PURE MAGAZINE #1

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/ em baixo da esq para a dir: 1 Colecção Primavera/Verão 2008, PEDRO PEDRO. Portugal Fashion, Fotografia Cassiano Ferraz / 2 Colecção Primavera/Verão 2008, SANDRA BACKUND. Fotografia Ola Bergengren / 3 Colecção Primavera/Verão 2005, PRISCILA ALEXANDRE. Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco / 4 Colecção Outono/Inverno 2009, MARIOS SCHWAB. Fotografia Chris Moore / 5 Colecção Primavera/Verão 2008, Lara Torres. Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco / 6 Colecção Primavera/Verão 2008, FELIPE OLIVEIRA BATISTA. Portugal Fashion, Fotografia Cassiano Ferraz / 7 Colecção Primavera/Verão 2008, WHITE TENT. Arquivo Moda Lisboa, Fotografia Rui Vasco

De recém-licenciado a jovem criador. por Natacha de Noronha Paulino A escolha de uma carreira artística parte, a maioria das vezes, de uma convicção pessoal e inquestionável. Mas o seu lançamento é, isso sim, pleno de objectividade traduzido em esforço, disciplina e... dinheiro. Várias opções se apresentam a um recém-licenciado em design de moda, já que são mais as saídas profissionais do que à partida possa parecer, desde o desenvolvimento de colecções para marcas, passando por produção de moda, ilustração, fardamento, vitrinismo, colaboração com gabinetes de tendências, consultoria de moda (desenvolvida em várias áreas como por exemplo na televisão), até à crítica de moda e ao ensino. A todas estas hipóteses junta-se a que será, provavelmente, a de eleição: a criação de marca própria. Neste caso específico, o impulso monetário é essencial para a entrada no meio competitivo do mercado. Quer se trate de design de moda, criação de moda ou alta-costura, a pró-actividade surge como requisito sine qua non, no alcance de visibilidade, que em raros casos acontece a custo zero. É para colmatar o fosso que se instala entre o fim de um percurso académico e o início de carreira, que surgem os concursos para jovens criadores, abertos à escala mundial. Quando em 1993 os holandeses Viktor Horsting e Rolf Snoeren, recém-formados da Arnhem Academy of Art and Design de Netherlands, concorrem ao Festival Internacional de Moda e Fotografia de Hyères (França), já sob a denominação de Viktor & Rolf, estão longe de imaginar o alcance que hoje se sabe, conseguido em quinze anos. Com três prémios arrecadados em Hyères, o ano seguinte fica marcado pela atribuição de uma bolsa pela ANDAM - Associação Nacional para o Desenvolvimento das Artes da Moda (França), que proporciona um importante estímulo à carreira embrionária da dupla. É no entanto em Outubro de 1997, que saem do anonimato, conseguindo atrair as atenções para a sua exposição e para o lançamento da primeira fragrância - Le Parfum. Uma colecção em miniatura e um perfume-fantasma com direito a campanhas publicitárias e pontos de venda em várias lojas, são o comentário irónico às grandes marcas do mundo da moda. Nessa fronteira com a arte, decidem em 1998 como forma de entrada no mercado,

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infiltrar-se no sistema atacando o seu centro: a alta-costura parisiense. Com a colecção de Inverno 1999-2000 ganham finalmente reconhecimento junto da imprensa internacional, ficando em Junho de 1999 integrados no calendário oficial na Chambre Syndicale de Haute-Couture de Paris. Um ano depois lançam a linha de pronto-a-vestir. São organismos como a ANDAM que alavancam o início de carreiras, assumindo como seu, o papel de providenciar fundos financeiros que garantem a sua continuidade em bases sólidas. O ano passado dois novos nomes são lançados pela ANDAM e pelo Festival Internacional de Moda e Fotografia de Hyères: Bruno Pieters (Bélgica) e Sandra Backlund (Suécia), respectivamente. Enquanto Bruno Pieters produz em 2006 a sua primeira colecção de homem após arrecadar o prémio de €1000,00 atribuído pela Swiss Textile Awards, promovido pela Swiss Textile Federation (Suiça), Sandra Backlund consegue em 2005 a sua primeira grande exposição pública, ao ser premiada pela FutureDesignDays (Suécia) e uma bolsa de €15,000 com o prémio ganho em Hyères. Em Portugal existem actualmente duas associações que promovem concursos para jovens criadores: Portugal Fashion (Concurso de Design do Programa Aliança) e o Clube Português de Artes e Ideias (Jovens Criadores). Com perfis, objectivos e meios diferentes, ambas visam a fomentação e projecção da moda nacional emergente. De igual forma com a mesma aposta, correm em circuito paralelo iniciativas de algumas autarquias, a uma escala reduzida, mas sem dúvida útil no que diz respeito à prática do processo. Embora por cá o fenómeno da moda seja relativamente recente, a necessária adaptação ao mercado justificou que algumas iniciativas se extinguissem ou tomassem outros formatos. Dois dos nomes a referir pela sua relevância são Novos Talentos (Optimus) e Sangue Novo (ModaLisboa). Com início em Abril de 1992, o concurso da ModaLisboa contou com nove edições, tendo lançado para fora do anonimato oito novos criadores: Maria Gambina; Miguel Flor; Osvaldo Martins; Susana Cabrito; Carlos Raimundo; Marco Mesquita; Priscila Alexandre e Lara Torres.

