Card Player Brasil Digital 51

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POKER

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SUMÁRIO 10

ANDRÉ AKKARI

O bracelete que mudou os rumos do esporte da mente no Brasil e também a vida do principal nome do poker brasileiro.

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ESPECIAL 78. CADERNO PARTYPOKER Saiba como jogar no partypoker e conheça os principais torneios do site.

RONALDO FENÔMENO

A legitimação do poker como esporte através de um dos maiores ídolos da história do futebol.

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BRUNO FOSTER

A história da mesa final mais importante do poker brasileiro: Bruno Foster e sua participação no November Nine.

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E MAIS 86. CARD CLUB Clubes de poker.

THIAGO DECANO

Relembre a incrível história do terceiro bracelete do Brasil conquistado por Thiago Decano em 2015.

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IGOR FEDERAl

A histórica entrevista do ex-presidente da CBTH sobre a regulamentação e o futuro do esporte da mente no Brasil.

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ESPECIAL

10 ANOS

Akkari pode não ser o melhor jogador do Brasil, mas definitivamente é o principal. Ninguém tem um nome tão forte quanto o segundo brasileiro a conquistar um bracelete da World Series of Poker. Seu título, em 2011, levou o poker brasileiro e a sua carreira a um patamar inacreditável. Capa da nossa edição número 48, logo após sua vitória histórica, ele é também o único jogador profissional de poker a ser patrocinado por uma empresa de equipamentos esportivos, a Puma.

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ANDRé AKKARI cardplayer 10 anos

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AndrE

Akkari do brasil POR BRUNO NÓBREGA DE SOUSA FOTOS: WSOP

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>>> uando o evento 43 da WSOP 2011 começou, uma multidão composta por 2.857 jogadores lotava os salões do Rio Hotel e Cassino. Entre os que pagaram o buy-in de $1.500 dólares estava André Akkari. Em meio aos altos e baixos de todo torneio com field gigantesco, suas fichas oscilaram, mas jamais desapareceram. Os dias se sucederam, a bolha estourou, a mesa final foi formada. Akkari continuava entre aqueles que ainda carregavam no peito a esperança do título. Chegou-se ao heads-up, e de pé continuava aquele corintiano do Tatuapé, agora apoiado por uma torcida de proporções inéditas na Série Mundial. Não deu outra. O mais brasileiro dos jogadores superou o oponente americano em plena Las Vegas, e conquistou o tão sonhado bracelete de ouro. Todos os detalhes dessa trajetória você confere agora, nessa entrevista exclusiva com o mais novo Campeão Mundial de Poker: André Akkari do Brasil.

Você ficou quase três meses longe do Brasil, numa espécie de “concentração” para a WSOP, trazendo inclusive sua família com você. Como foi sua rotina e sua preparação durante esse tempo? Eu vim para Vegas faz dois meses e meio. Foi a primeira vez que não fiquei em hotel. Eu não aguentava mais ambiente de cassino, essas coisas, então a Maridu me indicou esse apartamento. Ela mora aqui nesse condomínio também. Aluguei por dois meses, joguei torneios no Aria e no Bellagio, depois fiquei quase duas semanas sem jogar, trabalhando mais a parte física. Eu corria no parque todo dia, jogava tênis, e por aí vai. Eu tentava viver uma vida mais perto o possível do normal, para tentar fazer bonito na WSOP. Graças a Deus, deu certo.

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UMA DAS COISAS QUE MUDaram NO MEU JOGO LIVE FOI QUE APRENDI A ACEITAR O QUE TENHO NO MOMENTO. NÃO IMPORTA O QUE JÁ TIVE, EU PRECISO TRABALHAR COM O QUE TENHO. 14

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>>> Fora essa questão da preparação, e de estar o tempo todo perto da família, que o deixou mais tranquilo para jogar, você foi “patrocinado” em uma grande quantidade de eventos nessa World Series. Como funcionou isso? Inicialmente, meu plano era disputar pouco mais de dez eventos. Mas no PCA das Bahamas, no começo do ano, acabei recebendo uma proposta bem interessante de alguns patrocinadores. Os caras me ofereceram disputar 35 eventos, e eu ficaria com 34% do que ganhasse. Fiquei feliz, porque, bem mais do que dinheiro, eu queria jogar muitos eventos: treinar, disputar cada vez mais eventos, coisa que nos outros anos eu não tive oportunidade de fazer. Essa foi a minha quarta World Series, e a terceira vez que participei do Main Event. Foi também a primeira vez que joguei “cavalado”, nunca tinha sido assim antes. Eu fiquei feliz com a proposta. Os caras têm uma energia boa, o que faz toda a diferença para mim. Se eles fossem uns “malas”, eu não iria querer fazer. Quando cheguei aqui, estava tudo preparado. Eles já tinham depositado o dinheiro para mim no cofre do Rio, todos os buy-ins já estavam feitos. Assim, fica tudo mais fácil. Você vai preparado para fazer a parada com calma, sem ter aquele perrengue de correr atrás de buy-in. Depois foi só festa. O mais legal é que eles ficaram, tipo, 0% felizes por causa do dinheiro. Essa grana não tem nada a ver para eles. Quando eu falei com os caras, eles estavam comemorando ao telefone. Foi quando percebi que era muito mais do que apenas dinheiro.

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NA WORLD SERIES A GENTE VÊ MUITA GENTE MENOSPREZANDO O BRASIL, MAS NAQUELE DIA, OS CARAS TIVERAM QUE NOS ENGOLIR, TIVERAM QUE VER NOSSA BANDEIRA NO ALTO E OUVIR NOSSO HINO TOCAR.

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>>> Mesmo com toda a preparação e com a tranquilidade em relação aos buy-ins, as coisas poderiam ter dado errado, afinal, o poker muitas vezes é ingrato. Para a disputa dessa World Series, você mudou alguma coisa no seu jeito de jogar? Na verdade, eu já vinha num bom momento em torneios live. Minha carreira sempre foi muito focada no online: eu tive muitos resultados jogando na internet. Só que também tive resultados ao vivo, por mais que não aparecessem, porque não era bracelete, não era WPT nem LAPT. Mas eu sempre estive ali, na cara do gol, várias vezes, inclusive na World Series. Quando fui jogar o LAPT do Peru, em que houve aquele incidente com meu pai [nessa ocasião, Akkari voltou às pressas para o Brasil após receber a notícia da morte do pai], eu já vinha numa pegada muito boa de torneios live. Eu me sentia bastante confortável. Fui para Madri, joguei bem, cheguei com muitas fichas no Dia 2. Então, quando cheguei para essa WSOP, tinha feito vários ajustes do meu jogo, de postura, de estratégia etc. Eu estava com tudo meio esquematizado para dar certo.

O evento 43 teve 2.857 jogadores inscritos, um dos maiores fields da World Series desse ano. Em se tratando de um evento tão longo, quais momentos você destacaria como cruciais para sua vitória? O torneio começou com 4.500 fichas. No primeiro level, desci para duas mil e poucas. No segundo, fiquei pequeno. Aí dobrei duas vezes, fui para umas 6.000 fichas. Depois disso, não desci mais. Cheguei a ter 35 mil, mas perdi um all-in pré-flop no final do Dia 1 e caí para 17 mil. Eu tinha um par de ases e o cara tinha ás-rei, mas ele acabou acertando um flush. Terminei o dia com 25 big blinds, nada desesperador.

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EU CLIQUEI NO REFRESH DO TWITTER E VI 3 MIL MENSAGENS, DEPOIS 6 MIL, DEPOIS 8 MIL. FOI SURREAL.

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No heads-up decisivo, você entrou com uma desvantagem de quase 3-para-1 em fichas e conseguiu reverter a situação. Como foi isso? Esse cara que fez o heads-up jogou comigo desde o Dia 2. A gente se enfrentou várias vezes. Não que ele fosse um jogador fraco, mas eu via que ele não estava preparado para aquilo tudo. Só que poker é poker, não adianta você ter mais condição se tudo conspira contra. Quando o heads-up começou, eu cheguei a empatar. Aí veio um KQ contra K2, e, se eu pegasse um cara bom, seria eliminado, mas ele era fraco nesse ponto. Eu consegui sobreviver com esse K2 num flop de K73. Ele deu check, eu apostei, ele deu call. Isso nas três streets. Tomei um susto. Dei uma overbet no river torcendo para ele pagar. Ele foi para 9 milhões e eu fiquei com 3 milhões.

No primeiro dia do heads-up, estava dando tudo certo para ele. Mas vi que, na habilidade, eu estava puxando. Cheguei a apostar por valor com o quarto par, um par de dez num bordo KQ3. Isso foi me dando ar. Eu sabia que, quando passasse esse momento dele, eu iria puxar.

Aí acabou o terceiro dia. Foi bom. Na hora você não quer que acabe, quer decidir o heads-up ali mesmo. Mas pensando bem, foi bom, porque, se ele continuasse acertando mais mãos do jeito que vinha acertando, não daria para mim. E tudo que ele acertava, eu acertava abaixo. Teve um flop com KQ3: eu tinha AQ, e ele, KJ. É complicado, num heads-up daqueles, você ficar acertando uma carta abaixo do cara.

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Nessa reta final, a torcida brasileira estava ensandecida, como nunca se viu na World Series. Como você vê a importância de todo esse apoio para sua vitória? Eu disse a Paula, minha esposa, várias vezes: “Eu me considero um cara criativo, mas se fosse para criar uma parada, eu não conseguiria imaginar uma coisa daquelas, do jeito que foi”. Quando começou a mesa final, a torcida já estava bizarra, mas em nenhum momento eles me tiraram a concentração. Parecia que, quanto mais eles gritavam, mais focado eu ficava. Quando restavam nove caras, a pressão da torcida era dividida. A galera não estava torcendo contra ninguém, e sim a meu favor. Isso aliviava a barra dos oponentes. Mas quando estávamos em três, eles sentiram a pegada. Claro que houve momentos descontraídos, como as piadinhas sobre o nariz do cara [risos]. Mas isso era sempre quando o dealer estava embaralhando, jamais no meio da mão. A torcida brasileira foi 100% competente. Em nenhum momento, ninguém zoou o americano durante a mão, não falavam nada, não gritavam, nada. Coisa que a torcida dele, por menor que fosse, fazia. Várias vezes, enquanto eu estava pensando, os caras gritavam “fold, fold”. A galera do Brasil em nenhum momento fez isso. Era como no tênis. Parte desse título é da galera. Ela fazia os caras errarem. No heads-up, teve um AT contra meu KK que o cara pagou. A torcida tem parte nisso. Ela sufocava o americano, que ia ficando vermelho, meio que pensando: “Vamos flipar duas, três vezes e acabar logo com isso”. Eu tenho para mim que aquele AT era o limite que ele daria fold se não tivesse a torcida. No heads-up, a galera cantou a música do Senna, aquele tema da vitória. Nossa, me deu uma vontade de chorar. Os caras viram que eu estava ficando emocionado e passaram a cantar mais alto. Quase comecei a chorar no meio do heads-up.

