16 minute read

DESDE A FRONTEIRA

por Luiza Fagá

__

Notas de um percurso por terrenos das masculinidades.

“Um território fronteiriço é um lugar vago e indefinido, criado pelo resíduo emocional de uma linde contra natura [um limite não natural]. Está em estado constante de transição. Seus habitantes são os proibidos e os banidos. Aí vivem os atravessados: os vesgos, os perversos, os queer [...]; em resumo, os que cruzam, que passam por cima ou atravessam os limites do ‘normal’.”

(Gloria Anzaldúa, em Borderlands/La Frontera)

La Cocha é uma lagoa que fica sobre o Nudo de los Pastos, um nó de montanhas no norte do continente sul-americano onde os Andes se ramificam, próximo à costa pacífica colombiana e à fronteira do país com o Equador. Nariño, o distrito ao qual La Cocha pertence, é uma região importante de resistência ao uribismo, regime de extrema direita – e aliado ao paramilitarismo e ao narcotráfico – que, direta ou indiretamente, governa a Colômbia desde o início deste século. Em grande medida, a rebeldia nariña se deve à distância geográfica do território em relação ao centro político do país, o que lhe confere certa independência – e, principalmente, à fortaleza indígena quillasinga, que protege o território.

Há cerca de um ano visitei com a Luna, minha namorada, esse nó vulcânico de montanhas altíssimas, onde o Rio Amazonas nasce e onde as águas do Pacífico tocam as do Atlântico. Ela, colombiana metade bogotana e metade paisa – de Medelín –, sempre me falava com amor desse território que não era seu por direito de berço, mas por filiação afetiva e política. Fizemos um passeio de bote, eu, ela e um senhor simpático que nos conduzia por aquela geografia fria e fértil que se expande ao redor da Lagoa de La Cocha.

Durante todo o caminho, ele se dirigia a mim – para perguntar que trajeto faríamos, contar a história da lagoa, negociar preço e jogar conversa fora. Sempre que isso acontecia, eu imediatamente me virava para a Luna e, com os olhos, pedia a ela que traduzisse o que fora dito, já que o sotaque do marinheiro nariño me era incompreensível. Eu respondia em um espanhol de toada argentina e com resquícios de português, revelando minha total “gringuice” e exigindo, outra vez, que a Luna atuasse de tradutora – naquele contexto, o “argentino” era outro idioma. Mas nosso guia insistia em se comunicar comigo, só comigo. Ainda que mal nos entendêssemos e ainda que quem tivesse tanto as perguntas como as respostas fosse a Luna. Eu era a turista óbvia, duplamente estrangeira; ela, não. Nós nos despedimos. A Luna pagou. Ele me deu o troco.

Eu sou uma mulher lésbica. Tenho cabelo curto e uso camisas largas, mas raramente me confundem com um homem. Talvez vez ou outra, quando me veem de costas ou de longe, possam pensar que sou um menino baixinho ou um adolescente pré-púbere. Mas a confusão nunca resiste à proximidade ou a um par de palavras. Exceto em Nariño. Lá, pela primeira vez, todos se referiam a mim no masculino.

A masculinidade, como conceito, não é um absoluto: ela existe em relação à feminilidade. Talvez esse seja o único

consenso entre diversas linhas dos estudos de gênero. Na verdade, a crítica feminista propõe a construção inversa – o feminino é que é construído em oposição ao masculino hegemônico, pretensamente universal. Um pouco como, em sociedades racistas, a branquitude se faz invisível, como se só as pessoas racializadas tivessem cor. Porém, parece impossível pensar a masculinidade fora desse binômio, ainda que a aproximação seja crítica.

Simone de Beauvoir disse que “não se nasce mulher, torna-se”, explicitando o caráter cultural – muitas vezes imposto – do gênero sobre o corpo. Judith Butler, por sua vez, denunciou o falso correlato sexo-gênero-sexualidade. Segundo ela, é a cultura hegemônica que nos faz crer que a genitália determina, naturalmente, o gênero e as práticas sexuais. Na verdade, essas três coisas são independentes, e o gênero resiste à categorização – não sem conflito, já que sua instabilidade implode a estrutura do regime patriarcal: se o gênero não é fixo, não pode servir de base para um sistema de dominação.

