CADERNO DO PROFESSOR
POÍESIS DO INCONSCIENTE: BISPO DO ROSARIO
ARTES VISUAIS |
LÍNGUA PORTUGUESA
Memória e Pesquisa | Itaú Cultural Poíesis do inconsciente : Bispo do Rosario/ vários autores. - São Paulo : Itaú Cultural, 2022. (Caderno do professor) PDF : 654KB ISBN: 978-65-88878-43-9
1. Bispo do Rosario. 2.Artes Gráficas. 3. Educação e Arte. 4. Educação. I. Itaú Cultural. II.Título. CDD 760.981
Bibliotecária Ana Luisa Constantino dos Santos CRB-8/10076
guia de ícones analisar, questionar, elaborar hipóteses, comentar (questionando) apresentar, relatar, compartilhar em voz alta comentar, explicar dica discutir, conversar ler observar, ver (obra de arte) pesquisar, aprofundar, procurar registrar, criar, destacar, grifar, completar recuperar, retomar, relembrar
título
Poíesis do inconsciente: Bispo do Rosario
apresentação Este caderno propõe uma experiência artística a partir da análise das obras de Arthur Bispo do Rosario. Por meio da coleta, seleção e organização de objetos, esses trabalhos revelam a atuação do inconsciente na criação de um inventário do mundo.
objetivos • Apresentar a biografia do artista Arthur Bispo do Rosario; • Compreender a importância da arte como uma atividade fundamental
para a vida humana; • Viver uma experiência criadora com objetos variados; • Atribuir significados e sentidos à obra durante o processo de criação artística.
áreas do conhecimento Artes visuais e língua portuguesa.
segmento(s) e habilidades da BNCC Ensino Médio e EJA: EM13LGG203, EM13LGG204, EM13LGG301, EM13LGG302, EM13LGG303, EM13LGG304, EM13LGG601, EM13LGG602, EM13LGG604.
duração 8 aulas.
recursos necessários • Materiais de papelaria variados: barbantes, cordões, tecidos,
tesoura, agulhas, linhas de bordado; • Objetos do cotidiano: sucatas, embalagens e caixas de papelão; • Arame. São Paulo, 2022
desenvolvimento 1º MOMENTO
Conhecendo a história de Bispo do Rosario Inicie a aula com a leitura em voz alta do texto presente no verbete sobre Arthur Bispo do Rosario, para contextualizar a história de vida e a produção do artista, citando a existência do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, responsável pela preservação, conservação e difusão das obras do artista. Exponha para a turma que, por causa das precárias condições da Colônia Juliano Moreira e das possibilidades de tratamentos cruéis conhecidas pela medicina da época, o ambiente em que Bispo do Rosario se encontra é de abandono e degradação humana. O processo de criação tem início de forma espontânea, sem que ele participe de qualquer terapia com recursos artísticos. Mostre para a turma imagens das obras e analise os materiais presentes em: Sem título [Manto da apresentação] (s.d.), Sem título [Grande veleiro] (s.d.), Sem título [Pipa] (s.d.) e Sem título [Gaiola] (s.d.).
Arthur Bispo do Rosario Sem título [Manto da apresentação], s.d. Costura, bordado e escrita 118,5 × 141,2 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
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Arthur Bispo do Rosario Sem título [Grande veleiro], s.d. Montagem, carpintaria, escrita, revestimento, bordado, costura, pintura e perfuração 118 × 158 × 65 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
Arthur Bispo do Rosario Sem título [Pipa], s.d. Montagem, costura, bordado e escrita 54,5 × 34,5 × 10 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
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Arthur Bispo do Rosario Sem título [Gaiola], s.d. Montagem, perfuração e escrita 41,5 × 37,6 × 20 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
Comente que algumas produções do artista têm características de assemblage (a leitura sobre o conceito pode ser feita com a colaboração de alguém da turma), seguindo o princípio da acumulação de objetos. Esses objetos podem ser coletados do lixo (sucatas), das vestimentas – uniforme da colônia e peças do universo militar – e dos utensílios cotidianos. O artista seleciona, explora, organiza e transforma esses elementos em uma montagem, preenchendo-a com o cuidado de ocupar espaços vazios. A intensa criação do artista chama a atenção de jornalistas, pesquisadores e médicos psiquiatras que, motivados pela luta antimanicomial no final da década de 1970, voltam os olhos para o movimento de profissionais do campo da saúde mental. Esses profissionais passaram a denunciar as péssimas condições de trabalho e a precariedade dos serviços oferecidos em hospitais psiquiátricos. Encerre a apresentação estimulando a turma a registrar as conexões pessoais feitas com base na apreciação. A palavra é um elemento fortemente presente nas produções de Bispo do Rosario, usada para registrar o nome de pessoas que, de alguma forma, marcaram sua vida ou os lugares por onde passou.
