Card Player Brasil Digital - 14

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POKER

ESP O RTE E ESTI LO D E VI DA

NICOLAU VILLA LOBOS É O PRIMEIRO BRASILEIRO A VENCER UM GRANDE TORNEIO NA EUROPA LEONARDO TODDASSO, O CAMPEÃO BRASILEIRO DE 2012

V

A S S I R B S CI TOR

O INÉDIT O L U T Í ASIL ISTA T CONQU O LAPT NO BR D




Jogue poker de graça. Este não é um site de apostas. Apenas para maiores de 18 anos. Este é um concurso desportivo e recreativo.

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SUMÁRIO 8. ANDRÉ DEXX

INVADINDO MENTES André Dexx fala sobre a importância de saber o que se passa na cabeça do oponente.

ESPECIAIS 14. LEONARDO TODASSO CAMPEÃO BRASILEIRO DE 2012

26. DIÓGENES MALAQUIAS

13 DICAS PARA A MESA FINAL Veja o que Diógenes Malaquias tem a dizer sobre uma das fases mais importantes de um torneio de poker: a mesa final.

Conheça um pouco mais sobre um dos melhores jogadores brasileiros da atualidade.

32. O GRANDE DINAMARQUÊS Gus Hansen conversa com a Card Player e fala sobre sua nova fase no “Novo Full Tilt”.

46. DESCOBRINDO A EUROPA

60. FELIPE MOJAVE

OS REIS DA ÁFRICA Felipe Mojave usa uma mão do WPT para dar dicas de como jogar par de reis em inícios de torneios longos.

Conheça Nicolau Villa-Lobos, o primeiro brasileiro a conquistar um título importante na Europa.

72. VICTOR SBRISSA

É o primeiro brasileiro a conquistar o LAPT no Brasil

66. DEVANIR CAMPOS

PERGUNTE AO DIRETOR Em sua estreia na revista, “DC” tira as dúvidas dos leitores da Card Player Brasil sobre regras de torneios.

88. DIEGO KEEP

FACA DE DOIS GUMES Keep faz uma análise de uma das ferramentas mais usadas pelos profissionais, o Hold’em Manager.

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INVADINDO

MENTES por André Dexx

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e todas as informações que podemos obter nas mesas, a menos compreendida pelos jogadores é o tempo de aposta. É um tipo de informação muito sutil, mas que faz toda a diferença na interpretação de uma mão e na maneira com que você quer passar informações ao seu adversário. O objetivo, aqui, será induzir os vilões a uma interpretação errada, baseada no tempo que levamos para tomar uma ação. Mas, para isso, é fundamental a compreensão da psique humana e suas reações. Existem segredos profundos nessa área, que não serão discutidos aqui, mas coloco em pauta o tema. Aos mais interessados, será um primeiro passo e um meio de reflexão. Por ser um fator primário, a parte técnica do jogo, hoje, ficará de lado. Obviamente, você não

poderá “entrar na mente” do adversário caso não tenha um conhecimento amplo dos conceitos do jogo. Entender os processos mentais é de suma importância para interpretar uma jogada. Por uma questão lógica, é preciso planejar os movimentos nos mais variados bordos, agir de modo estratégico, enxergar uma ou duas streets à frente, e sempre ciente das possíveis tendências de reações dos seus oponentes. É essencial que a interpretação tenha raízes em uma percepção ampla e profunda durante o jogo. Isso porque se, naquele momento, sua mente focar em alguma informação isolada, a sintonia entre você e seu adversário sumirá, já que é necessária uma visão que vá além do lugar comum para que seja possível invadir a mente adversária, uma visão do todo. Se cometer esse erro, você estará tirando conclusões a partir de uma informação incompleta. Desse modo é quase impossível tomar a decisão certa, e mesmo que tome, será por algo próximo à sorte. É como chutar um número qualquer no resultado de uma


expressão numérica. Então, inevitavelmente, são dados pesos desproporcionais às informações. O resultado será um jogo pobre e desequilibrado. Não são raras as situações em que os jogadores caem no erro de acharem que estão “entrando na mente” do oponente. Isso acontece apenas por coincidências naturais do jogo – sucessivas mãos, em que você foca-se nas suas cartas e no bordo – aliadas aos velhos padrões mentais de técnicas aprendidas em escolas de poker. Uma realidade bem distante da “supervisão”. De modo inconsciente, os jogadores armazenam informações dos tempos de apostas. Sendo assim, é possível manipular o que você quer que o seu adversário interprete, não só executando uma jogada, mas também pelos tempos de apostas. Isso vai muito além de saber se um oponente, de um determinado nível, tem uma mão forte ou não

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por apenas ter pagado em uma velocidade X ou Y. Quando nós nos expressamos, ainda que como atores, por meio de tempos de apostas, estamos criando informações que serão traduzidas inconscientemente por nossos adversários. A mente deles captará um padrão para os nossos movimentos, que será muito ou pouco relevante em suas decisões. Sabendo disso, podemos induzir movimentos do vilão apenas quebrando, algumas vezes, o padrão conhecido por sua mente. Aos que desejam se aprofundar no tema, tenho uma notícia ruim e outra boa. A ruim é que, por mais que você procure, não achará nenhum artigo falando sobre o tema. A boa é que é possível aprender tudo sozinho, basta uma profunda autoanálise para conhecer a si próprio. Querem época melhor para isso do que o início de um novo ano? Um feliz 2013 a todos.

André Dexx @dexx_rj andredexx.com

André “Dexx” é um dos mais respeitados jogadores de cash games online do País.


POKER MANUAL DO INICIANTE Prefacio por Igor Federal

ALL IN

Um lanรงamento da





Campeão Brasileiro 2012

LEONARDO

TODASSO por Marcelo Souza

Quem joga poker sabe que o jogo muitas vezes é injusto. Um torneio perfeito que vai por água abaixo depois que um dos três outs do adversário aparece no river. Aqueles três ou quatro flips seguidos que você perde na reta final de um major de domingo. Esses são apenas dois exemplos. Geralmente, a justiça, nesse esporte, anda junto com o longo prazo, mas nem sempre. E foi o que aconteceu em 2012. Nos últimos anos, a organização da Brazilian Series os Poker adotou um sistema polêmico de pontos para nomear o campeão brasileiro de poker. Em 2010 e 2011, os campeões disputaram apenas uma única grande etapa. Neste ano, o ranking premiou

a regularidade e, também, um dos melhores jogadores brasileiros da atualidade: Leonardo Cavage Martins, o “Toddasso”. O apelido, no mínimo engraçado, combina com a personalidade desse extrovertido paulistano de 29 anos e já é inerente a ele desde o seu início no poker. “Quando eu fazia cursinho, não consumia nada com álcool, e sempre chegava para as aulas tomando um Toddynho. Aí já viu, né?”, conta. E pegou. Hoje, no meio do poker, ele é o “Toddasso”, e se falarem Leonardo, por aí, é provável que a maioria não relacione o nome ao campeão brasileiro de poker. Formado em Administração, ele trabalhou no mercado financeiro até julho deste

ano, quando largou seu emprego por falta de motivação. Mas engana-se quem pensa que foi por causa do poker. “Eu saí do banco para trabalhar em um negócio que o meu pai estava abrindo, não para ser um profissional do poker. No entanto, não descarto a possibilidade para o futuro”, revela. Oriundo do poker live, mais precisamente das mesas de cash games, quando o assunto é estilo de jogo, seu caminho foi inverso ao da maioria dos jogadores. Os livros para iniciantes pregam a seleção de mãos e a solidez como pré-requisitos para a formação de um jogador. Toddasso, no entanto, não deve ter lido esses livros. Conhecido por seu estilo extremamente agressivo, ele


afirma que sua característica sempre foi a de jogar muitas mãos: “Na verdade, eu testei todos os limites do jogo loose para depois começar a me ajustar. Quando entrei em contato, principalmente, com esse pessoal de torneio, vi que eles são bem nits [jogam apenas com mãos fortes], e pude absorver muita coisa. Nesse último BSOP Milllion, por exemplo, nos quatro níveis iniciais, acho que joguei umas duas ou três mãos”. Mas não se iludam. É bem provável que o Toddasso “mais comportado” só possa ser observado nos estágios iniciais de eventos deep stack. “Do mesmo jeito que eu começo bem tranquilo, na reta final, estou na outra ponta da curva. Tento colocar o máximo de pressão

