que era hora de mudar. Perdi a conta das reuniões, discussões e desconstruções que �izemos aqui para que chegássemos à revista que você tem em mãos agora. Pois bem, a CardPlayer Brasil cresceu, está mais consciente de si e de seu papel nesse turbilhão em que se transformou o poker nacional. Hoje, �inalmente, posso dizer que temos uma identidade própria. O modo de pensar, escrever e apresentar a revista é nosso como nunca fora antes. E outro salto acontece agora, com o lançamento da nossa edição digital. A versão online da CardPlayer Brasil tem alma própria: além de ser gratuita, seus recursos de interatividade aproximarão leitores, colunistas, anunciantes e quem mais participar da revista. Estamos nos fortalecendo, criando novas parcerias e revendo antigos conceitos. Nossa meta é alçar o poker brasileiro a outro patamar, tirá-lo do seu nicho, da sua zona de conforto – fugir do óbvio. Sonhamos em ajudar o poker a atingir um grau de con�iabilidade tal que nossa sociedade se abra para essa nova realidade. É uma missão e tanto. E haveria mesmo de ser assim, do contrário não estaríamos aqui, trabalhando em plena madrugada. ♠ Bruno Nóbrega de Sousa - Editor @brunocardplayer


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SUMÁRIO ESPECIAIS

CONTEÚDO

32. CAPA: CAIO PESSAGNO Jogador Card Player Brasil 2010

06. CARTA AO LEITOR

58. ESPECIAL ERIK SEIDEL O jogador mais lucrativo da história dos torneios de poker

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10. CIRCUITO BRASIL Confira quem saiu na frente na luta pelos títulos regionais.

16. BSOP - Rio de Janeiro por Marcelo Souza 26. O Que Não Fazer em um Sit ’n Go por Seiji e Luan 44. LAPT - São Paulo O maior torneio de poker realizado no Brasil

10. FELIPE MOJAVE

42. PEDRO NOGUEIRA

54. CHRISTIAN KRUEL

Mão Complicada no EPO Mojave relata uma mão complicadíssima que ele jogou no English Poker Open e a lucidez com que ele a abordou, fato que permitiu que ele desse fold no momento certo.

A Pátria no Pano Pedro Nogueira começa o ano profetizando que o Brasil tem tudo para se tornar uma potência mundial de poker, apontando marcos – live e online – que confirmam essa previsão.

Projeções Para o Novo Ano no Poker CK faz projeções para o poker em 2011, além de relembrar o que considera terem sido seus melhores momentos nos feltros em 2010.

70. DUSTY SCHMIDT

76. DIÓGENES MALAQUIAS

80. FORRANDO PESADO

Jogar Poker é Uma Profissão Sim “Leatherass” apresenta argumentos que mostram que jogar poker é sim uma profissão, já que exige habilidade, conhecimento e não depende exclusivamente do fator sorte.

Como Usar as Estatísticas Com Inteligência Softwares de estatísticas são uma ferramenta valiosa para jogadores online. Nesse artigo você aprende a usar essas informações corretamente.

Destaque da Edição: Diego “vgreen22” Brunelli Há algumas semanas, um brasileiro entrou para o seleto grupo de jogadores com status de “Supernova Elite” no Poker Stars. Saiba como foi essa conquista.

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s circuitos live no Brasil estão apenas começando. Mas já conhecemos alguns dos primeios campeões de 2011. Confira quem saiu na frente na luta pelos títulos regionais. (clique nas fotos para mais detalhes)

Ítalo de Melo Circuito Triângulo Mineiro Local: Uberlândia Buy-in: $ 150,00 Field: 67

Bruno Valkman FAÇA PARTE do Circuito Brasil Clique aqui e saiba como!

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Circuito Catarinense - FCTH Local: Blumenau Data: 26 de Fevereiro Field: 123


Ed Angelis Paraíba Series of Poker Local: João Pessoa Data: 12 Fevereiro Field: 61

Rafael Telles Circuito Capixaba - FePES Local: Vitória Data: Fevereiro Field: 58

Anderson “AK” Kubick Curitiba Poker Tour Local: Curitiba Data: 26-27 de fevereiro Field: 109

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COLUNA

Felipe mojave @Felipemojave

MÃO COMPLICADA NO ENGLISH POKER OPEN

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Felipe mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade. Faz parte do time de profissionais do Full Tilt.

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abe aquelas vezes em que você está no meio de uma mão importante, começa a pensar em muitas coisas, seu raciocínio se embaralha e você perde o rumo? Não foi isso o que aconteceu comigo no English Poker Open, em Londres, em outubro passado. Quando tudo parecia complicado, acabei encontrando uma luz graças ao raciocínio que apliquei na mão. Mesmo assim, minha decisão ainda não foi a ideal. Os blinds eram de 400-800 e eu tinha 38K. Abri raise de 2.050 em middle position com A♥ 9♥. Meu oponente, um jogador escandinavo muito inteligente e agressivo, deu call do button. Ele tinha 40K. O flop veio K♥ K♠ 9♠ e eu apostei 3.200. Ele, muito depressa, deu raise para 8.200.

Como o bordo tinha um flush draw e dois reis, a situação era bem complicada. Eu o coloquei em três possíveis combinações: 1) ele estava protegendo uma mão forte como AA ou QQ; 2) ele realmente tinha acertado a trinca de reis com KQ, KJ ou KT; ou 3) ele estava testando a força da minha mão com um flush draw, algo como AQ, AJ ou AT. Em um cenário indefinido como esse, e com duas das três combinações cogitadas sendo desfavoráveis para mim, a primeira coisa que me veio à cabeça foi dar fold, muito embora, contra aquele tipo de oponente e naquele flop, a jogada mais indicada fosse o check-call.


A 9 FELIPE MOJAVE STACK: 38K

A 9 9

A

5

A

9

K

K

K FloP

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BLINDS 400-800

5

K

mIddle PoSITIoN

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A

OPONENTE STACK: 40K

A

bUTToN

A Contra um adversário com fichas, posição e inteligência, as ideias e possibilidades vieram à minha cabeça como uma rajada de vento. Parei para analisar aquela jogada por muito tempo. Assim, ele já sabia que eu não tinha um rei e muito menos 9-9, o que deixou minha ação ainda mais complicada. Decidi dar call e analisar a postura dele no turn. Bateu um A♠. Com três cartas de espadas, descartei ele ter ás e outra de espadas. Ele poderia ter algo como J♠ T♠, é claro, mas aquela carta já esclarecia muita coisa. Pedi mesa. Ele rapidamente pediu mesa em seguida. Vimos um 5♥ no river.

Nesse instante, eu acreditei que ele poderia ter algo como JJ e, por consequência, daria fold caso eu apostasse. Imaginei também que o fato de eu ter pensado muito no flop poderia ter dado a ele a imagem de que eu tinha o flush draw. De qualquer modo, ainda me senti muito desconfortável com aquela situação. Decidi que o check-call seria a linha mais adequada, até porque não vi grande valor em apostar no river. E eu poderia realmente me complicar na mão: se ele voltasse all-in, eu não poderia pagar de maneira alguma.

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COLUNA

Pedi mesa. Ele pensou por um minuto mais ou menos e foi all-in! Meu pai do céu! Foi uma mega-aposta que eu, num primeiro momento, tinha convicção de que não poderia pagar e então cair do torneio numa mão tão estranha. Só que, depois de analisar de novo a ação, ficou fácil perceber que ele achava mesmo que eu tinha uma mão forte e que uma aposta pelo valor seria facilmente paga: levando em conta que eu ainda ficaria com cerca de 30 big blinds caso desse fold, uma aposta forte me faria desconfiar de um blefe, e isso tornaria possível o call. No intuito de fazê-lo mostrar as cartas, eu dei fold com meu ás aberto e consegui o que queria: “Achei que você tinha o flush e que iria me pagar. Bom fold”, disse ele enquanto mostrava um belo AA. É claro que eu, que já tinha pensado em desistir da mão no flop, fiquei muito contente com esse fold

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O fato é que, em muitas situações, por mais que a gente junte as variáveis, ainda vai haver indefinições. Na maioria delas, a jogada mais indicada é dar fold mesmo e partir para a próxima, sem complicar muito.

no river. No final das contas, acabei ficando em quarto no torneio. Mas fiquei pensando: por que eu não consegui largar no flop e economizar 5K? Eu quase me compliquei de verdade nessa mão, pois ganhei novas informações que poderiam ter me confundido, quando eu claramente teria que dar fold no flop, de acordo com minha análise para a jogada mais indicada ali. Muitas vezes, é bem difícil concretizar um raciocínio com tantas variáveis (sem falar que existe a opção de dar call para ganhar mais informações e refinar a análise). Essa mão me chamou muito a atenção nesse sentido, pois, apesar de saber que a situação era bastante desfavorável para mim no flop, tive que sacrificar mais algumas fichas para me livrar daquela mão.

Achei interessante comentar esse caso com vocês, pois queria mostrar que a busca por informações para ter uma definição muitas vezes é importante – até quando a gente sabe que tem que dar fold, quer buscar mais certeza. O fato é que, em muitas situações, por mais que a gente junte as variáveis, ainda vai haver indefinições. Na maioria delas, a jogada mais indicada é dar fold mesmo e partir para a próxima, sem complicar muito. ♠


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RIO DE JANEIRO

BSOP

Por Marcelo Souza

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O BSOP ESTÁ DE VOLTA. E A JULGAR PELA PRIMEIRA ETAPA DE 2011, O CIRCUITO BRASILEIRO VAI MANTER SUA ESCALADA DE SUCESSO.

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Rio de Janeiro foi sede da primeira etapa do Brazilian Series of Poker 2011. E já na estreia da 5ª temporada, 539 jogadores construíram a segunda maior premiação da história do circuito. Só no evento principal foram mais 800 mil reais distribuídos. As palavras de abertura foram pronunciadas pelo Secretário de Esportes do Rio de Janeiro, Romário Galvão. Ao lado do presidente da CBTH, Igor Federal, ele falou sobre a importância de receber o evento na Cidade Maravilhosa. O Dia 1A do torneio teve 259 inscritos, entre eles Felipe Mojave, Raul Oliveira, Caio Brites e André Doblas. Pena que eles não estavam entre os 54 jogadores que avançaram para o Dia 2. Por outro lado, Leandro Brasa e Christian Kruel, ambos Red Pros do Full Tilt, passaram com stacks confortáveis. Com incríveis 324 mil fichas, o chip leader era o paulistano Alexandre Richard.

