A obra de Ernesto Nazareth e a formação da música popular brasileira

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ERNESTO NAZARETH: A FORMAÇÃO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

MÚSICA |

HISTÓRIA



guia de Ă­cones

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título

Ernesto Nazareth: a Formação da Música Popular Brasileira apresentação Conhecer um dos mais incríveis compositores brasileiros por meio de sua obra e das culturas que influenciaram suas músicas.

objetivos • Ampliar o conhecimento cultural e o repertório do aluno; • Trabalhar a miscigenação na cultura brasileira; • Conhecer as obras do compositor; • Contextualizar a música no período; • Desenvolver a percepção auditiva e a reflexão musical.

áreas do conhecimento

segmento Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA.

Música e história.

duração De 1 a 3 aulas.

recursos necessários

• Aparelho de som ou notebook/tablet; • Músicas descritas para uso em aula.


desenvolvimento 1º MOMENTO

Assimilação dos conteúdos históricos Inicialmente, execute algumas músicas conhecidas do compositor para a classe. Pergunte se alguém já as escutou, se sabem quem as compôs e em que época foram criadas. Após a conversa, apresente o conteúdo de Ernesto Nazareth, disponível no verbete da Enciclopédia Itaú Cultural. Fale sobre a transição do século XIX para o século XX no Brasil e no mundo. No caso do Brasil, conte sobre a transição do Império para a República e o fim da escravidão.

Questões históricas relacionadas à música Ao atentar para o que ocorria na história da música mundial no período em que Nazareth viveu, observamos que ele se situa na transição do período romântico para a era das novidades do século XX. As principais características do período romântico são:

• Mais liberdade em relação às formas músicais; • Mais expressividade sentimental; • Forte ligação com outras artes, como pintura e literatura; • Nacionalismo e busca pelas origens; • Temas musicais ligados à fantasia e à imaginação; • Ampliação das orquestras; • Atenção para o virtuosismo dos intérpretes. Os gêneros que se destacam são a ópera, o lied (forma de canção) e as peças para piano solo como: prelúdios, noturnos, valsas, polcas, mazurcas, impro-

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visos, baladas e rapsódias. Podemos destacar importantes compositores do período, tais como Frédéric Chopin (França), Johannes Brahms (Alemanha), Franz Liszt (Hungria), Richard Wagner (Alemanha), Giuseppe Verdi (Itália), Richard Strauss (Alemanha) e Pitor Ilych Tchaikovsky (Rússia). Já no Brasil, no mesmo período, tínhamos:

• A música de concerto de que vinha da Europa (citada acima), tocada em teatros e em casas de famílias abastadas, e a música sacra, tocada em igrejas e capelas. As músicas chegavam ao país com atraso em relação à produção europeia. As óperas eram uma febre nas cidades brasileiras e muitas árias tornaram-se marchinhas de carnaval, tão grande sua popularidade. • A música de caráter mais popular, de origem africana, influenciada por elementos da nossa terra. Elas eram tocadas em espaços de resistência cultural aos modelos brancos, nas senzalas e terreiros (antes e depois da abolição). A música popular era composta de modinhas (gênero vindo de Portugal) e serestas. Ambas se caracterizavam por serem acompanhadas de violão e/ou viola e, na maioria das vezes, possuíam duas vozes distintas. • A música de salão das classes altas, de origem europeia e latina – valsas, polcas, tangos etc. • A música de salão das classes baixas: o lundu e o maxixe.

A música de Ernesto Nazareth e os gêneros brasileiros Ernesto Nazareth foi influenciado por todas estas correntes e tendências. Comece escutando uma ou duas peças para ilustrar. Sugestão: “Brejeiro” (1893). Inicialmente, pergunte aos alunos se sabem o significado dessa da palavra. Esse é um bom momento para utilizar o dicionário como ferramenta de entendimento. Após esta primeira atividade, explique que a peça é um tango brasileiro, sucesso na música popular brasileira da época. Ganhou várias versões de letra, a mais famosa, do músico Catulo da Paixão Cearense.

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As músicas de Ernesto Nazareth estão classificadas nos seguintes gêneros: polca, tango brasileiro, foxtrot, valsa, quadrilha, romance. Apenas em raras canções temos choro, maxixe, polca-lundu e samba. Na verdade, não tínhamos um gênero característico brasileiro. Os termos usados nas músicas de terreiro para os ritmos sincopados, dançantes e percussivos não eram de bom-tom para a sociedade burguesa da época. Sendo assim, as músicas vinham classificadas com os gêneros vigentes nos salões das sociedades europeia e ibero-americana. Mascarados com os nomes de tango brasileiro, o maxixe e o choro vão se tornar gêneros da música brasileira.

A miscigenação na formação de um gênero brasileiro A mistura da música europeia com a brasileira começa nos primórdios da nossa história com a catequização dos indígenas, pelos cantos gregorianos em latim ou adaptados para a língua local. Músicos e músicas vinham para o Brasil e coloriam a vida nas pequenas vilas e cidades. O período do ouro (Minas Gerais no século XVIII) foi culturalmente rico: propiciou uma atividade musical intensa e gerou compositores brasileiros que escreviam no molde europeu. Mais tarde, a ópera toma conta dos teatros. Para a alta sociedade, só o que vinha da Europa tinha valor. Isto explica a nossa falta de conhecimento de compositores nacionais, como o padre José Maurício Nunes Garcia, Carlos Gomes, Heitor Villa-Lobos, entre tantos outros. As danças de salão europeias eram comuns nas festas brasileiras. Para entender a obra de Nazareth, é preciso analisar essa influência. No período romântico, os compositores estavam empenhados em descobrir o que seria autenticamente nacional. Portanto, voltaram-se para as manifestações folclóricas, buscando inspiração para suas composições. Sendo assim, a música que chega ao Brasil pode ser vista como uma leitura ou transformação de uma música folclórica estrangeira. Vamos usar como exemplo uma mazurca. A mazurca é uma dança folclórica polonesa de ritmo ternário (¾). Reproduza para os alunos uma mazurca folclórica típica , a Kukuleczka Kuka (para conhecê-la, faça uma busca na web).

