CardPlayer Brasil - Digital 42

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POKER

ESP O RTE E ESTI LO D E VI DA

QUANDO É O MOMENTO DE FREAR AS APOSTAS? A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CAPITAL








SUMÁRIO CLÁUDIO DAVINO

12 A HORA DE FREAR Direto das mesas de cash game, Cláudio Davino faz uma análise completa de uma mão enviada por um leitor da Card Player Brasil.

DUSTY SCHMIDT

ESPECIAIS 36. NOVEMBER NINE Os nove nomes que estão na mesa final do Main Event da WSOP.

22 CALL RUIM, BOA MÃO Dusty Schmidt mostra, com um exemplo prático, que a melhor jogada nem sempre pode ser a mais lucrativa no longo prazo.

E MAIS 28. MINAS VIP Etapa especial com diretoria do Conrad

JOÃO BAUER E FÁBIO MARITAN

30 GESTÃO DE CAPITAL

52. CARD CLUB Clubes de poker

Bauer e “f1oba” dão dicas para realizar o planejamento e cumprir as metas de ano novo.

THE BOOK IS ON THE TABLE

48 O Livro das Tells O Grande Malandro, a história do maior apostador de todos os tempos.

RAMON SFALSIN

NEM SEMPRE 54 MAIOR É MELHOR Ramon fala sobre um assunto muito importante e, às vezes, subvalorizado no poker: o tamanho das apostas.

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Cláudio Davino claudio@pokerlab.com.br fb.com/claudioam instagram.com/davinopoker

Cláudio Davino é um dos destaques brasileiros em cash games on-line, especialista em NL200 (Zoom) e instrutor da PokerLAB.

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o artigo deste mês, falaremos sobre um tópico que considero ser dos mais importantes na hora de se jogar poker: até onde nós temos valor para apostar? Vejo diáriamente muitos jogadores cometendo o mesmo erro com frequência e acabam apostando mãos que não tem mais valor no river. Hoje, vamos deixar esse assunto mais claro e analisar uma mão jogada online que ilustra perfeitamente o tópico. Queria aproveitar e sugerir a você que tiver dúvida em qualquer mão de cash

games, que me envie no meu e-mail, destacado ao lado do meu perfil aqui nesta página. Estou iniciando um processo de análise de mãos profunda aqui na revista, exclusiva para os assinantes. TOP 2 PAIR VERSUS CHECK-RAISE NO RIVER Esta mão foi enviada por Antônio “PaduaC” Lopes, jogador da NL50 Zoom do PokerStars e leitor da revista, que enviou a mão perguntando se a jogada correta era o call ou o fold no check-raise do vilão no river.

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BTN:$265.66 SB: $53.00 BB: $130.08 Hero: (UTG): $50.00 MP: $50.75 CO: $51.97 SB posts SB $0.25, BB posts BB $0.50

Pre Flop: (pot: $0.75) Hero has K♥ A♥

Hero raises to $1.50, fold, fold, fold, fold, BB calls $1.00 Flop: ($3.25, 2 players) 5♠ K♦ 2♥ BB checks, Hero bets $2.23, BB calls $5.23 Turn: ($7.71, 2 players) 7♠ BB checks, Hero bets $5.29, BB calls $5.29 River: ($18.29, 2 players) A♠ BB checks, Hero bets $12.57, BB raises to $121.06 and is all-in

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Essa mão é muito interessante. Vamos analisá-la por partes. Notes: O big blind está jogando quatro mesas de Zoom e parece ser um jogador regular que vem atuando de maneira tight, mas agressiva. FLOP Um excelente flop. Devemos apostar no flop para extrair valor do nosso top pair. Levaremos call de várias mãos piores de 6-6 a Q-Q, passando por K-Q, K-Js e K-10s. Uma aposta entre 65% a 75% do pote parece ideal. TURN O turn também é bom. Apenas se ele tem 7-7 sua mão terá melhorado o bastante para nos preocuparmos, e continuaremos levando call sempre dos K-X que dominamos. É bom perceber que alguns jogadores vão continuar pagando com mãos como 88+, mas serão poucos. Para termos certeza disso, temos que ter informação de como o vilão joga o turn e qual nossa imagem à mesa. Devemos apostar novamente no turn perto de 75% do pote para continuar extraindo valor dos K-X e, agora, também de um possível flush draw.

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RIVER O river parece excelente. Acertamos os dois pares mais altos e a chance de ele realmente ter acertado um flush é pequena, pois provavelmente mãos como Q♠J♠, J♠10♠ e piores teriam dado fold no flop, pois não tinham uma boa equidade. Então, sobram apenas combos como Q♠K♠, K♠J♠ e K♠10♠ no range de flush do vilão. Acredito que quase todos os jogadores apostariam aqui quase que automaticamente, mas nos últimos artigos, de setembro e outubro, aprendemos a pensar em ranges e combos, então eu lhe faço uma pergunta agora: quais mãos piores do que a nossa que chegaram no river e vão pagar uma aposta? Antes de ler a resposta, lhe aconselho a tentar pensar por si mesmo e chegar em uma conclusão de que mãos nós representamos, quais blefes nós podemos ter e quais mãos do vilão chegam ao river, quais pagam ou dão raise e quais dão fold.



RESPOSTA Mãos que empatamos: A-K (4 combos). Mãos que perdemos: 5-5, 2-2, 7-7, K♠J♠, K♠Q♠, K♠T♠ (12 combos). Mãos que ganhamos: 8-8, 9-9, T-T, J-J, Q-Q, K-Q (exceto K♠Q♠) (37 combos). Voilà. Ganhamos 70% das vezes, então devemos apostar, correto? Errado! Apesar de ganharmos 70% das vezes contra o range do vilão que chega ao river, devemos analisar quais desses combos nos pagariam no river. Desses combos, acredito que levaríamos call apenas de A-K. Mãos como 8-8 a Q-Q tendem a dar fold facilmente. K-Q e, raramente, K-Jo ou K-To, que possam estar no range do vilão, também não têm muita dificuldade para desistir. Assim, na prática, estaremos apostando pra levar call apenas de mãos que empatamos ou de que estamos perdendo. Finalizando a análise, não deveríamos sequer apostar no river, muito menos pagar um check-raise. Quando o vilão vai all-in, é um fold bem tranquilo.

