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SUMÁRIO ED MILLER

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QUANDO LARGAR PAR DE ASES

Ed Miller mostra em quais situações devemos nos desapegar dos temidos pares de Ases e partirmos para outra. FINAL TABLE

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ESPECIAL 34. ACES Entrevista com o tenista Bruno Soares, melhor duplista da história do Brasil e apaixonado pelo poker.

COM KEVIN SCHULZ - PARTE I

Kevin Schulz conquista sua primeira vitória em um grande torneio ao vivo, o PCA - PART I

FIOBA

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O DILEMA DO LONGO PRAZO

60. CARD CLUB

“F1oba” fala sobre um dos temas mais debatidos do poker: o longo prazo.

GABRIEL “GVFR”

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E MAIS Clubes de poker.

62. MOACIR MARTINEZ Menos é mais?

LODDEN X MATEOS

Em mais um artigo do Time da Forra, “GVFR” analisa uma mão de alto nível técnico que aconteceu em um dos torneios mais difíceis do mundo, o EPT. THE BOOK IS ON THE TABLE

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QUANDO LARGAR

PAR DE ASES Por Ed Miller

M

eus amigos e alunos muitas vezes vêm até mim para falar de mãos em que recebem par de Ases, mas seus oponentes colocam tanta pressão no pós-flop que eles ficam na dúvida se devem dar fold. Há uma maneira de analisar essa situação que deve ajudá-lo a tomar a decisão certa com mais frequência. Um amigo me perguntou sobre uma mão que ele jogou em um cash game $2-$5 durante a WSOP. Ele tinha $750 e o vilão tinha um pouco mais do que isso. Seu oponente subiu para $20 do início da mesa. Outro jogador pagou. Ele estava no small blind, com A♣A♠, e aumentou para $80. Apenas o jogador que deu o primeiro raise pagou. O pote

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era de $185 e eles tinham aproximadamente $670 pra trás. O flop veio 10♣5♦2♦. Ele apostou $100, e o seu oponente deu reraise para $300. Ele pagou. O turn foi um 9♥. Meu amigo deu mesa, e o vilão foi all-in de $370. Meu amigo queria saber se ele deveria pagar ou desistir. Dois princípios devem ser discutidos aqui. O primeiro é que a maioria dos jogadores que jogam nas mesas de $2-$5 não arriscam suas fichas. Então, quando alguém empurra all-in no turn, é bem provável que ele tenha uma boa mão. Esse princípio é o que mais justifica você dar fold.


Ed Miller ĂŠ uma das maiores autoridades mundiais em teoria do poker. Ele ĂŠ instrutor do stoxpoker.com

Ed Miller @edmillerauthor notedpokerauthority.com

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O segundo princípio é que o A-A é uma excelente mão — e dificil de ser derrotada. Esse principio é o que mais justifica o call. Resolva este conflito e analise as odds do pote e você terá a sua respota. O bordo em questão, geralmente, é excelente para Ases. Em primeiro lugar, as cartas do bordo não são conectadas, o que torna pouco provável que o adversario tenha acertado dois pares. Ele abre um raise, toma uma volta e anuncia o call. Com que mão ele pagaria? 10-5, 10-2, 5-2? Eu não apostaria nisso. Então, as principais mãos que ele poderia ter, e que estão batendo nossos ases, são 10-10, 5-5 e 2-2. Existem três combinações possíveis para cada trinca, ou seja, há nove mãos possíveis que estariam derrotando o par de Ases. Também é possível que esse jogador não pagasse nossa 3-bet com 5-5 ou 2-2. Mas, para esta análise, vamos levar em conta que ele pode ter pagado com qualquer par. É possível também que ele tenha K-K, Q-Q ou J-J. Há seis combinações para cada uma dessas mãos, o que totaliza mais 18 combos. Finalmente, há draw para flush e para sequência. Então, há chances de ele estar segurando um forte combo draw como K♦10♦,

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A♦4♦ , A♦K♦ etc. Mesmo que essas mãos tenham equidade significativa contra A-A, os Ases ainda serão lucrativos contra elas. Então existem nove combinações de mãos ruins e 18 combinações de boas mãos. Há outras poucas combinações de draw que são boas para a gente. Mesmo se levarmos em conta que ele nunca está blefando, dar call com nosso A-A é obviamente a melhor jogada. Mas você pode argumentar que a situação não é tão simples, pois o adversário está empurrando all-in. Não concordo muito. É possível que um adversário pode não querer dar raise no flop e ir all-in no turn com J-J. Mas também é possível que ele não vá fazer isso com 10-10, já que a maioria dos jogadores tendem a fazer um slowplay, com a maior trinca, em um bordo como esses. No geral, acho que esse oponente poderia tanto estar segurando K-K ou Q-Q quanto qualquer uma das trincas. Como há nove combos de trincas e 12 de Reis e Damas, esse é um indicativo para colocar seu dinheiro no pote. Eu simplesmente teria ido all-in no flop, mas como jogado, dou call no turn. Essa análise tende a ser correta quando o SPR (stack-to-pot ratio) é quatro ou menos. Nessa mão, o pote no flop é de $185. O stacks efetivos são de $670, então o SPR é de 3,6. Sem uma leitura muito apurada, com um SPR tão baixo, é difícil dar fold com Ases. O pote no flop tinha $185, e os stacks restantes eram de $670, por isso a relação


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era de 670 para 185, ou cerca de 3,6. Haverá geralmente algumas outras mãos que o seu adversário poderá estar segurando. Nesses casos, quase sempre seu adversário estará segurando a segunda melhor mãos. Em um flop 10-5-2, essa mão seria K-K ou Q-Q. Em um flop K-5-2, seria um A-K, às vezes K-Q. Em um flop Q-5-2, K-K, A-Q e, possivelmente, K-Q. Se o bordo está conectado, dois pares tornam-se mais plausíveis, assim como os draws. Então, em um flop 10-9-3, seu adversário pode estar segurando 10-9, mas ele também pode estar com Q-J, e ainda pode ter K-K ou Q-Q. É dificil largar A-A. Com um SPR abaixo de quatro, se você apostou no flop e alguém reaumentou, então você deve ir até o fim. Então quando é que devemos largar um par de Ases? Quando os stacks estão muito altos (SPR > 4) e o seu oponente não para de colocar fichas. Essa é uma boa hora. Imagine um jogo $2-$5, e você tem $950 no seu stack. Você abre no meio da mesa, para $20, com A♥A♦ . O botão paga e os blinds também. Agora o pote está em $80 e vocês têm $930 para trás. O SPR é de 11,6, bem maior do que quatro. O flop é 10♣9♦3♠. Small e o big dão mesa, você aposta $60 em um pote de $80. O botão paga e o big blind também. O turn é um 8♥. Novamente, o big pede mesa. Você aposta $150 em um pote de $200. O botão dá mini-raise de $300. O

