Revista Viração - Edição 93 - Fevereiro/2013

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s o r i e c r a p s o Noss

Sexo e Saúde

pelo Brasil

Auçuba - Comunicação e Educação Recife (PE) aucuba.org.br

Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br

Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE) www.catavento.org.br

Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)

Rede Sou de Atitude Maranhão São Luís (MA) www.soudeatitude.org.br

Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) www.casadajuventude.org.br

Mídia Periférica - Salvador (BA) www.midiaperiferica.blogspot.com.br

Amadora – Portugal www.buefixe.org

Universidade Popular – Belém (PA) www.unipop.org.br

Oi Kabum - Rio de Janeiro (RJ) www.oikabumrio.org.br

Gira Solidário Campo Grande (MS) www.girasolidario.org.br

Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA - Fortaleza (CE) www.taconectados.blogspot.com

Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR) grupomakunaimarr.blogspot.com

Cipó Comunicação Interativa Salvador (BA) www.cipo.org.br

Agência Fotec – Natal (RN)

Lunos - Boituva (SP) www.lunos.com.br

Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa Maceió (AL)

União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC) ujsacre.blogspot.com

Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) ocidadaonline.blogspot.com

Avalanche Missões Urbanas Underground Vitória (ES) www.avalanchemissoes.org

Idesca - Manaus (AM) www.idesca.org.br

Coletivo Jovem - Movimento Nossa São Luís São Luís (MA)


Conteúdo

a t s i V à o ã ç a l o Vi

o de têm sid a socieda d s o ic d íf n c a pe ganh o grupos es imentos e v o por m ausas de s o ivers s da luta das por d e exemplo -s o Kaiowá, d n a n incorpora s Guara io ões, torn d rç o o p tã s ro e p a qu para a maiores brasileira ente, com e m d te tu n n e e c v a ju foi, re ireito dos mobilizou cial. Assim rça é o d sociais e fo s justiça so e r m a d h re n a s na aag ado por u ou força ue começ e, ameaç q rt o o N tã que ganh s e e d e u s e nd que tra q a região no Rio Gra ígena. Ou radores d causa ind do Apodi, o a m d s a o p a o h risc ses da C ue põe em campone o vivem federal q o rn logia. e saber com o v c o ra e g a ro p o g d o a iã e g to r ia na re proje eno ura famil estigação ra o pequ à agricult m uma inv ências pa u ra q e e z s fi dedicam n l o ta c o as rocesso, ens de Na quais serã o desse p d e a lt is Os virajov u ra s ru re s o. O ade o Apodi. ja efetivad 0 comunid Chapada d projeto se cerca de 3 s o o o d s o a T c s r o upas Som potigua ição em ro m de capa s e agricultor o g p a x rt e o a p do o que re na re s do mun a sabend você confe tre joven , você fic n o e ã te iç n d e e n u e sig fica Nesta a freq inglês qu et, prátic m rn e te o ã in s s a n re cer íntimas xting, exp de conhe nome: Se to”, além x te e d todo, tem em ura! r mensag . Boa leit “sexo po estilistas s n e v jo e d histórias

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Copie sem moderação! Você pode: • Copiar e distribuir • Criar obras derivadas Basta dar o crédito para a Vira!

Apoio Institucional

Asso

Quem somos a

Viração é um uma organização não governamental (ONG), de educomunicação, sem fins lucrativos, criada em março de 2003. Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, da ANDI Comunicação e Direitos e Fundação Telefônica. Além de produzir a revista, oferece cursos e oficinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil. Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados e no Distrito Federal, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking da Andi, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto. Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300

Conheça os Virajovens em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal Belém (PA) Boa Vista (RR) Boituva (SP) Brasília (DF) Campo Grande (MS) Curitiba (PR) Fortaleza (CE) Goiânia (GO) Lagarto (SE) Lavras (MG) Lima Duarte (MG) Maceió (AL) Manaus (AM) Natal (RN) Picuí (PB) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Rio Branco (AC) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) S. Gabriel da Cachoeira (AM) São Luís (MA) São Mateus (ES) São Paulo (SP) Vitória (ES)

ciazione Jangada

Quem faz a Vira Alessandro Muniz

Ayhuma Amazona e Isadora Morena, do Virajovem Natal, entrevistam seu Tico, apicultor da região da Chapada do Apodi, sobre os impactos do Projeto de Perímetro Irrigado Santa Cruz do Apodi

Revista Viração • Ano 10 • Edição 93 03


09 Voz da participação

Jovens de Curitiba aprendem que participação e cidadania podem ser exercidas em programas de rádio, veiculados na internet

14

Sabe tudo de HQ

O quadrinista argentino Rodolfo Zalla, aos 82 anos, fala sobre sua trajetória e dá dicas para quem ama produz ir histórias em quadrinhos

16 Na moda

Conheça histórias de jovens estilistas, que superam os desafios de uma carreira restrita e competitiva

20

Iniciativa importante

19

Jovens são tema da Campanha da Fraternidade 2013, ano em que o Brasil sediará a Jornada Mundial da Juventude

Ameaça no campo

Apodi, no Rio Grande Famílias de produtores rurais da Chapada do de irrigação do o projet com çados amea m-se sente , do Norte suas terras lotear e r ropria desap governo federal que pretende

25 Sempre na Vira

Manda Vê . . . . . . . . . . . . . 06 Quadrim . . . . . . . . . . . . . . 08 Como se Faz . . . . . . . . . . 10 Imagens que Viram . . . . . 12 No Escurinho . . . . . . . . . . 30 Que Figura . . . . . . . . . . . . 31 Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 32 Rango da Terrinha . . . . . . 33 Parada Social . . . . . . . . . . 34 Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35

Ser humano à venda

A escravidão permanece no século 21 com nova roupagem: o tráfico de seres humanos para a exploração sexual

26 Exposição na internet

Segundo pesquisas, o compartilhamento de imagens com conteúdo sexual já é uma prática corriqueira da juventude em muitos países

28

Educação ideal

Ativistas pesquisam modelos educacionais mundo afora com o objetivo de mostrar que é possível ensinar e aprender de outras formas

RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL Revista Viração - ISSN 2236-6806

Primeiro-Secretário

Conselho Editorial

Eduardo Peterle Nascimento

Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Diretoria Executiva

Conselho Fiscal

Anais Quiroga, Bruno Ferreira, Elisangela Nunes, Eric Silva, Evelyn Araripe, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Rafael Stemberg, Sonia Regina e Vânia Correia

Everaldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira

Conselho Pedagógico Alexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

Presidente Juliana Rocha Barroso

Vice-Presidente Cristina Paloschi Uchôa

Paulo Lima e Lilian Romão

Equipe

Administração/Assinaturas Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da Vira Acre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Jhony Abreu e Claudia Maria Ferraz), Bahia (Everton Nova e Enderson Araújo), Ceará

(Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Mayane Vieira e Webert da Cruz), Espírito Santo (Filipe Borges), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofilo), Paraíba (Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Roberta Darkiewicz e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Luciano Frontelle, Verônica Mendonça e Vinícius Balduíno).

Arte Ana Paula Marques e Manuela Ribeiro

Colaboradores Antônio Martins, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Novaes e Sérgio Rizzo.

Projeto Gráfico Ana Paula Marques e Cristina Sayuri

Revisão Izabel Leão

Jornalista Responsável Paulo Pereira Lima – MTb 27.300

Divulgação Equipe Viração

E-mail Redação redacao@viracao.org


A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.

Diga lá

Fale com a gente! Via Facebook

Olá! Sou estudante do 3º semestre de Relações Públicas da Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Estou desenvolvendo um projeto de Iniciação Científica com o tema de Educomunicação e gostaria de conhecer o trabalho de vocês de perto. É preciso agendar uma visita ou posso ir qualquer dia no horário em que vocês estejam funcionando? Abraços. Ludimyla de Lima

Via E-mail Sou Mariana, jornalista recémformada, e me interessei muitíssimo pela possibilidade de montar um conselho Virajovem aqui onde moro, em Salvador. Trabalho com oficinas de produção de vídeos de ciências e meio ambiente no meu Estado. Como devo proceder para a criação de um conselho?

Mariana, estamos super contentes com a possibilidade de criarmos mais um conselho virajovem em Salvador. Vamos entrar em contato para articular essa parceria!

Obrigada!

Ops! Erramos!

Mariana Sebastião

Perdeu alguma edição da Vira? Não esquenta! Agora você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Oi, Ludimyla! Como vai? Será um prazer recebê-la aqui na Viração! Você já conhece os nossos projetos? Entre em contato conosco pelo telefone (11) 32374091 para combinarmos um dia e horário para a sua visita. Um abraço!

Não demos o crédito para duas imagens de camisinha que ilustraram a reportagem de capa Todos juntos nesta luta, da edição de dezembro de 2012. Elas são de autoria de Gutierrez de Jesus Silva, da Redação. Também erramos o crédito da matéria sobre camisinha feminina, publicada na seção Sexo e Saúde, também da edição de dezembro. Ela foi feita por Ingrid Evangelista, da Redação, e não por Vania Correia. E na edição de janeiro de 2013, erramos o crédito das fotos da página 27. Elas foram feitas pela jornalista Élida Maria Aragão, integrante do projeto Comunicapaz, de São Luís (MA). Pedimos desculpas pelos erros!

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: redacao@viracao.org Aguardamos sua colaboração!

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A Viração Educomunicação recuperou o seu perfil original no Twitter. Volte a nos seguir pelo @viracao.

E também confira a página da Viração Educomunicação no Facebok.

Ponto G Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.


Manda Vê Diego Souza Teófilo, do Virajovem Belém (PA); Joseane Aparecida, Ygor Di Castro, Igor Alves e Lee Bueno, do Virajovem Curitiba (PR); e Nealla Machado, do Virajovem Campo Grande (MS)*

É fato que o Brasil apresenta altos índices de crime e violência, seja no campo ou na cidade. Mas o que chama bastante atenção é o alto envolvimento de adolescentes e jovens nessas situações. Todos os dias, os meios de comunicação divulgam inúmeras notícias sobre isso. No entanto, diversos movimentos de defesa dos direitos humanos acreditam que a redução da maioridade penal não é a solução para a diminuição dos altos índices de criminalidade. Eles indicam que o caminho mais acertado seja o da proposição de políticas públicas na área da educação, cultura, lazer, entre outras das quais os adolescentes e jovens se beneficiariam, com o intuito de mudar essa realidade. Para outros, a redução é a solução por conta da proposta de encarceramento precoce. A possibilidade da privação da liberdade reduziria a criminalidade. A proposta de Redução da Maioridade Penal de 18 para 16 anos, de fato, divide a sociedade brasileira, com diversos posicionamentos contrários e favoráveis. Recentemente a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal votou favoravelmente à redução. Por isso, perguntamos aos jovens:

Você é a favor ou contra a redução da maioridade penal? Hellen Câmara, 28 anos, Campo Grande (MS)

Carlos André, 32 anos, Belém (PA) “Sou a favor. Hoje o índice de criminalidade vem crescendo por conta dos menores que praticam crimes, pois acham que estão acima da lei. Reduzindo a maioridade e aplicando leis mais severas, os crimes diminuem.”