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O Dia 1B teve ainda mais participantes: 280. O casal Sérgio e Alê Braga, Marcos Sketch e Gabriel Goffi foram alguns dos que endureceram o field. Ao final do dia, o telão mostrava 75 players na briga. Ao todo, 129 jogadores voltariam no domingo em busca do prêmio de quase 180 mil reais destinado ao campeão. No Dia 2, duas estrelas roubaram a atenção. E não estou falando de profissionais do poker, mas sim de ídolos das massas: Fábio Luciano, ex-xerifão da zaga do Flamengo e do Corinthians, e Rodrigo Lombardi, o Raj de Caminho das Índias. E não é que Fábio Luciano até que foi bem? Ficou em 9º no duríssimo torneio High-Roller. Rodrigo também não foi mal – 40º lugar no Second Chance. E ele ficou muito satisfeito com seu desempenho: “Para o meu primeiro torneio, foi um grande resultado. Faltou um pouco de coragem, mas ficar entre os 40 em um torneio com mais de 160 jogadores está muito bom”.

Christian Kruel

Enquanto isso, a ação no Evento Principal seguia forte. Todos estavam de olho em Christian Kruel, que tentava um histórico bicampeonato. Mas o sonho acabou depois que ele foi all-in com duas pontas para sequência no flop. O straight não bateu, o adversário tinha top pair e CK deu adeus ao torneio em 34º lugar. A mesa final foi formada depois que Alexandre Richard, chip leader do Dia 2, empurrou suas últimas fichas pré-flop com A♣ 2♠. Mas Emerson Baroni tinha A♥ K♣ e puxou um pote que garantiria sua entrada na mesa final como líder em fichas. Confira a ação na mesa final:

Fábio Luciano

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EVENTOS PARALELOS HIGH-ROLLER Buy-in: R$ 3.400,00 Inscritos: 31 jogadores 1º Sidney Chreem (RJ) R$ 31.500,00 2º Jurandir Marinho (RN) R$ 22.000,00 3º Fábio Freitas (SP) R$ 16.600,00 Igor Federal

SECOND CHANCE Buy-in: R$ 600,00 Inscritos: 163 jogadores 1º Róbson Alexandre (RJ) R$ 23.000,00 2º Leonardo Leal (MG) R$ 14.000,00 3º Bruno França (MT) R$ 9.050,00

LAST CHANCE Buy-in: R$ 350,00 Inscritos: 143 jogadores 1º Luciano Franco (SP) R$ 11.650,00 2º Rodrigo Coelho (RJ R$ 7.100,00

TORNEIO SOS RIO Até em meio ao caos é possível encontrar um pouco de luz. Não, não estou de falando de jogadas inteligentes entre as baralhadas de alguns sujeitos no BSOP, mas do torneio SOS Rio, um Super Turbo de R$ 100 em prol das vítimas da chuva na região serrana do estado. O título ficou com o presidente da CBTH Igor Federal, que superou 76 jogadores (incluindo eu) e faturou R$ 3.800. Mas Federal abriu mão do prêmio e, assim, toda a prize pool de R$ 7.800 acabou sendo doada. 13 mil litros de água foram enviados às vítimas. Um pouco de luz em meio ao caos da tragédia.

3º Moacyr Farah (RJ) R$ 4.600,00

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FRANCISCO NETO

EDUARDO SEQUELA

7º – R$ 23.700

9º – R$ 14.200

Marcelo Jensen abre raise de 120.000. Sequela volta all-in de 650 mil com 6♣ 6♥. O argentino paga com K♥ K♠ e elimina Sequela.

LEANDRO BRASA

8º – R$ 18.800

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Depois de a mesa rodar em fold, Francisco Neto empurra all-in de 205 mil com A♥ 3♠. Fernando Saboya, também short-stacked, empurra tudo com J♣ J♥ e manda Francisco embora. Jensen entra de limp, Miller Rocha completa do small e Brasa volta all-in de 965 mil do big com J♦ 2♦. Insta-call de Jensen. Novamente KK. O argentino elimina o Red Pro e se torna chip leader.


ALCIR NOTARI

6º – R$ 31.600

Carlos Stüpp abre raise do UTG para 175.000 com K♥ Q♥. Alcir Notari volta all-in de 585 mil com A♦ J♣. O flop traz uma Q♠, e Alcir é eliminado. Depois de uma guerra de raises e reraises entre Baroni e Carlos Stüpp, o showdown foi AA contra KT. Mas o blefe acabou dando certo: straight e muitas fichas para Stüpp. Baroni fora.

EMERSON BARONI

5º – R$ 43.500

A mesa roda em fold até Saboya no small blind, que empurra all-in de 1.200.000 com 3♠ 4♣. Miller Rocha paga com K♣ J♠. Um valete no flop é o fim da linha para Saboya.

FERNANDO SABOYA

4º – R$ 57.700

CARLOS STÜPP

3º – R$ 78.200

Stüpp aumenta para 500 mil. Miller dispara 1.500.000. Carlos volta all-in de 2.665.000. Miller paga e mostra A♣ 9♣. Stüpp tem 8♦ 8♠. O flop traz A♦ K♣ K♠. E Miller elimina Carlos Stüpp. @cardplayerbr

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Heads-up

MILLER ROCHA

2º – R$ 110.600

O heads-up começou praticamente empatado. Quando os dois jogadores colocaram todas as fichas no centro, o argentino estava em vantagem. Miller deu mini-raise do small blind e Marcelo pagou. O flop trouxe J♣ 5♦ 3♣. Depois de mais um mini-raise de Miller, Marcelo voltou all-in e tomou call. Marcelo apresentou 5♣ 6♣ contra J♦ 6♦ de Miller. Um 9♣ no turn deu o flush e o título para Marcelo Jensen.

FICHA TÉCNICA BSOP RIO 2011 Local: Windsor Barra Hotel, Rio de Janeiro Data: 27 a 31 de janeiro de 2011 Buy-in: R$ 1.800,00 Jogadores: 539 ITM: 54 jogadores Prize Pool: R$ 819.280,00 22

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A primeira mesa final de 2011 não poderia ter sido mais promissora. Entre os nove finalistas, Eduardo Sequela, Leandro Brasa e a agressividade que lhes é característica. Mas, no poker, os facões sempre têm dois gumes, e o menor erro geralmente custa caro ao agressor. Primeiro foi Sequela, que tentou resolver tudo pré-flop e acabou sendo o primeiro eliminado da FT. Seu algoz? O mesmo de Brasa, o argentino radicado em São Paulo, Marcelo Jensen. Ao entrar de limp com KK, só restava a Jensen esperar que o shark da mesa mordesse a isca. E quando Brasa empurrou all-in do big blind com J♦ 2♦, apenas uma bad beat daquelas salvaria o profissional do Full Tilt. Scotty Nguyen provavelmente diria: “It’s all over, baby!” E foi assim que o estilo agressivo que já deu tantas glórias a Leandro Brasa o tirou da batalha. Esse também foi o começo da caminhada de Jensen rumo ao título: depois de eliminar rapidamente dois oponentes que certamente iriam infernizar a mesa final, seria difícil imaginar que o título fosse parar em outras mãos. Mesmo com alguns altos e baixos durante a FT, a coragem de Jensen para colocar todas as fichas no centro da mesa sem nunca temer a eliminação foi fator decisivo para o que primeiro título do BSOP 2011 ficasse com o argentino de raízes paulistanas. Ao bater Miller Rocha no heads-up, Jensen dedicou o título à sua esposa. Bem puxado, hermano!

MARCELO JENSEN

1º – R$ 179.500

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ESTRATÉGIA

rodrigo Seiji luan estradioto @seijistar

NÃO FAZER EM UM

O QUE

@lestradioto

rodrigo “seijistar” Seiji, é estudante de ciência da computação e joga poker profissionalmente há três anos. É um dos maiores especialistas do país em sit ’n go. luan “lestradioto“ estradioto tem 21 anos, é formado em administração e estuda poker desde 2006. É instrutor do site universodopoker.com.

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SIT ’N GO

lá, pessoal. Antes de qualquer coisa, gostaríamos de dizer que estamos honrados em entrar para o time da CardPlayer Brasil. Neste espaço, vamos conversar sobre como jogar torneios sit ’n go de maneira lucrativa, e também sobre vários assuntos relacionados à vida do jogador de poker. Vale dizer que as dicas desse artigo de estreia são para o jogador iniciante e intermediário. Então, não se preocupem se vocês virem algum profissional de high-stakes jogando diferente. Lá nas mesas caras, a conversa é outra mesmo. Nosso papo nessa edição vai ser bem direto: o que não fazer em um sit ’n go. Vamos tomar por base uma mesa com 9 ou 10 jogadores e estrutura de pagamento em que 50% do prêmio vai para o vencedor, 30% para o segundo colocado e 20% para o terceiro.

Não cometa suicídio no início do torneio O jogador experiente deixa os iniciantes se matarem nos primeiros níveis do sit ’n go. É o que chamamos de “teorema do conflito”: quanto mais os oponentes se digladiam entre si, mais valem as fichas dos jogadores que as conservam. Sendo assim, tenha paciência no início e tente não bancar o Phil Ivey, entrando em todas as mãos. Jogue de forma sólida e sem blefes desnecessários, tentando extrair o máximo valor possível das mãos fortes.


Não invente Obviamente, não queremos barrar a criatividade no poker (coisa que o Brasil, por sinal, tem de sobra), mas é importante notar que o sit ’n go é um jogo de regularidade. Manter esse foco é essencial para um bom desempenho. A receita é jogar tight no início e ser mais agressivo no final. Se você viu algo diferente e gostaria de aplicar, procure saber o porquê da jogada como um todo. Se achar que há necessidade, procure ajuda nos fóruns da internet ou mesmo com jogadores mais experientes, como um coach.

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ESTRATÉGIA

Sempre que seu stack for menor ou igual 10 big blinds, limite sua jogada a all-in ou fold [...] Essa é uma das razões para ficar de olho nos stacks de todos os oponentes.

Não mude seu padrão de apostas Tente manter sempre o mesmo padrão de apostas para dificultar a leitura dos adversários. Se você definiu que o tamanho do seu raise pré-flop é de 3 big blinds, mantenha esse valor independentemente das cartas que você tiver. Isso pode variar de acordo com a posição na mesa, mas deve estar sempre em sintonia com sua estratégia. Lembre-se de escolher um raise de tamanho maior de acordo com o nível do jogo.

