Programação - Janeiro 2019

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The Girls on the Bridge (xilogravura, 1918), Edvard Munch

JANEIRO 19

foto: Giovani Rufino

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\conteúdo

\exposição

Eu É Outro: Ensaio sobre Fronteiras abre a programação da convocatória a_ponte – Cena do Teatro Universitário | pág. 5

O grupo Catibrum Teatro de Bonecos apresenta O Som das Cores, peça inspirada no livro do taiwanês Jimmy Liao | pág. 7

Artigos publicados no site do Itaú Cultural em 2018, com textos de Glauco Mattoso e Assucena Assucena, entre outros | pág. 8

A trajetória da impressão e da difusão de imagens desde o século XV até o XX, em 160 obras do acervo do instituto | pág. 4

foto: Guto Muniz

foto: Rogério Vieira


no Itaú Cultural \agenda janeiro 2 QUA

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Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural

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Espaço Olavo Setubal

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Ocupação Ilê Aiyê

e exposição a audiovisual l literatura m música c conteúdo t teatro d dança p performance g gestão cultural c cidade i identidade f formação i infantil

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O Som das Cores

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Inscrições: Teatro para Crianças e Mulheres Tecendo Histórias

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a_ponte | Eu É Outro: Ensaio sobre Fronteiras

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Inscrições: Teatro para Crianças e Mulheres Tecendo Histórias

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Ateliê de Embalagens Cartonadas

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Inscrições: Teatro para Crianças e Mulheres Tecendo Histórias

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Inscrições: Teatro para Crianças e Mulheres Tecendo Histórias

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DISTRIBUIÇÃO DE INGRESSOS público preferencial: uma hora antes do espetáculo, com direito a um acompanhante – ingressos liberados apenas na presença do preferencial e do acompanhante | público não preferencial: uma hora antes do espetáculo, um ingresso por pessoa

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VISITAS EDUCATIVAS Realizadas de terça a domingo, conforme demanda do público. Duração aproximada de 60 minutos. Podem ser feitas em português, inglês, espanhol e Libras (Língua Brasileira de Sinais). Consulte a disponibilidade. Visitas acessíveis em Libras nos dias 12, 13, 26 e 27 de janeiro, das 11h às 18h.

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VISITAS EDUCATIVAS AGENDADAS Oferecidas em português, inglês, espanhol e Libras (Língua Brasileira de Sinais) a escolas, organizações não governamentais e instituições em geral. Entidades públicas ou sem fins lucrativos da cidade de São Paulo contam com serviço gratuito de ônibus. Mais informações pelo telefone 11 2168 1876, de terça a sexta, das 9h às 20h.

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA Livre Não recomendado para menores de 10 anos

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Não recomendado para menores de 12 anos Não recomendado para menores de 14 anos

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FUNCIONAMENTO DO ITAÚ CULTURAL terça a sexta 9h às 20h [permanência no espaço expositivo até as 20h30] sábado, domingo e feriado 11h às 20h

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Não recomendado para menores de 16 anos

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Não recomendado para menores de 18 anos

ACESSIBILIDADE Acessível em Libras (Língua Brasileira de Sinais) Audiodescrição Tradução simultânea Pessoa com deficiência visual Pessoa com deficiência física Open Captioning


no Itaú Cultural \exposição

Ocupação Ilê Aiyê | foto: André Seiti

Ocupação Ilê Aiyê Última semana da exposição que aborda a trajetória do primeiro bloco afro do Brasil. Fundado em 1974, em Salvador, o grupo é caracterizado por projeto de pesquisa e informação sobre o valor dos povos de origem africana e suas reverberações na poesia, na música, na dança e no vestuário. A 42ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural acompanha a sua atividade desde o seu surgimento até a expansão para além do Carnaval.