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Em seguida, mostre como Chopin se apropria das características básicas dela para fazer uma refinada composição que chega aos salões do mundo todo, inclusive do Brasil. O compositor recolhe as características básicas da música e compõe um conjunto de 58 mazurcas refinadas para piano, levando-as para as salas de concerto, como a op. 68, nº 2 em lá menor. Após escutá-las, apresente à classe a mazurca “Mercedes”, de Ernesto Nazareth. Note como uma dança folclórica é transformada em um gênero erudito e como ela influencia um compositor brasileiro. Já a miscigenação cultural entre o continente africano e o Brasil, deu-se por por elementos como ritmos, instrumentos de percussão, palavras e fonemas. Nos terreiros e nas festa das camadas sociais menos favorecidas ouviam-se – além dos rituais religiosos como o candomblé – batuques e lundus. Essas danças rapidamente se tornaram populares. O lundu afro-brasileiro irá gerar o maxixe (chamado também de tango brasileiro) e o choro. Para exemplificar a miscigenação cultural, apresente aos alunos o tango brasileiro “Odeon” em duas versões, presentes nos discos: Arthur Moreira Lima Interpreta Ernesto Nazareth (1975); e Nara (1968). O tango brasileiro Odeon (1913) tornou-se a música mais famosa do compositor, depois de a cantora Nara Leão ter pedido ao poeta Vinicius de Moraes criar uma letra para a melodia.

2º MOMENTO

Percurso criativo Vivenciamos como a música brasileira foi se formando pela mistura das músicas europeias, africanas e indígenas. Ao assimilar influências diversas, transformou-as e fez-se nova. A obra de Ernesto Nazareth nos mostra como ele se apropriou das novidades musicais europeias, sobretudo eruditas, transpondo-as para o Brasil, somadas às vertentes musicais da cultura popular brasileira. Proponha aos alunos seguir o percurso criativo de Ernesto de Nazareth, utilizando um estilo musical popular e adicionando uma letra à melodia. O conteúdo da letra será a vida e a obra do músico, disponível no verbete da Enciclopédia Itaú Cultural.

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Divida os alunos em grupos e peça para que eles escolham uma melodia. Podem utilizar a base/batida do funk ou de outro estilo musical que prefiram, por exemplo, axé, sambas-enredo ou rock. Feita a escolha, os grupos devem pesquisar na internet músicas instrumentais desses estilos e selecionar uma delas. A ideia é que tal acrescentar o ícone criar? sobre a vida e a obra de Ernesto Nazareth, adicionada à base melódica instrumental.

reflexão final

E

sta aula contribui para refletir sobre a formação de gêneros musicais brasileiros, além de aumentar o repertório musical dos estudantes. Amplia o entendimento do quanto os artistas influenciam e são influenciados em seus processos criativos por diferentes estilos musicais, criando uma relação de ruptura e continuidade com expressões populares e eruditas. É o caso de Ernesto de Nazareth. Este plano de aula, também permite que os estudantes explorem e exercitem suas capacidades criativas por meio da composição e produção musical.

referências CARLOS Gomes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural. org.br/pessoa15076/carlos-gomes>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. CATULO da Paixão Cearense. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia. itaucultural.org.br/pessoa2895/catulo-da-paixao-cearense>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.

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ERNESTO Nazareth. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia. itaucultural.org.br/pessoa12908/ernesto-nazareth>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. ERNESTO Nazareth. Site oficial do compositor. Disponível em: <http://www. ernestonazareth.com.br/>. Acesso em: jan. 2018. ERNESTO Nazareth – 150 Anos. Site comemorativo do Instituto Moreira Salles. Disponível em: <http://ernestonazareth150anos.com.br/>. Acesso em: jan. 2018. HEITOR Villa-Lobos. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa11902/heitor-villa-lobos>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. JOSÉ Maurício Nunes Garcia. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia. itaucultural.org.br/pessoa483660/jose-mauricio-nunes-garcia>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. LEÃO, Nara. Odeon. In: Nara. Rio de Janeiro: Philips, 1968. 1 CD. Faixa 8. LIMA, Arhur Moreira. Odeon. In: Arthur Moreira Lima interpreta Ernesto Nazareth, v. 2. São Paulo: Marcus Pereira, 1975. 1 CD. Faixa 6. MAXIXE. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural. org.br/termo13778/maxixe>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. VINICIUS de Moraes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia. itaucultural.org.br/pessoa2746/vinicius-de-moraes>. Acesso em: jan. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.

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núcleo enciclopédia Gerência Tânia Rodrigues Coordenação Glaucy Tudda Equipe Camila Nader Elaine Lino Lucas Rosalin (estagiário)

núcleo comunicação Gerência Ana de Fátima Souza Coordenação Carlos Costa Direção de Arte Arthur Costa Luciana Orvat (terceirizada) Projeto Gráfico Serifaria Produção Editorial Victória Pimentel


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