Ter sido identificada como um homem pelo marinheiro nariño significou o apagamento da minha companheira; afinal, ele me tratava com uma cumplicidade que não se estendia a ela. Apesar do incômodo que isso nos gerava, aceitamos a ficção, pois assim nos sentíamos mais seguras: a homossexualidade às vezes é um risco. Eu, então, fui convidada a navegar pela camaradagem macha, a “brodagem”, e sobre aquele pequeno barco vi a oposição homem-mulher ser construída a partir da identificação com um versus a exclusão da outra.

A Luna e eu nos conhecemos em outra fronteira sul-americana: Buenos Aires, cidade à beira do Rio da Prata onde incorporei ao meu guarda-roupas as camisas largas e ao meu espanhol o sotaque porteño – gentilício referente a quem nasce naquele porto. Lá, também, aprendi a ser torta, que literalmente significa

“lésbica”, mas que não é o mesmo que ser “sapatão”, que não é igual a ser “caminhoneira”, nem “fancha”, nem “bolacha” etc. No livro Ética Tortillera, Virginia Cano diz que “as classificações com que nos diferenciamos modalizam nosso olho lésbico, quer dizer, nosso modo de ver e habitar este mundo. Nesse sentido, possibilitam experiências, expressões, desejos e matizes. Conformam a possibilidade de nos narrarmos, nomearmos e também de nos fantasiarmos”.

De fato, em Buenos Aires, muitos nos fantasiamos.

João tem uns olhos pretos que parecem mais novos que o resto do corpo – é como a Teresa do Manuel Bandeira, de quem “os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse”, mas ao contrário. Os olhos do João nascem o tempo todo e denunciam que o ar ranzinza que ele insiste em fingir é só um teatro. O João morava cruzando a rua, e com ele dividi as camisas largas e um cotidiano repleto de alegrias minúsculas no bairro de San Telmo, um dos mais antigos da cidade e com alta concentração de migrantes como nós. O João gostava das festas e eu das prévias, dos “esquentas”; eu gostava de tomar cerveja, ele preferia gin; suas noites quase sempre eram mais longas que as minhas. Enquanto eu aprendia a ser torta, ele aprendia a ser puto (“homem gay” em porteño).

A masculinidade, como João a descreve, está em traços como a barba, o jeito de andar, de sentar-se com as pernas abertas, e também em uma certa brutalidade nas relações – que talvez se traduza nesse ar ranzinza que sinto tão descolado dos seus olhos. João nasceu em São Bento do Sul, município catarinense que por poucos quilômetros de mata e um rio não pertence ao Paraná, e até hoje se enfrenta com esse modelo de “macho” em seu próprio corpo quando volta para lá. Sem querer, engrossa a voz e endurece o vocabulário. Sua homossexualidade já faz tempo não é segredo, mas a homofobia contra os mais “afeminados” é maior. Afinal, não é o mesmo ser “gay” e ser “bixa”

Eu tomava cerveja, o João tomava gin e o Mario fernet – um

destilado com ervas que se mistura com refrigerante. Paisa como a Luna e vizinho de bairro como o João, quando chegamos a Buenos Aires ele já morava lá havia muitos anos. Já tinha um jeito meio porteño de falar e um tipo de compreensão do território que, acho, só os migrantes conseguem ter – que passa pelo corpo, mas não deixa de ser consciente.

O Mario tem um jeito bonito de fumar tabaco, não sei se é porque seus dedos longos têm uma delicadeza firme ao sustentar o cigarro ou se é porque, a cada trago seu, todo o tempo se suspende. Ele fuma enquanto me conta como foi violenta a imposição da masculinidade hegemônica sobre seu corpo e como essa hegemonia foi inventada na “revolucionária” França de meados dos 1700, imbuída do pensamento nacionalista, republicano e burguês de então – foi Rousseau, em Emilio, ou Da Educação, quem atribuiu ao homem o espaço público e à mulher o doméstico, e projetou o novo ideal de cidadão francês.

