Qual a cor da sua aura? Cronobiografia de Arthur Bispo do Rosario

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QUAL A COR DA SUA AURA? CRONOBIOGRAFIA DE ARTHUR BISPO DO ROSARIO João Henrique Queiroz As informações sobre a sequência de datas e de acontecimentos da trajetória de Arthur Bispo do Rosario tiveram como fontes jornais, documentos de arquivos, prontuários e levantamentos realizados anteriormente por outros pesquisadores, especialmente pelo crítico de arte Frederico Morais e pela psicanalista Flavia Corpas, que doou todo o seu arquivo referente ao artista para o Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea (mBrac), no Rio de Janeiro. A linha do tempo aqui apresentada traz o histórico completo de exposições dedicadas a Bispo e acrescenta informações até então desconhecidas sobre a sua vida, como a tocante revelação de que ele foi procurado por uma irmã, e uma indicação de que participou de oficinas de desenho no Centro Psiquiátrico Pedro II, no bairro de Engenho de Dentro. Para complementar esta pesquisa biográfica, foram reunidos escritos deixados por Bispo em suas obras, que, em certa medida, constituem testemunhos de sua vida. A maior parte deles veio a público apenas recentemente, durante o processo de catalogação do acervo do mBrac. O trabalho de transcrição de todos esses escritos foi realizado por Christina Penna, historiadora de arte e coordenadora da catalogação, com a colaboração de Patrícia Salles. Entrelaçada à vida e à obra de Bispo, foram incluídas também informações sobre a produção artística de pacientes da Colônia Juliano Moreira (CJM), antes chamada de Colônia de Psicopatas Homens de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, com a finalidade de sugerir a atmosfera em que se expressaram os artistas que viviam ao lado do homenageado.

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Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto


1900 1909/1911 Em 5 de outubro de 1909, registrou-se na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Saúde, no município de Japaratuba, em Sergipe, o batismo de Arthur, com 3 meses de idade, filho de Claudino Bispo do Rosario e Blandina Francisca de Jesus. No registro de identificação da Marinha de Guerra do Brasil, datado de 1929, consta que seu nascimento ocorreu em 14 de maio de 1909, em Minas Gerais, sendo seus pais Adriano Bispo do Rosario e Blandina Francisca de Jesus, mesma filiação que aparece em sua ficha de empregado da Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company. No entanto, nesta última, consta que nasceu em 16 de março de 1911, em Sergipe.

Em todos os documentos de registro em que aparece o nome completo do artista, o último sobrenome é escrito sem acento, Rosario, devendo ser considerada essa a grafia correta. O nome Adriano Bispo do Rosario aparece bordado em uma das faces do estandarte Dicionário de nomes letra A I: ADRIANO BISPO DO ROSARIO – CARPINTEIRO O nome da mãe aparece escrito em uma das fichas de papelão da obra Urna de papelão 2B, e a partir dele o artista cria variações: BLANDINA – NUNES BLANDINA – MARIA OSVALDO BLANDINA – MARIA DE JESUS BLANDINA – MARGUES O registro de sua cidade natal aparece bordado ou escrito em diversas obras como: MISSÃO JAPARATUBA MUNICÍPIO SERGIPE

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1920 1925 Em 23 de fevereiro, na companhia de seu pai, alistou-se na Escola de Aprendizes de Marinheiros de Sergipe.

No estandarte Dicionário de nomes letra A I e na Caixa dos escolhidos, Bispo deixou registros escritos e bordados do nome de alguns dos seus colegas aspirantes a marinheiros. Na sequência de alguns deles, escreveu: ESCOLA DE APRENDIZES MARINHEIROS ARACAJU – 1925

1926 Em 21 de janeiro, foi lotado no Quartel Central do Corpo de Marinheiros Nacionais, no Rio de Janeiro, sendo classificado como grumete, denominação dada aos marinheiros aprendizes. Posteriormente, assumiria o posto de sinaleiro.

O Quartel Central do Corpo de Marinheiros Nacionais estava localizado na Ilha de Villegagnon, na Baía de Guanabara. Inúmeras obras de Bispo do Rosario fazem referência à ilha, com seu nome bordado ou escrito, na maioria das vezes, desta forma: VILLEGAIGNON

1928 Iniciou a carreira de boxeador, prática esportiva incentivada pela própria Marinha. Oficialmente conhecido nos ringues como Arthur Bispo, ganhou fama nos jornais, principalmente em razão de sua resistência física e por nunca fugir dos adversários.

No boxe, Bispo foi sparring (auxiliar de treino) de Tobias Biana, de quem tomou suas primeiras lições ainda na Marinha. Em Coleção de fichários, lê-se: TOBIAS BIANA DA SILV JESUS PUGILISTA – PESO MEDIO BRASIL ARMADA Várias de suas obras fazem referência à carreira de boxeador, sendo a mais conhecida aquela postumamente intitulada Boxer, peça que representa um saco de pancada em miniatura.

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1930 1933 Após uma carreira de oito anos na Marinha, marcada por diversos registros de bom comportamento, mas também por punições – incluindo períodos de prisão em solitária –, foi desligado da instituição em 8 de junho, com a justificativa de ter escapado à disciplina. Em 29 de dezembro, foi admitido como lavador de bondes na Viação Excelsior, subsidiária da Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company. Na folha de empregado, consta que residia no número 34 da Praça XV. O documento registra também que, naquele momento, seu pai já tinha falecido. Seguiu, paralelamente, com sua carreira de boxeador.

É significativa a presença dos nomes e das funções de inúmeros funcionários da Viação Excelsior nas obras de Bispo do Rosario. Ele também recupera a memória de seu trabalho como lavador de bondes por meio da confecção de um objeto que representa um poste de parada de ônibus, no qual se lê: PONTO DE ONBUS AVIAÇÃO EXERCIOR LIGHT 800 REIS PRAÇA MAUÁ FORTE DE COPACABANA PRAÇA MAUÁ JOQUE CLUBE JARDIM BOTANICO CLUBE NAVAL LARGO DOS LEOES 400 REIS CLUBE NAVAL URCA – CLUBE NAVAL PAVILHÃO MOURISCO CLUBE NAVAL LARANJEIRA 400 123456 – 1935 –

1936 Na madrugada do dia 24 de janeiro, sofreu um acidente de trabalho que levou ao esmagamento de seu pé direito. Após receber os primeiros socorros, foi transferido para o Hospital Lloyd Sul Americano. O infeliz acontecimento chegou a ser noticiado em vários jornais da cidade. Na comunicação de acidente feita pela Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company consta a mudança de seu endereço residencial, agora no número 42 da Rua do Passeio. O ocorrido deu fim à sua carreira no boxe.

No informe publicado pelo jornal Correio da manhã em 28 de janeiro de 1936, consta que o acidentado estava sob os cuidados do médico Mario Jorge de Carvalho, nome que aparece em uma ficha azul encontrada na obra Caixa dos escolhidos, em meio a outras com nomes de médicos e enfermeiros do Hospital Lloyd Sul Americano.

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1937 Pouco mais de um ano depois do acidente, em 23 de fevereiro, foi demitido da Viação Excelsior por ter se recusado a cumprir uma ordem de um superior. Com a ajuda do advogado José Maria Leone, deu entrada em uma ação indenizatória contra a Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company. O processo não foi em frente, mas resultou em um acordo de indenização estabelecido entre a empresa e o funcionário. Após esse contato, tendo ganhado a simpatia dos Leone, Bispo foi convidado a trabalhar como empregado doméstico na casa da família, na Rua São Clemente, 301, em Botafogo. Passou, então, a residir em um cômodo situado no quintal.