06 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93

Ediovani Jovenazi de Lima, 22 anos, Irlanda “Sou a favor sim, com certeza. Acredito que a diminuição da maioridade penal fará com que a criminalidade entre os jovens caia radicalmente.”

“O problema não está em punir um adolescente de 15 anos que mata e estupra, mas na forma em que se dá essa punição. Apenas retirá-lo do convívio social, como quem tira o lixo da rua, e não aplicar medidas, realmente socioeducativas, trabalhar sua autoestima, transformá-lo em cidadão, é a mesma coisa que aplicar a pena de morte. Sem consciência de sua importância como cidadão, mais cedo ou mais tarde esta pessoa morre na guerra do crime.”

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


Raquel Alves Bueno, 25 anos, Curitiba (PR) Juliene Lima, 21 anos, São Paulo (SP)

“Sou a favor, porque se já tem idade para cometer um crime, tem idade para aceitar que existem consequências. Se fez a ‘cagada’ tem que pagar, independente da idade. Se não paga quando criança vai ser delinquente, um bandido para o resto da vida, porque se fez uma vez e ficou impune, continuará fazendo.”

“Sou a favor da redução, porque se tem a capacidade de fazer coisas erradas é crescido o suficiente para cumprir pena.”

Ruam Marcelo Gomes da Silveira, 20 anos, Belém (PA)

Janaína Braga, 25 anos, Santarém (PA)

“É um assunto delicado, porque quando digo que um adolescente deve ser punido, não quero dizer que é jogar um garoto numa cela e ficar lá até apodrecer. Tem sim que ser punido pelos seus atos, mas com um acompanhamento ideal, aprendendo uma profissão, para sair da cadeia com uma espectativa melhor de vida.” Gustavo Lima, 15 anos, Campo Grande (MS)

Não é de hoje!

“Sendo eu, uma jovem que mora na periferia, e enfrenta todos os dias as dificuldades para viver com dignidade, sou totalmente contra. Não é reduzindo que solucionará os problemas que enfrentamos com a violência de nossos bairros e na cidade. Há todo um processo que precisa ter um olhar diferenciado. É preciso investir mais em políticas públicas com acesso à educação, saúde, esporte e ao lazer desses meninos e meninas.”

"Eu sou a favor da redução da maioridade penal porque as pessoas fazem as coisas quando são menores de idade porque existe essa certa proteção da lei, existe a impunidade. Se todos forem tomados responsáveis por seus atos, junto à aplicação efetiva da legislação, acredito que haverá uma diminuição nos crimes cometidos por menores de idade."

O Código de Menores de 1979, criado pela Lei n.° 6.697 de 1979, classificava o menor de 18 anos como incapaz, irresponsável por suas condutas e potencialmente delinquente. No entanto, a Constituição Federal de 1988 inovou a legislação brasileira, ao tratar a criança e o adolescente com prioridade incondicional, atribuindo à família, à sociedade e ao Estado o dever de protegê-los. O Estatuto da Criança e do Adolescente, de julho de 1990, criado por meio da Lei n° 8.069, dispõe sobre medidas administrativas destinadas à sua reeducação e recuperação, uma das legislações mais modernas do mundo.

Em 2010, jovens e adultos em regimes socioeducativos ganharam o direito de votar. A iniciativa do Estado do Paraná levou urnas eletrônicas para dentro de presídios e Centros de Socioeducação. Com a medida, as instituições que receberam as urnas elaboraram um trabalho pedagógico com o intuito de trabalhar a importância do voto. Os adolescentes tiveram formação sobre a função de cada cargo eletivo. Além disso, tiveram acesso ao horário eleitoral. A ação só foi realizada devido à resolução 23.219/2010 do Supremo Tribunal Federal (STF), que assegurou o direito ao voto a todos os adolescentes, jovens e adultos que se encontram privados de liberdade.

Faz Parte


b

kHumor inteligente ié Quadrim

coisa de adulto. Será? Nobu Chinen, crítico de quadrinhos

C

Por que é legal ler?

omeçar a ler o álbum Cócegas no Raciocínio, de João Pedro Montanaro, publicado pela As tiras de Montanaro são Garimpo, desperta uma certa desconfiança. Afinal, o que têm de especial as piadas engraçadas e o livro vale não só desenhadas por um garoto de 14 anos? A resposta é: muito, pois o livro é divertidíssimo. pelas piadas, mas também pelas Dizer que João é um talento precoce ou um charges em que outros quadrinistas garoto prodígio virou lugar comum, mas é quase fazem gozação com a cara do inevitável. Como quase toda criança, João adorava autor e vice-versa. desenhar. Incentivado pelos pais e movido por uma vontade de desenvolver o seu talento, ele procurou orientação de profissionais experientes, Por que é persistiu e vem conquistando seu espaço. importante ler? Aos 13 anos, ele já começava a colaborar com O autor está sintonizado com ilustrações e charges para a Folhinha, suplemento as formas mais elaboradas de infantil do jornal Folha de S. Paulo. Aos 14, humor, tanto que é um dos chargistas publicou seu primeiro livro de tiras e charges. da página de editorial de um dos Atualmente, reveza com outros chargistas de jornais mais tradicionais do País, um peso um dos espaços mais nobres da mesma espaço reservado às opiniões sobre Folha: o da charge na página do editorial e não faz feio: o garoto se sente à vontade com grandes temas nacionais e temas complexos como a política e a economia. internacionais. O que chama mais a atenção não é tanto o desenho. Seu estilo solto e de traço despojado não tem nada que faça dele um gênio das artes, embora revele um alto poder expressivo. São as ideias e o modo como João elabora suas charges e tiras Para ler e refletir em quadrinhos que se destacam. Apesar da pouca idade, ele já demonstra uma O humor é uma forma de maturidade rara e uma elevada consciência em relação ao próprio trabalho. protesto, seja contra a injustiça, É óbvio que o fato de ser tão jovem gerou um interesse e uma curiosidade problemas políticos ou sociais. maior pelas suas criações. É natural. No entanto, julgá-lo apenas por esse Muitas das tiras de Montanaro atributo seria cometer uma injustiça, pois, independente da sua idade, João tem embutem uma crítica social ou um humor aguçado, talento para se expressar e, principalmente, uma saudável abordam temas aparentemente curiosidade pelas coisas do mundo. E isso tudo sem perder certa ingenuidade simples, mas muito infantil que dá leveza e frescor às suas tiras. V profundos.

08 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93


Mídias Livres

QUEM NÃO SE COMUNICA SE TRUMBICA Web rádio criada por adolescentes e jovens se torna importante ferramenta de expressão e participação

Dhiene Aparecida e Raquel Araújo, do Virajovem Curitiba (PR)*

A

vontade de inovar e construir um espaço interativo levou um grupo de jovens curitibanos a criarem uma web rádio. Em 2010, adolescentes do Projovem, coordenado pelo Instituto Salesiano de Assistência Social (Isas), construíram a Interativa Rádio Seti com o objetivo de desenvolver a comunicação popular e valorizar a cultura local da comunidade. Desde então, a rádio passou a funcionar dentro do Isas, localizado no bairro Guaira em Curitiba. O primeiro passo já havia sido dado pelo grupo Escritores da Liberdade: escolher como seria cada programa e a maneira como interagir com o público local. Mas foi necessário juntar mais mãos para moldar o projeto e colocá-lo em prática. Em 2011, após muito debate e formação sobre direitos humanos e movimentos atuais que aconteciam na comunidade, foi montado um novo grupo do Projovem, o Vivendo e Aprendendo. A parceria entre a turma de 2010 e 2011 tornou possível a continuidade da rádio e agitou o processo de aperfeiçoamento do trabalho. A pedagoga Fabiane Prado acompanhou os adolescentes desde o início. Ela orientou e colaborou na realização dos bazares, ações entre amigos, vendas de rifas e artesanatos para conseguir comprar os equipamentos da rádio. “Foi um grande desafio desenvolver o projeto, tínhamos poucos recursos e era um sonho antigo do Isas ter uma rádio para promover o protagonismo juvenil. Então, ver a rádio pronta representou uma grande conquista, porque a ideia não partiu apenas de uma pessoa, mas de um grupo todo", conta Fabiane. Os equipamentos da rádio foram todos comprados com o dinheiro arrecadado pelos adolescentes nos eventos que promoveram. A Rádio Seti alavancou em

2011, quando estabeleceu parcerias com as organizações Ciranda e Canção Nova. Ambas desenvolveram oficinas de formação em técnicas de locução, edição de áudio, roteiro e formação em direitos humanos. Em 2012, dez adolescentes, membros da rádio, participaram da cobertura educomunicativa da 8ª Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Paraná. Além disso, a adolescente Dhiene Aparecida foi escolhida para representar o Estado na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, no mesmo ano, em Brasília. De acordo com Fabiane Prado, a participação nesses espaços colabora para a formação dos jovens e contribui para conhecer outras áreas de atuação. “Em termos profissionais, a rádio me ajudou a entender e definir a minha área de atuação em educação, que é a educomunicação. A partir desse projeto entendi a importância de trabalhar com a educomunicação e como isso promove e impacta a vida dos jovens”, afirma. V *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal


Como se faz

Fanpage Divulgue seu projeto, criando uma página nas redes sociais

Maria do Socorro Costa, do Virajovem São Luís (MA)*

A

s fanpages, ou apenas páginas, são espaços nas redes sociais, como o Facebook, destinados a empresas e organizações. Nelas não há limite para números de amigos, como nos perfis. O interessante é que elas apresentam um sistema de monitoramento sobre o número de pessoas que curtem a página, posts mais curtidos e seu potencial para marketing viral. Gráficos e outras informações são apresentados em forma de relatório, que mostra como está a situação da página, dando indicadores relacionados ao alcance por região e países, e a quantidade de pessoas que falam sobre suas postagens. Na página também é possível curtir outras páginas, realizar posts, enquetes, enviar mensagens, criar eventos. É possível ainda promovê-la por meio de anúncios pagos. Embora a página (fanpage) seja indicada para organizações, há pessoas que a utilizam para divulgação de seus trabalhos, geralmente artistas (atores, músicos, bandas). Para criá-la é necessário já ter um perfil no Facebook. Confira como fazer uma fanpage para os seus projetos! V

