IN CANTOS SERRANOS, por Luís Borges

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IN CANTOS SERRANOS PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS LUÍS BORGES

PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS

IN CANTOS SERRANOS
LUÍS BORGES

TÍTULO

IN CANTOS SERRANOS

Parque Nacional da Peneda-Gerês

AUTOR

Luís Borges

EDITORA Almalusa, Portugal https://issuu.com/almalusa.org

DIRECÇÃO

Jorge Pinto Guedes

DESIGN & PRODUÇÃO

B&B for Almalusa

PREFÁCIO

Fernando Cosme

DATA DE PUBLICAÇÃO

Setembro de 2022

administracao@almalusa.org

© Copyright of the Book: Almalusa

IN CANTOS DA SERRA

Nestas fotografias de minhas deambulações pelas serras Gerês, Peneda, Amarela e Suajo, in cantos serranos celebra aspetos que nelas me encantam: — incríveis belezas que se nos oferecem à vista; — canta rolares de pássaros, de insetos, uivos de lobos, chamamentos de corços, melodias de ribeiros, de cachoei ras em fechas, etc.; — os cantos que nestas serras tudo sobrelevam e na língua celta eram “rochedos”, nome nelas ainda presente em topónimos como Canto , Cantos , Cantelos , Cantelinho , Cantarelo , Cantola , Recanto .

Mostrando estas preciosidades procuro defender a sua integridade e a ancestral cultura humana que lhes deu sentido, nomeadamente a toponímia serrana e o genuíno falar local, que estão a ser muito agredidos.

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PREFÁCIO

O Luís Borges nasceu em Angola, mas porque nos seus primeiros anos veio para Portugal, não lhe ficou qualquer recordação daquela ex-colónia portuguesa. A família levou-o consigo para Macedo de Cava leiros, distrito de Bragança, onde reiniciaram a atividade agrícola na freguesia de Bornes, junto da serra deste nome.

Ainda criança começou a manifestar gosto para representar imagens. Mandavam-no para a serra com as vacas e ele levava consigo um bloco de papel liso onde desenhava o que via, principalmente plantas e árvores, cujas formas particularmente o cativavam. E procurava saber os seus nomes, bem como os dos sítios da serra por onde andava. Na sua formação orientou-se para as artes visuais e ao iniciar profissão remunerada um dos primeiros vencimentos foi para comprar a sua primeira máquina fotográfica.

Começou a fotografar motivos locais, nomeadamente da cultura tradicional, com particular atenção a rostos humanos e aos caretos transmontanos. Desde 2003 colocado como professor de Educação Visual em Terras de Bouro, encontrou no Parque Nacional da Peneda-Gerês a sua área preferida para fotografar. Quase todos os fins-de-semana sobe à serra com a máquina fotográfica, mesmo à chuva … e se for com neve ainda é melhor! Diz que nisto já fez umas 650 caminhadas e mais de 10.000 quilómetros. Gosta de companhias, mas geralmente as fotografias exigem-lhe que vá só. É que a solidão permite-lhe sair de casa e chegar aos alvos a fotografar às horas convenientes para aproveitar os melhores momentos de luz, aten dendo às suas cambiantes desde o amanhecer ao entardecer. Estar só também lhe facilita atenção a outros pormenores e é maior a probabilidade de ver e fotografar animais. No entanto, os momentos solitários não lhe desagradam, antes pelo contrário. Desde pequeno afeiçoou-se à solidão da serra e agora todos os seus sentidos convivem agradavelmente com ela. Faz-me relatos de como aqueles espaços se lhe abrem para se sentir bem, como aí encontra aromas nunca sentidos na cidade e sons que nenhuma música de feitura humana consegue igualar; e o próprio corpo aí se exercita e excita energias, ora atravessando um ribeiro, caminhando em extenso planalto ou desfrutando a grande vastidão serrana quando sobe a uma alta fraga. E por aí vai encontrando animais, tanto selvagens como domésticos, e encantam-no os encontros com os