Na parte interna do Manto da apresentação, em que o artista bordou os nomes daqueles que o acompanhariam no dia do Juízo Final, está o sobrenome da família que o abrigou: LEONI

1938 Na noite de 22 de dezembro, Bispo do Rosario teve a revelação de que seria o filho de Deus, o próprio Jesus Cristo, e saiu a perambular pelas ruas do Rio de Janeiro. Em 24 de dezembro, teria se apresentado em uma igreja no centro da cidade dizendo estar ali para “julgar os vivos e os mortos”. De lá, autoridades policiais o encaminharam para o Hospital Nacional de Alienados, também conhecido como Hospício da Praia Vermelha, onde foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide.

O instante da revelação foi bordado pelo artista em um fardão, apelidado de Eu vi Cristo, no qual se lê: EU VIM 22 12 1938 MEIA NOITE RUA SÃO CLEMENTE 301 – BOTAFOGO NOS FUNDOS MURRADO No estandarte Eu preciso destas palavras escrita, ele anotou detalhes de sua peregrinação: 22 DEZEMBRO 1938 – MEIA NOITE ACOMPANHADO POR – 7 – ANJOS EM NUVES ESPECIAS FORMA ESTEIRA MIM DEIXARAM NA CASA NOS FUNDO MURRADO RUA SÃO CLEMEN TE – 301 – BOTAFOG ENTRE AS RUAS DAS PALMEIRAS E MATRIZ EU COM LANÇA NAS MÃO NESTA NUVES ESPIRITO MALISIMO NÃO PENETRARA AS 11 HORAS ANTES DE IR AO CENTRO DA CIDADE NA RUA PRIMEIRO DE MAR ÇO – PRAÇA – 15 EU FIZ ORAÇÃO DO CLEDO NO CORREDOR PERTO DA PORTA VEIO MIM – HUMBERTO MAGALHAES LEO NI – ADVOGADO MESTRE PARA ONDE EU IA PERG UNTOU EU VOU MIM APRESENT AR – NA IGLEJA DA CANDELARIA ÉSTA FOI MINHA RESPOSTA – EU ABRIR APORTA LADO LESTE UM JARDIM FLORES VARAS CORES AO 7 – METROS DE FRENTE UM PORTÃO DE – 2

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METROS DE ALT URA DE FERRO LADO ESQUERDA COM SEUS GRADEA DO TODAS DE PON TA LANÇA UM METRO E VINTE ALTURA – 10 – ESPA ÇOS – UMA POLEGADA SOBRE UMA PILAT RA DE 60 ∙ CITIMETR OS DE CIMENTO PISO DE LADOESQ UERDA – 70 – LARGURA ATÉ PORTÃO EU FIQUEI NA CAL ÇADA ESPERANDO NO PONTO DE PARA DA – FICA ENFRENTE NUMERO 301 – BOND E – JARDIM LEBLO TOMEI ESTÁ CONDU ÇÃO JÁ NO FIM DES TA – RUA AOS 10 – MIN UTOS FEZ CURVA PARA O LADO ESQUERD A – SEQUE VIAGEM PELA PRAIA DE BOTAFOGO RUA SENADOR VERGUEIRO EM SU A – VELOCIDADE NO RMAL VAI PELO CEN – TRO – QUASE NO FIM UM PEQUENO QUAR TERÃO FAZ CURVA PARA DIREITA NESTA RUA DE ESQUINA OBS ERVO UMA EMBAIXADA – CURVA A ESQ UERDA ENTRA NA PR – AIA DO FLAMENGO LOGO OBSERVEI QUE É OS FUNDOS DO PALACIO DO CATETE – SEDE DE SUA EXCELENCIA PRE SIDENTE ∙ ESTADOS UNI DOS DO BRAZIL – UM PO RTÃO DE FERRO LARGO COM SUAS GRADES DE PONTA DE LANÇAS SOB RE PILATRAS DE PEDRA AOS 2 – METROS DE ALT URA PODE SER MAIS – 100 DISTANCIA UM SOLDADO EXERCITO DE SINTILN ELA COM SEU FUZIL NA COSTA SUA BANDU LEIRA AFRENTE COURO PROXIMO GURITA JARDIM NA CALÇADA UM

1939 Em 25 de janeiro, foi transferido para a CJM, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Entretanto, em junho, foi encaminhado novamente ao Hospício Nacional de Alienados por ter sido considerado não adaptável ao regime da instituição. A CJM tinha como abordagem principal a praxiterapia, isto é, o tratamento por meio do trabalho. Em 22 de setembro, um anúncio publicado em uma coluna destinada à busca de desaparecidos no jornal A noite traz um apelo feito por uma mulher chamada Antonia Francisca de Jesus, que pergunta pelo paradeiro de seu irmão, Arthur Bispo do Rosario, ex-marinheiro. Ela informou um endereço no Rio de Janeiro, na Rua General Câmara, 355, sobrado. Não há registro de que os dois irmãos tenham se encontrado.

A memória manicomial e rural da CJM aparece em muitas das obras de Bispo. No estandarte com o nome da instituição, traçou em bordado seu mapa, deixando também um registro escrito da sua estrutura e do cotidiano dos doentes: DO LADO SUL DA ESTACAO CASCADURA SUBUBIO DA ESTRADA FERROVIARIA CENTRAL DO BRAZIL 10 . MIL METROS SEJA 10 KILOMETROS EXISTE NUCLO ULISSES PAVILHAO EGA MUNIZ TERRENO MAIS ALTO LADO SUL E BONITA CASA RESIDENCIAL DIRETOR GERAL VEM BLOCO MEDICO UMA PONTE DISCUAMENTO DAS AGUAS FLAVIAES VINDO OBSERVA ALGUNS LUGARAS VARIOS TIPOS HABITACOES DOS EMPREGA-

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DOS VEM PAVILHÃO ADIBE JABU MENINOS CONFRONTA-SE MORADIA TEM UM POSTO DO EXERCITO COMMUNICAO TELEGRAFIA PELA FRENTE ATRAVESSA ARESITENTE ESTRADA FAZ VIA NUCLOS PAVILHAOES A TODOS RADICADA NESTA GRANDIOSA COLONIA BEM COMO OS ONIBUS DA EMPRESA PARTICULAR DE AVIAÇAO ST. MARIA LINHA TAQUARA DIARAMENTE DAS – 5 ∙ HORAS MANHA ULTIMA CONDUÇAO . 11 . DA NOITE NOS DOMINGOS AS QUINTA FEIRA PARA DOENTES MENTAES PROPORCIONA MOMENTOS AGRADAVEIS E DE ALEGRIA SEUS VISITANTES DE ONDE VEM ESTAS VISITAS DO ESTADO DA GUANABARA DO CENTRO CIDADA DOS BARROS SUL GAVEA |IPANEMA |LEBLON | LEMOS COPACABANA | ESTES DOIS ULTIMO LUGARES DISTANCIA E QUATRO CENTROS PALMOS OITENTA METROS O nome de Antonia Francisca de Jesus aparece na obra conhecida como Carrinho, da seguinte forma: ANTONIA FRANCISCA OLIVEIRA JESUS MISSÃO JAPARATUB SERGIPE

1940 1943 Em matéria publicada na revista O cruzeiro, intitulada “Os loucos serão felizes?”, Bispo do Rosario foi o centro da curiosidade do jornalista David Nasser e das lentes do fotógrafo Jean Manzon. Ele aparece em uma fotografia vestindo uma primeira versão do Manto da apresentação, enquanto trabalha na confecção da réplica em miniatura de um barco. Sem identificar o paciente, a reportagem conta que ele havia tecido seu manto divino e preparava-se, afirmava o jornalista, para uma “viagem às paragens da eternidade, numa banheira…”. Bispo teria dito: “Eu sou o enviado da Providência. Nasci numa estrela e venho salvar a humanidade”. O manto, as embarcações e a “nave” já apareciam como elementos icônicos de sua produção.