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CONCLUSÃO Essa mão ilustra bem o pensamento que devemos tomar antes de apostar. Temos que estar sempre pensando em ranges e saber quais mãos podem ou não nos pagar. Contra o jogador em questão, que não aparentava ser ruim, optamos pelo check, mas, contra um jogador ruim, que teria muito mais combos no range e poderia nos dar call com várias mãos piores, poderíamos apostar. O poker nunca é um jogo absoluto, então podemos fazer jogadas diferentes na mesma situação e contra jogadores diferentes. Cabe a nós termos o máximo de informação e conhecimento possível para que possamos sempre estar tomando as melhores decisões.


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CALL RUIM,

BOA MÃO Por Dusty Schmidt Tradução: Eduardo Marcolino Revisão: Marcelo Souza

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ui recentemente à República Dominicana para o Punta Cana Poker Classic. É sempre um prazer jogar esse evento, patrocinado pela Card Player Brasil. A viagem é um espetáculo, com tudo incluído: ótima praia, bons quartos, pessoas muito amigáveis e, claro, golfe. O torneio começou bem pra mim, então vou falar sobre uma mão no nível 800-1600, depois de eu já ter construído um stack sólido. Naquele momento, apenas o SB tinha mais fichas do que eu.

No-Limit Holdem 800-1600 ante 200 – 9 jogadores Stacks: Eu tenho 113.500 e o SB tem 122.800. Leitura: O SB é agressivo. Pré-flop: Estou no hijack (duas posições atrás do button) e tenho K♥Q♥. A mesa roda em fold, eu dou raise para 3.700. O cutoff e o button dão fold. O SB dá re-raise para 13.500, o big blind dá fold, eu dou call. A decisão de abrir raise, em posição intermediária, com KQs, é bem fácil. No início de um torneio, eu gosto de arriscar um

pouco para tentar acumular fichas em vez de apenas esperar para atingir uma premiação mínima. Eu tento vencer. Essa mão joga bem estando em posição contra stacks de tamanho decente, então me pareceu uma boa situação para pagar uma 3-bet. Flop: 7♠ 7♣ 6♦ (30.400 – 2 jogadores) SB dá check, eu dou check. Depois de ter dado check neste flop, acredito que meu adversário tem várias mãos que contenham um Ás, mas quero esperar para ver o que acontece. Se eu aposto e sou pago, fica difícil representar uma mão de valor apostando nas três streets. Por outro lado, é fácil dar check e


depois representar uma mão com valor no turn e no river. Jogando no meu melhor nível, eu provavelmente daria check em posição com minhas mãos boas e apostaria por valor no turn e no river, já que o check dele no flop representa fraqueza. Meu check aqui me dá a chance de melhorar meu jogo sem gastar nada. Eu também poderia conseguir uma boa carta para blefar no turn, além de obter uma leitura melhor da mão do SB. Turn: 8♣ (30.400 – jogadores) SB dá check. Eu aposto 17.000. SB dá call. Já que o small blind deu check duas vezes, eu penso: “Me dá logo o pote”. Ele basicamente desistiu dele. Minha aposta não precisa ser enorme aqui. É um pouco maior que metade do pote. Eu considerei apostar ainda mais baixo para induzir um call, porque uma vez que eu aposte no turn, eu terei que apostar no river para tirá-lo da disputa com qualquer lixo que ele tenha. Há pouquíssimas mãos no range dele que o farão dar check no flop e no turn e depois dar call no turn e no river.

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River: 5♠ (64.400 – 2 jogadores) SB dá check, eu aposto 30.000, SB paga. O backdoor flush não veio, mas essa ainda poderia ser uma carta assustadora para meu oponente, o que significa que é boa para eu apostar. Eu não achei que precisaria fazer uma aposta grande, já que o range mãos do meu adversário era fraco. Minha aposta de 30.000 me deixa com 52.800 fichas sobrando. São 33 big blinds nessa fase do torneio, então, mesmo que o blefe não passasse, eu não estaria totalmente fora da disputa. Ao apostar menos da metade do pote, eu não precisaria que esse blefe funcionasse nem um terço das vezes para que ele fosse lucrativo. Senti que meu adversário tinha A-K ou A-Q, quase 100% das vezes, nessa situação, o que me fez me sentr muito bem em relação à minha aposta.



Nenhuma outra mão faria sentido. Achei que ele iria dar fold com esse jogo quase sempre. Mas eu estava errado. Ele deu call e ganhou o pote com A-10. Mais como um exercício do que como uma forma de zombar de mim mesmo, podemos tirar proveito de uma análise da lucratividade desse call. A melhor forma de começar é pelo meu range de mãos. Eu apostaria no turn e no river com praticamente todas as mãos que eu teria dado check no flop. Isso é algo como 22-QQ e cartas broadway do mesmo naipe (AKs, AQs, AJs, KQs, KJs, QJs, JTs). Seu A-10 venceria 15 combinações dessas mãos (KQs, KJs, QJs, JTs). Ele perderia para todas as minhas mãos com Ás e meus pares. Isso representa pelo menos 59 combinações. Para um call lucrativo, o small blind precisa que seu A-10 seja vencedor em torno de 32% das vezes. E na verdade ele é bom em aproximadamente 20% das vezes. O que podemos dizer é: “call ruim, boa mão”. E então jogar um pouco mais e partir para a praia.