*Uma das Virajovens presentes em 20 Estados e no Distrito Federal

Passo a passo 1. Abra a página do Facebook com o e-mail da organização ou outro que queira usar. Abaixo do formulário de cadastro, escolha a opção “criar página” ou “criar fanpage”; 2. Depois você escolhe a classificação de sua página. Após a escolha, serão solicitadas informações sobre o seu empreendimento, causa, comunidade, banda ou outro projeto. Preencha as informações solicitadas, leia e marque que aceita os termos, e clique em começar; 3. Dê as informações solicitadas de e-mail e crie uma senha. Transcreva o código de segurança, indique que aceita os termos de uso e a política de privacidade; 4. Clique na opção “Entre já”. Depois entre no seu email e confirme seu endereço por meio da mensagem de confirmação enviada pelo Facebook; 5. Clique no link da mensagem de confirmação; 6. Você será direcionado para configurar sua página em três passos: incluir foto de perfil, informações sobre a organização, projeto ou causa que deseja divulgar e o último para habilitar anúncio ou pular; 7. Após habilitar ou pular, você será direcionado para o painel administrativo. Sua página já foi criada! Agora basta postar mais informações e convidar amigos para curtir a página. Caso queira incluir outros administradores, convide as pessoas primeiro para curtir, depois vá à opção “Editar página”, “Cargos administrativos”. Digite o e-mail da pessoa no espaço destinado e salve.



De costas para o Rio

Carolina Cunha Lima e Alessandro Muniz, do Virajovem Natal (RN)*

O

Rio Potengi é uma das belezas naturais de Natal, capital potiguar. É de grande valor para atividades como a pesca, turismo e transporte, já que o porto de Natal se localiza às suas margens. Contudo, a cidade não o valoriza como deveria. O Potengi passa por uma situação difícil devido à poluição e ao descaso. Com o crescimento da cidade e a falta de infraestrutura para o tratamento do esgoto, vários tipos de dejetos e poluentes são despejados nele. Hoje em dia há uma tentativa de tratamento dos esgotos despejados no Potengi, mas ainda assim é grande a quantidade de lixo encontrada lá. Falta ao natalense uma relação afetiva com o Potengi, conviver mais com ele para então poder cuidar dele. Fazendo um passeio pelas águas do Potengi, é possível ver o contraste da paisagem formada pelos mangues da margem norte com os prédios da cidade, na margem sul. Pode-se contemplar as pontes de Igapó e Newton Navarro, que ligam a zona norte à zona sul da capital e o Forte do Reis Magos, cuja construção se iniciou em 6 de janeiro de 1598, dia de Reis, e tombada pelo Patrimônio Histórico desde 1949, sendo hoje uma importante atração turística. Pode-se ver ainda a praia da Redinha, a única praia urbana localizada no litoral norte de Natal, no encontro do rio com o mar. V

Forte dos Reis Magos embeleza entrada do Rio Potengi

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

12 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93

Uma das margens do rio ainda preserva parte dos manguezais originais


A Praia da Redinha, na zona norte de Natal, é uma praia popular e animada, conhecida por seus carnavais

Denominada Ponte de Todos, tornou-se um cartão postal potiguar

O contraste entre a selva urbana e o mangue revela o embate entre a preservação e o “desenvolvimento” urbano

A primeira e histórica ponte de ferro de Igapó, de 1915

Ainda há pessoas que têm um relacionamento próximo com o rio


a r e l Ga

r e t r ó Rep

Mestre dos quadrinhos

a, aos 82 anos, Com entusiasmo, o quadrinista Rodolfo Zall quadrinhos fala sobre sua paixão pelas histórias em Márcio Baraldi e Marcelo Rossi, colaboradores da Vira; Ingrid Evangelista e Bruno Ferreira, da Redação

E

m um apartamento da zona sul de São Paulo, o quadrinista argentino Rodolfo Zalla vive com sua esposa Ana. Em seu escritório, passa boa parte do tempo trabalhando, criando histórias que seduzem a juventude. Zalla é editor da revista Calafrio, com HQs de terror, mas o mestre dos quadrinhos é conhecido por outros trabalhos que realizou. Contou a história de personalidades brasileiras, como Chico Xavier (em parceria com Franco Rosa) e do ex-presidente Lula em histórias em quadrinhos. Zalla começou a carreira ainda na Argentina, dez anos antes de vir para o Brasil em 1963. Lá, trabalhou em uma editora que produzia uma revista em

quadrinhos sobre o Zorro e chegou a atuar no mercado publicitário. Devido à situação política conturbada em seu país, mudou-se para o Brasil. Aficionado por terror e faroeste, criou vários quadrinhos com essas temáticas, está na reta final da produção de Mangue Negro, sua mais recente história em quadrinhos com monstros e zumbis. Confira o bate-papo que rolou em janeiro, em seu apartamento. A gente percebeu que você aborda muito a temática do terror e faroeste. De onde vem a sua identificação com esses temas? Da época em que eu tinha nove ou dez anos de idade, com uma revista que eu colecionava que se chamava El Tony, que durou 60 ou 70 anos. Essa revista foi famosa e esgotava no mesmo dia que saía. Essa revista também tinha história policial. Os roteiros eram muito interessantes, tanto que meu trabalho como amador foi inspirado nela. Eu copiava (os quadrinhos) de um lado e do outro do papel e depois com lápis de cor me divertia colorindo (risos). Foram me aconselhando e, aos poucos, fui ganhando trabalho, começando com três histórias para uma igreja católica e comecei a trabalhar.

Linha do Tempo Rodolfo Zalla inicia no mercado editorial de quadrinhos na Argentina, quando tinha 21 anos

1953 14 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93

Muda-se para o Brasil, devido à conturbada situação política na Argentina

1963

Cria a revista Calafrio, em parceria com Eugênio Colonnese. A publicação foi desativada em 1993, e reativada em 2011

1981


O que é fundamental para ser um bom artista, principalmente pra quem se dedica às histórias em quadrinhos? Gostar de histórias em “Um profissional uma quadrinhos. Amar a vez me falou que o estilo é profissão. Não pensar em a forma como você encara o dinheiro. Pensar que talvez desenho. É como um edifício, não dê dinheiro. Pensar um alicerce, que você vai que talvez seu amigo veja construindo tijolo a tijolo.” sua história e goste e você ganhe um pagamento moral. É preciso praticar sempre. Se antigamente eu deixasse de desenhar por uma semana, eu demoraria meia hora para desenhar um novo quadrinho. Você perdia a prática rapidamente? Não é a prática em si. Você perde a segurança no traço, o que é muito importante. Para você fazer um quadrinho com qualidade você precisa de duas coisas: memória visual e um traço firme, seguro. Antes, trabalhávamos na própria página, marcando e pronto. Pegava o pincel e fazia o quadrinho.

Aos 82 anos, finaliza o seu mais recente trabalho Mangue Negro, de terror tipicamente brasileiro

O que você pensa sobre essa vertente mais alternativa dos quadrinhos? O trabalho desses meninos (Fábio Moon e Gabriel Bá, autores da HQ brasileira Daytripper) e principalmente o roteiro está muito bem feito. A impressão é boa. O problema que vejo, é o seguinte: se um camarada faz um trabalho desse por ano, quanto que isso rende? Eu duvido que esse material dê dinheiro para os rapazes. Então, eles estão fazendo por carinho, amor, por divulgação do trabalho bom. O que você acha do videogame, que populariza personagens e histórias que poderiam ser dos quadrinhos? Antigamente o personagem nascia no quadrinho, num fanzine. Hoje nasce de um videogame. Mas, por exemplo, o cinema vem depois do êxito do videogame, porque o cara não investe milhões de dólares só porque o cara é bonitinho. Os caras estão de olho em quanto uma história vendeu. Fizeram uma série na TV Bandeirantes, Walking Dead, que começou no fanzine, passou para o gibi e está fazendo sucesso na TV paga. Por isso estou fazendo o Mangue Negro, que deve sair agora em março. Qual o seu estilo, Zalla? Eu nunca me preocupei com estilo, porque tem um profissional que uma vez me falou que o estilo é a forma como você encara o desenho. Se você publica continuamente, se aperfeiçoando, isso é estilo. Mas se o cara primeiro procura o estilo pra depois desenhar, normalmente fracassa. É como um edifício, um alicerce, que você vai construindo tijolo a tijolo. V

Galera da Vira com Rodolfo Zalla

Marcelo Ro ssi

Ingrid Evangelista

O que você diria para esses jovens que enxergam nos quadrinhos uma possibilidade de expressão, mas não recebem incentivo, porque muitas vezes é marginalizado? Hoje em dia, o quadrinho não é tão marginalizado assim. Hoje é admitido por muita gente que não admitia esse conceito. Eu diria que hoje em dia, o problema de mercado é diferente. Antigamente vivíamos tranquilamente de quadrinhos, mas claro, tinha que fazer um trabalho bem feito para ontem. Grandes tiragens não existem mais, a não ser quando fazem filmes de super heróis. Os americanos têm como costume fazer filmes de super heróis. O X-Men vendia 125 mil exemplares. O Homem Aranha, quando saiu o filme aqui, fizeram uma revista junto com o filme, que vendeu 18 mil exemplares. O próprio cara da editora falou para mim. Se um filme como Homem Aranha, que faz sucesso mundial vende 18 mil exemplares, sendo bem impresso e colorido, imagina uma revista em branco e preto... Morreu!

