Card Player Brasil Digital - 13

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POKER

E S P OR T E E E S T I L O DE V IDA

Pedrro Nogueira, E A PAUTA DA SEGUNDA-FEIRA

MARCOS SKETCH, UM DOS GRANDES ESTUDIOSOS DO POKER BRASILEIRO

A MELHOR JOGADORA DO MUNDO



A EMOÇÃO ESTÁ DE VOLTA. Lembra da sensação de entrar no nosso lobby e achar facilmente o jogo que você estava procurando? Lembra do visual e dos sons do poker online da forma que ele foi feito para ser jogado? Lembra da diversão de se testar contra os maiores nomes do jogo? Ou da estimulante ação contínua do Rush Poker? Lembra da sensação de derrubar os egos uma mão por vez, enquanto se classificava para os mais emocionantes torneios? Era uma emoção que você só podia experimentar no Full Tilt Poker. Boas notícias senhoras e senhores. A emoção está de volta.

©2012 Full Tilt Poker. Todos os direitos reservados. Jogue poker de graça. Este não é um site de apostas. Apenas para maiores de 18 anos. Este é um concurso desportivo e recreativo.






SUMÁRIO 10. AlAN SCHOONMAKER

JEITÃO DE TILT - PARTE II Alan Schoonmaker dá mais seis dicas essenciais para aqueles jogadores que ainda não se acostumaram com poker ao vivo.

ESPECIAIS 20. Carlos Monti

O fotógrafo do poker

48. VANESSA SELBST

30. ANDRÉ DEXX

A LENDA DO LONGO PRAZO Nesta edição, André Dexx explica um dos temas mais complexos e controversos do poker.

36. DIÓGENES MALAQUIAS

TAMANHO É DOCUMENTO Diógenes aborda um dos conceitos mais importantes do poker: o tamanho das suas apostas.

54. PEDRO NOGUEIRA

O RAPTO DO EDUARDO BOA PESCA Desta vez, Pedro Nogueira conta a hístoria de um jogador que ensina uma lição aos dois vigaristas que o sequestraram.

80. FELIPE MOJAVE

Calls Brilhantes em um Poker de Alto Nível Mojave raz duas mãos nas quais ele blefou contra adversários difíceis, uma envolvendo Praz Bansi, e a outra, Gabriel Goffi.

A luz e a verdade da melhor jogadora de poker do mundo.

64. Sketch

Poker, música e outras viagens.



Jeitão de

tilt

parte ii

texto base: Alan Schoonmaker

Migrando com segurança das mesas online para o poker ao vivo

N

a Edição 54 da Card Player Brasil, listei 14 fatores que podem levar jogadores, acostumados com os jogos onlines, ao tilt em torneios ao vivo. Como eu disse antes, tiltar nada mais é do que “cometer erros, que normalmente não são cometidos, por razões emocionais”. Dito isso, vamos para os próximos sete itens de nossa lista.

Fatores que podem te levar ao tilt nos jogos ao vivo: Jogos muito mais lentos Erros de jogadores que não acontecem online Erros de dealer que não acontecem online Custos muito mais altos Impossibilidade de jogar sua modalidade preferida Barulho e demais distrações Socialização excessiva Pressão para controlar sua linguagem corporal Pressão para ler a linguagem corporal do oponente Pressão para conseguir informação que lhe era dada online Limites muito mais altos Efeitos mais visíveis da variância Jogos muito mais loose Bad beats muito piores


Barulho e demais distrações Em casa, jogando online, você está no seu próprio espaço. Um bom ambiente. Uma cadeira confortável. Um lugar silencioso. Poucas interrupções. Nos clubes, as cadeiras podem ser menos confortáveis. Nos cassinos, existem aquelas infernais máquinas de caça-níquel, garçonetes servindo coquetéis, pessoas e jogadores conversando o tempo todo etc. Você pode se perguntar, “por que ele está discutindo sobre cadeiras? Quem liga para elas?”. A resposta é: “Você”. Você provou isso ao comprar aquela cadeira confortável para jogar. E todos os momentos de stress, até mesmo algo pequeno como uma cadeira desconfortável, pode aumentar a tensão e a probabilidade de tilt. Barulho, conversas, garçonetes e televisões são ainda piores. Distrações que reduzem a sua concentração e te levam a cometer erros. Errar por estar distraído pode ser extremamente irritante – e tenho certeza que você sabe bem do que eu estou falando. Isso pode até a te levar a pensar: “Eu nunca cometeria esse erro idiota jogando na minha casa!”.

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ssiva Socialização exce Em jogos ao vivo, você não pode simplesmente fechar o chat e ignorar seus oponentes. As conversas em excesso te irritarão – mais ainda quando o jogo ficar lento por causa disso. Haverá momentos que você terá vontade de dizer, “cale a boca e jogue poker”, ou ficará irritado porque os dealers não forçarão os jogadores a agir rapidamente – e por que fariam isso? Afinal, eles trabalham por gorjetas. Irritante? “Tiltante”, talvez. “É sua vez de falar”, dirá você educadamente, e, muitas vezes, a resposta não será nada agradável: “Você está com pressa?”. Tudo que você disser será errado. Se insistir no assunto, será visto como “sério demais”, “antissocial” ou o “cara chato da mesa”. Se ficar quieto, ficará irritado – ou seria tiltado? – com o jogador, com o dealer... com o mundo. Sempre haverá também aqueles jogadores que puxarão conversa com você. Eles vão querer conversar sobre política, esportes e, claro, poker. Os mais fracos costumam ser os mais sociáveis. Eles jogam por diversão, e socializar aumenta seu divertimento. Alguns jogos menores podem parecer um verdadeiro coquetel em que o as cartas são meros atrativos. Não importa se você está ali para jogar. Compulsoriamente ou por educação, você terá que se socializar. Se fizer isso demais, irá perder o foco e cometerá erros que normalmente não cometeria.

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Pressão para co ntrola a linguagem corp r sua oral Você não pensava em linguagem corporal quando jogava online, certo? Mas, no live, terá que controlá-la. Se seus oponentes conseguirem ter qualquer leitura sua, você não terá chances. E pior: muitas vezes, você vai perceber que não conseguirá controlar sua linguagem corporal. Nesses casos, sua frustração será ainda maior.

PRESSÃO PARA LER A LINGUAGEM CORPORAL DO OPONENTE Observar seus oponentes para pegar algum tipo “tell” é algo que consome tempo e energia. Mas, se não fizer isso, deixará passar informações que podem ser decisivas em uma jogada. A “leitura corporal” é muitas vezes imprecisa e tomará energia que você normalmente utilizaria em outras tarefas. Fatalmente, você errará, e, quando isso acontecer, a pressão sobre seus ombros poderá ficar insustentável.



Pressão para conseguir Informação que lhe era dada online Online, você tomará decisões baseadas em ferramentas que coletam dados de seus oponentes. Por exemplo, um Hold’em Manager pode lhe mostrar contra quais oponentes é melhor atacar os blinds ou aplicar um reraise blefando. Sites como Sharkscope e Poker Rankings podem apontar quais são os jogadores bons e os ruins de sua mesa. Porém, ao vivo, você terá que se esforçar bastante para conseguir essas informações. Sem auxílio de máquinas, erros são mais frequentes. Errando mais, você também ficará mais frustrado.

Limites muito mais altos Se na internet você estava acostumado a entrar em jogos que os limites máximos eram por volta de R$ 50 ou R$ 100 por jogador, esqueça isso quando se sentar numa mesa aqui fora. Ao vivo, você terá que desembolsar pelo menos $300 ou $400 para conseguir ganhos consistentes. E pode se acostumar com raises fora dos padrões que vão te tirar da sua zona de conforto a todo o momento, algo como 10 ou 12 vezes o valor do big blind. Para profissionais de torneios, o cenário ainda é pior. Para conseguir ganhar tanto quanto na internet, será necessário desembolsar buy-ins cinco ou dez vezes mais altos. Ou seja, na maioria das vezes, você sentirá a pressão do dinheiro. E quanto mais altos os limites, maior será o stress, e pior o seu rendimento.

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Efeitos mais visíveis da variância Se você jogar jogos mais caros, passará por fases ruins mais estressantes e mais duradouras. Seu bankroll também deverá ser mais gordo. Mas haverá dinheiro suficiente, sabendo que jogos ao vivo são bem mais caros, em menor volume e, portanto, com uma variância maior? Todos conhecem as consequências quando não se respeita o bankroll, mas, ainda assim, muitos se arriscam. E quando isso acontece, é porque está tiltado, deixando suas emoções levarem você a cometer erros gravíssimos. Isso pode ficar ainda pior dependendo do tamanho de suas perdas. “Pode levar-se meses para se levantar uma sólida construção, mas apenas alguns instantes para colocá-la abaixo” – tome cuidado, isso é o que acontece também com o bankroll. E mesmo que você tenha muito dinheiro, ainda há o que chamo de “bankroll psicológico” – a quantia que você perderá sem ser afetado emocionalmente. E ele pode não ser bom o suficiente para que você se recupere de um grande baque. Lembre-se que seu “bankroll real” é muito maior que o seu psicológico. Você pode ter R$ 15.000 para jogar, mas ficar uma noite inteira sem dormir depois de perder R$ 1.500.