Em uma de suas vitrines-fichário, o artista guarda a memória do jornalista que o entrevistou e registra o encontro como ocorrido um ano antes: DAVID NASSER – JORNALISTA AVENIDA PASTEUR – HOSPITAL PSIQUIATRICO PRAIA 1942 VERMELHA

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1944 Uma nova matéria produzida por David Nasser e Jean Manzon no Hospício Nacional de Alienados foi publicada na revista A cigarra, com o título “Recordações da casa dos loucos”, e trazia novamente Bispo do Rosario como personagem. Desta vez, entre as fotografias, revela-se um homem negro sorridente, sentado junto a uma árvore, vestindo um manto bordado e erguendo uma das mãos na direção do céu. O texto afirma que o paciente se autodenominava Bispo, ignorando que esse era o seu nome de batismo. Neste mesmo ano ocorreu o fechamento da instituição, que teve suas instalações cedidas à Universidade do Brasil, atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com isso, em 23 de março, Bispo foi transferido para o então Centro Psiquiátrico Nacional, no bairro de Engenho de Dentro.

A lista de nomes de funcionários do Centro Psiquiátrico Nacional registrados pelo artista em suas obras é imensa, muitos deles seguidos do texto: ENGENHO DENTRO RUA DR LEAL HOSPITAL No fardão conhecido pelo nome Lutas e condecorações, encontra-se uma medalha que carrega uma estrela de davi e os dizeres: ENGENHO DENTRO Outra medalha traz um brasão de metal e o texto: RUA DORTOR LEAL

1945 Uma reportagem sobre o Centro Psiquiátrico Nacional publicada no jornal Diário carioca em 12 de agosto, entre muitas informações e curiosidades sobre a instituição, traz um relato da produção artística de um dos pacientes. Acompanhado do diretor, doutor Odilon Gallotti, o jornalista é levado à presença de um interno conhecido como Bispo, que desenhava “paisagens, aspectos do próprio hospital” sobre uma grande mesa. Esse tipo de imagem está muito presente na produção do artista, marcada pela representação do universo ao seu redor. A ocupação dos pacientes com atividades de desenho era uma entre tantas práticas ligadas à praxiterapia incentivadas nos hospitais psiquiátricos naquele momento. Após ser presa no governo de Getúlio Vargas e ficar anos afastada do serviço público, Nise da Silveira retornou à função de médica psiquiatra no Centro Psiquiátrico Nacional (que, ainda na década de 1940, passou a se chamar Centro Psiquiátrico Pedro II) em 17 de abril de 1944, assumindo em maio de 1946 a coordenação da Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (Stor), espaço que, entre outras oficinas, abrigou um ateliê

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de pintura e modelagem. Apesar de Bispo do Rosario e Nise da Silveira terem passado pelo hospital de Engenho de Dentro no mesmo ano, não há registros de que eles tenham se encontrado, nem de que ele tenha frequentado o ateliê – que, posteriormente, daria origem ao Museu de Imagens do Inconsciente.

O doutor Odilon Gallotti era um velho conhecido do artista, ainda dos tempos da Praia Vermelha, como deixa revelar uma de suas vitrines-fichário: ODLON GALLOTE DE JESUS MEDICO PSIQUIATRA HOSPITAL PRAIA VERMELHA AVENIDA PASTEUR Apesar de provavelmente não terem se conhecido pessoalmente, Bispo tinha consciência da existência de Nise da Silveira. No Manto da apresentação e em uma de suas vitrines-fichário, o nome da psiquiatra rebelde que libertou os loucos por meio da arte aparece eternizado: ANISSE – DA – SILVEIRA – MEDICA

1946 Em 18 de fevereiro, foi transferido novamente para a CJM, retornando ao Centro Psiquiátrico Pedro II no dia seguinte. Não se sabe a razão do rápido retorno. Em 9 de maio, sob a responsabilidade de Humberto Leone, filho de José Maria Leone, deixou o hospital.

O nome de Humberto Leone aparece em um dos cadernos que Bispo do Rosario usava para, acredita-se, rascunhar nomes e outras informações que incluiria posteriormente em suas obras. Esses cadernos fazem parte da obra postumamente intitulada Trem de espera.

1948 Em 27 de janeiro, Bispo foi internado novamente no Centro Psiquiátrico Pedro II. E, em 6 de abril, foi transferido para a CJM, onde permaneceu até 1954. No final da década de 1940, foi criado o primeiro ateliê de pintura para pacientes psiquiátricos de que se tem registro na CJM, a Colmeia de Pintores. Em 1950, realizou-se a exposição Arte psicopatológica, durante o I congresso internacional de psiquiatria, em Paris, que recebeu trabalhos artísticos produzidos por pacientes psiquiátricos de todo o mundo, incluindo 395 obras da Colmeia de Pintores, da Stor e da Escola Livre de Artes Plásticas do Hospital do Juquery, na cidade de Franco da Rocha, na Região Metropolitana de São Paulo.

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Pouco tempo antes, havia sido inaugurada a Primeira exposição de pintura e arte feminina aplicada da Colônia Juliano Moreira. Não há registro de que Bispo tenha sido convidado para a Colmeia de Pintores. Certamente porque a sua produção, naquele momento, não foi vista como artística e não se enquadrava nos parâmetros do ateliê, que incentivava fortemente um trabalho mais figurativo, inclinado à cópia e à reprodução.

1950

1954 Em 23 de março, Bispo do Rosario fugiu da CJM. Segundo a pesquisadora Flavia Corpas, relatos deixados por pessoas que tiveram contato com ele trazem informações desencontradas sobre o ano de sua fuga e até fazem parecer que aconteceu mais de uma vez. No entanto, o cruzamento das informações aponta que a fuga ocorreu apenas neste ano, conforme registro encontrado em um dos seus prontuários.

O caso mais conhecido de tentativa de fuga de um paciente da CJM acabou em tragédia. Em 1933, o pianista e compositor Ernesto Nazareth foi internado após ser diagnosticado com sífilis. Em 1 de fevereiro de 1934, foi registrada a sua fuga. Três dias depois, o seu corpo foi encontrado flutuando em uma cachoeira localizada nas terras da instituição. Especula-se que o musicista tenha se suicidado, mas nunca foi possível desvendar o que ocasionou a sua morte.

1955-1963 Segundo o crítico de arte Frederico Morais, após a fuga, Bispo exerceu variadas atividades. Entre elas, foi segurança e cabo eleitoral de Gilberto Marinho, candidato ao Senado, e de Humberto Leone, candidato à vaga de deputado estadual no Rio de Janeiro. Fez também pequenos serviços no escritório de advocacia dos Leone e trabalhou como porteiro no Hotel Suíço, no número 68 do Largo da Glória. Há relatos de que, posteriormente, garimpou ouro em região desconhecida do Centro-Oeste brasileiro, levado pelo advogado Argentino Murta, cunhado de Humberto Leone. Já na década de 1960, Avany Bonfim, médico e também cunhado de Humberto Leone, levou Bispo para trabalhar em sua clínica pediátrica, a Amiu, localizada na Rua Muniz Barreto, 15, em Botafogo. Ele se estabeleceu no sótão do prédio ao lado, que também pertencia à clínica, onde arranjava tempo, entre a rotina de tarefas que cumpria como empregado do lugar, para produzir suas miniaturas em madeira.