2013 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93 15


Mesmo restrito e competitivo, é grande o interesse de jovens em atuar profissionalmente no mundo da moda

Vinícius Gallon,do Virajovem Curitiba (PR); e Simone Nascimento, Virajovem de São Paulo (SP)*

Flickr renatamencari

16 Revista Viração • Ano 10 • Edição 93

Flickr renatamencari

A

moda no Brasil está cada vez mais democrática. Além de ter uma oferta de produtos maior, os preços estão mais acessíveis, há mais modelos de cores, estilos e mais liberdade para se vestir. Atualmente, o Brasil é o 5º maior parque têxtil do mundo, reunindo em torno de 30 mil empresas formais, que empregam 1,7 milhão de pessoas, sendo o segundo setor maior gerador de primeiro emprego do País. Estimativas do Ibope Inteligência apontam que em 2012 o brasileiro gastou, em média, 670 reais com vestuário. Além disso, nos últimos doze anos, cerca de 30 milhões de pessoas passaram a fazer parte do mercado consumidor, graças às políticas de ampliação de crédito e ao aumento do rendimento familiar, especialmente das classes C, D e E. Apesar dos números não deixarem dúvidas sobre o dinamismo do setor e o gosto do brasileiro por moda, muitos não admitem que seguem alguma tendência ou que se preocupam com o que estão vestindo. A explicação, segundo a consultora de empresas do setor têxtil e de confecções, Patrícia Gaspar, se resume à falta de entendimento sobre o que é moda. “Muitas pessoas não compreendem os significados simbólicos da moda e a associam ao que é superficial e efêmero. Elas acreditam que suas escolhas de consumo as eximem da indústria, mas na realidade elas consomem produtos de moda que já foram de vanguarda e declinaram”. Com o crescimento do setor, os cursos acadêmicos e técnicos na área são cada vez mais procurados por pessoas que atuam nos setores têxtil, de confecção ou varejo, que buscam tornar suas empresas mais competitivas ou por jovens que pretendem empreender um negócio em


moda. No entanto, para Patrícia, que também é professora e coordenadora da pós-graduação em Gestão Estratégica em Moda do Senai de Curitiba, existem diversos desafios para a valorização dos profissionais e dos cursos do setor. “Infelizmente, o mercado não absorve toda a mão de obra qualificada, porque ainda prevalece a gestão voltada para a redução de custos e a mentalidade de que pessoas com baixa ou nenhuma qualificação podem dar conta do recado. Ou seja, são muitas empresas fazendo produtos sem qualquer diferencial e concorrendo por preço. Era algo que funcionava quando o mercado era fechado e nossas empresas não tinham que concorrer com os produtos do sudeste asiático”, analisa Patrícia. o Pacak Junior e Ricard

direcionado para o posto de limpeza da área de alimentação e o outro era feminino, para o posto de segurança. “Participar desses eventos foi muito importante e gratificante, já que possibilitou significativa visibilidade e reconhecimento do meu trabalho”, conta. Para abrir um pouco a cabeça de quem pretende seguir carreira nesta área, Ricardo faz uma análise sobre o campo profissional. “O estilista pode montar a sua própria marca e comercializar suas próprias criações, trabalhar em outra marca já consolidada ou numa indústria de confecção. As habilidades adquiridas durante o curso também permitem atuar em áreas que demandam domínios técnicos ou que exigem mais criatividade do estilista. Outras opções são as áreas de marketing, consultoria, produção e editor de moda.”

Rubens Nem itz

“Muitas pessoas não compreendem os significados simbólicos da moda e a associam ao que é superficial e efêmero”, afirma especialista

Jovens Estilistas Mesmo com um mercado ainda muito restrito e competitivo, há quem queira empreender na área. Ser dinâmico, criativo, gostar de arte e design, compreender as necessidades das pessoas, gostar de pesquisa, ter habilidade com desenho e estar atento aos acontecimentos e informações da atualidade são características essenciais para quem quer se aventurar por esse campo. Por isso, a Viração foi atrás de histórias empreendedoras de jovens que estão começando, mas que já têm muito a mostrar e a ensinar para quem pensa em seguir carreira. O designer gráfico e estilista recém-formado Ricardo Freire, de 27 anos, é um desses jovens. Ele conta como se interessou pela profissão. “Sempre gostei muito da forma como a comunicação e o design são trabalhados na moda, sentia-me muito atraído por isso. Desde criança era muito interessado em costura e o que envolvia o visual, vestuário e estilo. Concluí minha graduação na área de design gráfico e senti a necessidade de me envolver mais profundamente com a moda”. Ainda durante o curso técnico de Estilismo em Confecção Industrial do Senai, Ricardo foi finalista do 9º Prêmio João Turin de Incentivo aos Novos Designers de Moda, destinado aos profissionais e estudantes de moda do Paraná. Neste projeto, era preciso desenvolver dois visuais inspirados na obra de um artista local. Ricardo também ficou em terceiro lugar no Concurso Cultural Croqui, do shopping Pátio Batel. O desafio consistia em desenvolver dois uniformes para os funcionários do empreendimento. Um era masculino,

O jovem estilista Ricardo Freire desenvolveu looks para uniformes femininos e masculinos

Estúdio Gralias Julia Guglielmetti, de 24 anos, e Grazi Cavalcanti, de 26, se conheceram na Faculdade Santa Marcelina, quando cursavam Desenho de Moda. O desejo de unir moda e figurino foi o que as aproximou. Deste interesse mútuo surgiu o primeiro trabalho conjunto: um vestido de noiva conceitual, desfilado em um concurso, acompanhado de performance com projeções e música improvisada ao vivo em 2010, quando se formaram. Nasce então o Estúdio Gralias, que começou como um estúdio de figurino e hoje também é uma marca de moda. Em 2012, a dupla ganhou a 5ª edição do Projeto Ponto Zero e deu um grande passo para a visibilidade de sua marca. Com o objetivo de descobrir novos profissionais na área, o projeto é direcionado para estudantes do último ano de Moda, ou formados há até dois anos. Idealizado pela Associação Brasileira de Indústria Têxtil (Abit), em parceria com Sinditêxtil, Casa de Criadores e Mercado Mundo Mix, seus participantes concorrem em uma categoria única: Estilista Empreendedor. Os trabalhos inscritos podem ser dos segmentos de alta costura, pret à porter ou street wear, moda masculina ou feminina. A primeira etapa foi a de escolha dos participantes na sua faculdade. “Criamos a coleção, confeccionamos um look (visual) e enviamos para a Abit selecionar quem da Santa Marcelina deveria desfilar e representar a faculdade. O resultado saiu apenas um mês antes do desfile. Neste meio Revista Viração • Ano 10 • Edição 93 17


tempo ainda tivemos algumas oficinas de capacitação profissional, mas foi tudo muito rápido”. A etapa final do projeto aconteceu durante o último dia da 32ª Casa de Criadores de outono/inverno 2013, na cidade de São Paulo. As meninas apresentaram uma mini coleção com dez looks, batizada de ¿Y El Toro?, criada a partir de um conto sobre um ex-toureiro que enlouqueceu dominado pelo sentimento de culpa. “Foi nosso primeiro trabalho de moda juntas, que já nos rendeu bastante orgulho. Sem contar a visibilidade que a Casa de Criadores trouxe para a marca e através dele conhecemos pessoas incríveis que estão nos apoiando bastante”. Atualmente, as parceiras estão em processo de elaboração da sua primeira coleção comercial. “Já começamos a criar a coleção para o próximo desfile, que acontece em março e estamos reeditando a coleção de Inverno 2013 para apresentá-la em Londres”. A viagem foi dada como prêmio do Ponto Zero. “O objetivo do Estúdio Gralias, ao integrar a programação da Casa de Criadores, é ganhar visibilidade e fazer com que a marca, que hoje vende apenas sob encomenda, seja reconhecida no mercado”. No dia a dia, as jovens estilistas mesclam parte do seu tempo para os trabalhos do Estúdio com outras atividades profissionais. Grazi é responsável pela linha feminina de jeans da marca TNG e Julia trabalha como repórter do canal de moda do Portal UOL. Já no Estúdio Gralias, a parte de pesquisa e criação, tanto da marca de moda, quanto dos figurinos, é dividida por igual entre as duas. Depois, a Grazi fica responsável pela parte de modelagem e confecção, enquanto Julia cuida dos acessórios e da parte de divulgação. V

Flickr renatamencari

rodução Leo Sang/Rep

Agência Fo tosite/Rep rodução

Julia Guglielmetti e Grazi Cavalcanti, as idealizadoras do Estúdio Gralias

Viste o site do Estúdio Gralias: http://www.estudiogralias.com Saiba mais sobre o Projeto Ponto Zero: http://www.abit.org.br/pontozero/

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Desfile da coleção ¿Y El Toro?, durante o Projeto Ponto Zero, na 32ª edição da Casa de Criadores


Destaque para a Juventude Mundial Campanha da Fraternidade e Jornada ência em 2013 colocam a vida dos jovens em evid

Da Redação

Origem da CF Desde 1964, a CNBB promove, anualmente, a Campanha da Fraternidade, discutindo diferentes temas de interesse público. Essa é a segunda vez que a CF terá a juventude como tema central. Em 1992, a vida dos jovens brasileiros foi pautado, sob o lema “Juventude, caminho aberto”. A retomada do tema foi uma proposição do Setor Juventude da CNBB, que recolheu cerca de 300 mil assinaturas junto aos jovens do Brasil.

Divulgação

O

s jovens representam um quarto da população do País. Hoje são mais de 50 milhões. Nunca foram tantos. Apesar de importantes conquistas em relação à garantia e promoção dos direitos juvenis, eles ainda compõem um dos grupos mais desprotegidos do Brasil: são os mais afetados pelo desemprego, pela violência, pela falta das políticas culturais, de saúde, moradia e outras. Quase dois milhões de jovens não cursam o ensino médio e dos que têm entre 18 e 24 anos, quando poderiam estar na universidade, cerca 70% não estuda. Em 2010, 27 mil jovens foram mortos no Brasil e 60% da população carcerária brasileira têm entre 18 e 29 anos de idade. Em dez anos, o índice de jovens desempregados passou de 18,2% para quase 20% entre as mulheres e de pouco mais de 7% para 9% entre os homens com idades entre 15 e 24 anos. Esses e, certamente, outros números indicam o quanto é preciso avançar nas políticas públicas para a juventude. Colocar este tema em evidência, mobilizar a sociedade e criar espaços para a participação dos jovens são alguns dos passos fundamentais para reverter esse quadro. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pretende fazer isso com a 50ª edição da Campanha da Fraternidade (CF), que terá a juventude como tema central, com o lema “Eis-me aqui, enviame!”.