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2º MOMENTO
Conexões, inspirações e processo de criação Apresente o artista Leonilson, admirador da obra de Bispo do Rosario. Ambos apresentam semelhanças no uso de materiais, como o tecido e o bordado, para o registro de palavras. A escrita como ferramenta de autoafirmação, como inventário de pensamentos, torna-se uma espécie de legado poético de quem escreve. Diante disso, indague-os: quais palavras podem definir melhor quem é você? Ou: qual palavra vem à sua mente nesse momento da aula? Existe algum trecho de um livro, um poema, uma música que melhor expresse isso? Indique que esse material pode ser bordado ou escrito nas criações. Na trajetória de Farnese de Andrade, também é possível identificar a ruptura dos suportes tradicionais na criação artística. Verifica-se a presença de objetos do cotidiano nas composições das assemblages, de modo que as poéticas também se conectam: vida, morte e ascensão, a representação do inconsciente, a memória dos objetos e o uso de materiais descartados. Há também o curioso fato de Farnese decidir se afastar do circuito artístico, de se manter recluso em seu ateliê (de inclusive recriar muitas obras) e de ser considerado politicamente alienado e subjetivo demais em sua produção pela geração de artistas dos anos 1960. Como essa espécie de reclusão autoconsciente pode ser inspiradora no momento de criação? Comente que, durante o processo de criação, há a necessidade de se desligar temporariamente de outras atividades secundárias, pois o momento requer dedicação, entrega e escuta de si para a tomada de decisões. O objetivo da apresentação desses dois artistas é a conexão com o uso de materiais, técnicas e poéticas semelhantes, para a ampliação de possibilidades criadoras, congruentes à produção de Bispo do Rosario. Essas e outras referências – como Daniel Murgel, Arlindo Oliveira, Nazareth Pacheco, Rosana Palazyan, Rosana Paulino, Sônia Gomes, Carmela Gross e Luiz Carlos Marques – contribuem para aumentar o repertório da turma, inspirando-a para o exercício seguinte de criação. Separe antecipadamente os materiais, como itens variados de papelaria, barbantes, cordões, tecidos, tintas, tesoura, agulhas, linhas de bordado, sucatas, caixas de papelão, arames finos e objetos do cotidiano, entre outras peças que julgue pertinente. Proponha a exploração manual desses materiais buscando relacionar ideias, pensamentos e objetos com textos e palavras anotadas no momento anterior, para a livre criação artística. Mantenha-se presente para ouvir e orientar as tomadas de decisões.
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Destaque que a escolha do tamanho da obra é variável e que, durante o processo criativo, é necessário pensar sobre a dimensão do suporte escolhido e o espaço que as informações visuais (imagens bordadas/escritas) vão ocupar. Para orientar a turma, seguem quatro temas inspirados nas poéticas do artista, aproximando o fazer artístico:
1.
Inventário, memória dos objeto. Este tema amplia as possibilidades de criação, por meio da coleta e da organização de objetos afetivos, tal qual as assemblages, atribuindo intenção e significação simbólica às demandas pessoais. Proponha a apreciação da obra Sem título [Bolsa de gelo] (s.d.) e uma reflexão sobre a importância de determinados objetos na vida cotidiana, assim como as memórias que eles podem representar.
Arthur Bispo do Rosario Sem título [Bolsa de gelo], s.d. Montagem, carpintaria, escrita e pintura 196 × 66 × 16 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
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2.
Estandarte afetivo. Assim como Bispo produz alguns estandartes com palavras e mapas, convide a turma para criar uma bandeira autobiográfica com o registro de palavras e ilustrações, utilizando a técnica de bordado.
Arthur Bispo do Rosario Sem título [Recordações], s.d. Costura, revestimento, bordado e escrita 140 × 223 × 10 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
3.
A roupa que veste a alma. Espelhando-se na prática de bordar a própria farda, este tema sugere a escolha de uma peça de roupa pessoal como suporte para a criação. Permite à turma o exercício de apropriação, com adição/costura de elementos a partir do bordado ou da pintura, desafiando quem cria a representar a própria essência.
Arthur Bispo do Rosario Sem título [Eu vi Cristo], s.d. Costura, bordado e escrita 76 × 65 × 2cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
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4.
Miniaturas transcendentais. Bispo reproduz algumas miniaturas de objetos (carrossel, veleiro, barco etc.) que possuem valor afetivo, pois se relacionam às experiências vividas. Com base nesta obra, proponha à turma a reflexão, a escolha e a criação de uma miniatura (um objeto, um brinquedo, um lugar que possa representar parte da sua história ou memória valiosa).
