Revista Digital 6a. Edição - Consciência Negra

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REVISTA DIGITAL – 6ª. EDIÇÃO DIREITO EDUCACIONAL DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA- Por Valéria Reani 24/11/2009

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120 ANOS DEPOIS DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

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O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de Novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. O dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte forçado de africanos para o solo brasileiro (1594). Algumas entidades como o Movimento Negro (o maior do gênero no país)

organizam

palestras

e

eventos

educativos,

visando

principalmente crianças negras. Procura-se evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade. Outros temas debatidos pela comunidade negra e que ganham evidência neste dia são: inserção do negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, se há discriminação por parte da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra, etc. O

dia

desde

é a

celebrado década

de

1960, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos; até então,

o

movimento

negro

precisava

se

contentar com o dia 13 de Maio, Abolição da Escravatura

comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da

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princesa Isabel, ou seja, ser uma celebração da atitude de uma branca. Já que o dia 20 foi dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade

brasileira,

vamos

apontar

algumas

considerações

relevantes. Cento e vinte um anos após o fim da escravidão, a vida dos negros em geral e dos trabalhadores negros mudou apenas na possibilidade de participação nos movimentos sociais e sindicais. De resto, estão excluídos. Seja nas oportunidades de emprego, no acesso às universidades, na remuneração

por

trabalho

igual

prestado

por

seus

colegas

trabalhadores brancos. É por isso que a União Geral dos Trabalhadores (UGT) tem a inclusão social e educacional entre

suas

bandeiras.

principais Os

negros

ganharam a liberdade formal em 1888. Desde então, vivem uma

farsa

prolonga

até

social hoje

que

se

quando

sabemos que são mantidos fora da escola, fora dos bons empregos e fora dos cuidados mínimos de saúde pública. Os negros brasileiros são também excluídos quando analisamos a remuneração mensal. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE mostra que o rendimento médio habitual dos trabalhadores negros ou pardos é de R$ 847,71, ou seja, é praticamente a metade do que o dos brancos: R$ 1.663,88.

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E até quando a economia brasileira vai bem, a população negra amarga exclusões. Aqui, embora a classe média tenha crescido em termos

relativos

e

absolutos,

entre

a

população

negra

esse

crescimento foi significativamente menor. Além destas dificuldades, fruto da exclusão social, os negros morrem antes por que sofrem com condições perversas de saúde. Dados que

comprovam

os problemas

dos

negros

começam

com

a

mortalidade infantil – que é 5 vezes maior

entre

as

crianças negras que entre as brancas – passam pela saúde da mulher grávida, que tem menos acesso ao pré-natal, e pelos doentes mentais, que sofrem com preconceito ainda maior. E na velhice os negros têm menos cuidados e menos acesso a remédios, por exemplo. A UGT ( União Geral dos Trabalhadores) insistirá em políticas públicas de inclusão, que nos obrigam a oferecer Educação e Saúde adequadas às realidades enfrentadas pelas populações negras. Com um monitoramento permanente sobre as oportunidades oferecidas no mercado de trabalho e no acesso às universidades. É curioso como em um país de minoria branca, insista-se na tal política de cotas para negros e índios nas universidades e ainda pretenda-se ampliar para as instituições particulares.

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Os negros sofreram sim, ao longo da história do país, enormes preconceitos graças à cultura escravocrata que perdurou em séculos passados, com o país dominado desde sua colonização por oligarquias de descendência européia. “Em verdade, os fatos da nossa história comprovam que a Lei Áurea desinstitucionalizou a posse de escravos como ferramentas de trabalho por decreto, lançando-os à escravidão da miséria e exclusão social. Lançando-os à sarjeta como cães de rua. Ou seja, continuaram escravos, cuja descendência, numa vida miserável sem políticas sociais adequadas, produziu o que vemos hoje: a maioria dos moradores das favelas, bem como os presidiários que lotam as pocilgas brasileiras chamadas de cárceres é também composta por

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não-brancos.”(Valéria

Reani)

Quando usamos o termo “não-branco”, queremos dizer que é impossível dividir nosso povo em raças. Quem é branco e quem é negro afinal? “O Povo Brasileiro não temos pedigree. Somos uma nação de viralatas”. Afirma Darcy Ribeiro em sua obra O Povo Brasileiro. Realmente nós, brasileiros, não temos raça definida. Branco ao nosso ver é o sujeito de pele extremamente clara, olhos claros e

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cabelos

louros,

padrão

nórdico.

