Notícias do Mar n.º 323

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Notícias do Mar

Texto e Fotografia de Arquivo Carlos Salgado

Conhecer e Viajar pelo Tejo

Vai Voltar a Ostra Portuguesa ao Tejo, Aleluia! Escolhi também o tema da ostra para esta minha crónica mensal por me ter chegado a notícia de que se está a perspectivar o regresso ao Tejo da Ostra Portuguesa ( Crassostrea angolata ), o que me faz recuar aos meus tempos de garoto, quando vi na minha terra, Alhandra, imensas ostras do Tejo trazidas pelos pescadores locais.

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Ostra Portuguesa- Crassostrea angulata

ecordo-me perfeitamente de haver lá uma figura típica, de baixa estatura, o ti-Petinga, que percorria a vila, de tasca em tasca, fazendo ecoar um pregão estridente seguido do berro “ báu ”, à medida que empurrava o seu carro de mão carregado de ostras, que faziam as delícias dos fregueses. Por isso resolvi meter mãos à obra para recolher informação que me permitisse falar sobre a famosa ostra portuguesa, informação essa baseada apenas em notícias e curiosidades. Como diz o meu entrevistado Dr. Antunes Dias, “ o contingente da ostra portuguesa no estuário do Tejo atingiu em 1969/70, o contingente de 6.882 ton.”. Calcule-se a riqueza que isso representava para o nosso país, riqueza essa que foi destruída pelo envenenamento das águas do estuário, pela poluição industrial. Esse contingente era expor36

tado quase exclusivamente para França, e a nossa ostra por ser muito apreciada ganhou fama como “ Les Portuguaises ”. Dada a grande preferência dos franceses por essa ostra, começou a devastação das ostreiras do Tejo pelos negociantes franceses, avaliada em 12 milhões de ostras que os seus navios mercantes levaram para Arcachon e outros parques franceses. Esta ostra (Cassostrea angolata) também existe no Sado, onde continua a ser criada. Ao que parece, a ostra portuguesa é milenar. Escavações arqueológicas na ribeirinha do Gaio do Rosário, concelho da Moita, em 1994 e em 2008, mostraram a existência de ocupação humana no Neolítico, há aproximadamente 4.000 anos a.C. , por comunidades que se alimentavam de bivalves do estuário, onde se destaca a ostra. Por outro lado, pode até supor-se que a ostra do Sado e do Tejo possam ser contemporâneas, porque am-

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bas são Crassostrea angolata. Isto porque o estuário do Sado integrou o estuário do Tejo até há dois milhões de anos, como atestam os vestígios paleontológicos, porque os dois estuários não partilham apenas a geologia e a paleontologia. Pela sua proximidade, também possuem vestí-

gios arqueológicos de uma história comum devido, em parte, às vias fluviais que os unem, a Cala Real e os rios Judeu e Coina, ou uniam antes de, a partir de há cerca de trinta anos, se ter verificado o aterramento dos veios de água e dos pequenos leitos de cheia dessa zona, aquando da desenfreada construção, alguma clandestina, de imóveis e outras obras afins. Durante a ocupação romana da região da grande Lisboa, os legionários recebiam ostras como parte do seu salário. Os estuários dos rios Tejo e Sado foram os maiores bancos naturais desta espécie na Europa. Ambos os estuários produziam anualmente dezenas de toneladas de ostra portuguesa, destinadas maioritariamente à exportação, sobretudo para França. Só no Sado, esta actividade chegou a envolver mais de quatro mil pessoas, sendo então uma actividade relevante para a economia local. O elevado valor nutritivo deste bivalve e o seu baixo custo, devido à sua abundância, tornou-o num alimento comum nestas regiões, existindo muitos relatos sobre as ostras na gastronomia local de Setúbal e Lisboa, entre as quais textos do

Ostra Portuguesa- Crassostrea angulata


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