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1960


Nomes de vários funcionários que trabalhavam no Hotel Suíço aparecem listados em uma das vitrines-fichário e em uma das faces do estandarte Eu preciso destas palavras escrita. Na outra face, um desenho bordado representa a fachada do local, e abaixo está escrito: HOTEL SUISO Em outra vitrine-fichário, Bispo escreve em fichas azuis os nomes de dezenas de mulheres e as funções que desempenhavam na Amiu. Tanto o advogado que o teria levado ao garimpo no interior do país quanto o médico que o abrigou em sua clínica têm seus nomes bordados na obra Dicionário de nomes letra A I: AVANYR BOMFIM – MEDICO PEDIATRA RUA PAULO BARRETO 26 BOTAFOGO ARGENTINO MURTA – ADVOGADO RUA PAULO BARREITO 26 – BOTAFOGO A família de Argentino Murta era originalmente do município de Caxambu, em Minas Gerais, que já havia tido um dos seus irmãos como prefeito. A cidade é abastecida pelo Rio Baependi, formado pelo encontro dos rios Gamarra e São Pedro. Um dos nomes bordados por Bispo no estandarte Dicionário de nomes letra A I indica uma possível passagem do artista pela região e até o seu envolvimento com a atividade de garimpo: ANTONIO JACOB – GUARIPEIRO RIO GAMAR – 10 QUILOMETROS POVOADO PIRASICABA OESTE DE MINAS Não se sabe por quais cidades do Centro-Oeste ele esteve. No entanto, buscas realizadas em jornais da época revelam que Argentino Murta tinha ligações com Guiratinga, em Mato Grosso. O nome da cidade aparece bordado na obra Miss Goiás.

1964 Conforme depoimento prestado por Avany Bonfim a Frederico Morais, após algum tempo trabalhando na clínica pediátrica Amiu, Bispo começou a compartilhar uma preocupação em relação a algumas enfermeiras, médicas e acadêmicas de lá: elas não seriam virgens e, por isso, não poderiam estar trabalhando com crianças. A mensagem soou como um alerta para o médico, que achou adequado interná-lo novamente. Em 8 de fevereiro, ele foi levado de volta à CJM. O patrão fez questão de que um caminhão fretado pudesse levar para lá também todos os objetos que Bispo havia produzido no sótão da clínica. Essa foi sua última entrada na CJM, onde viveu até o dia de seu falecimento.

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O simbolismo das virgens tem bastante relevância na vida e na obra de Bispo do Rosario. Como fica claro em sua passagem pela Amiu, para ele, a pureza das mulheres estava associada à virgindade. Por isso, acredita-se que os nomes de mulheres bordados na parte interna do Manto da apresentação seriam daquelas que ele idealizava serem virgens, escolhidas para acompanhá-lo no dia da salvação. Em outra peça, descreve como seria a sua apresentação e, no instante apocalíptico que mudaria o mundo dos homens, as virgens teriam o seu lugar. Sua obra revela que, no enredo que o delírio engendrava, ele ascenderia aos céus seguido por uma legião de mulheres livres do pecado da carne: VENHA AS VIRGEM EM CARDUMES Na capa de uma das vitrines-fichário, confeccionada com embalagens plásticas, Bispo acrescentou um de seus textos de teor sagrado que também faz menção às virgens: SUBA TODAS PARA MEU REINO CEU – UNIVERSO TODAS VIRGENS NO PRIMEIRO DIA JUIZO TODAS DIZ, SÃO TODAS VIRGENS MESTRE DOS MESTRES RESPONDO SUBA PARA MEU REINO – FILHO DO HOMEM FILH

1967 De volta à CJM, Bispo assumiu a função não oficial de “faxina” ou “xerife” do pavilhão 10 do Núcleo Ulisses Vianna, ajudando guardas e enfermeiros a manter a ordem no local. Segundo Frederico Morais, em uma das ocasiões em que tentou conter outro paciente, foi tão bruto que acabou sendo levado para o quarto-forte, uma grande sala rodeada de minúsculas celas com portas de metal onde os internos eram presos como punição. Lá permaneceu por longos três meses, período em que passou a ouvir vozes que lhe diziam para representar todas as coisas da Terra. De acordo com Flavia Corpas, apesar de Bispo já ouvir vozes anteriormente, o ano de 1967 teria sido um marco na sua biografia, pois foi quando lhe foi revelada a missão que determinou o contorno de sua obra. Após o período de punição, ele decidiu permanecer ali no cubículo cumprindo sua missão e, aos poucos, foi tomando para si todas as celas do quarto-forte. Para adentrar o espaço, passou a solicitar uma senha: o visitante deveria responder qual era a cor da aura do artista.

Segundo o que Bispo do Rosario revelou ao cineasta e psicanalista Hugo Denizart em 1982, em diálogo registrado no filme O prisioneiro da passagem, a sua missão, determinada pelas vozes, seria a de representar todos “os materiais existentes na Terra para o uso do homem”. Em entrevista realizada pela assistente social Conceição Robaina, ele compartilhou que, desde o período no Hospício Nacional de

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Alienados: “Sempre fui faxina na casa forte, para tratar dos doentes que não queriam nada”. Afirmou também que permaneceu trancado em sua cela por sete anos, período em que se dedicou especialmente ao bordado e ao registro escrito das coisas do mundo. Diz-se que pouco se alimentava. Queria se tornar transparente, tornar seu corpo brilhoso.

1980 Com o início da abertura democrática do país, no final dos anos 1970, diversos movimentos sociais passaram a reivindicar a redemocratização também das instituições. Entre eles, havia um movimento de profissionais do campo da saúde mental que começou a denunciar as péssimas condições de trabalho e a precariedade dos serviços oferecidos nos hospitais psiquiátricos. Esse movimento acabou ficando conhecido amplamente como Reforma Psiquiátrica. Nesse contexto, em 1980, o repórter Samuel Wainer Filho adentrou os portões da CJM para mostrar a cruel realidade daqueles que viviam no manicômio. Ao longo da reportagem, exibida no programa Fantástico no dia 18 de maio, alguns minutos foram dedicados à curiosa mania de um dos pacientes, que bordava, colecionava objetos e esculpia outros em madeira. O paciente era Arthur Bispo do Rosario. As denúncias feitas na TV levaram à mudança da direção da instituição, que passou às mãos do psiquiatra Heimar Saldanha Camarinha.

Nas imagens exibidas na reportagem, é possível identificar alguns objetos revestidos com fios azuis e bordados com nomes de ruas, bem como o estandarte intitulado Navios de guerra, o fardão Eu vi Cristo e a faixa Miss Afeganistão, que ele bordava naquele momento. Foi por meio dessa reportagem que Frederico Morais e Hugo Denizart conheceram o trabalho do artista. O crítico e curador de arte fez um relato sobre esse primeiro contato com Bispo do Rosario: “Domingo, 18.5.1980. Reportagem realizada por Samuel Weiner Filho, sobre a Colônia Juliano Moreira para pacientes psiquiátricos, inserida no programa Fantástico da TV Globo, mostrava, com imagens fortes, o estado fisicamente deplorável em que viviam os internos. Mas o que despertou minha atenção, na reportagem, foi a figura de um homem negro, já desgastado pela idade e pela doença, sozinho em meio a uma barafunda de objetos os mais variados, bordando palavras, nomes, datas, imagens. Impressionou-me a que acabara de ver. Já visitara outras instituições manicomiais, o suficiente para perceber que nelas, o pensamento dominante era que o chamado doente mental é um ser desprovido de sentimentos, de afetividade e de capacidade criativa, sendo assim tratado como um objeto. Ou pior ainda, como refugo. E de