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Depois eles começaram Aquarela do Brasil, aí quase chorei de novo. Mas o grande momento foi o da cravada mesmo, quando a galera entrou na área de jogo e começou a festejar. Nisso, meu celular ainda estava em cima da mesa. Eu cliquei no refresh do Twitter e vi 3 mil mensagens, depois 6 mil, depois 8 mil. Meus amigos de São Paulo, uma galera que não tem nada a ver com poker, todo mundo me mandando mensagem. Foi surreal.

E agora, o que muda para você na sua carreira? E no poker brasileiro? Para mim, é uma coisa que eu queria muito. Eu queria ganhar um evento grande, mas não para mostrar aos outros que ganhei, nem para provar qualquer coisa. A mudança de vida que consegui com esse esporte é a maior prova de que poker é habilidade. Em termos técnicos, não é um bracelete que vai fazer diferença. Vou continuar estudando, melhorando o que preciso melhorar e explorando meus pontos fortes. Agora, dentro do meu universo pessoal, de família, amigos, patrocinador etc., é fenomenal. Todo mundo que gosta de mim, que sabe que eu vivo disso, queria que eu cravasse a parada. Esse é o ponto que faz diferença para mim. Sem falar que isso vai para a minha história, para o resto da vida. É algo que vou poder mostrar aos meus netos. Para o Brasil, acho que reforça a ideia de habilidade, de esporte mental. Mas é injusto dizer que eu sou o responsável. Tem uma galera batalhando pelo poker no dia-a-dia. É o caso de Igor Federal, sempre lutando na CBTH; de Christian Kruel e Raul Oliveira, que já jogavam quando eu ainda nem sabia o que era flop, turn e river; e também a galera do online, montando times. Como o Brasil só tinha ganhado um bracelete até hoje, essa ideia de que poker é habilidade ficava muito no discurso. Essa vitória vem reforçar isso. Esse bracelete é mais um argumento a favor do poker.

COMO O BRASIL SÓ TINHA GANHADO UM BRACELETE ATÉ HOJE, A IDEIA DE QUE POKER É HABILIDADE FICAVA MUITO NO DISCURSO. ESSA VITÓRIA VEM REFORÇAR ISSO. ESSE BRACELETE É MAIS UM ARGUMENTO A FAVOR DO POKER.

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Agora, como campeão mundial de poker, que recado você dá aos jogadores brasileiros que tanto torceram e se emocionaram com essa conquista? Já consegui muita coisa na minha carreira. Eu não preciso ser hipócrita e dizer coisas como: “O título não é só meu, é nosso”. Mas, na realidade, o título é mesmo de todo mundo. É de quem acompanhou em casa, de quem estava ali torcendo do meu lado. A mente humana tem muito mais poder do que a gente imagina. Na minha cabeça, todos os que torceram me ajudaram, e muito.

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A maior alegria quem teve fui eu, claro, mas somando a alegria de todo mundo, fica maior do que a minha. Só tenho a agradecer a todo mundo. Na World Series, a gente vê muita gente menosprezando o Brasil, mas naquele dia, os caras tiveram que nos engolir, tiveram que ver nossa bandeira no alto e ouvir nosso hino tocar. Foi um momento mágico, realmente inesquecível. ♠


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ESPECIAL

10 ANOS

A entrada de Ronaldo Nazário, um dos maiores jogadores de futebol da história, para o PokerStars foi um marco para o poker nacional. Capa da edição 69 da Card Player, Ronaldo foi o símbolo da legitimação do poker como esporte para a imprensa esportiva. Foi a partir daquele ano, 2013, que o poker entrou de vez na pauta dos grandes veículos de comunicação.

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RONALDO FENÔMENO cardplayer 10 anos

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RONALDO FENÔMENO

O CAMISA 9 DO POKER BRASILEIRO

por Marcelo Souza

“Tem mais esporte na minha vida. Agora é all-in!”. O leitor poderia se perguntar por que a escolha dessa frase para a abertura da matéria. Uma sentença, aparentemente, comum. Bem, seria... se não fosse pelo detalhe que ela foi usada para anunciar a notícia que foi destaque nos principais veículos especializados em poker do mundo: a contratação de Ronaldo Nazário, o “Fenômeno”, pelo PokerStars. No último dia 04 de abril, pelo Twitter, Ronaldo, que tem mais de 3.5 milhões de seguidores, postou a mensagem enigmática sem dizer do que se tratava. Para os fãs do poker, estava claro. A euforia do Team Pro André Akkari, que dava as

boas-vindas a ele, serviu para confirmar o que todo mundo imaginava. O anúncio oficial veio algumas horas depois: Ronaldo era o novo “camisa nove” do PokerStars. Ronaldo não chega para ser um profissional em busca de glória e fortuna – tudo isso, ele já conquistou ao longo de sua vitoriosa carreira. Ronaldo chega para ser um embaixador do poker. Ele se juntará a outros monstros sagrados do esporte – como o tenista Rafael Nadal – no Team PokerStars SportStars, uma equipe composta apenas por atletas e ex-atletas que adotaram o poker como o “segundo esporte”.

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Ainda assim, o “Fenômeno” já avisou que vai buscar seu lugar no esporte mental: “Sempre busco entregar o meu melhor em tudo, no futebol e na vida. O poker é mais um desafio que me empolga: ler o jogo e os adversários e escolher o melhor caminho para vencer”, diz o ex-centroavante da seleção brasileira. Para o PokerStars, a contratação de Ronaldo agrega ainda mais valor à marca. O principal site de poker do mundo traz para o seu time um dos maiores ídolos recentes do esporte mundial. A imagem de Ronaldo é uma das mais valiosas do Brasil. Não por acaso ele tem contrato milionários com empresas como a Claro e a Nike. Sua história aguerrida e vitoriosa combina perfeitamente com algumas das qualidades que o PokerStars busca em seus representantes: “Ronaldo simboliza os valores que buscamos no poker: genialidade, talento, dedicação e a fibra de que são feitos os grandes campeões do esporte“, afirma Jose del Piño, diretor do PokerStars na América Latina. “Ter o Ronaldo como um embaixador da marca é um orgulho e nos empolga com a oportunidade de ajudá-lo a melhorar suas habilidades de jogo”, completa.

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Ter o Ronaldo como um embaixador da marca é um orgulho e nos empolga com a oportunidade de ajudá-lo a melhorar suas habilidades de jogo” O primeiro teste deste novo momento do poker e também para o “Fenômeno” é no final de abril. Entre os dias 25 e 30, na etapa de São Paulo do LAPT (Latin American Poker Tour), Ronaldo fará sua estreia com o patch do PokerStars. Se depender do seu treinador, ele deve se sair bem. “Já há algum tempo venho descobrindo esse jogo de tantas habilidades. O André Akkari, o gênio da modalidade, tem sido meu mentor”, conta Ronaldo, que no ano passado participou pela primeira vez de um torneio ao vivo, o Master Minds II. Após o LAPT é possível que já se tenha uma ideia da dimensão da parceria entre Stars e Ronaldo. Para o poker brasileiro, a contratação do astro pode representar um “boom” semelhante ao “boom do poker

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online” em 2003 – depois do título da WSOP de Chris Moneymaker, até então, um simples amador. Ronaldo é uma das poucas figuras públicas capazes de chamar a atenção das mais variadas vertentes. Seus fãs estão espalhados pelos quatro cantos do Brasil. São homens e mulheres de todas as idades e culturas. Pela primeira vez na história, o poker vê a oportunidade da massificação. Um processo ainda longo, que já começou há anos e que tem em Ronaldo um possível “catalisador”. Agora, como o próprio “Fenômeno” disse, “é All-in!”


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FICHA TÉCNICA NOME:

Ronaldo Luís Nazário de Lima

NICK NO POKERSTARS:

Ronaldo

IDADE:

36 anos

APELIDOS:

Ronaldinho, R9 e Fenômeno

CLUBES QUE DEFENDEU: Cruzeiro, PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid, Milan e Corinthians.

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GOLS NA CARREIRA:

414 (62 pela seleção brasileira).

PRINCIPAIS FEITOS:

• Três vezes eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA (1996, 1997 e 2002). • Maior artilheiro de todas as edições da Copa do Mundo (15 gols no total). • Bicampeão mundial pela seleção brasileira (1994 e 2002).

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OS MELHORES BARALHOS DO MUNDO

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ESPECIAL

10 ANOS

Estrela das edições 84 e 86, em 2014, Bruno Foster entrou para a história do poker nacional ao se tornar o primeiro jogador do Brasil a chegar à mesa final do Main Event da World Series of Poker. Desde então, o embaixador do 888 Poker se tornou um dos nomes mais influentes do esporte da mente brasileiro.

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BRUNO FOSTER cardplayer 10 anos

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HISTÓRICO BRUNO FOSTER LEVA O BRASIL AO NOVEMBER NINE Por Marcelo Souza

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oyle Brunson uma vez disse a seguinte frase, imortalizada no filme Rounders – cartas na Mesa: “O No-Limit Texas Hold’em é o cadillac do poker”. Nos eventos de poker, esse cadillac seria o Main Event da World Series of Poker (WSOP). Não importa o valor do buy-in ou onde são disputados, nenhum dos torneios do mundo atrai tantas pessoas, direta e indiretamente, como o Main Event. O público é o mais eclético possível. Basta uma rápida circulada pelos salões do Rio casino e você trombará com astros

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do basquete, do futebol e do cinema; com americanos, europeus e asiáticos; com mulheres, idosos e jovens. Neste ano, não teríamos nada de diferente, se não fosse por um detalhe: pela primeira vez, desde 1970, quando começou a ser disputado, o mundo verá um brasileiro no principal torneio de poker do planeta. No último dia 15 de julho, o cearense Bruno Foster entrou para história ao se tornar um November Nine, nome dado aos nove finalistas do Main Event, desde 2008, em alusão à mesa final ser disputada no mês de novembro.

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com 31 anos, Foster tem a chance de ganhar o terceiro bracelete da WSOP para o Brasil e uma premiação de US$ 10.000.000, o equivalente a R$ 24 milhões. Apesar de ter o menor stack entre os finalistas, a situação está longe de ser desesperadora. com 30 big blinds, Foster terá bastante espaço para impor seu jogo. Para chegar à decisão, ele teve que encarar 68 horas de jogo e 6.683 jogadores que pagaram o buy-in de US$ 10.000. Agora, ele terá pouco mais de 100 dias para se preparar e estudar os adversários, uma vez que a mesa final só será realizada nos dias 10 e 11 de novembro.