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Quando você passar do seu limite psicológico, as coisas provavelmente vão ficar feias. Você pode resolver comprar mais e mais fichas por pensar: “Tenho que ficar no zero a zero”. E essas são as palavras mais idiotas do poker. Uma vez que você esteja pensando assim, estará fadado ao fracasso. Já vi muitos jogadores talentosos se arruinarem ao chegar nesse estágio.

Considerações finais Lembre-se que as frustrações se acumulam. Qualquer uma delas pode lhe colocar em tilt. Deixe mais de uma te afetar e isso será mortal. Você pode ser capaz de relevar essa ou aquela irritação, mas o impacto cumulativo de todas elas pode lhe levar rapidamente ao seu limite. O tilt é, obviamente, um perigo muito maior do que você imaginava. Nas próximas edições, aprenderemos como nos proteger dele e, também, vamos abordar os dois últimos itens da lista.

Pode levar meses para se levantar uma construção sólida, mas bastam apenas alguns instantes para colocá-la abaixo” – tome cuidado, isso é o que acontece também com o bankroll”

Alan Schoonmaker alanschoonmaker@ hotmail.com

Dusty “Leatherass” Schmidt é PhD em psicologia ocupacional e autor da Trilogia da Psicologia do Poker. 16

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Carlos Monti O fotógrafo do poker Matéria em parceria com a CardPlayer Latina por Brian Saslavchik

Suas imagens percorrem as revistas e os sites especializados em toda a América Latina. Fotógrafo oficial do site PokerStars, ele pode falar como poucos sobre o comportamento dos jogadores. Ele é Carlos Monti, o fotógrafo do poker latino.

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Ele já é parte do ambiente. Seja por suas camisas polos do PokerStars ou por sua simpatia ímpar, não há como não reconhecê-lo. Em terras latinas, se você estiver olhando para uma boa foto de um torneio do Stars, pode ter certeza que ele é o homem responsável pelo click. Fanático por pesca, Monti nunca está de mau humor. Se perguntar por aí, o mínimo que você vai ouvir sobre ele é: “Uma pessoa fantástica”. Os marinheiros de primeira viagem podem procurá-lo sem medo se o assunto for a culinária local. Ele vai indicar onde comer um bom peixe no Chile, um delicioso ceviche peruano e um tradicional feijão com chicharrón da Colômbia. Confira agora a entrevista com ele que já é figura intrínseca no dia a dia dos principais torneios da América Latina.

Como começou a trabalhar com poker? Eu sou fotógrafo desde os 19 anos. Estava estudando engenharia e comecei a trabalhar em um estúdio de um amigo. Depois, tive várias sociedades e fiz fotografia publicitária. Em um desses trabalhos, a agência que me contratou começou a trabalhar com o PokerStars, na Argentina. E foi essa empresa que me levou para trabalhar com eles.


Qual foi o primeiro trabalho que você fez para o PokerStars? Fiz algumas fotos em estúdio de três Team Pros da Argentina – Vero Dabul, Leo Fernandez e Nacho Barbero. Antes, pesquisei na internet dicas para bater fotos de poker. O que você sabia do tema? Joguei poker a minha vida toda. Meus avôs eram jogadores de poker e rummy. O PokerStars eu também já conhecia, mas apenas pelas propagandas no futebol.


Os brasileiros [...] são tão bons para fotografar como para dançar e jogar futebol. Eles saltam, gritam, desarrumam o penteado, jogam o boné para cima...

E quando você “foi a campo”? Em 2009, quando eu fui fazer as fotos do LAPT em Mar Del Plata. Mas nesse torneio eu não estava entre os blogueiros [Carlos Monti é responsável pelas fotos que ilustram os blogs de coberturas de torneios do PokerStars]. Depois, foi a Copa América de Poker, em Bariloche. Lá, graças ao Nahuel Ponce, da ESPN, e ao Reinaldo Venegas, chefe de conteúdo online para América Latina do PokerStars, eu pude me familiarizar com o local. Depois disso, me ofereceram a oportunidade de trabalhar para o site em toda a América Latina. Hoje, como funciona seu trabalho? O PokerStars me passa diretrizes muito específicas e detalhadas. Para cada LAPT, me mandam um memorando dizendo o que eles esperam de mim e como esperam que eu faça. Por exemplo, uma das coisas que eles me falavam era que na reta final do torneio eu iria sofrer muita pressão da imprensa pelas fotos, mas eu tinha que priorizar os blogueiros do PokerStars. No início da minha carreira, orientações como essa me ajudaram muito.

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E quem são esses profissionais? Em um torneio, de quais jogadores você faz mais fotos? Eu me dedico mais àqueles que são membros do Team PokerStars. Depois vou para aqueles que estão fazendo uma boa temporada e para os que participam regularmente dos eventos do LAPT. Também faço muitas fotos de quem chama atenção: mulheres bonitas, jogadores com óculos escuros ou protetores de cartas chamativos. Mas são dos desconhecidos as melhores fotos. Eles comemoram e vibram muito mais. Porque um dos requisitos do Stars é ter fotos diferentes, com ação. Esse é um tema complicado. Não é como no futebol. Entretanto, existem jogadores experientes que não ficam com uma postura rígida o tempo todo, e quando eles expressam suas emoções, me permitem fazer fotos boas.

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Há jogadores que sempre garantem boas fotos. Leo Fernandez, Nacho Barbero e Maridu. O André Akkari, por exemplo, é um cara supersimpático para fotografar, assim com o Leandro “Peluca” Csome. Qual a reação dos jogadores quando percebem que você está fazendo uma foto deles? Eu me esforço para que eles não percebam. É como ser o árbitro do jogo. Se eu começo a interferir, o mínimo que seja, é porque estou fazendo algo errado. O problema é que tenho que trabalhar muito próximo às mesas, e é inevitável que me vejam. Alguns, quando percebem que eu estou fazendo uma foto, olham para a câmera e sorriem. Isso é muito ruim, porque, na verdade, estou buscando algo diferente disso. Também não gosto quando o jogador esconde a cara. Há pessoas que jogam com a mão na frente do rosto durante todo o torneio.


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Os bonés e óculos escuros também te atrapalham? Os óculos escuros muitas vezes são fantásticos para as fotos. As órbitas oculares projetam sombras que atrapalham no momento de fotografar; e eles eliminam isso. Já os bonés são péssimos. Eles produzem muitas sombras nos rostos dos jogadores. Quais jogadores te proporcionam as melhores fotos? Os brasileiros. Eles são tão bons para fotografar como para dançar e jogar futebol. Eles saltam, gritam, desarrumam o penteado, jogam o boné para cima... Eles realmente expressam toda a emoção quando estão jogando poker. E isso é uma riqueza na comunicação. Você teria alguma história curiosa para nos contar?

Carlos Monti

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Na minha estreia em Mar Del Plata. No primeiro dia houve um grande all-in em uma mesa. Eu me aproximei e fiz mais de 100 fotos dos envolvidos. Depois, descobri que um deles, o único que se manifestava de forma contundente, não tinha nada a ver com a jogada (risos).


Você convive com os melhores jogadores do continente, e em uma posição privilegiada. Deu para aprender alguma coisa? Aprendi muito no poker, principalmente em relação ao comportamento humano. Existem coisas que acontecem em todos os torneios. Coisas curiosas. Conversando com os jogadores, todos eles te dizem que vão vencer o evento. Vários vêm e me dizem, “pode fazer muitas fotos minhas, que este eu vou ganhar”. E existem aqueles que sempre vêm me contar uma história de bad beat. Não importa se estou trabalhando, comendo ou fazendo outra coisa, eles vêm e te contam tudo.

A FOTO INESQUECÍVEL Cada fotógrafo tem uma foto especial de sua autoria. Por um motivo ou outro aquela fotografia vai trazer uma recordação especial. No caso de Monti, ele falou sobre uma série de imagens de Nacho Barbero, todas em posição semelhantes. Elas foram feitas nos LAPTs de Punta e Lima, quando o argentino foi bicampeão, em 2010. “No primeiro LAPT, em Punta Del Leste, eu gostei da foto. Quando fui fazer a segunda no Peru, me dei conta que era exatamente igual à outra, e pensei, ‘ali está ele outra vez. Esse cara vai ganhar novamente’, e realmente ganhou. Depois a revelei em tamanho grande”.♠

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A LENDA DO

Longo

prazo por André Dexx

No poker, você sempre vai ouvir falar em longo prazeo. O tempo todo. Mas a verdade é que ninguém sabe ao certo quando ele chegará ou mesmo se existe. Este tem sido um dos temas mais abordados pela comunidade nos últimos anos – e essa discussão está bem longe de terminar.

C

om um número cada vez maior de profissionais esmiuçando o jogo e aproveitando suas as vantagens matemáticas e psicológicas, o cenário está mais nivelado. Com a vantagem sobre a concorrência diminuindo, a lógica é que os altos e baixos se tornem mais intensos. E o tema do longo prazo volta à pauta. No gráfico abaixo, a linha A é uma simplificação do que seria o longo prazo. As demais linhas (B, C, D, E, F) representam os caminhos pelos quais a linha A poderia passar até alcançar o longo prazo.