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Em itaucultural.org.br, acesse parte do conteúdo da mostra, a versão digital da publicação impressa da Ocupação e materiais exclusivos, como entrevistas.

até domingo 6 de janeiro de 2019 terça a sexta 9h às 20h [permanência até as 20h30] sábado, domingo e feriado 11h às 20h piso térreo


foto: André Seiti

foto: Edouard Fraipont

Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural

Espaço Olavo Setubal –

Um panorama da produção gráfica europeia: com 160 obras, a exposição apresenta o caminho da impressão e da difusão de imagens do século XV até o XX. Com curadoria de Marcos Moraes, realizada no âmbito da Coleção Itaú Cultural – que agrega em torno de 15 mil itens, entre gravuras, pinturas, instalações, fotografias e outros – a mostra reúne artistas como Pablo Picasso, Edvard Munch, Rembrandt van Rijn e Francisco de Goya. É a primeira vez que Imagens Impressas vem a São Paulo, após ter passado por Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília e Florianópolis.

até domingo 17 de fevereiro de 2019 terça a sexta 9h às 20h [permanência até as 20h30] sábado, domingo e feriado 11h às 20h pisos 1 e -1

Coleção Brasiliana no Itaú Cultural

A exposição permanente reúne mais de mil itens – entre pinturas, gravuras, moedas e manuscritos – que narram histórias do Brasil.

terça a sexta 9h às 20h [permanência até as 20h30] sábado, domingo e feriado 11h às 20h pisos 4 e 5

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no Itaú Cultural \teatro

Eu É Outro | foto: Giovani Rufino

a_ponte – Cena do Teatro Universitário Entre setembro e outubro de 2018, o Itaú Cultural abriu inscrições para a convocatória a_ponte – Cena do Teatro Universitário, que selecionou 14 espetáculos desenvolvidos por estudantes de artes cênicas de diferentes regiões do Brasil. Esses trabalhos integram as programações de janeiro e fevereiro do instituto – que ainda contam com ações formativas, como a oficina Apontamentos sobre a Cena (inscrições encerradas), ministrada pelos críticos Beth Néspoli e Kil Abreu.

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Formado por estudantes da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o coletivo Coato foi convidado para abrir o ciclo de apresentações com a peça Eu É Outro: Ensaio sobre Fronteiras. O trabalho discute, entre outras questões, as fronteiras que existem entre as pessoas, bem como as possibilidades de integração. Para saber mais sobre todos os projetos selecionados e conhecer a programação completa, acesse itaucultural.org.br.

Espetáculo Eu É Outro: Ensaio sobre Fronteiras quinta 24 | 20h Sala Itaú Cultural (piso térreo) – 180 lugares [duração aproximada: 70 minutos]


\formação Ateliê Gráfico O espaço, que integra a exposição Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural, convida os visitantes a criarem composições visuais a partir de carimbos e outros materiais disponibilizados pelo instituto.

até domingo 17 de fevereiro de 2019 terça a sexta 11h às 18h sábado, domingo e feriado 11h às 18h piso -2 [sem distribuição de ingressos]

Ateliê de Embalagens Cartonadas Buscando aproximar o público das técnicas de gravura, a partir de matrizes de embalagem cartonada, os participantes poderão criar imagens que podem ser impressas mais de uma vez.

quintas 10, 17 e 24 e sextas 11 e 18 | 12h Marcelino Freire | foto: Rogério Vieira

Teatro para Crianças e Mulheres Tecendo Histórias Ao longo de 2019, o Itaú Cultural realizará uma série de atividades formativas nas linguagens das artes cênicas. Em fevereiro, ocorrem dois cursos, cujas inscrições vão de 22 a 31 de janeiro. Ambos começam em 9 de fevereiro, em todos os sábados do primeiro semestre.

inscrições pelo site nas terças 8, 15 e 22, respectivamente a cada sessão piso -2 – 20 vagas

O Curso de Teatro para Crianças é direcionado ao público entre 7 e 10 anos. Já o curso Mulheres Tecendo Histórias visa mulheres acima de 16 anos e, conduzido pelo escritor Marcelino Freire, propõe criar “teias de saberes” a partir das experiências de cada participante. As vagas serão preenchidas por ordem de inscrição. Saiba mais em itaucultural.org.br.

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no Itaú Cultural \infantil

O Som das Cores | foto: Guto Muniz

Cantinho da Leitura e Feirinha de Troca Os tradicionais Cantinho e Feirinha estão em reforma para voltar com um espaço maior, mais acolhedor e mais colorido. Acompanhe o nosso site para mais informações.