Não pense em termos de cash game

Devido à sua estrutura de pagamento, o sit ’n go difere do cash game e do torneio com vários jogadores. Por isso mesmo, na maioria das vezes, as decisões no sit ’n go são diferentes das que devíamos tomar

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em outras situações. Por exemplo, no SNG, para pagar uma aposta pelo set value (acertar e extrair valor de uma trinca), você deve se preocupar em ter odds melhores do que no cash game. Em bom português, seus pares precisam ter odds superiores a 1-para-13 para acertar a trinca e extrair valor corretamente. Lembrando que esse valor também vai depender da posição dos jogadores envolvidos e da fase do torneio.

Não pense duas vezes em situações de 10 big blinds

Agora, um pouco de matemática básica. Se você der raise para 2,5 big blinds e um oponente no meio da mesa voltar all-in de 10 big blinds, você terá que pagar 7,5 big blinds para concorrer a um pote de 21,5 big blinds: 10 seus + 10 do oponente + 0,5 do small blind + 1 do

big blind. Isso quer dizer que temos odds de 7,5-para-21,5. E, portanto, devemos dar call com qualquer mão que possua equidade de pelo menos 35%, ou seja, praticamente todas as mãos! (Isso ignorando a avaliação da equivalência entre a quantidade de fichas e a premiação do torneio, assunto que veremos em breve, quando falarmos de Independent Chip Modeling). Para se ter uma ideia, 23 off tem equidade próxima a 35% contra AKo. Então, nossa última dica é: sempre que seu stack for menor ou igual 10 big blinds, limite sua jogada a all-in ou fold. E isso implica dizer que você nunca deve dar fold diante de um all-in de 10 big blinds após ter dado raise. Essa é uma das razões para ficar de olho nos stacks de todos os oponentes. Bom, pessoal, encerramos por aqui nosso primeiro artigo. Esperamos que vocês tenham gostado e aproveitado o conteúdo. Sugestões, críticas e comentários são bem vindos. Boa sorte nas mesas, bom estudo e bom grinding! ♠


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Esperamos você nas mesas. Boa Sorte!

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Novo No


O NOVO REI DO PEDAÇO Por Gabriel Rubinsteinn Fotos: Bruno Mooca

Como a grande maioria das pessoas, ele teve seu primeiro contato com o poker através de programas de televisão. Depois vieram os home games com os amigos. Até a profissionalização, foi preciso muito esforço, dedicação e mais de 20 mil mãos jogadas na internet. E com os resultados do ano passado, ele ganhou o prêmio de Jogador do Ano da CardPlayer Brasil. Conheça melhor a vida e a carreira de Caio Pessagno, menino prodígio do poker nacional.

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“A rotina do poker me exigia muito, e eu sabia que precisaria investir 100% do meu tempo no jogo para tentar atingir metas expressivas”

GR: O que você fazia antes de jogar poker? E se não jogasse poker, como imagina que seria sua vida hoje? CP: Eu sempre tive uma boa condição de vida, estudei nos bons colégios daqui de São Paulo, sempre tive uma família muito presente etc. Tudo isso me deu base e estrutura para tomar decisões com humildade, sempre disposto a reconhecer erros e tentar consertá-los da maneira mais prática e inteligente possível. Abri três negócios antes de conhecer o poker online, empreendimentos bem interessantes, mas nada que tenha me empolgado e me incentivado a continuar. Estudei Administração por dois anos, até decidir trancar em 2010. A rotina do poker me exigia muito, e eu sabia que precisaria investir 100% do meu tempo no jogo para tentar atingir metas expressivas. Acho que, sem o poker, minha vida não seria muito diferente: estaria em outra área, trabalhando com a mesma seriedade e racionalidade. Acredito que isso seja fundamental para o sucesso em qualquer segmento. 34

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GR: Seus pais lhe apoiaram quando você decidiu se profissionalizar? CP: Meu pai é uma pessoa tradicional, com valores de outra geração, e obviamente sempre foi contra. Esperava que eu trabalhasse com ele, ou engravatado em algum banco ou grande empresa. Sempre me cobrou muito pelos estudos, e hoje vejo que ele estava coberto de razão. Eu não enxergava na época, me sentia injustiçado pela cobrança extrema, o que me deu muita força justamente para provar o contrário. E eu só tenho que agradecer por tudo que ele me ensinou e cobrou esse tempo todo. Tenho muita admiração por ele, por seu caráter e dignidade.


GR: Como você define seu estilo de jogo? CP: Gosto de jogar muitas mãos, muito para frente. Para isso, é preciso ter controle absoluto de seu stack, não desperdiçar fichas. Saber controlá-las é fundamental no desenvolvimento do torneio, e acredito que essa seja uma das minhas melhores qualidades. Como a maioria dos jogadores de poker, minha dificuldade é manter a linha de raciocínio estável, nem muito baixa nem muito confiante. Falando assim pode parecer simples, mas é um dos maiores obstáculos enfrentados pelos jogadores.

GR: Como é o seu dia de trabalho? Você faz alguma preparação especial antes das sessões de poker? Quantas horas você joga por dia? CP: Acordo tarde, quase sempre às 13 horas, então faço uma hora de musculação ou algum outro esporte. Só depois me sinto preparado para encarar uma sessão, que geralmente dura umas 15 horas, com média de 80 a 90 torneios dia, diluídos entre 12 e 18 mesas simultâneas. Acredito que é muito importante cuidar da saúde e do corpo, pois isso tem influencia direta no jogo. Autoestima baixa e desânimo sem dúvida prejudicam o desempenho.

GR: Você planeja com antecedência o que vai jogar? Faz uma programação? CP: Eu sei o horário de praticamente todos os torneios regulares do PokerStars e do Full Tilt. Então, dependendo da hora, já sei automaticamente o que e por quanto tempo poderei jogar. E, também, no que vou investir.

GR: Você estuda poker? CP: A prática com consciência, análise de mãos após as sessões, é uma forma de se estudar o jogo. É o que faço. Sempre estudei e discuti mãos com meu primo e parceiro Leo Brescia e, quando estou sozinho, essa atividade fica praticamente automática.

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“Os sit ’n gos são uma base fundamental para quem quer jogar MTTs. A essência do jogo é a mesma, porém em proporções menores”

GR: Sit ’n go ou Multi-Table Tournament? Por quê? CP: Os sit ’n gos são uma base fundamental para quem quer jogar MTTs. A essência do jogo é a mesma, porém em proporções menores. Ser um regular de sit ’n go lhe dá base para poder aplicar essa noção em larga escala nos MTTs. Obviamente, isso não vai acontecer do dia para a noite, mas a evolução é certa no longo prazo, com uma amostragem considerável de jogos. Gosto dos dois. 36

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GR: Por que você não joga os torneios major da internet? CP: O único desses grandes torneios que eu jogo é o Sunday Million, do PokerStars. O que eu não jogo são os que têm buy-in de mais de US$ 500. Ainda considero esses buy-ins muito caros. Paga-se muito para, de repente, pegar um cooler na reta final, ficar chorando tiltado e ainda prejudicar toda a reta e o investimento por causa de um prêmio monstro que ficou no “quase”. Além disso, normalmente é necessário jogar muito mais do que uma vez para conquistar esses torneios, o que os transforma em um investimento perigosamente alto. GR: Como você se sente como o Jogador do Ano 2010 no Brasil? CP: Sinto uma emoção muito grande. É realmente um sonho estar em destaque diante de tantos grandes jogadores e talentos do Brasil. Espero poder honrar esse título agora em 2011.


GR: Esse foi o melhor ano da sua carreira até aqui? CP: Com certeza! Mas, oficialmente, foi também o primeiro. 2010 foi o ano em que decidi, junto ao meu pai, trancar a faculdade e cair de cabeça, dedicando 100% do meu tempo ao poker. Com uma amostragem muito grande de mãos jogadas, experiência em várias redes de jogo, retorno do investimento muito elevado e – o mais importante – regularidade, a tão temida variância era quase zero. Não me restavam mais dúvidas de que era o momento certo. Eu me dediquei ao extremo, sabia que era capaz de atingir resultados expressivos nesse período. E deu certo. GR: Vencer o prêmio de Jogador do Ano 2010 da CardPlayer Brasil era um objetivo ou foi uma consequência? CP: Consequência total, quase fiquei sem mandar resultados esse ano. Muitas pessoas me falaram para enviar, pois o ranking me ajudaria no reconhecimento, o que é muito importante para conseguir patrocínios, que vejo como benefícios muito grandes na carreira de qualquer jogador de poker. Poder jogar o circuito live, sem pressão financeira e de tempo, sem dúvidas é um diferencial inestimável para qualquer um.

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GR: Foi difícil manter o volume e o alto nível de jogo para vencer o prêmio de Jogador do Ano 2010? CP: Foi difícil, sem dúvidas. Competir profissionalmente é uma rotina estressante, requer muito tempo de preparação e dedicação extrema, para poder suportar a pressão e não pecar no lado emocional. GR: Acha que pode ser bicampeão do ranking da CardPlayer Brasil, repetindo o feito do outro Caio, o Pimenta? CP: Em fevereiro voltei ao meu ritmo normal, tentando aumentar ainda mais meu volume de jogo, pois também quero brigar pelo Tournament Leader Board (TLB) do PokerStars. Em 2010 fiquei em décimo, mas os prêmios vão só até o terceiro. E eles são muito bons, compensam demais o esforço. Quanto ao bicampeonato, posso dizer que espero mais uma vez disputar a ponta da tabela e competir de maneira saudável e amistosa com meus parceiros brasileiros que também trabalham pesado todos os dias.

GR: Por que você não joga torneios live frequentemente? CP: Como gosto de trabalhar em alta rotatividade, jogo muitas mesas, e torneios live não são dos mais ágeis. Só teria mais paciência diante de buy-ins mais caros, o que já os torna totalmente inviáveis para mim, por causa do alto custo de se jogar o circuito todo e poder exigir um resultado mais expressivo.

GR: Já fez coaching? Já treinou alguém? Foi treinado por alguém? O que acha dessa atividade? CP: Acho um assunto muito delicado. É preciso muita cautela das duas partes, tanto do aluno quanto do professor. Expectativas são colocadas diante de nenhum fato concreto, o que pode causar um efeito reverso no aluno, justamente pelo não cumprimento da meta e do objetivo, colocando-o numa situação de dúvida em relação ao seu jogo e atrasando completamente sua evolução natural.