Foster começou a chamar a atenção no Dia 4, quando jogou por bastante tempo na mesa da TV e chegou a ser o chip leader do torneio. A atuação rendeu elogios do maior vencedor da história da WSOP, Phil Hellmuth, que afirmou que o Brasil teria, com Foster, um representante entre os November Nine. A partir dali, ele figurou sempre entre os líderes e a tão sonhada mesa final era questão de tempo. No Dia 7, quando o mexicano Luis Velador foi eliminado, a torcida brasileira, na internet, no Brasil e em Vegas, explodiu. A história estava começando a ser escrita, e, independentemente do desfecho, já tem final feliz.

A TRAJETÓRIA DE BRUNO FOSTER NO MAIN EVENT DA WSOP 2014

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Dia 1c

Dia 2c

Dia 3

Dia 3

Dia 4

Dia 6

Dia 7

STAck AO FINAL DO DIA

66.800

72.400

110.000

2.280.000

5.475.000

11.625.000

12.125.000

NÚMERO DE BIG BLINDS

134

45

28

190

137

97

30

MÉDIA DE FIcHAS

77.980

107.560

268.750

688.970

2.537.850

7.425.555

22.276.667

POSIÇÃO

474/2.571

1.134/1.864

598/746

5/291

4/79

6/27

9/9

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AS PRINCIPAIS MÃOS QUE LEVARAM BRUNO FOSTER AO NOVEMBER NINE Dia 4 – Flip valendo a vida contra Phil Ivey Jogadores Restantes: 574/6.683 Média: 350.000 fichas Blinds: 3.000-6.000 com ante de 1.000 Do UTG, Bruno Foster (175.000 fichas) abre raise para 14.000. Imediatamente à sua esquerda, Phil Ivey (750.000 de fichas) reaumenta para 45.000. A ação volta até Foster, que empurra suas últimas 161.000 fichas para o centro da mesa. Ivey paga. Foster: 9-9 Ivey: A-K Bordo: Q-Q-5-3-5 Foster vence um flip decisivo contra um dos melhores jogadores do mundo e ultrapassa a média de fichas do torneio.

Dia 5 – Set over set para a liderança Jogadores Restantes: 219/6.683 Média: 915.000 fichas Blinds: 8.000-16.000 com ante de 2.000 Do meio da mesa, Bruno Foster (2.340.000 fichas) abre raise para 40.000. No botão, Zach Jiganti (3.000.000 de fichas) faz tudo 114.000. A ação volta até Foster que reaumenta para 276.000, e é pago. Flop: A♥ K♠ 9♥

Foster aposta 279.000 e vê Jiganti colocar 657.000 na mesa. O brasileiro pensa por quase quatro minutos e aumenta novamente para 1.200.000. Até então chip leader, Jiganti não leva muito tempo para colocar Foster em all-in, que paga instantaneamente. Foster: K♦K♥ Jiganti: 9♦9♠ O 8♦ e o 5♣ que completam o bordo não mudam nada, e Bruno Foster assume a liderança do Main Event com quase 5.000.000 de fichas.

Dia 6 – Uma trinca de 10 milhões Jogadores Restantes: 37/6.683 Média: 5.420.000 fichas Blinds: 50.000-100.000 com ante de 10.000 Bruno Foster (6.240.000 fichas) aumenta para 250.000. No cutoff, Robert Park (4.500.000 fichas) faz uma 3-bet para 575.000. Foster paga. Flop: A♠ 9♥ 2♠ Foster pede mesa, mas paga a continuation bet de 675.000 de Park.

River: K♥ Foster aposta 1.200.000 e é pago instantaneamente por Park. Foster: 9♣7♣ Jiganti: A♥K♠ O brasileiro chega a 10,4 milhões de fichas, quase o dobro da média.

Dia 7 – November Nine, finalmente Jogadores Restantes: 10/6.683 Média: 20.490.000 fichas Blinds: 200.000-400.000 com ante de 50.000 Do meio da mesa, Bruno Foster (13.025.000 fichas) aumenta para 900.000. No button, Mark Newhouse (19.850.000 fichas) paga. Luis Velador (6.150.000 fichas) anuncia all-in do small blind. Foster pensa por quase dois minutos e larga. Newhouse pensa por um tempo, mas paga. Velador: 4♦4♥ Newhouse: 5♥5♠ Bordo: A♣ A♥ 6♦ 3♥ A♠ Luis Velador é eliminado e a mesa final, com o brasileiro Bruno Foster, é formada.

Turn: 9♠ Foster pede mesa, assim como Park.

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OS OITO OBSTÁCULOS DE

BRUNO FOSTER No dia 10 de novembro, quando as cartas forem distribuídas, Bruno Foster terá um stack de 12.125.000 (30 big blinds) para buscar o tão sonhado prêmio de US$ 10 milhões. Para isso, ele terá que enfrentar os seguintes adversários:

BILLY PAPPAS (EUA) Assento 1

FELIX STEPHENSEN (NORUEGA) Assento 2

JORRYT VAN HOOF (HOLANDA) Assento 3

MARK NEWHOUSE (EUA) Assento 4

MARTIN JACOBSON (SUÉCIA) Assento 8

DAN SINDELAR (EUA) Assento 7

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IAM TONKING (EUA) Assento 6

ANDONI LARRABE (ESPANHA) Assento 5


ASSeNTo 1: “BIllY (eSTADoS UNIDoS)

PAPPAS”

Stack: 6º – 17.500.000 (44 bbs) O dealer William Pappaconstantinou fez a sua estreia no Main Event da WSOP neste ano. O seu currículo no poker é modesto. Em quatro anos, jamais conquistou um título, mas já conheceu o mundo graças a um outro jogo, o pebolim. Pappas já foi campeão mundial da modalidade e jogou etapas por todo o planeta.

ASSeNTo 2: FelIX STePHeNSeN (NoRUegA) Stack: 2º – 32.775.000 (82 bbs) com 23 anos, o norueguês Felix Stephensen trocou a capital da Noruega, Oslo, pela capital da Inglaterra, Londres. com apenas 22 mil dólares ganhos em torneios ao vivo, ele é um dos finalistas mais inexperientes. Essa foi somente a sua segunda participação no Main Event, o único torneio em que registrou-se na WSOP 2014.

ASSeNTo 3: JoRRYT VAN HooF (HolANDA) Stack: 1º – 38.375.000 (96 bbs) Pelo segundo ano consecutivo, a Holanda marca presença no November Nine, e cabe a Jorryt van Hoof a responsabilidade de conquistar um resultado melhor que a 7ª posição de seu antecessor Michiel Brummelhuis. Pesa contra o holandês o fato de que somente um chip leader na história do November Nine conseguiu ficar com o bracelete, Jonathan Duhamel, em 2010. A seu favor, sua vasta experiência no poker. O jogador joga cash game high-stakes de pot-limit Omaha sob o pseudônimo de “Thecleaner11”.

O curioso sobre seu nick é que ele foi escolhido devido a um duelo contra um dos principais jogadores do mundo: Justin “ZeeJustin” Bonomo. Na época, após uma sessão contra Jorryt, que usava o nickname “Jorrytvh”, Bonomo foi perguntado contra quem ele estava jogando. O norte-americano respondeu: “I don’t know, but he cleaned me out” [Eu não sei, mas ele me limpou].

ASSeNTo 4: MARK NeWHoUSe (eSTADoS UNIDoS) Stack: 3º – 26.000.000 (65 bbs) Ele é o cara para quem os holofotes estão virados. Desde o boom do poker, no ano de 2003, apenas Mark Newhouse conseguiu chegar a duas mesas finais no Main Event da WSOP — e de forma consecutiva. campeão do World Poker Tour Borgata 2006, o norte-americano, um dos jogadores mais experientes da mesa final, quer apagar a “desastrosa” 9ª colocação conquistada no November Nine do ano passado.

ASSeNTo 5: ANDoNI lARRABe (eSPANHA) STAck: 4º – 22.550.000 (56 BBS) Torcedor fanático do Athletic de Bilbao, Andoni Larrabe quebrou um jejum de 13 anos sem espanhóis na mesa final do Main Event. Outro morador de Londres, o profissional conquistou o melhor resultado da sua carreira no PcA 2013. Ele venceu o Evento #18 da série e faturou US$ 218.710.

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ASSeNTo 6: WIllIAM ToNKINg (eUA) STAck: 7º – 15.050.000 (38 BBS) Mais conhecido por seus feitos nos cash games online, Tonking conseguiu ficar ITM nos três torneios da WSOP que disputou neste ano. Se conseguir acumular fichas, pode ser tornar um adversário perigoso.

ASSeNTo 7: DAN SINDelAR (eUA) STAck: 5º – 21.200.000 (53 BBS) Dan Sindelar tinha um péssimo retrospecto no Main Event. Mas em sua sétima participação no torneio, ele não só conquistou o primeiro ITM como também foi para a mesa final. Aos 31 anos, seu melhor resultado no poker foi o título do Fall Poker classic 2007, em que ganhou US$ 105.000.

ASSeNTo 8: MARTIN JAcoBSoN (SUécIA) STAck: 8º – 14.900.000 (37 BBS) Um dos principais destaques do Main Event, Martin Jacobson passou o torneio todo entre os líderes, mas quando retornar ao seu assento, ele terá o segundo menor stack. com cerca de US$ 4,8 milhões conquistados em torneios ao vivo, ele é o finalista com os melhores resultados entre os November Nine. Ele já chegou a outras mesas finais da WSOP, WSOP Europa e EPT.

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BRUNO

FOSTER O D N U M O A

CONTR Fotos e foto de

capa: Luis Berta

Por Diego Scor vo

zini

Fique por dentro da preparação do primeiro brasileiro a chegar ao November Nine da WSOP

O

profissional Bruno Foster está no lugar certo. No topo do mundo. Carismático, o paulista — mas cearense de berço e de coração — já mostrou, em pouco tempo, que será um grande embaixador do esporte da mente. Por onde passa, Foster esbanja simpatia e um poker afiado, que o credenciou a representar o Brasil na mesa final mais cobiçada do mundo. O resultado do brasileiro já vem lhe rendendo frutos. Além dos diversos convites para entrevistas de jornais e revistas “off-poker”, Foster acabou de fechar contrato com o 888poker, a segunda maior plataforma de poker online do mundo, se juntando aos também contratados do site Nicolau Villa-Lobos e Bruno Kawauti. Postulante ao maior feito da história do poker brasileiro, Foster aproveitou o hiato do Main Event e conversou com a Card Player Brasil.

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Estou indo lá para buscar o bracelete. Ficar em nono ou segundo não adianta nada. Só o primeiro será o campeão do mundo. Você lembra quem ficou em terceiro há dois anos?”