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e jogar o maior número de mãos possível. Porque é um momento que a galera está se segurando. Na bolha, então, acho que até tenho feito algumas jogadas irresponsáveis”, finaliza com uma risada descontraída. E o que ele diz não é mentira. Sua agressividade o colocou, em menos de um ano, em três mesas finais de BSOP, sendo uma delas na etapa do milhão de 2011. Apesar disso, ainda faltou título. Ele teria pecado em algo? Toddasso acredita que não: “Um torneio é decidido por detalhes. É preciso dar tudo certo naquela etapa, naquele exato momento.


“Em Curitiba, por exemplo, foi uma das minhas melhores apresentações. Não cometi erros na mesa final. No heads up, entrei com uma vantagem de 3-para-1 em fichas, mas aí perdi duas mãos em que eu era favorito. Em BH, entrei como chip leader, só que perdi quatro races [situações em que as chances de vitórias são bem parecidas para os envolvidos nas mãos] seguidas. Então, acho que faltou um ‘ventinho’ no final. Queria ter ganhado, mas faltou aquele detalhe”, conta. Apesar de não se dedicar integralmente ao poker, seus resultados não são por acaso, em 2011, inclusive, fez coaching

com o colunista da Card Player Brasil, Felipe Mojave, mas não parou por ali. “Este ano foi, sem dúvida, o que eu mais aprendi no poker. E, embora meus principais resultados tenham sido no primeiro semestre, foi de julho para cá que consegui uma grande evolução no meu jogo, principalmente nos torneios”, conta. Regular nos rings games, ele admite que precisou de muita ajuda na transição para os torneios. “Eu estou acostumado a jogar sempre com muitas fichas, e nos momentos decisivos dos torneios, você trabalha com stacks de 20 ou 30 Big Blinds. Graças a Deus, tenho amigos que são jogadores de torneios incríveis e que

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[...] O imposto é um caminho que temos que percorrer para a legitimação e excelência do esporte, mas a política tributária do Brasil é abusiva”

estão praticamente à minha disposição 24 horas”, diz Toddasso. “Eles são os responsáveis por 90% da minha evolução como jogador”, completa. Mesmo conseguindo chegar à casa dos seis dígitos em premiações, em um espaço de um ano, Toddasso não se ilude. Para ele, é difícil que um jogador consiga sobreviver jogando apenas torneios ao vivo. “Primeiro, apenas São Paulo possui torneios diários com premiações altas, ainda assim é difícil bater a variância”, explica. “Segundo, em torneios grandes, como a BSOP, a tributação atrapalha demais a lucratividade. O imposto é um caminho que temos que percorrer para a legitimação e excelência do esporte, mas a política tributária do Brasil é abusiva”, conclui. Ainda assim, jogar ao vivo é um “mal necessário”, pelo menos para aqueles que querem reconhecimento. Alexandre Gomes e André Akkari são bons exemplos. Mesmo

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tendo grandes resultados online, seus feitos fora das telas foram decisivos para que caíssem nas graças do público. “Todo jogador quer reconhecimento, não tem como negar”, admite. “Isso abre portas. Um patrocínio, talvez, que vai proporcionar-lhe segurança financeira ou quem sabe colocar você naquele torneio dos sonhos”. Mas apesar do glamour e da visibilidade que os jogos ao vivo trazem, Toddasso sabe que para ser levado ao seu limite é preciso encarar os tubarões da internet. Neste ano, ele entrou para o time de torneios de dois dos principais jogadores do Brasil: Fábio Eiji e Cássio “cassiopak” Kiles. “Hoje, jogo quatro ou cinco dias na semana, online, começo às 13 horas e não tenho hora para parar. E isso me fez diminuir um pouco minha rotina ao vivo”, conta. “Para mim, isso está servindo para pegar experiência em torneios – de jogo, estrutura

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e até para aprender a fazer acordos nas retas finais”. Jogar em alto nível, tanto na internet quanto ao vivo, serviu também para enxergar além da parte técnica do poker. Com propriedade, ele explica porque alguns jogadores do online não conseguem ou demoram a conseguir encaixar o jogo nas mesas ao vivo. “O nível de agressividade do live, principalmente pré-flop, é muito diferente do online. As pessoas preferem o call à 3-bet ou ao raise. Ao vivo, jogaremos muitas vezes contra mais de um oponente. Então, é preciso ajustar-se”, explica. “Outro fator importante são as tells. Eu tomo várias decisões observando o comportamento do meu adversário durante a mão. Os caras do online, muitas vezes, não controlam a linguagem corporal, simplesmente porque não precisam fazer isso em frente ao computador”. Para o ano que vem, graças ao título, Toddasso já garantiu o buy-in para todas as


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etapas, além de um carro 0 km no valor de R$ 50.000. Ele já prometeu que vai brigar pelo bi e também elegeu um dos seus mais fortes concorrentes: “Um cara que é complicado jogar contra é o ‘Guilis’ [Guilherme Garcia, quinto colocado no ranking]. Ele é um dos melhores jogadores do Brasil”, diz. “Já vi ele destruindo em retas finais. Foi um cara que deu bastante trabalho durante o ano e que tomou meu bracelete em Curitiba e foi correr atrás do meu título brasileiro até os dois últimos eventos do BSOP Million. Ainda bem que consegui escapar (risos)”. Além do BSOP, a agenda de Toddasso, para 2013, inclui os LAPTs e, novamente, o Main Event da WSOP. Entre os objetivos, conseguir finalmente um título de uma etapa do brasileiro. Com o que ele já apresentou neste ano, alguém ousaria duvidar?