GR: Casa ou balada? Gosta de gastar ou de economizar? Já se arrependeu de algo que fez com dinheiro do poker? CP: Vivo muito bem, sempre vivi e não seria agora que eu mudaria. Mas como trabalho muito, não tenho muito tempo para festas e baladas. Com certeza já exagerei em uma festa ou outra, mas tudo isso só depois de ter atingido as metas e nunca colocando meu bankroll além do limite, pois a consequência todos sabem qual é. Procuro ter muita cautela para não me perder na tentação. GR: Quais seus planos para o futuro próximo? CP: Ainda está tudo muito corrido, estou analisando algumas propostas interessantes, trabalhando no meu blog (www.caiopessagno.blog.br) e em breve lançando meu site oficial. Está dando muito trabalho, mas acho que o pessoal vai gostar. ♠ @cardplayerbr

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CRÔNICA

Pedro Nogueira @pedronogueira87

A PÁTRIA

NO PANO

Estamos vendo o Brasil se tornar uma potência do poker mundial? Tudo indica que sim

A Pedro Nogueira é jornalista, já disputou torneios internacionais de poker, como a WSOP Europe, e é blogueiro da nova revista Alfa, da Editora Abril.

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cena foi curiosa. Lá estou eu, na �ila do teatro, e, súbito, ouço alguém falar em poker. Por instinto, olhei para os lados, em busca da voz misteriosa. Eis que me deparo com um homem na faixa dos 40 anos, vestindo um terno impecável. Ele estava acompanhado por uma garota bonita, talvez 15 anos mais nova, de vestido ver-

melho. Não eram casados, pude notar, porque não usavam anéis. Pela elegância exagerada, calculei que aquele fosse o primeiro – ou o segundo – encontro dos dois. A peça em cartaz era Ligações Perigosas, uma adaptação (fraca, depois eu descobriria) do romance francês Les liaisons dangereuses. Livro que, por sinal, rendeu um bom �ilme, com John Malkovich no papel principal.


Eu dizia que ouvi o sujeito falando em poker. Pois bem. Comecei a prestar atenção na conversa. “Acredita que, ontem, ganhei quase mil reais no poker?”, contava o homem do terno para a garota, sem disfarçar o orgulho. “Num clube ali no Itaim, pertinho do Shopping Iguatemi”. Ela, sorriso largo no rosto, ouvia a história com atenção total e irrestrita. “Jura?”, perguntou. O homem, então, descreveu a jogada maravilhosa e complexa em que limpou dois adversários num só movimento. Impressionada, a garota processava cada palavra do outro como se ele fosse o próprio Dostoievski contando detalhes de um novo livro. E, �inalmente, deu o suspiro consagrador: “Poxa!” Fiz a introdução acima para chegar ao seguinte: o poker está, hoje, na boca do brasileiro. Em cada esquina, em cada boteco, há gente debatendo lances de Texas Hold’em ou, então, de Omaha. É

como uma legítima paixão nacional. Eu já disse nesta coluna da CardPlayer Brasil que, em matéria de cartas, o Brasil tem o melhor material humano do mundo. Os números estão aí para provar. Tanto no poker ao vivo quanto no online, nossos atletas estão barbarizando pelo circuito. Peguemos o caso da World Series of Poker (WSOP), o mais prestigioso dos campeonatos. No ranking de faturamento por países, o Brasil terminou 2010 num belíssimo 11º lugar, com 1,3 milhão de dólares ganhos na série. Algum leitor mais pessimista poderá dizer: “Mas isso é pouco”. Ao que respondo: pelo contrário. Até menos de 10 anos atrás, o poker era um jogo desprezado no Brasil. Só passou a ser tratado como um esporte sério na última década, quando surgiram as estrelas de Kruel, Akkari e Alê Gomes. E, desde então, viramos um fenômeno.

No caso do poker online, então, nossa potência bélica é ainda mais impressionante. O WCOOP (World Championship of Online Poker) do PokerStars desenvolveu uma lista igual à da WSOP. Nela, estamos na 12ª colocação no quesito dinheiro – e no 5º lugar quando o assunto é braceletes. E empatamos com a Inglaterra, uma nação cuja nobreza do século XVI já jogava baralho. Vejam vocês: enquanto o Brasil era habitado por índios, Henrique VIII se divertia no carteado com suas amantes. Passados 500 anos, brigamos em condições de igualdade, remada por remada, com os ingleses no poker. Falar em América Latina, então, é uma covardia. No LACOOP, uma série voltada para a região, esmagamos os nossos vizinhos de maneira assombrosa. Nossos ITMs (In The Money, as pessoas que entraram na faixa de premiação) equivaleram, basicamente, às somas de Argentina e México. É fato que os argentinos empataram conosco em títulos – quatro para cada –, mas o Evento Principal veio para cá. Eis a verdade indiscutível, amigos: o brasileiro é um jogador de poker nato e hereditário. Em todo o hemisfério sul, não há uma nação sequer à altura do Brasil. E em breve, muito em breve, breve mesmo, também não haverá no norte. ♠ CARDPLAYERBR

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LAPT São Paulo POR MARCELO SOUZA

A cidade de São Paulo e o PokerStars têm pelo menos um ponto em comum: são superlativos. Junte a grandiosidade de uma das principais metrópoles do mundo com a força de um site que abriga 300 mil jogadores conectados ao mesmo tempo, e o resultado não poderia ser outro senão o maior torneio de poker já realizado no Brasil.

A

maior etapa, na maior sede. Esse era o sentimento geral com relação à abertura da 4ª temporada do Latin American Poker Tour. E o evento realizado no World Trade Center do Sheraton Hotel foi “sem surpresa”: quebrou recordes de field e de premiação, com 536 jogadores no Evento Principal e mais de 2 milhões de reais de premiação. O Dia 1 foi animador para a torcida verde-e-amarela. Entre os 325 brasileiros inscritos, que correspondiam a mais de 60% do field, estava a elite do poker nacional. Os Team Pros brasileiros Alexandre Gomes, André Akkari, Gualter Salles e Maridu estavam presentes, claro. O apresentador Otávio Mesquita, que chegou bem perto da faixa de premiação, bem como o piloto Thiago Camilo, também eram atrações do field. Só para listar todas as feras, seriam necessárias algumas páginas.

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Apenas 167 passaram o dia seguinte, com 96 brasileiros na briga. A expectativa pelo primeiro título era enorme, apesar de o chip leader ser o argentino Leandro “Peluca” Csome. A bolha estourou no Dia 2, com 65 jogadores premiados. Infelizmente, o bubble man foi do Brasil. Diego “Vilelinha” Vilela estava short-stacked quando empurrou all-in do button com A♣ J♦ e recebeu call de Rodrigo Garrido, que tinha Q♦ Q♠. Fim da linha para o carioca e muita vibração no salão. O torneio continuou até restarem apenas 24 jogadores, com sólida liderança do chileno Alex Manzano.

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O Dia 3 começou com 23 jogadores. E uma jogadora: Daniela Zapiello, única mulher ainda viva no torneio. Com 12 brasileiros na disputa, o otimismo no salão era grande, e a ação só seria interrompida quando a mesa final de oito jogadores fosse formada.


Fala, Odilon! Odilon Machuca, da Overbet Eventos, é um dos responsáveis pelo sucesso do LAPT São Paulo. Conseguimos conversar com ele durante o evento. Confira. Marcelo Souza: Odilon, certamente não deve ser fácil organizar um torneio dessa magnitude, ainda mais em se tratando de um circuito do PokerStars, cujo padrão de qualidade é internacionalmente conhecido. Como surgiu essa aproximação da Overbet Eventos com o PokerStars? Odilon Machuca: Na verdade, foi uma questão de estar no lugar certo, na hora certa. Há mais ou menos dois anos, quando criamos a Overbet Eventos, eu estava em uma viagem e encontrei Alexandre Gomes, grande amigo meu, que sempre jogou nossos torneios em Floripa. Ele me apresentou ao pessoal do PokerStars ainda em 2009 e, depois de muitas conversas, negociações e um LAPT bem sucedido em Floripa, estamos aqui hoje. MS: O local da Grande Final desta temporada do LAPT ainda está em aberto. Com o sucesso do evento de São Paulo, há chances de o encerramento ser realizado também aqui no Brasil? OM: David Carrión, presidente do LAPT, disse que, se tudo corresse bem aqui em São Paulo, o Brasil teria chance de sediar também a Grande Final. Depois do sucesso dessa etapa, em que quebramos todos os recordes do circuito, acho que essa chance aumentou. É esperar para ver. ♠

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Finalistas

Depois de uma sequência de eliminações brasileiras que incluiu Dani Zapiello (22ª), Rodrigo Garrido (18º) e Caio Brites (13º), parecia que um de nossos representantes mais fortes também deixaria a competição. Na mesa da TV, João Bauer se envolvera em um all-in pré-flop com Leandro Csome, e seu A♠ J♠ precisava melhorar para derrotar o par de damas do argentino. Pois bem, o turn e o river trouxeram dois valetes, e a torcida foi ao delírio.

O dia só não terminou de maneira perfeita porque o nono colocado e bolha da FT foi um brasileiro. Fábio Colonese pagou o all-in de Bruno Foster, que acabou acertando um flush e deixou Colonese com apenas um blind. Logo depois ele foi eliminado, e a mesa final estava formada. A liderança voltara para as mãos de Leandro Csome, que certamente seria o alvo dos cinco brasileiros que carregavam a responsabilidade de trazer o primeiro título do LAPT para o Brasil.

Leandro Csome apanhou do baralho 48

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8º Lugar – Bruno Foster (R$ 45.440) Alex Manzano abriu raise com A♠ K♣. Bruno Foster voltou all-in do button com 10♥ 10♣. O flop trouxe 4♠ K♠ Q♠ e deixou Foster com apenas um out, que acabou não batendo.

7º Lugar – Henrique Bernardes (R$ 69.350) Com poucas fichas, o brasileiro foi all-in com J♥ Q♠. Recebeu call de Alex Manzano com A♣ K♠. O bordo final não trouxe nada que ajudasse Henrique. Fim da linha para ele.

6º Lugar – Santiago Nadal, México (R$ 93.270) A mesa rodou em fold até Santiago, que estava short stacked. Ele foi de all-in com A♦ J♣, mas Leandro Csome tinha K♥ K♣. O par segurou e Nadal deu adeus à mesa final.

5º Lugar – Leandro Csome, Argentina (R$ 117.190) João Bauer abriu raise e Csome, quase sem fichas, foi all-in com K♦ 5♥. Bauer tinha 9♥ 9♦. Nenhum rei apareceu e o último hermano do LAPT foi eliminado.

