O Livro nos Tempos de Cólera

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O LIVRO NOS TEMPOS DE CÓLERA Antônio Campos 23/04/2015


Algumas reflexões sobre o contemporâneo A nova era das incertezas. A crise é de valores

“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar” – Zygmunt Bauman Entrevistado da Fliporto em 2013


• “Os lugares mais sombrios do inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral”, Dan Brown, no livro “Inferno” • “Nossas vidas começam a morrer no dia em que calamos coisas que são verdadeiramente importantes”, Martin Luther King • “Vencer é a própria capacidade de resistir”, Maximiano Campos • “Resistir é uma forma de ação hoje”, Leandro Konder • “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar”, Antonio Machado


O diálogo deve ser a palavra-chave do Contemporâneo A humanidade assiste a um embate global entre armas-inteligentes, ou drones, e homensbomba. Prego que um Novo Humanismo precisa ocorrer, marcado pelo diálogo entre culturas e delas com a mãe Terra.


A arte e o livro como resistência em tempos de cólera. Onde está a beleza?

A menina que roubava livros


Aos livros cabe inspirar o diálogo e a tolerância - Unesco (2015) ”Como símbolos globais de progresso social, os livros – aprendizagem e leitura – tornaram-se alvos para aqueles que denigrem a cultura e a educação, que rejeitam o diálogo e a tolerância” , Irina Bokova – Diretora Geral da Unesco

“Neste contexto, o nosso dever é claro – devemos redobrar os esforços para promover o livro, a caneta, o computador, juntamente com todas as formas de leitura e de escrita, de modo a combater o analfabetismo e a pobreza, a construir sociedades sustentáveis, e a fortalecer as bases da paz”, Irina Bokova – Diretora Geral da Unesco


Um estudioso observou que Wenhua (civilização em chinês) quer dizer: “A influência transformadora da escrita”


“Você tem que encontrar o que ama.”


A PAIXテグ PELOS LIVROS


José Mindlin – Bibliófilo “A Loucura Mansa”


23 de abril DIA MUNDIAL DO LIVRO E DO DIREITO DO AUTOR (UNESCO, desde 1996)

A data é celebrada em homenagem ao aniversário de morte de Miguel de Cervantes e William Shakespeare. Na região da Catalunha, comemorase, ainda, o Dia de São Jorge, da Rosa e do Livro. Na festa para o padroeiro do amor e da cultura, segundo a tradição, os homens devem dar uma rosa às mulheres, que simboliza o sangue derramado pelo dragão ao ser vencido por São Jorge e transformado em rosas ao tocar o chão; enquanto as mulheres devem presentear um livro a um homem.


Celebra, ainda, o nascimento de escritores como Maurice Druon, K. Laxness, Vladimir Nabokov e Manuel Mejia Vallejo.


O Nome da Rosa A inspiração de Umberto Eco vem de William Shakespeare: “O que há em um nome? Que nós chamamos de rosa. Qualquer outro nome iria cheirar tão doce quanto.”

“A rosa primeira permanece no nome, nada temos além de nomes” – última frase do livro


“O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender.” Alvin Toffler (escritor e futurista norte-americano, Doutor em Letras, Leis e Ciências)


O que é o livro? “O livro é o maior amigo do homem. O maior inimigo do livro é a falta de leitor. O livro é um elemento civilizador.” Antônio Campos


Umberto Eco e os 3 tipos de memórias “O primeiro é orgânico, que é a memória feita de carne e de sangue e administrada pelo nosso cérebro. O segundo é mineral, e, nesse sentido, a humanidade conheceu dois tipos de memória mineral: milênios atrás foi essa a memória representada por tijolos de argila e por obeliscos,[...] Porém, esse segundo tipo é também a memória eletrônica dos computadores de hoje, que têm por base o silício. Conhecemos também outro tipo de memória, a memória vegetal, representada pelos primeiros papiros, de novo muito conhecidos neste país, e posteriormente pelos livros, feitos de papel. [...] Este local foi, no passado, e será, no futuro, dedicado à conservação de livros; portanto, é e será um templo da memória vegetal. As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar o nosso saber coletivo. metáfora, uma biblioteca é a melhor imitação possível, por meios humanos, de uma mente divina, onde o universo inteiro é visto e compreendido ao mesmo tempo.”


O livro virou rede


As bibliotecas est達o nas nuvens

Bibliotecas virtuais


A aprendizagem virou jogo


Livraria ĂŠ uma comunidade de relacionamento que tambĂŠm vende livros.


Um Ă­cone se desmancha no ar sem ter como concorrer com a Internet. A EnciclopĂŠdia Britannica, em papel, chegou ao fim.


OS 50 ANOS DA REDE GLOBO • Conteúdo e interação é a nova rota da Rede Globo • Lema: Vamos fazer juntos e com emoção • “ A gente não sabe como as pessoas vão se movimentar no futuro, se com teletransporte, multidimensão...A certeza é que nosso futuro vai continuar sendo emocionante junto com você.” • “Ele não conhece o Roque Santeiro. Ela não sabe quem matou Odete Roitman...Tem um Brasil inteiro para criar novas histórias, junto com a gente.”