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Dusty Schmidt dusty.schmidt @dustyschmidt

Dusty “Leatherass” Schmidt é instrutor no DragTheBar.com. Ele já disputou cerca de 7 milhões de mãos online e ganhou mais de $3 milhões de dólares.





GE$TÃO de

CAPITAL Por Fábio “F1oba” Maritan e João Bauer

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ankroll é o montante que se tem reservado para jogar poker. Gerir esse dinheiro consiste em decidir em quais limites se investir, minimizando o risco de falência decorrente da variância entre ganhos e perdas. Neste artigo, nossa intenção é passar para vocês como funciona a gestão de bankroll para torneios online. Primeiramente, o seu bankroll deve ser independente das suas finanças pessoais e quaisquer outros investimentos. Antes de ser um bom jogador de poker é necessário que você seja um bom administrador. Saber escolher o que você

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joga, investindo regularmente em buy-ins adequados durante uma sessão e sem se preocupar com o dinheiro ali investido, carece do entendimento de dois fatores: a ciência de que é lucrativo nos torneios que está investindo e o momento certo de subir ou descer os limites. A maioria dos livros e artigos que tratam sobre gerenciamento de bankroll estão ultrapassados. Em regra geral, a literatura convencionou que para jogar confortavelmente os torneios, você deveria reservar algo entre 40 e 100 buy-ins. Hoje em dia, em que os jogadores imprimem um volume muito mais forte, essa ges-


tão mostrasse inviável – por exemplo, é possível que, muitas vezes, você gaste 40 buy-ins em uma única sessão diária. Atualmente, a gestão de bankroll que utilizamos e recomendamos baseia-se no valor médio de inscrição (average buy-in) e na quantidade de torneios diários que compõe a sessão do jogador. Por exemplo, se suas sessões diárias são compostas por 30 torneios, com valor médio de inscrição de $10, você investe diariamente um total de $300. Esse número, multiplicamos por 20 (para uma gestão de bankroll mais agressiva), totalizando $6.000, ou por 30 (para uma gestão mais conservadora), totalizando U$ 9.000. Escolher entre uma gestão mais agressiva ou conservadora vai depender também de seu estilo de jogo e histórico de variações, além da disponibilidade financeira. Falando em variações,

é importante frisar que nos buy-ins mais baixos a dificuldade para se bater o limite é menor, impactando em variâncias menores. O contrário também é válido, já que nos limites mais altos temos mais dificuldades e uma variância mais cruel. Daí a importância de estar ciente se você bate ou não determinado limite. Sobre momento certo de subir ou descer os limites, é muito importante que se, por exemplo, em uma downswing (período de perdas), você desça o equivalente a 100 buy-ins médios ($1.000), você ajuste sua grade de torneios de acordo, para amenizar os impactos. Esse ajuste consiste em colocar torneios mais baratos e, consequentemente, reduzir o valor médio de inscrição. Assim, estamos sempre respeitando a regra de se ter no mínimo 20 vezes o valor total da sessão diária.

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Gerir o bankroll implica também em saber os momentos certos de se fazer saques. As retiradas não podem atrapalhar sua rotina diária de trabalho, ou seja, saques agressivos, que vão te forçar a jogar limites mais baratos, acabam sendo prejudiciais no longo prazo. Por regra, recomendamos realizar saques quando se excede em mais de 20% o capital de giro. Por exemplo, supondo que você tenha os $6.000 de bankroll e não tem, por enquanto, pretensões de subir o valor de inscrição médio. Seus saques podem ser feitos sempre que seu bankroll estiver acima de $7.200. Com este “coquetel antiquebra” em mãos é possível suportar as variações naturais que ocorrerem e ainda manter um capital de giro saudável. Tratar seu bankroll de forma similar a um capital de giro empresarial e fazer uma gestão disciplinada são características fundamentais do bom jogador profissional, impactando diretamente em seu sucesso e regularidade.

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João Bauer @jddnbauer

João Bauer é um dos fundadores do Steal Team. É um dos poucos brasileiros a conquistar um título da principal série de poker online do mundo, o WCOOP. Ele também já chegou à mesa final do LAPT e da WSOP.

Fábio “f1oba” @f1oba

Fábio Maritan é jogador e instrutor do Steal Team. Ele possui mais R$ 1,8 milhão em prêmios apenas no PokerStars.


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N

ovember ine Por Marcelo Souza

LENDA ““JOHNNYBAX” COMANDA OS FINALISTAS

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Um total de 6.737 jogadores registrados, o 5º maior Main Event da história. Dez dias em que milhares de stacks das 336.850.000 de fichas trocaram de mãos constantemente. Agora, restam apenas nove pilhas. O November Nine 2016 está formado – e será especial. O Main Event da 47ª World Series of Poker, independente do resultado, coroa a carreira de uma das grandes lendas do poker. No início da década de 80, final de 70, a primeira revolução no poker veio com Doyle Brunson e seu livro Super System. Em 2004, Dan Harrington trouxe o a trilogia Harrington no Hold’em. “Tight is right” (tight é o correto) era o lema

dos livros que traziam toda a base do Texas Hold’em: mãos iniciais, tamanho de apostas, odds do pote etc. Ainda que o hoje chamado “feijão com arroz” ou “ABC do poker”, ensinado por Harrington, tenha sido um modelo lucrativo por alguns anos, naquela época, já havia um jogador que jogava completamente ao contrário do que ensinava o livro. Cliff “JohnnyBax” Josephy aterrorizava seus adversários entrando em muitas potes, dando raises e fazendo 3-bets com mãos marginais. Ninguém sabia como reagir a isso. Eram os primeiros indícios do poker como conhecemos hoje, o poker matemático, o poker que joga o range de

mãos do adversário e não as próprias cartas, o poker moderno. Os segredos do “novo metagame” criado por “JohnnyBax” começaram a se espalhar, graças a ele mesmo, que publicava vídeos e mais vídeos na escola de treinamento PokerXFactor. “JohnnyBax” estava criando futuros monstros. No entanto, o criador nunca foi engolido pela criatura - e a prova está aí. Entre os November Nine deste ano, “JohnnyBax” é o chip leader e o jogador a ser batido. Enquanto o dia 02 de novembro, quando eles voltam aos panos para disputar o primeiro prêmio de US$ 8.000.000, não chega, a Card Player Brasil apresenta os nove jogadores mais invejados do ano.

