Notícias do Mar n.º 326

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Notícias do Mar

Conhecer e Viajar pelo Tejo

Crónica Carlos Salgado

O Verde Perverso do Vale do Tejo e Não só!

Ao terminar a minha crónica do mês passado chamei a atenção para o seguinte: » O homem não pode ignorar que todo o mal que fizer à floresta e aos campos é-lhe devolvido na água dos rios. Tivemos recentemente uma prova disso quando as águas das recentes enxurradas vinham super carregadas de cinzas e de outros detritos que foram causados pelos fogos «

É

Fig. 1 – Os Eucaliptos com as suas raízes perfurantes.

na sequência desse meu comentário que resolvi abordar o tema da minha crónica deste mês que intitulei de “ VERDE PERVERSO do Vale do Tejo e não só!”, para referir-me a uma espécie arbórea não autóctone, considerada exótica por aqueles que têm interesses económicos na sua exploração, mas trata-se afinal de uma espécie nociva aos solos por onde a sua propagação está a acontecer em larga escala. Ela suga a água e os nutrientes dos solos, não faz revessa 38

ao vento nem à chuva e contribui para acelerar a erosão dos solos e a sua desertificação. Para além disso, como é plantada com intervalos estreitos, e é bastante comburente, isso torna-a na maior propagadora dos fogos florestais. A extensão descontrolada da sua plantação, com a conivência dos governos, está a invadir e a ocupar, cada vez mais, as terras que eram de pão, de azeite, de cortiça, de resina e de madeira nobre. Estou obviamente a referir-me

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ao eucalipto! Como fui alertado para esta espécie nefasta já há umas décadas, interessei-me pelo assunto e fui lendo as notícias da comunicação social, escutando gente entendida no assunto, e observando no terreno a sua disseminação cada vez maior, o que me levou formar uma opinião desfavorável à expansão desordenada daquela espécie não indígena e a tentar alertar as consciências para as causas nefastas de tal “praga”, enunciando nesta crónica alguns extractos das notícias e opiniões que registei, de uma forma avulsa, sintética e não cronológica: » Também em Portugal esta árvore se comporta como uma espécie invasora embora nenhuma medida de erradicação tenha sido levada a cabo sobretudo devido ao valor económico da espécie « » A legislação de 1988, por exemplo, obriga a que uma área ardida tivesse de ser replantada com a mesma espécie; mas segundo uma lei mais recente, o proprietário de um pinhal destruído por um incêndio pode reocupar esse terreno florestal com a espécie que mais lhe aprouver « » O Estado demitiu-se da sua capacidade reguladora (…) com as facilidades de arborização e rearborização que a proposta de lei concede, permite que se criem manchas contínuas de eucaliptos, o que pode aumentar os riscos de incêndio e comprometer a biodiversidade « » Nos anos 80, o Expresso publicou uma imagem que influenciou até hoje a política florestal e a ideia que os portugueses têm dos eucaliptos, com soldados da GNR a inves-

tirem sobre camponeses em Valpaços, em protesto contra uma nova árvore que lhes iria roubar a água e matar as culturas tradicionais « » Do modo geral, criticam-se os efeitos sobre o solo (empobrecimento e erosão), a água (impacto sobre a humidade do solo, os aquíferos e a baixa biodiversidade observada em monoculturas « » Há mais de dez anos que dizíamos que o eucalipto ia avançar para áreas na ordem de já quase um milhão de hectares, e não andará muito longe disso. » (…) as plantações de eucalipto acarretam impactes ambientais consideráveis sobre o território, nomeadamente uma maior erosão do solo, a alteração do regime hídrico, a perda de biodiversidade e a alteração da paisagem, para além de facilitarem a propagação dos incêndios florestais de forma muito mais significativa do que as florestas constituídas por espécies autóctones « » A plantação indiscriminada de extensas áreas de eucaliptos origina uma redução bastante acentuada da área agrícola, que tem como consequências o desequilíbrio ecológico, o aumento do desemprego, a seca das nascentes de água e o maior isolamento das povoações « » Esta situação adversa deve passar a ser disciplinada, e ser feita em moldes racionais e tendo sempre em conta que a pequena e média propriedade rural deve ser respeitada, fazendo o aproveitamento consciencioso de terrenos incultos, que em Portugal são para cima de meio milhão de hectares « » A desregulação das arbori-


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