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big larga. Embora esse mini-raise não seja um bom sinal, você tem odds para dar o call contra dois pares — e o seu oponente pode ter K-K, Q-Q, J-J, J-10. Então, você deve pagar. Há $700 no pote, e seu oponente tem $570 restantes. O river é um 2♥. Você dá mesa e vê seu adversário empurrar all-in. Eu largaria meu par de Ases contra típicos jogadores de cash $2-$5. Sua mão é claramente um overpair, então a maioria desses jogadores iriam dar mesa com K-K ou Q-Q. O all-in, provavelmente, significa que você está perdendo. Ele deve ter dois pares ou até mesmo uma sequência. Considerações finais Perder com par de Ases é uma coisa que a gente nunca esquece. É aquela mão que quando chegamos em casa, pensamos por horas e horas. “Será que eu deveria ter dado fold para aquele all-in?”, “será que eu deveria ter dado mesa naquele flop?”. Esse segundo pensamento é completamente errado. Raramente é errado colocar as suas fichas no pote quando você está segurando um par de Ases. As exceções são quando você está jogando contra mais de um jogador e quando seu SPR é muito alto. A verdade é que, depois do flop, se o oponente coloca pressão, um par de Ases pode se tornar apenas um outro par qualquer, um pega blefes. Pense com calma, analise e tome a melhor decisão.


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Por Craig Tapscott

Tradução e adaptação: Marcelo Souza

Grandes campeões analisam mãos decisivas que lhes levaram a vitórias nos principais torneios do mundo, seja na internet ou ao vivo.

KEVIN SCHULZ CONQUISTA SUA PRIMEIRA VITÓRIA EM UM GRANDE TORNEIO AO VIVO, O PCA – PARTE I

Kevin Schulz joga profissionalmente desde 2005. Ele acumula cerca de US$ 3,5 milhões em premiações online e pouco mais de US$ 2 milhões ao vivo. Neste ano, ele venceu o Main Event do PokerStars Caribbean Adventure (PCA).

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Evento

PokerStars Caribbean Adventure 2015

Jogadores

816

Buy-in

US$ 10.000

Primeiro Prêmio

US$ 1.491.580

Colocação


Mão #1 3

A

3

Niklas Hambitzer 6.075.000

8

4

9

4

8

A

9

A

9

A

A

Kevin Schulz 5.950.000

7

7

9

A

Blinds: 50.000-100.000 • Jogadores Restantes: 5 • Ante: 10.000

Conceitos-chave: Explorar sua imagem para conseguir que os adversários deem fold. Tamanho de apostas em bordos polarizados. Apostar por valor no river com uma mão relativamente fraca. Com 9♣3♣, Schulz aumenta para 235.000 do button. Niklas Hambitzer paga do big blind. Craig Tapscott: Qual a justificativa para seu aumento com uma mão tão marginal, mesmo estando em posição? Kevin Schulz: Eu decidi abrir porque senti que o big blind jogaria de maneira conservadora. Naquele momento, eu sabia que ele estava de olho nos saltos da premiação e o jogador à minha direita só tinha 17 big blinds. Essa não é uma mão que eu abriria normalmente, mas a situação me permitia abrir um pouco mais o meu range — e essa era pior mão que eu escolheria jogar dali.

CT: E quanto ao jogador no small blind? KS: Era um jogador muito agressivo, mas eu havia jogado bastante com ele no dia anterior e ele tinha a imagem de um jogador tight em relação a mim. Acredito que ele também respeitava meu jogo, então não acho que ele tentaria gracinhas. Até ali, o tamanho dos meus reaises pré-flop estava maior do que a maioria dos jogadores estava usando. CT: Por quê? KS: Porque muitas pessoas vinham defendendo seus blinds contra mini-raises. Talvez por não entenderem completamente a dinâmica de se jogar nos blinds, elas tendiam a dar fold para um raise um pouco maior, mesmo que o correto fosse dar call, assim como no mini-raise. Flop: A♦A♥8♥ (pote: 470.000) Hambitzer pede mesa.

KS: Esse flop favorece o meu range de mãos. Todos os Ases estão na minha gama de mãos e não na dele, já que ele faria uma 3-bet com a maioria deles. Dificilmente ele teria algo com 10-10 ou melhor, já que ele também daria reraise. Schulz aposta 225.000 KS: Essa é uma aposta pequena, mas acho que há dezenas de mãos em seu range que erraram o bordo completamente. Definitivamente, eu irei para c-bet com todo o meu range nesse bordo, mas posso pedir mesa com Q-Q, K-K ou algum flush draw em Rei. O bordo é relativamente seco, então só tenho que escolher o tamanho da aposta, que não precisa ser muito grande. Hambitzer paga.

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CT: Então, qual o range do adversário aqui? KS: Acredito que ele possa ter um Oito, alguns Reis e Damas, sem par, poucos A-X e talvez alguns flush draws. Turn: 4♦ (pote: 920.000) Hambitzer pede mesa. CT: Você vai para o segundo barril? KS: Já que eu sequer tenho valor de showdown, eu decido continuar com o blefe. Schulz aposta 375.000 KS: Novamente, eu decido apostar pouco em relação ao pote. Eu faço isso porque não espero que ele dê fold com um Oito ou um Ás. Meu blefe tem como objetivo acertar as mãos que não parearam, possíveis K-X ou Q-X. Quando ele tem um par ou algo melhor, eu economizo fichas. Hambitzer paga. CT: Acredito que os alarmes na sua cabeça foram ativados, não há como você continuar nessa mão. KS: Você está certo. Nesse ponto, já abortei a mão. Acredito que ele possa ter Oitos, Ases fracos e alguns draws para flush. River: 9♦ (pote: 1.670.000) Hambitzer pede mesa. CT: Você continua sem querer o pote? KS: Bem, agora eu tenho que tomar uma decisão. Pedir mesa é ok, mas minha mão melhorou de tal forma que, na maio-

