PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 41
V Senhor Deus dos desgraçados!
São mulheres desgraçadas,
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Como Agar o foi também.
Se é loucura... se é verdade
Que sedentas, alquebradas,
Tanto horror perante os céus?!
De longe... bem longe vêm...
Ó mar, por que não apagas
Trazendo com tíbios passos,
Co’a esponja de tuas vagas
Filhos e algemas nos braços,
De teu manto este borrão?...
N’alma – lágrimas e fel...
Astros! Noites! Tempestades!
Como Agar sofrendo tanto,
Rolai das imensidades!
Que nem o leite de pranto
Varrei os mares, tufão!
Têm que dar para Ismael.
Quem são estes desgraçados
Lá nas areias infindas,
Que não encontram em vós
Das palmeiras no país,
Mais que o rir calmo da turba
Nasceram crianças lindas,
Que excita a fúria do algoz?
Viveram moças gentis...
Quem são? Se a estrela se cala,
Passa um dia a caravana,
Se a vaga à pressa resvala
Quando a virgem na cabana
Como um cúmplice fugaz,
Cisma da noite nos véus ...
Perante a noite confusa...
... Adeus, ó choça do monte,
Dize-o tu, severa Musa,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
Musa libérrima, audaz!...
... Adeus, amores... adeus!...
São os filhos do deserto,
Depois, o areal extenso...
Onde a terra esposa a luz.
Depois, o oceano de pó.
Onde vive em campo aberto
Depois no horizonte imenso
A tribo dos homens nus...
Desertos... desertos só...
São os guerreiros ousados
E a fome, o cansaço, a sede...
Que com os tigres mosqueados
Ai! Quanto infeliz que cede,
Combatem na solidão.
E cai p’ra não mais s’erguer!...
Ontem simples, fortes, bravos.
Vaga um lugar na cadeia,
Hoje míseros escravos,
Mas o chacal sobre a areia
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
Acha um corpo que roer.