O constante tragar e soltar fumaça confere ao que o Mario diz um ritmo cheio de pausas:

“Essa performance da masculinidade é meio uma marca [traga] social de tortura; [solta] no meu caso, por exemplo”.

E segue: “a construção da minha masculinidade se deu sobretudo na adolescência. Eu me lembro de me espelhar em gente cool, gente que era mais aceita no meu entorno social. Pegava um pouco de cada uma dessas pessoas para construir minha própria performance, que era uma combinação de expressões faciais, gestos, jeito de se vestir, a voz grave. Era, inclusive, uma energia mais relaxada. Quando penso no privilégio que é ser homem e branco, penso nessa soltura. Acho que, quanto mais solto você é, mais ‘macho’, também. É um grande

privilégio sobre o corpo, uma segurança que nem todos os corpos compartilham. E essa tranquilidade se apoia no poder, um poder que o homem branco de classe média tem. Pessoalmente, não acho que eu seja assim tão solto, porque não sinto esse tipo de poder em mim. Não sou heterossexual, então esse poder não me corresponde. E talvez eu nem o queira”.

Também na Argentina entendi o potencial filosófico do pensamento jurídico quando aliado ao ativismo. A Lei de Identidade de Gênero – impulsionada pelo movimento LGBTQIA+ organizado em uma Frente Nacional e assinada em 2012 por Cristina Kirchner – garante às pessoas trans não só o reconhecimento de sua identidade, mas também seu “livre desenvolvimento pessoal” e “trato digno”. Diferentemente do que acontece no Brasil, lá, além da mudança do nome de registro, estão legalizadas as intervenções físicas hormonais e cirúrgicas com base apenas na autopercepção do sujeito – quer dizer, sem a mediação de um psiquiatra: um avanço imenso no caminho da despatologização da transgeneridade.

Em 2016, enquanto eu aportava em Buenos Aires, em São Paulo Ierê visitava psiquiatras. Lembro-me que me contava como, durante as consultas, performava o homem hegemônico – usava roupas mais neutras, teatralizava uma seriedade, uma dureza – para que a palavra médica decidisse sobre sua “disforia de gênero”. E como ria disso. Afinal, nunca se identificou assim. Para ele, ser trans sempre foi mais. Além disso, a identidade não é estática e autodefinir-se é um processo. Nenhum processo cabe em um diagnóstico.

“A minha referência de masculinidade é o meu pai, foi muito bonito como ele chegou – e ainda chega. Com dor ou com alegria, estou mais parecido com ele. E isso não é efeito da testosterona, é mais um processo de internalização, de mimetização. Mas não

para aí. Ser trans, para mim, também significa uma renegociação constante do que é considerado masculino ou feminino. Chega um momento em que você vai ‘não entendendo’ o que é uma coisa e o que é a outra, e as nomeações vão caindo.”

Ir desentendendo; assim no gerúndio.

Quando nos vimos pela primeira vez depois do início do tratamento hormonal, reparei em como seu corpo se expandia de um jeito diferente, mais relaxado. Naquele momento, não relacionei essa soltura com o poder de que falou o Mario. Hoje, pergunto para Ierê como interpreta seu processo. “Eu, para exercer a masculinidade, achava que tinha que levantar o peito, endurecer as costas. Me abrir. E, ao mesmo tempo, seguir com força e segurança. A masculinidade cis-heteronormativa não tem obrigação de agradar; por outro lado, homem não pode errar. Então tem um paradoxo aí. Tem uma coisa preguiçosa nesse relaxamento, uma coisa não cooperativa, tipo: ‘meu espaço já está garantido, então não tenho que olhar para fora’. E tem também uma pressão para que esse espaço não se desestabilize. A masculinidade hegemônica parece não gostar de encontrar aquilo que desconhece, nem o sujeito desconhecido dentro de seu lar – tipo o amigo do filho no café da manhã. Numa casa com traços patriarcais, um convidado é sempre um estranho, está sempre abaixo da família. Os outros são sempre os outros.”