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Analisando jogadores normais seria impossível chegar ao longo prazo, por diversas razões. Primeiro porque o jogo de qualquer um está em constante adaptação, de acordo com as informações que adquirem em escolas de poker, fóruns etc. Isso faz com que tanto o jogador quanto o field que ele vem enfrentando mude todos os dias. Assim, quando o jogador em questão possuir uma amostragem satisfatória de mãos, algumas das variáveis, como field e nível de jogo, já mudaram. Este ciclo supostamente impediria a chegada do utópico longo prazo.


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Estatisticamente, nada impede que você receba A-A cem mil vezes seguidas e perca em todas elas.

O segundo ponto é que, mesmo sem considerar isso, a quantidade de variáveis é tão ampla que beira o impossível contabilizá-las até a conversão da amostra. Não por acaso, um bom jogador sempre terá edge no poker. Em um pensamento simplista, seria possível alcançar o longo prazo com uma amostragem que, provavelmente, faria o Hold’em Manager travar – pense na quantidade de permutações de mãos e bordos em uma mesa. Mas, para que isso aconteça, em vez de usarmos a base de dados de um humano, teríamos que usar a de um bot que estivesse jogando também contra outros bots, os quais não poderiam ser atualizados ou modificados. Dessa maneira, por mais absurdo que seja, controlaríamos todas as variáveis, e então seria possível alcançar o longo prazo. É justamente por não entenderem o conceito, que muitos jogadores caem em uma armadilha: depois de jogar alguns milhares de mãos e conseguir resultados expressivos, eles acreditam

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que seu resultado está próximo da linha A, de acordo com suas habilidades, quando na verdade o que aconteceu foi uma good run. Passado o bom momento, começa um período de derrotas, e o jogador passa a se “autossabotar”. Ao considerar que possui uma expectativa positiva, ele acredita que vai voltar a ganhar sem fazer os ajustes necessários em seu jogo. Mas o que de fato acontece é que ele perdeu-se em seu próprio labirinto, entrando em um caminho que muitos não conseguem voltar, pelo menos até serem obrigados a descer de limite ou, fatalmente, quebrar. Estatisticamente, nada impede que você receba A-A cem mil vezes seguidas e perca em todas elas. Entretanto, mesmo existindo essa possibilidade, é improvável que esse fenômeno aconteça. Sabemos que, se levarmos em conta


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100.000 pares de ases, é mais fácil que eles sejam derrotados em 50.000 ocasiões do que em todas as 100.000. Se formos diminuindo esse número, as chances dos ases perderem são ainda menores, o que leva nossa expectativa cada vez mais próxima do longo prazo. E qual o ponto disso? Por mais que você passe por uma bad run, episódios como o citado acima são pontos situados bem fora da curva. Se você realmente for melhor do que a média do field e fizer um volume razoável, será mais fácil caminhar pelas linhas A, B, C e D do gráfico do que pela E ou F. O poker é um jogo em que, invariavelmente, haverá muito edge a ser conquistado. Com isso, sempre haverá jogadores profissionais espreitando às mesas. Espero que o conceito de longo prazo tenha ficado mais claro. Lembre-se: a melhor forma de ter um gráfico crescente, sem muitos swings, e ainda chegar mais próximo do resultado esperado é estudando e praticando mais do que seus adversários. Não importa o que aconteça, continue jogando!♠

André Dexx @dexx_rj andredexx.com

André “Dexx” é um dos mais respeitados jogadores de cash games online do país.

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Ficou na dúvida? Bad Run – Quando o jogador passa por uma fase ruim. Bot – É uma aplicação de software concebido para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão; Edge – Vantagem; Good Run – Quando o jogador passar por uma fase boa. Exemplo: suas mãos, favoritas ou não, ganham com mais frequência do que o normal (estatisticamente falando); Hold’em Manager – Software de captação e análise de dados de poker, muito utilizado por jogadores profisionais; Swing – Oscilação, variância;


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TAMANHO É DOCUMENTO por Diógenes Malaquias

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lá, amigos da Card Player Brasil. Nesta edição, eu começo uma série de artigos focados nos tamanhos de aposta. Vamos abordar situações que ocorrem nos cash games online e live, e também em torneios – pré-flop e pós-flop. No cash, em geral, você terá um stack mínimo de 100 big blinds. Em torneios, porém, temos que trabalhar com muito menos. Assim, as estratégias são totalmente diferentes. Hoje, vamos dar ênfase ao tamanho das apostas pré-flop em cash games online. Nesse meio, existe uma velha regra que nunca falha. Ela diz que, pré-flop, você deve aumentar três vezes o valor do big blind (BB) e acrescentar mais um BB para cada jogador que entrar de limp. Essa estratégia não será sempre a ideal, mas é boa em qualquer situação. Para otimizar o valor das nossas apostas pré-flop, devemos observar quantos adversários restam para agir. No livro Mathematics of Poker, de Bil Chen e Jerrod Ankenman, há uma fórmula complexa para acharmos o tamanho do raise ideal. Para simplificar, vamos dar uma olhada no quadro da próxima página.

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RAISE IDEAL PARA UMA MESA DE CASH GAME 6-MAX UNDER THE GUN: 3,8 BBs POSIÇÕES INTERMEDIÁRIAS: 3,3 BBs CUTOFF: 2,8 BBs BUTTON: 2,2 BBs SMALL E BIG BLIND: 3,8 BBs (Em todos os casos, soma-se um big blind para cada jogador que entrar de limp)

Porém, eu nunca usaria esses valores para os meus raises. Ao fazer isso, eu estaria dizendo para os adversários que sou um bom jogador. E sendo o poker um jogo de informações incompletas, nós não queremos fornecer qualquer tipo de dica aos oponentes. Então, eu aconselho um padrão mais simples. Jogando contra adversários mais fracos, eu usaria a estratégia de abrir 3,5 BBs de todas as posições, menos do button, onde eu daria raise de três blinds – e sempre acrescentando um BB para cada limper.

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Para o online, essa aposta pode parecer um pouco alta, mas ela é perfeita para enfrentarmos jogadores ruins, que frequentemente dão call com mãos marginais, pois nós já extraímos valor (inflamos o pote com uma mão melhor) desde o pré-flop. Jogando contra adversários competentes é mais eficiente diminuirmos o tamanho do raise pré-flop. Eles dificilmente vão dar call com mão piores – diminuindo a frequência que extraímos valor –, e irão nos contra-atacar com reraises mais vezes. Assim, nossa aposta deve ser de três vezes o big blind de todas as posições e de 2,5 do button – e continuamos acrescentando um BB para cada limper.

RERAISE (3-BET) Existem dois padrões de reraise nos cash games online. O primeiro é triplicar o raise do oponente. Se estivermos fora de posição, acrescentamos um blind a esse reaumento. No segundo caso, também triplicamos a aposta do nosso adversário. Mas, agora, acrescentamos um blind em posição e dois fora.

A estratégia em que colocamos mais dinheiro no pote se encaixa melhor contra jogadores fracos, e a que colocamos menos é melhor contra jogadores fortes. Basicamente, pelos mesmos motivos citados quando falei sobre o tamanho de um raise.

4-Bet Para a 4-bet padrão (um raise em cima de um reraise), em algumas ocasiões vamos multiplicar o reraise do adversário por 2,2. Em outras, vamos multiplicá-lo por dois e acrescentar um BB. Como nos exemplo anteriores, isso vai variar de acordo com nossos adversários. Fiquem ligados, nas próximas edições vamos discutir outras situações em que o tamanho das apostas também é de extrema importância.

Diógenes Malaquias @diogenes1608 diogenesmalaquias.com.br

Diógenes Malaquias é especialista em cash games online e dá aulas particulares em seu website.

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SALÃO INTERNACIONAL DE PRODUTOS ESPORTIVOS E LICENCIAMENTOS

Entre os dias 21 e 24 de março, o Expominas – um dos maiores e mais importantes Centro de Convenções e Eventos do Brasil, localizado em Belo Horizonte – sediará a maior feira de esportes da América Latina, e adivinhe quem estará por lá? O poker, representado pelo Sierra Poker Sports e pela Card Player Brasil. Realizada às vésperas da Copa das Confederações, a Intersports Brazil Hall é um evento sustentável e tem a chancela do Grupo Executivo da Copa do Mundo (GECOPA), grupo responsável por acompanhar as ações destinadas à preparação e realização da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. Além das apresentações de MMA (Mixed Martial Arts), hockey in line e street dance, haverá atividades interativas de arco e flecha, escalada e campeonatos de videogame. Outra novidade será a participação de atletas paralímpicos. Eles farão exibições de esgrima e rugby. A Intersports Brazil Hall terá ainda palestras com grandes nomes do marketing esportivo, stands com as principais marcas do esporte mundial e participação de alguns dos principais clubes de futebol do País. O poker não poderia ficar de fora. a Card Player Brasil e o Sierra Poker Sports serão responsáveis por quatro palestras sobre o esporte mental. Além disso, haverá um evento aberto a todos interessados.

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21 a 24 de março de 2013 expominas


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Atrações programadas para o evento: SIERRA POKER O maior clube de poker de Minas Gerais promoverá um evento exclusivo durante os quatro dias da feira. 1ª ETAPA DO MMA GRAND PRIX Serão doze lutas em quatro categorias diferentes (meio-médio, médio, meio-pesado e pesado), com transmissão pela internet e pelo canal Combate. CAMPEONATO MINEIRO DE PLAYSTATION Campeonato, aberto ao público, dos jogos de futebol virtual FIFA 13 e Pro Evolution Soccer 2013. FUTEBOL FREESTYLE Exibições diárias dessa variante do futebol em que um jogador equilibra a bola em várias partes do corpo. É preciso criatividade e muita técnica para executar as manobras.