Negro

é

aquele

de

pele

extremamente escura, cabelos encarapinhados e dentes alvíssimos, padrão africano. Esses cidadãos sim, podem afirmar-se em uma determinada raça. Mas nós, a maioria do povão, somos todos viralatas. Por outro lado, afirma-se que o racismo perdura ainda hoje no Brasil! O racismo perdura de todos os lados, tanto entre os que se afirmam negros, como entre os que se afirmam brancos. Salvo as exceções, vários movimentos de “conscientização” negra praticam um racismo às avessas. O próprio termo negro é quase um tabu, algo politicamente incorreto. Por que quando se quer indicar algum negro as pessoas dizem “aquele moreninho”?

De acordo com o Censo do IBGE de 2000, apenas 6,21% da população se declarou negra. Se somar-se a esse número os pardos, o percentual sobe para 45%. Curioso, como na hora de pleitear uma vaga na universidade aparecem mais negros do que o censo indica. Ou seja, gente que se considerou branca ou parda para o censo, tornou-se negra para lançar mão do artifício da política de cotas. Mais que hipocrisia, apesar de bem intencionada!

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O que é ainda mais estúpido é essa tentativa de autopurgação populista e demagógica do governo em usar esse mecanismo como instrumento de inclusão social!

“Isso é segregação racial nas universidades”. O acesso às universidades brasileiras é por mérito, sob exame vestibular. Se a maioria dos alunos que conseguem ingressar e ocupar as vagas nas universidades públicas é composta por brancos e vira-latas mais claros, é porque ainda sofremos o efeito do descaso do Estado para com a educação. Quase todos os brasileiros, seja pardo, negro ou branco, vivem hoje sem acesso à educação elementar de qualidade que deveria ser oferecida pelo Estado, daí não obterem o “mérito” necessário ao

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ingresso

nas

universidades

“Enquanto isso, os governos preferem incluir aplicativos de imagem bela a árvore bichada do sistema educacional simplesmente podando-a, e não adubando as raízes para que se produzam árvores mais fortes .Se é que estamos nos entendendo!”

REFLEXÃO E CONSCIÊNCIA Neste contexto de incertezas e de busca de definição de uma identidade negra, podemos concluir que o preconceito de marca é predominante em nosso país, onde as nuanças cromáticas da pele podem contribuir para um futuro mais ou menos promissor nos moldes de um sistema sócio-econômico competitivo e excludente MICHAEL JACKSON (Cantor Pop Star Norte Americano aos 8 anos)

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Embora, “a concepção de branco e não-branco, varie, no Brasil, em função do grau de mestiçagem, de indivíduo para indivíduo, de classe para classe, de região para região”, o clássico anúncio do requisito de “boa aparência” nos classificados de emprego, esconde o objetivo maior: a rejeição aos negros, definidos de acordo com a tonalidade de sua cor, textura de cabelo. Quanto mais distante do padrão branco europeu de aparência, menores são as oportunidades no sistema educacional e no mercado de trabalho como também indicam inúmeras pesquisas sociais a esse respeito. Então, amigos leitores vamos pensar que tipo de sistema é esse que não serve para diminuir as desigualdades, mas sim para que se aumente o preconceito existente em cada um de nós já que quando alguém pelo sistema de cotas ingressa na faculdade, mesmo tendo feito menos pontos que outra pessoa, sempre existirá alguém que irá apontar e falar que ele só está ali devido às cotas. Para finalizar, se em nossa sociedade o preconceito e a exclusão racial estão mais ligados à aparência do que à origem biológica e ou étnica, podemos utilizar como referência nas práticas de políticas afirmativas para afro-descendentes o conceito de “preconceito de marca” cruzando-o ao de classe social.

Afinal quando se é mais escuro e mais pobre, sabe-se que a tendência é a de ser mais e mais excluído do modelo socio-econômico estabelecido. Esta idéia pode parecer simplista, porém, negros conhecem

exatamente como as diferenças cromáticas de pele

influenciam em uma maior ou menor aceitação social. FOTO 1

FOTO 2

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Michael Jackson aos 50 anos. Foto 1 como estaria. Foto 2 o que ele se tornou após inúmeras cirurgias para tornar-se um “ Branco”

“Afinal mudança de classe social é até possível, mas a cor da pele, felizmente não é! Bom exemplo disso o cantor pop star norte

americano

Michael

Jackson.

Um

dos

melhores

e

fantásticos cantores, dançarinos negros dos últimos tempos, por não aceitar as suas diferenças cromáticas de pele, nunca foi um branco, porque sua origem biológica e étnica era negra. Em nossa opinião, um dos maiores racistas contra o negro ( sua própria etnia) das últimas décadas.”

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