Sinto que Ierê fez uma viagem em arco; aproximou-se do terreno hegemônico da masculinidade e aportou sem ancorar. Voltou para alto-mar trazendo consigo alguns signos que agora compõem seu vocabulário próprio, desconforme e inconformado. “Esse negócio de ter que dizer em qual ‘sou’ eu me encaixo é um troço chato e difícil! É contraditório, mas foi fazendo a transição que eu percebi o quanto sou mulher. Só que eu gosto dessas roupas, desse corpo. E adoro ter barba. Então eu pergunto: por que não posso reassumir o gênero feminino e manter a barba?”

A lógica clássica é um dos grandes paradigmas do pensamento ocidental branco. Há três princípios básicos que raramente questionamos, já que, de tão assimilados, costumam ser confundidos com a própria natureza. São os princípios da identidade (A = A, ou: “tudo é idêntico a si mesmo”), da não contradição (“A é B” e “A não é B” são postulados mutuamente exclusivos) e do terceiro excluído (A ou é igual a B ou é diferente de B). Em outras palavras: o que é, é; e, se é, não pode não ser. Além disso, entre o ser e o não ser não há nada. Esses princípios são a base de alguns lugares-comuns referentes ao gênero: ou se é homem ou se é mulher, não há gradação – e tampouco poderia existir mulher de barba.

O pensamento queer discorda.

Gloria Anzaldúa nasceu no sul do Texas, em uma cidade que toca o México – o sul do sul do norte. Filha de latinos emigrados, mas cidadã estadunidense, seu território é a fronteira. Poeta, escreveu em espanhol chicano – uma mescla do idioma com o inglês. Intelectual ativista, defendeu a mestiçagem como posicionamento político e as línguas fronteiriças não vernaculares – o próprio espanhol chicano, ou o tex‑mex, por exemplo – como discurso identitário. Uma identidade que não é mais exclusivamente latina nem se conforma em ser estadunidense. Lésbica, reivindicou o termo queer – que, literalmente, significa “estranho”, “desviante” – para se autodefinir. Gloria pensa sobre o gênero como pensa sobre a língua e a geografia: desde um espaço fronteiriço.

No livro Borderlands/La Frontera, ela diz: “Há algo emocionante em ser, ao mesmo tempo, macho e fêmea, ter entrada a ambos os mundos. Diferentemente do que afirmam certos dogmas da psiquiatria, as pessoas ‘metade e metade’ não sofrem confusão sobre sua identidade sexual ou sobre seu gênero. Se sofremos, é por uma dualidade absolutamente despótica que assegura que só podemos ser uma coisa ou outra. Afirma que a

natureza humana é limitada e não pode evoluir a algo melhor. Mas eu, como outras pessoas queer, sou duas pessoas em um corpo, masculino e feminino. Eu sou a encarnação do hieros gamos: a reunião em uma mesma entidade de atributos opostos”.

Nenhuma anedota define um território – muito menos uma fronteira, onde diversas realidades se sobrepõem. O certo é que quando contamos o mundo falamos muito sobre nós mesmos, ainda que sem perceber, e certamente o binarismo – ou é A ou é B – se esconde na minha interpretação das coisas. Além disso, para mim, assim como para o João, o Mario, Ierê, o conceito de masculinidade é inseparável da ideia de poder – e foi isso o que experimentei em La Cocha, naquele barco. Porém, este relato não resume de forma justa uma experiência cheia de nuances, como foi a viagem pelo Nudo de los Pastos. Ainda que todos na região se referissem a mim no masculino, em nenhuma outra situação além daquela no barco isso significou o apagamento da Luna.