O Som das Cores Baseada no livro homônimo do taiwanês Jimmy Liao, a peça do grupo Catibrum Teatro de Bonecos conta a história de Lúcia, uma adolescente que perde a visão e parte em busca de seus olhos – que, acredita a menina, foram levados embora pelo seu cachorro.

sábado 19 e domingo 20 | 15h Sala Itaú Cultural (piso térreo) – 224 lugares [duração aproximada: 50 minutos]

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\conteúdo Além de informar sobre a nossa programação, o site do Itaú Cultural (itaucultural.org.br) reúne conteúdos em texto, áudio e vídeo sobre arte e cultura. São artigos, ensaios, entrevistas sobre todas as áreas de expressão. Entre esses materiais, estão em destaque as colunas, para as quais convidamos autores de várias áreas de atuação e provenientes de diferentes regiões do Brasil. Relembramos aqui três das colunas publicadas em 2018.

Isto É um Negro?

por Alexandre Ribeiro e Nayra Lays “Dá para promover mudanças no conforto?” A pergunta da mestra em filosofia e colunista Djamila Ribeiro parecia ecoar em mim enquanto aplaudíamos, de costas para o palco, acompanhando a saída das atrizes e dos atores. Somos ensinadas e ensinados a fugir de conflitos e de qualquer coisa que nos cause desconforto. É esse o caminho comum. Mas quem já entendeu que estamos passando por bruscas rupturas sabe: os desconfortos, quando vindos de questionamentos urgentes, são potenciais pontes. Perceber meu desconforto em vários momentos enquanto assistia à peça Isto É um Negro?, apresentada nos dias 15, 16 e 17 de junho no Itaú Cultural, foi surpreendente, pois significou um mergulho em minhas próprias questões de forma explícita. Foi sair do campo das experiências que se naturalizam e enxergá-las ali, materializadas. uma questão fluorescente e pulsante em meus olhos a cada vez que eu olho no espelho.

peraí. isto é um negro? vamos ao constructo clichê da formação de um jovem preto-quase-branco em uma periferia de São Paulo. primeiro, eles vão matar o seu pai. sim, eles vão matar o seu pai. se não fisicamente, mas em espírito. vão te fazer acreditar que tudo que parece com preto em você é abominável, e também já fizeram o seu pai acreditar nisso uma vida toda. nessa etapa, vão dizer que o racismo acabou na abolição. segundo, destruindo a beleza dos traços de seus ancestrais, de seus pais, de seus iguais, eles vão colocar na sua cabeça que o racismo não só é abominável como o preto, mas ele nem existe. e o que não existe, evidentemente, a gente pode zoar, né? terceiro, com um humor refinado e lindamente construído, o embranquecimento vai ser certeiro no tiro para te matar. na sua construção, como preto-quase-branco e periférico, ele vai te decretar o veredito final. a sua construção. ou é branco. ou é preto. lembrando, branco: herói, salvador, lindíssimo. preto: preguiçoso, chorão, horroroso. e aí, o que vai ser? hein? vai escolher que lado da narrativa, sendo que você pode escolher? Em todos os momentos senti como se, assim como as atrizes e os atores, eu estivesse nua. Diante de olhares não só de uma plateia, como também de toda uma sociedade. Todo o tempo. Desde que nasci. O ponto de partida da peça é este: corpos negros nus, interagindo entre si, emaranhados em gritos presos performaticamente. Performar. Não é também sobre isso a questão que perpassa o ser negra e negro no Brasil? Qual papel, afinal, esperam que eu, uma jovem mulher negra periférica de pele clara, performe?

O racismo cria tantos papéis limitantes e estereotipados. Um ou mais, para cada tom e fenótipo, mas, no fim, sempre acaba nos desumanizando. Como meras imagens construídas através dos olhares de quem “venceu”. Bianca Santana pode me ajudar, explicando o processo de embranquecimento neste país. Que para europeu houve até convite de prosperidade com marcação para não se misturar com essa “negrada”. De tempos em tempos, tentou-se silenciar, abafar, embranquecer uma população inteira. Para que os moleques e as minas de todas as quebradas não entendam essa potência de realeza que eles e elas carregam no peito. Para que a maior coroa que coloquemos na cabeça seja a do Burger King. Não de rei, mas de serviçal. Enquanto cada diálogo, monólogo, interação com o público e silêncio acontecia, eu me sentia um pouco mais exposta, tamanhos os pontos de identificação. Em dado momento, eu me senti dentro de filmes como Corra! e do videoclipe de “This Is America”, em uma tensão que se dava diretamente, com perguntas não tão retóricas assim. Tensionadas. Foi assim que nos sentimos, em uma plateia com grande número de pessoas não negras. Ao meu lado, um homem branco, mais velho, observava, em silêncio, cada movimento. Silêncio. Digestão. Ali, também se expôs quem nos olha nuas e nus, e nos (re)constrói como acha que deve. Mas NÃO! Desta vez, não, meus caros amigos. Com a realeza do conhecimento preto, eu pude entender a luta de um movimento negro, para que PARDO seja considerado, nas estatísticas brasileiras, no mesmo grupo que negros. E que essa é uma luta por unificação, de negros e pardos. Resultando no preto. 8