STREET DANCE O grupo Cultura do Gueto, campeão do Festival Internacional de Hip Hop 2011, leva toda a beleza da Dança de Rua para Intersports. Além de apresentações diárias, haverá palestras e oficinas interativas para que o público possa praticar a modalidade. HOCKEY IN LINE A Federação Mineira de Hóquei promoverá, durante os quatro dias da feira, jogos, exibições, clínicas de jogo e palestra sobre um dos esportes que mais cresce no mundo. MURO DE ESCALADA Com profissionais altamente qualificados, o Nerea proporcionará aos convidados a magnífica oportunidade de escalar. Atletas do ramo, curiosos, adultos e crianças estão convidados a aprender, conhecer e praticar este esporte. E mais: Slackline, esgrima e rugby de cadeirantes, skate, arco e flecha.

Todas as informações sobre o evento podem ser encontradas em: www.intersportsbrazil.com.br

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A LUZ E A VERDADE DE

VANESSA

SELBST

Texto Base: Erik Fast

Os últimos dois anos fizeram bem a Vanessa Selbst. Nesse período, ela conseguiu formar-se em Direito e ainda ultrapassar a marca dos quatro milhões de dólares ganhos em torneios. Como se não bastasse, conquistou seu segundo bracelete da WSOP em eventos abertos, feito que apenas duas mulheres alcançaram até hoje. Além disso, Selbst está mudando o paradigma do jogo ao conseguir fazer parte do alto escalão do poker sendo assumidamente homossexual. Por tudo isso, vale a pena conhecer um pouco da história de Vanessa Selbst, um dos principais nomes do poker mundial na atualidade, independentemente de sexo ou de orientação sexual.

Jogando Menos, Ganhando Mais “Sinto como se tudo tivesse mudado muito nos dois últimos anos”, diz Selbst, que viu renascer a vontade de participar de torneios após a vitória no Main Event do NAPT Mohegan Sun, e com a posterior entrada para o time de profissionais do Poker Stars. “Tenho amado de verdade o poker, e me divertido muito viajando e jogando”. Por ser estudante em tempo integral, Selbst vinha jogando bem menos do que outros profissionais de ponta. Apesar do menor tempo na estrada, ela ainda tem conquistado resultados extraordinariamente consistentes, numa frequência que chama a atenção. “Obviamente, posso dizer que

fui muito bem. Nos dois primeiros anos de faculdade, joguei 15 ou 20 torneios”, afirma. “Desde meados de 2010, tenho jogado de maneira mais consistente, mas ainda num volume menor do que o de muita gente. Sou uma pessoa que precisa de tempo livre, e me asseguro de ter esse tempo fora do poker”. Na verdade, Selbst entende que seu sucesso pode resultar justamente do fato de estar jogando menos. “Acredito que jogo muito melhor se não fizer isso todos os dias, porque não fica parecendo uma obrigação, mas sim diversão. Ao longo de um mês, eu jogo três ou quatro dias na semana, então tiro duas semanas de folga”.



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Jamais tentei ser a última mulher do torneio. Eu tentava ser a última pessoa com fichas no torneio”. Luz e Verdade O lema da Universidade de Yale é Lux et Veritas – “luz e verdade” em latim. E parece que Selbst encontrou luz na busca pela sua verdade, precisamente na faculdade de Direito que formou alunos como Bill e Hilary Clinton, além de vários ministros da Suprema Corte Americana. Lá, viu-se envolvida em questões relativas à justiça social, e adquiriu experiência e conhecimentos valiosos em seus anos de estudo. “Foquei em direitos e garantias individuais, e participei de muitos encontros sobre direitos humanos. Em um deles, defendi pessoas na base de Guantânamo, em outro, trabalhei com uma defensora pública junto a presidiários. Participei até de uma ação civil pública contra abusos cometidos por policiais”. Equilibrar os estudos e a carreira lucrativa no poker era tarefa difícil, que demandava bastante compromisso. “Foi difícil. Principalmente no terceiro ano, quando eu jogava e ia à faculdade em tempo integral. Deixei de me inscrever em matérias que eu gostaria de ter feito. Por outro lado, não consegui jogar vários torneios que eu queria ter jogado, por causa das aulas”.

Vencendo de Novo: Sexualidade e Mídia Em primeiro de julho de 2012, Selbst conquistou seu segundo bracelete da World Series of Poker, superando 421 jogadores no evento shorthanded de mixed games com buy-in de US$ 2.500. Pela vitória, ela recebeu 244 mil dólares. Com esse título, passou a ser segunda mulher (a outra é Jennifer Harman) a vencer dois eventos abertos, não restritos a mulheres. O primeiro bracelete de Selbst, em 2008, tinha sido a última vez em que uma mulher venceu um evento aberto na Série Mundial. “Ganhar um bracelete nessa última WSOP significou muito para mim. Ter mais de um faz você se destacar na multidão. Hoje em dia, com tantos braceletes sendo concedidos, há quem diga que isso perdeu um pouco do glamour e do prestígio. Então, conseguir dois braceletes definitivamente lhe coloca na elite”. O bracelete de Selbst foi uma das maiores conquistas femininas na WSOP 2012, e a tendência de mulheres fazendo sucesso no

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poker recebeu bastante atenção da mídia. Ela frequentemente está sob os holofotes, não apenas pela qualidade do seu jogo, mas por causa da sua sexualidade. “No fim das contas, eu sei o que a mídia quer. Fico feliz de poder me sair bem em nome das mulheres. Espero que isso não seja grande coisa e que as pessoas não se preocupem em saber quem é o melhor jogador ou a melhor jogadora”, diz Selbst. “Isso acontece porque as mulheres, historicamente, nunca se saíram tão bem no poker quanto os homens. Espero ver o dia em que não falaremos sobre jogadores homens e jogadoras mulheres, mas apenas em jogadores de poker, apesar de eu saber que ainda não estamos nesse ponto. Não culpo ninguém por essa segregação.”

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Com frequência, as mulheres recebem um tratamento diferente no poker. Prova disso é que a ESPN sempre destaca a última mulher a cair em cada Main Event. Em 2007, Maria Ho, amiga de Selbst, foi essa mulher, mas ao ser questionada sobre isso anos depois, Ho declarou: “Jamais tentei ser a última mulher do torneio. Eu tentava ser a última pessoa com fichas no torneio”. Selbst parece pensar de forma similar, buscando conquistas não como uma mulher, mas como qualquer pessoa que joga poker. “Estou feliz por ter me saído bem o bastante para ser lembrada em uma conversa na qual as pessoas falem sobre os jogadores (de ambos os sexos) que fizeram mais sucesso nos últimos tempos. É uma honra ser uma das poucas mulheres lembradas.”


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FOTO: WWW.FELIPEREZENDE.COM

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Homossexual, Dentro e Fora dos Feltros Selbst reconhece que, apesar de estar mais preocupada em jogar poker, ela presta atenção no modo como é apresentada na mídia, em relação à sexualidade. Ela é homossexual assumida e, estando no front da comunidade do poker, busca tirar vantagem da atenção que vem recebendo. “Como sou vista é realmente importante para mim. Pouca gente assume a sexualidade publicamente sem se encaixar nos estereótipos. Eu não me visto de forma tradicionalmente feminina, mas posso mostrar às pessoas que estou confortável sendo assim, que posso me vestir e agir da maneira que quiser, e que está tudo bem. Você ainda não vê esse tipo de referência com tanta frequência na mídia”. Durante a primeira vitória de Selbst no NAPT Mohegan Sun, a mesa final foi transmitida pela ESPN. Nesses programas, frequentemente a torcida dos jogadores é mostrada, identificando namoradas, esposas etc. Selbst

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conversou pessoalmente com os produtores sobre isso. “Eu disse a eles que gostaria que não amenizassem, colocando ‘amiga da Vanessa Selbst’ ao mostrar minha namorada, Miranda. Eles mandaram bem e publicaram que ela era minha namorada, e me mostraram dando um beijo nela depois da vitória. Aquilo significou muito para mim, ainda mais por poder colocar a ESPN naquela posição”.

“A Conversa Está Mudando” Há muito tempo, o poker era considerado território masculino, apesar de o jogo colocar ambos os sexos em pé de igualdade. No tempo em que os apostadores de beira de estrada arriscavam alto em salas esfumaçadas do Texas, não havia como imaginar 936 mulheres pagando mil dólares para participar do Ladies Champioship na WSOP 2012, em Las Vegas.