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ria das vezes, sei que meu par de Noves será o bastante para puxar o pote. Para mim, o range dele tem muito mais 8-X do que qualquer coisa. Então... Schulz aposta 425.000 CT: Outra aposta pequena... KS: Sim. Acho um bom valor porque acredito que receberei call com frequência, já que estou dando excelentes odds a ele. CT: Você também faz esse tipo de aposta pequena com blefes? KS: Sim. Eu gosto de fazer apostas desse tamanho quando estou blefando mais do que os outros, porque acredito em sua efetividade. No entanto, eu não estou blefando, mas não espero que meu adversário perceba isso. Caso ele largue um Oito, ele estará dando margem para ser bastante explorado. Além do mais, ele nunca largará um flush, que acertou as duas últimas cartas, ou um Ás. Se minha aposta for grande o suficiente para fazer um Oito desistir, mas que faz mãos melhores me pagarem, então estou cometendo um erro terrível. Também não acho que ele possa ir para um check-raise blefando, então, se ele optar por isso, vou largar minha mão tranquilamente. Hambitzer paga, mostra A♠7♠ e leva o pote de 2.520.000. KS: Bem, mesmo ele possuindo uma das mãos que podia me vencer, ainda acho que minha jogada é lucrativa no longo prazo.


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O DILEMA DO LONGO PRAZO Por Fábio “F1oba” Maritan

Q

uando se fala em poker profissional, o tema longo prazo rotineiramente entra em pauta, respaldado nas mais diferentes opiniões. Algo natural, pois aqueles que procuram o poker como renda querem saber quando e com que frequência, de fato, o retorno pelo esforço chegará. A resposta para estas perguntas dependem de como o jogador trabalha com algumas variáveis fundamentais e inter-relacionadas: volume, técnica e gestão de banca. A inten-

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ção deste artigo é esmiuçar ao máximo o assunto, clareando a visão do leitor a partir da minha experiência adquirida ao longo dos últimos anos. Pois bem, para falarmos de volume, nada melhor que o dito popular, “de grão em grão, a galinha enche o papo”. Simples assim. Muitos reclamam que não enxergam retorno, porém não imprimem um volume minimamente aceitável. Não vou entrar no debate entre volume e


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qualidade de jogo, pois é possível trabalhar em poucas telas simultaneamente e ainda assim ter um volume aceitável ao final do mês. Para quantificar, exemplificando dentro da minha especialidade, os torneios (MTTs), posso afirmar que, salvo algumas exceções, a grande maioria dos jogadores com retornos regulares possuem mais de 5.000 torneios jogados por ano. Cabe falar também sobre aquelas premiações fora da curva que ocorrem de forma mais esporádica e que mudam a vida de qualquer jogador: o big hit. Ao meu ver, jogadores profissionais volumam na grade regular e se preparam ao máximo para quando surgir a oportunidade do big hit, não se iludindo com o mesmo. Digo que, em relação ao volume, a grade regular é vista como o “arroz e feijão” de todo dia, algo que não deve faltar e que dá a sustentabilidade necessária para o momento em que os prêmios muito maiores vierem (se vierem). No meu caso, por exemplo, tenho o foco voltado ao poker online. Invariavelmente, jogo alguns torneios ao vivo que estão

longe de representar uma renda regular esperada em meu orçamento, justamente por não impor um volume adequado. Na realidade, vejo como um bônus, algo extra que eu pratico com o maior prazer e que pode complementar meus ganhos. Por último, procure o profissional de poker especializado na modalidade que consiga focar, seja torneio, cash ou sit&go, online ou ao vivo, e busque a orientação necessária em relação ao volume aceitável. Definitivamente, perceba que não adianta imprimir um volume forte se as decisões forem precipitadas. Evoluir tecnicamente talvez seja a parte mais custosa pra se alcançar o longo prazo. Muitos acreditam que investir somente em um único coach e aplicar aquilo para sempre o tornarão lucrativos da noite para o dia. Ledo engano. Como dizem por aí, não há receitas prontas e nem segredos mágicos. Na realidade, o que há é muita determinação e trabalho de uma minoria constantemente preocupada em se sobressair em relação a uma maioria de concorrentes. Sobrevivem os mais fortes e o processo

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de evolução é o clássico. Isso explica porque os times de poker conseguem resultados muito frequentes. Trata-se de um grupo de jogadores vivendo situações similares todos os dias, cercados de boas referências, todos estudando e debatendo os mais variados aspectos do jogo. Não há dúvida que todos têm muito a ganhar e se destacar da maioria de competidores. Por isso, entenda que erros e dúvidas aparecem todos os dias. O que ocorre é que o jogador profissional usa os mesmos erros e dúvidas para alimentar seu aprendizado em um processo cíclico e constante. O longo prazo jamais chega para quem não respeita a gestão de banca e está sempre próximo de quebrar o montante destinado ao investimento no poker. Não adianta ter técnica se sua banca não suporta a variância entre ganhos e perdas dos limites em que joga. Em suma, você deve ter uma banca independente de suas finanças pessoais e outros investimentos, bem como administrar coerentemente os limites que joga. Um trabalho que consiste em entender que é lucrativo onde está investindo e, ao mesmo tempo, saber quando subir ou descer os limites. Para

mais detalhes sobre gestão de banca, sugiro o artigo escrito em parceria com João Bauer, “Gestão de Capital” [Card Player Brasil, nº 90, janeiro/2015 ]. Por fim, para atingir o longo prazo, recomendo fortemente o acompanhamento constante por parte de um profissional de referência, que junto com você pode estreitar muitos caminhos. Reconheça que o longo prazo existe para aqueles que não perdem seu tempo criando desculpas ou reclamando de tudo e de todos, mas sim trabalham duramente para que ele aconteça. Sucesso nas mesas!

Fábio “f1oba” @f1oba

Fábio Maritan é jogador e instrutor do Samba Poker Team. Ele possui mais R$ 1,8 milhão em prêmios apenas no PokerStars.