Diego Scorvo: Quando começará a sua preparação para o November Nine, que acontecerá nos dias 10 e 11 de novembro? Bruno Foster: Trinta dias antes da mesa final. Meu técnico, Ariel Bahia, e eu vamos começar um estudo dos meus oponentes, que ele já está preparando. Mas, no momento, tenho jogado tudo que posso. DS: Você vem mostrando muita confiança. Será assim também durante a final? BF: Sim. Estou indo lá para buscar o bracelete. Ficar em nono ou segundo não adianta nada. Só o primeiro será o campeão do mundo. Você lembra quem ficou em terceiro há dois anos? Ninguém se recorda. Já estou marcado por ser o primeiro brasileiro no November Nine, mas para ficar mesmo na história, tem que trazer o bracelete. O Brasil merece essa joia e eu estou indo lá para isso.

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DS: Vários finalistas cedem à pressão do November Nine, que é algo completando único. Essa confiança que você mostra é fundamental? BF: Sim. Confiança, determinação e dedicação são fundamentais. Esse é um jogo em que cada jogador tem que fazer por onde. O poker exige um pouco de tudo, principalmente preparo físico e mental. Vou estar me preparando ao máximo, e acredito que no dia 10 de novembro mostrarei meu A-game. DS: Dos seus oito oponentes, quem você mais enfrentou durante o torneio? BF: Passei mais tempo ao lado do (Mark) Newhouse e do (Martin) Jacobson, que são dois dos três profissionais. O Jacobson, na minha opinião, é o jogador mais perigoso da FT. Tecnicamente falando, ninguém se compara a ele. Mas chegando na hora, tudo se nivela, todos merecem estar ali, não há nenhum aventureiro na decisão. Mesmo ainda sem fazer um estudo detalhado, posso dizer que o holandês (Jorryt van Hoof) me dará muito trabalho. O jogo dele é excelente, principalmente pós-flop.


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Não posso não estar feliz ao ver as pessoas me abraçando, me apoiando, me desejando o bem. Acho que esse é o momento mais feliz da minha vida, com toda a certeza.”

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DS: Você ficou entre os líderes durante boa parte do torneio, mas na bolha da FT, você era um dos shorts. A pressão era grande? BF: Não, eu estava bem tranquilo, muito focado. Por ter ainda 40 bbs, sabia que não seria o bolha. Estava com muitas fichas, não me assustei. DS: Você teve a maior torcida do evento e terá mais uma vez. Qual a importância de contar com o público ao seu lado? BF: A torcida é importante em vários aspectos. Primeiro, por me colocar para cima quando mais preciso. Quando tomei duas trincas para o Newhouse, eles não me deixaram abater. Aquilo é tão forte que você se


sente bem e pensa: “Não será agora”. O que passa na hora é indescritível. Não estou jogando em casa, mas sinto como se estivesse, e no November Nine será ainda mais gente. DS: Muitas pessoas da sua família irão ao November Nine? BF: A minha mãe, irmã, avó e namorada irão. Meu pai não poderá ir por causa do trabalho. A torcida será grande. DS: Como você vem lidando com o assédio nas redes sociais? BF: É gratificante contar com todo esse apoio. O mínimo que posso fazer é responder quem se dá ao trabalho de falar comigo. Isso tudo me motiva, me deixa bem. Eu estou

realizando o meu sonho, mas também o de todo brasileiro que joga poker. Não posso não estar feliz ao ver as pessoas me abraçando, me apoiando, me desejando o bem. Acho que esse é o momento mais feliz da minha vida, com toda a certeza. DS: Você já sabe o que fazer com os US$ 10 milhões que ganhar? BF: Não posso dizer que já tenho uma meta. Pode parecer hipocrisia, mas tenho muito mais vontade de ganhar o bracelete que os US$ 10 milhões. Para mim, é muito mais importante. Eu tenho uma vida estável, o dinheiro agregaria muito, mas sonho muito mais com a joia.

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DS: Você vem jogando muitos torneios. O plano é descansar ou seguir engatando? BF: Vou continuar colocando a “mão na massa”. Vou para o LAPT Peru, BSOP Florianópolis. Não posso parar. Agora é o momento de ter foco, dedicação e muito estudo. Este é o momento mais importante da minha vida e tenho que pisar no acelerador, não no freio. Junto com o Ariel, vou traçar um plano e executá-lo. DS: Na jogada [ver “Aconteceu Em Um Torneio”, p. 88] que decidiu os finalistas da WSOP, você abriu raise do meio da mesa, Mark Newhouse deu call no button e Luis Velador empurrou all-in de 15 bbs do small blind. É verdade que você tinha 10-10? Se sim, por que o fold? BF: Sim, é verdade. Quando eu abri de 10-10, do meio da mesa, a minha estratégia era jogar pós-flop contra meus adversários. Quando o Mark deu call no BTN, e o Velador empurrou do SB, eu fiquei sem ação. Primeiro porque a chance de enfrentar um flip era enorme, e também porque eu poderia estar enfrentando J-J, Q-Q, K-K, A-A. E mesmo que fosse um flip, eu não queria decidir o sonho da minha vida em uma situação dessas. Joguei meu A-game durante sete dias e não podia arriscar o sonho em um flip. Além disso, ainda havia um jogador muito perigoso para falar depois de mim. Então, eu dei fold por dois motivos: por ter certeza que haveria situação melhores e porque após o call do Mark, eu sei q ele vai pagar o all-in do Velador, ou seja, ele poderia estar facilmente preparando uma armadilha.

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Quando retornar aos feltros do Rio AllSuite Hotel & Casino, em Las Vegas, no dia 10 de novembro, Foster terá o menor stack da decisão, porém, ao contrário dos últimos “lanternas” do November Nine, o cearense não está short. Os seus 30 big blinds lhe garantem tranquilidade o suficiente para usar um arsenal razoável de jogadas. Ao seu lado, alguns amadores e três profissionais, que merecem toda atenção possível. Chip leader, o holandês Jorryt van Hoof é um dos grinders mais temidos dos high stakes. Segundo Gabriel “verve.oasis” Goffi, ele certamente será o adversário a ser batido. Já Martin Jacobson é quem mais impressionou Foster. Além de ser o finalista com mais ganhos em eventos ao vivo, o sueco possui a experiência necessária para lidar com a pressão. Por último, Mark Newhouse é o único com experiência em um November Nine. No ano passado, o jogador foi o primeiro eliminado da decisão e faturou US$ 733.224. Completam a mesa final: “Billy Pappas” (EUA), Felix Stephensen (Noruega), Andoni Larrabe (Espanha), Willian Tonking (EUA) e Dan Sindelar (EUA).

Premiação no November Nine 2014 1. US$ 10.000.000 2. US$ 5.145.968 3. US$ 3.806.402 4. US$ 2.848.833 5. US$ 2.143.174 7. US$ 1.235.862 8. US$ 947.077 9. US$ 730.725

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ESPECIAL

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Considerado por muitos o jogador de Texas Hold’em mais completo do Brasil, Thiago Decano coroou sua carreira com a glória máxima que um jogador de poker pode alcançar: um título da World Series of Poker. A história do terceiro bracelete da história do Brasil, que você confere agora, foi contada na edição 96 da Card Player Brasil.

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DecanO DO POKER Thiago Decano conquista bracelete na World Series of Poker 2015 Por: Marcelo Souza Fotos e foto de capa: Antonio Abrego/pokerphotoarchive.com

Nem todos sabem que seu sobrenome é Nishijima. A maioria o conhece simplesmente pelo apelido. Apelido inspirado no personagem de Sylvester Stallone no filme Shade — Nos Bastidores do Jogo. Stallone era “The Dean”, em bom português, “O Decano”, uma lenda do jogo. Treze anos depois do lançamento de Shade, um novo decano surge no poker. Thiago Nishijima já incorporou o apelido — ou apelido se incorporou a ele. Há muito tempo, Decano não é mais escrito entre aspas, e após o merecido título na World Series of Poker, Decano também poderá ser escrito em letras minúsculas. O poker brasileiro tem agora um decano, no sentido literal da palavra. Outros terão que brigar pelo título de “melhor jogador sem bracelete do Brasil”, porque Thiago Decano agora pode ostentar em seu pulso o troféu máximo do poker mundial, ou como ele mesmo chamou: “O Oscar do poker”.

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a menor lógica, mas como meu foco era tão grande em cima do bracelete, sabendo que o grego tinha um pós-flop menos apurado do que o do Sylvia, eu preferia ir para o heads-up contra o Koutoupas.

Marcelo Souza: Você se preparou de alguma maneira diferente neste ano? Houve algum diferencial? Thiago Decano: Acredito que o fator principal é a experiência que adquiri, já são quatro ou cinco anos fazendo toda a reta da WSOP. Foi também a primeira vez que fiquei em um apartamento, não em um cassino. E teve a Marina, minha noiva, que me acompanhou com uma energia positiva única. MS: O que mudou na mesa final desta WSOP em relação às outras? TD: Dessa vez, a pressão nas minhas costas era zero. Nas outras mesas finais, até por eu me cobrar muito, eu via aquilo como se fosse um oportunidade única, o que não é verdade. Se você é um grande jogador, você chegará outras dezenas de vezes em decisões. Apesar de saber que a expectativa da torcida era gigante, só me preocupei em fazer o meu melhor. Para você ter noção, em nenhum momento, olhei a premiação. Eu não tinha ideia de quanto iria pagar o 3º, 4º ou 5º. Meu foco era apenas o bracelete. O que prova o que estou dizendo é que quando estávamos 3-handed, o Sotirios Koutoupas, com menos fichas, foi all-in contra o Jesse Sylvia e eu torci para ele ganhar. Normalmente, isso não tem

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MS: A torcida brasileira, no poker, é algo surreal. Você acha que o barulho e as provocações podem influenciar os adversários? Em certo momentos, eles perdem a paciência e cometem erros bobos contra você? TD: Sem dúvidas. De alguma forma, acaba influenciando. Nessa mesa final, em particular, eu estava em uma crescente muito grande, acertando as leituras e o baralho ajudando, e isso reflete na torcida. Então deve passar tantas coisas na cabeça dos adversários que eles acabam se sentindo obrigados a fazer algo a respeito. Acho que foi o que aconteceu com o Jesse Sylvia, ao tentar um resteal pouco comum, de K♦8♠, na mão que o eliminei. A mesma coisa com o grego. Logo na primeira 3-bet que eu dei no heads-up, que supostamente ele teria que respeitar, ele acabou indo all-in com J♥9♥, mesmo tendo um bom stack para jogar pós-flop. Eu realmente estava light e acabei dando fold, mas você vê que essa coisa da torcida começa a trazer um certo desespero aos adversários.