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1980


repente intuí que estava ali, diante da câmera, alguém que lutava contra o esquecimento, alguém que queria narrar sua história de vida e assim carimbar sua identidade”. Em uma das vitrines-fichário, pode-se ler o nome do novo diretor da CJM. Ao lado, a cor que, em uma visita, ele enxergou na aura de Bispo: HEIMAR SALDANHA MEDICO PSIQUIATRA DIRETOR GERAL – JACARAPAGUÁ COLONIA – VER BRANCO

1981 Bispo conheceu Rosangela Maria, estagiária de psicologia contratada pela CJM para dar suporte no tratamento dos pacientes do Núcleo Ulisses Vianna. Os atendimentos prestados por ela ocorriam na sala ao lado da cela do artista, o antigo “bolo”, espaço que já havia servido como um verdadeiro depósito de gente, mas que se transformava em uma sala para atendimento psicoterapêutico coletivo. Avesso ao tratamento, Bispo nunca quis participar das sessões. Rosangela, então, decidiu ir até ele. E, enfrentada certa resistência inicial, ela conseguiu adentrar seu universo. Os encontros regulares entre ele e a futura psicóloga duraram até 1983, quando ela se formou e teve que deixar o estágio. A relação entre os dois ficou marcada nas obras de Bispo por meio do registro do seu nome em incontáveis objetos.

A relação transferencial que se estabeleceu entre Rosangela Maria e Bispo do Rosario ficou registrada no relatório de atendimento feito por ela. Por meio do documento, sabemos que diversos objetos que constituem o conjunto da obra do artista possuem relação com esse encontro. Por exemplo, a obra conhecida como Carrilhão, um relógio quebrado que ele usava para controlar, por meio de horas imaginárias, a chegada dela e o tempo de duração dos encontros. Já a obra denominada Cadeira e correntes foi apresentada pouco tempo depois de a estudante avisar-lhe que seu estágio estava no fim. Certo dia, ao chegar à sua cela, Bispo lhe mostrou o objeto, uma cadeira com rodas fixadas nos pés e enrolada com correntes. Ele fez um convite para que ela se sentasse. Rosangela resistiu inicialmente, explicando que não estava ali para ser acorrentada, mas para livrá-lo das correntes. Após uma conversa, ela aceitou o convite. Sentou-se na cadeira e ele a empurrou pela cela, afastando-a e aproximando-a, como se estivesse experimentando a separação. Dos objetos confeccionados para a estagiária, talvez o mais icônico seja a Cama Romeu e Julieta. Durante algum tempo, Bispo reservou e manteve fechada uma das celas do quarto-forte, guardando segredo sobre o que produzia ali. Um dia, surpreendeu Rosangela revelando a cama enfeitada ao seu modo, diante da qual pediu para que encenassem Romeu e Julieta. Ela perguntou se ele sabia como terminava essa peça teatral. Ele respondeu: “Você nunca foi ao teatro?”. Rosangela não

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encenou a peça, mas o objeto permaneceu sendo um símbolo deste amor singular. Dentre as centenas de objetos em que o nome da estagiária aparece escrito, um deles se destaca. Na obra posteriormente intitulada Jogo caipira – conjunto formado por um tabuleiro de tecido com números pintados e um copo para lançar dados –, a sua importância na vida de Bispo ficou registrada da seguinte forma: ROSANGALA MARIA DIRETORA DE TUDO EU TENHO

1982 Em 25 de julho, Frederico Morais inaugurou a exposição À margem da vida, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), da qual foi curador. Tratava-se de uma mostra de trabalhos realizados por pessoas em condições de privação de liberdade, como menores infratores, detentos e idosos asilados. No intuito de convencer Bispo do Rosario a emprestar suas obras para a exposição, visto que para ele aqueles objetos tinham outra finalidade, Frederico Morais pediu ajuda a Hugo Denizart. Bispo acabou concordando e foi a primeira vez que suas obras foram mostradas ao público em um museu de arte. Segundo o curador, participaram da mostra 15 estandartes, ao lado de trabalhos de outros artistas da CJM, como Itaipú Lace, Muniz, Osvaldo Kar e Antônio Bragança. Havia ainda peças que faziam parte do recém-inaugurado museu da instituição, o Museu Nise da Silveira. No mesmo ano, Hugo Denizart lançou o documentário O prisioneiro da passagem, sobre Bispo.

No relato abaixo, Frederico Morais conta alguns detalhes da exposição: “Responsável pelo Departamento de Artes Plásticas do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, eu realizei uma exposição, inaugurada em 25.7.1982, à qual dei o título de À margem da vida, reunindo trabalhos realizados por presidiários, idosos de asilos, crianças da FUNABEM e pacientes psiquiátricos. Para cada um desses segmentos contei com a colaboração de Victor Arruda e Marluce Brasil (crianças), Monica Machado de Almeida (idosos), Denira Costa Rosário (presidiários) e Maria Amélia Mattei e Hugo Denizart (Bragança e Bispo do Rosario, da Colônia Juliano Moreira). Não posso garantir, mas talvez tenha sido a primeira vez que um museu de arte moderna no Brasil reuniu, em uma única mostra, obras de arte realizadas por integrantes de quatro segmentos marginalizados de nossa sociedade. E foi nessa exposição que Arthur Bispo do Rosário pôde ser visto, pela primeira vez, como artista. Os quinze estandartes nos quais bordou textos e imagens deslumbraram os visitantes. À mesma época, o psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart realizava seu documentário sobre Bispo do

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Rosário, O prisioneiro da passagem, título inspirado na obra de Foucault. Trata-se, na verdade, de uma entrevista com Bispo do Rosário, que aparece vestindo seu Manto da Apresentação, mas em nenhum momento ele é referido como artista”. Ele também descreve alguns detalhes do seu primeiro contato, agora pessoal, com Bispo do Rosario e da negociação que se seguiu: “Pouco depois, acompanhado de Denizart, fui à Colônia Juliano Moreira conversar com Bispo do Rosário. E como todos que o visitavam, quando cheguei à porta de sua cela-ateliê, me submeti ao teste que consistia em identificar a cor de sua aura. Aprovado, entrei. Conversamos por cerca de uma hora. Ofereci-lhe, naquela oportunidade, todo o segundo andar do bloco de exposições do Museu de Arte Moderna (que é seu espaço nobre) para que apresentasse suas obras. Recusou, alegando que eram apenas registros e que não poderia separar-se delas. Ofereci-lhe, então, uma sala-dormitório, localizada no mesmo bloco, para que pudesse acompanhar em tempo integral a mostra”. No texto escrito por Hugo Denizart para o catálogo da exposição – no qual uma foto em preto e branco apresenta um detalhe do estandarte Colônia Juliano Moreira/Reconheceram o filho de Deus –, chama a atenção o seguinte trecho: “Outro dia, uma psicóloga me abordou a respeito de um dos expositores – Artur Bispo do Rosario – idade aproximada de 69 anos – internado na Colônia Juliano Moreira desde 1939. Ele está delirando dizendo que seu material vai para Paris! Eu respondi – Mais o material vai a Paris. E pensei comigo, louco só tem o direito de ser louco, louco não viaja, louco só serve para ser degradado. Esse foi um dos motivos por que nos interessa em divulgar esses trabalhos realizados por pacientes da Colônia Juliano Moreira”.

1985 Foi exibido na TV Bandeirantes o curta-documentário O Bispo, realizado por Fernando Gabeira como parte da série intitulada Vídeo-cartas. Em 31 de julho, a revista IstoÉ publicou “Quando explode a vida”, reportagem sobre o interno Bispo do Rosario realizada pelo jornalista José Castello e pelo fotógrafo Walter Firmo.