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OS MELHORES BARALHOS DO MUNDO

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E A PAIXÃO PELO POKER Por Marcelo Souza

Fotos e foto de capa: Dante Borges

Depois que Gustavo Kuerten se aposentou, o tênis brasileiro ficou carente de ídolos e de títulos. Foram 11 anos sem títulos de um Grand Slam. O fim do jejum acabou em 2012, pelas mãos de Bruno Soares no U.S. Open. O mineiro, então com 31 anos, venceu nas duplas mistas com a russa Ekaterina Makarova. Surgia um novo postulante a ídolo — condição afirmada neste ano. Com os dois títulos no Australia Open 2016, ele passou a ser apontado como o melhor duplista da história do tênis brasileiro. No currículo, 25 títulos, sendo três Grand Slams. Apaixonado por poker, Bruno conversou exclusivamente com Card Player Brasil sobre a profissão, o cenário esportivo brasileiro e, claro, poker.

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Marcelo Souza: No Brasil, é comum que todo garoto sonhe em ser um jogador de futebol. Como surgiu o seu interesse pelo tênis? Bruno Soares: Eu tive uma pequena influência da minha família. Na verdade, meus pais jogaram tênis por um breve momento. E naquele momento, eu tinha cinco anos e comecei a frequentar o clube com eles. Sempre acabava na jogando com os dois. E aí eu me interessei pela coisa. Depois de um tempo, eles pararam um pouco de jogar, preferiram outras atividades. Mas comigo foi diferente. Desde o meu primeiro contato com a raquete, nunca mais larguei, me apaixonei pelo esporte — e desde os cinco anos estou aí até hoje, tentando aprender (risos). MS: E o processo de profissionalização até os dias atuais? BS: É um processo longo, são vários anos. Por volta dos 15 anos, comecei a ter uma vontade de virar um tenista profissional. Percebi que, de certa forma, eu era um pouco diferenciado do pessoal aqui no Brasil. Geralmente, eu era melhor do que a maioria. Comecei a disputar torneios sul-americanos, na Europa, e vi que tinha potencial. Com 18 anos, bateu aquela dúvida: ir direto para o profissional ou ir para os Estados Unidos e fazer uma faculdade através do tênis? Fiquei com a primeira opção. Não sei se foi uma decisão acertada. Hoje, 15 anos depois, vendo os meus resultados, é fácil falar, mas, como no poker, não podemos ser

orientados apenas pelo resultado. De lá pra cá muita coisa aconteceu. Foi uma caminhada longa, quase larguei o tênis, mas em 2008, quase oito anos depois de me profissionalizar, consegui chegar ao topo. MS: Assim como os jogadores de poker, atletas de alto nível têm que abdicar de muita coisa na vida. Às vezes, fica difícil até para estudar. Como foi isso para você? BS: Os meus pais sempre deixaram bem claro que me apoiariam em qualquer decisão, mas que o requisito mínimo para tentar alguma coisa era terminar o segundo grau. Dali pra frente, a gente ia sentar e olhar a possibilidade de ser um tenista profissional ou ir pra faculdade. Sempre me avisaram que iam avaliar as possibilidades. Quando decidi me tornar um tenista, eles me mostraram os prós e os contras, mas nunca deixaram de me apoiar. MS: E Como que foi seu primeiro contato com o poker? BS: Em 2005, tive uma lesão complicada no joelho, que me afastou das quadras por dois anos. Eu não sabia que a lesão seria tão grave. Tive que parar de viajar e ficar apenas em Belo Horizonte, e o meu grupo de amigos, que é o meu grupo do tênis, costumava jogar poker. Foi lá que os caras me ensinaram as regras. Não tem nada melhor que poker entre amigos. Apaixonei-me muito rápido pelo jogo e percebi

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Apaixonei-me muito rápido pelo jogo e percebi logo que era um jogo de estratégia, inteligência e que ia muito além das cartas logo que era um jogo de estratégia, inteligência e que ia muito além das cartas. Naquela época, como meu tratamento ocupava apenas a manhã e uma parte da tarde, eu ficava com muito tempo livre, e foi então que comecei a estudar. Li alguns livros, criei conta nos principais sites da época e a disputar os torneios que começavam a aparecer em Belo Horizonte, como o Campeonato Mineiro. Conheci muitas pessoas naquele tempo, inclusive vários são referências hoje, como o Rafael Caiaffa, João Simão, Caio Pimento, Sanyo... Caras que tive o prazer de ver nos primórdios do poker. Eu ainda estou longe de dominar o jogo, mas continuo apaixonado pelo poker. MS: Fazendo um paralelo entre o tênis e o poker. O tênis é considerado um esporte de elite. Por quê? E isso pode mudar? BS: Acho que já mudou bastante. Aqui, no Brasil, ele é considerado elitista porque é jogado nos clubes. E pra você frequentar um clube você tem que ser sócio, ter uma condição

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financeira bacana e por aí vai. O grande lance para você popularizar o esporte é dar acesso às pessoas. Então você tem que levar o tênis a todos. E é o que a gente está tentando fazer: levar o tênis às comunidades carentes e criar projetos sociais envolvendo o tênis. O material, de certa forma, também é caro, mas acho que isso a gente consegue suprir com vontade, com doação de material e patrocínio. O importante é a pessoa ter acesso à quadra de tênis, nem que seja um espaço, um paredão. É isso que vai difundir o tênis. Uma cidade como são Paulo, por exemplo, deveria ter pelo menos umas 200 quadras públicas a mais para as pessoas. MS: E quanto ao poker? BS: O poker é sensacional porque é extremamente democrático. A partir do momento que você paga o buy-in, você pode jogar na mesa com qualquer pessoa. Posso ir para um BSOP


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jogar na mesa com o Akkari, por exemplo. E o fantástico é que isso pode ser conseguido de graça ou quase de graça. Quantos satélites grátis ou a um preço bem acessível cada etapa do BSOP oferece? MS: No Oscar deste ano houve um boicote de vários atores à cerimônia devido ao suposto descaso da Academia com os atores negros. Isso trouxe novamente a questão: até que ponto vai o racismo? Se observarmos esportes como o tênis, poker e automobilismo, o número de negros em destaque é muito pequeno. Qual sua opinião sobre isso?