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ASSENTO 1 – GRIFFIN BENGER (CANADÁ) Stack: 26.175.000 (7º lugar 52 big blinds) Idade: 31 anos ITMs na WSOP: 13 Griffin Benger não pretendia disputar o Main Event, mas ao conseguir a vaga em um satélite, acabou indo para os panos. Único canadense da mesa final, Benger tem um dos currículos mais impressionantes da mesa final. Usando o nickname “Flush_Entity”, ele já ganhou mais de US$ 6,5 milhões na internet, já conseguiu a Triple Crown por seis vezes e liderou o principal ranking de poker online do mundo, o do PocketFives, por outras cinco. Ao vivo, ele soma US$ 2,4 milhões em prêmios. Sua maior premiação é de um torneio pouco convencional, o Shark Cage. Produzido pelo PokerStars, em sua 1ª temporada, Benger levou US$ 1.000.000 ao vencer o evento que reúne celebridades, profissionais e classificados pelo site. Outro fato curioso sobre Benger é que ele já jogou Counter-Strike profissionalmente — e é considerado uma lenda do jogo de tiros. Jogando como “shaGuar”, ele fez parte da lendária equipe NoA, que venceu vários dos principais torneios de CS entre 2003 e 2007.

ASSENTO 2 – VOJTECH RUZICKA (REPÚBLICA TCHECA) Stack: 27.300.000 (6º lugar 55 big blinds) Idade: 30 anos ITMs na WSOP: 17 Desde 2011, quando Martin Staszko terminou em segundo lugar no Main Event, um tcheco não chegava ao November Nine. Agora, Ruzicka não só tem a chance de vencer o principal torneio de poker do mundo, como também de se tornar o segundo jogador do seu país a levar um bracelete. Ruzicka já ganhou US$ 1.149.027 em sua carreira. Seu maior prêmio veio da vitória no high roller do EPT Deauville 2013, em que embolsou US$ 427.000.

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ASSENTO 3 – FERNANDO PONS (ESPANHA) Stack: 6.150.000 (9º lugar 12 big blinds) Idade: 37 anos – Gerente de contas na Espanha, Pons nunca havia viajado a Las Vegas. Jogador recreativo, neste ano, ele foi à Cidade do Pecado apenas para disputar o Main Event. Ainda que tenha o menor stack da mesa final e seja o principal candidato a ser eliminado na 9ª colocação, Pons já garantiu US$ 1 milhão, o que o coloca em 10º lugar no ranking espanhol dos jogadores que mais ganharam dinheiro no poker.

ASSENTO 4 – QUI NGUYEN (ESTADOS UNIDOS) Stack: 67.925.000 (2º lugar 136 big blinds) Idade: 39 anos ITMs na WSOP: 1 Apesar do famoso sobrenome, Nguyen não é um profissional de poker. Único residente de Las Vegas, perguntado sobre a sua profissão, ele respondeu “gambler”, em bom português, um apostador profissional. Apesar de jogar poker com certa regularidade, seus ganhos em torneios estão na casa de US$ 50.000. Mesmo não sendo o mais experiente da mesa, ele tem tudo para chegar entre os primeiros colocados, já que possui um stack gigantesco.

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ASSENTO 5 – CLIFF JOSEPHY (ESTADOS UNIDOS) Stack: 74.600.000 (1º lugar – 149 big blinds) Idade: 51 anos ITMs na WSOP: 17 Braceletes da WSOP: 2 O mais velho entre os November Nine e também o jogador a ser batido. Não se engane pelos cabelos grisalhos e a fala mansa desse “tiozão”, que mais parece ter saído de um daqueles famosos filmes de faroeste de John Ford. Cliff Josephy é na verdade uma das maiores lendas do poker mundial e tido por muitos como o pai do poker moderno. Mais conhecido como “JohnnyBax”, nick com o qual ganhou mais de US$ 4 milhões na internet, ele revolucionou o poker online. Com seu jogo loose-agressive, pouco convencional naquela época, em meados da década passada, ele mostrou ao mundo jogadas famosas e, até então, pouco utilizadas, como a 3-bet light. Foi também o melhor jogador do mundo, segundo o Pocket Fives, em 2005, e conseguiu a Triple Crown por duas vezes. Já venceu o Super Tuesday e também um evento de Omaha da extinta FTOPS (Full Tilt Online Poker Series). Ao vivo, seus resultados também impressionam. Além dos US$ 2,6 milhões em ganhos, “JohnnyBax” possui dois braceletes da WSOP, o mais recente deles conquistado em 2013, em um torneio shootout. Após o título, em entrevista ao site Pokerdoc, ele comentou sobre o fato de ser uma das mentes responsáveis pela evolução do poker, graças à lendária escola de treinamento PokerXFactor, para qual ele produziu centenas de vídeos: “Eu sou um idiota (risos). Quando eles começaram a fazer 3-bets insanamente, como eu fazia, não fiquei muito feliz. Eu costumava poder dar raise com A-Q e largar tranquilamente se alguém fosse all-in, porque certamente eu teria a pior mão. De repente, eu já estava dando raise-call com A-9 (risos)”. Apesar de nunca ter vencido o Main Event, ele era o homem que financiou Joe Cada, campeão de 2009. Sorte de campeão, ele já provou que tem.