O CAMINHO DO TÍTULO BRASILEIRO DE LEONARDO “TODDASSO” 1ª ETAPA (SÃO PAULO)

25º Colocado no Evento Principal

2ª ETAPA (RIO DE JANEIRO)

Não participou

3º ETAPA (CURITIBA)

2º Colocado no Evento Principal

850 pontos

4º no Pot Limit Omaha

480 pontos

4ª ETAPA (BELO HORIZONTE) 6º Colocado no Evento Principal

480 pontos

5ª ETAPA (SÃO PAULO)

5º Colocado no High Roller

260 pontos

6ª ETAPA (FORTALEZA)

1º Colocado no Super Turbo

420 pontos

7ª ETAPA (BALNEÁRIO CAMBORIÚ)

Não pontuou

BSOP MILLION (SÃO PAULO)

Não pontuou

140 pontos

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DICAS

PARA A

MESA FINAL por Di贸genes Malaquias


Como todos os jogadores de poker sabem, o grosso da prize pool de um torneio está na FT. Ainda assim, o prêmio do último colocado da mesa final chega a ser 10 vezes menor do que o do campeão. Então, o que fazer para que o trabalho duro de horas (online) ou de dias (live) não seja jogado pelo ralo? No artigo desta edição, 13 dicas para jogar a tão sonhada mesa final

Não se envolva em muitas mãos e nem em potes multiway (com mais de um adversário), como em fases anteriores. Aqui, a relação stack e blind é pequena, e não temos espaços para desperdiçar fichas. Lembre-se que o objetivo do torneio é acumular todas as fichas, de todos os adversários, e quando você perde um blind, deixa de ganhar um blind ao dobrar seu stack – e o adversário, que ganhou o seu blind, vai ganhar um blind extra ao dobrar. Portanto, não desperdice suas fichas com calls desnecessários.

Evite ficar pagando aumentos. Aposte mais, seja você o agressor. Tenha sempre a fold equity (FE) ao seu lado. O número de vezes que um adversário dá fold, frente ao seu aumento ou reaumento, pode transformar mãos com expectativa negativa (-EV) em mãos com expectativa positiva (+EV). Ter FE é uma das armas mais importantes em mesas finais.

Já na mesa semifinal, aproveite pra coletar o maior numero de informações e fazer observações sobre os adversários. Pressione os que sentem a pressão da bolha da FT. Estes são os que jogarão de forma mais passiva e com uma porcentagem de blefes muito baixa em seu arsenal. No online, você pode pesquisar sobre cada jogador no OPR ou Sharkscope. Observe quem é regular, recreativo, lucrativo e, principalmente, qual a média de buy-in deles em relação à premiação do torneio. Jogadores de limites mais baixos (low stakes) sentem-se muito mais pressionados em fases finais de torneios mid e high stakes, por exemplo.

Evite jogadas em que as decisões tenham pouco EV. O longo prazo da FT é bem mais difícil de ser alcançado. Assim, uma jogada pode ser +EV em relação às fichas, mas -EV se levarmos em conta a premiação. Isso pode ser calculado usando o ICM (Independent Chip Model). Um bom exemplo é um all-in contra dois oponentes. Além das fichas, quando um deles cai, você salta para a próxima faixa de premiação, o que faz bastante diferença na lucratividade final.

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Jogue potes, preferencialmente, contra os stacks médios. Eles não estão em uma situação que gostariam de envolver todas as fichas em uma mão, e quando sentem que estão atrás, ficam propensos a desistir. E abuse dos jogadores shorts. Na maioria das vezes, eles estarão jogando de formar tight, o que nos proporciona uma boa fold equity.

Comece jogando de forma mais tight. Observe as tendências da mesa e dos jogadores. Isso irá facilitar na tomada de decisões. Nunca se importe com sua atual colocação na FT. Aqui, o mais importante são suas fichas em relação aos mais shorts e à média do torneio.

Caso esteja short, evite ir all-in com mãos fracas contra os jogadores que possuem stacks grandes. A tendência é que eles paguem com um range bem amplo de mãos.

Jogue de forma mais agressiva, como eu já disse, prefira aumentar e reaumentar, em vez de apenas pagar, mas lembre-se: agressividade não é sinônimo de estupidez. Aqui, vale repetir: fold equity, fold equity, fold equity.

Nesta fase, evite tentar achar spots contra mais de um jogador. Há grandes chances de seu blefe não passar ou de você encontrar um adversário com uma mão de valor – já que, na mesa final, o jogo é um pouco mais tight.

Mantenha o foco em uma boa estratégia para roubar blinds. Isso é necessário para mantermos nossa FE alta.

Não jogue fora de posição. Raramente o EV vai compensar o investimento das fichas.

Diógenes Malaquias @diogenes1608 diogenesmalaquias.com.br

Diógenes Malaquias é especialista em cash games online e dá aulas particulares em seu website.

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Jogue sempre para vencer, mas lembre-se que quanto mais você se envolver em situações que há o risco de eliminação, mais difícil será conquistar o título.





GUS HA


ANSEN O GRANDE

DINAMARQUÊS Texto: Brian Pempus

Tradução e adaptação: Marcelo Souza

Na sua volta ao mercado, o Full Tilt Poker aposta em um dos mais respeitados jogadores de poker do mundo. Não são muitos os jogadores associados ao velho Full Tilt Poker que conseguiram sair com a imagem intacta após os escândalos envolvendo o site. No entanto, o dinamarquês Gus Hansen foi um deles. Uma das figuras encarregadas de liderar o renascimento do FTP, Hansen foi o primeiro a ser contratado para o novo time de profissionais do site. Apesar de ser membro do Team Full Tilt quando o site injetava fundos fantasmas em seu software, ele nunca foi implicado em qualquer falcatrua da companhia. Mesmo aqueles que nunca foram acusados de quaisquer crimes foram afetados de alguma maneira. Com 38 anos, Hansen tem sido um dos principais grinders dos

nosebleed cash games nos últimos anos – ao vivo e online. Quando o Full Tilt foi fechado, em 2011, ele tinha milhões presos em sua conta. Como vive em Mônaco, ele pôde continuar a jogar, mesmo com o a proibição do poker online nos Estados Unidos. “Sobre o fechamento do FTP, tentei imaginar que havia sido apenas uma sessão ruim no poker”, conta Hansen. “Todos sabem que Daniel ‘jungleman12’ Cates era quem tinha mais dinheiro lá. Mas, mesmo não sendo a mesma quantia, eu era o segundo com o maior balanço no site quando ele foi fechado. Mas sobrevivi. Sempre mantive as esperanças em uma solução. Felizmente, eu estava certo”.


FICHA LIMPA, ANTES E DEPOIS DO ESCÂNDALO Hansen se juntou ao Full Tilt em 2006, dois anos depois da sua fundação. Empregado do site, ele não foi acusado de receber dinheiro relacionado à atividade fraudulenta do FTP. Ele também não foi acusado de ter nenhum débito com o mesmo. Vários profissionais deviam milhões para a empresa, fato que causou alguns problemas na venda do Full Tilt – com pelo menos um grupo de investidores – antes de o PokerStars entrar no negócio. De certo modo, é incrível que alguém que teve seu nome ligado ao antigo Full Tilt ainda tenha credibilidade ou potencial de marketing. Apesar disso, Hansen desafiou a lógica e as probabilidades. Ele está seguindo em frente, não quer falar do passado e se recusa a pronunciar-se sobre o velho Full Tilt e seus membros – seja de maneira positiva ou negativa. “Eu tentei me manter fora de problemas”, conta. “Acho que agi bem sobre o que aconteceu antes e depois da Black Friday. Acredito que assinar com o ‘Novo Full Tilt’ foi uma decisão boa para os dois lados. Quando fui contatado, pelas novas pessoas envolvidas com a empresa, fiquei ansioso para voltar à ação”.