4º Lugar – Márcio “Kamikaze” Motta (R$ 165.000) João Bauer abriu raise com 6♠ 6♥ e Kamikaze, com poucas fichas, foi all-in segurando A♥ T♥. O carioca ainda conseguiu um flush draw no turn, mas um 2♠ no river deu a vitória a João.

3º Lugar – Marcelo Fonseca (R$ 224.800) Com menos de três blinds, Marcelo empurrou all-in com A♣ K♦. João e Alex pagaram. O chileno, que tinha 10♣ 8♠, acertou um dez no flop. Estava definido o heads-up do LAPT São Paulo.

2º Lugar – João Bauer (R$ 352.760) Alex Manzano abriu raise para 270.000 do button. João Bauer pagou. O flop veio 3♦ 2♠ 2♣. O brasileiro deu check e Manzano apostou 275.000. João pagou. O turn foi o 7♣. Novamente, check de João Bauer e nova aposta do chileno, que disparou mais 615.000. O river foi o 4♦. O goiano pediu mesa, mas Alex Manzano foi all-in. Depois de vários minutos pensando, o brasileiro pagou. Alex Manzano mostrou 5♣ 6♣ para o nut straight. João tinha A♠ 8♦. 50

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Representando o Brasil na mesa final, cinco jogadores experientes – o cenário para o título inédito era o melhor possível. O favorito da torcida era João Bauer, campeão goiano de 2009 e do Evento #3 do WCOOP 2010.

Campeão – Alex Manzano, Chile (R$ 615.840)

Mas o homem a ser batido era Leandro Csome, que entrara como chip leader. E logo de cara ele mostrou serviço: puxou os cinco primeiros potes da FT e ultrapassou a marca de 3 milhões de fichas. Mas quanto maior o tamanho, maior o tombo. Sua queda foi trágica como um legítimo tango: uma mão atrás da outra, as pancadas se sucediam. Foster, Bauer e Fonseca, todos lhe aplicaram golpes duros. Tinha ficado claro que o argentino Leandro “Peluca” Csome não conseguiria mais nada. Com a mesa reduzida a três jogadores, João Bauer tinha mais de 50% das fichas em jogo. Só que um pote perdido contra Alex Manzano fez a liderança trocar de mãos. E o embate que definiu o heads-up foi entre dois brasileiros. Em um coin flip, o 3-3 de Bauer foi valente contra o A-K de Marcelo Fonseca, que cairia na mão seguinte. O HU começou com uma vantagem de quase 2-1 em fichas em favor do chileno. Apesar da torcida maciça, João não conseguiu reverter a situação. Após um call com ace-high valendo sua vida no torneio, em vez de um silêncio ensurdecedor, o que se ouviu foram muitas palmas: João Bauer perdera o torneio, mas conquistou um resultado fantástico no maior LAPT da história. Com uma estrutura de padrão internacional, a etapa de São Paulo do LAPT só não foi perfeita porque deixamos escapar o título mais uma vez. O tabu continua, mas uma hora acabaremos com ele. ♠

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COLUNA

Christian Kruel

PROJEÇÕES

@christiankruel

PARA O POKER PORTABILIDADE, EVOLUÇÃO DOS FIELDS E NOVA POSTURA DE JOGO

C CK é um dos pioneiros do poker no Brasil. Ele também é membro integrante do Full Tilt Red Pro Team.

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omo de costume, todo início de ano nós fazemos re�lexões sobre o que aconteceu nos últimos doze meses. É quando revemos os erros e os acertos a �im de antecipar algumas situações interessantes que poderão ser exploradas no futuro. No poker online, pouca coisa mudou em termos de jogo, estratégias, softwares e poker rooms. Acredito que 2011 será um ano de mudanças nesse sentido. Com a enorme popularização das redes sociais, a internet passou a contar com várias sub-redes. As vedetes do momento? Twitter e Facebook, claro. O Full Tilt Poker já percebeu isso e lançou seu canal no Twitter. Penso que o próximo passo deve ser o Facebook, cuja plataforma disponibiliza um canal para games. O lançamento de um software de poker num canal desses deve ser muito

interessante para as grandes salas de poker, principalmente pela possibilidade de o programa ser rodado diretamente no navegador, sem depender de um sistema operacional especí�ico. Outro ponto a se pensar é o avanço dos dispositivos móveis – smartphones, tablets etc. Muitas pessoas acessarão a rede apenas usando esses dispositivos. É preciso pensar nisso também, criando um software compatível com essas plataformas e que tenha boa usabilidade. A integração das plataformas Windows, Facebook e móvel será um enorme ganho para o poker. Falando especi�icamente do meu jogo, passei o ano numa gangorra. De�initivamente, esse foi o ano com maior número de “traves” na minha vida, em especial no Full Tilt. (No Poker Stars, tive um ano bem positivo em torneios multi-table, incluindo uma mesa �inal no Sunday Million).


Meu saldo em torneios no Full Tilt me deu uma desanimada, o que re�letiu nesse primeiro momento numa nova postura. Resolvi fazer um maior volume de jogo online no Full Tilt para equilibrar as traves dos torneios. Outro ponto a se comentar é que os �ields estão muito mais complica-

dos. É di�ícil analisar os motivos sem fazer uma pesquisa mais detalhada, mas eu tenho algumas suspeitas. A primeira delas é o grande volume de informações sobre o jogo disponibilizadas na internet, desde artigos até livros em PDF. A segunda é que esse material é muito parecido e ensina as pessoas a jogar mais ou menos do mesmo jeito, criando um padrão.

Quem �ica dentro desse padrão tende a levar vantagem sobre quem �ica fora, mas a partir do momento em que um grande número de pessoas joga da mesma forma, a margem de lucro e o edge sobre os oponentes diminui bastante.

Não deixe de trabalhar a criatividade por medo de sair de um esquema pré-determinado. Pense mais e pergunte menos.

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COLUNA

A quantidade maciça de informações acabou por limitar a criatividade do jogador, que em vez de pensar nos casos de dúvida, recorre ao livro, ao artigo ou ao fórum para descobrir a resposta “padrão”. A minha dica aqui é sempre prestar atenção na estratégia “padrão” e saber pensar numa maneira de tirar proveito dela. Não deixe de trabalhar a criatividade por medo de sair de um esquema pré-determinado. Pense mais e pergunte menos. O motivo �inal desse endurecimento nos �ields, suspeito eu, pode ser essa onda de sistemas de cotas que foram muito populares aqui no Brasil em 2010, e que também ocorrem em todo o mundo. Basicamente, o jogador “fraco” tem a oportunidade de “investir” seu dinheiro em um jogador mais “forte”. Isso, obviamente, aumenta o número de jogadores fortes e diminui o de jogadores fracos no �ield. É uma questão de lógica. Mas o ano passado também marcou uma conquista muito importante na minha carreira, que foi o título em um grande torneio ao vivo que eu vinha buscando. E por pouco a alegria não foi dobrada! O título veio em casa, no BSOP do Rio de Janeiro. A etapa teve �ield cheio e o heads-up foi muito di�ícil e demorado. Tive que jogar meu poker A+. E não pode-

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ria ter sido diferente, uma vez que toda a minha família e os meus amigos estavam presentes para me dar aquela força. Esse título foi realmente muito importante para mim. Outro momento marcante foi a participação na primeira Copa do Mundo de Poker por países, torneio em que representamos o Brasil e enfrentamos times como China, EUA, Israel e Grécia – todos com feras do primeiro escalão do poker mundial. Nós nos classi�icamos para a �inal, chegamos ao heads-up decisivo, estávamos para fechar a partida, mas acabamos esbarrando na muralha chinesa. Ficamos com o vice-campeonato. De qualquer forma, fomos bastante elogiados e levamos o poker brasileiro a um nível ainda mais alto. O �inal do ano marcou também a renovação do meu contrato com

o Full Tilt. A partir disso, como eu já disse, passei a adotar uma nova rotina no site, menos estressante e que me permite aproveitar melhor o contrato e suas possibilidades. Por �im, estou iniciando um projeto de coaching que pretendo aprimorar ao longo desse ano. O primeiro passo vai ser mudar a cara do meu site pessoal. Espero contar mais novidades boas em breve!


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Erik Seidel

A grande carreira de uma superestrela discreta Por Stephen A. Murphy

Rebelde sem causa, o adolescente Erik Seidel pichava metrôs em Manhattan e invadia áreas restritas para fugir da polícia. Ninguém poderia imaginar que um sujeito assim se tornaria um dos mais tranquilos e educados jogadores do circuito internacional – e agora, o jogador que mais ganhou dinheiro em torneios ao vivo. 58

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om oito braceletes da World Series e mais de $14,5 milhões ganhos em torneios, é incrível que Erik Seidel ainda não tivesse sido conduzido ao Hall da Fama. Com serenidade e determinação, ele tem um dos currículos mais impressionantes da história do poker. Ainda assim, muitos fãs do jogo não sabem quase nada sobre ele. Indiferente aos holofotes, Seidel simplesmente joga o jogo que ama, evita controvérsias e fala bem de seus colegas. Ele não perde a linha quando é vítima de uma bad beat, nem se gaba de seus talentos como tantos dos jogadores atuais. Após mais de duas décadas no mundo dos high-stakes, com resultados espetaculares antes e depois do boom do poker, não há como negar que ele é um dos maiores nomes do jogo. Algumas décadas atrás, porém, enquanto crescia na cidade de Nova York, ninguém diria que Seidel estava predestinado à glória.

Nós apostávamos pouco, com fichas de gamão. Foi assim que começou o poker no Mayfair.

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Perdido e Problemático Durante boa parte da infância, Seidel cresceu sem uma figura paterna. Ele viu sua mãe criar dois filhos praticamente sozinha na cidade grande. “Até hoje, eu sinceramente não sei como ela conseguiu”, afirma. “Felizmente, ela tinha uma confiança enorme na educação e se certificou de nos colocar em boas escolas, apesar das dificuldades. Isso foi fundamental”. Mesmo com um bom ambiente escolar, Seidel estava mais interessado no que os garotos da vizinhança faziam, como pichação e outras atividades escusas. “Eu provavelmente não chegaria longe”, pondera. Mas, felizmente, sua vida estava prestes a mudar – tudo por causa de um jogo.