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ASSENTO 6 – MICHAEL RUANE (ESTADOS UNIDOS) Stack: 31.600.000 (5º lugar 63 big blinds) Idade: 28 anos ITMs na WSOP: 3 Até chegar ao November Nine, Michael Ruane não tinha muita história para contar sobre poker — talvez uma. Em 2012, voltando do PokerStars Caribbean Adventure, ele foi preso juntamente com o irmão, Sean Ruane, e o primo, Thomas Freeman Jr., por não declararem US$ 26.000 que dividiram entre eles ao voltar para os Estados Unidos. Apesar de ter apenas cerca de US$ 45 mil em premiações ao vivo, Ruane sempre jogou online. Após a Black Friday, ele morou em Malta, Costa Rica e Montreal para poder continuar jogando. Seu nickname é um mistério.

ASSENTO 7 – GORDON VAYO (ESTADOS UNIDOS) Stack: 49.375.000 (3º lugar 99 big blinds) Idade: 27 anos ITMs na WSOP: 26 Usando o apelido de “holla@yoboy”, no PokerStars, Vayo ganhou US$ 1,6 milhão. Experiente, ele joga poker desde os 16 anos, mas só começou a jogar nos feltros ao vivo em 2008, aos 20, onde acumula US$ 974.714 em ganhos. Em 2014, Vayo esteve perto de ganhar um bracelete da WSOP. No Evento #15 [$3,000 6-Max NLH], ele perdeu o heads-up para o principal nome do poker belga, Davidi Kitai, e embolsou US$ 314.000. Entre os finalistas, ele é um dos que mais tem motivos para comemorar. No Dia 6, ele flertou com a eliminação ao ir all-in com A-K e encontrar Jonas Lauck com par de Ases. O bordo veio Q-10-3-J-9, dando a ele uma sequência e deixando Lauck com apenas seis big blinds.

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ASSENTO 8 – KENNY HALLAERT (BÉLGICA) Stack: 43.325.000 (4º lugar 87 big blinds) Idade: 34 anos ITMs na WSOP: 22 Pelo segundo ano consecutivo, a Bélgica coloca um representando entre os November Nine. Se no ano passado, o amador Pierre Neuville decepcionou jogando com medo e caindo na 7ª posição, neste ano, a história tem tudo para ser diferente. Além de ter o quarto maior stack entre os finalistas, Kenny Hallaert é um jogador experiente e conhecido na Europa. Ele possui US$ 1.317.530 em premiações ao vivo, além de mesas finais em grandes torneios, como a própria WSOP, o EPT e o UKIPT. Antes do fechamento do mercado de poker belga, ele jogava no Party Poker com o nick “SpaceyFCB”, onde ganhou US$ 246.000. Em seu país, Hallaert também é famoso por ser o diretor de torneios do Belgian Poker Challenge, evento com duas paradas (Namur e Spa) e chancelado pelo PokerStars.

ASSENTO 9 – JERRY WONG (ESTADOS UNIDOS) Stack: 10.175.000 (8º lugar 20 big blinds) 34 anos ITMs na WSOP: 19 Se pudéssemos definir a carreira de Jerry Wong no poker com apenas uma palavra, ela seria: “traves”. Wong é sem sombra de dúvidas um dos grandes nomes da mesa final. “hummylun”, como é conhecido online, já ganhou US$ 3,3 milhões na internet — e esse valor poderia ser bem maior. Neste ano, ele terminou em 4º no Main Event do SCOOP, recebendo US$ 500 mil a menos que o campeão. Em 2013, ele foi o 13º no Main Event do WCOOP, torneio que pagava $1,8 milhão para o campeão. Mas foi em 2012 a trave mais doída. Também no Main Event do WCOOP, Wong foi eliminado na 11ª posição segurando A-A versus 6-6, com o adversário acertando a trinca no river. Após a eliminação no torneio, que pagava US$ 1,6 milhão para o campeão, ele tweetou: “Eu realmente acabei de perder um milhão de dólares em equidade para um river idiota?” Ao vivo, Wong também acumula bons resultados, além de US$ 1,3 milhão em ganhos. Sua maior premiação veio do 3º lugar no PCA 2013, em que ganhou 725 mil dólares. Apesar de ser um jogador formidável, não devemos esperar muito de Wong no início da mesa final, com um salto na premiação de US$ 100 mil do 9º para o 8º colocado, ele deve jogar de forma cautelosa, uma vez que Fernando Pons tem apenas 12 big blinds.

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PREMIAÇÃO EM DISPUTA (USD): 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º

$8.000.000 $4.658.452 $3.451.175 $2.574.808 $1.934.579 $1.463.906 $1.250.000 $1.100.000 $1.000.000

Data: 09 a 19 de julho; 02 a 04 de novembro Local: Rio All-Suite Hotel & Casino (Las Vegas — EUA) Buy-in: US$ 10.000 Field: 6.737 jogadores Prize pool: US$ 63.327.800

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FOUR CARD

Fright Fest Emocione-se jogando Omaha, a tentadora variante de poker na qual você recebe quatro hole cards! Nessa época de Halloween, estaremos voltados para o Omaha com uma série de torneios garantidos nessa modalidade acontecendo toda noite.

E o melhor - jogue 5 dos eventos principais da Fright Fest para conseguir um ticket de €10 para o torneio final com €5.000 garantidos no dia 6 de novembro.

Como funciona Para aqueles corajosos o bastante para lidar com quatro hole cards, €15.000 estão garantidos ao longo dessa arrepiante série de torneios!


