Mapa afetivo – Ocupação Dona Onete

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foto: André Seiti/Itaú Cultural

“Lá se via tanta coisa, de comidas típicas a doces e sucos. Vendia muitas frutas em paneirinhos: mari, murici, mangaba, manga, tucumã, inajá. Meu pai tinha uma quitanda que vendia frutas assim. A gente cortava o cupuaçu, amassava muito bem, botava açúcar e água, e tomava com toda aquela polpa. A gente se alimentava com banana misturada na farinha. Depois que surgiram os grandes supermercados e a elite começou a ir comprar neles, o Ver-o-Peso caiu um pouco. Até as vendedoras que faziam o nosso vatapá, caruru ou tacacá saíram. Antes você só encontrava no Ver-o-Peso. Hoje, ele vai mudando.”

Ver

A Belém de Don Onete

Ouvir Dona Onete é conhecer, por meio dela e de suas músicas, um pouco sobre a cultura paraense, e isso in clui seus lugares. A cantora e compositora sempre fez questão de ressaltar suas andanças e experiências por Cachoeira do Arari, na Ilha do Marajó, Iga rapé-Miri e Belém – três cidades que ajudaram a formar sua cultura, que nasceu, primordialmen te, do popular.

-o-Peso

Por isso, pedimos a Dona Onete que nos revelasse sua Belém: quais lugares marcam a sua trajetória? Quais lembranças esses lugares suscitam? O resultado é este mapa afetivo, composto de cinco pontos para conhecer Belém – sem esquecer de Cachoeira do Arari e Igarapé-Miri – e histórias que só ela pode nos contar.

“Já falei em versos e prosas sobre a minha Pedreira. Lembro muito da Praça Batista Campos, lá você fica quieto, vê aquele povo com a água de coco. O nome é histórico no Pará; quando se fala da Cabanagem, ele [João Batista Gonçalves Campos, ativista político] estava no meio. São ruas que nos lembram de coisas acontecidas aqui dentro. Se você reparar, Belém é um livro de história, cada coisa aconteceu dentro de um bairro. Você senta na praça e fica imaginando – no meio de uma calmaria e olhando as garças e os peixes, em uma cidade tão conflituosa – como foi esse período da Cabanagem.”

Batista Campos Praça

Basílica

Santuário de Nazaré

“Sou católica desde criança, quando frequentava a Igreja de Nossa Senhora de Aparecida. Depois veio a Igreja de Nazaré. Quando se aproximava setembro, tudo girava em torno do Círio. Contavam que tinha um túnel da Igreja da Sé para a de Nazaré, onde os padres iam de uma para a outra. Um dia as professoras fizeram um passeio na Igreja de Nazaré, era pouco padre para muita criança. Daí o padre saiu, andou, andou, andou e sumiu. A gente foi andando; quando chegou a determinado pedaço, deu um medo, parece que vinha uma cobra. E, quando chegamos bem a uma subida, o padre perguntou: ‘Que tal, vocês viram a cobra?’.”

Theatro da Paz

Pedreira – e mais e Igarapé-Miri

“Eu morei próximo ao Theatro da Paz e à Praça da República. Eu imaginava o que acontecia lá dentro, dizia que queria cantar lá. Era um sonho de adolescente. Mas nunca me deram a oportunidade. Quando eu cantei no teatro, foi sempre acompanhada de outros artistas. Agora é diferente. Quando eu fui cantar, homenageada pela UBC [União Brasileira de Compositores], oshow era meu. Eu era a estrela do momento. Pude cantar do meu jeito e com quem eu queria, homenageando os meus amigos e fazendo um lindoshow que ficou na lembrança de muita gente. Esse sonho eu realizei em vida, graças a Deus.”

Cachoeira do Arari

“Eu vim de Cachoeira do Arari para Belém com 3 anos. Na Pedreira eu vivi com a minha mãe e com o meu padrasto, a quem eu chamo de pai. Minha mãe morreu quando eu tinha 10 anos, e fui para o Rio das Flores [em Igarapé-Miri] com a minha avó. Ela era andarilha, parei de estudar porque andava de cima para baixo com ela. Eu vivia um tempo em Marajó, outro em Cachoeira do Arari, depois ia para Belém e Rio das Flores. Assim passei minha vida entre Igarapé-Miri, Belém e Ilha do Marajó. Tudo que eu sei de cultura cabocla aprendi em Marajó e em Miri; já a parte mais lúdica foi Belém. É um triângulo de vida.”

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