Foto: Carlos Monti

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MS: Na mão decisiva, você optou pelo limp, algo que você praticamente não tinha feito durante todo os heads-up, principalmente segurando uma mão forte. Você já esperava o all-in dele? TD: Bom, quando heads-up começou, eu tinha uma vantagem de quase 2-para-1. Nessa mão, eu já tinha 4-para-1 de frente. Foram quase duas horas de heads-up, senti que ele já estava cansado e, de certa forma, satisfeito por chegar até ali. Ele queria que aquilo terminasse logo. Quando vi aquele A♥9♦, eu já sabia que tinha acabado antes mesmo de ele ir all-in. Realmente, dei o limp sabendo que ele só não iria all-in com uma mão muito ruim. Então, ele olhou apenas um Ás e empurrou. Para minha sorte, a outra carta era um Cinco (risos). MS: Os brasileiros brilharam em Vegas neste ano. Muitos dos grandes resultados vieram de alunos seus. Fábio Freitas e Fernando Konishi, por exemplo, estiveram perto de braceletes. Tem fórmula mágica neste coaching? TD: Bom, quando veio a ideia de dar coaching, isso começou porque havia uma demanda muito grande. Mas para que a ideia saísse do papel, duas coisas eram necessárias: ser financeiramente vantajoso para mim e o produto teria que dar resultado. Eu até brinco que eu cobro até barato, porque se o aluno for

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um cara inteligente e dedicado, não tem como o cara não se tornar um jogador lucrativo. Eu me preocupo que o aluno pense o jogo, então, não, não existe fórmula mágica. Ao final do coaching, eles acabam entendendo como funciona realmente o poker.

MS: A capa da nossa edição de abril foi sobre o Game Theory Optimal (GTO), a busca por um poker inexplorável. No Brasil, fala-se pouco sobre o assunto, mas sabemos que grandes nomes do poker mundial estudam isso a fundo, caras como Ben Sulsky, Stephen Chidwick e Mike Watson. Você acha que é possível ter uma estratégia inexplorável? TD: O grande mérito do GTO é fazer com que você evolua. Vejo vários jogadores buscarem uma solução matemática para um jogo que é completamente subjetivo. Recentemente, a Maridu falou que alguns jogadores de topo estavam estudando uma maneira de resolver o pot-limit Omaha. Como sou um cara que não masterizou o Omaha, não posso falar com propriedade, mas vi que dentro do no-limit hold’em (NLH), há gente nessa linha. Eu não acredito. As variáveis no NHL são infinitas. Falam sobre robôs dominando humanos em breve. Bem, eu digo que é mais fácil fazer com que um ser humano faça o robô errar. O poker é tão rico que você pode fazer diversas jogadas e mudanças de padrão


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para enganar até mesmo uma máquina. Para mim, o melhor caminho é aprender com cada tipo de jogador. Hoje, o padrão é abrir raise de 2,2 vezes o big blind, mas já foi de três, amanhã pode ser de cinco ou seis. O João Simão, que é um cara que eu discuto muito do jogo, há pouco tempo me falou sobre um torneio caro, com muitos caras bons, que ele simplesmente entrava de limp em 90% das mãos, segurando A-A ou 10-J. Ele deixou os caras perdidos e cravou o torneio. Mesmo os ótimos jogadores, quando você os tira da zona de conforto, eles se perdem. Então, essa é chave. Pode até ser que em jogos limit, você consiga buscar a perfeição, mas no NLH, um jogo cíclico, não consigo ver isso.

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MS: Sendo o poker um jogo tão complexo e mutante, qual o segredo para se manter sempre no topo? O que você faz para estudar o jogo e se manter em constante evolução? TD: Fico muito feliz por estar no topo há tanto tempo. Olho pra trás e vejo que são poucos os que conseguem estar sempre jogando em alto nível. A minha grande fonte de estudo hoje são os vídeos que estão disponíveis com as cartas abertas. Ali, mais do que nunca, você consegue enxergar claramente como o jogador de ponta pensa, como o jogador fraco pensa, como o jogador mediano pensa. A WSOP disponibilizou quase todos os vídeos das mesas finais. O PokerStars faz isso com os grandes torneios regulares e


com as grandes séries, como o SCOOP e o WCOOP. Se o cara quer desenvolver, ele tem que assistir aquilo ali, porque os outros estão assistindo. Só para falar dos mais recentes, já vi as mesas finais do “Negriin”, do Shaun Deeb, do Jason Mercier e quase todas do Colman. Fora essa parte dos vídeos, hoje tem dois nomes que eu estou namorando para fazer um coaching: um é o Olivier Busquet, mentor do Dan Colman; o outro é a Vanessa Selbst. Infelizmente, nesta temporada, nós estávamos em um ritmo muito intenso de jogo, tanto eu quanto eles. São dois jogadores que admiro muito e que eu tenho certeza que podem acrescentar muito no meu jogo.

MS: Quando você foi capa da Card Player, em 2011, você deu declarações fortes sobre o porquê de ter recusado patrocínios. Seu pensamento sobre o assunto mudou? TD: Hoje, vivemos em um cenário diferente daquela época. Antes, o que importava era você jogar bem. E o primeiro que percebeu que isso não bastaria, que era preciso abraçar a marca e se tornar um embaixador, foi o André Akkari. Não por acaso, ele foi o único que ficou no PokerStars, sem mencionar o Caio Pessagno, que entrou depois para o Team Online. Graças às mídias digitais, o alcance que

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a nossa palavra e imagem têm, hoje, também é muito maior. Então, a responsabilidade de representar a marca aumenta. Antigamente, você colocava um patch do Full Tilt no peito, pra não ganhar quase nada, só pra falar que era profissional do site, e isso eu não queria. Hoje, ainda tenho essa postura. Se for pra colocar uma marca na camisa, seja de uma empresa dentro ou de fora do poker, tem que ser um projeto bom, que me dê uma contrapartida à altura do que eu sei que eu posso fazer pela empresa. Se isso acontecer comigo, será uma nova etapa da minha carreira.

MS: Depois do bracelete chegaram propostas de sites até você? TD: Não teve nada — e eu já esperava por isso. Acho que hoje não tem mais essa mentalidade: “Ah, o cara ganhou o bracelete. Vamos atrás dele”. O PokerStars já tem o Akkari e o Pessagno, que fazem um trabalho brilhante, a mesma coisa o 888, com o Bruno Foster, Bruno Kawauti e Nicolau VillaLobos. Mas existiram algumas sondagens de outras empresas, de outras áreas. Se der certo, vocês vão ficar sabendo. MS: A variância é uma das grandes vilãs entre a maioria dos jogadores de poker. Você já passou por algum período assustador de perdas? TD: Na minha carreira, graças a Deus, eu nunca tive momentos em que sofri grandes perdas. Teve um ou outro período que não ganhei tanto, e isso é normal. Como o poker é um jogo cíclico, você tem que se adaptar a todo momento — e às vezes você fica um pouco pra trás. Quando estourou a

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Black Friday, tive um grande baque com o fechamento do Ultimate Bet (UB). Eu tinha US$ 250.000 naquele site e perdi tudo. Mas um dos meus grandes méritos é lidar com as derrotas. Os problemas vão surgir, mas você só tem que se preocupar com aqueles que você ainda tem gerência. No caso do UB, não tinha mais nada para fazer. O dinheiro já estava perdido. Então, bola pra frente. Eu sabia que dava para buscar aquele dinheiro de novo, trabalhando.

MS: Principalmente depois de perder muitas fichas por uma jogada teoricamente ruim do adversário, muitos jogadores costumam dizer que é melhor jogar contra um cara bom, que entende o jogo, do que contra um maluco que não tem noção do que está fazendo. O que você acha desse pensamento? TD: Isso é uma grande bobagem. Quem pensa dessa forma não está preparado para ser profissional, não tem preparo técnico para se adaptar. Você sempre vai querer jogar contra o pior jogador, sem dúvidas. Se você jogar contra os melhores, você vai perder dinheiro. O legal em enfrentar caras bons é que você aprende muito, mas, financeiramente falando, não há vantagem.


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MS: A mesa final deste ano foi apenas mais uma das dezenas que você já esteve. Houve alguma com um maior grau de dificuldade? TD: Definitivamente foi a do High Roller do UKIPT de Nottingham, que joguei em abril. Estiveram nela Bryn Kenney, Max Silver, Felix Stephensen, o argentino Iván “Negriin” Lucá, que acabou saindo com o título, dentre outros. Todos os jogadores eram muito bons e praticamente não cometiam erros. MS: Falando do “Negriin”, ele conquistou, nesta WSOP, o primeiro bracelete para a Argentina. Só neste ano foram cerca de US$ 1,5 milhão em premiações e atuações impressionantes em mesas finais. O que você poderia falar sobre o jogo dele? TD: O jogo do “Negriin” já me chamou a atenção na primeira vez que joguei com ele no High Roller de um LAPT. Ele estava à minha esquerda e passeando em cima do pessoal. A linha de jogo dele é muito diferente dos jogadores normais. Ele é uma das provas que o NLH não é um jogo finito. É um cara que você olha e percebe que ele está revolucionando o Texas Hold’em. Ele é um fenômeno. Depois que saí da mesa do LAPT, falei com os meus amigos ali: “caras, esse ‘Negriin’ é fora da curva”. Ele, claramente, tem um futuro brilhante.

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MS: E como está sua rotina de jogo hoje? TD: Eu tenho priorizado os torneios ao vivo. Depois que alguns jogadores e eu criamos uma empresa, ficou viável jogar o BSOP, mesmo com os impostos. Na minha grade, estão todos os LAPTs; no mês que vem, vou para Miami jogar o Seminole Hard Rock, que o Dan Colman ganhou ano passado; e também vou para a WSOP Europa, em Berlim, no final do ano. Online, tenho focado apenas nos maiores torneios, os de domingo e o Super Tuesday de terça-feira. Quando as grandes séries começam, o SCOOP e o WCOOP, eu foco no PokerStars. MS: Falando em grandes séries, no WCOOP do ano passado, o Yuri “theNERDguy” Martins ganhou mais de US$ 700.000 no evento principal, a maior premiação da história do poker online brasileiro. Na época, muitas pessoas o criticaram por fazer um acordo quando ainda restavam seis jogadores, mesmo com o acordo garantindo cerca de US$ 500.000 a mais para ele. O que você pensa sobre acordos? TD: Eu acho que cada um sabe onde aperta o calo. Minha primeira grande premiação, em 2008, no EPT, eu fiz um acordo — ainda bem, porque na mão seguinte eu caí de

A-A para Q-Q (risos). Existem alguns pontos a serem observados quando vamos costurar um acordo. O primeiro é a diferença técnica entre os jogadores. Se você for muito melhor, ou você faz um acordo muito bom para você ou então vai para o jogo. Não importa o valor. O segundo ponto são as posições na mesa. O simples fato de cair um cara muito bom à sua esquerda já torna um acordo uma coisa atrativa. O último ponto é o seu objetivo. No caso da minha mesa final, eu jamais faria o acordo, porque eu queria o bracelete, a parte financeira estava em segundo plano. Se eu fizesse um acordo, eu tiraria o peso do salto de premiação dos outros caras, que é uma vantagem considerável. No caso do Yuri, no WCOOP, o título é importante, mas a parte financeira é muito mais. No lugar dele, eu também faria. Enfim, as críticas que ele recebeu, na minha opinião, foram completamente desnecessárias.