no Itaú Cultural \conteúdo Se hoje escrevo isso, é porque por outro caminho eu pude optar. Tive heróis e heroínas que me aconselharam para que minha vida pudesse mudar. me olhei no espelho. peraí! isto é um negro? essa pele parda-quase-branca é negra? E, depois de muito conflito interno e revolução, eu grito que SIM! Isto é um negro.

E Gritaram-me: TRAVESTI por Assucena Assucena

Na primeira vez que fui chamada de TRAVESTI, demorei a entender quanto aquela palavra me vestia. Eu a vislumbrei em letras garrafais, colossais. Não titubeei. Embora não tivesse plena consciência da performance que me nomeava, eu agarrei a palavra, a engoli, a digeri e segui com ela, discernindo-a em mim, para mim, sendo eu a própria palavra em movimento. Já que a primeira impressão é a que fica, imprimi inocentemente como regra o jeito carinhoso da primeira vez que fui chamada de TRAVESTI. Embora em mim o termo estivesse adornado de privilégios de uma estudante universitária de classe média, essa diferença de classe se diluía a nada toda vez que meu corpo travesti se atirava porta afora de minha casa, para conquistar sua dignidade de gente, nos espaços públicos à luz do sol. O que não se diluía com o todo era o meu corpo. A palavra foi ganhando outros contornos. Um corpo “estranho”, um corpo não diluível no todo, um corpo xingável, no qual sua expressão como matéria parecia insultar pelo motivo de ser/estar. Entender-se no mundo dessa maneira não ruiu a primeira impressão que ficou da palavra, mas a todo momento me fez querer resgatar e defender seu sentido primário. Quando a concepção 9

de sua identidade no mundo se dá para os outros como uma anomalia social, imbuída da mais vil desumanização, é preciso confrontar as narrativas das palavras que te nomeiam na ágora das disputas ideológicas: A RUA. E no caso das TRAVAS tem hora: à luz do dia. Não é à toa o ditado: “Bota a cara no sol, querida”. Quando digo “se atirar porta afora de minha casa”, digo porque esse deslocamento do privado para o público é cruel para nós. O enfrentamento de todas as violências verbais e físicas pode não ter limites e te coloca diante de uma realidade que haja saúde mental para aguentar o tranco! Esse embate começa em casa. Tive a sanidade testada pelo famigerado espelho, janela sincera das ideias de meus enfrentamentos cotidianos. O espelho é a rua dentro de casa, o espelho é o olhar pontiagudo a me transpassar no metrô, ou a palavra lançada pela janela de um carro com a intenção de me ferir como pedra. Eis um corpo nomeado de TRAVESTI a TRANSitar entre o público e o privado. As pessoas às vezes confiam na diluição de suas individualidades nos espaços públicos a ponto de tomar como indivíduo o poder de massa para doutrinar, disciplinar e violentar um corpo “TRANSgressor”. Esse reivindicar de massa para si como indivíduo tem um óbvio fundamento no todo: a massa é transfóbica, a massa é machista e sua agressão tem rosto e digital. Quando digo massa, estou falando dos engravatados da Avenida Brigadeiro Faria Lima, estou falando dos olhares de desaprovação dos moradores dos Jardins, da análise minuciosa de quaisquer atendentes de quaisquer estabelecimentos comerciais no centro de São Paulo, a mesma análise que recebo quando meu corpo adentra nos transportes públicos de Curitiba, apenas para se deslocar de um canto para outro, como todo corpo no mundo.

