Pernambuco Jardim de Baobas

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PERNAMBUCO Jardim de Baobás | Antônio Campos e Marcus Prado | 31

A ICONOGRAFIA DO SUPLÍCIO EXTREMO Em algumas velhas fotos de negros escravos fujões, que podem ser vistas em museus nacionais da escravidão, entre os da África e os do Brasil, são visíveis no rosto de cada um as cicatrizes do ferro quente no corpo e no rosto, como castigo e como marca. Gilberto Freyre retrata no seu famoso livro O ESCRAVO NOS ANÚNCIOS DE JORNAIS BRASILEIROS DO SÉCULO XIX, como essa “mercadoria” era vista por seus senhores, mais como um animal, semelhante a uma vaca, um boi, uma porção de porcos. “Alguns anúncios de escravos fugidos parecem colocar os fujões na categoria de simples animais de trabalho. Trocavam-se animais e coisas por escravos: cabras-bichos por cabras-pessoas, canoas por negras, cavalos por molecões.” Já em sua tese de mestrado, apresentada em 1922, nos Estados Unidos, Gilberto Freyre afirmava: “Na verdade, a escravidão no Brasil agrário-patriarcal pouco teve de cruel. O escravo brasileiro levava, nos meados do século XIX, quase vida de anjo, se compararmos sua sorte com a dos operários ingleses, ou mesmo com a dos operários do continente europeu, dos mesmos meados do século passado”. Abordagem mais ampla e com caráter definidor da famosa tese de Freyre será vista no excelente ensaio “Escravidão ‘suave’ no Brasil: Gilberto Freyre tinha razão?”, de Flávio Rabelo Versiani, do Departamento de Economia, Universidade de Brasília.


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