Dia

Data

Hora

Jogo

Buy In

Garantido

Sexta

28/10/2016

14:20 BRT

PLO

€1 + €0.10

€150

Sexta

28/10/2016

15:30 BRT

PLO

€2 + €0.20

€250

Sábado Sábado

29/10/2016 29/10/2016

14:20 BRT 15:30 BRT

PLO PLO

€1 + €0.10 €5 + €0.50

€150 €1,000

Domingo Domingo

30/10/2016 30/10/2016

14:20 BRT 15:30 BRT

PLO PLO

€1 + €0.10 €20 + €2

€150 €2,000

Segunda

31/10/2016

14:20 BRT

PLO

€1 + €0.10

€150

Segunda Terça

31/10/2016 01/11/2016

15:30 BRT 14:20 BRT

PLO PLO

€2 + €0.20 €1 + €0.10

€500 €200

Terça

01/11/2016

15:30 BRT

PLO

€10 + €1

€1,000

Quarta Quarta

02/11/2016 02/11/2016

14:20 BRT 15:30 BRT

PLO PLO

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O Grande Malandro

Memรณrias de Amarillo Slim O maior apostador de todos os tempos


THE BOOK IS ON THE TABLE

Quando o assunto é o poker, poucos são os livros que têm leitura tão prazerosa quanto O Grande Malandro, uma autobiografia de Amarillo Slim Preston — campeão do Main Event da WSOP de 1972 e membro do Hall da Fama do Poker. Nele você não vai aprender nada sobre 3-bets, 4-bets, 5-bets ou quaisquer outras técnicas avançadas do jogo, mas, em compensação, não vai conseguir desgrudar os olhos, nem por um segundo, das mais fantásticas histórias que um apostador já viveu. Entre apostas hilárias, inusitadas e até perigosas, estão personagens históricos como o traficante colombiano Pablo Escobar, o ex-presidente do Estados Unidos Lyndon Johnson, o rei da pornografia Larry Flint e outras tantas celebridades. Amarillo morreu em abril do ano passado, mas seu legado e o título de “maior apostador de todos os tempos” perdurarão para sempre.

Introdução

(p. 21)

Se qualquer coisa for alvo de controvérsia, eu aposto nela ou me calo. E como discutir não é algo muito apropriado para um cowboy, já fiz várias apostas na vida. Mas, na minha humilde opinião, eu não sou um apostador qualquer. Sabe, amigo, eu nunca saio em busca de um idiota; eu procuro um campeão e faço dele um idiota. Eu sabia que não convenceria nenhum amador a jogar pingue-pongue comigo por dinheiro, apenas Bobby Riggs, o campeão de Wimbledon de 1939 — eis um homem que estava interessado em fazer uma aposta. Droga, se um cara não achar que tem alguma vantagem, você não tem chance alguma de ele apostar com você. Bobby não era apenas o melhor jogador de tênis do momento, como também uma personalidade, uma celebridade mundialmente conhecida. Ele era tão famoso que o Tio Sam pediu que ele fizesse exibições de tênis para as tropas durante a Segunda Guerra Mundial e usou isso para fazer propaganda. Em Pearl Harbor, em 1944, um infeliz estranho, que não fazia ideia que Bobby era um campeão, desafiou-o a uma partida de tênis valendo muito dinheiro. Sem praticamente esforço algum, Bobby saiu com todo o dinheiro do cara, o seu carro e o seu bizarro bangalô em Honolulu. Dizem que Bobby se sentiu mal pelo coitado e devolveu tudo — exceto $500, que ele disse ser pela “lição”. Eu sei que esse é um preço muito alto por uma lição, mas acho que poderia ter sido muito pior para a vítima desavisada de Bobby.

Bobby também era conhecido por suas apostas no tênis. Para atiçar idiotas que queriam uma chance de jogar com ele, mas sabiam que jamais o derrotariam, ele inventava as maiores loucuras. Ele jogava com um poodle amarrado em cada perna, ou com uma capa de chuva e galochas enquanto segurava um guarda-chuva aberto com a sua mão esquerda. Acredite em mim, esse menino tinha imaginação, e ele não diminuiu o ritmo nem um pouco à medida que envelhecia. Em maio de 1973, aos 55 anos, Bobby enfrentou a jogadora número um do mundo, Margaret Court, em uma partida-desafio no San Diego Country Estates, chamada de “A Batalha dos Sexos”. De algum modo, aquele enérgico senhor executou truques suficientes para derrotá-la. Bem, Billie Jean King, a segunda melhor jogadora do mundo, que Bobby tinha chamado de “a verdadeira líder sexual do bando revolucionário”, não gostou dos comentários de Bobby sobre a superioridade do gênero masculino e o desafiou a jogar uma partida contra ela. Diante de mais de 30 mil espectadores no Astrodome, em Houston, em setembro de 1973, a mulher de 29 anos derrotou o senhor de 55 em três sets consecutivos. E isso promoveu manchetes ao redor do mundo. Como se tratava de um evento no qual o resultado era duvidoso — pelo menos no Texas —você pode ter certeza de que eu estava lá, e é provável que eu tenha feito uma pequena aposta também. Eu tinha conhecido Bobby rapidamente no ano anterior, em Las Vegas, na World Series of Poker e, quando conversei com