Sobre a experiência de conhecer o artista, Fernando Gabeira considera que foi um dos acontecimentos mais marcantes de sua carreira: “Tive, como repórter, a oportunidade de encontrar pessoas inesquecíveis. Não necessariamente eram as mais conhecidas. Uma

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figura que marcou meu trabalho e minha memória foi Bispo do Rosario. (Internado como “esquizofrênico” na Colônia Juliano Moreira, no Rio, onde viveu cinquenta anos como paciente, Bispo do Rosario passou a criar objetos que foram considerados como arte de vanguarda). Passei um período trabalhando com ele no hospício. Vi que era uma figura extraordinária. Num certo momento, ele me pediu para que eu jogasse xadrez com ele. Acontece que ele é que tinha feito o jogo de xadrez e inventado as peças a partir de suas visões. Procurei encarar a situação. Bispo do Rosario me impressionou também pelo fato de ter vivido sete anos numa cela. Terminou reconstruindo o mundo, criou uniformes e tapetes, desenhou bandeiras de países por onde teria passado. Nunca vi força tão grande!”. Os nomes de Walter Firmo e José Castello aparecem em duas vitrines-fichário. Como complemento, estão anotadas as cores que cada um enxergou na aura de Bispo: WALTE FIRMO NUCLEO ULISSE VIANA – CENTRO PSIQUIATRICO – JACAREPAGUA FOTOGRAFO – VER MARRON VERDE AMARELO JOSE CASTELLO DE JESUS NUCLEO ULISSE VIANA – CENTRO PSIQUIATRICO – JACAREPAGUA VER LARANJA – JORNALISTA VISITA

1988 O artista foi entrevistado pela assistente social Conceição Robaina. Como resultado das oficinas do Projeto de livre criação artística da CJM, realizadas em parceria com artistas da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage), no Rio de Janeiro, a exposição Ar do subterrâneo foi montada no Paço Imperial. Exibiu desenhos, fotografias, instalações e vídeos produzidos por mulheres internadas no Núcleo Teixeira Brandão da CJM, além de transcrições do falatório de Stella do Patrocínio. As obras de Bispo do Rosario não fizeram parte dessa exposição.

1989 Foi criada a Associação de Amigos dos Artistas da Colônia Juliano Moreira, que tinha como um dos seus objetivos conseguir um local mais salubre para Bispo do Rosario continuar a produzir seu trabalho, bem como providenciar a restauração dos seus objetos e obter meios para conservá-los.

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No dia 5 de julho, no entanto, o artista faleceu de infarto do miocárdio, arteriosclerose e broncopneumonia. Em sua certidão de óbito, indicou-se: “Deixa bens? Ignorado”. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá. O cineasta Miguel Przewodowski realizou registros audiovisuais das obras de Bispo ainda na cela. Logo depois, as peças foram transferidas para o Museu Nise da Silveira. Em 18 de outubro, na EAV Parque Lage, foi inaugurada a primeira exposição individual de Arthur Bispo do Rosario, intitulada Registros de minha passagem pela Terra, com curadoria de Frederico Morais.

1990 1990 Registros de minha passagem pela Terra foi realizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), em São Paulo; no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), em Porto Alegre; no então Museu de Arte de Belo Horizonte; e no Centro de Criatividade de Curitiba. 1991 Como parte da mostra Viva Brasil viva, realizada no Kulturhuset, em Estocolmo, foi montada a primeira exposição internacional com obras do artista, intitulada Arthur Bispo do Rosario, com curadoria de Frederico Morais. 1992 O conjunto da obra de Bispo foi tombado provisoriamente pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), do Rio de Janeiro. 1993 Com direção de Miguel Przewodowski e Helena Martinho da Rocha, o longa-metragem O Bispo do Rosario foi exibido na Rede Manchete. Estreou no MAM Rio a exposição Arthur Bispo do Rosario: o inventário do universo, com curadoria de Frederico Morais. Posteriormente, foi realizada na Sala Athos Bulcão/Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília. 1994 O conjunto da obra do artista foi tombado definitivamente pelo Inepac, tornando-se patrimônio do estado do Rio de Janeiro. Foi lançado o álbum Severino, do grupo Paralamas do Sucesso, que tinha o detalhe de um dos estandartes de Bispo na capa. 1995 Junto com os trabalhos de Nuno Ramos, as obras de Bispo do Rosario representaram o Brasil na 46ª bienal de Veneza.

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1996 Foi lançada a biografia Arthur Bispo do Rosario: o senhor do labirinto, de autoria da jornalista Luciana Hidalgo. 1997 Foi publicado o livro Arthur Bispo do Rosario – arte e loucura, de autoria do crítico e curador de arte Jorge Anthonio e Silva. 1998 O livro Coisa de louco, de Lucia Castello Branco, foi publicado como resultado de sua pesquisa sobre a obra de Bispo do Rosario. 1999 Foi publicado o livro O universo segundo Arthur Bispo do Rosario, da comunicóloga Patrícia Burrowes.

2000 2000 O Museu Nise da Silveira, da CJM, teve seu nome alterado para Museu Bispo do Rosario. Obras de Bispo fizeram parte do núcleo Imagens do inconsciente da Brasil + 500: mostra do redescobrimento, com curadoria de Nise da Silveira e Lula Mello, sendo exibidas na Fundação Bienal de São Paulo e, posteriormente, no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro, no Paço Imperial e no Convento das Mercês, em São Luís, no Maranhão. 2001 O Museu Bispo do Rosario incorporou a expressão Arte Contemporânea ao seu nome. Obras do artista foram exibidas na Fundación Proa, em Buenos Aires, ainda no contexto da Brasil + 500: mostra do redescobrimento. 2004 O músico Arrigo Barnabé criou o álbum Missa in-memoriam Arthur Bispo do Rosario para o evento Ordenação e vertigem, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. 2006 Foi lançado o livro Arthur Bispo do Rosario: século XX, organizado pelo então curador do Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea (mBrac), Wilson Lazaro. 2009 Foi lançado o livro Arthur Bispo do Rosario: a poética do delírio, de autoria da historiadora e socióloga Marta Dantas.

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2010 2012 Obras de Bispo do Rosario participaram da 30ª bienal de São Paulo, sendo o artista um dos grandes homenageados do evento. 2013 Foi lançado Arthur Bispo do Rosario: arte além da loucura, livro de Frederico Morais com organização de Flavia Corpas. Obras do artista participaram da Bienal de Veneza pela segunda vez. Foi publicado Walter Firmo: um olhar sobre Bispo do Rosario, de autoria do fotógrafo e organizado por Flavia Corpas. Na esteira do lançamento do livro, houve uma exposição fotográfica no Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, e a estreia de um curta-metragem. 2014 Estreou nos cinemas o longa-metragem O senhor do labirinto, de Geraldo Motta e Gisella Mello, com o ator Flávio Bauraqui no papel de Bispo do Rosario. 2017 Com direção de Milena Manfredini e Raquel Fernandes, foi lançado o curta-metragem Eu preciso destas palavras escrita. O mBrac deu início ao projeto Inventário do mundo, a fim de catalogar, higienizar e organizar as obras do artista. Foi montada uma atmosfera anóxia para a descupinização de todo o acervo e foram realizadas reformas em todos os espaços da reserva técnica. 2018 O conjunto das obras de Arthur Bispo do Rosario foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 2019 Realizou-se o evento 30 anos da apresentação, dividido em dois momentos. No dia 5 de julho, foi organizada uma programação no mBrac para marcar os 30 anos do falecimento de Bispo do Rosario, o que incluiu uma ação da artista Eleonora Fabião. No dia 18 de outubro, outras atividades foram realizadas no Parque Lage, em razão dos 30 anos da primeira exposição individual das obras de Bispo. No evento, Flavia Corpas entrevistou Frederico Morais e a psicóloga e ex-diretora do mBrac Denise Correa. O museu dedicado ao artista organizou também uma campanha de financiamento coletivo para a restauração da obra Grande veleiro, possibilitando a realização do projeto Içar velas.