A CF pretende chamar a atenção da sociedade sobre a vida dos jovens, convidando-a para refletir sobre a sua realidade e, sobretudo, a se solidarizar com eles, promovendo espaços, projetos e políticas públicas que possam ajudá-los a organizarem a própria vida a partir de escolhas fundamentais. “Dentro do sentido da palavra 'acolher' está o valorizar, o respeitar o jovem que vive nesta situação de mudança de época e isso não pode ser esquecido”, destaca o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, dom Eduardo Pinheiro. V

Jornada Mundial da Juventude No ano de 2013, a juventude terá papel de destaque para a Igreja Católica no Brasil. Além da CF, o País também sediará Jornada Mundial da Juventude – Encontro de jovens católicos com o Papa, que pretende reunir cerca de dois milhões de pessoas de mais de 150 países, na capital do Rio de Janeiro, no mês de julho.

Site da Jornada Mundal da Juventude: www.rio2013.com Site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: www.cnbb.org.br

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Capa

Somos todos Chapada do Apodi r projeto do governo federal que Campo e cidade se unem para combate vimento sustentável do País ameaça a vida camponesa e o desenvol

Alessandro Muniz, Ayhuma Amazona, Isadora Morena, Camila Paula Silvestre, do Virajovem Natal (RN)* tem motivado a realização de obras de irrigação pública como esta, buscando assim, solucionar o problema histórico, dando origem à conhecida Indústria da Seca.

O termo “Indústria da Seca” começou a ser usado na década de 1960 pelo jornalista Antônio Carlos Calado, no Correio da Manhã. Referese às ações de políticos que aproveitam os períodos de seca na região do semiárido brasileiro para ganho político próprio, gerando dependência das populações locais.

Jackson An gell

S

ol intenso, calor de rachar. Uma paisagem cinzenta de galhos secos e gado magro. Veículos levantavam poeira do chão. Essa foi nossa percepção da Chapada do Apodi (RN) até chegarmos ao primeiro lugar de nossa jornada, a Agrovila Palmares. “Olha aqui esta área, como é bonito de se ver. Você vê a sequidão tomando conta de tudo, mas os quintais estão bonitos, produtivos”, fala Agnaldo entusiasmado, nosso guia, mostrando o lugar verde e florido onde Franciscos e Franciscas cultivam com suas famílias, de forma orgânica, árvores frutíferas, hortaliças, milho, feijão, sorgo e criam pequenos animais como galinhas e cabras. Agricultura familiar, produção orgânica, agroecologia. São sobre essas bases que vivem cerca de 800 famílias agrupadas em aproximadamente 30 comunidades rurais, entre agrovilas e assentamentos de reforma agrária, na Chapada do Apodi potiguar. Elas serão atingidas, de forma direta ou indireta, pelo Projeto de Irrigação Santa Cruz do Apodi, um perímetro irrigado que desapropriará 13.855 hectares da Chapada do Apodi, área equivalente a 138,5 km². Isso representa uma extensão de terra quase tão grande quanto a zona urbana da capital potiguar, Natal, que tem 167 km², conforme o IBGE. Da Barragem Santa Cruz, do rio Apodi-Mossoró, sairão as águas que alimentarão o projeto. Essa região do Alto Oeste potiguar pertencente ao município de Apodi, ao mesmo tempo em que tem uma terra fértil, sofre, de tempos em tempos, com a seca, característica do semiárido nordestino. A seca

Agricultores locais contestam o modelo de agricultura que o governo federal deseja implantar na Chapada do Apodi

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Projeto da Morte O projeto é uma ação do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) e, segundo o site do órgão, está orçado em 280 milhões de reais, recursos do Ministério da Integração Nacional. É parte de uma série de projetos de combate à seca pensados pelo governo durante a ditadura militar e tirado da gaveta em 2008. Em agosto de 2012, a Ordem de Serviço foi assinada, ato que autorizou o início das obras. Os moradores da Chapada vivem na angústia e na incerteza de perderem suas terras e de não saberem ao certo se serão prejudicados ou beneficiados. A área será loteada em cinco zonas e dividida entre empresas, técnicos, agrônomos e pequenos e médios agricultores para a produção de fruticultura irrigada para exportação. Contudo, serão cinco empresas multinacionais que farão a gestão dos lotes. Enquanto conversávamos no carro a caminho dos assentamentos, Francisco Agnaldo de Oliveira Fernandes, de 26 anos, agricultor familiar sem terra do Vale do Apodi, licenciado em geografia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Apodi (STTR), nos conta a incoerência dessa divisão. “O DNOCS não especifica quais são as cinco empresas, mas apenas os sistemas de produção. A área será dividida em lotes de oito hectares, o que faz parecer que o projeto é para o pequeno agricultor. Mas ele não vai ter a liberdade de produzir o que quer”, afirma. Agnaldo explica que já está determinado no projeto o que deve ser plantado em cada uma das cinco áreas: culturas como cacau e uva, que são desconhecidas dos agricultores locais. “Nossa experiência não dá para isso”, afirma ele, o que implica que para fazer esses cultivos, será preciso grande investimento e assistência técnica, que, em geral, os pequenos agricultores não possuem. Além do mais, por não serem frutas da região, não são adaptadas ao clima local e requerem mais insumos químicos na produção. O DNOCS justifica a escolha dessas culturas por estudos

técnicos realizados nos anos 1980, completa o geógrafo, mas os agricultores não têm acesso a esses “estudos”. Na época em que o projeto foi pensado não havia tantas comunidades rurais na área como atualmente. Com a retomada da ação nos anos 2000, os órgãos governamentais se depararam com centenas de famílias, a maioria assentadas pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) após anos de luta pela posse da terra. O DNOCS irá desapropriá-las, pagando indenização. As primeiras delas serão as da Agrovila Palmares, pois os terrenos serão usados para dar apoio ao restante das obras. Ademar Alves Neto, agricultor e criador de pequenos animais na Palmares, sobre a indenização, desabafa que “é uma coisa que a gente sempre pergunta [aos representantes do DNOCS], mas não há um fato real. Dizem que vamos ser indenizados. A gente pergunta o preço e não sabem. Outra vez já disseram que era 700 reais por hectare, mas é uma história muito variada”. Cada morador da agrovila tem cerca de 11 hectares, o que representaria cerca de 7.700 reais de indenização para toda uma família. Quem poderia reconstruir uma vida com esse valor? Essa é uma das razões que motivou o apelido Projeto da Morte entre os agricultores de Apodi. O intensivo do agrotóxico é outro motivo.

Agricultores de Apodi, movimentos sociais e grupos de defesa dos direitos humanos realizam protestos contra o Projeto da Morte

Jackson Angell

Alessandro Muniz

O uno vermelho ficava mais empoeirado a cada metro da estrada, enquanto Agnaldo (à direita) e Francisco Antônio, o Tantico, nos levava às comunidades rurais da Chapada do Apodi (RN)

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Capa Agroecologia x Agronegócio

A agroecologia é uma proposta diferenciada de agricultura que agrega conhecimentos das ciências naturais e das ciências sociais. Pratica-se o respeito pelo ciclo natural da terra, promovendo assim a sustentabilidade do meio ambiente, da economia e da sociedade.

A Chapada do Apodi tem diversas experiências bem sucedidas de agricultura familiar, baseadas na produção agroecológica. A região é a segunda produtora nacional de mel e um dos maiores produtores de arroz vermelho orgânico do Nordeste, além de produzir polpa de fruta e de ter larga produção de ovinos e caprinos. É o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do Rio Grande do Norte, superando locais em que projetos de perímetro irrigado já foram instalados no Estado, como Baraúnas e Ipanguaçu. Essas experiências estão em risco, à medida que se aproximam o início das obras. O morador da comunidade vizinha Assentamento Lage do Meio, atingida indiretamente, relata seus temores e expectativas acerca do Projeto. Francisco Moreira da Costa, o Seu Tico, de 64 anos, apicultor e criador de ovelhas, afirma que “para apicultura é um prejuízo muito grande, porque é capaz das abelhas desaparecerem, sendo banhadas por veneno”. Diz convicto: “Tenho a maior certeza que vai aparecer muita gente com câncer. Aqui perto uns japoneses usam agrotóxicos e lá tem gente que morreu com câncer e outros que estão cancerosos. Eles querem saber se produzem, não querem saber se vão matar a terra, se vai prejudicar alguém. Quando a terra morre, mudam pra outro canto.” Em contraste com o modelo do agronegócio, destacase o agroecológico. O produtor de mel assegura que “é muito bom produzir de forma orgânica, porque a gente sabe que não vai prejudicar ninguém. Nós vendemos pras escolas e os nossos próprios filhos podem comer. Se nós vendemos um produto com insumos químicos pode fazer

Inviabilidades

Alessandro Muniz

mal a qualquer pessoa”.

O apicultor Francisco Moreira da Costa, Seu Tico, mostra o mel orgânico produzido no assentamento Laje do Meio

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O artigo científico Os Perímetros Irrigados como estratégia geopolítica para o “desenvolvimento” do Semiárido e suas implicações à saúde, ao trabalho e ao ambiente analisa os impactos humanos e ambientais do Perímetro Irrigado do Jaguaribi-Apodi (Ceará), implantado nos anos 1990. Publicado pela professora doutora Andrezza Graziella Veríssimo Pontes, da UERN, na Revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, o texto destaca que este “traz implicações para o trabalho, o ambiente e a saúde, tais como: a concentração de terras e os deslocamentos compulsórios da população; a violência; o comprometimento da segurança alimentar; mudanças nas práticas sociais e laços de vida comunitária; imposição de novos hábitos culturais; mudanças na dinâmica de cidades vizinhas, com a formação de ‘favelas’ rurais; uso intensivo de novas tecnologias de mecanização e de insumos (fertilizantes e agrotóxicos)”. O artigo mostra também que projetos como esse acarretam “relações e condições de trabalho precarizadas com baixa remuneração, descumprimento da legislação trabalhista, intensificação do trabalho, exposição a situações de risco à saúde; redução da biodiversidade e dos serviços ambientais, degradação do solo pela monocultura e risco de desertificação; elevado consumo de água; contaminação do ar e de águas superficiais e subterrâneas por fertilizantes e agrotóxicos; exposição das comunidades do entorno das fazendas à contaminação pelos agrotóxicos utilizados de forma intensiva”. Além das violações de direitos dos agricultores e moradores da Chapada e o risco à saúde humana, o projeto coleciona ainda uma série de problemas técnicos, ambientais e culturais que o inviabilizam. O professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFRN João Abner, doutor em Engenharia de Recursos Hídricos, afirma que “o principal agravante do projeto é que não há água suficiente. A vasão


Jackson Angell

necessária para irrigar apenas a primeira etapa do projeto é de seis metros cúbicos por segundo. Mas a Barragem que vai alimentar o projeto tem disponibilidade de água para todos os usos, que são muitos, de apenas quatros metros cúbicos por segundo”. Ele continua explicando que “a outorga dada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente é de apenas dois metros cúbicos por segundo. Só essa questão da água já deveria inviabilizar todo o processo”. Para Abner, o projeto “replica as experiências mal sucedidas da irrigação pública”. E exemplifica que “existem cerca de 240 mil hectares de infraestruturas de perímetros públicos no Nordeste e destes, apenas cem mil funcionam mais ou menos. O restante não produz nada”. O dossiê realizado pelos órgãos defensores dos direitos humanos e diversos movimentos sociais contra o projeto denuncia também danos ambientais e culturais resultantes do desmatamento e uso de agrotóxicos. O documento aponta que “a região apresenta (...) características de relevo, fauna e flora peculiares, possuindo uma ampla lista de espécies endêmicas [só encontradas naquele lugar], bem como formações arqueológicas de grande importância para o patrimônio histórico e cultural brasileiro que, da mesma forma, encontram-se em risco latente de degradação”.