“É uma cultura sexista, que dificulta o sucesso não apenas de mulheres, mas de qualquer pessoa que não seja tradicionalmente masculino”, observa Selbst. “Merece uma análise o porquê de eu ter tido sucesso, já que sou mais masculina do que outras mulheres, e também a razão pela qual gays, mais femininos, não se sentem confortáveis no meio do poker. Não é nada específico que alguém faz, mas certamente é uma atitude geral. Poker tem sido, tradicionalmente, jogo de homem”. Selbst afirma que essas manifestações de sexismo continuam existindo no poker, ainda que as coisas estejam melhorando. “Mesmo por acidente as pessoas comentam, até na World Series. Quem faz o comentário costuma ser compreensível, e nobre ao corrigir seu comportamento”, diz Selbst. “Mas eles acabam deixando claro que aquele é um jogo de homem, como ao dizer ‘que vença o melhor’, antes de o torneio começar, ou por não ter vestiários femininos em lugar nenhum próximo à área de jogo, sugerindo

que as mulheres não pertencem àquele lugar. Mas isso está melhorando, com certeza”. Selbst se saiu bem no Main Event deste ano, terminando na 73ª colocação dentre 5.598 inscritos. Várias outras jogadoras também chegaram longe, como Elizabeth Hille (11ª) e Gaele Bauman (10ª). Durante o torneio, ela percebeu indícios da evolução em relação às mulheres no poker. “Foi reconfortante ver tanta gente empolgada com o sucesso feminino no Main Event. Eu perguntava às pessoas para quem elas estavam torcendo, e todo mundo dizia que ficaria feliz se tivesse uma mulher na mesa final. Ver mais gente pensando assim mostra que a conversa está mudando”. Como tudo o que é complicado, as atitudes em relação ao sexo e à sexualidade no mundo do poker não mudarão da noite para o dia. Mas com uma campeã como Vanessa Selbst servindo de referência, é certo que a comunidade do poker vai progredir também nesse sentido. ♠

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A Pauta da

Segunda-Feira Um conto de Pedro Nogueira

Pedro Nogueira @pedronogueira87

Pedro Nogueira é jornalista, já disputou torneios internacionais de poker, como a WSOP Europe, e é blogueiro da revista Alfa, da Editora Abril.

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uma noite quente em abril e estou pensando que, se existe um lugar em que eu nunca estive, e nunca pretendo estar, é na Pauta da Segunda-Feira, pois ela pode ser realmente prejudicial à saúde. A Pauta da Segunda-Feira é o nome que o Padrinho, o dono do Paradiso, dá à lista de cidadãos que necessitam de uma visita urgente, normalmente para serem lembrados de algum débito adquirido em sua casa e depois esquecido por eles. O Padrinho deve ter quase 80 anos, e ele é barrigudo, e deixa três botões abertos na camisa, e usa um suspensório preto na calça que dá a ele uma pinta de gângster da Lei Seca. Bem, é claro que o Padrinho em si, um proeminente cidadão da noite paulistana, não vai gastar suas tardes de segunda-feira visitando esses parceiros devedores, pois ele precisa descansar bastante durante o dia para cuidar dos negócios a partir das oito. Então quem ele manda nessas visitas senão o Shrek, que é um partido de quem você definitivamente não gostaria de receber uma visita.

O Shrek é chamado assim porque ele é muito alto, e gordo, e forte como Shrek do cinema. Outra semelhança entre os dois é a cabeça careca, mas o Shrek do Padrinho não é verde, pois a sua pele é mais branca do que uma folha de sulfite. Ele é uma figura absolutamente amedrontadora, e nas raras ocasiões em que deixa o cabelo loiro crescer um pouco, o Shrek fica a cara daqueles vilões russos dos filmes do James Bond. Lembro que uma vez fui de carona para o Paradiso, que fica na João Cachoeira, e meu caronista quebrou cedo e foi embora, então perguntei no fim da noite ao Padrinho se ele tinha o número de um táxi. “O que é isso, meu querido”, o Padrinho disse para mim, “espera que vou pedir para o Shrek te levar para casa”.


Bom, eu não poderia negar uma gentiliza do Padrinho, pois seria deselegante da minha parte, e não há nenhuma vantagem em ser deselegante com o Padrinho, porque ele vem de uma formação muito rigorosa e não vê graça nenhuma nesse tipo de atitude. Então aceitei a oferta e o Shrek foi me levar para casa. Se o Shrek já me fazia tremer de medo antes, tremi mais ainda quando entrei no carro e vi que ele carregava o velho equalizador no bolso. Passei o caminho inteiro imaginando o que aconteceria se um homem da lei nos parasse na rua, numa blitz ou qualquer coisa assim, e como eu faria para explicar a ele a minha presença naquele carro cheirando a chumbo. Mas cheguei em casa sem maiores incidentes.


Bem, voltando àquele domingo quente de abril, em que eu pensava na Pauta da Segunda-Feira, decidi dar um pulo no Paradiso e ver se tinha algum estrela doando dinheiro por lá. E, quando chego ao clube, quem encontro na porta fumando um cigarro senão o Pedrinho Mídia, o jornalista. Cumprimento o Pedrinho Mídia com um largo olá e acendo um cigarro para acompanha-lo. Devo registrar aqui que a companhia do Pedrinho Mídia é extremamente agradável, ainda mais porque ele sempre tem algum rumor interessante ou uma boa história para compartilhar com a parceirada. “Dá só uma olhada nisso aqui”, diz para mim o Pedrinho Mídia, que está sempre de camisa xadrez além de um óculos com aro grosso, e me passa um papel. “Vê só quem eu vou entrevistar amanhã.” Quando eu pego o papel, o que eu vejo nele senão um endereço, um horário e o nome do Jean-Jacques Chevalier, o famoso ator de cinema. “Ele vem divulgar um novo filme em São Paulo”, o Pedrinho Mídia diz, “e cravei uma entrevista na agenda dele”. Certamente eu fico orgulhoso do Pedrinho Mídia ao ouvir tal proposição, e faço questão de saudá-lo com um largo parabéns, pois não é sempre que um parceiro crava uma entrevista com um ator de Hollywood, ainda mais um proeminente como o JeanJacques Chevalier.

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Bem, quando o cigarro termina, o Pedrinho Mídia e eu entramos no Paradiso e engatamos num jogo de Hold’em que está realmente fraco, só rocha na mesa. Então o Pedrinho Mídia, que gosta de calor e velocidade, rapidamente dá o adeus à parceirada e diz que precisa chegar à redação cedo no dia seguinte. Devo notar que quase fiz a mesma coisa, mas com uma desculpa diferente, é claro, pois ninguém acreditaria que eu tinha um compromisso cedo na redação para o dia seguinte. Mas decidi ficar mais um pouquinho, e essa foi uma proposição que se revelou bastante lucrativa, pois logo depois que o Pedrinho Mídia foi embora, o Omaha capado quebrou e um estrela de lá veio juntar-se a nós. O cidadão era jogador de 25-50, então ele chegou no 1-2 empurrando as fichas como se fossem chocolatinhos de M&M’s. Consegui dobrar o meu capital em cima dele com um par de barbudos na mão e, depois, dobrei mais uma vez ao acertar um terno de setes no flop. Fiquei no Paradiso até o sol nascer e o Shrek botar a parceirada na rua, e devo dizer que foi uma ótima noite para mim, especialmente porque eu andava curto naqueles tempos.



Bem, isso foi no domingo e, na terça-feira, lembrei daquela entrevista que o Pedrinho Mídia ia fazer com o Jean-Jacques Chevalier, o astro do cinema. Se a entrevista estava marcada para a segunda-feira, calculei, o artigo deveria estar no jornal hoje. Então fui até uma banca de jornais, que ficava a três quarteirões do meu apartamento, atrás do Expresso, o jornal do Pedrinho Mídia. Quando chego à banca, o que vejo na capa do jornal senão a seguinte manchete: “Ator francês apanha brutalmente em visita a São

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Paulo – e nem sabe o porquê.” Aí tinha uma foto do ator com o rosto todo amassado, e mesmo com aqueles amassados todos, pude perceber que era o Jean-Jacques Chevalier, o entrevistado do Pedrinho Mídia. Sou absolutamente contrário a surras, a não ser que elas tenham um bom motivo, ou pelo


menos um razoável, e o que pude perceber ao ler a matéria do Pedrinho Mídia é que o Jean-Jacques Chevalier fora atacado sem justificativa alguma. Então peguei o celular e liguei para o Pedrinho Mídia, para ele me explicar melhor o que havia acontecido. “Você imagina que atrasei 10 minutos para a entrevista e quando chego lá”, o Pedrinho Mídia diz para mim, “o que vejo senão o meu entrevistado estatelado no chão, como um saco de pão no vento. Como qualquer cidadão exemplar faria numa situação dessas, rapidamente fui ajudá-lo. Só esperei, é claro”, o Pedrinho Mídia diz, “alguns minutinhos para o fotógrafo pegar uma boa imagem da cena antes.” “Quando o francês acordou”, o Pedrinho Mídia diz, “contou para mim que havia tomado uma surra de um ogro branquelo e nem

sabia o porquê. A única coisa que o ogro branquelo falou para ele”, o Pedrinho Mídia diz, “é que ele precisava aprender a honrar os seus compromissos. Mas o que ele quis dizer com isso, ninguém sabe, e acho que nunca vai saber. Devo dizer que eu fiquei realmente chateado pelo Jean-Jacques, exceto pelo fato de que o jornal está vendendo mais do que nunca com essa bomba estampada na primeira página.” “Agora se o senhor me der licença”, o Pedrinho Mídia diz, “preciso caçar mais alguns escândalos, porque se eu cravar outros dois ou três até o final do mês, meu passe vai ficar valorizado aqui no jornal”. Assim que o Pedrinho Mídia desliga o telefone, não posso deixar de reparar na semelhança entre o ogro branquelo do JeanJacques Chevalier e o Shrek, que vai sempre atrás da parceirada que se esquece de honrar o compromisso com o Padrinho. E fico imaginando se, aquele papel que vi o Shrek recolhendo no chão do Paradiso domingo à noite, não seria a pauta da entrevista do Pedrinho Mídia, e se ele não confundiu esse papel com a Pauta da Segunda-Feira do seu patrão.