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2020 2020 O projeto Içar velas é iniciado com o objetivo de restaurar a obra Grande veleiro. 2021

É concluída a restauração do Grande veleiro.

2022 Ao todo, 18 obras de Arthur Bispo do Rosario foram restauradas para foram restauradas para Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto, exposição no Itaú Cultural, em São Paulo. Foi iniciada a restauração da cela que o artista ocupou na CJM, no Rio de Janeiro.

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HISTÓRICO DE EXPOSIÇÕES 1 Registros de minha passagem pela Terra (exposição individual). Rio de Janeiro: Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 1989.

13 Bispo do Rosario (exposição individual). Rio de Janeiro: Instituto Brasil-Estados Unidos, 1994.

2 Registros de minha passagem pela Terra (exposição individual). São Paulo: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 1990.

14 46ª bienal de Veneza (exposição coletiva). Veneza: 1995.

3 Registros de minha passagem pela Terra (exposição individual). Porto Alegre: Museu de Arte do Rio Grande do Sul, 1990. 4 Registros de minha passagem pela Terra (exposição individual). Belo Horizonte: Museu de Arte de Belo Horizonte, 1990. 5 Registros de minha passagem pela Terra (exposição individual). Curitiba: Centro de Criatividade de Curitiba, 1990. 6 Arthur Bispo do Rosario (exposição individual). Estocolmo: Kulturhuset, 1991. 7 Sem título (exposição individual). Rio de Janeiro: Colônia Juliano Moreira, 1991. 8 Transformando e recriando os restos: o lixo passado a limpo (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1992. 9 Reciclo (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Artes, 1992. 10 Arthur Bispo do Rosario: o inventário do universo (exposição individual). Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1993. 11 Arthur Bispo do Rosario: o inventário do universo (exposição individual). Brasília: Teatro Nacional Claudio Santoro, 1993. 12 Arthur Bispo na colônia (exposição individual). Rio de Janeiro: Colônia Juliano Moreira, 1993.

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15 Brasil, arte e origem: inconsciente (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1995. 16 Eu preciso destas palavras. Escrita (exposição individual). Rio de Janeiro: Museu Nise da Silveira, 1996. 17 Pequenas mãos (exposição coletiva). São Paulo: Centro Cultural Alumni, 1996. 18 Pequenas mãos (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1996. 19 O navegante (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1996. 20 Así está la cosa: instalación y arte objeto en América Latina (exposição coletiva). Cidade do México: Centro Cultural Arte Contemporáneo, 1997. 21 Eu preciso destas palavras. Escrita (exposição individual). Brasília: Caixa Cultural, 1998. 22 Universo fantástico (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1998. 23 Uma pegada atrás da arte (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1998. 24 Eu preciso destas palavras. Escrita (exposição individual). Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 1999.


25 Arthur Bispo do Rosario: eu vim (exposição individual). Vitória: Universidade Federal do Espírito do Santo, 1999.

38 Brazil: body & soul (exposição coletiva). Nova York: Solomon R. Guggenheim Museum, 2001.

26 Arthur Bispo do Rosario: eu vim (exposição individual). Goiânia: Museu de Arte Contemporânea de Goiânia, 1999.

39 Olhar incomum II (exposição coletiva). Juiz de Fora: Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, 2001.

27 Transcendência: caixas do ser (exposição coletiva). São Paulo: Casa das Rosas, 1999.

40 Ibeu 1991-2001, uma década de arte contemporânea (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Instituto Brasil-Estados Unidos, 2001.

28 Por que Duchamp? (exposição coletiva). São Paulo: Paço das Artes, 1999. 29 Cotidiano/arte. Objeto anos 90 (exposição coletiva). São Paulo: Itaú Cultural, 1999. 30 Brasil + 500: mostra do redescobrimento (exposição coletiva). São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2000. 31 Brasil + 500: mostra do redescobrimento (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Centro Cultural dos Correios, 2000. 32 Brasil + 500: mostra do redescobrimento (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Paço Imperial, 2000. 33 Brasil + 500: mostra do redescobrimento (exposição coletiva). São Luís: Convento das Mercês, 2000. 34 Brasilidades (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Centro Cultural Light, 2000. 35 Arthur Bispo do Rosario (exposição individual). Ribeirão Preto: Museu de Arte de Ribeirão Preto, 2001. 36 Brasil + 500: mostra do redescobrimento (exposição coletiva). Buenos Aires: Fundación Proa, 2001. 37 Un art populaire (exposição coletiva). Paris: Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, 2001.

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41 Ópera aberta: celebração (exposição coletiva). São Paulo: Casa das Rosas, 2001. 42 Arthur Bispo do Rosario (exposição individual). Paris: Galerie Nationale du Jeu de Paume, 2003. 43 Arte em movimento (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Espaço Cultural BNDES, 2003. 44 Bandeiras do Brasil (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu da República, 2003. 45 Ordenação e vertigem (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003. 46 Fashion passion – 100 anos de moda na Oca (exposição coletiva). São Paulo: Parque Ibirapuera, 2004. 47 Inéditos e dispersos: Arthur Bispo do Rosario (exposição individual). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2004. 48 Brasileiro, brasileiros (exposição coletiva). São Paulo: Museu Afro Brasil, 2004. 49 Poética das apropriações (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 2005.


50 Para nunca esquecer: negras memórias, memórias de negros (exposição coletiva). Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 2005. 51 +3: Arthur Bispo do Rosario, José Rufino e Raimundo Camilo (exposição coletiva). Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 2005. 52 Mostra Rio de arte sem barreiras: limite como potência (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 2005. 53 Brasil: herança africana (exposição coletiva). Paris: Musée Dapper, 2005. 54 Eu, Bispo do Rosario (exposição individual). País de Gales: Oriel Mostyn Gallery, 2006. 55 Mundos interiores al descubierto (exposição coletiva). Madri: Fundación “la Caixa”, 2006. 56 Inner worlds outside (exposição coletiva). Londres: Whitechapel Gallery, 2006. 57 Inner worlds outside (exposição coletiva). Dublin: Museu de Arte Moderna de Dublin, 2006. 58 8 artistas: química da vida (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2006. 59 Futebol: desenho sobre fundo verde (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2006. 60 Réplica e rebeldia (exposição coletiva). Maputo: Museu Nacional de Arte de Moçambique, 2006. 61 Viva cultura viva: o povo brasileiro (exposição coletiva). São Paulo: Museu Afro Brasil, 2006. 62 Segunda pele (exposição coletiva). Manaus: Centro Cultural Palácio da Justiça, 2007.

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63 Áfricas-Américas – encuentros convergentes: ancestralidad y contemporaneidad (exposição coletiva). Valença: Fundación Bienal de las Artes, 2007. 64 Próxima parada (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2007. 65 Neo Tropicalia: when lives become form. Contemporary Brazilian art: 1960s to the present (exposição coletiva). Tóquio: Museum of Contemporary Art Tokyo, 2008. 66 Rational/irrational (exposição coletiva). Berlim: Haus der Kulturen der Welt, 2008. 67 Laços do olhar (exposição coletiva). São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2008. 68 Sangue novo (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2008. 69 The fabric of myth (exposição coletiva). Warwickshire: Compton Verney House, 2008. 70 Toque (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2008. 71 Neo Tropicalia: when lives become form. Creative power from Brazil (exposição coletiva). Hiroshima: Museum of Contemporary Art, 2009. 72 Beleza (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2009. 73 Las Américas Latinas: las fatigas del querer (exposição coletiva). Milão: Spazio Oberdan, 2009. 74 Obravida – sonho e realidade (exposição coletiva). Brasília: Senado Federal, 2010.