MS: Para finalizar, suas palavras sobre o título histórico. TD: Eu só tenho a agradecer a toda torcida brasileira, seja aqueles que estavam ali, presencialmente, ou à galera que me acompanhou pela internet. Ganhar o bracelete foi incrível. Para mim, foi como levar um Oscar, e eu vou ser eternamente grato por aquele momento.


Evento #38 da WSOP 2015 Buy-in: US$ 3.000 Modalidade: No-Limit Texas Hold’em Inscritos: 989 Prize Pool: US$ 2.699.970 Campeão: Thiago Decano (US$ 546.843)

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O partypoker é um dos sites de poker pioneiros no mundo e vem investindo cada vez mais para trazer a melhor experiência para seus jogadores — seja ao vivo ou online.

COMO EU CRIO UMA CONTA? Para começar a sua experiência no partypoker basta acessar o site partypoker.com e clicar no botão “Baixar Gratuitamente”. 1

A partir daí, basta criar sua conta e usufruir de todos os benefícios que só o partypoker pode oferecer.

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SISTEMA DE RECOMPENSAS

O partypoker oferece um sistema de recompensas exclusivo para seus usuários, que é dividido em quatro categorias: Bronze, Prata, Ouro e Palladium. Para atingir uma categoria, você precisa acumular determinado número de pontos por mês. A cada $1 de rake, você ganha dois pontos. Por exemplo, ao jogar um torneio de $22 — em que $20 vão para a premiação e $2 correspondem à taxa administrativa do site (rake) —, você acumula quatro pontos. Os pontos podem ser trocados por entradas de torneios (tíquetes) ou por dinheiro. BRONZE – 0 ponto/mês Recompensas: tíquetes de até $22 PRATA – 50 pontos/mês Recompensas: tíquetes de até $109 OURO – 750 pontos/mês Recompensas: tíquetes de até $530 e até $100 em dinheiro. PALLADIUM – 2.000 pontos/mês Recompensas: tíquetes de até $1.000 e até $500 em dinheiro.

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MISSÕES

No partypoker, o jogador ainda tem a opção de realizar “Missões”. As missões dão ao usuário objetivos que o desafiam a experimentar novas coisas e aprimorar o próprio jogo. Mas não existem obrigação. É possível completá-las em um ritmo tranquilo. Mas aprimorar as suas habilidades no poker é apenas um dos benefícios aqui. O partypoker dá recompensas extras para cada missão concluída, que incluem tíquetes para torneios, dinheiro, bônus etc. Para escolher uma missão, basta entrar em “Missions”, depois clicar em “Overview” e encontrar uma Missão que você goste. As missões que você pode iniciar terão um ícone “jogar” (play) ao lado. Missões com um ícone de cadeado estão bloqueadas. Para liberá-las é preciso cumprir algum tipo de missão antes. Depois de começar uma missão, o jogador ainda tem a opção de pausar a mesma e começar uma outra.

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TORNEIOS

O partypoker conta com uma das melhores grades de torneio da internet, atendendo jogadores de todos os limites, dos mais baixos até aqueles que gostam apenas de high rollers. Múltiplas Fases Nos torneios de múltiplas fases, você pode jogar um evento de até US$ 250.000 garantidos. Esses torneios consistem em duas fases. As Fases 1 estão disponíveis ao longo da semana e se você durar 16 níveis, se classifica para a Fase Final, que acontece no domingo. Se for eliminado, basta tentar novamente — você pode jogar a Fase 1 quantas vezes quiser. Caso se classifique e não esteja satisfeito com seu stack, você pode se classificar novamente e levar seu melhor stack para o Fase Final. Com buy-ins entre US$ 5,50 e US$ 109 e torneios de segunda a domingo, eventos de múltiplas fases lhe dão a chance de pagar pouco para tentar ganhar muito dinheiro.

Nível

Fase 1

Fase 1

Fase Final (Domingo)

BUY-IN

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Peso Pena (Featherweight)

Segunda a sábado (a cada 2 horas, das 14h às 4h)

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Às 18h30

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Peso Médio (Middleweight)

Segunda a sábado (a cada 2 horas, das 14h às 4h)

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Às 18h30

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$100.000

Peso Pesado (Heavyweight)

Segunda a sábado (a cada 2 horas, das 16h às 2h)

Domingo (a cada 2 horas, das 10h às 16h e também às 16h)

Às 18h30

$109

$250.000

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Torneios PESO PENA (Featherweight)

O partypoker trabalha com três frentes de buy-in em seus torneios regulares, classificadas em: Peso Pena (Featherweight), Peso Médio (Middleweight) e Peso Pesado (Heavyweight). Além dos torneios de múltiplas fases, existem também aqueles de fase única, mais conhecidos pelo público. No Peso Pena, você encontrará mais de 170 torneios com buy-ins de $5,50 a $11. O principal deles é o The Jab, um torneio diário de $5,5 com premiação garantida de $7.500, de segunda a sábado, e de $10.000 aos domingos. Você pode jogar os torneios Peso Pena diariamente entre 10h e meia-noite.

Torneios Peso Médio (Middleweight)

Entre os Pesos Médios são oferecidos mais de 230 torneios semanais, com entradas entre $22 e $55, sendo mais de US$ 850 garantidos pelo partypoker. O The Contender, com buy-in de apenas $22, garante $15.000, de segunda a sábado, e $25 mil aos domingos. Já o The Cournterpunch tem buy-in de $55 e premiação garantida de $7.500. Ele também acontece diariamente. Você pode jogar os torneios Peso Médio todos os dias de 6h às 4h.

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Torneios Peso Pesado (Heavyweight)

Com mais de US$ 1 milhão distribuídos durante a semana, os mais de 60 torneios Peso Pesado do partypoker têm buy-in entre $109 e $215. Carro-chefe da categoria, o Title Fight ocorre aos domingos, às 19h. Com buy-in de $215, o Title Fight tem premiação garantida progressiva. Começando em $300.000 garantidos, toda vez que o garantido for batido, o partypoker aumentará em US$ 25.000 a premiação garantida da próxima semana. O Title Fight ainda possui a melhor estrutura da internet, com stack inicial de 30.000 fichas e subida de blinds a cada 20 minutos. Por quase metade do preço do Title Fight, você pode jogar o Main Event. Com buy-in de $109, o Main Event é jogado também aos domingos, às 19h, e tem premiação garantida de US$ 150.000. Por fim, o Uppercut e o Weigh-In. Enquanto o Uppercut ocorre de segunda a sábado, com buy-in de $109 e garantido de US$ 50.000, o Weigh-In é um torneio diário. Com entrada também de $109, ele tem premiação garantida de US$ 25.000 todos os dias, exceto aos domingos, quando esse valor sobe para US$ 50.000. Os torneios Peso Pesado podem ser jogados diariamente entre 10h e 1h.

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High Rollers

Para quem gosta de jogos ainda mais caros, o partypoker oferece mais de 20 high rollers semanais, que distribuem mais de um milhão de dólares. Os valores das entradas variam entre $530 e $2.600. Confira a grade:

Data*

Buy-in

Garantido

Domingo (15h)

$530

$150.000

Domingo (13h)

$530

$100.000

Domingo (18h)

$530

$25.000

Domingo (15h)

$2.600

$100.000

Segunda-feira, quarta-feira, quinta-feira e sábado (15h)

$530

$50.000

Segunda-feira a Sábado (17h)

$530 (Turbo)

$20.000

Segunda-feira a Sábado (13h)

$530

$20.000

Terça-Feira (15h)

$530

$20.000

Terça-Feira (15h)

$530

$100.000

*Sujeito a alterações

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CARD CLUB

A Card Player Brasil acaba de criar o Card Club, um programa com vantagens únicas que levará as principais marcas de clubes de todo o País a você que nos acompanha em todas as nossas plataformas. Através do Card Club, qualquer clube do Brasil pode se tornar um parceiro da Card Player Brasil, tendo sua marca e seus torneios divulgados nas páginas da principal revista de poker da América Latina, edições impressa e digital; e, claro, nas nossas mídias sociais. Em breve, também em nosso site, uma seção exclusiva para os nossos parceiros. Você, dono de clube, que deseja formar uma parceria com a Card Player Brasil, basta enviar um e-mail para contato@cardplayerbrasil.com e ficar pode dentro dos detalhes de como fazer parte do nosso time.


Seja nosso parceiro e tenha seu clube e seus torneios divulgados em nossa revista e nossas redes sรณcias. Envie um e-mail para contato@cardplayerbrasil.com e saiba como.

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ESPECIAL

10 ANOS

Então presidente da CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold’em), Igor Federal estampou nossa edição especial de número 100 em 2015. Principal responsável pelo crescimento e desenvolvimento do esporte mental no País, Federal concedeu uma das melhores entrevistas já publicadas por veículos especializados do Brasil. Ele falou sobre a regulamentação e o futuro do esporte da mente. Confira, novamente, na íntegra:

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IGOR FEDERAL cardplayer 10 anos

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UM POR TODOS E

TODOS PELO POKER Bate-papo com Igor Federal sobre a iminente regulamentação do esporte Fotos e foto de capa: Bruno Mooca

Por Marcelo Souza

No poker, jogador ou não, a honraria máxima é integrar o Hall da Fama do Poker. Para fazer parte do seleto grupo, que inclui nomes como Daniel Negreanu, Benny Binion e Stu Ungar, não basta ser conhecido. Não basta ter ganhado milhões. Não basta ser o melhor. E o que os integrantes do Hall da Fama, homens e mulheres, têm em comum então? A resposta é simples e pode ser definida em uma palavra: um legado.