e d s d d O o t i u c r i Main Event do C e o d i t n a r a g o ” a r u o Poker “est l i m 0 3 1 e s a u q i distribu Aconteceu entre os dias 14 e 19 de Janeiro, no Vegas Hold’em Club, o Main Event da temporada 2012 do Circuito Odds de Poker (COP). Para comemorar o sucesso, a Odds Brasil preparou um grande evento, com quatro dias iniciais, 80 mil reais garantidos e o mesmo buy-in, R$ 300. A ótima estrutura, uma extensa grade de satélites e o apoio da comunidade paulistana geraram um dos maiores torneios da história da Odds: 507 entradas e uma prize pool de R$ 129.285, distribuída entre os 45 melhores colocados. O Dia 1A, disputado na segunda-feira, já dava pistas da dimensão que o torneio teria. 102 entradas foram registradas (95 jogadores e 07 recompras). Ao final do Dia, 26 deles garantiram seus lugares no Dia 2, com Sang Wook na liderança. Entre os classificados, Fred Viana, Kadu Rozzi e Emerson Baroni. Na terça-feira, Dia 1B do torneio, mais um ótimo field: 103 jogadores e 21 recompras. Quando a organização anunciou o final do Dia, 29 jogadores ainda tinham fichas em seus stacks. Ricardo Mosconi terminou na liderança. João Taketani, Pedro Todorovic e Rodrigo Vieira também se classificaram.

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Na noite de quarta, mais 92 jogadores voltaram ao Vegas. Com as 13 recompras, foram contabilizadas um total de 105 entradas. Vinte e um jogadores se classificaram ao término do Dia, com Júnior Viana puxando a fila.José Francisco, Cris Azanha, Roberto Motta, Alê Fracari e Armando Sbrissa também estavam entre os classificados. Apenas três dias iniciais foram necessários para que a premiação garantida fosse ultrapassada. Antes mesmo do Dia 1D começar, mais de R$ 84 mil já estavam no pote do torneio. Essa notícia atraiu ainda mais jogadores, responsáveis por gerar o maior field dos quatro dias classificatórios: 139 jogadores e 32 reentradas, totalizando 171 entradas. Allan Nunes terminou o dia na liderança. Fernando Bragateli, Mansur, Adriano Monster, Marcos Minassian e Renata Teixeira foram alguns dos que avançaram com ele entre os 32 classificados. Na quinta-feira, o Dia 2 começou com 109 jogadores. Mais de quatro horas foram necessárias até o estouro da bolha. Cris Azanha amargou a 46ª colocação. No turn, com o bordo trazendo apenas cartas baixas, ele apostou todas as suas fichas com 10-10, mas encontrou Christian segurando K-K.


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Após doze níveis de blinds jogados, o Dia 2 foi encerrado com 14 sobreviventes. Eles retornaram aos feltros do Vegas no sábado, onde, após pouco mais de uma hora de jogo, estava formada a mesa final. Logo que a FT começou, um embate entre Penha e Passarinho mostrou que muita emoção ainda estava por vir. Penha disparou na liderança ao acertar uma trinca maior do que a a de Passarinho, que, pouco depois, se despediu do torneio na nona colocação. Ele foi seguido por Leo Aquino e pelo próprio Penha, que, após perder consecutivamente alguns potes grandes, deixou o torneio na sétima colocação. Marcos Matos foi o sexto e Badaoui o quinto, seguidos por Sidney e Emerson Derriti. O heads-up durou apenas duas mãos. Com apenas oito big blinds, Portuga não conseguiu esboçar reação. Na mão final, Christian anunciou all-in segurando 3♠5♣. Portuga pagou com Q-T. O bordo trouxe um Cinco e sagrou Christian campeão do COP Main Event – 80K GTD.

Classificação final Posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Jogador Christian Portuga Emerson Derriti Sidney Badaoui Marcos Matos Sérgio Penha Leo Aquino Passarinho

Prêmio R$ 30.000 R$ 18.000 R$ 13.400 R$ 10.200 R$ 7.400 R$ 5.500 R$ 4.200 R$ 3.150 R$ 2.285

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MARCOS SKETCH POKER, MÚSICA E OUTRAS VIAGENS por Marcelo Souza Fotos: Daryan Dornelles

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acilidade na exposição de ideias. Raciocínio empresarial vanguardista. Vasto conhecimento sobre poker e música. Graças ao sucesso obtido em esferas tão distintas, Marcos Sketch vem constantemente sendo chamado de “gênio”. Isso, no meio do poker, é ainda mais raro do que no mundo real. Bastam cinco minutos de conversa com esse carioca de 31 anos para se tornar mais um dos que se convencem de que o termo é justo. Devorador voraz de livros de poker e audiófilo inveterado de bandas clássicas

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de rock, Sketch vem se mostrando um livre pensador, uma personalidade diferenciada em uma fauna povoada por idiossincrasias. Ele é um dos responsáveis por um dos projetos de maior sucesso no Brasil, a Poker Villa, que reúne algumas das principais promessas do pano verde nacional em uma casa no Guarujá, litoral de São Paulo. Lá, esses jogadores são patrocinados, treinados e depois entregues ao campo de batalha com uma mentalidade técnica e profissional do jogo. Com vocês, Marcos Sketch, falando de poker, música e outras viagens.


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“MUITA GENTE CONTA AQUELA VELHA HISTÓRIA: ‘AH, DEPOSITEI UMA VEZ E DEPOIS NUNCA MAIS’. EU QUEBREI VÁRIAS VEZES” Você tem uma carreira como produtor musical. Imagino que isso tome grande parte do seu tempo. Onde foi que surgiu o poker em meio a isso tudo? Há três anos e meio, mais ou menos, eu estava muito focado no trabalho. Respirava música o dia inteiro. Todos os meus amigos e as pessoas que eu conhecia eram do meio. Depois de um tempo, você começa a buscar coisas diferentes. Na música, você trabalha com pessoas muito parecidas, que gostam das mesmas coisas. Já no poker, impera a heterogeneidade. Você se senta à mesa com pessoas que possuem histórias e culturas completamente diferentes, e acaba fazendo diferentes tipos de amizade. Uma hora com um ginecologista, outra com um policial, outra ainda com um jogador de futebol. Então, eu já tinha a vontade de buscar coisas diferentes para ocupar meu tempo. Meu primeiro contato foi com uma série de TV chamada Professional Poker Tour (PPT). Era uma liga de profissionais, e só participavam craques como Doyle Brunson, Eric Seidel, Daniel Negreanu etc. Eu assisti a três temporadas inteiras em um mês: uns três episódios por dia antes de dormir. Paralelamente, baixei o Party Poker. Pouco depois, descobri que um clube de poker seria inaugurado ao lado do meu escritório.

Existem alguns jogadores que parecem ter nascido sabendo o caminho das pedras do poker, com uma espécie de compreensão natural do jogo. Alguns chamam isso de dom. Você se considera um desses sujeitos? Muito pelo contrário. Eu não achava que levava jeito para o jogo. Tive que ralar muito para entender o poker da forma que eu entendo hoje. Muita gente conta aquela velha história: “Ah, depositei uma vez e depois nunca mais”. Eu quebrei várias vezes. Depositava $50 dólares e ia jogar SNG de $30. Quebrava mesmo. Por sorte, eu podia me dar a esse luxo de fazer alguns depósitos online. Então, descobri que uns amigos estavam organizando torneios. Na segunda vez que fui lá, ganhei. Fiz várias jogadas bizarras, mas fiquei muito feliz por superar 30 pessoas. Na época, faturei uns 600 reais, uma fortuna. Aí vem aquele sentimento de que você vai ganhar sempre. Decidi estudar o jogo, levar a sério. Foi quando comecei a jogar no La Torre. Foi lá que conheci Danilo Montiel, meu mentor no início, que acabou se tornando um grande amigo. Ele me dava várias dicas, me deixava sentar ao seu lado para observá-lo, contava histórias de mãos de torneios etc. Foi quando eu comecei a premiar grande parte das vezes. Nessa época, eu comprei o Super System, livro do Doyle Brunson. Li muito rápido. E isso me deu certa vantagem sobre a concorrência. O poker ainda estava no começo, a galera ainda não tinha noção nenhuma e não havia tanto material disponível. Depois, eu comprei os três volumes do Harrington no Hold’em. A essa altura, eu já tinha aprendido os fundamentos. Estudei muito. Isso, aliado ao fato de eu ter me dado bem, fez com que meu começo no poker live fosse lucrativo.