Talvez, então, possamos pensar no que aconteceu nos Andes de uma maneira mais generosa e menos eurocêntrica. Quiçá, a rebeldia nariña resulte também em uma abordagem mais livre do gênero. E se, simplesmente, não houvesse ali nenhuma busca por coerência entre meu corpo, minha aparência e minha sexualidade? E se, mais que nada, o problema fosse que em espanhol – idioma binário, europeu e herdado a contragosto – faltassem artigos neutros para se referir a mim? Eu, a queer, o ambíguo, o “terceiro excluído” do pensamento clássico; mas, ali naquele território fronteiriço, simplesmente uma forma possível?

Ainda que não tenha como sustentá-la, gosto dessa hipótese, assim como gosto de imaginar uma mulher com barba que escape à iconografia circense.

Antes de eu morar cruzando a rua do João, de a Cristina Kirchner assinar a Lei de Identidade, de Ierê viajar pelo seu próprio gênero e eu pela minha tortisse, o Thiago já estava. Na verdade, o Thiago sempre esteve. Amigo antigo, dono de um humor áspero e de uma sensibilidade imensa, ele é um homem agridoce. Imagino se, quem sabe, em uma sociedade utópica não patriarcal, o Thiago não seria apenas doce. É como se, por cordialidade, ele sempre guardasse certa distância do mundo. E como se transformasse essa distância em ironia – o humor talvez seja a maior demonstração de afeto socialmente aceita entre homens. Acho – outra vez sem poder nem querer sustentar a hipótese – que o Thiago guarda em si uma infinidade de abraços não dados. Por cordialidade.

Em inúmeras mesas de bar falamos sobre sensibilidade e gênero, violência e delicadeza, machismo e amizade. Sobre os limites do toque entre dois amigos. Sobre homens e sobre plantas. “Eu me identifico muito com características da minha mãe – gosto de cuidar da casa, das plantas –, mas acho que isso também integra minha masculinidade, não sinto que seja um conflito, assim como não necessariamente me aproxima de um universo supostamente feminino. Não sei, Lu, talvez eu ainda esteja perto demais de mim mesmo para me ver com distanciamento.” Sinto que sua doçura é inconscientemente dosada à medida da masculinidade. Sinto, também, que, para um homem cis e heterossexual, os contornos que a hegemonia impõe ao próprio corpo quase sempre passam despercebidos.

Foi o Thiago quem me provocou a escrever este texto e, desde fora, olhar para o masculino. Eu me questionei sobre qual seria o sentido de eu pôr no papel os contornos da hegemonia – minha posição é disruptiva; como lésbica, recuso-me a assinar o contrato social do gênero hegemônico. Os imaginários que escolho habitar são os rebeldes e, como Gloria Anzaldúa, me situo sobre a fronteira.

E é da fronteira que escrevo.

Mas me pareceu um pequeno ato de justiça histórica: as mulheres, as sapas, as bixas, as travestis, xs trans sempre

fomos categorizadas e descritas pelo olhar heteronormativo. E, sobretudo, sempre tivemos obrigação de pensar sobre a normatividade. Para nós, os corpos dissidentes, os estudos de gênero não são uma categoria teórica abstrata. Atravessam nosso cotidiano insistentemente; às vezes, é certo, como fonte libertária de prazer, mas quase sempre porque somos violentamente interpeladas. Eu me pergunto, por exemplo, se algum dia Ierê poderá falar sobre seus traços moldados pela testosterona, sua barba feminina, com a mesma leveza com que o Thiago fala de cuidar das plantas.

Espero que sim. E também espero que questionar os limites do gênero e reconhecer a riqueza de suas fronteiras deixe de ser um trabalho só dos que não temos escolha. Afinal, estamos todos implicados. Quando falamos de pactos sociais, signos, convenções, cultura, hegemonia, falamos de sujeitos reais. Sujeitos que têm agência e responsabilidade.

___ Luiza Fagá (São Paulo, 1987) é jornalista e cineasta. Dirigiu o documentário Engarrafados e os curtas-metragens experimentais O Presente Éum Animal que Habita o Meu Estômago e Tânato.