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O EFEITO GUS HANSEN Bem antes de o dinamarquês mergulhar de cabeça nos nosebleed cash games, ele era indiscutivelmente o rosto do World Poker Tour e também um dos mais bem-sucedidos jogadores do poker ao vivo. Apenas no WPT, três títulos. Na World Series of Poker, um bracelete, em 2010. Seus ganhos em torneios já passam dos US$ 10 milhões. O primeiro grande prêmio veio com título. Em 2002, ele venceu o WPT Five Diamond World Poker Classic e embolsou cerca de US$ 550 mil. Na época, Freddy Deeb acabou eliminado na terceira colocação, depois de perder um all-in pré-flop de A-K para Hansen, que tinha 10-Q. Em entrevista, logo após eliminação, Deeb disse: “Eu gostaria de jogar esse jogo, contra ele, todos os dias, pelo resto da minha vida”. O estilo maníaco de Hansen causou controvérsia não só entre aqueles que assistiram o WPT pela TV, mas entre alguns dos mais renomados jogadores da época. “Meu jeito de jogar em 2002 e 2003 foi chocante para muitas pessoas”, conta Hansen, que também chamou a atenção fora dos feltros ao aparecer na lista da revista People entre os 50 homens mais sexy do mundo. “Quando viram que minhas jogadas fugiam do padrão, acharam que eu era um louco europeu. No entanto, o lunático venceu o tor-

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PLANO-B PARA FASES RUINS neio, e as pessoas começaram a acreditar que eu não era tão insano assim, e que possuía meus méritos”. Hansen fez da agressividade o seu estilo, o que parece ter ajudado no aumento da popularidade do jogo depois do “boom do poker”, em 2003. Quando ele não está no computador ou em torneios ao vivo, você poderá encontrá-lo nos cash games mais caros do planeta. No extinto programa televisivo High Stakes Poker, ele chegou a protagonizar uma das mãos mais famosas da história do poker, em que fez uma quadra contra um full house de Daniel Negreanu. Os quatro cincos lhe renderam um pote de quase US$ 600 mil – um dos maiores já vistos na TV.

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Que os jogadores têm os seus altos e baixos, todos sabem. Nos níveis que Hansen joga, a variância é ainda pior. Mas, desde que surgiu para o poker, ele tem investido em negócios fora dos feltros. Nos anos subsequentes ao “boom do poker”, ele ajudou a lançar o Pokerchamp.com, que mais tarde foi vendido para a gigante inglesa Betfair. Em 2008, ele lançou o livro Todas As Mãos Reveladas (publicado no Brasil, em português, pela Raise Editora), em que detalhou cada uma das mãos em sua vitória no evento principal do Aussie Millions de 2007, que lhe rendeu US$ 1.2 milhão de dólares. A publicação foi


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imediatamente reconhecida como um dos melhores guias estratégicos de torneios. Ele ainda criou o site ThePlayr e um canal online de poker, o GusHansenTV. Talvez, por ser bem-sucedido em seus negócios fora dos feltros, Hansen nunca parou de jogar – mesmo quando perdeu montantes recordes. Entre 2009 e 2010, ele chegou a acumular US$ 9 milhões de prejuízo no Full Tilt Poker, o que o levou a questionar suas habilidades. Quando o dinamarquês sentava-se às mesas, filas de regulares se formavam para enfrentá-lo. Mas ele não pisou no freio, insistiu – e sua teimosia foi recompensada.

A VOLTA POR CIMA Foi quando ganhou o seu primeiro bracelete da World Series, em setembro de 2010, que as coisas voltaram aos eixos. Até o fatídico mês de abril de 2011, ele já havia recuperado US$ 6 milhões de suas perdas. “Eu corrigi algumas falhas no meu jogo”, disse na época. “Meu foco está um pouco melhor e deixei de ser loose em algumas situações. Eu fiz ajustes de acordo com meus oponentes e as cartas também ajudaram. Há um ano, além das decisões ruins que tomei, o baralho estava castigando, o que causou minha queda”. Sua evolução envolveu, principalmente, reflexão. Uma análise própria de si permitiu que ele enxergasse por que estava sofrendo perdas atrás de perdas. “Os resultados foram graças à minha insistência. Mesmo perdendo, eu queria entender por que estava sendo derrotado por certos jogadores”.

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Eu não tenho duzentos milhões para jogar coin-flips de um milhão. Eu realmente tento evitar os jogos deep-stack insanos”

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Quando você perde, na maioria das vezes, a culpa é sua. Eu estava buscando por resultados melhores, então, era óbvio que precisava corrigir algumas falhas e mudar de marcha com mais frequência.” Depois de domar sua agressividade, Hansen tenta manter a variância baixa. Ele gosta de deixar a mesa quando está com um stack considerável. “Não me importo de jogar um pote grande, mas é preciso ter um motivo”, conta. “Eu não tenho duzentos milhões para jogar coin-flips de um milhão. Eu realmente tento evitar os jogos deep-stack insanos”. Hansen planeja manter essa filosofia no novo Full Tilt. Apesar de algumas pessoas se tornarem mais conservadoras com a idade, o dinamarquês afirma que sua mudança de estilo não tem nada ver com ficar velho para os padrões do poker. “Eu apenas cansei de perder na internet”, conta Hansen. “Quando você perde, na maioria das vezes, a culpa é sua. Eu estava buscando por resultados melhores, então, era óbvio que precisava corrigir algumas falhas e mudar de marcha com mais frequência”.

HOMEM FORTE DO POKER Hansen diz que quando era mais jovem, ele jamais poderia ter imaginado chegar onde está hoje. Ele nunca se preocupou com a mídia no geral, mas gosta dos holofotes. Não por vaidade, mas por que sabe que isso significa que está jogando o seu melhor. Hoje, ele não representa apenas o novo Full Tilt, mas é um dos que está na linha de frente para a reconstrução da imagem do poker online. Algo que ele sente orgulho de poder fazer. “O poker sofreu um duro golpe”, diz Hansen em referência à Black Friday. “E, talvez, ele tenha merecido isso”, completa. Mas “O Grande Dinamarquês” não quer deixar que a má conduta de alguns deixe manchas em seu amado jogo. Para isso, ele promete fazer o que sabe melhor: jogar poker – e, consequentemente, continuar promovendo o esporte mental que mais cresce no mundo. ♠

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PRINCIPAIS RESULTADOS: 2º no WPT Champioship (Abril/2008) – US$ 1.714.800 1º no Aussie Millions 2007 (Janeiro/2007) – US$ 1.200.000 1º no Poker Superstars (Fevereiro/2005) – US$ 1.000.000 42

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BSOP Rio de Janeiro

8ª temporada 30 de maio a 3 de Junho 2013

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O D N I R B O C S DE

A P O R U E A IRO BRA OS É O PRIME

A-LOB

NICOLAU VILL

sil janeiro, o Bra e d 1 2 ia d tulo No último eiro grande tí m ri p u e s u nha conquisto ável pela faça s n o p s re O . a ker na Europ sações do po n e s s a v o n s a foi uma d brasileiro.

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ULO EUROPEuzUa

NHAR UM TÍT SILEIRO A GA

por: Marcelo

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Nicolau Pacheco Villa-Lobos tem apenas 25 anos, mas sua história com o poker começou quando o esporte mental ainda dava os seus primeiros passos no Brasil. Depois de passar por uma cirurgia no coração, ele ficou seis meses sem poder realizar qualquer atividade física. Mas há males que vem para o bem. Foi nesta época que “Nico” conheceu o poker – um esporte que ainda não era esporte, ou melhor, que ainda não era reconhecido como tal.