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Pouco depois, comecei a frequentar os fóruns de poker: TwoPlusTwo, MaisEV e por aí vai. Foi quando li uma série de artigos do Tony “Bond18” Dunst chamada “Things it took me a while to learn”, algo como “Coisas que levei um tempo para aprender”. Eu então me senti pronto para vencer online. Até então, eu não tinha jogo para vencer na internet, nem tinha muito costume de “grindar” online. É uma leitura que eu recomendo, que derruba vários mitos de torneios. Ali eu comecei a entender um dos principais conceitos do poker, o EV. Esse desenvolvimento foi o que me permitiu elevar meu nível de jogo, tanto live quanto online. E esse lance de “Sketch1967”, que história é essa? Sketch é um apelido que eu criei em 1995. Eu trabalhava com uns grupos de design, desses que faziam arte em ASCII, e era o único que não tinha um nick. E como Sketch tem a ver com desenho, eu gostei da palavra e peguei. Poucos anos depois, eu comecei a trabalhar com música e passei a assinar “Marcos Sketch”. Muita gente já me conhecia como Sketch, e

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eu achava que precisava mesmo de um nome forte para a carreira. Meu nome é Marcos Henrique Neves da Silva, muito comum. Assinando Marcos Sketch, as pessoas se lembrariam. E isso foi bem útil na minha carreira. O “1967” eu uso porque foi um grande ano na música mundial. Vários discos brilhantes foram lançados, como o Sgt. Peppers, dos Beatles, e o Pet Sounds, dos Beach Boys. Quando eu era adolescente, tinha uma fixação por esse ano. Até fiz uma música chamada “1967”. Entre tantos jogadores brasileiros de talento, as pessoas normalmente usam a expressão “gênio” para se referir a você. NA sua opinião, a que se deve isso? Acho que tem a ver com a postura pessoal. Aprendi isso de forma muito clara no meu trabalho com a música. Para mim, o verdadeiro gênio do poker não sou eu, e sim Will Arruda, mas ele não trabalha o marketing pessoal. No meio artístico, você tem que aprender a se tornar uma pessoa mais aberta, precisa ser capaz de fazer amizades com facilidade, coisas desse tipo.


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“EU NÃO VOU TILTAR SE UM SHOW DO FORFUN FOR CANCELADO, SABENDO QUE AMANHÃ EU POSSO PERDER UM COIN FLIP NO EPT VALENDO MILHÕES DE DÓLARES. O POKER LHE ENSINA A DIMENSIONAR MELHOR AS COISAS”

Eu não vou tiltar se um show do Forfun for cancelado, sabendo que amanhã eu posso perder um coin flip no EPT valendo milhões de dólares. O poker lhe ensina a dimensionar melhor as coisas. Você desenvolve muitos projetos ao mesmo tempo. Como anda sua rotina hoje em dia?

Com a música, por exemplo, eu percebi que o conteúdo de uma banda é muito menos determinante para o seu sucesso do que a forma como ela vai apresentar esse conteúdo. Assim, o carisma de um artista, a maneira como ele se porta e a maneira como ele concede uma entrevista são determinantes para o seu sucesso. É por isso que eu sempre instruo as bandas a agirem dessa forma. E eu mesmo procuro agir assim em tudo que eu faço. Mesmo quando o poker era só uma recreação para mim, eu sempre procurava trabalhar esse lado, a apresentação do conteúdo. Deve ser por isso que acabaram me chamando de gênio. Já ficou bem claro que a música exerce muita influência nas suas ações dentro do poker. Mas e o poker, influencia sua música? Com certeza. O poker influencia não só minha música, como também minha vida. Volta e meia, eu solto no meu Twitter frases no estilo “coisas que eu aprendi com o poker”. Variância, EV e controle psicológico são conceitos que nos ajudam no dia a dia. Quando sua televisão quebra, por exemplo, você fica puto da vida e desconta em meio mundo. Mas quando você comprou, sabia que existia o risco de quebrar: isso é variância. No meu caso, o poker me tornou uma pessoa muito mais serena.

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Bem desgastante, mas boa. Eu estou me dividindo entre empresário do Forfun, compositor, jogador de poker live e online, e gerente e treinador do projeto. Graças às pessoas que trabalham comigo, tenho flexibilidade para cumprir todas as minhas funções. Talvez seu principal projeto hoje seja a Poker Villa, com Caio Brites e Will Arruda. Como começou tudo isso e como se deu aproximação com eles? Meu primeiro contato com Caio foi no satélite em que eu havia puxado a vaga para o torneio. Eu notei que um tal de “CaioDream” estava infernizando a mesa, jogando muito mesmo. Lá no Nordeste Poker Fest, acabamos ficando na mesma mesa e, mais tarde, fizemos mesa final juntos. Chegamos a trocar porcentagens no prêmio. Mas nossa parceria mesmo começou depois que Vitor Brasil, que jogava ao vivo comigo na época, falou de mim para Caio. Eu era usuário do fórum MaisEV, e começamos a conversar. Foi então que decidimos criar nosso próprio fórum, o 4Bet.


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Eu conheci Will através de Caio. Eles já tinham o SNG Team Pro. E foi aí que meu jogo deu outro salto de qualidade. Will é o maior estudioso de poker no Brasil. Ele respira o jogo. Se ele não está dando aula, está jogando. Se não está jogando, está estudando. Ele assina todas as escolas de vídeo. Se está jogando contra alguém que faz uma jogada boa, ele vai atrás do cara e questiona o porquê daquela jogada. Eu passava horas – e ainda passo – conversando com ele sobre o jogo. Foi uma época bastante interessante. Juntos, vocês três estão patrocinando 23 jogadores, incluindo os da Poker Villa. Como surgiram esses projetos de “cavalagem”? Começou através de Caio e Will. Eles já tinham o SNG Team Pro, que era um projeto de coaching e cavalagem, mas queriam fazer algo relacionado a torneios. Então, nós três decidimos pegar uma grana e investir em alguém. O escolhido foi Fabiano “Kovalski”. Ele era do time de SNG, estava muito bem, e nós achávamos que ele poderia bater os torneios high-stakes da internet. Resolvemos cavalar Kovalski em uma grade de torneios mais caros, com buy-ins acima de $100 dólares, e ele foi muito bem. Em dois meses, lucrou mais de US$ 50 mil, enquanto nossa



expectativa era de 8 ou 10 mil. Foi então que chamamos Vitor Brasil, que também é um jogador fantástico, um dos melhores conheço. Vitor também começou muito bem. Como as coisas vinham dando certo, decidimos colocar mais uns 8 cavalos. Aí vieram Thiago Crema, Rafael Moraes, “Tuba” e “Japa”. O projeto cresceu, virou referência no Brasil e hoje, se você olhar, os principais jogadores online do Brasil são cavalos nossos. Quanto ao 4Bet Team, em que vocês selecionaram jogadores para disputar torneios live, o projeto deu certo? Que avaliação você faz? A ideia surgiu como uma maneira de divulgar o fórum, mas precisava ir além. A gente já tinha o projeto dos cavalos online, mas queríamos fazer algo mais. Quero deixar claro que muito do que fazemos é pensando no crescimento do poker nacional como um todo. Não é porque nós somos bonzinhos ou filantropos, mas porque acreditamos que o crescimento do esporte vai trazer mais torneios e mais investimentos e, consequentemente, um retorno maior para todos que trabalham no ramo, inclusive nós mesmos. Então, juntamente comigo, Will e Caio, entraram no projeto Igor Federal e Jorge Breda. O time era bem mesclado, com 12 jogadores. Colocamos uma mulher, Larissa Metran, alguns jogadores da nova geração do online e uns caras mais conhecidos do circuito live, além de um sujeito da mídia, Guilherme Kalil, que não era grinder, mas na época apresentava o podcast da CardPlayer Brasil. Era um investimento arriscado, de R$ 200 mil, mais ou menos. Sabíamos que não ganharíamos muito dinheiro com aquilo, mas também não queríamos perder. Vocês conseguiram recuperar o investimento? Há chances de uma “segunda edição”? Conseguimos sim, mas só aos 45 do segundo

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tempo, com a cravada do Stetson na penúltima etapa do BSOP 2010, em Salvador. Tivemos mesas finais e ITMs durante o ano, mas o lucro foi bem pequeno. No final das contas, atingimos nosso objetivo, que é o que importa. Nós nos divertimos muito, divulgamos o fórum, e só não fizemos de novo esse ano porque estamos muito focados no projeto do online. No futuro, quem sabe não pinta alguma coisa de novo? Mas, a princípio, não há nada de concreto. Você disse estar bastante focado no projeto online. Pode adiantar alguma coisa sobre isso? Bem, nós temos nos preparado bastante para o crescimento desse projeto. Hoje, a maioria dos nossos jogadores disputa os torneios mais caros da grade. Se não tem como crescer mais em relação aos buy-ins, temos que crescer no número de jogadores, mas sem deixar de lado a qualidade. O grande trunfo do nosso projeto são as aulas, a formação técnica que damos aos jogadores. No mundo inteiro, existem apenas três ou quatro projetos maiores que o nosso, no que diz respeito ao valor médio do buy-in e ao número de jogadores. O maior deles, de Cliff “JohnnyBax” Josephy e Eric “Sheets” Haber, que inclusive patrocinou Joe Cada, campeão da WSOP 2009, coloca cerca de 50 jogadores só no Main Event da WSOP. Ou seja, eles investem meio milhão de dólares.