Arthur Bispo do Rosario Sem título [Carrossel], s.d. Montagem, carpintaria, pintura, costura, bordado, revestimento e escrita 58 × 54 cm (diâmetro) Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea Reprodução fotográfica: Rafael Adorjan
3º MOMENTO
Encerramento das produções artísticas Disponibilize mais esse momento para a criação dos trabalhos e convide a turma para observar o processo dos colegas e a revisitar as imagens apreciadas anteriormente. Para potencializar a singularidade desse processo, incentive-a a acessar histórias de vida, memórias, visões de mundo, anseios e reflexões, nutrindo o fazer artístico. Apresente as possibilidades técnicas de costurar, amarrar, envolver, pintar e montar com o que foi selecionado, de forma a organizar a colagem e o preenchimento de vazios. Estimule a turma a atribuir significados simbólicos e poéticos presentes nas inúmeras metáforas da ação criadora. Também a oriente a pensar em um título/nome para a produção individual e em que local o trabalho deve ser exposto, no próximo momento.
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4º MOMENTO
Exposição das produções e socialização Nesta etapa de socialização das produções realizadas, dedique-se a organizar a exposição das criações, respeitando as escolhas pessoais. Elabore um padrão de legenda – com o nome de cada artista, título da obra, ano e materiais utilizados – e fixe-a próxima ao objeto em exposição. Relembre que Bispo do Rosario resistiu durante anos à reclusão com o exercício da criatividade. Hoje é inquestionável a ação curativa pela atividade artística ligada ao exercício de conexão pessoal. Ouça a turma e a incentive a falar sobre seus processos; reforce que o respeito pela produção alheia precisa de empatia e de uma escuta sensível. Questione se, em algum momento, se conectam e se reconhecem, ou seja, se identificam algum processo de autoconhecimento. Convide a turma a ler as palavras que possivelmente foram bordadas, abrindo espaço para a explicação dos motivos desses registros. Convide a turma a valorizar seus processos, suas poéticas, revelando singularidades e semelhanças entre os trabalhos expostos, a vida que os conecta e a arte que os humaniza e legitima o existir no mundo. Solicite que cada pessoa verbalize a experiência mais significativa entre os quatro momentos.
reflexão final
E
ste material apresenta uma proposta pedagógica flexível, que deve ser adaptada para os públicos de acordo com sua idade ou série. Recomenda-se cuidado nas abordagens, em especial a de temas sensíveis, como doenças mentais, internação manicomial e tratamentos psiquiátricos. Evite a reprodução de estigmas e esclareça que estereótipos devem ser combatidos de forma ética e humana.
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referências AMARANTE, Paulo. Do trabalho terapêutico e da arte-terapia à cidadania e à transformação do lugar social da loucura. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 31, 29 mar. 2022. Disponível em: https://www.itaucultural.org.br/ secoes/observatorio-itau-cultural/revista-observatorio/trabalho-terapeutico-arte-terapia-cidadania. Acesso em: jun. 2022. CUNHA, Diana Kolker Carneiro da; RESENDE, Ricardo. Ensaio artístico por Bispo do Rosario. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 31, 29 mar. 2022. Disponível em: https://www.itaucultural.org.br/secoes/observatorio-itau-cultural/revista-observatorio/revista-observatorio-ensaio-artistico-bispo-rosario. Acesso em: jun. 2022. O PRISIONEIRO da Passagem. Direção de Hugo Denizart. Rio de Janeiro, 1982. (30 min). WALTHER FIRMO: um olhar sobre Bispo do Rosario. Direção de Flavia Corpas. Rio de Janeiro: Livre Galeria, 2013. (9 min). Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=37j0RWMcUQU. Acesso em: jun. 2022.
verbetes utilizados • Apropriação • Arlindo Oliveira • Arthur Bispo do Rosario • Assemblage • Carmela Gross • Daniel Murgel • Farnese de Andrade • Leonilson • Luiz Carlos Marques • Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea • Nazareth Pacheco
• Rosana Palazyan • Rosana Paulino • Sem título [Bolsa de gelo] • Sem título [Carrossel] • Sem título [Eu vi Cristo] • Sem título [Gaiola] • Sem título [Grande veleiro] • Sem título [Manto da apresentação] • Sem título [Pipa] • Sem título [Recordações] • Sônia Gomes
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núcleo enciclopédia Gerência Tânia Rodrigues Coordenação Glaucy Tudda Produção e Pesquisa Elaine Lino Júlian de Divitiis (estagiário) Revisão Texto Escrito Comunicação e Cultura Redação Laura Teixeira Machado (terceirizado) O conteúdo desta publicação foi lido e comentado por professoras e professores atuantes em diferentes etapas de escolarização.
núcleo comunicação Gerência Ana de Fátima Sousa Coordenação Carlos Costa Direção de Arte Arthur Costa Projeto Gráfico Serifaria Design Girafa Não Fala Produção Editorial Bruna Guerreiro Mylena Oliveira dos Santos (estagiária)
agradecimentos Agradecemos aos núcleos de Artes Visuais e de Educação e Relacionamento do Itaú Cultural, por suas contribuições na construção deste Caderno.