Um dia, tomando uma cerveja na companhia de duas amigas cisgêneros, num bar na região da Praça Roosevelt, uma travesti me cumprimentou e manifestamos rapidamente signos de empatia em nossa troca de olhar. Começamos uma conversa que lhe foi estranha, ela me disse que não encontrava ameaça em mim. A rua, mais propriamente os pontos de prostituição, a insensibilizara: quando deu por si, não confiava nem nas parceiras de ponto, pela disputa acirrada por clientes que a prostituição provoca. Nós nos abraçamos por um tempo, até a despedida. Fomos ali uma o espelho da outra no sentido mais narcísico possível. Narciso não se apaixonou por ele mesmo, ele se apaixonou por sua imagem. Ela era a minha imagem e eu a imagem dela. Ou, como me disse Larissa Ibúmi, melhor que Narciso: “Fomos como Oxum mirando seu espelho, despida do clichê da vaidade, como quem enxerga o outro através de si, a deusa olha o espelho não apenas para mirar-se, mas para atentar às ameaças que sobreiam suas costas, protegendo assim toda sua comunidade”. Era com a tradução daquele afeto caçado, num boteco paulistano, que buscávamos nos ver, e naquele dia nos achamos, desarmadas e sensíveis a um abraço vestido de palavra, colossal e em letras garrafais: TRAVESTI.

Nem Dez Mandos, nem Desmandos por Glauco Mattoso

O adjectivo que quero commentar este mez é AUCTORITARIO. Em política se falla muito de auctoritarismo e de liberdades individuaes ou collectivas, mas em materia de arte essa questão ultrapassa as fronteiras da mera censura ethica ou esthetica. Antes de reflectir sobre isso, darei dois exemplos de auctoritarismo que normalmente excappam aos analystas politicos. Refiro-me aos medicos e scientistas.


Em março occorreu o dia mundial do somno. Ah, como me deu raiva ouvir todos aquelles “especialistas” cagando regra e passando sermão na gente que soffre de insomnia, como si fosse culpa exclusivamente nossa o facto de não conseguirmos dormir! Accusam-nos de tudo, de não nos desligarmos do cellular, da TV, do apparelho de som, dos affazeres nocturnos, das preoccupações... e, no meu caso, da composição de poemas. Teem respostas para tudo, exigem que durmamos pelo menos oito horas... Só não teem respostas para a principal causa da insomnia! Ouvi os taes “especialistas” fallando de tudo que se possa imaginar: apnéa, rhoncho, hormonios, alimentação, actividade physica... Mas não ouvi NIN-GUEM, ninguem tocar no poncto chave do problema: o BARULHO! Ah, eu só queria mandar um desses sabichões combinar com meu vizinho de cyma, com meu vizinho de baixo, com meu vizinho do lado, com os vizinhos dos outros predios, com o motorista do caminhão de lixo, com os caçambeiros, com os motoqueiros, com os balladeiros... Mas disso elles fazem de compta que não sabem! Ora, por acaso alguem teria coragem de suggerir protectores de ouvido? (Faço questão de dizer OU-VI-DO e não orelha!) Não protegem porra nenhuma e ainda machucam si você dorme a noite inteira com aquillo enfiado la dentro! Em summa, fico puto da vida quando são lembradas essas datas que só servem para um “especialista” apparescer às nossas custas! Vão todos ao diabo que os carregue! Agora em maio cae o dia nacional do glaucoma. Claro que tambem ja me revoltei muito com a attitude dos medicos. Deixem-me recapitular um desabbafo que fiz na revista Caros Amigos: “Fico puto cada vez que ouà§o fallar numa nova campanha de prevenção das doenças oculares, particularmente quando o assumpto é glaucoma, causa congenita da minha cegueira. Outro dia tive vontade de acchincalhar um desses doutores caga-regras que, dando entrevista no radio, allertava que o glaucoma à© controlavel si precocemente tractado, mas fatal e irreversivel quando