Nicolau e seu pai, Dado Villa-Lobos

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Começando Cedo “Foi em 2007 que conheci alguns clubes no Rio de Janeiro e um pessoal que joga até hoje, o Carlos ‘Mavca’, o Fabiano Lemos... Acabei fazendo amigos em São Paulo também, como o Vini Marques”, conta Nicolau. O aprendizado foi como o da maioria, lendo um livro aqui e outro ali. O melhor deles, segundo ele, já lançado em português no Brasil pela Raise Editora: “Como Vencer Torneios de Poker – Uma Mão de Cada Vez”, escrito por Eric “Rizen” Lynch, Jon “apestyles” Van Fleet e Jon “PearlJammer” Turner. “Eu não gosto de ler algo que fica me dizendo o que fazer. Por ser um jogo da mente, você precisa tentar entender como cada cabeça pensa. Como a obra deles é feita apenas com exemplos de mãos, foi a que eu mais gostei”, revela. Ao contrário de outros jogadores, Nicolau não teve proble-

mas com a família quando começou a levar o poker mais sério – algo não muito comum, se seu pai não fosse Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista da lendária Legião Urbana. Definitivamente, preconceito e repressão são duas palavras que passam longe da casa do músico. “Seria muita hipocrisia da parte do meu pai não me deixar jogar poker. Quando ele tinha 17 anos, virou para a minha avó e disse que queria ser músico”, conta. “Não vou dizer que ele gostava, porque eu jogava em uns lugares meio undergrounds. Mas, hoje, ele acompanha meus torneios e torce bastante”. Inclusive, a hipótese de Dado aparecer em um evento não está descartada: “Se bobear, vou até tentar levar ele um dia. Ele não vai ter muita paciência, mas se eu ganhar um buy-in do BSOP ou algo tipo, acho que conseguiria levá-lo. Porém, tem que ser no Rio de Janeiro. Ele não iria viajar para jogar”.

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Foto: Mickey May

Nicolau no heads up do UKIPT

Explodindo para o Brasil Para o Brasil, Nicolau apareceu no final de 2011. Ele resolveu disputar o Rio Poker Tour Grand Finale, no Rio de Janeiro, e acabou sendo o bolha – posição que lhe rendeu um tablet. Alguns meses depois, em março de 2012, um vice-campeonato no BSOP do Rio. O resultado elevara a sua moral, mas nada poderia prepará-lo para o que viria no meio do ano. Quando a World Series of Poker caminhava para o seu final, Nicolau ainda estava no Brasil. “Não sou um cara que fica planejando as coisas. A princípio, não iria jo-

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gar a WSOP. Nem visto eu possuía, mas todos os meus amigos estavam lá”, conta. “Mas depois de achar uma passagem barata, tirar o visto e abrir uma cavalada – tudo isso em um espaço de cinco dias –, embarquei”. Com exatos US$ 10.000 no bolso, ele se hospedou em um hotel mais barato e partiu em busca do sonho. “Eu pretendia jogar o Main Event, mas não queria pagar o buy-in integralmente. Chegando lá, engatei em um satélite de mil dólares, mas não deu. Fui para o Venetian e recu-

perei o dinheiro no cash”, revela. “No último dia, consegui a vaga. Aquilo me deu uma tranquilidade enorme”. No principal torneio de poker do mundo, Nicolau adotou uma estratégia mais conservadora. “A estrutura do evento é surreal. Os blinds aumentam a cada duas horas. Você não precisa se apressar. Joguei tight, adotando o estilo small ball. Sem desespero. Torneios não são vencidos no primeiro dia”, diz.


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A estratégia deu certo, e ele foi avançando dia após dia. No Dia 4, um susto. Ele caiu na mesa com Joseph Cheong (3º no Main Event de 2010), Paul Volpe (mais de 1.5 milhão de dólares em premiações online) e Taylor Paur (cavalo de Chris Moorman e com quase US$ 2 milhões de ganhos na internet). “Eu fiquei realmente desanimado. Os caras eram extremamente agressivos, sem nenhum apego às fichas”, conta. “No entanto, acabei dobrando em cima do Paul e ganhando duas boas mãos em cima do Cheong, que acabou tiltando e indo all-in, com 40 big blinds, pouco depois”. A bolha do torneio foi um dos momentos mais tensos para Nicolau. Os blinds eram 4.000/8.000, e ele tinha 550.000 fichas – quase 70 big blinds, mais que o suficiente para passar tranquilamente pela temida bolha. Mas não foi o que aconteceu. “A mesa rodou em fold até mim, no cutoff. Com A♠K♠, aumentei para 17.000. Nos blinds, um britânico reaumentou para 56.000. Era uma situação complicada. Se eu aplicasse uma 4-bet

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Nicolau Villa-Lobos (canto inferior direito) na mesa final do BSOP Rio de Janeiro

e ele fosse all-in, o que faria? Dar fold no meu Ás e Rei estava fora de cogitação? Então, preferi o call. O flop veio Q-T-5, com uma carta de espadas. Ele repete a aposta, e eu pago. O turn é um K, e ele aposta 180.000. Foi uma decisão muito difícil. Nós dois tínhamos os maiores stacks das mesa. O pote já estava gigante”, conta. Nicolau acabou pagando, esperando que seu oponente tirasse o pé do acelerador no river, mas não foi o que aconteceu: “O river foi um 7, e ele empurrou all-in.

Era o meu torneio em jogo. Na hora, passa um milhão de coisas na sua cabeça. Acabei sentindo a pressão e dei fold”, confessa. Para desespero de Nicolau, seu adversário deu showdown de J♦8♦, um blefe total. Apesar do golpe, ainda restaram 30 BBs no stack do carioca, que colocou a cabeça no lugar e avançou – e foi longe o bastante para ser lembrado como o melhor brasileiro no Main Event da WSOP 2012.

Ao cair no Dia 6, na 77ª posição, ele garantia US$ 88.070 e se firmava como um dos principais jogadores do País: “Ninguém espera chegar tão longe, mas quando acontece, você já começa a pensar em mesa final e outras tantas possibilidades. Espero repetir a dose”. Para fechar o ano com chave de ouro, ele ainda terminou em 66ª lugar (de 1.612 jogadores) no principal evento de poker do calendário nacional: o BSOP Million.

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. Eu Entrei muito confiante ndo sabia que estava joga logo bem. Consegui dobrar em. no início e tudo fluiu b

Sonho de Férias Depois de um ano frenético, Nicolau embarcou com toda a família para a Europa. Seria um mês inteiro no “Velho Continente”, mas não longe dos feltros. “Eu já sabia que íamos voltar para o Brasil no final de janeiro. Sempre que viajo, procuro um lugar para jogar. Planejei disputar algum evento paralelo no WPT de Paris e o Main Event do UKIPT, este último com a comodidade de pagar o buy-in e receber o prêmio exclusivamente pelo PokerStars”, conta. “Estávamos em Londres, peguei um trem para a Edimburgo e cheguei lá pouco antes do Dia 1B começar. A organização era fantástica. Dealers perfeitos, pontualidade britânica, diretores à altura do evento. Não espera-