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BS: No poker, para mim, é difícil falar, uma vez que eu não vivo esse dia a dia. Na parte do tênis, dentro do circuito, posso dizer que o racismo é zero. Nós, atletas, consideramos raça uma das coisas mais idiotas já criadas. Cada um tem seus gostos, costumes, mas no final das contas somos todos seres humanos. Infelizmente, em pleno século XXI, ainda temos pessoas que são racistas e temos situações desagradáveis que acontecem nessa linha. Mas eu acho que isso é uma minoria. Isso é tão contra os princípios da sociedade que essas pessoas não têm espaço. Qualquer ato de racismo é duramente criticado. Agora, falar o porquê

de não termos mais jogadores negros, acho que é preciso um estudo. É possível que os negros prefiram outros esportes? Que tenha mais talento para outros esportes? Nos EUA, por exemplo, os negros dominam os esportes mais populares, como o basquete e o futebol americano. Você vê que eles têm uma genética privilegiada, são muito atléticos, fortes. Mas não dá para eu falar especificamente. O que eu posso dizer é o seguinte: no meio do tênis, racismo não tem espaço nenhum. O cara é tenista porque ele ama, independente de onde ele vem ou como ele é. Na verdade, qualquer forma de discriminação é uma tremenda imbecilidade.


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MS: As maratonas de jogos no tênis são muito desgastantes, o descanso é mínimo. No Aberto da Austrália, por exemplo, você disputou duas finais em menos de 24 horas. No poker, isso também acontece. Para vencer um torneio da WSOP ou do BSOP são horas de concentração e foco. É possível fazer uma comparação entre os dois? BS: A única diferença é que o tênis é muito mais físico e o poker, mental. Mas eu tenho certeza que quanto mais um jogador de poker estiver preparado fisicamente, mais ele vai aguentar mentalmente. Estar bem fisicamente influenciará bastante na parte psicológica. Você cansa muito menos e aguenta a maratona. No poker, o estresse emocional é muito alto. São bad beats, blefes, decisões difíceis, análises. Imagina isso por vários dias consecutivos, sendo 10, 12 horas diariamente? É extremamente cansativo e qualquer erro pode lhe custar o torneio. Então o cara tem que estar com a mente funcionando 100% a todo o momento. No tênis é a mesma coisa. Você pode cometer pequenos deslizes e ainda voltar, mas, no geral, um erro maior lhe custa o jogo todo; no poker, o torneio. Então, apesar de o poker ser um esporte da mente, hoje, para um bom jogador de poker, a parte física é extremamente importante. Ele estando bem preparado fisicamente, ele vai aguentar melhor essas maratonas. MS: Voltando para o tênis. Você e o Marcelo Melo [número 1 do mundo no ranking de duplas da ATP] são amigos, mineiros e dois dos melhores duplistas do mundo. Vocês jogam juntos pelo

Brasil na Copa Davis, mas ainda assim ambos disputam torneios com estrangeiros. Um dia veremos a dupla Soares e Melo disputando os principais torneios do mundo? BS: O Marcelo e eu crescemos juntos. Somos grandes amigos e depois que nos profissionalizemos, veio a especialização em duplas. Jogamos juntos a temporada 2010/2011 e, no final de 2011, disse a ele que seria legal a gente se separar e tentar algo novo. Jogar com parceiros diferentes para amadurecer. Eu percebia que tínhamos um potencial enorme e que precisávamos evoluir. Claro que poderia dar certo nós dois juntos, mas achei que seria muito bacana para nossa carreira adquirir novas experiências e, eventualmente, voltar a jogar juntos. O Marcelo aceitou muito bem, só que o plano deu tão certo que está difícil da gente voltar a jogar junto (risos). O Marcelo começou a jogar com Ivan Dodig (Bósnia) e eu com o Alex Peya (Áustria), e nós tivemos um sucesso absurdo logo depois disso. Hoje, não estamos jogando juntos pelo sucesso com os outros parceiros. E ficamos naquela: vamos trocar agora? O Marcelo teve no ano passado o melhor ano da carreira dele, o mesmo aconteceu comigo em 2013. Cheguei a conversar com ele antes de firmar parceria com o Jamie Murray (Reino Unido), mas como ele iria trocar de parceiro depois do ano perfeito que teve? Mas jogarmos juntos novamente é inevitável. Somos mineiros, amigos e gostamos de poker — apensar de ele ser bem ruinzinho no poker (risos). Pode esperar que logo teremos a dupla Melo e Soares novamente. MS: E como é jogar contra ele? É diferente? Tem uma rivalidade? BS: No poker, entre amigos, rola aquela gozação no final. Então, ganhar do cara é muito bom. No tênis, com o Marcelo, é diferente, porque isso é nossa vida. É nossa profissão.

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É nosso dia a dia, nosso ganha pão. Então, enfrentar um grande amigo, para mim, é ruim. Eu não gosto. Primeiro, porque um dos dois será eliminado. Isso é chato. Eu, independente dos meus resultados, estou sempre torcendo pelo Marcelo, então quero que a gente vá mais longe possível em todos os torneios. Jogar contra faz parte, a gente tem que encarar com muito profissionalismo. Você tem que entrar lá e fazer o seu melhor. Mas é uma vitória meio amarga. Quando cai para o poker, a minha maior alegria é dar bad beat nos caras (risos). Mas imagina você, na reta final de um torneio que paga uns 500 mil dólares para o campeão. Poker é um esporte individual, claro, mas eliminar um grande amigo não é nada bom. No entanto, quando a gente joga tênis para se divertir, aí rola aquele sarro, mas em uma competição, nunca. MS: Às vésperas do Aberto da Austrália, a BBC soltou uma matéria sobre a manipulação de resultados no tênis. Qual sua opinião sobre isso? BS: Em qualquer coisa que exista apostas, leia-se dinheiro, há margem para aproveitadores. Acontece. Hoje, o tênis tem uma unidade exclusiva para investigar isso, a Unidade de Integridade do Tênis (TIU). Quanto à matéria, achei que eles quiseram aparecer. Primeiro porque eles nitidamente esperaram o início do Australian Open para soltar isso. E eles falaram, falaram e não falaram nada. Não citaram um nome sequer. Do jeito que colocaram, é como se todo mundo fosse culpado. Nós, atletas, ficamos indignados. Se eles tivessem feito uma coisa bem feita, investigado, citando nomes, os jogadores seriam os primeiros a apoiarem. MS: Você já recebeu alguma proposta do tipo? BS: Felizmente, não. Acho que os caras vão um pouco por perfil. Provavelmente, eles sabem que não tem a menor chance de eu fazer um negócio desses. Conheço várias pessoas que já receberam, mas todos negaram e denunciaram para a TIU.