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pastores, com quem gosta de conviver e lhe ensinam a toponímia serrana e os segredos da serra. Por vezes dirige-se às aldeias onde habitam para conviver e aprender mais sobre a sua cultura. Diz-me que é seu modo de recuperar energias do desgaste que lhe provoca a difícil atividade docente. E vai trazendo fotografias:

De árvores, de plantas, de flores, de rochedos, de cursos de água, de outeiros e vales, elementos que sem intervenção humana ao longo dos tempos vão adquirindo formas por vezes surpreendentes e o Luís apanha neles formas muito belas. Também fotografa animais, desde mamíferos e aves a répteis e insetos; não os procura, aparecem-lhe no seu andar silencioso, atento à oportunidade de os encontrar e fotografar.

E assim, diferentemente de um caçador que ao fim do dia desce da serra orgulhoso de trazer um animal morto, o Luís Borges trás para ele e para nosso desfrute lindas fotografias … de um lobo fugitivo, no seu instinto de fuga a perseguições humanas; de alguma águia ou abutres revolteando no céu; de elegantes cavalos garranos que o observam receosos; de um rochedo que adquiriu forma estranha, talvez de homem ou animal; de incisões rupestres ou construções de tempos antigos com fama de confeção mourama; de uma anciã que traz no rosto marcas de vento, frio, trabalhos e preocupações serranas e nos dizem tanto do ambiente e vida daquele povo.

São fotografias que nos encantam. Porquê? Qual o segredo? Não é seu gosto embrenhar-se em artifícios técnicos. Acumula, no entanto, elementos naturais: para um Lírio do Gerês escolhe um exemplar bordado de uma encantadora orla de gotículas de água; traz-nos uma imagem toda moldada por sombras; mostra -nos formas esculturais que os rochedos formaram ou que uma perspetiva por si encontrada evidencia. Parece-me que o segredo do encanto da arte fotográfica de Luís Borges será aquilo que temos vindo a des crever: a intuição artística que o encaminhava desde criança; o seu particular afeto pela serra, onde encon tra ainda intacta aquela a que ele chama “a nossa mãe natureza”. Acrescente-se que as suas fotografias são de uma visão direta, simples, inocente, sem acrescentar nem tirar, mas acariciada com amor profundo ao que fotografa; e valorizada com a sua já considerável prática de fotografar, grande empenho no que faz e facilidade em fazer bem feito.

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Luís Borges, natural de Angola, passou a sua infância e adolescência em Bornes, Macedo de Cavaleiros, Bragança. À falta de máquina fotográfica, enquanto apascentava o gado na Serra de Bornes, levava consigo um bloco de desenho e um lápis para fazer os seus registos, principalmente de plantas. Estas vivências despertavam-lhe a curiosidade para o nome das plantas e o significado dos topónimos locais. Com o seu primeiro ordenado como docente, comprou a primeira máquina fotográfica.

Professor de Educação Visual em Terras de Bouro desde 2003, encontrou um privilegiado campo de inspiração e atuação nas zonas montanhosas do Gerês. Nos intervalos das atividades letivas, sobe à serra, a maior parte das vezes sozinho, outras vezes na companhia de amigos e pastores. Recentemente já vai sendo acompanhado pelo filho de 5 anos. No regresso, em vez de presas como um caçador afortunado, transporta consigo imagens vivas de animais selvagens lançando para a câmara umas vezes um olhar agressivo outras temeroso; de resplandecentes lírios do Gerês; de ribeiros cristalinos; de rochedos esculpi dos majestosamente pela Natureza; de pessoas singulares e de paisagens deslumbrantes.

Fez exposições individuais, destacando-se “O sagrado e o profano” no Museu da Imagem, em Braga, e participou em várias exposições coletivas em Portugal e no estrangeiro. Tem imagens suas publicadas na revista National Geographic, edição portuguesa. Foi coautor dos livros “Para a História de Amares”, com vários autores, Câmara Municipal de Amares; “Norteando”, com Amadeu Ferreira, editora Âncora; e “A Região do Gerês e a Estrada da Jeira”, com Fernando Cosme, Câmara Municipal de Terras de Bouro.

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