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va menos de um torneio com a chancela do PokerStars”, diz. O PokerStars United Kingdom Ireland Poker Tour (UKIPT) foi criado em 2010, mas foi só em 2013 que a série britânica atraiu os olhares brasileiros – graças a Nicolau. Era 20 de janeiro quando o as redes sociais se agitaram. O melhor brasileiro no Main Event da WSOP 2012 já estava ITM no UKIPT, e seguia avançando. Ao final do dia, a notícia que Nicolau Villa-Lobos estava na mesa final. Muito short, é verdade, mas vivo: “Entrei muito confiante. Eu sabia que estava jogando bem. Consegui dobrar logo no início e tudo fluiu bem”. Mesmo com adversários experientes na mesa, caso de David Vamplew (campeão do EPT de

Londres em 2010), Nicolau impôs seu jogo. Quando restavam quatro jogadores, ele mandou um por um para casa, até ficar em heads up contra o búlgaro Vladislav Donchev, e com uma vantagem de quase 8-para-1. Não deu zebra. Encurralado pelo brasuca, Donchev empurrou suas poucas fichas para o centro com Q♥7♥, mas ele estava em maus lençóis quando Nicolau pagou instantaneamente com A♣Q♣. O bordo não deu nenhum susto em Nico, que entrou para a história e embolsou 101.000 libras (cerca de R$ 315.000): “Na hora, não pensei na repercussão. Eu era o único brasileiro no field. Só depois fui ver o quanto aquilo era importante. Foi uma sensação única”, conta.


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Carreira

Agora, Nicolau já se considera um jogador profissional e, no momento, só pensa em seguir no poker, mesmo com as fortes influências culturais que possui ao redor: “A música é tudo para mim. É o ar que respiro. Comecei a tocar violão aos sete anos, tive uma banda, participei de gravações com Vanessa da Mata, Adriano Calcanhoto, com o meu pai. Conheci muita gente bacana do meio. Também teve a faculdade de cinema. No futuro, não descarto seguir carreira na música ou em algo parecido, mas em 2013 vou focar no poker”, revela. Os grandes torneios no Brasil e os LAPTs estão na sua mira neste ano, mas o objetivo principal é Las Vegas: “Quero ir para Vegas bem preparado, com a cabeça no lugar. Vou jogar vários eventos, a série Deep Stack do Venetian, a WSOP... Este é o meu foco”.

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Exemplo, Dentro e Fora dos Feltros Nicolau Villa-Lobos é mais um que vem para acabar com o estereótipo de que o jogador de poker é preguiçoso, sedentário e egocêntrico. Esportista nato, o carioca não tem nada de marrento, é humilde e disciplinado. Ele mantém o corpo sempre em forma para que a mente esteja sempre saudável. Trabalhando sempre com os pés no chão, os resultados vêm aparecendo com regularidade – e, pelo andar da carruagem, não serão os últimos. ♠

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OS REIS

da ÁFRICA

Jogando com K-K no início do torneio por Felipe Mojave

A

mão de que falarei aconteceu no World Poker Tour South Africa, evento do qual participei no final

de outubro. O WPT tem uma das melhores estruturas do circuito internacional. São 30.000 fichas e blinds aumentando a cada hora, sempre passando pelos níveis “quebrados”. Tudo isso permite que os jogadores desenvolvam um poker de alta qualidade. Logo na segunda mão do torneio, recebi K-K no button. Quando a ação chegou até mim, já havia um raise de 250 e dois calls. Aumentei para 900. O big blind reaumentou para 3.500. Achei a aposta dele bastante alta. Todos deram fold, e entendi que a melhor jogada era dar call e jogar pós-flop.

Havia chances de aquele jogador fazer essa jogada com mãos fracas? Na verdade, não, por mais agressivo que ele fosse. Em inícios de torneios é bem difícil achar alguém que haja dessa maneira. Portanto, eu estava com o radar ligado. O flop foi muito bom, 10-10-4 de naipes diferentes. Meu oponente apostou 4.500. Novamente, optei pelo call. Se ele tivesse A-A, eu estaria encrencado, mas esse bordo me dava a chance de extrair bastante valor de mãos como J-J, Q-Q ou mesmo A-K. Com esta última, ele provavelmente aplicaria também uma continuation bet. O pote já tinha quase 20.000 fichas, e se ele resolvesse apostar forte no turn, eu teria uma decisão bem difícil a tomar. Um Valete apareceu, e ele pediu mesa. Decidi que a


melhor linha naquele momento era dar check-behind e acompanhar o seu comportamento. O river foi uma Dama, deixando o bordo com 10-10-4-J-Q. Ele pensou por bastante tempo e pediu mesa. Isso foi um tanto estranho, e a única certeza que eu tinha, ali, é a de que eu estava perdendo. Ele poderia ter A-A, J-J, Q-Q e A-K, como previsto. Outra possibilidade era ele segurar par de reis, a única mão para a qual eu não perco, empato. Poderia ser um blefe? Bem, como eu disse no início, por mais loose ele seja, dificilmente faria uma jogada dessas no início do torneio. Sem falar que não havia informações suficientes para entrarmos em metagame.

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Também optei por dar mesa, e ele apresentou A-K para uma sequência runnner-runner. Foi um duro golpe perder a mão desse jeito, depois de um flop tão bom, mas acredito que joguei de forma bastante adequada. Aqui, meu principal recado é para que vocês tenham muito cuidado com os potes grande disputados no começo dos torneios, inclusive com mãos fortes. A melhor e mais saudável maneira de se acumular fichas em torneios longos é de forma gradual, sempre conseguindo o máximo de informações possíveis. Dessa vez, fui traído pelo baralho. Mas quem garante que se eu tivesse ido all-in,

Felipe Mojave @FelipeMojave

Felipe Mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade, especialista em mixed games e profissional do Lock Poker.

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A melhor e mais saudável maneira de se acumular fichas em torneios longos é de forma gradual, sempre conseguindo o máximo de informações possíveis.

meu oponente não teria dado call com A-K e me eliminado logo na segunda mão? Nunca se desesperar e nem se precipitar nos primeiros blinds é muito importante, por mais alto que seja o seu par. Gostaria de lembrar que o carinho que recebi lá na África do Sul foi enorme. Como primeiro campeão internacional de um grande evento no país (venci a WSOPC em 2010), me pediram até para assinar uma mesa de poker que será leiloada. Outros caras, como Chris Moneymaker, campeão do Main Event da WSOP 2003, também participaram da cerimônia. Foi um momento feliz da minha carreira, e me senti bastante lisonjeado com tudo.


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PERGUNTE AO DIRETOR A partir desta edição, o mais renomado Diretor de Torneios do Brasil, Devanir “DC” Campos irá tirar dúvidas dos leitores da Card Player Brasil sobre regras de torneios. Para ter sua pergunta respondida, contate-nos pelo nosso facebook ou pelo nosso e-mail: contato@cardplayebrasil.com.

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RICARDO MATEUS

Os blinds estão em 500/1.000, e um jogador em MP abre raise de 4.000 e fica com 25.000 para trás. O button dá call e deixa 30.000 para trás. O small blind vai all-in de 4.500. O jogador que abriu raise pode empurrar all-in por cima ou só dar call nas 500 fichas a mais? Por quê?

VENÂNCIO AIRES, RS

Primeiramente, nós temos que ver o que a regra diz. No regulamento do BSOP temos, na regra número 42, o texto: “Um aumento menor do que a totalidade da aposta atual não reabre a ação para um competidor que já tenha agido na rodada”. Vejamos a situação:

Como o jogador B não efetuou um raise completo (ou seja, de no mínimo mais 3.000 fichas, para um total de 7.000), ele não reabriu a ação para quem já falou antes dele. O all-in do jogador C não é um raise completo, pois não chegou aos 7.000, logo, de acordo com a regra dos maiores torneios do mundo, o jogador A só terá as opções de fold ou call.

