Notícias do Mar n.º 317

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Notícias do Mar

nem terra, só se vê velas e as tripulações a pendurarem-se na borda com o casco adornado e a esticarem-se para não irem ao charco; pano caçado, pano a bater, pano folgado, pano molhado e que venha vento, venha mais vento! Já lá vão os miúdos nos seus pequenos Optimist, que foram os primeiros a largar seguidos da malta da canoagem. Depois largam os Europe, os Vaurien, os Snipes, os 420, os

470, os Obbicat, os Sharpies 12 que andam como raios e a seguir largam os Cruzeiros, os catraios, as canoas, as enviadas e distinguindo-se da molhada um tradicional Caíque com uma enorme vela latina. E lá segue esta grande frota senão quando aparece a Lezíria com a sua tranquilidade contagiante. Uma cortina de salgueiros e chorões e alguns choupos, que reveste as margens e que, para além de segurar as terras faz uma sombra acolhedora. Aparece o gado da campina: os cavalos, as éguas, os poldros irrequietamente aos pinotes e os touros bravos. O cheiro da campina vem trazido pelo vento e embalados que vamos pela mareta, a ouvimos o marulhar da água nas proas, extasiados perante o espectáculo do multicolor dos cascos e o furta cores das velas à mistura com a garridice da roupa da malta, debaixo de um grande sol, cortada a linha de chegada deixamos o Tejo e entramos na Vala Real de Salvaterra. O cenário alterou-se por completo: os

caniços perfilados de um lado e de outro, albergam o rouxinol que faz o seu trinado ecoar no valado a dar-nos as boas vindas, mais o traço do colorido guarda-rios em voo rápido riscando o ar e assim lá vamos em cortejo numa passadeira de água até ao cais da Vila. À chegada deparamos, boquiabertos, com os magotes de gente a receber-nos e a saudarnos efusiva e fraternalmente. Depois segue-se a azáfama do abafar o pano, das atracações, das amarrações, do desembarque e do desaparelhar das embarcações, seguido do armar das tendas para os mais novos, para a pernoita. O pessoal mais velho vai à descoberta das tasquinhas porque a sede é muita. Vamos ao petisco e ao reencontro dos amigos que já não víamos desde o ano passado. Depois há garraiada, porque estamos no coração do Ribatejo. Há passes disto e daquilo, há pegas de caras e de cernelha e para alguns há também sopa de corno. Depois vem a janta preparada pela

comissão local, comandada pelo Armando Ginja. Há música no ar pois Salvaterra também está em Festa. Há fandango e já cheira a sardinha assada da boa, e boa é também a pinga e é vê-los depois a cruzar bordos na rua. Cai a noite. Chega a alvorada. Mas o pior é levantar depois da farta festança da véspera. Vá de aparelhar as embarcações e envergar as velas para voltar ao Tejo, e a população local madrugou para estar no cais a desejar-nos boa viagem, adeus, voltem para o ano! É largar rio abaixo. Se houver vento tanto melhor, se não houver há reboque porque a caldeirada que nos espera em Alhandra não pode arrefecer. Lá vem o Júri com as classificações para a distribuição dos prémios, mas nem todos estão de acordo, ouvem-se assobios e um ou outro vitupério mais inflamado, mas há muitas palmas e vivas, viva este e viva aquele, viva o Alhandra, viva o Cruzeiro do Tejo, adeus até pró ano!

2013 Maio 317

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