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MS: De volta ao poker. Qual a mística por trás do 10♥J♥, sua mão favorita? BS: Como eu disse (risos), jogando com os amigos o negócio é dar bad beat e deixar a turma queimada. Quando eu comecei, não largava 10-J de jeito nenhum, de copas então. A turma de Belo Horizonte, dos Las Turfas, onde comecei a jogar, sempre que vê um 10♥J♥ já fala: “Ó, a mão do Bruno. Cuidado”. Acho que cansaram de perder para mim com essa mão (risos). MS: Existe algum torneio que você tem vontade de jogar? BS: Com certeza. Definitivamente, eu ainda vou jogar a WSOP. Quem gosta de poker tem que jogar. Como fã de poker e apaixonado pelo esporte, pode ter certeza, que ainda vou jogar a World Series. MS: Caso surgisse a oportunidade de ser um embaixador do poker, você aceitaria? BS: Seria um imenso prazer. Eu sou um fã de poker. O poker traz inúmeros benefícios no dia a dia. A concentração, a análise, desvendar as possíveis combinações de mãos do seu oponente. Cada mão é preciso achar uma solução diferente. Isso vai acabar lhe ajudando a pensar mais logicamente. Fora que o poker também é um esporte muito sociável. Você ri e se diverte com os amigos, faz novas amizades. O poker é incrível.

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MS: Existem rodas de poker no circuito mundial de tênis? BS: Muitas. É impressionante. Basta alguém chamar para jogar que aparecem uns 30 caras. Tem preparador físico, treinador e, claro, muitos jogadores. O Rafael Nadal e o Feliciano Lopez são dois que sempre jogam, para citar apenas dois. MS: A torcida brasileira no poker é bem peculiar, efusiva. No tênis, você acha que o brasileiro também é diferente? BS: O brasileiro tem uma coisa muito bacana, ele não gosta de assistir, ele gosta de torcer. E isso é uma coisa muito legal. Acho que mostra um pouquinho da nossa cultura, de sermos um povo alegre, descontraído. No tênis, durante o ponto é preciso ficar em silêncio, mas você vê que tem uma manifestação maior depois. A turma gosta de incentivar. E sendo brasileiro, principalmente jogando o ano inteiro fora do Brasil, é muito bacana ter esse barulho da torcida. MS: Um recado especial para os leitores? BS: Só agradecer. Tanto o pessoal do tênis quanto do poker. Eu recebo muitas mensagens, vejo que a galera do poker está sempre acompanhando, torcendo, me mandando energia positiva. Quando vou ao BSOP também recebo um carinho muito grande da galera que gosta de tênis. Eles sempre vêm me dar os parabéns, dizer que troceram. Eu sou um cara extremamente sortudo de estar nessa posição e agradeço demais a todo mundo que está torcendo e me acompanhando mundo afora e vibrando com as minhas conquistas.


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lá, amigos Card Player Brasil. Para este artigo, gostaria de analisar uma mão recente, que aconteceu na mesa final do último European Poker Tour, o EPT. Na mão em questão, o jogador profissional Johnny Lodden enfrenta Adrián Mateos em um jogo extremamente técnico. A mesa tem quatro jogadores e os blinds estão em 40.000-80.000 com antes de 10.000. Lodden (3.400.000 fichas, 43 big blinds) aumentar para 160.000, com 5♦5♣, do cutoff. No button, Mateos (7.000.000, 88 bbs) dá call com J♠10♠. O jogador seguinte, Muhyedine Fares (3.600.000, 45 bbs), dá call no small blind (SB) com 9♥6♥. Aqui, é preciso ressaltar que esse último call é muito ruim, justamente porque o SB vai jogar um pote fora de posição, com uma mão extremamente marginal e contra dois jogadores profissionais, aliado ao fato de que ainda há um jogador para falar. Hady El Asmar (2.300.000, 29 bbs) o big blind (BB), também paga com 8♠6♠. Diferente

do call do SB, essa é uma jogada muito boa, já que você tem um preço excelente: colocar 1 big blind para disputar um pote de 9 big blinds. Vale lembrar, também, que quando estamos no BB, somos perdedores sem jogar a mão, já que somos obrigados a colocar 1 big blind. Sendo assim, a melhor maneira de você perder menos é se defendendo. O flop vem A♠3♦9♣. Todos pedem mesa até Mateos, que aposta 275.000. Fares paga. A ação chega até Lodden, que aumenta para 715.000. Quando Lodden, que era o agressor pré flop, faz essa jogada, ele está polarizado: ou tem uma mão muito forte, como uma trinca de Três, ou não tem absolutamente nada. Com certeza, esse foi o primeiro pensamento de Mateos, que optou pelo call apenas com J-high. Fares, que até o momento tem a melhor mão, dá fold. Repare que mesmo acertando a melhor mão, ele não pôde fazer muito, já que é o primeiro a falar e

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o último a agir. Os jogadores em posição têm vantagem absoluta sobre o SB. Com o pote em heads-up, o turn traz um 4♣. Lodden sabe que Mateos dificilmente tem uma mão muito forte, como trinca de Noves ou Ases. Já que, em teoria, ele faria um 3-bet pré-flop com par de Noves ou Ases. No geral, seu adversário tem mãos como A-X ou pares médios, que não acreditaram no seu check-raise flop. Lodden, sem posição, resolve pedir mesa. E aqui temos um momento chave: Mateos aposta 650.000 — uma aposta bem esquisita, justamente porque, como falei anteriormente, Lodden estava polarizado quando deu o raise no flop. Assim, não faz

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sentido algum Mateos apostar com algo como A-X, pois, basicamente, seu range também é polarizado com essa jogada, ou ele tem algo como 3-3 e A9s ou simplesmente está blefando a mão. Novamente, Lodden dá call. O river traz um A♦. Essa é uma carta muito interessante. Ela diminui consideravelmente a chance de Mateos ter um A-9. Dificilmente, Mateos tem A-9 de naipes diferentes em seu range pré-flop. A9o é uma mão ruim de jogar contra mais de um jogador. Então, provavelmente, ele optaria por uma 3-bet do button. Então, as únicas mãos de valor que Mateos têm nesse river