• “Tem gente que fala que está morrendo, mas não, está se transformando” – Esther Hamburger • A TV do jeito que é não vai desaparecer, a Globo ainda dá audiência, apesar da queda” – Vanderlei Dias


Na era digital, o autor pode ser o seu editor


Paradoxo moderno •

Na era do celular e da internet reina a incomunicabilidade.

Já não se aprofunda mais em nada.

Dizer algo em 140 caracteres é o símbolo disso.

“A tecnologia ameaça dominar nossa vida e nos tornar menos humanos. Sob ilusão de permitir uma melhor comunicação, na verdade nos isola das verdadeiras interações humanas, em uma ciber-realidade que é Uma pobre imitação do mundo real.”

Sherry Turkle


Terapia pelos livros Em 2008, uma escola formada por escritores, em Londres, conhecida como Escola da Vida, criou a inovadora biblioterapia, através da qual leituras eram indicadas de acordo com o perfil de cada aluno/cliente. É uma verdadeira terapia através dos livros. Em uma época em que um livro é publicado a cada 30 segundos — o que significa que seriam necessárias 163 pessoas para ler todos os livros oferecidos apenas pelo site Amazon (como bem lembra o site de escola) —, as sessões de biblioterapia podem ser um guia para quem está perdido.


Criadores são seres coletivos

Certa vez, o escritor alemão Goethe afirmou que suas obras foram nutridas por incontáveis indivíduos, inocentes e sábios, brilhantes e estúpidos. Como ele mesmo disse, colheu o que os outros plantaram e, assim, suas obras são de um ser coletivo que carrega o nome de Goethe.

E a internet não é uma grande criação coletiva?


A Era Digital e a reinvenção do livro


O impacto das novas tecnologias na leitura. Uma nova forma de ler.


O cenário de vendas de E-books • • • • •

Apenas 2% dos R$5,3 bilhões faturados com livros no Brasil vem de E-books, segundo a Fipe de 2013. A Biblioteca Nacional expediu 16.564 ISBNs para e-books em 2014, apenas 1% a mais do que em 2013. De 2012 para 2013 o crescimento havia sido de 10%. A consultoria americana Gartner aponta que, em 2017, os e-readers venderão 10 milhões de unidades, 50% menos do que em 2014. “São aparelhos que dispersam oferecem funções demais de entretenimento e não são apropriados para a leitura” - Eduardo Melo, da Simplíssimo (consultoria de livros digitais). www.bookwire.com.br – Plataforma de distribuição de E-books


Criado no Brasil Não vivemos somente na era do conhecimento, da informação, mas da colaboração, vivendo em rede. O Brasil deve fortalecer a economia criativa. Transformar “criatividade” em competitividade. Somos criativos, mas ainda pouco inovadores para competir melhor em uma economia global.


O mundo Digital x Material Quando menino, o livro me seduziu primeiramente pelos sentidos, ou melhor, pelo sentido do olfato. É difícil reaver pelas lembranças o perfume do primeiro livro que li — Dom Quixote das crianças, de Monteiro Lobato, um exemplar novo em folha. Às vezes tento recuperar no mundo em volta o perfume daquele livro. Veio do pinheiro de que fizeram o papel? Outros perfumes, os dos gibis, climatizando as fantasias. Nada chega ao intelecto sem antes passar pelos sentidos (nihil est intellectu quod non fuerit in sensu), disse um velho pensador, Tomás de Aquino?.”

Alberto da Cunha Melo


O livro em papel ĂŠ um prazer sensorial


A antiga e a nova Biblioteca de Alexandria


O CONTEÚDO DIGITAL DEVE DEMOCRATIZAR O ACESSO À INFORMAÇÃO Se temos apenas 2.600 livrarias e 2.500 cinemas, é bom que nos espantemos e rejubilemo-nos com o fato de que temos mais de 100 mil lan houses; e que uma favela como a da Rocinha (que tem apenas uma biblioteca heroicamente construída e seguramente não tem nenhuma livraria) tem, por outro lado, cerca de 200 lan houses.


CONSTRUIR um país leitor: conectar a política do livro • O brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, e completa a

leitura de 2,1 desses (o ideal seria ler 8 livros por ano) • Apenas metade da população é considerada leitora e leu ao menos um livro nos três meses antes da pesquisa • O Brasil lê menos do que a Argentina e o Chile • 75% dos brasileiros nunca frequentaram uma biblioteca • O Brasil está em 55º no ranking da leitura Dados: Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil


Apenas 1 a cada 4 brasileiros ĂŠ plenamente alfabetizado


70% dos brasileiros nĂŁo leram em 2014. Em 2013, essa porcentagem era de 49%. (Dados da FecomĂŠrcio-RJ)


O livro como resistência e reexistência O livro é uma forma de resistência e reexistência numa globalização que trouxe mais exclusão social e tensões entre culturas e religiões.


Um abraรงo em Galeano Dedico esta palestra ao escritor Eduardo Galeano, a quem mando um abraรงo, mesmo ele jรก estando em outra dimensรฃo.


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Ant么nio Campos Escritor, advogado, editor, membro da Academia Pernambucana de Letras. blog.antoniocampos.com.br


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