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“ESTAMOS ANALISANDO A VIABILIDADE DE CRIAR UM PROJETO NO ESTILO POKER VILLA, SÓ QUE NO SUL DO PAÍS”

Em breve, haverá mais jogadores entrando para o time. Já estamos pensando em algumas maneiras de selecionar. Por enquanto, os jogadores entram por indicação ou quando nós achamos alguém com talento por aí. O que posso adiantar é que estamos analisando a viabilidade de criar um projeto no estilo Poker Villa, só que no Sul do país.

Nosso projeto é diferenciado por oferecer todo o treinamento para o jogador. Por que um cara como Kovalski, que já forrou uma nota preta, ainda não saiu? Porque ele sabe que vai aprender muito mais conosco, e que vai ter oportunidade de jogar torneios mais caros totalmente dentro da sua zona de conforto, sem ter que se preocupar em ganhar para pagar as contas no final do mês. Para a WSOP desse ano, levaremos “Kovalski”, “Zareta” e “disgueh” para disputar alguns torneios. Tem jogador no time que já chegou a ficar US$ 100 mil negativo, mas como o bankroll é do projeto e não de um jogador apenas, conseguimos arcar com essa variância. Há todo um suporte para cada jogador. É como a formação de um atleta.

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Você tem se mostrado um profundo conhecedor do poker, um livre pensador do jogo. O que você julga ser realmente necessário para vencer? Aprender a jogar não é tão difícil. Em três horas, eu lhe ensino tudo que sei, falo todos os conceitos. Se você vai aprender ou não, é outra história. Agora, é possível pegar um desses conceitos, “balancear o range”, por exemplo, e falar cinco horas sobre ele. Faço isso nas minhas aulas na Poker Villa e, mesmo assim, não é o suficiente. Algum tempo depois, tenho que voltar lá e falar novamente sobre “balancear o range”. Se você ler os livros e acompanhar os fóruns, aprenderá tudo sobre o jogo. O poker é limitado: só permite apostar, pedir mesa ou correr. Quando você joga em um nível alto, todo mundo sabe o que você sabe. Então, para lucrar, não basta jogar certo, é preciso jogar melhor do que o seu adversário. E como você faz isso? Explorando os pontos fortes do seu próprio jogo. Se você é melhor pré-flop, por que levar a briga para depois do flop? Poker é isso. Às vezes você vai estar por baixo, aplicar uma bad beat, mostrar uma feiúra. Apenas jogar corretamente não é o bastante para ser vencedor no poker. ♠


“Para lucrar, não basta jogar certo, é preciso jogar melhor do que o seu adversário”

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CALLS BRILHANTEs EM UM POKER DE

E

ALTO NÍVEL

nfrentar adversários de alto nível é sempre complicado. Blefar contra eles, então, nem se fala. Nesta coluna, apresento duas mãos em que encarei adversários duros e blefei em ambas.

Felipe Mojave @FelipeMojave felipemojave.com

Felipe Mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade, especialista em mixed games e profissional do Lock Poker.

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Exemplo 1 – WPT Londres 2010 Eu tinha 80 mil fichas com blinds de 800-1600 e ante de 200. Meu adversário era Praz Bansi, excelente jogador, muito conhecido no circuito internacional de torneios. Ele abriu raise de 3.600 em middle position. Eu voltei 10.800

do big blind com QQ e ele deu call. O flop veio AK7 de naipes diferentes. Em um pote acima de 20 mil fichas, e com nós dois com cerca de 70 mil restantes, resolvi disparar 14.500. Sei que com essa aposta eu ganho a maioria dos potes logo no flop. Estou representando em meu range AA, KK, AK, AQ e AJ, mas também pares médios, como 99 e TT. Com eles, eu possivelmente tribetaria da mesma maneira, já que Praz é um adversário que joga muitas


Praz Ba nsi

cont ra alg uém com eu daria slowplay mãos. Dificilmente lor de mãos boas, do ex trair mais va esse perfil, buscan ão. mesmo fora de posiç rn foi um dez. nha aposta e o tu mi na ll ca u de e El tomou seu tempo i check. Ele também Pensei bastante e de mpletou o bordo. . No river, um 5 co e deu check-behind lay com AA ou KK Praz não daria slowp , ra tu lei a nh mi la Pe e grande parte co daria float , já qu ou mp Ta o. çã ua sit nessa do o bordo. Só me esentava ter acer ta do meu range repr ções, ele ter ia algo e, na pior das sit ua restava acredit ar qu seria muito difícil ou KJs, e que assim s KQ s, AJ , AQ mo co rdo com AK7T5, o como essas num bo mã a um de ll ca r toma se range que daria Seria justamente es com apenas um par. cialidade de melho rn, pois ter ia poten check-behind no tu er. rar a mão para o riv muito tempo... mil. Ele pensou por 34 ei ar sp di , sim As ssivelmenEu sabia que ele po s. KQ m co ll ca o nd Acabou da tivesse uma leitura mão e, a menos que te daria fold nessa ria call. muito específ ica, da a muito bom sabia que o spot er A questão é que ele forças para turn lhe deu mais no k ec ch o e far para ble

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COLUNA acreditar nessa leitura (sabendo, óbvio, que eu apostaria tanto pelo valor quanto blefando). Esse é o tipo de jogada pelo valor que eu faria com grande frequência, por isso mesmo blefaria neste caso, representando valor. Belo call.

Exemplo 2 – BSOP Balneário Camboriú 2011 Eu tinha 18 mil fichas e os blinds estavam em 100-200. Meu adversário era ninguém menos do que Gabriel Goffi, temível jogador paulista de cash games high-stakes. Dispensa apresentações. Abri raise para 525 com T♦ 7♦ em middle position. O button deu call e Goffi, com base no meu stack efetivo, aumentou para 1.650 do small blind. Dei call em posição e o flop veio 9♦ 5♥ 2♠. Ele pediu mesa, eu também. No turn apareceu o 8♦, me deixando agora com duas pontas e um flush draw. Gabriel pediu mesa mais uma vez e eu disparei 2.500. Ele deu call e o river foi o 4♠. Ele rapidamente pediu mesa. Eu disparei mais 3.500. Depois de pensar bastante, ele deu call e ganhou a mão com 62 de naipes diferentes. Par de dois em um bordo com 9♦ 5♥ 2♠ 8♦ 4♠. Analisando essa mão, fica claro para mim que Goffi não queria envolver mais fichas no pote. Ele queria que o bordo não complicasse muito, encaminhando a mão para o showdown. O fato de ele ter tribetado pré-flop fora de posição e ter dado check nas três streets mostra isso. Obviamente, ele pode ter optado por algum tipo de slowplay. Seria improvável, mas não impossível. Seu range para 3-bet fora de posição, mesmo nas fases iniciais do torneio, é de 100% das cartas. Eu sei disso. Naquela altura eu vinha abrindo muitos raises pré-flop, o que me levava a crer que esse raciocínio era correto. Meu check-behind no flop representa muitas mãos, inclusive algumas com extremo valor e outras que não gostariam de ver um check-raise no flop. No turn, obrigatoriamente eu tinha de apostar, pois poderia fazê-lo largar AK e AQ. Ele poderia ainda demonstrar resistência no turn e dar fold no river se eu apostasse forte. Outro ponto é que minha mão, que não era nada no flop, ganhou equidade com a queda para straight-flush. No caso de eu completá-la, estaria totalmente invisível. 82

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COLUNA

Já no river, com a certeza de que ele gostaria de levar a mão para o showdown, fiquei bastante confortável para aplicar uma value-bet com 55+. O bordo 95284 era muito bom para isso. Com esse pensamento, ao invés de aplicar uma aposta forte, como fiz contra Praz Bansi, resolvi disparar uma falsa value-bet de 3.500. Goffi não representava pocket pair no range. Certamente ele apostaria no flop ou no turn com uma mão desse tipo. Assim, faria crer que os ases seriam um call heroico razoavelmente loose. Junto com esse raciocínio de range amplo para uma value bet “apertada”, transformando-a em value bet “falsa”, tem também tem a questão de meu range pré-flop ser grande demais para dar call em posição jogando com tantas fichas.

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Gosto das minhas jogadas. [...] Isso demonstra confiança em meu jogo e me ajuda na hora de extrair valor em mãos posteriores. É um risco calculado, tanto para mim quanto para eles.

O que talvez tenha desagregado valor da minha mão foi o check no flop. Isso, junto com a ideia do meu range amplo pré-flop, talvez tenha levado Goffi a dar call. Colocando tudo na balança, eu não tinha como dar check no river. Claro que as duas situações são um tanto indefinidas para meus oponentes e que ambos deram calls extremamente desconfortáveis. Um jogador menos preparado não raciocinaria tanto e tenderia a dar fold mais facilmente. Outros com bom aproveitamento também desistiriam por falta de confiança na leitura. Somente jogadores de alto nível dariam esse call no river. Ainda assim, menos da metade das vezes.

Gosto das minhas jogadas. Sei que meus oponentes querem levar a mão para o showdown, mas mostro resistência, mesmo tendo consciência de que eles podem dar call. Isso demonstra confiança em meu jogo e me ajuda na hora de extrair valor em mãos posteriores. É um risco calculado, tanto para mim quanto para eles. Mas do que eu realmente gosto é o call dos meus oponentes. Mesmo diante de uma situação complicada, eles ainda tiveram capacidade de raciocinar corretamente e acertar na decisão de dar call. Isso sim é poker de alto nível. ♠


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