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são: A♥9♥ e improváveis 3-3. Digo isso porque, possivelmente, Mateos também tenderá a 3-bet com 3-3. Com stack curto ou médio, um par pequeno é uma mão bastante ruim de jogar o pós-flop, já que só iremos acerta nossa trinca cerca de 1 a cada 8 vezes. Lodden pede mesa novamente. Mateos pensa um pouco e anuncia all-in. Neste momento, Lodden pensa por cinco minutos e acaba largando a melhor mão, mesmo tendo em vista os pouquíssimos combos de valor na mão do adversário. Não sei dizer ao certo se ele mudou de linha no último momento ou se apenas não acreditava que Mateos fosse capaz de blefar o river dessa maneira. Vi essa mão ao vivo. Eu estava convicto de que Lodden iria dar um belo “hero call”, que

provavelmente ficaria marcado na história do EPT e, quem sabe, mudaria sua história no torneio. Infelizmente, ele deu fold e acabou caindo em quarto lugar, poucas mãos depois. Então, gostaria de deixar uma dica para vocês: pense sempre a fundo suas jogadas, desde o princípio. Destrinche o range do oponente baseado nas ações pré-flop e em cada street posterior — principalmente se estiverem jogando contra um bom adversário —, pois, como vocês viram nesta análise, todo enigma pode ser decifrado.

Gabriel “GVFR” Gabriel “GVFR” Vinícius tem 23 anos é instrutor do Time da Forra e já ganhou cerca de R$ 850.000 apenas nas mesas do PokerStars

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COLLIN MOSHMAN

HEADS-UP NO-LIMIT HOLD’EM POKER


THE BOOK IS ON THE TABLE

O livro escrito por Collin Moshman foi o primeiro do gênero dedicado exclusivamente ao jogo heads-up (HU). Em Heads-up No-Limit Hold’em Poker, você entenderá os fundamentos de EV e a equidade em HU; aprenderá a utilizar e explorar os mais diversos estilos de jogo; a controlar o tamanho do pote, com base na sua mão e na do oponente; a atacar jogadores passivos e jogar de forma agressiva; diferenciar estratégias para cash games e torneios; utilizar o metagame e maximizar o seus lucros através da teoria do jogo e de conceitos de negócios. Se você, como muitos, tem dificuldades quando está em heads-up, este livro tem todas as ferramentas para lhe ajudar evoluir e corrigir as suas falhas.

Capítulo 2 – Jogar e Explorar Estilos

(p. 51)

Introdução Há muitos estilos vencedores em heads-up, e todos têm um elemento em comum: agressividade. Nesta seção do livro, iremos definir vários jeitos de abordar o jogo agressivo, vencedor. Isso incluirá estratégias tight-aggressive e loose-aggressive. Iremos então discutir como nos aproveitar daqueles que jogam estilos passivos, assim como a melhor maneira de contra-atacar oponentes que também jogam de forma agressiva. Concluiremos então com uma discussão na íntegra do “estilo bata-para-vencer”, e uma série de exemplos de disputas que juntarão tudo. Começaremos com um estilo enganosamente simples, o Estilo Agressivo-Básico, que mostra o poder do jogo agressivo mesmo quando utilizado de maneira básica. A partir daí, iremos passar para outras estratégias e, finalmente, táticas feitas para contra-atacar a forma que seu oponente possa estar jogando.

O Estilo Básico-Agressivo O Estilo Básico-Agressivo faz com que o jogador siga uma estratégia exemplo durante a partida (Este estilo foi originalmente discutido no blog de poker de Daniel Negreanu em 13 de Abril de 2006). Jogando desta forma, você irá dar miniraises pré-flop independente de sua posição. Você irá apostar o mínimo em todas as rodadas de apostas subsequentes. Se seu oponente der fold ou

pagar até o river, sua jogada é inteiramente independente de suas cartas. Eis um exemplo: É a primeira mão de um SNG heads-up online. Você está jogando na estratégia básica agressiva. Stack efetivo: $1.500 Blinds: $10-$20 Ação: Você dá miniraise para $40 do button, independente de suas cartas, e o oponente paga. O pote é de $80. Flop: K♦J♥2♦ Ação: Seu oponente pede mesa. Você aposta $20 e ele paga. O pote é de $120. Turn: 4♠ Ação: Seu oponente pede mesa. Você aposta $20. Ele aumenta para $140. Até este ponto, suas cartas haviam sido irrelevantes no processo de tomada de decisão. Mas ao se deparar com esse check-raise no turn, você tem que considerar suas cartas. Por exemplo, você pode dar fold em uma mão com 10-high, dar reraise com uma queda para straight flush, ou pagar com o segundo par. Independente da sua mão, você sabe agora fazer a transição entre seguir uma fórmula e fazer uma jogada dependente de suas cartas.

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Esta estratégia enganosamente simples tem dois benefícios distintos: 1. É supremamente agressiva porque sua jogada padrão é dar raise pré-flop e então apostar em cada street de cada mão. 2. Não dá a seu oponente nenhuma informação sobre sua mão, já que você joga de uma forma que não depende de suas cartas. Então, a menos que ele faça uma jogada agressiva, seu oponente não perceberá nada sobre sua mão baseado em seu padrão de apostas. A parte ruim do Estilo Agressivo-Básico é uma quase total falta de flexibilidade. Por exemplo, se você está jogando com um stack short, e quer ir all-in pré-flop, o miniraise seria contrário a esse objetivo. Ou talvez você esteja fora de posição e acerte um top pair fraco no flop. O Estilo Agressivo-Básico lhe impede de fazer a enorme aposta que você geralmente faria pelo valor, e torna incorreto para seu oponente pagar com muitas mãos (Uma modificação do Estilo Agressivo-Básico, que serve para consertar o problema de dar odds favoráveis, é fazer as apostas pós-flop serem proporcionais ao tamanho do pote, por exemplo, constantemente apostar 20% do pote.). Além disso, você ainda deve tomar decisões normais de poker quando seu oponente não cooperar com suas minibets. Não estamos discutindo o Estilo Agressivo-Básico como uma forma sugerida de jogar, embora ele possa ser bem eficiente. Ao invés disso, você deve perceber que mesmo sem jogadas cheias de truque, ou até seguindo uma estratégia convencional, você pode ir melhor do que pensa jogando um estilo simples e agressivo.