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Cada uma dessas 50 lendas têm um legado único e indelével dentro do poker. Sim, mas e daí? E daí que se temos alguém com tais características no Brasil, esse alguém é Igor “Federal” Trafane, o presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH), o homem por trás da iminente regulamentação do poker no Brasil. Federal será o primeiro brasileiro a entrar para o time de imortais. Não será amanhã, nem em dois anos, talvez nem em cinco, mas ele entrará. O que ele realizou no Brasil, ninguém fez em nenhum lugar do mundo. Fazendo uma analogia política, ele seria o nosso Juscelino, “cinquenta anos em cinco”. Há alguns anos, você imaginaria que o poker seria ensinado em universidades? Que astros do futebol, vôlei e atletismo se tornariam “embaixadores da mente”? Que um único torneio, em solo nacional, poderia receber três mil jogadores? Seria possível escrever um livro com cada uma das grandes conquistas dos últimos anos, mas para hoje, o que interessa é a cereja do bolo. No início do mês, pelas redes sociais, Federal anunciou aquela que seria a melhor notícia da história do poker brasileiro, uma história curta, é verdade, mas riquíssima: a criação de um grupo de trabalho para regulamentar o esporte da mente no País junto ao governo federal. E o que exatamente seria isso? Em entrevista exclusiva à Card Player Brasil, o homem forte do poker nacional respondeu a essa e a outras tantas perguntas — e o porquê de ele estar nessa batalha há tanto tempo irá lhe surpreender. Marcelo Souza: Como começou esse processo de regulamentação do poker nacional? Igor Federal: A primeira coisa importante é o entendimento cronológico. O Direito no Brasil tem como base os princípios do

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Direito Romano. Isso significa que na lei não precisa estar escrito que pode, mas apenas que não pode. Aqui, o código criminal é muito restrito. Por isso, até agora, o poker existiu porque a lei diz que o que não pode são os jogos de azar. No artigo 50 da Lei das Contravenções Penais está escrito que é proibido “estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele”. Então, a nossa função, principalmente no início, não era mudar a lei. A lei era boa para a existência do poker: “são considerados jogos de azar o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte”, diz o parágrafo 3º desse mesmo artigo. Então, naquele primeiro momento, nossa função era provar que a gente não dependia nem principalmente e nem exclusivamente da sorte. MS: Mas como provar isso para leigos, juridicamente falando? IF: Essa foi a nossa batalha nos últimos anos. Você está jogando, de repente, uma autoridade vem e paralisa um torneio. Não adiantaria a gente chegar para um juiz e dizer: “Meritíssimo, eu lhe juro que o poker não é um jogo de azar”. Eu precisaria provar cientificamente que estávamos corretos. Então, começamos a levantar laudos matemáticos e estatísticos sobre isso. Tínhamos que matematicamente provar que a sorte


A nossa função, principalmente no início, não era mudar a lei. A lei era boa para a existência do poker

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Foto: Luis Bertazini

Igor Federal conseguiu o apoio de figuras marcantes da política brasileira. Aldo Rebelo (à direita), ex-ministro dos Esportes, foi o responsável por dar o “pontapé inicial” do BSOP Millions 2013.

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não era exclusiva nem principal. Então, começamos a reunir estudos de todos os cantos do mundo. Um deles, da Cigital, uma empresa norte-americana, foi um dos mais contundentes. Eles analisaram 103 milhões de mãos, de uma base dados fornecida pelo PokerStars, e chegaram à conclusão que apenas em 12% dos casos a melhor mão puxa as fichas. Isso porque 76% das vezes, o jogador vence sem que a mão chegue ao showdown — e quando chega, em 50% das vezes, aquele cara que teria a mão vencedora acabou largando-a no meio do caminho. E por que estou falando tudo isso? Porque até então, nossa briga era pela legalidade. MS: Então, vieram as vitórias na Justiça... IF: Exato. Vencemos uma, duas, dez ações. Hoje, temos perto de 100 vitórias na Justiça. Nossos argumentos são fortes. E junto vieram os pareceres jurídicos favoráveis ao poker de figuras consagradas, como do Dr. Miguel Reale, ex-ministro da Justiça, e do Carlos Eduardo de Athayde Bono, ex-procurador de São Paulo. MS: E isso basta atualmente? IF: Bem, essa foi a primeira parte da história: pegar a lei que existe e provar na justiça que, diante dela, o poker não se enquadra nos aspectos de tipicidade criminal. Essa primeira parte foi bem-sucedida. É óbvio que sempre estaremos sujeitos ao questionamento de uma autoridade. Mas sempre que isso acontecer, a nossa função

é ir até lá e mostrar pela décima, centésima e enésima vez que a gente tem o direito de existir. E são essas somatórias de decisões que vão consolidando o entendimento, e é o que chamamos de jurisprudência. Essa é a briga da legalidade diante da lei que existe. MS: Mas por que só agora essa movimentação mais intensa para a regulamentação. Teria a ver com a possível legalização dos jogos de azar? Há correntes fortes a favor da legalização de bingos, cassinos etc. IF: O que começou foi um movimento no Congresso e na cúpula governamental para criar uma nova Lei de Jogos no Brasil. A partir daí, essa Lei, que eu disse ser boa, pode mudar (e deve mudar). Então, é óbvio que as pessoas que estão no nosso meio podem não entender isso, mas se a Lei de Jogos mudar, nossos argumentos, que são bons, podem cair por terra. Por exemplo, dentro da Lei pode ter uma linha dizendo: “jogos de baralho somente em cassinos”. Toda essa luta que falei serviu para o modelo que temos atualmente. Mas eu não sei se vai servir para próximo modelo. Então, eu tenho que atuar politicamente para não deixar, por exemplo, uma expressão como essa passar. Isso tudo me fez ver que era a hora de agir. Era a hora de a gente sair em defesa de leis que tratem o poker da forma como ele merece. Se ficarmos atrelados aos demais jogos de azar, a tendência é que os impostos sobre os jogadores e sobre as atividades sejam muitos altos. Alguém acredita que o governo vai olhar para os jogos de azar e não impor uma tributação abusiva? Veja o exemplo das loterias, em que mais de 60% da quantia arrecada fica para o governo.

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Legalidade X Regulamentação Em nossa conversa, Federal fez questão de deixar claro que a luta agora é pela regulamentação. O poker é legal, mas não é regulamentado: “Aquilo que não é legal não pode ser regulamentado. Aquilo que não é legal tem que se legislar sobre. Não existe a regulamentação do tráfico de drogas ou do sequestro. Atividades ilegais ou continuam sendo ilegais ou tem que se criar uma lei fazendo com que ela passe a ser legal. Por exemplo, os jogos de azar estão brigando por uma legislação especifica, para uma legalização. Para eles, não cabe a palavra regulamentação. Já o poker, exatamente por já ser legal, pode ser passível de regulamentação. Mas se a gente é legal, por que tem que regulamentar? Veja bem, plantar no Brasil é uma atividade legal. No entanto, hipoteticamente falando, o grupo Cargill quer vir para o Brasil e fazer um investimento de 10 bilhões de compra de terra, na Amazônia, para um projeto agrícola. O que vai acontecer? É ilegal? Não! Mas não há regras claras. A empresa quer investir, mas tem medo que possa ocorrer alguma mudança na lei ao longo do caminho. Como então a Cargill vai colocar dinheiro aqui se amanhã eles podem perder todo o investimento? Então, eles não vêm, não tem investimento. E isso se aplica para todos os outros setores, energia, telefonia e, claro, para o poker. Enquanto não existirem regras claras para setores específicos, que necessitam de regramentos específicos, você afasta o investimento por um fator que se chama insegurança jurídica. E insegurança jurídica é diferente de ilegalidade. A ilegalidade é alguém dizer: é proibido plantar. A insegurança jurídica é não sabermos como tributar, como agir etc. Independente de a lei mudar, se não existirem regras claras, sempre estaremos sujeitos a uma autoridade vir questionar uma, duas, três, dez vezes. E aí ficaríamos brigando até o final da vida. Eu estou pronto para brigar até o final da vida, mas o mercado não está. Os sites internacionais não vão querer vir para Brasil, construir um prédio, contratar milhares de pessoas e fazer investimento em publicidade se o mercado não tem regras claras.

No escritório em que recebeu a Card Player Brasil, o poker está presente em cada detalhe.

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MS: Outros países serviram de exemplo para você? Quero dizer, países europeus tiveram seus mercados isolados. Os italianos, por exemplo, reclamam das altas taxas e da queda do número de jogadores e do interesse pelo poker. Mesmo nos Estados Unidos, os problemas foram enormes. IF: Na verdade, o que todos esses países fizeram foi dar de ombros. Fingiram que nada estava acontecendo. “Vamos deixar assim porque sem o imposto está ótimo”, pensaram. Nos Estados Unidos, um belo dia, acordaram com todos os sites de poker fora do ar. Os franceses, com uma lei esdrúxula. Os italianos, com uma ainda pior. Então, o que os jogadores profissionais precisam entender é que, metaforicamente falando, se há um incêndio em uma floresta e um caminhão vermelho ao lado, com vários homens de cinza segurando mangueiras, a conclusão que tiramos é que eles estão botando fogo em tudo? Claro que não!

MS: Então você acha que algumas pessoas não estão enxergando com clareza os propósitos da CBTH? IF: O que acontece é que alguns jogadores não querem pagar impostos. A maioria, na verdade, quer pagar, mas de forma justa. Alguns querem continuar de forma ilegal. Não na ilegalidade do jogo, mas na ilegalidade tributária. Mas imposto é isso, se não fosse obrigação, não chamaria imposto. Obviamente, pagar imposto passa uma sensação primária negativa. Principalmente aqui, em que a carga tributária é escandinava, mas a prestação de serviço público é digna do Quênia. E isso gera uma sensação ainda maior de injustiça. É compreensível. Só que essa não é uma briga do poker. É uma briga da nação. Agora, não dá para falar que eu ou a CBTH estamos trazendo o imposto para dentro do seguimento. As pessoas precisam entender que o poker, durante algum tempo,

Nossa carga tributária é escandinava, mas a prestação de serviço público é digna do Quênia. [...] Só que essa não é uma briga do poker. É uma briga da nação

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Foto: Luis Bertazini

Igor Federal é um dos principais responsáveis por trazer celebridades como Ronaldo para serem embaixadores do poker.

Foto: Luis Bertazini

Há alguns anos, quem poderia imaginar que um astro como Neymar Jr. participaria da abertura do BSOP.

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As autoridades jĂĄ estĂŁo debatendo abertamente a necessidade de regramento para os jogos, principalmente pela internet CardPlayer.com.br 58 100 CardPlayer.com.br


andou abaixo do radar. Era uma atividade pequena, que foi crescendo. Hoje, as autoridades já estão debatendo abertamente a necessidade de regramento para os jogos, principalmente pela internet, tendo noção exata que essas atividades estão ocorrendo sem uma cobrança de impostos. E o que é o mais importante de se entender é que eu estou tentando entrar entre o governo e a atividade para dizer: “Calma, não tributem a gente como se fôssemos jogo de azar. Não tratem os trabalhadores do poker como se fossem jogadores de cassino. Não lidem com o dono de um clube como se ele fosse proprietário de uma casa clandestina”. Eu quero que eles entendam que o jogador de poker ganha em um dia, mas perde em outro. O jogador de poker tenta ganhar todo dia, mas não consegue porque existe a variância. O governo tem que tentar entender como a nossa categoria é. E é isso que estou tentando fazer: estar entre o governo, ávido por impostos, e a nossa classe. Que eles nos tratem com a distinção merecida. MS: Ou seja, vai acontecer, a CBTH está tentando definir o “como vai acontecer”, certo? IF: Correto. Veja bem, o ministro da Educação quer a legalização dos jogos de azar e quer que parte da tributação seja destinada à educação. O ministro do Turismo sai na mídia dizendo que apoia os jogos de azar. Joaquim Levy, ministro da Fazenda, diz que eles precisam de novas fontes de receita, que ele quer fazer o ajuste fiscal e vai, junto com a presidente, consultar as bancadas no Congresso. Eu estive na Câmara recentemente e já estão com anteprojeto pronto.