Protesto realizado dia 25 de julho de 2012, dia do trabalhador rural, percorrendo Apodi para sensibilizar a população

Somos todos camponeses e camponesas da Chapada do Apodi Esse é o espírito que une todas as pessoas do campo e da cidade que lutam contra a implantação deste Perímetro Irrigado. Agricultores, estudantes, professores, sindicalistas, militantes dos movimentos sociais, advogados, padres, inúmeras pessoas de muitos cantos do RN e de outros Estados sensibilizam-se e mobilizam-se em defesa dos camponeses e camponesas da Chapada do Apodi. No Apodi, as comunidades se auto-organizam a partir de Associações Comunitárias que se reúnem todos os meses em Assembleias. Há também o Fórum da Agricultura Familiar e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, onde os agricultores se articulam. Essas entidades iniciaram as resistências contra o Projeto da Morte, mobilizando a sociedade civil e os movimentos sociais. A Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares dos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará (RENAP/RN-CE), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (FETARN), a Marcha Mundial das Mulheres, o Grito dos excluídos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Via Campesina, entre vários outros movimentos, grupos, instituições e indivíduos somam-se a essa causa.

Revista Viração • Ano 10 • Edição 92 23


Os adolescentes e jovens de Apodi também estão envolvidos. O estudante secundarista Patrício Albuquerque de Siqueira, de 19 anos, do Fórum Municipal de Juventude (FMJ), conta que “no começo era a favor [do projeto], porque tinha a visão contada pelo pessoal do DNOCS de que iria gerar emprego, mil maravilhas. Depois me informei mais, quando estudantes universitários passaram na minha escola esclarecendo sobre o projeto. Agora, eu e o FMJ estamos participando diretamente, fazendo matérias no blog e discussões nas escolas”. Patrício refere-se à propaganda oficial, que promete empregos, desenvolvimento e progresso, o que acaba encantando e convencendo a muitos moradores e agricultores, que desconhecem seus impactos negativos. Diversos protestos, reuniões e audiências públicas já foram realizados. Na internet existem blogs, uma petição online e mobilização nas redes sociais, convocando toda a população brasileira a olharem para o campo, assim como olharam para a causa indígena Guarani-Kaiowá. Não se trata apenas de opor-se e resistir ao Perímetro Irrigado. Deseja-se investimentos, que esses recursos sejam aplicados, mas de forma que valorize e apoie as boas experiências da região. Já existe um contraprojeto colocado como alternativa, elaborado pelos professores João Abner e João Matos Filho, do Departamento de Economia, que busca potencializar as experiências existentes, garantindo uma água barata ao pequeno agricultor e o auxílio necessário para seu desenvolvimento. “Apodi já é modelo em nível nacional na questão da agricultura orgânica. Por que não traz a água pra beneficiar os próprios agricultores? Vão ter que tirá-los da terra pra entregar para o pessoal de fora”, critica o agricultor José Wilson de Freitas, de 36 anos, do Assentamento Paraíso, indiretamente atingido pelo projeto. Agnaldo também questiona: “Por que quando a água chegar na Chapada, o povo terá que sair? Que desenvolvimento é esse? Para quem ele é?”.

Alessandro Muniz

Capa

O agricultor José Wilson mostra sua horta orgânica verde e produtiva em plena seca nordestina, devido à irrigação com água de poço. A região é rica em águas subterrâneas

Blog contra o Projeto da Morte e STTR http://noticiasdocamposttr.blogspot.com.br/ Vídeo do protesto da Marcha Mundial de Mulheres contra o Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi http://migre.me/cQ4Pe

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Artigo Os Perímetros Irrigados como estratégia geopolítica para o desenvolvimento do Semiárido e suas implicações à saúde, ao trabalho e ao ambiente: http://migre.me/cQ4Rq


Ewerton Maia

E eu com isso?!

Nã o estás à

venda!

ea Do trabalho forçado à exploração sexual: desd ana permanece antiguidade, o paradigma da escravidão hum Elizabeth Lucena e Ewerton Maia, do Virajovem Manaus (AM)*

D

esde os tempos primórdios, o ser humano vem explorando seus semelhantes. O tráfico de seres humanos é uma prática que está ligada a tempos antigos e, nos tempos modernos, acabou por ganhar um amplo espaço quase sem ser notado, ou seja, virou um gigante camuflado de outros crimes que têm maior propagação. A expansão desse ato ilícito ocorre em todo o mundo e leva homens, mulheres e crianças a trabalharem em condições desumanas, sendo tratados como mercadorias. No Brasil, essa prática inicia-se já com a chegada dos portugueses, que fizeram uso do trabalho indígena. A partir daí, no século 16, o negro foi, forçadamente, trazido para preencher esse papel de força de trabalho compulsória e somente no século 19 é que foi assinada a Lei Áurea, que os libertou da escravidão. Porém, mesmo após tantos anos, ainda é devastadora a dimensão desse fenômeno, usado hoje em dia,

principalmente, para fins de exploração sexual, trabalho escravo, transporte de drogas, comércio de órgãos, entre outras práticas desumanas. Para viabilizar essas situações, os traficantes de seres humanos dispõem de métodos desumanos: ameaçam e coagem as pessoas, principalmente as que vivem desprovidas de condições dignas de vida – pobreza, desemprego, fome, falta de moradia etc. Hoje em dia, esse tipo de crime tornou-se conhecido como “escravidão contemporânea” e, diferente de como acontecia em tempos antigos, atualmente é combinado com outros crimes, tomando diferentes proporções como, por exemplo: exploração infanto-juvenil, conflitos civis, trabalho forçado, pedofilia, migração ilegal e prostituição sob coerção. Na maioria das vezes as vítimas do tráfico de pessoas no Brasil, em sua maioria, são jovens, negras, solteiras, de baixa renda e com pouca escolaridade. Os aliciadores são, muitas das vezes, homens adultos, com alto nível de escolaridade, que trabalham em casas de show, bares e

agências de encontros e se usam da falta de perspectiva das pessoas para enganálas com promessas de emprego e bons salários, fazendo-as acreditar numa possibilidade de melhorar de vida. Porém, o tráfico de pessoas agride os direitos humanos e vem crescendo devastadoramente em todo o mundo, pois as investigações contra ele ainda são muito fragilizadas. Para combatê-lo é preciso que as pessoas tenham mais informações, visto que esse tipo de crime permanece escondido, com pouca divulgação. É necessário que haja intervenções para combatê-lo e que a população fique alerta para esse tipo de situação. Para isso, o Ministério da Justiça criou um serviço telefônico gratuito para denunciar quadrilhas de tráfico de pessoas. No Brasil, basta discar 100. A denúncia também pode ser feita via internet, através do email: disquedenuncia@sedh.gov.br. O sigilo é garantido. V *Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Na era do sexting da intimidade de jovens Pesquisas mostram que a exposição muitos países na internet tem sido corriqueira em

Nealla Machado, do Virajovem Campo Grande (MS)*

Adeptos no envio de fotos sexuais entre casais

U

ma moça envia fotos de calcinha e sutiã para seu namorado. Este comportamento é o que chamamos de sexting, ou seja, o envio de imagens de conteúdo sexual, produzidas espontâneamente, com consentimento das partes envolvidas e sem fins lucrativos. O principal meio de propagação do sexting são os celulares. No entanto, essa prática abrange também outros meios eletrônicos, como computadores, tablets ou smartphones. A expressão sexting vem da língua inglesa, e foi criada pela união das palavras sex (sexo) e texting (envio de mensagens de texto). Em uma tradução literal significaria “sexo por mensagens de texto”. E sua origem está relacionada ao avanço das tecnologias de telecomunicação. Com o progresso tecnológico, os celulares e smartphones passaram a permitir que os usuários acrescentassem fotos, vídeos e músicas em suas mensagens de texto, expandindo o conceito de “texting”. Embora o sexting seja algo recente, o compartilhamento de imagens com conteúdo sexual não é nenhuma novidade. A sexualidade é uma das vertentes que compõem a personalidade dos humanos desde seus primórdios. E como seres comunicadores que somos, muitas vezes, temos a necessidade de expressar a sexualidade por meio da imagem, seja por pinturas, fotografias ou vídeos. O sexting é mais comum entre os jovens e adolescentes. Uma pesquisa realizada pela Universidade Texas Medical Branch, nos Estados Unidos, mostra que cerca de 80% dos adolescentes que enviaram mensagens sexuais já praticam sexo. Publicada em julho de 2012, ela envolveu 948 alunos de escolas públicas do Estado do Texas durante dois anos. Em nosso País não existem pesquisas oficiais sobre o tema. No entanto, a revista americana Time coloca os brasileiros como os principais adeptos do envio de fotos sexuais entre casais, via smartphone. Segundo o relatório, 64% dos pesquisados no Brasil adere à prática. Em outros países analisados, a taxa foi de 54% na Índia, 45% na África do Sul e 25% nos Estados Unidos. Os dados fazem parte da reportagem de capa da edição de setembro de 2012 da revista, que traz um estudo feito em conjunto com a empresa do ramo de

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E.U.A.