Encontrando Motivação na Vida, Graças a um Jogo Do nada, um jogo que existia há muito tempo emergiu graças à mídia. Os jovens começaram a se interessar, e alguns inclusive resolveram abandonar a faculdade para jogar torneios em Las Vegas e outras cidades. Soa familiar? Bem, esse não foi o boom do poker nos anos 2000 – foi a explosão do gamão nos anos 70. Como muitos garotos da sua idade, Seidel ficou fascinado com tudo aquilo. Para sua felicidade, ele morava na capital mundial do gamão. “Na época, Nova York tinha os melhores jogadores do mundo”, disse. “Eu estava no lugar certo para aprender”. À medida que se interessava mais e mais pelo gamão, Seidel ficava menos e menos interessado na rebeldia sem causa. “Eu ainda era bem imaturo, mas ao chegar a esse mundo passei a conviver com muita gente mais velha e muita gente mais inteligente; para mim, essa foi minha educação superior”, falou. “Tenho muita sorte de ter sido resgatado pelo mundo dos jogos”.


WSOP em 2005 e 2006 BSOP em 2007, 2008, 2009 e 2010 CPH em 2007, 2008, 2009 e 2010 LAPT em 2010 e 2011 Full Tilt 750K em 2010 PCA Bahamas em 2011 Tower Torneos em 2011 ARSOP em 2011 BPT em 2011 Nem o Brasil chegou em tantas finais de campeonato assim.

Tenha em casa o mesmo baralho utilizado nos maiores torneios de P么quer do mundo. Dispon铆vel nos Naipes Grande e Peek.

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A Mágica do Mayfair O Mayfair Club é reverenciado por muitos dos grandes nomes do poker da atualidade. Tratava-se da sala de poker underground mais prestigiada de NY até ser fechada em 2000. De lá vieram monstros como Stu Ungar, Howard Lederer e Dan Harrington. Antes de se tornar a cardroom mais famosa da Big Apple, o Mayfair era apenas um clube de bridge. Com a popularização do gamão, passou a ser o local em que algumas das maiores mentes do mundo dos jogos discutiam estratégia e apostavam alto. Com tantos galáticos ao seu redor, Seidel evoluiu no jogo e logo

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começou a ganhar um bom dinheiro. À medida que o dinheiro entrava, ele se tornava menos e menos interessado em sua graduação na universidade. “Tudo que perdi na faculdade, ganhei passando tempo com todas aquelas pessoas inteligentes no Mayfair Club”. Embora um jovem conseguisse viver de gamão, o jogo não era tão lucrativo quanto o poker é hoje. Seidel estima que os melhores jogadores ganhavam cerca de $50.000 por ano. Muito pouco, se comparado aos milhões ganhos anualmente hoje em dia. Mas, quando percebeu que poderia ter um trabalho em tempo integral graças ao Mayfair, ele agarrou a oportunidade.

O Tédio do Trabalho e um Novo Jogo na Cidade Graças aos seus contatos do Mayfair, Seidel começou a trabalhar no setor de hipotecas de uma grande empresa, mas se sentia frustrado por achar que não tinha o perfil e que ganharia sempre pouco, apesar do seu bom desempenho. Resolveu, então, trabalhar em Wall Street – foi nessa época que ele começou a aprender um jogo novo, o poker. “Eu estava em Las Vegas para o Campeonato Mundial de Gamão Amador”, disse Seidel. “Por sugestão de [Paul] Magriel, eu peguei um livro de [David] Sklansky sobre limit hold’em. Eu li e tentei jogar na mesa de $1-$2, e milagrosamente consegui ganhar. Isso despertou meu interesse”. Não demorou muito para que Seidel ficasse popular no Mayfair. “Nós apostávamos pouco, com fichas de gamão”, disse. “Foi assim que começou o poker no Mayfair”. Ele começou a ganhar dinheiro com o novo hobby e, com a quebra da bolsa de valores em 1987, Seidel se viu desempregado. Resolveu levar o poker um pouco mais a sério para continuar pagando suas contas. “Fui cauteloso no início – jogava apenas quando a mesa estava muito boa”, disse. Algum tempo depois, ele estava na de $25-$50 com os melhores de Nova York. Não demoraria muito para que seus amigos o convencessem a ir à World Series of Poker.


O Vice-Campeão Mais Famoso da História do Poker 1987 foi um marco para os parceiros de poker do Mayfair. Quatro de seus jogadores ficaram entre os onze mais bem colocados no Main Event da WSOP naquele ano, com dois – Lederer e Harrington – chegando à mesa final e caindo em quinto e sexto lugar, respectivamente. Foi Lederer quem primeiro “pilhou” Seidel para ir à WSOP de 1988. Lisonjeado, mas ainda não convencido de que estava pronto, Seidel de início resistiu. Mas depois de uma ótima fase com ganhos astronômicos (para os padrões da época), ele resolveu tentar a sorte. Ainda conservador em relação ao seu dinheiro, ele resolveu “cavalar” 70% do buy-in. Ironicamente, Lederer não foi um dos que o patrocinaram. Como se sabe, Seidel ficaria em segundo lugar, perdendo apenas para Johnny Chan em uma mão derradeira imortalizada no filme Rounders (Cartas na Mesa, EUA, 1998).

Ganhando a Vida e Sustentando a Família

Depois de receber 280 mil dólares no Main Event, sua boa fase continuou. Menos de um mês depois, ele derrotou um jovem desconhecido chamado Phil Hellmuth e ganhou outra premiação de seis dígitos – de 1992 a 1994, Seidel cravou um evento da WSOP por ano. Em 1995, com o apoio de sua esposa, ele se mudou para Vegas, decidido a jogar em tempo integral. E seu sucesso foi ainda maior: Seidel acabou se dando bem em cash games – especificamente em uma mesa de pot-limit Omaha com Doyle Brunson e Chip Reese – e continuou colecionando braceletes, vencendo eventos em 1998, 2001 e 2003. Mesmo assim, ele sempre temeu a variância: “Sempre tive medo de quebrar. Não sei se em algum momento da minha carreira esse sentimento passou”, afirmou. “A pressão de ter uma família e jogar poker é muito diferente de ser solteiro e poder simplesmente ganhar ou perder. Quando minha segunda filha nasceu, eu enlouqueci pensando se realmente conseguiria sustentar duas crianças jogando poker”. Apesar dos seus medos – e ao contrário de muitos profissionais de renome – Seidel jamais quebrou. E depois do boom da indústria em 2003, ficou claro que isso jamais aconteceria. CardPlayerbrasil.Com

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O Jogo Hoje Embora Seidel admita que prefere a situação atual do poker – muito mais lucrativa – ele sente saudade dos velhos tempos. “Eu gostava de quando você chegava para jogar um torneio e conhecia todo mundo”, disse. “Não havia TV, nem pessoas pulando e gritando. Se você jogasse bem, ganhava dinheiro. Não havia celebridades em busca de exposição”. Uma coisa que Seidel adora no mundo do poker moderno é o desafio e o influxo de mentes brilhantes chegando. Embora admita que o jogo está ficando mais difícil, ele insiste que o poker permanece “vivo” porque ainda há muito a se aprender. Sem citar nomes, ele acredita que vários profissionais famosos da atualidade não sobreviverão no longo prazo. Quando perguntado sobre jovens jogadores que ele realmente respeita, Seidel começou com um bastante popular: “Eu acho o Tom Dwan fantástico. Ele é criativo e brilhante. É agressivo demais, mas é tão inteligente que isso não o prejudica. Pessoas que não jogam no nível dele – o que inclui todo mundo exceto, talvez, Phil Ivey – não sobreviveriam se tivessem o mesmo grau de agressividade”. Seidel também mencionou Phil Galfond, Scott Seiver e Andrew Lichtenberger como jovens profissionais que ele admira.

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Eu gostava de quando você chegava para jogar um torneio e conhecia todo mundo. Não havia TV, nem pessoas pulando e gritando. Se você jogasse bem, ganhava dinheiro. Não havia celebridades em busca de exposição.

O Que o Futuro Reserva Para Seidel As conquistas de Seidel o colocaram em quarto lugar na lista de mais braceletes ganhos na WSOP, empatado com Phil Ivey, e recentemente, ele se tornou o jogador que mais ganhou dinheiro em torneios ao vivo. Mesmo hoje, com uma carreira de sucesso que lhe rendeu mais de $14 milhões em torneios, Seidel permanece humilde. Quanto ao seu futuro no jogo, ele diz que vai simplesmente continuar jogando, desde que continue gostando do que faz.

“Espero continuar gostando do jogo por muito tempo, gostando de competir e sendo capaz de competir, pois o poker está ficando mais difícil e mais dinâmico”, afirmou Seidel. “Eu simplesmente espero que daqui a cinco ou dez anos eu ainda seja bom o bastante para competir e ainda tenha interesse pelo jogo. Caso contrário, vou procurar outra coisa para fazer”. ♠


Nova Era, Mais Sucesso Muitos jogadores de sucesso tiveram dificuldade em se ajustar ao poker depois do boom de 2003, com a vitória de Chris Moneymaker no Main Event. Erik Seidel, ao contrário, tornou-se membro do Team Full Tilt e continuou fazendo sucesso. Confira seus principais resultados na era moderna do poker:

2004 Festa al Lago 1º no evento de US$ 3.000, prêmio de US$ 217.839 1º no evento de US$ 2.500, prêmio de US$ 175.347 3º no Main Event de US$ 10.000, prêmio de US$ 165.000

2005 WSOP 1º em um evento de no-limi de US$ 2.000, prêmio de US$ 611.795 2006 WSOP Nove ITMs

2007 WSOP 1º no evento 2-7 Lowball, prêmio de US$ 538.835 Aussie Millions 2º no High Roller, prêmio de US$ 400.000 WPT 8º no Spanish Championship, prêmio de US$ 71.426

Foxwoods Poker Classic

2008 WPT 1º no Foxwoods Poker Classic, prêmio de US$ 992.890 Aussie Millions 2º no Main Event, prêmio de US$ 880.000

2009 WSOP 8º no evento H.O.R.S.E de US$ 50.000, prêmio de US$1 62.382. WPT 6º na Bellagio Cup de US$ 15.000, prêmio de US$ 162.618

NBC Heads-Up Championship 2011

2010 Aussie Millions 1º no evento de Pot-limit Omaha, prêmio de US$ 107.085 NBC 2º no Heads-Up Championship, prêmio de US$ 250.000

2011 Aussie Millions 1º no $ 250.000 Super High Roller, prêmio de US$ 2.489,747 3º no Aussie Millions $100.000 Challenge, prêmio de US$ 625.000 LA Poker Classic 1º no evento 54 - Commerce e High Roller, prêmio de US$ 144.570 NBC 1º no Heads Up Poker Championship, prêmio de US$ 750.000 CardPlayerbrasil.Com

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Entra para o Hall da Fama

Por Justin Marchand

M

estre em xadrez, campeão de gamão, advogado, escritor e superestrela do poker: esse é Dan Harrington. Nada mal para quem nunca se não se dedicou ao poker em tempo integral. Na verdade, ele passou toda a sua vida transformando suas habilidades competitivas em sucesso financeiro. Acumulou mais de $6 milhões ganhos em torneios, boa parte na WSOP. Também é verdade que “Action Dan” jogou pouco nos últimos 15 anos. Ele foi revelado em 1995, ao ganhar dois braceletes da World Series, incluindo o do Main Event. Sur preendentemente, ele então “se aposentou” do poker. De 1996 até 2003, passou o tempo transformando seu negócio, a Anchor Loans, na maior instituição de empréstimos para aquisição imobiliária dos Estados Unidos. Depois de assistir ao poker na TV em 2003, ele não se aguentou e pensou: “Eu me lembro como se joga no-limit hold’em. Sei jogar melhor do que esses caras”, e resolveu voltar à ativa. E ele realmente não estava para brincadeira: Dan Harrington chegou à mesa final do Main Event em 2003 e 2004, terminando em terceiro e quarto lugar, respectivamente.