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ele depois da partida de tênis, Bobby me disse que eu seria sempre bem-vindo no Bel Air Country Club, na sua cidade natal, Los Angeles. O poker era bom no sul da Califórnia naquela época — ainda é hoje — e na minha viagem seguinte até lá, eu fiz uma visita ao velho Bobby no seu elegante country clube. Não demorou muito para que ele tentasse me convencer a apostar, e como eu não era um jogador de tênis, ele tentou me persuadir a jogar pingue-pongue. Nós dois sabíamos que ele era um jogador muito melhor, mas depois daquele incidente em Pearl Harbor, Bobby tinha amadurecido e aprendido a não se entregar. Em outras palavras, ele não estava querendo ganhar quinhentos dólares por uma lição, ele estava querendo chutar o meu traseiro magro e interiorano. Como era de se esperar entre dois apostadores, nós ficamos em um vai e vem tentando achar uma aposta justa, mas Bobby continuava se recusando a me dar uma oportunidade. Então finalmente eu disse que jogaria com ele com uma condição: que eu escolhesse as raquetes. “Nós dois usaremos a mesma raquete?” “Sim, senhor”. “Então quando você chegar com duas raquetes iguais, eu posso escolher com qual eu quero jogar?” “Sim, senhor, desde que eu traga as raquetes”. Bobby achava que eu ia dar algum golpe juvenil — que seria uma questão de peso ou que uma das raquetes seria furada ou algo do tipo. Mas quando eu disse que ele podia escolher qualquer uma das duas raquetes que quisesse usar, ele imediatamente comprometeu o seu dinheiro. Nós apostamos $10.000 e concordamos em jogar às 14h do dia seguinte. Antes de eu sair, apenas para evitar mal-entendidos, eu confirmei a aposta: nós iríamos jogar pingue-pongue de vinte e um pontos, com cada um usando raquetes de minha escolha. Eu cheguei no dia seguinte ao Bel Air Country Club preparado para a disputa. Quando Bobby me pediu para ver as raquetes, eu enfiei a mão na minha mochila e entreguei a ele duas frigideiras, de mesmo peso e tamanho, e disse que ele poderia usar qualquer uma. Bobby era o atleta mais bem-coordenado que já viveu, mas sacudia aquela frigideira como um cozinheiro ensandecido. Ele só começou a aprender a manejar a frigideira quando eu estava perto de derrotá-lo, mas foi tarde demais. Eu ganhei o jogo de 21 a 8, e poderia ter sido bem pior. Mais uma vez eu tinha provado que você pode ganhar a vida derrotando um campeão apenas usando a sua cabeça em vez do seu traseiro. A pessoa mais fácil de ser enganada no mundo é um enganador, e Bobby tinha mordido aquela isca feito um porco selvagem depois de uma enchente. Eu vinha praticando com aquela frigideira desde que o tinha encontrado em Houston, e depois que recolhi o dinheiro, apertei a mão de Bobby e nós rimos muito.

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TÍTULO: O Grande Malandro – Memórias de Amarillo Slim, O Maior Apostador de Todos os Tempos (Amarillo Slim in a World Full of Fat People) AUTOR: Amarillo Slim NÚMERO DE PÁGINAS: 322 PREÇO: R$ 75,00 DISPONÍVEL EM: www.raiseeditora.com


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CARD CLUB

A Card Player Brasil acaba de criar o Card Club, um programa com vantagens únicas que levará as principais marcas de clubes de todo o País a você que nos acompanha em todas as nossas plataformas. Através do Card Club, qualquer clube do Brasil pode se tornar um parceiro da Card Player Brasil, tendo sua marca e seus torneios divulgados nas páginas da principal revista de poker da América Latina, edições impressa e digital; e, claro, nas nossas mídias sociais. Em breve, também em nosso site, uma seção exclusiva para os nossos parceiros. Você, dono de clube, que deseja formar uma parceria com a Card Player Brasil, basta enviar um e-mail para contato@cardplayerbrasil.com e ficar pode dentro dos detalhes de como fazer parte do nosso time.


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Ramon Sfalsin @RamonSfalsin www.pescanco.com.br facebook.com/ramonpoker

Ramon Sfalsin é uma das jovens revelações do poker nacional e um dos poucos a chegar, de forma consecutiva, a duas mesas finais de BSOP. É instrutor da PokerLAB e especialista em satélites online.

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s apostas no poker são consideradas “pequenas” ou “grandes” quando comparadas ao tamanho do pote, ou seja, quando você estiver determinando o tamanho das suas apostas pós-flop, deverá estar sempre atento a quantas fichas há no pote. É importante saber manipular o tamanho do pote a partir do flop, definindo os tamanhos das apostas que lhe deixam confortável para fazer determinadas ações no turn e no river. Lembre-se que uma aposta maior no flop deixará o valor do pote maior, consequentemente, a aposta no river e o pote total crescerão geometricamente. Vamos analisar dois cenários:

No primeiro cenário, o pote tem 1.000 fichas e vamos apostar metade do pote no flop, turn e river. Se o vilão pagar todas as nossas apostas, o pote total será de 8.000 fichas. No segundo cenário, o pote também tem 1.000 fichas, mas faremos uma aposta de ¾ do pote no flop, turn e river. Diferentemente da primeira situação, o pote total será de 15.625 fichas, praticamente o dobro do cenário anterior! Portanto, é importantíssimo planejar quanto apostar no flop, já pensando também no turn e no river. Quanto maior a aposta, maior deverá ser o retorno para que aposta seja lucrativa. Eu acredito que você não queira investir um capital de 8% em um produto e ter

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um retorno final de 6%, certo? No poker, é a mesma coisa. O quanto você está apostando (investindo) em relação ao pote total (produto) é exatamente a porcentagem mínima de vezes que você precisa ganhar a mão para que sua aposta seja lucrativa. Por exemplo: Se você apostar 100 fichas em um pote que tem 300 fichas, estará investindo 100 para um pote total (incluindo a sua aposta) de 400, ou seja, estará investindo 25% do pote total. Portanto, se você deseja blefar e acha que o oponente desistirá mais de 25% das vezes contra sua aposta, não hesite e mande bala. Lembre-se que apostar de acordo com a força da mão, geralmente, é um erro grave, pois fica extremamente perceptível, para oponentes que estejam observando

TAMANHO DA APOSTA

QUANTIDADE DE VEZES QUE A APOSTA DEVE FUNCIONAR PARA SER LUCRATIVA

1/3 do pote

25%

1/2 do pote

33%

2/3 do pote

40%

100% do pote

50%

Há dezenas de informações para analisar antes de determinar por qual tamanho de aposta adotar. Então vamos lá: BORDO E RANGES As cartas no bordo não só influenciarão se você fará ou não uma aposta, como também influenciarão no tamanho da aposta. Quando há muitos draws na mesa, a probabilidade de o oponente ter