Fazendo uma analogia com o poker, eu diria que as chances de sair uma Lei de Jogos no Brasil, nos próximos dois anos, é um flip. Nos próximos cinco, 70/30; e nos próximos dez, 90/10. Então, vai sair do papel. Nós temos que agir não por querermos trazer impostos para esse meio, mas para dizer não à taxação do poker como a dos jogos de azar. MS: Muitos jogadores temem que aconteça um fechamento do mercado online, como na Itália, França e Espanha. Ou seja, eles só poderiam jogar contra outros brasileiros. Isso pode acontecer? IF: Se vai fechar o mercado ou não, não é possível sabermos agora. Temos que ver qual será o entendimento do governo diante da regulamentação que está na mesa. O governo não deu indícios nem negativos, nem positivos. Nem favoráveis, nem contrários a esse aspecto. Mas o que é certo é a que CBTH vai lutar para que esse cenário não aconteça. Fechar sempre é ruim porque as premiações são menores e o volume de jogo também diminui. Mas ao contrário dos países que você citou, se o mercado brasileiro for fechado, não será catastrófico como foi por lá. O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. A Espanha tem 45 milhões de habitantes, nós temos 200 milhões. Mas reafirmo, vamos fazer de tudo para que isso não aconteça. MS: Vocês já conseguiram o mais difícil, serem ouvidos e formarem o grupo de trabalho para propor uma legislação específica. As ideias são ótimas, mas pensando praticamente, por que o governo aceitaria tratar o poker de forma diferente? IF: Principalmente porque temos uma comunidade forte. Veja bem, se os cassinos chegam para negociar com o governo, eles dirão que pretendem investir tantos bilhões e gerar outros tantos milhões de empregos. Esses caras têm muito dinheiro e poder de negociação. Nós não temos nada, ou melhor, nós temos o apelo popular. Se um deputado diz que considera o poker jogo de azar, eu vou pra internet no outro dia e peço para todo mundo lotar a caixa de cardplayer 10 anos 101 cardplayerbr 59


e-mail desse cara. Então, nesse momento, a comunidade tem que se unir. Os jogadores têm que entender que a CBTH representa todos lá dentro. Se um dia nós sugerirmos uma lei ruim para os jogadores, então, aí sim, podem dizer: “Olha lá a sacanagem que o Federal fez”. Mas o que eu vou apresentar é excelente para o jogador. Não sei se irá passar, mas podem ter certeza que eu vou lutar até o fim para uma tributação e uma regulamentação especial. MS: No momento, há alguma aproximação ou pretensão de o poker ter representantes, uma bancada, na Câmara? IF: A princípio não temos ninguém específico. Mas é uma coisa que o poker, a comunidade, vai ter que se acostumar. Quem nos ajudar agora será reconhecido na próxima eleição. Existem dois jeitos de fazer política: o jeito sujo e o jeito decente. O jeito sujo seria extorsão, propina etc. O jeito bom é mostrar que nós temos uma massa de milhões de jogadores que vão saber reconhecer os políticos, que vão lutar pela nossa causa. Então, nas próximas eleições, provavelmente vamos ter dois representantes em cada estado. E a comunidade tem que reconhecer que alguém brigou por ela e retribuir. Então, nas próximas eleições, nós vamos militar nos estados. Vamos mostrar que nossa classe tem força. Vamos tentar fazer a política boa.

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MS: E quanto ao Igor Federal? Você é uma pessoa muito bem relacionada, inteligente, preparada e que tem o dom da palavra. Você não tem ambições políticas? IF: Nas duas ultimas eleições para deputado, muita gente tentou fazer com que eu saísse candidato. Eu não quis justamente porque a visão que o povo tem do político brasileiro é muito ruim. Ao se tornar político é como se, do dia para noite, você se tornasse a pessoa mais desprezível do mundo. Isso não deveria acontecer porque faz com que pessoas de bem se afastam da política. Ou seja, uma pessoa de bem, que não quer ficar rotulada como bandido ou como corrupto, não vai entrar no meio. Aí você deixa a política em mãos erradas. Está na hora de algumas pessoas de bem saírem buscando coisas positivas. Prefiro que não seja eu. Tenho uma vertente de negócios que tenho de cuidar. No momento, não tenho aspirações políticas. É possível que isso aconteça? Sim. Como eu disse, já me convidaram duas vezes. Mas vou refletir sobre isso no futuro.


Foto: Luis Bertazini

GRUPO DE TRABALHO O grupo de trabalho é liderado por Igor Federal e tem objetivo de preparar um estudo que será a base para regulamentação e a legislação específica do poker no País. Aqui, ele fala como está o seu andamento: “Depois de percebermos essa movimentação para uma possível legalização dos jogos de azar, comecei a trabalhar dentro do Ministério do Esporte para conseguir uma lei diferente para o poker. Passei um bom tempo negociando para conseguir um estudo sobre isso, que é o que grupo de trabalho faz. Em setembro, recebemos uma carta do Carlos Geraldo Santana de Oliveira, secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, dizendo que ia, sim, estudar o poker. Aquilo foi uma vitória, mas não foi quando começaram os estudos. Ali só foi firmado o compromisso de fazê-lo. No final de outubro, saiu uma carta convocando a primeira reunião e é quando acontece a formação do grupo de estudo. No último dia 06 de novembro foi a primeira reunião — e ela foi maravilhosa. Conseguimos trazer para pauta tudo aquilo que a categoria quer. Inserimos todos os termos importantes sendo temas de estudo desse grupo: como se fará investimentos no Brasil, como clubes de poker poderão existir presencialmente, de que forma jurídica uma empresa do ramo será construída, qual a forma de contratar pessoas e, fazer investimentos, como serão recolhidos tributos etc. Depois, a parte trabalhista: como são classificados, como atendem os quesitos governamentais, impostos recolhidos etc. A parte online: quais são as licenças, como sacar, depositar, tributar, como os torneios podem existir, a natureza jurídica dessas empresas e por aí vai. Estamos estudando tudo. Não vai ficar nada para trás, desde fornecimentos, passando pela prestação de serviços à consultoria. Agora temos que convencer o Ministério que a melhor forma de fazer tudo isso é viabilizando o nosso seguimento. Em um segundo momento, vamos apresentar isso para o Congresso. É importante entender que o Ministério do Esporte não regulamenta nada. A pauta de regulamentação é uma pauta da CBTH. O Ministério aceitou estudar. Depois que o Ministério estudar e que esse estudo ficar pronto, aí veremos se contaremos com o apoio político deles. Uma coisa é ele só estudar, a outra é ele dizer: “Esse estudo me parece sólido. Essa pauta é importante. Vocês têm nosso apoio”. As coisas começaram bem. A próxima reunião será no dia 11 de dezembro. Em seis meses, por ofício, temos que entregar o estudo pronto”. cardplayer 10 anos 103 cardplayerbr 61


MS: Hoje, CBTH e Igor Federal são sinônimos. Quando você sair como fica a instituição? O poker vai continuar amparado? IF: Pensar hoje na CBTH e vir a minha imagem à cabeça é natural pelo trabalho que foi feito. Mas isso não pode fazer com que eu ache que a CBTH não pode viver sem mim, que eu tenha que me perpetuar no poder. Eu sempre repudiei confederações esportivas que têm presidentes com mandatos de 10 ou 20 anos, pessoas que colocam os interesses pessoais acima dos interesses da classe que eles representam. É claro que tenho negócios no poker e, naturalmente, o que faço de positivo para o poker acaba sendo positivo pra mim. Mas também é positivo para Card Player, certo? Eu tento trazer coisas boas para categoria, para que ela exista, para que ela seja forte. Há dois anos, eu aprovei na CBTH um item no estatuto que diz que o presidente só pode ser reeleito uma única vez. Estou no meu segundo mandato e por estatuto eu não posso mais ser reeleito. Nesse dia da aprovação, nós perdemos a primeira porque todo mundo dizia que eu precisava de um terceiro mandato para consolidar os benefícios. Eu agradeci a todos, mas disse que tínhamos que dar o exemplo. A CBTH tem que ser maior do que eu, do que todo mundo. Aquilo que fiz, eu fiz. E o que não fiz, outro virá e fará. Então, estou dizendo aqui exclusivamente na Card Player: quando eu terminar o meu mandato, vou abrir tudo para auditoria. Quero mostrar todas as contas para imprensa. MS: E quem seria um substituto ideal? Você já pensa no seu sucessor? IF: A princípio, penso em quatro nomes, mas obviamente existem muitos outros. Por experiência de vida e grande capacidade política, eu diria que o Ueltom Lima. Por experiência dentro da CBTH e todos os assuntos que a envolvem, o Alberoni Castro, diretor executivo da CBTH. Por mérito histórico, por ser um dos fundadores da CBTH e por sua grande atuação no Sul, o curitibano Geraldo Campelo. E por representatividade

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nacional e por ser o maior ídolo que temos atualmente no poker, o André Akkari. MS: Com todos os seus compromissos, todas as empresas, um dia com 24 horas parece não ser o bastante para você. E a família, como fica? IF: Na primeira entrevista que concedi à Card Player, eu agradeci à minha esposa, a Isa. Mas por mais que eu fosse casado com ela, sempre agradeci primeiro a meu pai e minha mãe. É a ordem natural das coisas. Eles são as referências que tenho de decência, trabalho e caráter. Foram eles que incutiram em mim todos os valores que trago comigo. Desta vez, mesmo deixando eles sempre como meus ídolos, eu tenho que dedicar essa entrevista à Isa. Ela está comigo há dez anos na batalha. Todos sabem como os horários do poker são loucos. Eu chego em casa todo dia às 3h e vou dormir às 5h. Entre 11 e 14 horas, se você precisa falar comigo, esquece. Esse horário é deles, do meu filho Enzo (4) e dela. Eu praticamente só fico com eles nessas três horas, o restante do tempo é a Isa que segura a barra. É a pessoa que eu amo profundamente, a quem devo tudo que está acontecendo. Ela é a estrutura da casa e que permite que eu possa ir trabalhar sem nenhuma preocupação. Ela sabe que eu sou assim. Uma cara imparável, com ânsia por fazer, por empreender. Ela me completa e me entende. MS: Para encerrar, dá para perceber que você sacrificou muita coisa pelo poker. Sabemos que você não precisa disso por sua condição financeira, suas empresas. Então, por quê? IF: Quem me conhece sabe que não aceito que me digam o que eu não posso fazer. Se me desafiarem, eu vou lá e vou fazer acontecer. Então, a resposta para a pergunta é muito simples, Marcelo: me disseram que eu não poderia jogar baralho.♠


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