Notícias do Mar n.º 334

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Notícias do Mar

de algumas horas as ondas enormes que poderíamos encontrar, eram sempre seguidas de duas ou três novas de direção noroeste. Infelizmente para nós, era impreterível manter uma velocidade constante acima de 25 nós, a fim de alcançar um baixo consumo, mas também de forma a poder calcular a nossa distância percorrida e posição na carta, pois estávamos com uma avaria no GPS.

Existia uma preocupação constante, estávamos a consumir mais de 4,2 lt/mn

Estávamos totalmente concentrados na navegação, quantas horas mais poderíamos navegar nessas condições contra o vento, tentando não cometer nenhum erro, pois devido ao peso, qualquer movimento errado

que desse origem a partir o casco, ou um depósito de combustível, era certamente fatal. Além disso existia uma preocupação constante, que estávamos a consumir mais de 4,2 lt/mn, e as coisas pioraram quando o tempo chegou a 6 Beaufort. Sabíamos que para o primeiro dia de viagem era necessário mar calmo, devido ao peso que transportávamos, e agora tínhamos ainda que lutar contra o vento e as ondas fortes! Tínhamos certeza que se continuassemos por mais tempo, o combustível não ia chegar, o nosso alvo era agora as 200 milhas, e só depois as 800 mn. Dez horas da manhã de dia 18, percorridas as primeiras 100 mn e completamente encharcados até aos ossos, foi altura para uma paragem rápida, pois tinhamos percebido que a antena de VHF tinha-se partido sobre um salto de uma vaga. Depois de secar e vestirmos

os fatos de neopreno lá voltamos para a batalha com o oceano, sobre o céu carregado de pesadas nuvens escuras a esconder o sol. Nada parecia jogar a nosso favor, até que depois do meio-dia, avistamos ao longe o céu cinzento a abrir um grande buraco azul.

Voltar ou mudar rumo para a Madeira que era mais perto

Duas horas da tarde de dia 18, chegamos às 200 milhas, seguiram-se momentos de ansiedade partilhada por todos, pois era necessário fazer a contagem do combustível que levaria á grande decisão, voltar ou mudar rumo para a Madeira, que era mais perto e chegavamos certamente. Sem certezas, mas decididos a atingir os nossos objetivos, seguia-se outro momento

de tensão, era necessário mudar as hélices de força por outras de maior passo, que nos permitissem ter um navegar suave e melhores prestações. Seis horas da tarde de dia 18, após doze horas de navegação e com 300 mn percorridas era hora de colocar a tenda preparando a noite, vestir roupas quentes, e recalcular o consumo com as novas condições, pois o tempo tinha entretanto caído. Nas primeiras 200 mn queimamos mais de 4 lt/mn, e nas 100 seguintes caiu para 3,4 ltr, tornando-se encorajador e dado o bom tempo, continuamos a viagem durante duas horas a uma velocidade de 32 nós. Quando a noite caiu, continuamos por um tempo com a mesma velocidade, mas o pensamento dos perigos á espreita no escuro, como um contentor, ou outros objetos, fez nos reduzir a velocidade. Navegamos a uma veloci-

2014 Outubro 334

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