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Embora suas conquistas nos feltros o tenham qualificado para entrar no Hall da Fama, suas contribuições longe das mesas também abriram portas. Um dos critérios do Hall é que o candidato “tenha contribuído para o crescimento e sucesso do jogo de poker com positividade indelével e resultados duradouros”.

Embora Harrington não atue como embaixador do jogo viajando o mundo e participando de eventos de poker, suas publicações não têm rival na área. Devido ao seu alcance, Harrington deu exposição global ao Texas Hold’em e deixou como legado um sofisticado estudo do jogo. Em 2004, ele sacudiu o mundo editorial do poker com sua trilogia Harrington no Hold’em. O tratado, escrito com a ajuda de Bill Robertie, tornou-se uma bíblia para todos os jogadores sérios de torneios. Parabéns, “Action Dan”, o Hall da Fama do Poker também é seu. ♠

Dan Harrington e Erik Seidel

(C) Rob Gracie

‘Action Dan’


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ganhe uma camisa


bUSINESS

dusty Schmidt dusty.schmidt @dustyschmidt

PROFISSÃO SIM JOGAR POKER É UMA

EXIGE HABILIDADE, CONHECIMENTO E DÁ MUITO TRABALHO

dusty “leatherass” Schmidt é instrutor no dragThebar.com. ele já disputou cerca de 7 milhões de mãos online e ganhou mais de $3 milhões.

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Antes de se dedicar a transformar o poker em uma fonte de renda significativa, é importante que você compreenda o motivo pelo qual ser jogador de poker é considerado uma profissão. Para que um jogo seja uma profissão, ele deve ter dois componentes básicos: ser passível de ser ganho e a habilidade deve ser o fator predominante. Essa questão tem ido além do viés acadêmico nos últimos anos e, em outubro de 2006, o Congresso norte-americano barrou o uso de cartões de crédito em apostas online. Corridas de cavalo e negociação de ações foram a exceção, mas a nova lei abrangeu todo “jogo predominantemente sujeito à sorte”. Dentre esses, incluiu-se o poker. Na verdade, definir o poker como um jogo de habilidade é bem simples. Você só precisa se esquecer de ganhar no poker e pensar um

pouco em perder. É possível perder de propósito em um jogo de poker? Sim, claro. Mas é possível perder intencionalmente em um jogo como roleta ou craps? Não, não é. Em jogos de azar, o participante não controla o resultado. Na loteria, por exemplo, independentemente de você querer ganhar ou perder, suas chances são as mesmas. Os supersticiosos podem discordar, mas, não importa quantas vezes você puxe a alavanca, suas chances permanecem iguais toda vez que você coloca moedas numa máquina de caça-níqueis. Já no poker, suas ações podem inf luenciar o resultado de uma mão. Você definitivamente vai perder se der fold em todas as mãos, não importa o que segure. Se pagar apostas com uma mão que não pode ganhar o pote, você também perderá todas as vezes. Essa é a diferença entre um jogo de azar e um de habilidade.


É de conhecimento comum entre os jogadores de poker o fato de que a sorte é um elemento presente em toda mão, mas que ao longo de muitas mãos, a habilidade vai prevalecer – os melhores sairão vencedores. Nos mesas de high-stakes que jogo atualmente, eu ganho cerca de 55% das vezes. Se eu jogar 20 mesas de uma vez, espero lucrar em 11 delas e perder em 9. Essa é uma margem de lucro modesta, mas ainda assim é lucro. Se eu estivesse jogando em mesas mais baratas, minha razão ganho/ perda seria de cerca de 80/20, o que significa que, se eu jogasse 20 mesas, eu poderia esperar ganhar em 16 delas e perder em 4.

Alguns jogos são de habilidade, mas não säo necessariamente lucrativos. O blackjack, por exemplo, é certamente um jogo de habilidade, pois o resultado pode ser facilmente influenciado por suas ações. Você pode perder todas as mãos para o dealer se continuar pedindo cartas até ultrapassar o limite. Por outro lado, você pode jogar blackjack de maneira matematicamente perfeita e se dar muito melhor; contudo, as odds estão contra qualquer pessoa que não conte as cartas, e o jogo não é passível de ser ganho no longo prazo.

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bUSINESS Profissionais online são diferentes. Os melhores são bem mais sistemáticos. Nossa meta é a precisão e a eficácia total, mas normalmente não somos capazes de improvisar como os jogadores live.

No poker, nós competimos contra outras pessoas, no que eu considero o casamento perfeito entre sorte e habilidade. É comum o jogador sentir um frio na barriga quando vai all-in, pois é a sorte que ditará em que direção as fichas irão. Mas se você for um jogador habilidoso – ou pelo menos mais habilidoso do que os oponentes que está enfrentando – você frequentemente terá uma vantagem matemática sobre seu oponente, pois tem uma mão de verdade ou tenta um blefe que tem, em termos percentuais, mais chances de ganhar o pote. No poker, se você tomar boas decisões continuamente e arriscar fichas com a melhor mão, a habilidade será o fator primário para determinar se você ganha ou perde dinheiro. Jogos de azar não funcionam assim. 72

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Então, de onde vêm os grandes jogadores de poker? Jogadores de poker live vêm de todos os setores da vida. Eles jogam baseados no feeling: um cara pode jogar um pouco tight, enquanto outro pode blefar feito louco. Um pode ser um programador de computadores, enquanto outro é artista plástico. Profissionais online são diferentes. Os melhores são bem mais sistemáticos. Nossa meta é a precisão e a eficácia total, mas normalmente não somos capazes de improvisar como os jogadores live. Eu não estou dizendo que somos melhores: somos apenas diferentes. Eu jogo 1.200 mãos por hora, enquanto um jogador live joga apenas 25 ou 30. Ambas são boas escolhas de carreiras para aqueles que têm as habilidades corretas.


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Premiação garantida para os 20 jogadores mais bem colocados: 1° Lugar - $1.600 2º Lugar - $1.200 3º Lugar - $800 4º Lugar - $500 5º Lugar - $400 6º ao 20° Lugar - $50

Premiação, regras e ranking acesse:

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bUSINESS

A maioria dos novos profissionais online utiliza mecanismos similares: eles têm um coach, visitam os mesmos sites de treinamento, leem os mesmos blogs e participam dos mesmos fóruns. É como se alguém pegasse os melhores jogadores da Taça São Paulo de Futebol Júnior e enviasse ao melhor centro de treinamento. No primeiro dia, eles talvez não se destaquem tanto entre si. A técnica deles talvez seja 95% igual, e os 5% restantes são aquelas pequenas diferenças que os tornam únicos. É verdade que alguns dos maiores nomes do poker online são feras em matemática ou corretores habilidosos que descobriram como ganhar no jogo. Mas eu era um jogador de golfe que trabalhava no negócio da minha família. Matt “mbolt1” Bolt vendia pesticidas. Ninguém deve se sentir desencorajado por fazer do poker uma busca séria.

No poker, se você tomar boas decisões continuamente e arriscar fichas com a melhor mão, a habilidade será o fator primário para determinar se você ganha ou perde dinheiro. Jogos de azar não funcionam assim.

Na realidade, corretores e comerciantes fazem a mesma coisa que eu: com base em informação e intuição, eu levo em conta as variáveis possíveis de um baralho e aposto com base nos prováveis resultados. Eles fazem o mesmo, com as negociações fazendo o papel do baralho. A diferença é que com o poker – com exceção da pequena percentagem de jogadores online que têm algum vício em apostas – você ganha dinheiro com um sistema que é predominantemente recreativo. A grande maioria dos jogadores de poker online está gastando dinheiro com o que consideram entretenimento. Embora eu jamais tenha sido corretor ou comerciante, me sinto melhor sabendo que ganhei dinheiro do “fundo de diversão” de alguém do que de suas economias de verdade. Sim, ser jogador de poker é uma profissão ética e legítima. ♠

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Garota Poker mantém o blog http://garotapoker.blogspot.com/ E pode ser achada no Twitter: @garotapoker

Página Rosa

Manual de sobrevivência da namorada de um jogador de poker. Namorar com jogador(a) de poker não é tarefa fácil. Horários loucos, variância nas mesas (e no humor), superstições, problemas para falar ao telefone, finais de semana em casa etc.

Porque as mulheres também “estão no pano” Khatlen Guse @KhatyRS em conjunto com sua irmã Karem são as criadoras do Barbarella Poker, visando à inclusão do público feminino no Poker”

Tudo isso claro é compensado por uma série de outras coisas. Férias inesperadas, finais de semana forçados quando a gente passar de terça a quinta em uma praia ou algo do tipo, presentes em datas sem importância e muito mais. Para facilitar essa convivência e evitar as famosas DRs (Discussões de relacionamento) segue um pequeno manual: Regra 1 – Sempre que estiver por perto quando ele começar a sessão procure não falar muito. Essa regra é básica não só pra poker, mas pra qualquer profissão. Quem agüenta trabalhar e tentar se concentrar com uma pessoa puxando assunto sobre outra coisa? Regra 2 – Nunca menospreze a superstição dele(a). Isso é muito importante. Por mais que o nome já diga tudo, é uma superstição ué! Não vai fazer diferença, mas pelo que conheço de jogadores de poker, eles estão sempre caçando algum motivo além da variância e da falta de concentração pra por a culpa daquela derrota indesejável. Regra 3 – Nunca ligue em uma hora que não seja faltando 5 minutos pra virada da hora, mais conhecido como hora do break sincronizado. Os grandes sites de poker todos têm break sincronizado, então sempre que da 12h55min, 13h55min e por ai vai, temos um break. Ótimo, agora é hora de fazer aquele telefonema pra falar o que a gente queria desde as 12h08min. Regra 4 – Sempre que for fazer uma visita “indesejada” no horário do grind apareça com uma surpresa. Essa já me ajudou muitas vezes. Meu namorado não gosta que eu vá pra casa dele em horário de trabalho, então sempre que quero ir mesmo assim procuro sempre chegar com uma surpresinha (leia-se comida). Jogador fica horas e horas jogando e só tem 5 min. de break a cada hora. Não dá tempo de comer ou preparar nada. Faça esse favorzinho. Regra 5- Cuidado ao fazer aquela perguntinha básica: "Amor como foi seu dia?" Antes de perguntar se o dia de trabalho foi bom, procure dar uma olhada no Sharkscope pra saber se o gráfico está subindo ou descendo, se estiver descendo você não fala de poker. E quando digo não fale, eu digo "NUNCA" mesmo. GL Poker Players, nos relacionamentos e nas mesas!!