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as suas ações na mesa, o que você está segurando. É importante manter padrões no tamanho das apostas, tanto com uma boa mão quanto blefando. Fazer uma aposta pequena, como 1/10 do pote, com intuito de blefar será quase sempre ruim porque mostra fraqueza e deixa o investimento barato para o seu oponente pagar. Já blefar apostando o dobro do pote (overbet) fará com que o seu investimento seja caro e necessitará que funcione uma probabilidade maior de vezes para ser lucrativo. As apostas mais comuns dos jogadores variam de 1/3 até o valor do pote. Para facilitar, vejam o quadro abaixo:

um deles é maior, e o objetivo é fazê-los pagarem caro tentando acertar o draw. Com isso, tanto por valor quanto por blefe, em situações em que há muitos draws na mesa, vou variar minhas apostas entre metade e ¾ do pote.


Nesse exemplo, os blinds são 300/600, fiz um raise para 1.200 antes do flop e o oponente no cutoff pagou. Mesmo que façamos uma aposta um pouco mais forte, há muitas combinações de mãos com as quais o oponente poderá pagar nossa aposta, como KJ-, Q-J, K-Q, todas as combinações com queda para flush e talvez T-X e 9-8.

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Nesse exemplo, os blinds são 500/1.000, fiz um raise para 2.000 fichas antes do flop e o oponente fraco, com stack de 26 bbs, pagou nosso raise do small blind. Suponho que o vilão pagou minha aposta pré-flop com o seguinte range: 22-TT, A2s-AQs, A8o-AQo, KTo+, K9s+, QTo+, Q9s+, JTo, J9s+, T9s, 98s. Um jogador fraco tem tendências a desistir quando não acerta pelo menos um par ou draw no flop, pois seu único objetivo é combinar as suas cartas da mão com as cartas comunitárias. Dentre as mãos que definimos ao oponente pré-flop, ele errou a maioria delas e, portanto, podemos economizar algumas fichas apostando menos na hora de blefar. Minhas apostas nesse caso variam entre 1/3 e metade do pote.

POTE E STACK EFETIVO O menor stack dentre os jogadores na disputa de uma mão é considerado o stack efetivo, pois é o máximo que pode-se perder ou ganhar na mão, ou seja, no confronto entre um jogador com 2.000 fichas e outro jogador com 10.000 fichas, o stack efetivo é de 2.000. Quanto menos fichas efetivamente tivermos no stack em relação ao pote atual, menor poderá ser nossa aposta, pois o oponente não tem potencial de ganhar muitas fichas e uma aposta pequena já “machuca” o stack dele.

Nesse exemplo, os blinds são 500/1.000, fiz um raise para 2.000 fichas antes do flop e o oponente fraco, com stack de 13 bbs, pagou nossa aposta do small blind. Diferentemente do exemplo anterior, nesse caso, o stack do oponente é menor e consequentemente o seu range também, pois provavelmente ele daria all-in pré-flop com mãos fortes como A-Q, A-J, A-T, K-Q e 77+. Suponho que o vilão pagou minha aposta pré-flop com o seguinte range: 22-66, A2s-

A9s, A8o-A9o, KTo, KJo, K9s-KJs, QTo+, Q9s+, JTo, J9s+, T9s, 98s. Dentre essas mãos, as chances de o oponente ter errado são maiores que no exemplo anterior. Como o stack restante do oponente é pequeno, uma aposta de ¼ do pote muitas vezes surtirá o mesmo efeito que uma aposta de 1/3, pois machuca o stack do oponente. Portanto, podemos economizar algumas fichas apostando menos na hora de blefar. Minhas apostas nesse caso variam entre 1/4 e 1/3 do pote.

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O mesmo é válido para situações de 3-bet pré-flop. Nesse exemplo, os blinds são 500/1.000, o jogador no high jack aumentou para 2.100 fichas, reaumentei para 5.500 fichas e somente ele pagou. Mesmo errando o flop, não há necessidade de apostar forte com intenção de blefar, porque o stack efetivo está curto e por continuarmos mostrando muita força com a aposta, já que fizemos um reraise antes do flop.

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QUEM SÃO OS JOGADORES? Contra jogadores fracos e pagadores, devemos apostar mais forte quando temos uma mão com valor e evitar blefes, pois não adianta querermos representar alguma mão forte quando o oponente só está preocupado com a própria mão. Eu costumo apostar meio pote em bordos secos, em que há poucas chances do oponente ter acertado alguma mão, e no mínimo 2/3 do pote quando o oponente pode pagar com muitas combinações de mãos.


OS MELHORES BARALHOS DO MUNDO

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Nesse exemplo, minha aposta deveria variar entre 1/2 e ¾ do pote, porém, como o oponente é muito fraco e pagador, optei por apostar algo em torno do valor do pote para tentar extrair o máximo de fichas possíveis, já que as chances de ele desistir tendo um par ou draw são pequenas. POSIÇÃO E PLANEJAMENTO DE STREETS Estar fora de posição no pós-flop é a maior desvantagem que um jogador pode ter, principalmente em uma situação deep stack. Complementando todos os tópicos citados anteriormente, quando eu estiver fora de posição optarei por apostas maiores na intenção de dificultar as decisões do oponente. Já em posição, posso adotar padrões de apostas menores, pelo fato do oponente estar desconfortável jogando fora de posição.

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E para finalizar, não podemos esquecer de planejar o tamanho das nossas apostas pensando nas streets (turn e river) futuras, lembrando que nossas apostas crescem o pote geometricamente. Há dezenas de outros detalhes mais complexos para serem abordados como apostas maiores que o pote e a guerra psicológica (metagame) entre os jogadores no momento. Mas isso fica para um próximo artigo. Fiquem ligados


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