O Estilo Loose-Aggressive Assim como o Estilo Agressivo-Básico, você jogará muitas mãos com o Estilo Loose-Aggressive (LAG), e de forma bem agressiva. Mas miniraises e minibets agora serão a exceção, e não a regra. Uma jogada muito poderosa em heads-up é dar raise pré-flop do button, e então apostar no flop se o adversário pedir mesa. Essa é a continuation bet que vimos anteriormente em “Parte Um: Os Fundamentos”. Uma falha do Estilo Agressivo-Básico são as pot odds, quase irresistíveis, que você dá a seu oponente para pagar sua c-bet. Então, embora o tamanho de seus raises não sejam mais

TÍTULO: HEADS-UP NO-LIMIT HOLD’EM POKER (Heads-Up No-Limit Hold’em Poker). AUTOR: Colin Moshman NÚMERO DE PÁGINAS: 390 PREÇO: R$ 85,00 DISPONÍVEL EM: www.raiseeditora.com

predefinidos, no Estilo Loose-Aggressive, você oferecerá a seus oponentes um call muito menos atraente depois que apostar. Jogando com o Estilo Loose-Aggressive, quando o button é seu, você dá raise na maioria de suas mãos iniciais pré-flop, entra de limp com outras e dá fold no resto. Seu raise padrão é de 2 a 4 big blinds, mais frequentemente 2; 2,5 ou 3 bbs. Quando o oponente pede mesa no flop, procure fazer uma continuation bet de mais ou menos dois terços do pote. No big blind, aumente para 4 bbs com mãos fortes quando seu oponente entrar de limp, e então, se for pago, atire uma c-bet no flop. Quando seu oponente der raise do button, dê reraise com suas mãos mais fortes. Esses reraises devem, geralmente, ser de 3 a 4 vezes o raise do adversário, e devem ser seguidos de uma aposta no flop se forem pagos. Geralmente seu oponente interromperá seus planos dando raise ou reraise pré-flop, tomando a iniciativa ou dando check-raise pós-flop, e assim por diante. Se ele de fato contra-atacar dessa forma ou se ele costuma pagar sua aposta no flop, é hora de reavaliar suas opções do mesmo jeito que você fez com o Estilo Agressivo-Básico. Se você acertou o bordo de alguma forma, geralmente continuará a apostar e dar raises. Iremos considerar vários exemplos de jogo LAG nas muitas mãos e exemplos de disputas neste texto, que incluirão detalhes de tamanho de raises pré-flop e pós-flop, quando não dar c-bet, as streets posteriores e assim por diante. Por enquanto, é importante entender os mecanismos básicos do Estilo LooseAggressive. Quer dizer, você irá apostar e dar raises implacavelmente, sabendo que, na maioria das mãos do heads-up, seu oponente não terá nada de valor. Isso lhe torna difícil de jogar contra, principalmente porque, já que seu oponente gosta de contra-atacar, ainda é possível que você tenha uma mão forte. Uma consequência de jogar no estilo loose-aggressive é que você não pode ter medo de comprometer todas as suas fichas quando tiver uma boa mão e o pote for grande. Sempre com a ameaça do all-in pairando sobre eles, seus oponentes estarão muito menos dispostos a contra-atacar sua agressividade. Você irá, portanto, ganhar a maioria dos potes quando nenhum dos dois tiver uma boa mão.


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mais ? Por Moacir Martinez

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o artigo de desta edição, abordaremos um tema que, a princípio, parece não ter muita relevância, mas quando analisamos a fundo, compreendemos a importância da matemática envolvida. Hoje, falaremos sobre a frequência com que as cartas baixas aparecem no flop. É verdade que todos gostam de jogar, de preferência, com cartas altas ou cartas médias conectadas e do mesmo naipe. Mas a quantidade de vezes que saímos com essas combinações de mãos é bem pequena. Assim, quando jogamos com cartas baixas — consideraremos cartas

baixas 2, 3, 4, 5 e 6 —, é importante saber com que frequência elas aparecem no bordo. E mesmo com cartas altas, esses dados são importantes, pois podem lhe ajudar a desenvolver uma tática baseada na matemática. “Mas Moacir, como farei esses cálculos na mesa?” Calma. O objetivo deste artigo é justamente simplificar. Sabemos que existem 22.100 combinações diferentes de flop: (52x51x50)/3x2x1. Sabendo disso, apresento a vocês o seguinte quadro:

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Número de cartas baixas no flop

Probabilidade

Número de combinações

1

44,89%

9.920

2

27,51%

6.080

3

5,16%

1.140

2

2

2

É preciso lembra que nem todas as cartas baixas servem para seu par de Dois. Quando jogamos com pares pequenos, nosso objetivo principal é acertar um trinca, ou seja, uma de nossas duas cartas que ainda estão no baralho. No entanto, isso só ocorrerá 11,51% das vezes. Caso você chegue até o river, esse número sobe para 18,37%. Claro que existe outros flop com cartas baixas que podem lhe ajudar. Por exemplo, um flop 2♦3♠5♦ lhe dá duas pontas para a sequência, mas isso é assunto para outro coluna. Mas vamos sair dos pares. Sua mão agora é:

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6

5

2

5

6

Analisando o quadro, podemos chegar à conclusão: quando o flop for virado, teremos de uma a três cartas baixas no bordo em 77,56% das vezes (17.140 combinações). Mas se as chances do flop trazer cartas baixas é tão grande, por que não devemos jogar mais com mãos como 3-4, 5-3, 4-6? Bom, nem tudo é tão simples. Vamos dizer que sua mão seja:

Mesmo quando você acertar um par baixo, o que ocorre aproximadamente uma a cada três vezes, esse par pode não ser o bastante para continuar no jogo. O mais interessante para você seria acertar um flush, e isso já não depende mais de cartas altas ou baixas, mas de cartas do mesmo naipe. Infelizmente, você acertará seu flush no flop menos de 1% das vezes. Lembrem-se, um bom jogador de poker não usa apenas as suas cartas para ser um vencedor. Existem várias ferramentas que vão levá-lo ao sucesso. A matemática é uma delas.

Moacir Martinez mgbmartinez@uol.com.br

Moacir Martinez é jogador e estudioso na influência da matemática no poker, tanto no online como no live, e autor do livro Matemática Fácil do Poker.


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