25% 54% ÍNDIA

64% BRASIL

45%

ÁFRICA do SUL

*revista Time

Adolescentes norte americabos entre 12 e 18 anos Possui Smartphone

75%

Já praticaram sexting

Conhece alguém que já praticou sexting

15%

15%

*revista Pediatrics

Receberam convite para praticar sexting

42%

70%

No Brasil

12,1% *SaferNet/2009

das 2.525 crianças e adolescentes ouvidos já haviam praticado o sexting usando algum dispositivo eletrônico.


tecnologia Qualcomm, no qual entrevistou cinco mil pessoas nos Estados Unidos, Reino Unido, China, Índia, Coreia do Sul, África do Sul, Indonésia e Brasil. As imagens frutos de sexting podem ser usadas como uma forma de vingança, por meio da exposição humilhante do outro na rede. Os motivos podem ser diversos, como o término de um relacionamento, uma traição, ou até mesmo uma simples briga. As imagens são espalhadas na web, causando todo o tipo de constrangimento para a pessoa exposta. De acordo com o blogueiro Ande Teixeira, esses casos são muito comuns na internet. “A gente cansa de ver casos de ex-namorados expondo ex-namoradas, então não é uma coisa muito segura.” Mesmo sendo adepto do sexting, Ande tem suas ressalvas: “Eu não sou a favor de você identificar o seu rosto em nenhuma situação, mesmo para o namorado. Nunca sabemos o dia de amanhã”, completa. Uma vez postado um conteúdo é praticamente impossível retirá-lo da rede. É o que Ande Teixeira chama de “efeito internet”, o fato de, qualquer conteúdo postado ficar virtualmente “para sempre” na internet. A psicóloga da SaferNet Juliana Cunha comenta que “chega a ser uma ironia, mas é interessante dizer que todo mundo no futuro deveria ter direito de mudar o próprio nome para poder apagar o passado que a internet gravou”. Ela diz que as pessoas estão começando a entender os efeitos reais das postagens na rede somente agora. Garantir o direito à informação, intimidade, vida privada, e imagem na era da internet não tem sido tarefa fácil. Em seu livro Direito e Internet: Liberdade de Informação, Privacidade e Responsabilidade Civil, Liliana Paesani explica que “o problema reside no fato de que a internet não é uma entidade física, e as leis existentes só fazem sentido onde há fronteiras e jurisdições tradicionais.” De acordo com o promotor da Vara da Infância e da Juventude de Campo Grande, Sérgio Harfouche, as leis não conseguem acompanhar as mudanças provocadas pela internet e, hoje, não existem aparatos legais que possam dar suporte às vítimas das consequências negativas do sexting. A recomendação da SaferNet é que as pessoas não produzam ou deixem os outros produzirem fotos, vídeos ou arquivos em áudio que possam prejudicá-las depois, em nenhum meio eletrônico. Juliana afirma que “é difícil, mas a gente sabe que uma vez registradas as imagens, que podem ser íntimas, ou que podem ser de uma situação constrangedora, você corre o risco dessas imagens serem roubadas. Então é muito difícil você ter controle disso”, finaliza. V

*Uma das Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Deseducar para compreender mostrará 12 modelos para Projeto Educ-ação reunirá e fessores e pais inspirar jovens, escolas, pro Thaís Barros, do Setor 3*

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ual seria o modelo educacional inspirador para você? Uma escola construída em bambu, ou uma que ensina português e matemática por meio de games? Ou outra com uma divisão de classes por assuntos compatíveis em vez de ser pela idade? Ou quem sabe ir para uma universidade, na qual a temática é sustentabilidade, ou empreendedorismo? Esses e outros modelos educacionais espalhados pelo mundo estão sendo pesquisados pelos idealizadores do EducAção, um grupo de quatro ativistaseducadores-deseducadores, como se autointitulam. Eduardo Shimaraha, mais conhecido como Shima, diretor de inovação e sustentabilidade do Anima Educação; o jornalista André Gravatá e as pesquisadoras Camila Piza e Carla Mayumi foram em busca de práticas de ensino diversificadas e autônomas nos cinco continentes do planeta e o fim dessa jornada resultará no livro Volta ao Mundo em 12 escolas. Essa publicação exigiu uma pesquisa detalhada sobre inúmeras escolas e contou com a ajuda de amigos, que acreditaram na iniciativa publicada no Catarse, um site de financiamento coletivo, que conseguiu arrecadar 57 mil reais, quase 10 mil reais a mais do que precisavam. O valor solicitado, até 9 de novembro do ano passado, era de 48 mil. A obra, escrita por André, terá como finalidade inspirar, mostrar às escolas brasileiras, jovens curiosos, pais inquietos e educadores empreendedores que é possível ensinar e aprender de outra forma. Esse livro pretende possuir uma

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visão pouco acadêmica, pois nenhum dos integrantes tem formação em educação e relatará as histórias vividas por cada um nas instituições. Previsto para ficar pronto no segundo semestre de 2013, contará com uma versão gratuita e disponível para download, além de compartilhar seu conteúdo em Creative Commons, ou seja, qualquer pessoa poderá copiar e colar onde quiser desde que os fins não sejam comerciais."Estamos querendo abrir os caminhos, mostrar outras possibilidades de fazer educação com mais autonomia e que é possível fazer na prática uma educação inovadora. Nosso objetivo não é falar que os 12 modelos são os melhores e que a educação tradicional não funciona. Ele funciona, mas não para todos. Existem pessoas que gostariam de experimentar outras práticas", diz André.

Quem são e como funcionam Segundo Carla Mayumi, sete instituições foram visitadas, mas ainda faltam cinco escolas para serem percorridas. A Quest to Learn é uma delas, conhecida pelas crianças por aprenderem por meio da produção de jogos. As demais são duas instituições no Brasil e uma na África. Uma escola na Argentina ainda está


Renan Vieira Andrade

Acesse os sites dos projetos Edu-Ação e Anima Educação: http://educ-acao.com/ e http://www.animaeducacao.com.br/ Confira na página do Catarse o projeto postado: http://catarse.me/pt/livro-volta-ao-mundo-em-12-escolas

sendo avaliada. Em todas as visitas, feitas durante o ano letivo, o grupo pôde viver as instituições por uma semana cada e entrevistar estudantes, professores, pais e diretores, durante esse tempo. "A gente enxergou a valorização do protagonismo, a autonomia e um grande estímulo à criatividade do aluno praticamente em todas as escolas que visitamos. Quando a Carla chegou na Green School, os alunos a mostraram e explicaram com confiança sobre a escola.", diz Shima. "Alguns alunos me disseram como as outras escolas são diferentes das que ele estão atualmente, pois antes eram vistos como números. Os professores mal os conheciam. Hoje são vistos como pessoas que possuem gostos, habilidades e eles se sentem especiais", ressalta Carla Mayumi. Segundo André, na escola Politeia, cada jovem decide o tema do projeto pessoal que será desenvolvido ao longo do semestre. O professor, que ouviu todas essas decisões e dialogou com eles para tentar chegar a uma decisão mais adequada, decidirá o tema do semestre. A partir daí, o tutor irá pensar como relacionar os temas individuais com os assuntos curriculares. Para os professores desenvolverem esse tipo de trabalho, segundo o grupo do Educ-Ação, é exigida a qualificação e o aprimoramento desse profissional todos os dias. Seja como os professores na Riverside, formados em jornalismo e

literatura, mas precisam reservar um tempo para estudar educação, seja na Politeia, onde o professor deve aceitar o desafio do aprendizado diário, pois ele deve estar de olho nas necessidades de cada aluno. "Acho que são os professores que estão se questionando. Aceitam que cada dia é diferente. E eles seguiram os rumos convencionais, até porque não existe uma formação diferente", diz André. Além da formação desse educador, o jornalista André ainda chama atenção para a lei de Diretrizes e Bases."Essa lei permite que as escolas brasileiras sejam autônomas e criem seus próprios projetos. Portanto, já existe uma prerrogativa para que outras iniciativas surjam e ela está na lei", afirma. Ele também conclui citando uma das professoras do International Youth Initiative Program (YIP), de Järna, Suécia, sobre os processos de educação que tentam reinventar as práticas tradicionais: "O importante são os princípios e não práticas, ou modelos. O mais importante é ver o princípio que está sendo exercitado e tentar fazer com que esse seja a base de uma nova iniciativa". V

As fotos que ilustram a matéria são parte de um projeto russo de anuários estudantis criativos *www.setor3.com.br

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No Escurinho

Nas trilhas da geração "beat" Walter Salles aborda o Filme dirigido pelo brasileiro 50 r da juventude dos anos 19 comportamento transgresso Sérgio Rizzo, crítico de cinema*

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ma das principais inspirações do movimento de contracultura dos anos 1960, a geração beat foi assim batizada para caracterizar um grupo de escritores norte-americanos ligados – na vida e na obra – a atitudes transgressoras nos anos 1950, como o consumo de drogas e a liberdade sexual. Jack Kerouac (1922-1969) foi seu principal representante, em virtude da repercussão do romance On the Road – Pé na Estrada, publicado em 1957 e que faz referências a outros personagens dessa geração. Durante muitos anos, acreditou-se que a aguardada versão cinematográfica de On the Road seria dirigida por Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão, Apocalypse Now), que havia comprado os diretos de adaptação. Outro nome ligado ao projeto foi o do também norte-americano Gus van Sant (Elefante, Paranoid Park). Mas aconteceu o inesperado: o projeto foi parar nas mãos de dois estrangeiros, o diretor brasileiro Walter Salles (Central do Brasil, Linha de Passe) e o roteirista porto-riquenho José Rivera (Cartas para Julieta), graças ao êxito internacional de Diários de Motocicleta (2004), sobre a juventude de Che Guevara. Coppola apadrinhou a escolha da dupla e manteve-se apenas como produtor executivo de Na Estrada. A imprensa de diversos países foi generosa com a adaptação, mas o público ficou muito aquém do esperado. A aventura existencial de Kerouac já não exerce apelo sobre os jovens de hoje? No Brasil, o lançamento em DVD pode ajudar na busca por respostas. No filme, um jovem escritor (Sam Riley) e um de seus melhores amigos (Garrett Hedlund) viajam pelos Estados

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Unidos dos anos 1950. O primeiro admira a liberdade do segundo, cujo comportamento desrespeita os padrões conservadores da época. Mas, com o tempo, a relação entre os dois se torna mais complexa e envolve também outros personagens. Por fim, o escritor usa o amigo como inspiração para um romance. Salles (que realizou um documentário sobre o livro antes de rodar o filme) e Rivera procuram recriar o estado de espírito da geração norte-americana do pós-segunda Guerra Mundial. Assim como a obra de Kerouac, eles fazem uma espécie de inventário poético dos desejos e incertezas da juventude – provavelmente a juventude de qualquer lugar ou período.