Jogador A: Raise de 4.000 Jogador B: Call Jogador C: All-in de 4.500

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PERGUNTE AO DIRETOR

CARLOS EDUARDO

SÃO PAULO, SP

Na última WSOP, houve uma decisão que causou polêmica no Main Event. Restavam cerca de 100 jogadores e aconteceu o seguinte fato:

Devanir “DC” Campos @DC_Brasil

Devanir Campos é um dos fundadores da ADTP (Associação de Diretores de Torneios de Poker do Brasil) e é um dos responsáveis pela direção do BSOP.

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Gaelle Bauman abriu mini-raise do UTG para 60.000. A mesa rodou em fold até Andras Koroknai, que empurrou all-in de quase 1.5 milhão do small blind. Gavin Smith deu fold no big blind, e Koroknai jogou suas cartas fora achando que a ação estivesse completa. Quando ele percebeu o erro, tentou recuperar suas cartas, mas só conseguiu uma delas, a outra não estava identificável. Bauman tinha mais fichas, segurava K-K e iria dar o call. O Diretor de Torneios Dennis Jones disse que se fosse em uma outra fase do torneio, ele teria eliminado Andras Koroknai, mas como estava na fase final do Main Event, ele fez Andras apenas pagar os 60.000, correspondentes ao raise de Bauman, e preservou a “Tournamente Life” do jogador. Um jogador é responsável por proteger as suas cartas. Então, Koroknai não deveria ter sido eliminado?

Bom, não foi exatamente isso que o Diretor do torneio disse. Ele disse que no “melhor interesse e justiça da disputa”, ele não faria o Koroknai ser eliminado, mas apenas pagar o raise de 60.000 de Bauman. Apesar de o jogador ser, sim, responsável por proteger as suas cartas, mas, sobretudo, prestar atenção ao jogo, Dennis Jones tomou a decisão correta baseado no regulamento da WSOP. A regra 94 da WSOP tem redação semelhante à do BSOP, que diz: “Se o participante aumentou a aposta e esta ainda não foi paga, o aumento será retornado ao participante”. Ou seja, Gale Bauman aumentou e Koroknai reaumentou. A aposta all-in de Koroknai ainda não havia sido paga por Gale quando se percebeu o erro e, portanto, o jogo foi paralisado para que a direção fosse chamada. Assim, a decisão foi correta. Caso Gale houvesse dado o call, a decisão do diretor seria um pouco mais complicada, mas, acredito que terminaria com a eliminação de Koroknai.


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a quarta visita do LAPT ao Brasil, os feltros em São Paulo pegaram fogo. A premiação, a maior da história, fez com que os ânimos ficassem à flor da pele. Após inúmeras horas encarando eufóricos jogadores, venceu aquele que conseguiu separar a emoção da razão. O clima fora da mesa não afetou o jogo do terceiro brasileiro campeão do circuito.


Apresentação Ronaldo

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Em uma tarde ensolarada na capital paulista, o poker nacional viveu momentos de celebridade. No salão do Tivoli Hotel, inúmeros jornalistas, representando diversos veículos de comunicação, esperavam ansiosamente a chegada do novo membro do Team zPokerStars SportStars. A maior contratação realizada pelo PS na América do Sul ia falar com todos em poucos instantes. Com perguntas na ponta da língua, a imprensa contava os minutos para ver o ídolo Ronaldo “Fenômeno”. A chegada do ex-jogador fez com que o poker virasse notícia onde ele nunca foi. O craque não será um grinder e muito menos acompanhará as etapas do BSOP, mas apenas o fato de estar dentro do universo do poker já é o bastante para arrastar multidões. Ponto para o PokerStars, que acertou em cheio na sua nova investida no mundo dos esportes.

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Nacho Barbero

E Ronaldo não ficou apenas atrás dos microfones. Logo após a coletiva, ele foi para o pano. No entanto, a sua participação foi curta: apenas três níveis de blinds. No primeiro dia classificatório do LAPT Brasil, um bom número. No total, 295 entradas registradas. Quem se deu bem foi Gabriel Goffi, jogador que “deixou” os High Stakes da internet para brigar pelo título do evento. Com 141.700 fichas, o craque estava na busca do líder, o argentino e Team Pro Nacho Barbero (263.800). O Dia 1B fez a alegria da organização. Com 455 inscrições, o LAPT de São Paulo entrou para a história. Com as inúmeras reentradas realizadas ao longo do sábado, o evento teve a maior premiação já distribuída em uma etapa do circuito.

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Alex Gelinski Gasparino Loiaconno

No Final do Dia 1B, o curitibano Alex Gelisnki se envolveu em uma conturbada mão com o venezuelano Gasperino Loiaconno. Após não concordar com o dealer, o estrangeiro acabou perdendo a paciência e pagou o all-in de Gelinski com muita grosseria. Ao perceber que o seu adversário tinha par de ases, ele mostrou JJ, jogou todas as suas fichas no centro da mesa e saiu do salão revoltado. Mal sabia ele que o river lhe daria a vitória e colocaria Gelinski em situação praticamente irreversível. Quando voltou à mesa, Gasperino recebeu uma punição de duas órbitas.

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Com 211 jogadores nos feltros, o Dia 2 começou tranquilo. Bebendo desta calmaria, André Akkari começou a operar grande recuperação. Após começar o dia com 11 big blinds, o profissional já começava a ameaçar os líderes. Depois de inúmeras atuações frustradas no LAPT, o paulista estava perto de brigar pelo título. Mais tarde, quando o evento estava em hand for hand, devido ao iminente estouro da bolha, um jogador da Guatemala foi eliminado, e quando saiu da mesa, deu dois tapas nas costas do dealer. A reação do bolha, Rodrigo Cariola foi diferente. Apesar da tristeza, por cair antes do dinheiro, ele agiu com esportividade.


Com 120 jogadores garantindo R$ 5.450, as eliminações passaram a se tornar corriqueiras. Em poucas horas o field se esvaziou. Entre os que ficaram pelo caminho, destaque para Rodrigo Garrido, Evandro Vitoy e Gabriel Goffi. Ao término do Dia, 31 competidores permaneciam com chances de título, e o argentino “Nacho” Barbero permanecia na liderança. Ele brigava para alcançar a sua quinta mesa final no LAPT, a terceira consecutiva. E se em São Paulo, a maior cidade do Brasil, segunda-feira é sinônimo de trânsito, correria e alguns ataques de stress, esses vícios da metrópole não atingiram o LAPT. Com muito dinheiro em jogo, os jogadores colocaram a cabeça no lugar e começaram a mostrar um poker digno da grandeza do evento. Alvo de muitos no salão, Nacho começou a ver o seu gigante stack diminuir. O agressivo jogador foi vítima da sua principal característica. Depois de perder inúmeros potes, ele não conseguiu voltar ao jogo e foi eliminado na 11ª posição.