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CopaBarbarella for Ladies 2011!

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O Barbarella Poker e o Copacabana Poker se unem para oferecer a todas as Jogadoras o primeiro Ranking Freeroll Exclusivo para Mulheres! Serão torneios mensais incentivando o público feminino.

Deepstack Freezeout com 15 minutos de Blinds! $100 Dólares em Premiação e Pontos para o Ranking! Além da Premiação das Etapas, o Copacabana Poker e a Poker Viagens presentearão a Campeã do Ranking do CopaBarbarella for Ladies de 2011 com um Cruzeiro da CVC de 4 dias e 3 noites! Serão 10 Etapas, no software do Copacabana Poker! Veja a Grade dos Torneios: 1. Etapa: 09/03/2011 às 20:30 horas * 2. Etapa: 13/04/2011 às 20:30 horas * 3. Etapa: 11/05/2011 às 20:30 horas * 4. Etapa: 08/06/2011 às 20:30 horas * 5. Etapa: 13/07/2011 às 20:30 horas * 6. Etapa: 10/08/2011 às 20:30 horas * 7. Etapa: 14/09/2011 às 20:30 horas * 8. Etapa: 12/10/2011 às 20:30 horas * 9. Etapa: 09/11/2011 às 20:30 horas * 10. Etapa: 14/12/2011 às 20:30 horas * * Horário de Brasília

www.BarbarellaPoker.com

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ANÁLISE

Diógenes Malaquias

COMO

@diogenes1608

USAR AS

ESTATÍSTICAS

COM INTELIGÊNCIA Nota do Autor: este artigo é uma versão revisada e ampliada de um post que há algum tempo eu fiz para o universodopoker.com.

Diógenes Malaquias é fundador do site de treinamento universodopoker.com, onde dá aulas de cash game online.

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N

o poker online, existem alguns programas que fornecem estatísticas nossas e dos nossos adversários durante o jogo. Neste artigo, vou dar algumas dicas e falar das vantagens e desvantagens do uso das stats durante uma sessão de poker online. Quando o assunto é estatística, os softwares Poker Tracker 3 e Hold’em Manager se destacam. Pessoalmente, eu pre�iro o segundo, pois ele nos dá mais opções, de forma mais amigável. A s stats sãos excelentes para auxiliar os jogadores, na medida em que nos proporcionam uma leitura mais apurada dos adversários. Outra grande vantagem é sentar à mesa

já conhecendo várias características dos oponentes com base nos dados colhidos em sessões anteriores. Com esses softwares é possível ver, por exemplo, a porcentagem de mãos que cada adversário joga, aquelas em que ele dá raise pré-�lop etc. Pode-se ainda saber as vezes em que ele entra de limp e depois dá call em um raise, ou então entra de limp e depois dá fold diante de um raise. São centenas de movimentos, decisões e jogadas, nossas e dos nossos adversários, que podem ser analisadas.


Mas não precisa �icar intimidado com tanta informação. As stats são fáceis de usar. Com pouco tempo de prática você já estará familiarizado, e elas se tornarão parte comum do seu jogo online. Elas facilitam ainda a vida de quem gosta de jogar várias mesas simultaneamente, pois continuam a recolher informações mesmo quando não estamos participando da ação naquela mesa. Medir a agressividade do adversário através de uma escala criada pelo próprio software

é uma ajuda e tanto para quem joga várias mesas ao mesmo tempo. Apenas a título de curiosidade, a maioria dos grandes jogadores de cash games online do mundo estuda os seus adversários, fora do jogo, com auxilio dessas estatísticas. Em dezembro de 2009, Brian “sbrugby” Townsend, Brian Hastings e o grande Cole “CTS” South se juntaram para compartilhar e estudar

as estatísticas do então misterioso “Isildur1” (agora se sabe que ele é o Viktor Blom). Logo após esse período de estudos, Hastings ganhou $4,2 milhões de Isildur nas mesas de cash games online.

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ANÁLISE

Até aqui, tudo parece ser só alegria. Mas existem algumas dificuldades, sobretudo para os iniciantes. A primeira é que várias pessoas cometem o erro de se apegar demais às estatísticas. Elas param de jogar com base nas características dos adversários e agem apenas com base nas stats delas. Com isso, várias informações significativas do jogo do oponente não são assimiladas, pois as estatísticas não conseguem cobri-las. Quer um exemplo? As stats não dizem se, naquele momento, o adversário está tiltado: elas nos mostram apenas um número baseado em todas as mãos que ele já jogou nas nossas mesas, inclusive mãos de meses atrás, quando ele não estava em tilt e jogava normalmente. Outro grave problema é que jogadores iniciantes gostam de pegar as stats de jogadores mais experientes e tentar imitá-las. Isso

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A ESSÊNCIA DO POKER É SE ADAPTAR ÀS CARACTERÍSTICAS DOS ADVERSÁRIOS. [...] AS MINHAS E AS SUAS STATS SÃO UMA CONSEQUÊNCIA DESSE FATO, E NÃO – ABSOLUTAMENTE NÃO – O CONTRÁRIO.

é perda de tempo. Ao contrário, você deve investir seus esforços no entendimento do raciocínio, pois só assim estará realmente aprendendo a jogar poker. Não imite números, pois eles dão apenas uma pequena informação sobre como realmente são as características do jogador. Alguém pode ter 18% de raise pré-f lop, mas muitos desses aumentos podem ter sido feitos do button, e poucos do UTG e do small blind. Ele pode, por outro lado, ter uma distribuição mais homogênea da porcentagem de raise pré-f lop por cada posição. A essência do poker é se adaptar às características dos adversários. Devemos jogar e tomar nos-

sas decisões baseados nisso. As minhas e as suas stats são uma consequência desse fato, e não – absolutamente não – o contrário. Nosso estilo de jogo não deve ser resultado de um número que queremos seguir. Enfim, você não deve encarar as stats como a “Central de Informações” de seus adversários. Elas são coadjuvantes na sua tomada de decisões. O papel principal cabe às suas observações. De posse dessas duas informações, devemos nos adaptar da melhor forma possível ao modo como nossos adversários jogam. Esse é um dos grandes segredos para se tornar um grande jogador de poker. ♠


fórum

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FORRANDO PESADO

DIEGO BRUNELLI É O BRASIL NA ELITE

@vgreen22

Diego “vgreen22” Brunelli é o único brasileiro no Online Team do Poker Stars. No �inal do ano passado, ele conseguiu atingir o mais alto status entre os jogadores do site, o de Supernova Elite. Diego, como você conseguiu o status de Supernova Elite? Era um objetivo? No �inal de 2009, eu decidi que esse era o meu objetivo para 2010. Tive que jogar muito, quase não �iz outras coisas durante o ano. Faço sessões curtas de poker, duas ou três vezes por dia, para diminuir o cansaço. Percebi que começo a jogar mal no �inal das sessões mais longas. Mas quando consegui os VPPs su�icientes, foi uma alegria enorme. Foi um ponto importante para minha carreira.

No que o status Supernova Elite lhe ajuda? Primeiro, conseguir esse status no site é uma satisfação pessoal enorme. Superar um desa�io tão longo e duro, por si só, já é recompensador. Fora que meu jogo evoluiu muito. São milhões de mãos jogadas. E eu estudei bastante minhas sessões. Isso sem falar dos bene�ícios exclusivos do Supernova Elite.

ALGUNS MIMOS DO SUPERNOVA ELITE (fonte: pokerstars.com)

FPP Multiplicado por 400 Você ganha 5 FPPs para cada 1 VPP acumulado Facilidades em Eventos Ao Vivo Descontos subtanciais nos pacotes para os Eventos Principais dos circuitos do Poker Stars (EPT, LAPT etc.) Torneios VIP Semanais Torneios de $30.000 com buy-in de 100 FPPs Torneio VIP Mensal Freeroll de $100.000 Torneio VIP Trimestral Freeroll de $1 milhão Main Event WCOOP entrada gratuita para o Main Event de US$5.200 do WCOOP

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TOP 10 – RESULTADOS BRASILEIROS ONLINE* SITE

DATA

EVENTO

NOME

POSIÇÃO

PRÊMIO

31/1/2011

Main Event Do UBOC (NLH $1.000)

Thiago “Decano”

1º Lugar

$231.000

8/2/2011

Evento #4 da FTOPS XIX (NLH $1.060)

Hugo Adametes

2º Lugar

$177.565

31/1/2011

Sunday Million (NLH $215)

Fábio “binhoeiji” Eiji

3º Lugar

$176.000

7/2/2010

Evento #1 da FTOPS XIX (NLH $216)

Daniel “Drf1209”

5º Lugar

$59.400

24/1/2011

$150.000 Guarantee (NLH $163)

Leonardo “Sir Streit”

1º Lugar

$48.000

28/1/2011

$120.000 Guarantee (NLH $163)

Yuri “xYuriDzix” Martins

1º Lugar

$40.300

7/2/2011

$150.000 Guarantee (NLH $109+R)

Igor “Federal” Trafane

1º Lugar

$30.500

31/1/2011

$125.000 Guarantee (NLH $109+R)

Felipe “febalinha” Balaban

1º Lugar

$19.200

21/1/2011

Turbo $50.000 Guarantee (NLH $216)

“rh300487”

1º Lugar

$16.400

31/1/2011

$66.000 Guarantee (NLH $109+R+A)

$16.400

2º Lugar

$16.400

*Resultados entre 15/01 e 15/02.




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