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de ritor e um jovem esc s m u lo e , e p No film s viajam res amigo o lh e 0 m 5 9 s 1 seu anos nidos dos Estados U

* www.sergiorizzo.com.br


Que Figura!

O mestre laas curvas Oscar Niemeyer é, sem dúvida, o maior arquiteto da história do Brasil

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arioca, nascido no ano de 1907, Oscar Niemeyer é um visionário na arquitetura dentro e fora do País. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, começou sua carreira no escritório de Lúcio Costa. O jovem rapaz se tornaria o escolhido por Juscelino Kubitschek para projetar o Conjunto da Pampulha, e também a então mais nova capital do País, Brasília, no coração do Brasil. Suas obras chegam ao incrível número de 600. Mas, as conquistas do grande profissional não ficaram apenas em terras nacionais. Niemeyer fez parte do comitê que realizou a construção da sede da ONU em Nova York, lançou uma coleção de móveis na Europa, e em 2011 foi inaugurado o Centro Cultural Oscar Niemeyer, na Espanha. Ele ainda passou um período exilado em 1974, durante a ditadura militar. Dotado por um estilo inovador, em que as curvas bem marcadas são presença registrada de suas obras. E reconhecido por um estilo com sua marca, e sua identidade. Ele dizia que o ângulo reto não lhe atraia, o verdadeiro interesse estava nas curvas, que eram uma representação do natural, do universo. Algumas capitais brasileiras também foram presenteadas por projeções especiais feitas pelo arquiteto. São Paulo, por exemplo, com o Edifício Copan, o Memorial da América Latina e o Auditório do Ibirapuera. O Rio de Janeiro, com o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, cidade que mais tem obras do artista, além de outras cidades como Curitiba e o Estado de Minas Gerais, que também tiveram esse privilégio. Além de todos seus trabalhos, entre os quais hotéis, museus, e diversos pontos turísticos, Niemeyer tinha um apreço e um gosto maior pelas igrejas que planejou mesmo sendo comunista e ateu convicto. Ele justificava as criações dizendo que veio de uma família muito religiosa. A religião teve um espaço natural na sua infância. Conhecido também por suas opiniões fortes e paixão pelo trabalho, Niemayer se tornou viral na internet ao dizer que queria sair do hospital para trabalhar, e por se mostrar lúcido e ainda ativo na profissão com

seus então 104 anos. Postagens do Facebook e até mesmo blogs brincavam e citavam todas as mudanças já ocorridas no grande tempo de vida do arquiteto. Depois de complicações na saúde e internações, Oscar Niemeyer morreu no Hospital Samaritano do Rio de Janeiro no dia 5 de novembro de 2012, pouco mais de um mês antes do seu aniversário de 105 anos. Deixou um grande legado para a arquitetura mundial e admiradores espalhados por todos os cantos do mundo. V

“Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito.” Oscar Niemeyer

*Uma das virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Sexo e Saúde

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exo anal é um tema que reúne duas coisas que sempre foram motivo de vergonha para a humanidade: merda e sexo. Questões bem recorrentes são: dói? É bom? Suja? Infelizmente, as respostas para essas perguntas são bem relativas. Certo mesmo é que de “lá” não saem flores. Mesmo assim, é melhor evitar o “cheque”, que são aqueles resquícios de fezes indesejados, e ter uma experiência mais agradável. Além de uma alimentação rica em fibras e ir ao banheiro horas antes do sexo, outra dica é fazer a chuca, também chamada de enema. Por isso, a Viração consultou o proctologista Dr. Rubens Valarini e o médico Dr. Ivan Jorge Ribeiro para esclarecer mitos e verdades sobre essa prática de higienização anal. V

Vinícius Gallon, do Virajovem Curitiba (PR)*

Natália Forcat

O que é o enema (chuca) e quais são as suas indicações? Trata-se da introdução de líquido no ânus para realização de limpeza ou infusão de medicamentos no canal anal. É indicado em casos de impactação de fezes no reto, realização de exames, introdução de medicamentos e antes do sexo anal. Enemas adquiridos nas farmácias podem ser aplicados pela própria pessoa. A chuca deve ser feita antes do sexo anal? É importante para eliminar os resíduos fecais ali contidos. Isso não significa eliminar totalmente a possibilidade de contaminação. O enema provoca uma higienização e não uma esterilização do reto, podendo provocar contaminação no parceiro, caso não se utilize preservativo, que deve sempre ser usado, pois protege da contaminação bacteriana e das doenças sexualmente transmissíveis (DST). Algumas pessoas utilizam materiais alternativos para fazer a chuca, como o chuveirinho e até garrafa pet. Quais são os riscos? Não é seguro, pois há riscos de provocar traumas no local, que acarretam em complicação grave, que, por vezes, necessitam de tratamento cirúrgico.

Dicas do Dr. Ivan Jorge Ribeiro: Na chuca caseira, evitar água clorada, que destrói a flora intestinal e não utilizar muita água de uma só vez. Muita gente deixa a água entrar até sentir dor, isso pode romper o intestino. O ideal é utilizar até um litro de água morna ou fria e evacuar no vaso assim que sentir qualquer desconforto. Além disso, o excesso de água causa dificuldade de reter as fezes ou o contrário: o intestino pode se acostumar com a chuca e ficar “preguiçoso” e a pessoa não consegue mais evacuar normalmente. Fazer a chuca todos os dias também não é recomendado, porque pode perturbar a flora intestinal e causar diarreias e infecções.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é redacao@viracao.org

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Rango da terrinha

Salpicão de Verão leve, Salada com aipo e iogurte é um prato ideal para as refeições no verão Alexander Silva, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*

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ara a galera que torce o nariz para vegetais que nunca experimentou, aí vai um lembrete: o aipo era utilizado para coroar os vencedores dos jogos gregos. Também conhecido como salsão, é riquíssimo em vitaminas e outros nutrientes, o que ajuda a ficar imune a diversas doenças. E os gregos já sabem disso desde a antiguidade, tanto é que o utilizavam como erva medicinal. Motivos não faltam para quebrar o tabu e fazer uma salada que cai muito bem no verão. Ainda mais quando está geladinha. Lembrando que os outros ingredientes também darão sabor ao prato que, por sinal, pode ter menos calorias se a quantidade do açúcar e do creme de leite forem diminuídas. Então, aproveite o verão com a super salada com aipo, que serve quatro pessoas! V

Modo de preparo

½ peito de frango; 1 xícara de chá de aipo picado; 1 maçã verde picada; 1 cenoura média ralada; 1 colher de sopa de açúcar; 1 copo de iogurte natural; 1 caixa de creme de leite; Sal a gosto.

Cozinhe o peito de frango e o desfie em seguida. Depois misture o creme de leite com o iogurte, acrescentando posteriormente o açúcar e o sal. A seguir, adicione o frango já desfiado, a cenoura e a maçã. Por último, coloque o aipo. Prontinho! O salpicão é um excelente acompanhamento para arroz e frango assado! Bom apetite!

Alexa nder

Silva

Ingredientes

CUPOM DE ASSINATURA anual e renovação 12 edições ++ newsletter É MUITO FÁCIL FAZER OU RENOVAR A ASSINATURA DA SUA REVISTA VIRAÇÃO Basta preencher e nos enviar o cupom que está no verso junto com o comprovante (ou cópia) do seu depósito. Para o pagamento, escolha uma das seguintes opções: 1. CHEQUE NOMINAL e cruzado em favor da VIRAÇÃO. 2. DEPÓSITO INSTANTÂNEO numa das agências do seguinte banco, em qualquer parte do Brasil: • BANCO DO BRASIL – Agência 2947-5 Conta corrente 14712-5 em nome da VIRAÇÃO OBS: O comprovante do depósito também pode ser enviado por fax.

*Um dos Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

3. VALE POSTAL em favor da VIRAÇÃO, pagável na Agência Augusta – São Paulo (SP), código 72300078 4. BOLETO BANCÁRIO (R$2,95 de taxa bancária)


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NOME ENDEREÇO CEP CIDADE

FONE(RES.) ESTADO

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/ em Cheque nominal Depósito bancário no banco Vale Postal Boleto Bancário Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

FORMA DE PAGAMENTO: TIPO DE ASSINATURA:

Chico Rafael, Leonardo Nora e Marcos Craveiro, do Virajovem Rio Branco (AC)*

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esde a criação do Projeto de Saúde e Prevenção em Rio Branco (SPB), em 2009, vários jovens da capital do Acre e do interior vêm passando por um processo de sensibilização e aprendizado sobre os temas sexualidade e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e aids. O projeto tem como objetivo incentivar o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a educação sexual, com a redução da incidência das doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo vírus HIV entre a população jovem. Outro objetivo é contribuir para a redução da incidência de gravidez não planejada entre adolescentes e jovens, além de enfrentamento à violência e às drogas. O projeto começou atendendo as dúvidas sobre sexualidade dos estudantes da Escola Estadual Barão do Rio Branco, na capital do Acre. A partir disso, o grupo de jovens responsável pelo projeto formou vários jovens e os agregou às ações de capacitação. Hoje, o projeto conta com 15 coordenadores e mais de 600 membros aptos para tornarem-se novos multiplicadores. Em 2011, alunos de escolas públicas na capital e cem alunos de escolas públicas nos municípios do interior do Estado passaram pelo processo de sensibilização. Em 2012, foi estipulada uma meta para que em 2013 o número de jovens formados seja de 1500 na capital e no interior.

O SPB, por meio de jovens voluntários, tem contemplado as escolas de bairros periféricos para sensibilizar também os jovens da periferia, mostrando que oportunidades não são oferecidas apenas para os jovens de maior renda, mas, também aos que moram em bairros periféricos e de baixa renda. O projeto tem trabalhado com linguagens atuais da juventude, focando na formação de jovens como multiplicadores, para que seja facilitada a aprendizagem de seus pares. V

Divulgação

FONE(COM.) E-MAIL

SEXO

Juventude de Rio Branco mobiliza jovens para a sensibilização em prevenção e sexualidade

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Assinatura nova Renovação De colaboração Exterior

PREÇO DA ASSINATURA

Replicando prevenção

Jovens do SPB passam por processos de sensibilização para prevenção de DSt e aids

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal



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