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A destacar, pelo percurso de 16 anos, Maria Gambina tem arrecadado inúmeros prémios e distinções com o seu trabalho, mostrando-o em passerelles de cidades como Dusseldorf, Estocolmo, Florença, Mênfis, Paris e São Paulo. Abre em 1995 e 1999 as suas lojas, respectivamente no Porto e em Lisboa e desde 1994 lecciona a disciplina de Design de Moda no CITEX. Em 1998 assina em parceria com José António Tenente a proposta de design vencedora do concurso para a concepção de fardas para os funcionários e colaboradores da Expo 98. O LAB surgiu em 2002 como uma fórmula revista do extinto Sangue Novo. Tratava-se de uma plataforma de divulgação de criadores em início de carreira, mantendo o formato de concurso, desta vez com candidatura exclusiva por convite. Como objectivos teve também o de um efeito de demonstração junto dos restantes alunos da área, bem como proporcionar maior visibilidade dos têxteis nacionais, através da parceria/apoio às propostas dos candidatos. Teve a sua última edição em Março de 2007, tendo funcionado sempre dentro do calendário de desfiles da ModaLisboa. Actualmente o Concurso de Design do Programa Aliança, promovido pelo Portugal Fashion, constitui uma forte aposta na busca de visibilidade para uma carreira inicial, dada a estreita relação que mantém com a indústria têxtil portuguesa. Criado em 2004, visa proporcionar aos jovens criadores a oportunidade de apresentação das suas colecções ao público, assim como a constituição de parcerias com a indústria, já que o regulamento prevê a confecção dos coordenados em empresas de vestuário nacionais. A selecção é realizada ou através de escolha directa, indo neste caso a preferência para designers que já actuam no mercado sem ainda uma base sólida de afirmação, ou através de um concurso de design aberto a jovens entre os 18 e os 35 anos, residentes em Portugal e com formação académica nas áreas da moda, confecção e/ou design. Os primeiros classificados têm entrada directa na segunda fase do Programa Aliança, designada por “Parcerias com a Indústria”, que compreende um conjunto de benefícios, nomeadamente a participação no Portugal Fashion, incentivos financeiros de apoio à criação e meios de divulgação das colecções.

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O evento funciona como alavanca de talentos emergentes, de forma a renovar e dinamizar o panorama da moda nacional, facilitar a integração de novos designers no mercado de trabalho e preencher lacunas que empresas do sector tenham ao nível do design. Independentemente das opções tomadas, os percursos variam e nem sempre correm o trilho pensado. Se Osvaldo Martins segue hoje com o desenvolvimento de marca própria de pronto-a-vestir (Add.Up – Osvaldo Martins), tendo já estabelecido várias parcerias com a indústria do sector têxtil e do calçado para a criação de colecções para marcas como Malhacila, Codizo, Fairly e Bronze, passando pelo desenho de figurinos para dança e teatro, até ao ensino, já Priscila Alexandre, também vencedora do concurso LAB em 2002, enveredou pela via, não menos bem-sucedida, do trabalho desenvolvido para outros nomes, como a casa Louis Vuitton em Paris e Proenza Schouler em Nova Iorque. Felipe Oliveira Batista é mais um nome em português a fazer história pelo mundo da moda. Este açoriano de 34 anos, cresceu em Lisboa e cedo partiu para Londres onde se formou em Design de Moda pela Universidade de Kingston. Os vários prémios que ganhou em concursos para jovens criadores, os mais importantes atribuídos pela ANDAM e pelo Festival Internacional de Moda e Fotografia de Hyères, permitiram-lhe não só granjear notoriedade junto da imprensa e da comunidade da moda internacional, como injectar importantes incentivos monetários para o desenvolvimento das suas colecções, através das bolsas recebidas, graças às quais, em 2003 a marca Felipe Oliveira Baptista é oficialmente lançada. Em 2005, e após novo prémio pela ANDAM, é convidado pelo Comité da Chambre Syndicale de la Haute Couture a participar na Semana de Alta-costura de Paris, proposta que tem vindo a ser renovada em cada edição, tornando-se assim num dos primeiros cinco jovens designers internacionais a serem convidados por esta associação. Pelo caminho, desenvolveu colecções para a Uniqlo (Japão), Cerruti e Max Mara (Itália) e Christopher Lemair (França). Com um percurso distinto, que se traduz em pontos de venda distribuídos por catorze países, Felipe resume a sua carreira nas palavras de Fernando Pessoa: “sentir é buscar”.

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