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Escrever nos trens era muito forte em Nova York. Você consegue dizer por que era tão importante?

Muitos artistas de rua hoje em dia parecem não entender que o grafite nos trens foi a fundação do movimento. Antes disso, não havia murais de grafite, eram apenas tags nas ruas. Nós começamos a pintar os trens nos metrôs, e a importância de fazer isso é que eles se moviam. Era uma galeria em movimento. A gente percebeu que poderia pintar no Bronx e nossos nomes iriam de lá para Manhattan, Brooklyn, Queens. Escrever nos trens se tornou um rito de passagem para os jovens, que pintavam os nomes e os viam circular. Por isso que havia lugares como o Writer’s Bench [Banco dos Escritores, onde grafiteiros e escritores se reuniam para se organizar e observar os trens] na estação 149th Street, ou na Rua 125, onde os trens saíam dos túneis e as pessoas iam fotografar. Antes disso o grafite era tag , era escrita. Com os trens, nós passamos a gastar mais tempo, usar cores, criar estilos, fazer personagens que criavam vida com o trem em movimento.

Assim, o grafite como arte passou a existir. Era feito no aço, nos trens, era ilegal. A gente não pedia aos nossos pais que comprassem tinta, a gente roubava. Era arte das pessoas pobres, que não tinham nada, e isso deixava tudo mais passional. Quando foi para as paredes depois, tudo se tornou mais criativo, mais estético, e, como não era ilegal, as pessoas aceitaram melhor. Muitos grandes artistas nasceram aí, onde nada era comprado nem planejado. Juntos, nós nos energizávamos, trocávamos influências. Quando estávamos nos túneis e nos pátios dos trens, ficávamos sentados conversando, fazendo piadas, rindo, e essa energia era transformada em criações maravilhosas. Era incrível. Nunca mais teremos um período como aquele. Não tínhamos revistas, lojas dedicadas ao grafite, tintas específicas, cápsulas de spray. Usávamos o que estava disponível, o que conseguíamos achar. E isso é arte, ela vem da ausência. Nós nos tornamos algo e fizemos do grafite algo global.