tardiamente diagnosticado. Por traz dessa universal recommendaçà£o está, para mim, uma sacanagem sem tamanho: o oculista generaliza e se innocenta, emquanto os innocentes pagam pelos culpados. Explico: diz elle que o cara só fica cego si não for medicado a tempo e si não tomar todos os remedios direitinho, dando a entender que a cegueira é culpa só do cego. Ora, eu sempre segui à risca todas as indicações, usei mais de dez collyrios e soffri mais de dez cirurgias, com os especialistas que pude pagar, e mal pude addiar a cegueira até os quarenta annos! Que porcaria de ophthalmologia é essa, que não accompanha os progressos duma cardiologia ou duma infectologia? Que merda de collyrios são esses (um tem nome que lembra propina, outro que lembra charlatão), que dizem baixar a pressão mas só não funccionam commigo? Por acaso sou marciano? Sou culpado? A culpa pode não ser dos medicos como profissionaes, mas certamente será da medicina como sciencia, a qual é incompetente mas prepotente, a poncto de jogar no paciente a responsabilidade por suas precariedades. E depois não querem que eu seja um punk revoltado! Não querem que eu descarregue meu odio em cyma dos politicos, esses pacientes ricos, saudaveis e bem medicados! Maldictos são elles, não os poetas!” Essa mania de patrulhar o comportamento alheio está em toda parte, não só na medicina ou na politica. Na minha praia, a litteratura, volta e meia apparesce alguem affirmando que a verdadeira poesia tem de ser assim ou assado, no futuro ou no passado. Eu proprio publiquei um tractado de versificação, mas as regras nunca serão obrigatorias, como querem alguns typos auctoritarios. O mesmo vale para a orthographia. Talvez a melhor recommendação, no campo artistico como na propria vida, não seja punk mas sim hippie: viva e deixe viver. Faça o que a lei obriga, mas não se obrigue a fazer o que algum “especialista” affirma como “scientifico”. Faça, dentro ou não da regra, por espontanea vontade. E aqui ja estou sendo imperativo. Melhor parar...

foto: divulgação

Auditório Ibirapuera em manutenção No início do ano, o Auditório Ibirapuera estará fechado para reparos. A programação será retomada na sexta 8 de fevereiro de 2019.

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Bicicleta Estacionamento com seguro e gratuito para 15 bicicletas. Válido somente para visitantes do Itaú Cultural.

Horário de funcionamento terça a sexta 9h às 20h sábado, domingo e feriado 11h às 20h Espaços acessíveis O prédio do Itaú Cultural apresenta facilidades para pessoas com deficiência física. Há um fraldário localizado no piso térreo do instituto. Restaurante Panaroma segunda 9h às 17h terça a sexta 9h às 20h sábado e domingo 11h às 20h fone 11 3251 1801

Biblioteca Localizada no piso 2, a biblioteca do Itaú Cultural funciona de terça a sexta, das 10h às 18h. Para visitar o acervo é necessário inscrever-se pelo e-mail biblioteca@itaucultural.org.br. Consultas também podem ser realizadas pela internet, em itaucultural.org.br/acervobiblioteca. Não é permitido comer, beber, fumar e falar ao celular nos espaços expositivos, nos auditórios e na biblioteca.

Estacionamento (para carros) Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho. Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural: 3 horas: R$ 7 | 4 horas: R$ 9 | 5 a 12 horas: R$ 10 Com manobrista e seguro.

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 307663 – Vencimento: 16/7/2019

Consulte esta programação no site issuu.com/itaucultural.

entrada gratuita itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 atendimento@itaucultural.org.br avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

Auditório Ibirapuera Bilheteria sexta e sábado 13h às 22h domingo 13h às 20h

Para a sua comodidade, recomendamos chegar com uma hora de antecedência às apresentações e sugerimos a utilização de táxi, bicicleta ou transporte público.

Espaços acessíveis O prédio do Auditório Ibirapuera apresenta facilidades para pessoas com deficiência física.

O acesso de automóveis é realizado pelo portão 3. Para pedestres, o portão mais próximo é o 2.

Venha de bicicleta Como o Auditório Ibirapuera não possui estacionamento ou sistema de valet, os frequentadores dos espetáculos dispõem apenas do estacionamento do Parque Ibirapuera, com sistema de Zona Azul e vagas limitadas.

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Número: 2018/00030-00 – Vencimento: 21/12/2018 Lotação do Auditório: 806 – Capacidade da plateia externa: 15 mil Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 281876 – Vencimento: 5/2/2019 – Protocolo de renovação: 014450-2/2017

auditorioibirapuera.com.br fone 11 3629 1075 info@auditorioibirapuera.com.br avenida pedro álvares cabral s/no parque ibirapuera são paulo sp 04094 050


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