Rodrigo Garrido @cardplayerbr

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Quando o torneio voltou a ficar em hand for hand, todos pensavam que a mesa final logo seria formada, o baralho aprontou várias vezes. Depois de três horas, o colombiano Camilo Posada foi a vítima. A mesa final estava formada. Com seis representantes, o Brasil era o favorito para ficar com o caneco. Antes de a mesa final começar, um personagem conquistou a simpatia de todos no salão. Com uma disposição de garoto, o “seu Marino”, pai do finalista Victor Sbrissa, mostrou que torcida não ia faltar para o seu filho. Portando camisa e bandeira do Corinthians, o patriarca fiel infernizou a vida dos adversários. Os estrangeiros eram o seu alvo favorito. E a estratégia deu certo, chip leader no início da final, o hermano Leo Fernandez “não viu a cor da bola”. Em pouco tempo, o membro do Team PokerStars Pro se despediu da competição.

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Finalistas: Thiago Grigoletti, Marcos “Pimba”, Leo Brescia, Rafael Pardo, André Akkari, Leo Fernandez, Daniel Murta e Victor Sbrissa

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Daniel Murta

Com apenas um estrangeiro na final, os brasileiros se sentiram mais leves e dominaram as ações. No jeitinho mineiro, Daniel Murta ia aumentando o seu stack. Funcionário público, o jogador que saiu de Rondônia não tinha torcida, mas tinha coração. Lutando contra tudo e contra todos, ele conseguiu superar um field repleto de profissionais. Nas suas mãos, as cartas que eliminaram André Akkari e o colombiano Rafael Pardo. De um lado a gritaria dos Sbrissas, do outro a calma de Daniel. Foi nesse cenário que o heads-up 82

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ganhou vida. Mais experiente, Victor soube como administrar a liderança e em nenhum momento se sentiu ameaçado. Dono do jogo, o paulistano demorou cerca de uma hora para ficar com o seu primeiro título no LAPT. A vitória lhe rendeu uma premiação de 512 mil reais. Após a vitória do filho, Marino caiu em prantos. O esforço de anos finalmente estava recompensado. A técnica de um filho e a devoção de um pai foram responsáveis pela terceira conquista do Brasil no LAPT, sendo que a primeira em um evento disputado no País.


RESULTADO: 1. Victor Sbrissa (Brasil) R$ 512.100 2. Daniel Murta (Brasil) R$ 334.000 3. Rafael Pardo (Colômbia) R$ 231.400 4. Leonardo Brescia (São Paulo) R$ 171.000 5. André Akkari (Brasil) R$ 128.900 6. Marcos Paulo “Pimba” (Brasil) R$ 94.700 7. Leo Fernandez (Argentina) R$ 68.400 8. Thiago Grigoletti (Brasil) R$ 52.600

6ª Temporada do LAPT – 2ª Etapa Data: 25 a 30 de abril Local: Hotel Tivoli (São Paulo – SP) Buy-in: R$ 4.000 Entradas: 455 Prize Pool: R$ 2.696.476

Victor Sbrissa @cardplayerbr

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A MÃO DO TORNEIO Com os blinds em 100/200, Um jogador no UTG+1 entra de limp. No meio da mesa, Hilton Laborda aumenta para 750. A ação roda em fold até Ronaldo, que reaumenta para 2.000. Celso paga no button, assim como os outros dois adversários. Os quatro veem o flop 5♣5♥3♦. Ronaldo aposta 4.000, mas vê Celso reaumentar para 8.000. Apenas Ronaldo paga, e o turn é um J♠. Celso pede mesa e é acompanhado por Ronaldo. O river é um A♣, e Ronaldo empurra all-in de 20.000. Celso paga instantaneamente e apresenta J♥J♦. O ex-atacante da seleção brasileira de futebol mostra A♥10♦. Com menos fichas, o ‘Fenômeno”’ eliminado do torneio.

Ronaldo

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Para aqueles que jogam para ganhar.

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Faca de dois GUMES por Diego Keep

O

final do ano está aí, e com ele, o natal. E que tal aproveitar a data para presentear seu amigo jogador de poker? Minha sugestão, o Hold’em Manager. O HM é um software de análises que fornece estatísticas baseada em uma quantidade de mãos armazenadas no seu computador. Mas seria uma ferramenta boa para o seu jogo? Ou melhor, seria realmente um presente? Bem, para mim, por exemplo, não. Mas para outros, sim, e dos bons. Muitas vezes, nas redes sociais, eu costumo ironizar e desprezar o uso do HM. Claro que é só brincadeira. Eu particularmente não uso e não gosto de usar quaisquer programas para jogar poker. Não porque acredito que seja mais ou menos lucrativo, é apenas questão de adaptação. Conheço alguns jogadores bem lucrativos que não o usam e outros que não começam um freeroll sem o programinha cheio de numerozinhos. Esse é um assunto bem complexo, e resolvi abordá-lo por pensar que tudo que não é repetitivo ou clichê deve ser expos-

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to. Mas por que tamanha complexidade? Primeiramente, vou me basear no que todos os usuários do HM falam: “Quem não usa Hold’em Manager está deixando de ganhar dinheiro”. Muitos dizem que sou ignorante ao desprezar o HM, mas não seria esta a afirmação mais ignorante que possa existir em relação ao seu uso? Este ano foi o que mais lucrei no poker – e jamais usei o HM. O Ariel Bahia, talvez o jogador que ganhou mais dinheiro regularmente no Brasil, também não usa. André Akkari, o maior nome do poker nacional, também não usa. Existem outros também, mas acho que esses já bastam para quebrar essa afirmação infeliz que, às vezes, ouvimos por aí. Por outro lado, jogadores que admiro bastante como o Hugo Adametes e o João



Mathias usam intensivamente o software. É claro que o programa traz informações que, sem ele, seriam impossíveis de absorver. E é aí que sigo batendo nessa tecla: adaptação. O software fornece os dados, mas em forma de números. Ele nunca te diz se a 3-bet que Fulano aplicou foi na bolha de um grande torneio ou no início; ou se havia um metagame ou não. A amostragem de mãos pode ser grande, mas quando elas foram coletadas? Em que estágios do torneio? Os jogadores sempre jogam de um mesmo jeito, em um mesmo ritmo? O que quero dizer é que nada substitui o foco e as boas análises que o poker, nu e cru, exige. Para uns, suas informações podem ser valiosas, para outros, que possuem diferentes estilos de jogo e linhas de raciocínio, ele pode ser prejudicial e confuso. Quem usa pode ver spots que apenas o HM pode mostrar. Porém, quem não usa enxerga situações que podem ser mascaradas pelos números.

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Ao analisar um adversário, também é importante saber se ele utiliza ou não o HM. Já tomei várias decisões por saber que o vilão estava usando HM – tendo a certeza que ele possuía várias mãos minhas em seu banco de dados. Como vocês podem ver, o Hold’em Manager pode te levar ao pote de ouro ou direto para o abismo, e cabe a cada um se adaptar em relação a isso – e isso é o legal do poker. Imaginem se todo mundo usasse o mesmo programa e jogasse da mesma forma. Não teria a mínima graça e não chegaríamos a lugar nenhum. Aproveito este espaço para desejar aos leitores da Card Player e a todos aqueles que me acompanham no dia-a-dia um feliz natal e um excelente ano novo. Espero que 2013 seja um ano de muito crescimento para o poker brasileiro, e que todos ganhem com isso.

Diego Keep @diegokeep diegokeep.com.br

Diego Keep já ganhou mais de dois milhões de reais jogando poker na internet e é o único jogador brasileiro a chegar ao heads up do Sunday Million em menos de dois meses.



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