75 Puras misturas (exposição coletiva). São Paulo: Parque Ibirapuera, 2010.

89 55ª bienal de Veneza (exposição coletiva). Veneza: Giardini e Arsenale, 2013.

76 Bem do Brasil (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Paço Imperial, 2010.

90 O abrigo e o terreno: arte e sociedade no Brasil (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2013.

77 Bem do Brasil (exposição coletiva). Brasília: Palácio do Planalto, 2010. 78 Afro modern: journeys through the black Atlantic (exposição coletiva). Liverpool: Tate Gallery, 2010. 79 Afro modern: journeys through the black Atlantic (exposição coletiva). Santiago de Compostela: Centro Galego de Arte Contemporânea, 2010. 80 Arthur Bispo do Rosario: o artista do fio (exposição individual). Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2011. 81 Arthur Bispo do Rosario (exposição individual). Bruxelas: Art & Marges Musée, 2011. 82 Brazil.Brasil (exposição coletiva). Bruxelas: Palais des Beaux-Arts, 2011. 83 Gigante pela própria natureza (exposição coletiva). Valença: Instituto Valenciano de Arte Moderna, 2011. 84 Une terrible beauté est née. 11ª bienal de Lyon (exposição coletiva). Lyon: 2011.

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91 Azul dos ventos (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2013. 92 Sem fronteiras (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2013. 93 Play (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2013. 94 XVII Unifor plástica (exposição coletiva). Fortaleza: Espaço Cultural Unifor, 2013. 95 Programa obra em contexto: eu trabalho com o Bispo (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2014. 96 Programa obra em contexto: no quintal da minha casa tem um museu (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2014. 97 Programa obra em contexto: Ateliê Gaia – construindo novos rumos (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2014.

85 30ª bienal de São Paulo (exposição coletiva). São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2012.

98 À sua saúde (exposição coletiva). Brasília: Museu Nacional, 2014.

86 Arthur Bispo do Rosario: a poesia do fio (exposição individual). Porto Alegre: Santander Cultural, 2012.

99 Gambiólogos 2.0: a gambiarra nos tempos do digital (exposição coletiva). Belo Horizonte: Oi Futuro, 2014.

87 The blue of the winds (exposição coletiva). Londres: Victoria and Albert Museum, 2012.

100 Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2014.

88 Azul dos ventos (exposição coletiva). Lisboa: Museu da Cidade, 2012.

101 10ª bienal do Mercosul (exposição coletiva). Porto Alegre: Farol Santander, 2015.


102 Bienal internacional de arte contemporânea de Curitiba (exposição coletiva). Curitiba: 2015. 103 Programa obra em contexto: contextos contemporâneos (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2015. 104 Arthur Bispo do Rosario e Leonilson: os penélope (exposição coletiva). Jundiaí: Sesc, 2015. 105 Arthur Bispo do Rosario e Leonilson: os penélope (exposição coletiva). Sorocaba: Sesc, 2015. 106 Um canto, dois sertões: Bispo do Rosario e os 90 anos da Colônia Juliano Moreira (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2015. 107 When the curtain never comes down: performance art and the alter ego (exposição coletiva). Nova York: American Folk Art Museum, 2015. 108 Casa cidade mundo: a beleza possível (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, 2015.

116 A alguns centímetros do chão (exposição individual). Campinas: Sesi, 2017. 117 A alguns centímetros do chão (exposição individual). Itapetininga: Sesi, 2017. 118 A alguns centímetros do chão (exposição individual). São José dos Campos: Sesi, 2017. 119 A alguns centímetros do chão (exposição individual). São José do Rio Preto: Sesi, 2017. 120 Lugares do delírio (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2017. 121 Inextricabilia, enchevêtrements magiques (exposição coletiva). Paris: La Maison Rouge, 2017. 122 Aquilo que nos une (exposição coletiva). São Paulo: Caixa Cultural, 2017.

109 A alguns centímetros do chão (exposição coletiva). Tiradentes: Sesi, 2016.

123 A tale of two worlds (exposição coletiva). Frankfurt: Museum für Moderne Kunst, 2017.

110 Aquilo que nos une (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2016.

124 Ready made in Brasil (exposição coletiva). São Paulo: Centro Cultural Fiesp, 2017.

111 Nós (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2016.

125 Flutuações (exposição individual). Rio de Janeiro: Casa Museu Eva Klabin, 2017.

112 Nós (exposição coletiva). Brasília: Caixa Cultural, 2016.

126 Almofadinhas | experiência B (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2018.

113 De lo espiritual en el arte (exposição coletiva). Medellín: Museo de Arte Moderno, 2016. 114 The keeper (exposição coletiva). Nova York: New Museum, 2016.

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115 Das virgens em cardumes e da cor das auras (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2016.

127 As paredes da minha casa (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2018.


128 Quilombo do Rosario (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2018. 129 Histórias afro-atlânticas (exposição coletiva). São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 2018. 130 Lugares do delírio (exposição coletiva). São Paulo: Sesc Pompeia, 2018. 131 Historia de dos mundos (exposição coletiva). Buenos Aires: Museo de Arte Moderno, 2018. 132 Bispo do Rosario: as coisas do mundo (exposição individual). Itu: Fábrica de Arte Marcos Amaro, 2019. 133 Eu vim me apresentar (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2019. 134 Utopias: a vida para todos os tempos e glória (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea, 2019. 135 Rio de navegantes (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2019. 136 À Nordeste (exposição coletiva). São Paulo: Sesc 24 de Maio, 2019. 137 Da linha, o fio (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Espaço BNDES, 2019. 138 Vaivém (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2019. 139 Vaivém (exposição coletiva). São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2019. 140 Vaivém (exposição coletiva). Brasília: Centro Cultural Banco do Brasil, 2019. 141 Casa carioca (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2020.

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142 O Bispo e a África (exposição coletiva). Itu: Fábrica de Arte Marcos Amaro, 2020. 143 Vaivém (exposição coletiva). Belo Horizonte: Centro Cultural Banco do Brasil, 2020. 144 Transbordar (exposição coletiva). São Paulo: Sesc Pinheiros, 2020. 145 Língua solta (exposição coletiva). São Paulo: Museu da Língua Portuguesa, 2021. 146 Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros (exposição coletiva). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2021. 147 Crônicas cariocas para adiar o fim do mundo (exposição coletiva). Rio de Janeiro: Museu de Arte do Rio, 2021. 148 Écrits d’art brut – extravagances langagières (exposição coletiva). Basileia: Museum Tinguely, 2021. 149 Bispo do Rosario – eu vim: aparição, impregnação e impacto (exposição coletiva). São Paulo: Itaú Cultural, 2022.


João Henrique Queiroz Formado em produção cultural pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e em psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Possui mestrado e doutorado em psicologia social também pela Uerj, onde desenvolveu pesquisas sobre a história do tratamento psiquiátrico por meio do trabalho e das atividades artístico-expressivas na Colônia Juliano Moreira (instituição onde Bispo do Rosario foi internado); assim como sobre a criação do Museu Bispo do Rosario Arte Contemporânea (mBrac) e sua contribuição para o campo da arte e da saúde mental. É um dos organizadores do livro Imaginário em exposição, manicômios em desconstrução (Editora Mosaico, 2022). Atualmente, é coordenador de projetos e pesquisas do mBrac.

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